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5. Análise de dados

5.1. Análise de estatística descritiva

Depois das questões relativas às características das empresas, segue-se a análise descritiva das respostas às barreiras à exportação quanto ao nível de dificuldade que causam ao início, ou ao desenvolvimento da atividade exportadora (questão 10), da regularidade de contacto com as entidades do cluster (questão 11) e do nível de concordância com afirmações sobre as vantagens do cluster (questão 12). Para efeitos de análise, recorreu-se ao cálculo das médias de cada variável. De modo a obter uma visão mais detalhada da heterogeneidade das observações, calculou-se a frequência absoluta (fi) para cada uma das 32 variáveis, isto

consiste na identificação do número de vezes que cada nível de resposta foi observado nessa variável e a frequência relativa acumulada (Fri), que se obtém adicionando as frequências

relativas até ao valor considerado da variável estatística.

5.1.2. Barreiras à exportação

O Anexo C mostra em que medida as barreiras à exportação foram ou não consideradas uma dificuldade no processo de exportação, pelos respondentes das três dimensões de empresas, numa escala de resposta psicométrica de Likert (1- nenhuma; 2- baixa; 3- média; 4- alta; 5- muito alta). De modo geral, as empresas pequenas sinalizam os níveis mais altos de dificuldade para as barreiras à exportação, seguido do grupo das microempresas e, por último das médias empresas.

Recursos Funcionais. Nesta categoria, V2 - “Escassez de pessoal com experiência internacional” foi identificada como a barreira com maior grau de dificuldade (3,36), atingindo a média mais elevada nos três grupos de empresas, sendo que para as pequenas empresas, trata-se da média mais elevada de todas as barreiras. Este facto reflete a importância de pessoal com experiência exportadora na propensão da empresa à exportação (Haddoud et al., 2018). Segue-se V3 – “Escassez de capital para financiar as exportações” (3,04), contudo para as médias empresas, esta não se apresenta como a segunda barreira mais elevada, mas sim, V4 – “Falta de capacidade de produção para as exportações”, o que indicia uma maior capacidade de financiamento das médias empresas, contudo algumas limitações de produção para dar resposta às exportações. No sentido oposto, a barreira com menor dificuldade é V1 – “Falta de tempo para lidar com a gestão das exportações” (2,49), que

31 apesar de ser uma barreira típica de microempresas e PME (Leonidou, 2004), tal não se confirma na amostra em estudo.

Conhecimento e informacionais. Em relação a este grupo, V6 – “Falta de informação para analisar os mercados externos” (3,21) surge com o maior nível de dificuldade para os três grupos de empresas, comparativamente a V5 – “Falta de conhecimento geral sobre como exportar” (2,7), o que sugere que a falta de informação sobre mercados é efetivamente um fator decisivo na atividade exportadora das empresas do cluster (Pinho & Martins, 2010). Marketing. Este conjunto de barreiras reúne a média mais alta e a mais baixa das 14 variáveis. V10 – “Poucas atividades promocionais/ visibilidade da empresa nos mercados externos” (3,38) destaca-se com a média geral mais elevada, o que indicia pouco investimento em atividades promocionais fora do mercado nacional e baixo reconhecimento internacional das empresas do cluster. Em consonância com os estudos de Arteaga-Ortiz (2003), V8 – “Dificuldades na identificação/acesso a agentes/distribuidores nos mercados externos” (3,21) revelou-se uma das maiores dificuldades para as empresas do cluster. No sentido inverso, V7 – “Pouca adaptação dos produtos da empresa ao mercado externo” (2,28) destaca-se como a barreira com média mais baixa, facto que contraria a literatura, no sentido em que não se revela uma barreira sentida pelas empresas da amostra (Tesfom e Lutz, 2006). Processuais e governamentais. Este agregado de barreiras apresenta a média mais elevada dos quatro grupos. Com realce para V14 – “Falta de incentivos financeiros/fiscais à exportação” (3,36), logo seguida de V13 – “Falta de assistência/ apoio das instituições públicas à exportação” (3,26). Este facto pode refletir as carências do cluster, nomeadamente a falta de assistência, apoio e incentivos tanto financeiros como fiscais das instituições públicas à exportação (Morgan & Katsikeas, 1997). No sentido oposto, apresenta-se V11 – “Pouca familiaridade com procedimentos e burocracias de exportação” (2,87), o que não confirma a pouca familiaridade das empresas com procedimentos e burocracias de exportação (Leonidou, 2004). Observando os valores de V12 – “Falhas na comunicação com clientes internacionais”, é possível verificar uma diferença entre a média de micro (2,85) e pequenas empresas (3,15), em relação às médias empresas (2,07), tal pode ser reflexo da falta de pessoal com experiência internacional sentida, particularmente, por empresas de menor dimensão (Leonidou, 2004).

32 Análise de frequências

Tendo em consideração a análise de frequências, a Anexo D mostra que V7 – “Pouca adaptação dos produtos da empresa ao mercado externo” reúne 57% de resposta com grau de dificuldade “baixa” e “muito baixa”, o que suporta a ideia de o cluster proporciona uma atmosfera favorável à inovação, dando às empresas, a capacidade de adaptação dos produtos para responder à procura dos mercados destinos (Götz & Jankowska, 2017). Seguida de V4 – “Falta de capacidade de produção para as exportações” (53%) e V1 – “Falta de tempo para lidar com a gestão das exportações” (51%). De modo contrário, V6 – “Falta de informação para analisar os mercados externos” (53%) e V10 – “Poucas atividades promocionais/visibilidade da empresa nos mercados externos” (51%) reúnem mais de metade das respostas com dificuldade “alta” ou “muito alta”, apresentando-se como obstáculos sentidos pela maioria dos respondentes. Importa ainda mencionar que, V2 – “Escassez de pessoal com experiência internacional” e V14 - “Falta de incentivos financeiros/fiscais à exportação” apresentam a maior frequência absoluta acumulada de resposta como barreira de dificuldade “muito alta”, 8 e 10 respostas respetivamente, evidenciando obstáculos à atividade exportadora para parte das empresas respondentes (Leonidou, 2004).

5.1.2. Network do cluster

O cluster é formado por diferentes entidades que podem assumir um papel relevante na capacidade de a empresa ultrapassar as barreiras à exportação. Deste modo, torna-se pertinente perceber com que regularidade as empresas interagem com os vários agentes que compõe o cluster do mobiliário português. O Anexo E mostra a média de respostas dos respondentes relativamente à frequência com que contactam com as 12 entidades selecionadas para o estudo, numa escala de Likert (1- nunca a 5- muito frequentemente). De modo geral, as médias empresas são as interagem mais regularmente com os diferentes agentes.

Os FEMP- Fornecedores de equipamentos e matérias primas (4,18) são os agentes do cluster com os quais os três grupos de empresas interagem com maior regularidade, pelo que se verifica a existência de relações verticais fortes (Bathelt et al. 2002). De modo geral, em seguida, colocam-se os R&D- Retalhistas e distribuidores (3,59) e OES- Outras empresas do setor (3,47), o que confirma a existência de relações horizontais (Bathelt, et al. 2002). Contudo, em relação às microempresas coloca-se primeiro a interação com OES e só em

33 seguida os R&D. Tal sugere que estas empresas não têm tanta necessidade de interagir com diferentes retalhista e distribuidores, mas interagem regularmente com outras empresas, muitas vezes com vista a dividir a produção de encomendas que exigem elevada capacidade produtiva, que estas seriam incapazes produzir sozinhas.

De modo geral, as empresas do cluster interagem pouco com U&CI- Universidade e centros de inovação, CF- centros de formação e IEB- investidores, empreendedores e bancos. De entre as várias instituições, a APIMA e a AEPF são as que apresentam maior frequência de contacto, sendo que são, com distinção, as médias empresas que interagem com maior regularidade.

5.1.3. Vantagens do cluster

A última secção do questionário continha um conjunto de afirmações elaboradas de acordo com a revisão da literatura sobre as vantagens que o cluster pode oferecer às empresas nele instaladas, às quais, o inquirido tinha de responder mediante o seu nível de concordância com cada afirmação numa escala de Likert (1- discordo totalmente a 5- concordo totalmente). Tal como se pode observar no Anexo F, em geral, verifica-se homogeneidade de respostas, sendo que as micros empresas reconhecem maiores vantagens, seguida das médias empresas e por último, as pequenas empresas.

Recursos funcionais. Segundo Marshall (1980), as empresas instaladas neste tipo de aglomeração industrial têm fácil acesso a mão de obra especializada, a bens e serviços especializados (Bathelt, et al., 2002). Contudo, este grupo de vantagens apresenta a segunda média mais baixa dos quatro (3,23), não sendo por isso reconhecido com as principais vantagens para as empresas localizadas no cluster.

Conhecimento e informacionais. Este grupo apresenta-se com a maior média dos quatro (3,6), sugerindo que o cluster contribui positivamente para a criação de conhecimento e partilha de informação entre os agentes nele instalados. V18 – “A existência de empresas exportadoras no cluster incentiva outras empresas a exportar” (3,77) destaca-se como a vantagem com maior média entre as 16 vantagens, este é um dado interessante na medida em que confirma que empresas exportadoras do cluster têm um papel influenciador e positivo no início da atividade exportadora de outras empresas (Felzensztein et al., 2019). Em seguida, V19 – “Pertencer ao cluster contribui para o aumento da experiência internacional dos gestores” e V21 – “Pertencer ao cluster ajuda na identificação de oportunidades de negócios internacionais” têm média 3,57, tornando-se evidente a importância da partilha e do acesso

34 facilitado a informação que existe dentro do cluster, contribuindo para reconhecer mais e melhores oportunidades de exportação (Libaers & Mayer, 2011).

Marketing. Dentro do segundo grupo com a média mais elevada (3,41), V26 – “A reputação internacional do cluster aumenta a visibilidade da empresa” é a vantagem com maior média, o que enfatiza o valor da imagem internacional do cluster associada às empresas nele instaladas. Este facto evidencia um reconhecimento das empresas de que o cluster tem uma imagem positiva e, a localização nele é efetivamente positiva no que toca a visibilidade internacional (Zyglidopoulos et al., 2006). Importa realçar V22 – “Pertencer ao cluster contribui para que a sua empresa seja mais competitiva” (3,38), pois reflete os potenciais aumentos de eficiência, redução de custos de produção e minimização de stocks decorrentes da proximidade a pontos de fornecimento (Porter, 1998b).

Processuais e governamentais. Este é o conjunto de vantagens com média mais baixa. V29 – “A empresa beneficia de apoio nos procedimentos à exportação prestado pelas instituições do cluster” e V31 – “A empresa tem acesso a redes de contactos internacionais através das instituições comerciais” apresentam a menor média (3,0), pelo que os dados sugerem baixo reconhecimento da ação das instituições associativas e comerciais no apoio às exportações das empresas do cluster, quer a nível financeiro, quer no acesso a rede de contactos. Por outro lado, V30 – “A empresa participa em feiras e outros eventos internacionais promovidos pelas associações do cluster” (3,4) assume valores consideráveis, o que demonstra um papel positivo das associações do cluster no que toca à organização e divulgação de eventos internacionais (Felzensztein et al., 2019).

Análise de frequências

Tendo por base o Anexo G, segue-se a próxima análise. V18 – “A existência de empresas exportadoras, no cluster, incentiva outras empresas a exportar” destaca-se com 64% das respostas como “concordo em parte” ou “concordo totalmente”, estes dados suportam a literatura, na medida em que os respondentes reconhecem que empresas orientadas para a exportação assumem um papel determinante e influenciam outras empresas a internacionalizar (Felzensztein et al., 2019). Na mesma lógica, V26 – “A reputação internacional do cluster aumenta a visibilidade da empresa” (57%), V21 – “Pertencer ao cluster ajuda na identificação de oportunidades de negócios internacionais” (55%) e V19 – “Pertencer ao cluster contribui para o aumento da experiência internacional dos gestores” (53%) assumem valores assinaláveis, reunindo mais 50% de respostas como “concordo em

35 parte” ou “concordo totalmente”. As três afirmações revelam-se ser as principais vantagens do cluster reconhecidas pelas empresas.

Por outro lado, não se verificam variáveis que reúnam mais de 50% das respostas como “discordo em parte” e “discordo totalmente”, o que genericamente indica que as empresas reconhecem as vantagens mencionadas pelos vários autores da revisão de literatura. Contudo, V29 – “A empresa beneficia de apoio nos procedimentos à exportação prestado pelas instituições do cluster” destaca-se com 74% das respostas entre “discordo totalmente” e “nem concordo nem discordo”, denegrindo o papel do Estado e das instituições do cluster. Na mesma lógica, seguem-se V15 – “Pertencer ao cluster facilita o acesso a matéria-prima/ fornecedores”, V28 – “A reputação do cluster facilita o acesso a capital especializado para a empresa” e V31 – “A empresa tem acesso a redes de contactos internacionais através das instituições comerciais”, todas com 68%.

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