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Barreiras à Exportação: Qual a Perceção das Vantagens do Cluster?

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Academic year: 2021

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BARREIRAS À EXPORTAÇÃO: QUAL A PERCEÇÃO DAS VANTAGENS DO

CLUSTER?

Inês Francisco Ribeiro

Dissertação

Mestrado em Economia e Gestão Internacional

Orientado por Ana Paula Africano Coorientado por Natércia Fortuna

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i

Agradecimentos

À Professora Doutora Ana Paula Africano, pela orientação e estímulo intelectual À Professora Doutora Natércia Fortuna, pela disponibilidade e ensinamentos

Ao Filipe, pela motivação e amparo À Mãe, pela persistência no contacto às empresas À Família, pelo apoio incondicional Aos inquiridos, que participaram no estudo À FEP e ao MEGI, pelo desafio académico

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ii

Resumo

Nos dias de hoje, a internacionalização é uma opção cada vez mais comum para as empresas, sendo a exportação a estratégia mais usada para iniciar o processo. As pequenas e médias empresas, em particular, enfrentam dificuldades durante o início ou desenvolvimento do processo de exportação, inerentes à sua estrutura, capacidade e recursos limitados. O cluster desempenha um papel importante no processo de internacionalização destas empresas, uma vez que neste se cria um ambiente que potencia as vantagens competitivas internacionais das empresas nele instaladas. Neste âmbito, a presente pesquisa tem como objetivo inferir qual a perceção dos inquiridos relativamente às vantagens do cluster do mobiliário, localizado nos municípios de Paços de Ferreira e Paredes, quando as empresas enfrentam barreiras à exportação. Dada a escassez de estudos similares, com base na revisão de literatura, foi estabelecido um paralelismo entre as barreiras à exportação e as vantagens que o cluster pode oferecer às empresas. Desta abordagem inédita, resultaram duas matrizes de objeto de apoio à investigação e um conjunto de hipóteses. Para a recolha de dados foram elaborados inquéritos às empresas do cluster. De modo a atingir o objetivo proposto, recorreu-se a um modelo probit. Os resultados obtidos permitem identificar as principais dificuldades das empresas do cluster e ainda, dão luzes às entidades do cluster no sentido de estas identificarem que tipo de vantagens tem oferecido às empresas e que tipo de ajuda, de acordo com a sua dimensão e experiência internacional, as empresas necessitam para ultrapassar as barreiras à exportação.

Palavras-chave: internacionalização; barreiras à exportação; clusters; vantagens competitivas; indústria mobiliário.

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iii

Abstract

Nowadays, internationalization is an increasingly common option for firms and exportation is the most used strategy to start the process. Small and medium-sized enterprises, mainly, face difficulties during export process inherent in their limited structure, capacity and resources. The cluster plays an important role in the internationalization process of these companies, since it creates an environment that enhances the international competitive advantages to the companies that are installed in it. In this context, this research aims to infer the perception of respondents regarding the advantages of furniture cluster, located in Paços de Ferreira and Paredes, when companies face export barriers. Given the scarcity of similar studies, based on the literature review, a parallelism has been established between export barriers and the advantages that the cluster can offer companies. This resulted in two matrixes to support the research and a set of hypotheses. For data collection, surveys of cluster companies were prepared. In order to achieve the proposed objective, a probit model was used. The results allow us to identify the main difficulties of the cluster companies and, also shed light on the cluster entities to identify what kind of advantages it has offered to the companies and what kind of help, according to their size and international experience, companies need to overcome export barriers.

Keywords: internationalization; export barriers; clusters; competitive advantages; furniture industry.

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iv

Índice

Introdução ... 1

1. Revisão de Literatura ... 3

1.1. Internacionalização ... 3

1.1.1. Internacionalização, um processo incremental ... 3

1.1.2. Network Theory ... 4 1.2. Exportação ... 6 1.2.1. Barreiras à exportação ... 7 1.3. Clusters ... 10 1.3.1. Cluster – três perspetivas ... 10 1.3.2. Cluster e internacionalização ... 12

2. Modelo teórico e hipóteses ... 18

3. Enquadramento do setor ... 20

3.1. Setor do mobiliário ... 20

3.2. Cluster do mobiliário português ... 21

4. Proposta metodológica ... 23

4.1. Tipo de estudo ... 23

4.2. População alvo... 23

4.3. Técnicas e instrumentos de recolha de dados ... 24

4.4. Caracterização da amostra ... 26

5. Análise de dados ... 30

5.1. Análise de estatística descritiva ... 30

5.1.2. Barreiras à exportação ... 30

5.1.2. Network do cluster ... 32

5.1.3. Vantagens do cluster ... 33

5.2. Estimação do modelo probit ... 35

5.2.1. Estimação e interpretação dos resultados ... 36

5.2.2. Estimativas das médias de efeitos marginais ... 38

5.2.3. Taxa de erro de classificação ... 42

6. Discussão de resultados ... 43

Conclusão ... 47

Referências ... 50

Nota ... 54

(6)

v Anexo A1 – Matriz Barreiras à exportação ... 55 Anexo A2 - Matriz das Vantagens do cluster ... 56 Anexo B - Inquérito ... 57 Anexo C - Valor médio atribuído pelos respondentes a cada variável das barreiras à exportação, de acordo com uma escala de Likert de 1 a 5... 61 Anexo D - Valor médio atribuído pelos respondentes a cada variável das vantagens do

cluster, de acordo com uma escala de Likert de 1 a 5... 61

Anexo E - Valor médio atribuído pelos respondentes a cada agente do cluster, de acordo com uma escala de Likert de 1 a 5 ... 62 Anexo F - Frequências absoluta e relativa acumulada das respostas à questão 10 do inquérito das barreiras à exportação ... 62 Anexo G - Frequências absoluta e relativa acumulada das respostas à questão 12 do inquérito das vantagens do cluster ... 63

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vi

Índice de Tabelas

Tabela 1- Conceitos chave das teorias de Internacionalização. ... 5

Tabela 2 - As 3 abordagens teóricas do cluster. ... 12

Tabela 3- Resumo dos estudos empíricos a clusters. ... 17

Tabela 4 - Hipóteses ... 19

Tabela 5 - Nomenclatura das Unidades Territoriais para os municípios de Paços de Ferreira e Paredes. ... 21

Tabela 6 - N.º de trabalhadores por empresa exportadora com CAE Rev. 3 Principal 3109 por dimensão e concelho. ... 24

Tabela 7 - Relação entre o valor de vendas anuais e o peso das exportações nas vendas. ... 28

Tabela 8 - Número de empresas por dimensão e por número de mercados de exportação. ... 28

Tabela 9 - Número de anos entre o início de atividade e início do processo de exportação. ... 29

Tabela 10 - Ajustamentos alternativos na perceção do cluster ser identificada como vantajosa. ... 37

Tabela 11 - Estimativas das médias de efeitos marginais das variáveis independentes na Pr (PC=1). ... 38

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vii

Índice de Figuras

Figura 1 - Modelo teórico. ... 18 Figura 2 - Distribuição das empresas respondentes por localização e dimensão. ... 27 Figura 3 - Ano de início da atividade exportadora. ... 29

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Índice de Abreviaturas

AIMMP Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal APIMA Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins AEPF Associação Empresarial de Paços de Ferreira

CF Centros de formação

CTIMM Centro Tecnológico da Indústria da Madeira e do Mobiliário FEMP Fornecedores de equipamentos e matérias primas

I&C Informacionais e conhecimento

IEB Investidores, empreendedores e bancos

MKT Marketing

OES Outras empresas do setor P&G Processuais e governamentais PME Pequenas e médias empresas R&D Retalhistas e distribuidores REC Recursos funcionas

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1

Introdução

Num mundo cada vez mais global, o processo de internacionalização apresenta um papel vital no crescimento e desenvolvimento da empresa, sendo tanto mais importante quanto menor for o seu mercado doméstico (Welch & Luostarinen, 1988). A via da exportação apresenta-se como a estratégia mais comum para ingressar no mercado externo (Rundh, 2015). No entanto, para as pequenas e médias empresas, em particular, a exportação ainda é vista como um desafio e o caminho da internacionalização caracterizado por inúmeros obstáculos inerentes à estrutura e características típicas deste tipo de empresas (Leonidou, 2004).

O sucesso das empresas nos mercados externos depende da capacidade de criar e desenvolver interações com outros atores do mercado (Milanzi, 2012). A rede de negócios da empresa, estabelecida através da interação com outros agentes, permite criar conhecimento, canais de informação e recursos que se tornam ferramentas de identificação e seleção de mercados e modos de entrada (Coviello & Munro, 1997). Consequentemente, empresas que façam parte de redes de negócio deverão ultrapassar as barreiras à exportação mais facilmente do que as que não fazem parte (Milanzi, 2012).

O cluster é definido como a concentração geográfica de agentes económicos interligados – empresas, fornecedores, instituições - especializados num determinado setor (Porter, 1998a). Esta aglomeração apresenta-se como um recurso de vantagem competitiva a nível internacional (Osarenkhoe & Fjellström, 2017), pois a proximidade geográfica e a interação repetida entre os agentes económicos criam um ambiente favorável à inovação, confiança e eficiência, o que culmina em vantagens competitivas para as empresas nele instaladas (Porter, 1998a). Embora exista um crescente número de evidências de que os clusters apresentam um papel importante no processo de internacionalização da empresa (Kowalski, 2014), ainda existe escassez de estudos que relacionem o cluster e o processo de internacionalização da empresa (Zen, Fensterseifer, & Prévot, 2011). De facto, existem poucos estudos empíricos que analisem a relação entre as redes de negócio e as barreiras à exportação (Milanzi, 2012). O presente estudo surge no sentido de preencher esta lacuna da literatura científica, revelando-se pertinente para compreender de que forma a presença de barreiras à exportação influência a perceção das vantagens decorrentes do cluster, nomeadamente do cluster do mobiliário português. Ainda, os escassos estudos existentes procuram perceber em que

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2 medida as vantagens do cluster diminuem a perceção de barreiras à exportação, assumindo que empresas instaladas no cluster podem enfrentar menos barreiras (Milanzi, 2012). Assim, torna-se pertinente perceber qual a perceção das empresas relativamente às vantagens do

cluster quando estas identificam barreiras à exportação, uma vez que, as PME, em particular,

enfrentam dificuldades e chegam mesmo a abandonar a atividade exportadora (Morgan & Katsikeas, 1997).

A escolha do cluster do mobiliário, localizado nos municípios de Paços de Ferreira e Paredes, incide em dois pilares. Primeiro, no facto de esta aglomeração industrial ter um peso representativo na produção nacional do setor, cerca de 40% (Dados SABI). Segundo, por apresentar vantagens competitivas no âmbito internacional (Silva & Santos, 2018). De acordo com a Direção Geral das Atividades Económicas (2017), a criação de sinergias e o desenvolvimento de projetos conjunto são relevantes para tornar o setor uma referência a nível nacional e internacional. Todavia, Silva & Santos (2018) concluíram que as parcerias horizontais e a cooperação entre as empresas do cluster apresentam-se como fatores frágeis, o que não favorece o seu crescimento, desenvolvimento e visibilidade internacional. Desta forma, espera-se com o presente estudo, identificar de que forma as relações estabelecidas dentro do cluster podem influenciar a internacionalização das empresas que o constituem, colocando-se a seguinte questão central: Qual a perceção das empresas sobre as vantagens do cluster

na presença de barreiras à exportação?

Mediante a formulação da questão central de investigação e no sentido de fundamentar a sua investigação, surge a necessidade de criar questões derivadas que “decorrem diretamente do objeto de estudo e especificam os aspetos a estudar” (Fortin, 2009):

1. Quais são as principais barreiras à exportação identificadas pelas empresas? 2. Quais são as principais vantagens decorrentes de pertencer ao cluster em estudo? Com o intuito de responder às questões acima, segue-se o Capítulo 1 com a revisão de literatura, este assenta em dois pilares centrais, as temáticas das barreiras à exportação e as vantagens do cluster. O Capítulo 2 apresenta o modelo teórico e as hipóteses formuladas. O Capítulo 3 comporta o enquadramento do setor do mobiliário português para uma melhor compreensão do caso em estudo. O Capítulo 4 expõe a metodologia usada, seguida pela caracterização da população e da amostra. O Capítulo 5 comtempla a análise exploratória dos dados e a descrição do modelo probit. O Capítulo 6 dá espaço à discussão dos resultados obtidos. Por último, a conclusão expõe uma reflexão geral da investigação.

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3

1. Revisão de Literatura

A revisão de literatura tem como ponto de partida duas teorias da Internacionalização, nomeadamente, o Modelo de Uppsala e a Network Theory, pois apresentam-se como as teorias que melhor se relacionam com o caso em estudo. Em seguida, encontram-se os dois pilares centrais desta investigação, uma secção exaustiva dedicada à Exportação e respetivas barreiras e outra secção dedicada às principais teorias do cluster e as vantagens no processo de internacionalização das empresas.

1.1. Internacionalização

A Internacionalização é o processo no qual ocorre o aumento do grau de envolvimento de uma empresa com os mercados internacionais (Welch & Luostarinen, 1988). Segundo Behram (1972) existem quatro principais motivações que levam as empresas a iniciar o processo de internacionalização: a procura de novos mercados, a procura de recursos, a procura de eficiência e a procura de ativos estratégicos (Dunning & Lundan, 2008). Nesse sentido, o processo de internacionalização pode ser uma decisão proativa ou defensiva (Dunning & Lundan, 2008). Enquanto que a primeira é uma decisão que parte da iniciativa autónoma da empresa, com vista a aumentar o seu lucro e crescimento, potenciar economias de escala ou diversificar o risco (Dunning & Lundan, 2008). A segunda trata-se de uma decisão como resposta a oportunidades externas, por exemplo, através do surgimento de encomendas com origem no mercado externo (Dunning & Lundan, 2008).

1.1.1. Internacionalização, um processo incremental

Existe uma vasta literatura que assume a internacionalização da empresa como um processo incremental, sendo o Modelo de Uppsala o mais concetual. O Modelo de Uppsala foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Uppsala (Hörnell, Vahlne & Wiedersheim-Paul, 1973; Johanson & Wiedersheim-Paul, 1974; Johanson & Vahlne, 1977, 1990), a partir do estudo empírico do processo de internacionalização de quatro empresas suecas industriais: Volvo, Sandvik, Atlas Copco e Facit (Johanson & Vahlne, 2009). O modelo sugere que as empresas iniciam o seu processo de internacionalização para mercados

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4 com menor distância psicológica1, sendo esta definida pelo conjunto de fatores que dificultam a compreensão de ambientes externos, ao nível da cultura, língua, práticas de negócio e sistemas políticos. Na fase inicial do processo de expansão, as empresas deparam-se com dificuldades de acesso a informações sobre o mercado externo, pelo que, em regra geral, o processo se inicia através de exportações esporádicas. Em seguida, as empresas começam a exportar através de agentes do mercado externo. Com o aumento das vendas, as empresas substituem os agentes por uma subsidiária comercial própria. Dado o crescimento sustentado das vendas, surge a necessidade de criação de uma subsidiária produtiva para fornecer o mercado externo (Johanson & Vahlne, 1977). Deste modo, o modelo identifica a existência de uma lógica progressiva e evolutiva no processo de internacionalização da empresa, no qual, ao longo de várias fases, se verifica o aumento gradual do comprometimento de recursos e a acumulação de experiência e conhecimento sobre um mercado externo, o que levam ao aumento do grau de envolvimento da empresa com este mercado externo específico (Johanson & Vahlne, 1977).

1.1.2.

Network Theory

Vários estudos demonstraram que as redes de negócios assumem um papel importante no processo de internacionalização das empresas. Para realizarem as suas atividades, as empresas, especialmente as PME, dependem de recursos controlados por outras empresas e entidades. Tal que Coviello & Munro (1997) desenvolveram um estudo empírico com pequenas empresas de software, no qual, descobriram que as relações de network têm efetivamente influência na escolha do mercado externo e do modo de entrada. À luz de evidências tão claras, na nova versão do Modelo Uppsala é relevante a noção de liability of

outsidership through internal/ external triggers, a qual se refere às redes de relacionamentos

existentes como um elemento central de entrada nos mercados estrangeiros, nomeadamente na seleção tanto do mercado como do modo de entrada (Johanson & Vahlne, 2009).

1Este processo teve origem no conceito liability of foreignness, introduzido pela primeira vez por Hymer (1976),

para explicar que as empresas que operam fora do país de origem estão sujeitas a custos superiores aos incorridos em ambiente interno. Quanto maior a distância psicológica entre países, maior é a liability of foreignness (Johanson & Vahlne, 2009).

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5 De acordo com Johanson & Vahlne (2009), a importância das relações de negócio no processo de expansão internacional assenta em duas premissas centrais: (1) os mercados são redes de relacionamentos de empresas interligadas, pelo que, a participação em redes relevantes é necessária para uma internacionalização bem-sucedida, o que dá origem ao conceito liability of outsidership2; e (2) os relacionamentos oferecem potenciais conhecimentos

e bases para a construção de confiança e comprometimento, ambos pré-requisitos para a internacionalização. Estas relações constituem benefícios estratégicos para as várias empresas dentro da rede, pois, através da utilização de redes de contactos relevantes, as empresas podem obter acesso a recursos, conhecimentos e informações detidas por outros membros da rede, o que leva à maximização do potencial das suas vantagens competitivas, reduz custos e minimiza riscos. Nesta lógica, uma empresa pode obter experiência sobre os mercados externos através da partilha de experiências de outras empresas pertencentes à rede (Johanson & Vahlne, 2009). Além disso, a expansão internacional de parte da rede impulsionará progressivamente os restantes membros para a internacionalização, usando as relações da rede doméstica como pontes de acesso a redes de outros países (Johanson & Vahlne, 2009).

Logo, o sucesso da empresa depende da posição que ocupa na rede, pois esta dita o relacionamento com outras empresas, bem como o acesso a recursos e conhecimento, nomeadamente, através da partilha de informação sobre estratégias e experiências internacionais de outras empresas (Seppo, 2007). Vários estudos realizados a redes de negócios reais concluíram que as relações horizontais, em particular, contribuem para o processo de internacionalização da empresa, tal como retratado no estudo de caso realizado na Estónia, que envolvia PME da Indústria Química (Seppo, 2007).

Tabela 1- Conceitos chave das teorias de Internacionalização.

Teoria Conceitos chave

Uppsala Model Processo gradual

Network Theory Importância da rede de relacionamentos Fonte: elaboração própria.

2Fenómeno acontece quando uma empresa tenta entrar num mercado estrangeiro, onde não tem uma posição

relevante na rede de relacionamentos. Quanto menor a importância da posição da empresa na rede de negócios estrangeira, maior a liability of outsidership (Johanson & Vahlne, 2009).

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6

1.2. Exportação

A escolha do modo de entrada no mercado externo é um dos aspetos chave para o sucesso internacional da empresa (Sadaghiani, Dehghan, & Zand, 2011). Dependendo da estrutura, experiência internacional e modelo de negócio, a empresa pode optar por diferentes modos de entrada (Sadaghiani et al., 2011). A escolha da estratégia de entrada é também determinada pelo nível de controlo de operações desejado, o nível de risco associado, a distância cultural e geográfica entre os países e o retorno do investimento (Pan & Tse, 2000).

A exportação é considerada o modo de entrada mais utilizado pelas empresas para iniciar o processo de internacionalização, podendo depois desenvolver-se para outros estágios (Johanson & Vahlne, 2009). Tal justifica-se pelo facto de este ser o modo de entrada que envolve menos risco e requer menor nível tanto de financiamento como de recursos humanos, o que, por um lado, minimiza as potenciais perdas no caso de insucesso e, por outro, permite que esta estratégia seja adotada, simultaneamente, num número maior de mercados (Pinho & Martins, 2010). Outros autores enumeram ainda os benefícios que as empresas e o governo podem obter a partir da atividade exportadora (Arteaga-Ortiz & Fernández-Ortiz, 2010). Ao nível da empresa, a exportação pode melhorar a sua posição financeira, aumentar a vantagem competitiva, melhorar as ferramentas de gestão, aumentar o aproveitamento da capacidade de produção e criar mais oportunidades de expansão. Do ponto de vista macroeconómico, a exportação gera emprego, é uma fonte de divisas estrangeiras, promove o desenvolvimento tecnológico e aumenta o padrão de vida da população (Leonidou, 2007).

Apesar de a exportação ser a estratégia de internacionalização mais atrativa, isso não implica que este modo de entrada não apresenta desafios ao longo do processo (Morgan & Katsikeas, 1997). Muitas empresas, principalmente as PME, enfrentam dificuldades e chegam mesmo a abandonar a atividade exportadora, de tal modo que o estudo das PME assume mais relevância (Morgan & Katsikeas, 1997). De acordo com Kahiya (2017), o estudo das barreiras à exportação teve início nos anos 70, influenciado pelo aumento do processo de internacionaliazação e da globalização, altura em que surgem questões relacionadas com o facto de algumas empresas, principalmente as PME, exportarem e outras não (Arteaga-Ortiz & Fernández-Ortiz, 2010). Assim, surgem inúmeros estudos que descrevem os potenciais obstáculos à exportação com que os gestores podem ter de lidar. Apesar de existirem similaridades entre as barreiras mencionadas por diferentes autores, o significante número

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7 de estudos deu origem a falta de homogeneidade em termos de número, tipo, relevância e denominação destas barreiras (Arteaga-Ortiz & Fernández-Ortiz, 2010). Neste estudo, seguimos a classificação adaptada de Leonidou (2004), e apresentamos estudos relevantes desta temática, figurando-se mais completo e adequado ao objetivo do mesmo.

1.2.1. Barreiras à exportação

Entendem-se como barreiras à exportação todos os obstáculos e restrições que impedem a empresa de iniciar, desenvolver ou sustentar operações internacionais (Leonidou, 2004). Leonidou (1995) divide as barreiras à exportação quanto à sua natureza, em dois grupos: barreiras internas e externas. Segundo o autor, as primeiras surgem dentro da própria organização e dependem diretamente da capacidade, estrutura e recursos da empresa. Enquanto que as segundas tomam lugar fora da empresa, ocorrendo no mercado onde esta opera, seja no mercado doméstico ou no mercado externo (Leonidou, 2004).

Barreiras internas

As barreiras internas estão associadas aos recursos, às capacidades e à abordagem da empresa nos negócios de exportação, ou seja, relacionam-se com os fatores que estão na base da preparação da empresa para a exportação (Leonidou, 2004). Estas barreiras dividem-se em três grupos: funcionais, informacionais e marketing (Leonidou, 2004).

As barreiras de recursos ou funcionais estão relacionadas com a insuficiência dos recursos da empresa, tais como, recursos humanos, recursos financeiros e capacidade de produção (Leonidou, 2004). Leonidou (2004) identifica quatro barreiras nesta categoria: (1) tempo de gestão limitado para lidar com as exportações; (2) pessoal sem formação em exportações; (3) escassez de capital para financiar as exportações e (4) falta de capacidade de produção para exportações. Nas PME, em particular, as decisões de negócios são geralmente tomadas por um único gestor, que não tem tempo para lidar com atividades para além das que ocorrem no mercado doméstico, de tal modo que, a administração deve estar disposta a investir tempo e recursos limitados na exploração de oportunidades de exportação (Leonidou, 2004). Estudos demostram que gestores com experiência internacional são essenciais na motivação das empresas para estas iniciarem o processo de internacionalização. Com a finalidade de estudar a probabilidade de uma empresa exportar tendo em conta as características e os recursos da mesma, nomeadamente, ao nível da sua capacidade de inovação, dos recursos de gestão relacionados com a orientação internacional, dos recursos relacionais e da capacidade

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8 de marketing, surgiu um estudo que realça a importância da experiência exportadora da administração na propensão da empresa à exportação (Haddoud, Beynon, Jones, & Newbery, 2018).

As barreiras informacionais ou de conhecimento referem-se à falta de informação e às dificuldades na identificação de oportunidades internacionais de negócio (Leonidou, 2004).. Destacamos quatro das barreiras ao conhecimento: (1) falta de conhecimento sobre potenciais mercados, clientes ou oportunidades: (2) falta de conhecimento geral sobre como exportar; (3) falta de conhecimento de programas de apoio à exportação; (4) pouca informação para analisar as oportunidades (Arteaga-Ortiz & Fernández-Ortiz, 2010; Leonidou, 2004). Na grande maioria, as oportunidades são identificadas sem orientação e apoio de agentes externos, como agências governamentais e associações comerciais, verificando-se, muitas vezes, que a empresa não está preparada para enfrentar os desafios decorrentes do ambiente de negócios internacional (Leonidou, 1995). Ainda, a falta de informação e conhecimento sobre os mercados externos por parte dos gestores foi considerado o fator mais decisivo da atividade exportadora (Pinho & Martins, 2010). As barreiras de marketing lidam essencialmente com as características do produto, o preço, os canais de distribuição, a logística e as atividades promocionais da empresa nos mercados externos (Leonidou, 2004). Ao nível das características do produto, Tesfom e Lutz (2006) enfatizam a importância da adaptação do produto ao mercado, tanto de regulamentos técnicos impostos pelos governos do país destino, como para a satisfação das exigências e gostos dos clientes estrangeiros. Os autores anteriores destacam os indicadores: (1) adaptação dos produtos ao mercado externo; (2) dificuldades de acesso a retalhista e canais de distribuição internacionais; (3) preço competitivo; e (4) atividades promocionais no exterior. As barreiras de logística e distribuição estão intimamente relacionadas com o conceito liability

of outsidership, introduzido por Johanson & Vahlne (2009), na medida em que realçam a

importância da posição da empresa no mercado externo para o acesso a mais recursos e parceiros, com vista a ultrapassar as barreiras à exportação (Kahiya, 2018). Segundo Arteaga-Ortiz (2003), as maiores dificuldades enfrentadas pelas PME são identificar um distribuidor confiável e o investimento em atividades promocionais no mercado de exportação.

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9 Barreiras externas

As barreiras externas são aquelas que estão fora do controlo da empresa, estas podem ter origem tanto no mercado doméstico como no mercado externo. Em relação às barreiras externas que têm origem no país destino no qual a empresa opera ou planeia operar, destacam-se as barreiras processuais, ambientais ou exógenas (Leonidou, 2004). Relativamente às que têm origem no mercado doméstico destacam-se as governamentais (Leonidou, 2004).

As barreiras processuais concentram-se nos aspetos operacionais das transações com clientes estrangeiros, entre as quais se destacam: (1) falta de familiaridade com procedimentos e burocracias dos mercados externos; e (2) falhas de comunicação com clientes devido a diferenças culturais e linguísticas (Leonidou, 2004). Segundo Ramaswami & Yang (1990), estas barreiras podem ser classificadas em controláveis e incontroláveis, sendo que as barreiras controláveis são aquelas que, com o tempo e a experiência da administração, podem ser superadas. Enquanto que as barreiras não controláveis são aquelas que devem ser tratadas caso a caso, podendo ser ultrapassadas com o apoio de empresas de consultoria que fornecem o suporte a fim de superar estas dificuldades (Ramaswami & Yang, 1990).

As barreiras ambientais ou exógenas incorporam principalmente as barreiras de ambiente económico, político-legal e sociocultural do mercado externo. Este ambiente está sujeito a mudanças rápidas, difíceis de prever e controlar, tais como, instabilidade política e risco cambial, o que pode ter um grande impacto no sucesso da estratégia de exportação.

As barreiras governamentais aludem ao nível de apoio prestado pelo governo às empresas exportadoras ou potenciais exportadoras. Estas dividem-se em duas barreiras: (1) falta de incentivos e assistência por parte do governo às empresas; (2) políticas de restrição às exportações (Leonidou, 2004). Vários estudos evidenciaram que as barreiras externas à exportação estão muitas vezes associadas a uma determinada cobertura geográfica, e refletem as carências do setor, nomeadamente ao nível da falta de informação e falta de assistência financeira, como por exemplo incentivos governamentais, falta de serviços especializados de consultoria, falta de infraestruturas de comunicação e escassez de áreas industriais e de negócios ( Leonidou, 2004; Morgan & Katsikeas, 1997).

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1.3.

Clusters

1.3.1.

Cluster

– três perspetivas

A globalização tem vindo a alterar o papel do cluster na competitividade das empresas (Porter, 1998b), e por isso, a literatura sobre clusters e as suas vantagens competitivas tem também vindo a apresentar diferentes perspetivas. A literatura divide-se em três segmentos centrais: a perspetiva geográfica, a perspetiva das sinergias e a perspetiva dos sistemas de inovação (Gupta & Subramanian, 2008). A primeira foca-se nos ganhos obtidos pelas empresas derivados da localização no cluster, a segunda centra-se nos ganhos que advém da ligação da empresa ao cluster e, a terceira salienta a importância da ligação do cluster a redes globais para a inovação (Gupta & Subramanian, 2008).

Perspetiva geográfica

O interesse no estudo das aglomerações geográficas de atividades económicas tomou início no século XIX, por Alfred Marshall (1890) na sua publicação Principles of Economics, onde utilizou o termo industrial districts para caracterizar o fenómeno no qual ocorre concentração geográfica de empresas do mesmo setor (Porter, 2000). Segundo Marshall, nessa região, existe uma industrial atmosphere que proporciona vantagens às empresas nela instaladas, tais como, economias de escala e mão de obra especializada, as quais não estão disponíveis noutra região, pois esta atmosfera não pode ser movida para outro local (Bathelt, Malmberg, & Maskell, 2002; Belussi, 1999). Marshall (1980) explica o fenómeno de aglomeração geográfica de empresas com base em três motivos principais: 1) as empresas locais beneficiam de mão de obra especializada; 2) as empresas locais tem fácil acesso a bens e serviços especializados; 3) as empresas locais podem beneficiar de conhecimento através do efeito spill-over, isto é, as empresas inseridas na aglomeração local beneficiam de externalidades tecnológicas e da difusão de conhecimento, como um bem público (Krugman, 1991).

Perspetiva das sinergias locais

A globalização aumentou a importância da localização das empresas através da promoção de determinadas regiões económicas, somando estudos que enfatizam a relevância da localização para o crescimento económico (Maskell, 2001). Neste âmbito, Michael Porter apresenta uma perspetiva de orientação global (Gupta & Subramanian, 2008). Segundo o autor, um cluster é identificado como a concentração geográfica de agentes económicos -

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11 empresas, fornecedores especializados, instituições, associações, I&D, universidades e organizações do setor público - interligados e especializados de um determinado setor (Porter, 1998a). As entidades concentradas nesta região beneficiam do acesso a recursos, a mão de obra especializada, a capital e a tecnologia, que não estão disponíveis para as empresas que não se encontram na região (Porter, 1998a).

Os clusters promovem dois conceitos, a competição e a cooperação, sendo que ambos podem coexistir porque ocorrem em dimensões diferentes (Porter, 1998a). Por um lado, uma empresa pode efetivamente beneficiar da presença de concorrentes locais (Porter, 1998b), pois a competição é crucial para promover o investimento e o desenvolvimento da indústria local. Por outro lado, a cooperação é importante para a partilha de recursos e conhecimento (Porter, 2000). Existem três principais dimensões da estrutura do cluster: geographic scope (alcance geográfico), breadth (largura do cluster) e depth (profundidade do cluster), onde as duas últimas têm vindo a ganhar importância (Porter, 1998b).

Geographic scope alude à extensão geográfica e às características dos agentes económicos

que compõe o cluster (Porter, 2000);

Breadth refere-se às relações horizontais, isto é, às relações entre empresas pertencentes ao cluster com características similares e produtoras de bens e serviços semelhantes (Bathelt, et al., 2002), sendo por isso, empresas concorrentes (Maskell, 2001);

Deepth refere-se às relações verticais, nomeadamente, às relações entre as empresas do cluster e as empresas de bens complementares, tais como, os fornecedores de

matéria-prima, de equipamentos, de tecnologia e de serviços especializados (Bathelt et al. 2002). De notar que algumas empresas podem, gradualmente, mover-se da dimensão horizontal para dimensão vertical do cluster, à medida que desenvolvem as suas capacidades e melhoram os seus processos de modo a obter maiores lucros. (Maskell, 2001).

Porter (1998a) oferece vários exemplos de clusters, um deles é o cluster italiano da indústria de peles, onde as empresas locais beneficiam de fornecedores especializados, maquinaria, design e tinturarias, gerando múltiplas sinergias. Os clusters podem ocorrer tanto em áreas de alta tecnologia como em indústrias mais tradicionais, tanto em manufaturas como em indústrias de serviços (Porter, 1998b). De facto, os clusters são um conjunto de alta e baixa tecnologia, manufaturas e serviços, onde se criam sinergias (Porter, 1998b). Os exemplos de clusters mais bem-sucedidos a nível mundial são Silicion Valey e Hollywood (Maskell, 2001).

(21)

12 Perspetiva dos sistemas de inovação globais

Com a intensificação da globalização, a inovação, a tecnologia e o conhecimento ficaram dispersos em múltiplas regiões (Gupta & Subramanian, 2008). Esta perspetiva realça a importância das redes de negócio globais, nas quais são desenvolvidas relações informais através da interação das empresas locais com redes globais, promovendo deste modo, o processo de aprendizagem e, consequentemente, a difusão de conhecimento, da inovação e o desenvolvimento regional (Asheim, 1995).

Ernst (2002) estudou o caso de um cluster eletrónico localizado na Coreia do Sul, cuja indústria dependia de componentes e serviços que eram produzidos noutros países. Assim, o governo incentivava a importação de equipamento estrangeiro e a criação de parcerias internacionais, pois, através do desenvolvimento de uma rede de negócio entre o cluster e os parceiros de fornecimento e distribuição globais, as empresas não só obtiveram custos de produção inferiores, mas também incorporaram conhecimento e inovação (Ernst, 2002).

Tabela 2 - As 3 abordagens teóricas do cluster.

Perspetiva Autor Exemplo

Geográfica Marshall (1890) Krugman (1991) Industrial districts em Inglaterra Sinergias locais Porter (1998a, 1998b, 2000) Cluster italiano da indústria das peles Sistemas de inovação

globais Asheim (1995) Ernst (2002) Cluster eletrónico da Coreia do Sul Fonte: elaboração própria.

1.3.2.

Cluster

e internacionalização

O estudo do processo de internacionalização de empresas do cluster justifica-se pelo facto do ambiente local promover vantagens e desvantagens especificas para as empresas nele localizadas, o que afeta o seu processo de exportação (Felzensztein, Deans, & Dana, 2019). A proximidade e a interação repetida entre agentes económicos aumentam a confiança entre estes, contribuindo para a criação de ligações informais que representam vantagens de eficiência e flexibilidade (Porter, 1998a). Desta forma, apenas estando no mesmo local e interagindo repetitivamente com os mesmos agentes, se promove a troca de informação (Bathelt et al., 2002). Este mecanismo network beneficia as empresas localizadas no cluster, pois estas estão rodeadas de agentes com quem se podem relacionar regularmente (Bathelt et al.,

(22)

13 2002).

Neste contexto, as vantagens competitivas à escala internacional estão cada vez mais centradas nas potencialidades das aglomerações locais, na medida em que, a concentração geográfica promove um ambiente favorável à confiança, inovação e produtividade (Porter, 2000). Assim, espera-se que as empresas que operam dentro do cluster beneficiem de vantagens competitivas e tenham um maior potencial para ingressar no mercado internacional (Porter, 1998a). Nesta linha de pensamento, o cluster influencia as vantagens competitivas em três formas: “primeiro, através do aumento da produtividade das indústrias e empresas

que constituem o cluster; segundo, através do aumento da sua capacidade de inovação e, consequentemente do aumento da produtividade e terceiro, através do estímulo à formação de novos negócios que suportem a inovação e expandam o cluster”3 (Porter, 2000, p. 20). Em geral, os clusters apresentam um papel crucial na competitividade das empresas, em que o valor do aglomerado como um todo é superior ao valor da soma de todas as partes (Porter, 1998b, p. 13). Contudo, os benefícios gerados pelo cluster podem variar de empresa para empresa, dependendo do tipo de indústria ou tamanho (Götz & Jankowska, 2017).

Na literatura, existem vários estudos que contribuíram para a análise dos clusters e da internacionalização, entre os quais foram selecionados os que estão em consonância com o objetivo da questão de investigação da presente dissertação: Felzensztein et al. (2019), Libaers

et al. (2011), Rocha, Kury, & Monteiro (2009), Zyglidopoulos et al. (2006) e Zen et al. (2011).

Estes autores identificam múltiplos fatores que aumentam a competitividade das empresas, nomeadamente, ao nível dos seus recursos funcionais, conhecimento, informação, recursos de marketing, bem como questões processuais e governamentais.

Recursos funcionais

Fornecedores e matéria-prima. Quando uma empresa está localizada num cluster tem acesso a inputs especializados, tais como, componentes, maquinaria, serviços de apoio ao negócio, mão de obra e fornecedores especializados (Porter, 1998b), resultando em sinergias entre empresas e outros agentes do cluster, onde a proximidade geográfica possibilita às empresas o acesso a recursos que não teriam fora do cluster (Zen et al., 2011). Além disso, um

cluster bem desenvolvido permite aumentos de eficiência, pois o abastecimento local minimiza

(23)

14 a necessidade de inventário e diminui tanto os preços de importação como os atrasos de abastecimento, de tal forma que irá contribuir para a diminuição de custos de produção (Porter, 1998b).

Recursos humanos. De acordo com Porter (1998b), empresas localizadas no cluster acedem mais facilmente a mão de obra especializada, o que leva à diminuição dos custos de recrutamento e formação. Entrevistas realizadas a empresários do cluster brasileiro do mobiliário revelam que, a Zipperer Industries, primeira empresa do cluster a exportar, desempenhou um papel importante na atividade de exportação das restantes empresas, pois forneceu um conjunto de trabalhadores formados e com experiência internacional para outras empresas da região (Rocha et al., 2009).

Recursos financeiros. Em conformidade com Porter (1998a), a concentração de empresas do mesmo setor atraí empreendedores e investidores que estão familiarizados com a dinâmica e o funcionamento da indústria. Ainda, o cluster apresenta um conjunto de instituições financeiras locais que oferecem programas e serviços que respondem às necessidades especificas das empresas do setor, o que requer um menor risco de capital (Porter, 1998a).

Conhecimento e informação

Oportunidades internacionais. A seleção dos mercados estrangeiros e a participação em atividades internacionais são influenciadas, não só por decisão estratégica dos administradores e gestores, mas também pelas oportunidades criadas durante o contacto com outras empresas, em particular, dentro da rede de que fazem parte, isto é, dentro do cluster (Coviello & McAuley, 1999). Neste âmbito, uma densa rede contribui para reconhecer mais e melhores oportunidades de exportação (Libaers & Mayer, 2011). Além disso, considera-se que empresas orientadas para a exportação tenham um papel determinante na medida em que influenciam outras empresas a internacionalizar, uma vez que, da interação entre estas empresas pode resultar a partilha de conhecimento sobre oportunidades nos mercados externos (Felzensztein et al., 2019).

Recursos de marketing

Preço. O decréscimo dos custos de produção e inventários contribui para a diminuição dos preços (Porter, 1998b). De acordo com Porter (1998b), estes benefícios irão repercutir-se não só na estratégia de preço de penetração num mercado externo, mas também na eficiência

(24)

15 de o servir. Com o objetivo de “identificar os recursos gerados no ambiente dos clusters” e “analisar a

influência destes na estratégia de internacionalização das empresas pertencentes a esse tipo de aglomeração geográfica” foi desenvolvido um estudo de caso com dois clusters vitivinícolas (Zen et al., 2011,

p. 124). Conclui-se que as relações cooperativas em ambas as redes vitivinícolas se revelaram importantes para o processo de internacionalização, nomeadamente no sentido de reduzir custos e permitir economias de escala (Zen et al., 2011).

Contactos internacionais. Com a finalidade de compreender o processo de difusão da iniciação à exportação das empresas pertencentes a um cluster através das suas interações, Rocha et al. (2009) verificaram que, durante o processo de internacionalização da primeira empresa do cluster a exportar, o local recebeu a visita de agentes de exportação responsáveis pela identificação de distribuidores e retalhistas nos mercados estrangeiros (Rocha et al., 2009). Os intermediários de exportação nacionais e internacionais revelam um papel importante no desenvolvimento do cluster, pois os agentes de exportação são responsáveis pela identificação de novos mercados e distribuidores (Rocha et al., 2009). Além disso, para melhor atender às necessidades dos novos mercados, as empresas do cluster do mobiliário brasileiro tiveram de melhorar a qualidade dos móveis. Nesta etapa, os importadores tiveram um papel importante, trazendo novos padrões técnicos, acessórios e peças, que foram especialmente projetados e desenvolvidos para atender aos requisitos dos compradores estrangeiros (Rocha et al., 2009).

Desenvolvimento de produtos. As alterações no mercado internacional mudaram gradualmente as bases de competitividade, passando de uma competição com base no preço para uma competição com base na melhoria contínua de procedimentos, produtos e serviços, de tal forma que as empresas que são capazes de se adaptar mais rapidamente do que os seus concorrentes são as mais bem sucedidas (Porter, 1990). Neste âmbito, o nível de internacionalização de uma empresa é potenciado pela colaboração e cooperação dentro das redes locais em que a empresa está inserida, na medida em que estas relações potenciam a criação e difusão de novo conhecimento (Libaers & Mayer, 2011).Götz & Jankowska (2017) afirmam mesmo que o cluster proporciona uma atmosfera única de confiança que estimula a criação e disseminação de I&D, funcionando como um veículo para implementação de projetos que contribuem para o desenvolvimento de novos produtos, o que leva ao aumento da competitividade da empresa. Ainda, Rocha et al. (2009) verificaram que a primeira empresa do cluster a iniciar o processo de internacionalização enfrentou uma maior concorrência, o

(25)

16 que levou a empresa a adaptar e criar novos designs, que foram posteriormente copiados por outras empresas do cluster.

Imagem internacional. Segundo Becattini (1991), o sucesso de um cluster depende da construção de uma forte relação com o mercado final e do desenvolvimento de uma imagem comum da aglomeração geográfica, independentemente da imagem individual de cada empresa. Deste modo, a organização em cluster tem impacto na credibilidade e reputação da marca das entidades que dele fazem parte (Zyglidopoulos et al., 2006). A reputação do cluster pode mesmo ser vista como um fator condicionante da internacionalização da empresa, em particular das PME, as quais não têm recursos para construir uma imagem própria reconhecida à escala internacional (Zyglidopoulos et al., 2006). Do mesmo modo, uma boa reputação do cluster é um facilitador para o acesso a fundos financeiros necessários para penetrar em novos mercados e atrai recursos humanos especializados (Zyglidopoulos et al., 2006).

Papel das instituições e do governo

Instituições locais. Com vista a promover a partilha de conhecimento, experiências e projetos de inovação que colocam as empresas a par das tendências dos mercados mundiais, é necessário desenvolver uma rede de empresas forte, onde sejam promovidas iniciativas locais desenvolvidas por instituições do cluster (Bathelt et al., 2002). Nesta lógica, uma iniciativa cluster é uma iniciativa organizada, cujo objetivo principal é fortificar o crescimento e competitividade do cluster (Osarenkhoe & Fjellström, 2017). A iniciativa cluster trata-se de uma estratégia relacionada com a Network Theory na medida em que se foca na interação e troca de recursos entre empresas (Osarenkhoe & Fjellström, 2017). Através da interação com empresas orientadas para a exportação pode resultar a cooperação com vista à partilha de experiências e oportunidades internacionais, que muitas vezes é promovida por instituições empresarias (Felzensztein et al., 2019).

No sentido de testar a influência de instituições do cluster no processo de internacionalização das empresas, Felzensztein et al. (2019) realizaram um estudo comparativo entre empresas familiares pertencentes ao cluster de vinho em três países, nomeadamente, Argentina, Chile e Nova Zelândia. O estudo demonstrou que as instituições do cluster, como é o caso de uma organização comercial, facilitam a internacionalização das empresas. A Argentina possuí uma forte associação comercial denominada Wines of Mendoza e apesar dos problemas económicos enfrentados pelo país, o cluster apresenta um histórico de empresas que exportam mais rápido

(26)

17 do que as empresas chilenas. No caso da Nova Zelândia, duas organizações comerciais tiveram um impacto positivo significativo nas empresas vinícolas da Nova Zelândia, acelerando o seu processo de internacionalização (Felzensztein et al., 2019). Segundo Rocha

et al. (2009), as instituições de apoio contribuem para a difusão do processo de exportação

no setor através da partilha de recursos, apoio técnico e de recursos de marketing.

Governo. De acordo com Porter (1998a), o cluster revela dependência do papel do governo, sendo este crucial no desenvolvimento do próprio cluster, nomeadamente ao nível da educação dos cidadãos e ao nível da construção de infraestruturas (Porter, 1998a). Neste sentido, o papel das instituições torna-se ainda mais importante, na medida em que estas podem solicitar junto do governo, um conjunto de políticas que promovam a competitividade internacional das empresas. Segundo Rocha et al. (2009), os esforços conjuntos entre órgãos governamentais e as associações industriais do cluster do mobiliário brasileiro permitiram a criação de um programa nacional de apoio ao desenvolvimento das exportações destes bens.

Com vista a sintetizar os vários estudos empíricos mencionados foi elaborada a Tabela 3.

Tabela 3- Resumo dos estudos empíricos a clusters.

Fonte: elaboração própria.

Autores País empresas Grupo de recolha de dados Método de Papel do cluster Felzensztein, et al. (2019) Argentina, Chile e Nova Zelândia Empresas familiares exportadoras Entrevistas aos proprietários das empresas Iniciativas cluster Jankowska & Gotz (2017) Alemanha Empresas do

cluster Estudo de caso Inovação

Osarenkhoe & Fjellström (2017)

Suécia cluster e networks Instituições do

locais Entrevistas focus-group Iniciativas cluster Libaers &

Mayer (2011) USA PME empresas Base de dados Inovação

Zen, et al.

(2011) Brasil e França Empresas dos clusters Entrevistas Recursos

Rocha, et al.

(2009) Brasil PME Entrevistas internacionais Experiências Zyglidopoulos,

(27)

18

2. Modelo teórico e hipóteses

O presente estudo tem como objetivo compreender qual a perceção do cluster durante o processo de internacionalização da empresa, ao nível das vantagens que este oferece, nomeadamente, quando as empresas enfrentam barreiras à exportação. Considerando as principais barreiras à exportação identificadas na revisão de literatura, foi elaborada uma matriz de barreiras à exportação, onde constam 14 variáveis, agrupadas em 4 grupos/categorias de barreiras (Anexo A1). Paralelamente, em relação às vantagens do cluster, foi também elaborada uma matriz com 16 variáveis agrupadas em 4 grupos de vantagens (Anexo a2). Após a identificação das barreiras à exportação e das vantagens do cluster, reconhece-se que as barreiras à exportação que podem requerer ação do cluster são as barreiras que dependem diretamente da capacidade e dos recursos da empresa, isto é, das barreiras internas e, ainda as barreiras externas com origem no mercado doméstico em que a empresa está inserida. As barreiras exógenas e ambientais, isto é, que dependem do ambiente do país destino, não serão alvo de análise, uma vez que se tratam de barreiras especificas desse mercado, nas quais as entidades nacionais não têm qualquer ação.

O diagrama a seguir (Figura 1) ilustra o modelo teórico deste estudo, permitindo uma melhor perceção da relação que procuramos estabelecer entre os dois pilares da revisão da literatura, ou seja, as barreiras à exportação das PME e a perceção das vantagens do cluster no processo de internacionalização das empresas.

Fonte: elaboração própria.

Barreiras de recursos Barreiras informacionais e conhecimento Barreiras de marketing Barreiras processuais e governamentais H1 H2 H3 H4 Perceção do cluster (PC)

(28)

19 Com base na revisão desta literatura, foram formuladas hipóteses que serão exploradas no estudo empírico do cluster de mobiliário português (Tabela 4).

Tabela 4 - Hipóteses

Hipóteses Descrição

H1 Empresas que enfrentam barreiras de recursos à exportação têm uma perceção vantajosa do cluster.

H2 Empresas que enfrentam barreiras de conhecimento e informacionais à exportação têm uma perceção vantajosa do cluster.

H3 Empresas que enfrentam barreiras de marketing à exportação têm uma perceção vantajosa do cluster.

H4 Empresas que enfrentam barreiras processuais e governamentais à exportação têm uma perceção vantajosa do cluster.

H5 Na generalidade, empresas que enfrentam barreiras à exportação têm uma perceção vantajosa do cluster.

H6 Empresas que contactam frequentemente com associações do cluster têm perceção vantajosa do cluster.

H7 Empresas que contactam frequentemente com universidades e centros de inovação têm uma perceção vantajosa do cluster.

(29)

20

3. Enquadramento do setor

Para efeitos de contextualização do caso em estudo, este capítulo proporciona uma introdução sobre a indústria do mobiliário em Portugal e no mundo.

3.1. Setor do mobiliário

Segundo a base de dados do International Trade Centre, a China foi o principal país exportador de mobiliário em 2017 (30,8% do total), seguida pela Alemanha (7,5%), Itália (6,6%) e Polónia (6,3%) (Gabinete de Estratégia e Estudos [GEE]; Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais [GPEARI], 2018). De acordo com a mesma fonte, nesse ano, Portugal teve um peso de 1,1% (Gabinete de Estratégia e Estudos [GEE]; Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais [GPEARI], 2018). Não é pretensão de Portugal concorrer com estes gigantes, mas sim com outro grupo de países que se começam a evidenciar, como por exemplo a Roménia, a Hungria e a Turquia (aicep Portugal Global, 2017). Em 2016, as exportações de bens do setor representaram 1,73% do total de exportações portuguesas de bens, atingindo um valor de cerca de 925 milhões de euros, em contraste com 484 milhões de euros de importações, de onde resultou um saldo positivo de aproximadamente 441 milhões de euros (Direção Geral das Atividades Económicas, 2017). Nesse mesmo ano, a França foi o principal destino das exportações da indústria do mobiliário nacional (20,17%), seguida da Espanha (19,49%) e dos Estados Unidos (7,94%). Ao nível das importações, a Espanha foi o nosso principal fornecedor, representando 50,87% das importações nacionais de mobiliário, seguida da Itália (8,57%), Alemanha (7,79%), China (7,71%) e França (7,41%) (Direção Geral das Atividades Económicas, 2017).

Em Portugal, ao longo da década de 90, o setor do mobiliário viveu um período de forte crescimento do consumo interno, pelo efeito spillover do crescimento do mercado da construção civil (Comissão de Assuntos Económicos, Inovação e Energia , 2011). Nesta época, com vista ao aumento da capacidade produtiva, as empresas promoveram investimento em tecnologia e negligenciaram as estratégias de marketing e internacionalização. Mas, com a crise económica que caracterizou o início do século XXI, as empresas reforçaram a aposta nos mercados externos, nomeadamente da Zona Euro (Comissão de Assuntos Económicos, Inovação e Energia , 2011). Contudo, a falta de recursos ao nível da gestão, a dificuldade de contratação de pessoal qualificado e com experiência internacional, e ainda a

(30)

21 falta de cooperação dentro da indústria geraram dificuldades de resposta às solicitações do mercado externo (Comissão de Assuntos Económicos, Inovação e Energia , 2011). O setor é ainda caracterizado por uma elevada fragmentação, maioritariamente constituído por PME de cariz familiar (Direção Geral das Atividades Económicas, 2017).

Em termos institucionais, destacam-se duas associações empresariais: a APIMA - Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins e a AIMMP - Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal, ambas com sede na cidade do Porto. A APIMA formou-se em 1984 e abarca as empresas com CAE 31 (APIMA, 2019). A AIMMP constitui-formou-se em 1957 e representa a Fileira de indústrias de base florestal, exceto celulose, papel e cortiça. As duas associações apresentam projetos com foco na promoção internacional do setor e no apoio às empresas (AIMMP, 2019). Nesse contexto, destaca-se o projeto “Interfurniture – Portugal, a name to remember” desenvolvido pela APIMA com o intuito de promover a exportação através da presença em feiras internacionais.

Em termos de desenvolvimento tecnológico do setor do mobiliário, destaca-se o CTIMM - Centro Tecnológico da Indústria da Madeira e do Mobiliário localizado em Lordelo, concelho de Paredes. A entidade tem foco na inovação e na melhoria contínua da qualidade dos produtos e dos processos tecnológicos, com vista a assegurar a competitividade das empresas que integram as indústrias da madeira e mobiliário (Know Now, 2019).

3.2.

Cluster

do mobiliário português

O setor do mobiliário português apresenta um elevado nível de concentração geográfica na região Norte (NUTS II), sendo que o maior número de empresas se localiza em Paços de Ferreira, conhecido como a Capital do Móvel e no concelho limítrofe de Paredes, apelidado por Rota dos Móveis, ambos pertencentes ao distrito do Porto (Direção Geral das Atividades Económicas, 2017).

Tabela 5 - Nomenclatura das Unidades Territoriais para os municípios de Paços de Ferreira e Paredes.

Município NUTS I NUTS II NUTS III

Paços de Ferreira

Portugal Norte Tâmega e Sousa

Paredes Área Metropolitana do Porto

(31)

22 Mais do que indústrias isoladas, os clusters abrangem uma série de entidades interligadas importantes para a competitividade do setor (Porter, 2000). No sentido de promover iniciativas e organizar esforços de desenvolvimento económico, que vão para além dos esforços de redução de custos de produção, o cluster necessita do envolvimento ativo das entidades associadas (Porter, 2000). Desta forma, torna-se importante identificar as instituições parceiras do cluster em estudo, entre as quais se destacam as associações empresariais, os órgãos executivos dos municípios e as instituições académica e profissionais, entre outros (Porter, 2000).

Em 2009, em consequência da crise mundial, surgiu a necessidade da criação de uma entidade gestora do cluster do mobiliário de Portugal, designada por APEIEMP - Associação para o Pólo de Excelência e Inovação das Empresas de Mobiliário de Portugal com sede em Paços de Ferreira, cujo o objetivo era tornar o mobiliario português uma referência de excelência, qualidade, inovação e desing a nível mundial (COMPETE, 2009). A nova associação junta cinco entidades: a AIMMP, a AEPF- Associação Empresarial de Paços de Ferreira, AEP - Associação Empresarial de Paredes, a Associação Portuguesa de Comércio Mobiliário e a APIMA (Cardoso, 2008). Desta parceria, nasceu a marca Made in/by Portugal com a finalidade de criar uma estrutura de apoio às empresas que facilite e promova o desenvolvimento e internacionalização do setor (Cardoso, 2008).

Em 2015, com vista a atrair financiamento do Estado para a região e aumentar as exportações, as câmaras de Paredes e Paços de Ferreira juntamente com as associações empresariais locais assinaram um protocolo de reconhecimento formal da tipologia de organização em cluster. Contudo, devido a conflitos de interesses entre as entidades integrantes, o projeto ainda está pendente de reconhecimento (Direção Geral das Atividades Económicas, 2017). Atualmente, a estrutura do cluster apresenta-se multifacetada, contando sobretudo com o apoio das duas câmaras municipais e das associações locais e setoriais, que representam os empresários da região e dinamizam projetos financiados pelo COMPETE 2020 - Programa Operacional Competitividade e Internacionalização e pelo Programa operacional regional do Norte 2020, programas essenciais para o futuro das empresas e entidades associativas do setor (Direção Geral das Atividades Económicas, 2017).

(32)

23

4. Proposta metodológica

Após a exposição da revisão de literatura e da apresentação do paralelismo estabelecido entre as barreiras à exportação e as vantagens do cluster, neste capítulo apresenta-se a metodologia de investigação adotada.

4.1. Tipo de estudo

Atendendo à questão central de investigação, aos objetivos estipulados e às hipóteses criadas, a metodologia quantitativa identifica-se como o método de investigação mais adequado. Para a recolha de dados, foi realizado um questionário estruturado junto dos representantes das empresas do cluster. Com recurso a uma amostra representativa, procura-se identificar as principais barreiras à exportação e aferir a perceção dos representantes das empresas acerca das vantagens proporcionadas pelo cluster.

4.2. População alvo

A população alvo desta análise empírica é constituída por empresas localizadas nos municípios de Paços de Ferreira e Paredes com o código da CAE Rev. 3 Principal4: 3109 - Fabricação de mobiliário para outros fins5. O presente estudo foca-se no grupo de empresas com CAE 3109, pois este representa o maior número de empresas da região em estudo6. A ferramenta utilizada para a seleção da amostra foi o SABI - Sistema de Análise de Balanços Ibéricos7, cujo o último ano disponível dos dados é 31 de dezembro de 2017.

Na base de dados SABI constavam 1531 empresas ativas com CAE 3109. Para efeitos de análise, foram eliminadas todas as empresas que se inseriam num dos seguintes critérios: (1) número de empregados igual a zero; (2) valor de vendas do último ano disponível nulo; ou

4Corresponde à atividade que representa a maior importância no conjunto das atividades exercidas por uma

unidade de observação estatística (Instituto Nacional de Estatística, I.P., 2007).

5Compreende a fabricação de mobiliário de madeira para salas de estar, quartos de dormir, casas de banho e

fins diferentes das atividades anteriores. Inclui mobiliário urbano, como bancos, sofás, cadeiras e assentos com armação de madeira, assim como acabamentos estofamento, pintura, polimento, lacagem e envernizamento (Instituto Nacional de Estatística, I.P., 2007).

6Cerca de 97% das empresas da região (549 empresas) foram identificadas com CAE Rev. 3 Principal 3109 e,

apenas 15 com CAE Rev. 3 Principal 3101 e 3102.

7Ferramenta de pesquisa e tratamento de dados que permite obter informação geral das empresas selecionadas e

(33)

24 (3) dados da empresa inexistentes. Assim, o número total de empresas identificado a nível nacional foi de 1276, sendo que nos dois concelhos existem 549 empresas, o que representa cerca de 43% do total.

Com o intuito de estudar as empresas exportadoras, foram consideradas as empresas com valor de vendas positivo no mercado comunitário da UE ou no mercado extracomunitário. Assim, dentro do cluster, foram identificadas 352 empresas com atividade exportadora, as quais constituem a população alvo. Entre estas, 157 pertencem a Paços de Ferreira (44,6%) e 195 estão localizadas em Paredes (55,4%). No que respeita ao número de trabalhadores por empresa exportadora, tal como podemos observar na Tabela 6, a população do estudo é maioritariamente constituída por micro8, pequenas9 e médias10 empresas.

Tabela 6 - N.º de trabalhadores por empresa exportadora com CAE Rev. 3 Principal 3109 por dimensão e concelho.

N.º trabalhadores por empresa

Concelho

Cluster Paços de Ferreira Paredes

N.º empresas % N.º empresas % N.º empresas %

>250 1 0,6 0 0,0 1 0,3 50-250 11 7,0 23 11,8 34 9,7 11-49 79 50,3 93 47,7 172 48,9 0-10 66 42,0 79 40,5 145 41,2 Total n.º empresas 157 195 352 Fonte: SABI.

4.3. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

No sentido de aferir a perceção dos representantes das empresas sobre as vantagens do cluster, entendeu-se que o instrumento de recolha de dados a utilizar seria o questionário estruturado, que foi enviado via email para as empresas do cluster, através da plataforma Formulários Google, entre os dias 27 de maio e 26 de julho. Na base de dados SABI, constavam 166 endereços de email válidos, 21 endereços foram obtidos via exploratória e 15 questionários

8Empresa que emprega menos de 10 pessoas e cujo volume de negócios anual ou balanço total anual não excede

2 milhões de euros.

9Empresa que emprega menos de 50 pessoas e com volume de negócios anual ou balanço total anual que não

excede 10 milhões de euros.

10Empresa que emprega menos de 250 pessoas e com volume de negócios anual que não excede 50 milhões de

(34)

25 foram preenchidos em formato papel no evento Home Week Porto que decorreu no dia 26 de junho na Alfândega do Porto. Assim, o questionário foi enviado para um total de 202 empresas, das quais foram obtidas 47 respostas, o que corresponde a uma taxa de resposta de aproximadamente 23%.

Com vista a garantir a viabilidade do questionário, previamente ao envio massivo do mesmo, este foi testado por 3 empresas representativas do setor. Por forma a evitar diferentes perceções do conceito cluster, no início do questionário apresentou-se uma definição generalizada. Da mesma forma, de modo a evitar que empresas não relevantes fossem alvo de análise, foi referido que o questionário se destinava exclusivamente a empresas com CAE 3109, localizadas em Paços de Ferreira ou Paredes.

O questionário era constituído por duas partes (Anexo B). A primeira parte continha dois grupos de questões, o primeiro grupo sobre as características da empresa inquirida (perguntas 1 a 9), o que iria permitir agrupar as empresas de acordo com as sua dimensão e experiência exportadora. O segundo grupo englobava uma lista de fatores que causam dificuldades ao início, ou ao desenvolvimento, da atividade exportadora das empresas do setor, às quais, o inquirido tinha de responder mediante o nível de dificuldade associado a cada fator numa escala de resposta psicométrica de Likert (1- nenhuma; 2- baixa; 3- média; 4- alta; 5- muito alta). Esta parte corresponde à matriz de barreiras à exportação (Anexo A1).

No início da segunda parte, foi apresentada a definição de cluster e ainda, duas questões. Com base na experiência da empresa, a primeira questão era relativa à frequência com que a empresa estabelece contacto com as principais entidades geograficamente próximas, de acordo com uma escala de Likert (1- nunca; 2- raramente; 3- ás vezes; 4- frequentemente; 5- muito frequentemente). A segunda pergunta apresentava um conjunto de afirmações sobre as vantagens que o cluster pode oferecer às empresas nele instaladas, onde o inquirido tinha de responder mediante o seu nível de concordância com cada afirmação numa escala de resposta psicométrica de Likert (1- discordo totalmente a 5- concordo totalmente). Este conjunto de afirmações corresponde à matriz de vantagens do cluster (Anexo A2).

Uma vez que a amostra de empresas selecionadas para o estudo foca-se numa área geográfica restrita, onde os fatores culturais, políticos, sociais e ambientais são semelhantes para todas as empresas, o impacto de variáveis macroeconómicas é minimizado (Arteaga-Ortiz & Fernández-Ortiz, 2010). Assim, os resultados irão permitir o estabelecimento de relações e reunir condições para responder à questão de investigação.

Imagem

Tabela 2 - As 3 abordagens teóricas do cluster.
Tabela 3- Resumo dos estudos empíricos a clusters.
Figura 1 - Modelo teórico.
Tabela 4 - Hipóteses  Hipóteses Descrição
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