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Avaliação social multicritério: fundamentos metodológicos e consequências operacionais*7**

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n o t a S e c o n ó m i c a s 17

GIUSEPPE M U N D A AVALIAÇÃO SOCIAL MULTICRITÉRIO: FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS E CONSEQUÊNCIAS OPERACIONAIS

CARLOS BASTIEN / JOSÉ LUÍS CARDOSO structuralismanddevelopmenteconomicsintheeuropean SEMI-PERIPHERY: THE CASE OF PORTUGAL

J O Ã O DUQUE / LÍGIA FEBRA MOTIVOS PARA O LANÇAMENTO DE OFERTAS PÚBLICAS INICIAIS EM PORTUGAL

LUÍS AGUIAR-CON RARIA THE ADEQUACY OF THE TRADITIONAL ECONOMETRIC approachtonon-linearcycles

A . SIMÕES LOPES GLOBALIZAÇÃO E DESCONTENTAMENTO: UM ENSAIO SOBRE A OBRA DE STIGLITZ

PEDRO PEZARAT CORREIA 25 DE ABRIL: UMA LEITURA GEOPOLÍTICA E GEOESTRATÉGICA

JAIME FERREIRA NOS 30 ANOS DA FEUC

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Avaliação social multicritério: fundamentos metodológicos e consequências operacionais*7**

Giuseppe Munda Universidade Autónoma de Barcelona

résumé / abstract resumo

Este artigo defende essencialmente a possibilidade de utilização do conceito de “Avaliação Social Multicritério” como enquadramento da aplicação da escolha social aos problemas complexos de definição de políticas que este milénio levanta, numa altura “em que os factos são incertos, os valores discutíveis, os riscos elevados e as decisões urgentes”. O artigo desenvolve-se a partir de duas perguntas formuladas logo no início: qual a razão de uma avaliação “social” multicritério e como deve processar-se essa avaliação.

A fundamentação da Avaliação Social Multicritério assenta nos princípios da teoria e da filosofia dos sistemas complexos, tais como a complexidade reflexiva, a ciência pós-normal e a

incomensurabilidade. Antes de propor qualquer orientação sobre o modo de aplicação da Avaliação Social Multicritério será necessário encontrar a forma de ultrapassar questões como a incomensu­

rabilidade técnica e a incomensurabilidade social, decidir qual o papel a atribuir aos pesos e analisar as implicações da axiomatização matemática dos métodos de agregação multicritério. O objectivo deste artigo é, assim, responder a estas questões com base não só em considerações teóricas, mas também na experiência adquirida com o estudo de casos reais.

Cet article traite essentiellement de la possibilité d'utiliser le concept dévaluation Sociale Multicritère” en tant qu'encadrement de l'application du choix social aux problèmes complexes de définition de politiques que soulève ce millénaire, à une époque “où les faits sont incertains, les valeurs discutables, les risques élevés et les décisions urgentes”. L'article se développe à partir de deux questions formulées dès le départ: quel est le pourquoi d'une évaluation “sociale” multicritère et de quelle manière doit se dérouler cette même évaluation?

Le fondement de l'Evaluation Sociale Multicritère repose sur les principes de la théorie et de la philosophie des systèmes complexes tels que la complexité réflexive, la science post-normale et l'incommensurabilité. Avant de proposer une orientation quelconque, il sera nécessaire, tout d'abord, de trouver la manière de résoudre des questions telles que l'incommensurabilité technique et l'incommensurabilité sociale, puis, de décider du rôle à attribuer aux poids et, enfin, d'analyser les implications de l'axiomatisation mathématique des conventions de l'agrégation multicritère. L'objectif de cet article est donc d'apporter une réponse à ces questions en se basant non seulement sur des considérations théoriques mais également sur l'expérience acquise grâce à l'étude de cas réels.

The main argument developed here is the proposal of the concept of “Social Multi-Criteria Evaluation” (SMCE) as a possible useful framework for the application of social choice to the difficult policy problems of our Millennium, “where facts are uncertain, values in dispute, stakes high and decisions urgent”. This paper starts from the following main questions: 1. Why “Social” Multi­

criteria Evaluation? 2. How such an approach should be developed?

The foundations of SMCE are set up by referring to concepts coming from complex system theory and philosophy, such as reflexive complexity, post-normal science and incommensurability. To give some operational guidelines on the application of SMCE basic questions to be answered are: 1. How is it possible to deal with technical incommensurability? 2. How can we deal with the issue of social incommensurability? 3.

Which is the role of weights? 4. Which are the implications of SMCE for the mathematical

axiomatization of multi-criteria aggregation conventions?

To answer these questions, by using theoretical considerations and lessons learned from real-world case studies, is the main objective of the present article.

* Este estudo foi parcialmente financiado pelo projecto de investigação da Comissão Europeia, Development and Application of a Multi-Criteria Decision Analysis Software Tool for Renewable Energy Sources

(MCDA_RES), Contrato NNE5-2001-273.

** Tradução de Teresa Lello. A tradutora agradece as sugestões apresentadas pelo Prof. Doutor José Figueira e a revisão final da Prof. Doutora Maria João Alves.

Junho '03 / (6/34)

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Avaliação Social M ulticritério: fundamentos metodológicos e consequências operacionais

Giuseppe Munda

1. Fundamentos metodológicos da avaliação social multicritério (SMCE)1: complexidade, ciência pós-normal e incomensurabilidade

O grande ponto de partida das ideias que aqui defendo é que o mundo em que vivemos se caracteriza por uma grande complexidade. Daí que possa optar-se por uma via reducionista, e abordar apenas uma das suas múltiplas dimensões, ou aceitar declaradamente essa

complexidade! A via que aqui se segue é exactamente a última, na certeza, porém, de que qualquer representação de um sistema complexo apenas reflecte um subconjunto de todas as suas representações possíveis. Considera-se, então, que um sistema é complexo quando os aspectos pertinentes de um determinado problema não podem ser apreendidos com base numa única perspectiva (Funtowicz et a i, 1999; O'Connor et al., 1996; Rosen, 1977).

Para dificultar as coisas, os sistemas humanos são sistemas reflexivos complexos. As duas principais características dos sistemas reflexivos são o “conhecimento” e a “fin a lid a d eA descrição destas características implica subir mais um “degrau” de complexidade. O facto de haver conhecimento próprio e finalidades (a reflexividade) pressupõe que esses sistemas estejam continuamente a acrescentar novas qualidades/atributos pertinentes a ter em conta quando se descreve o seu comportamento (ou seja, são sistemas de aprendizagem). Um factor importante que convém não esquecer é que a reflexividade implica que a forma da

representação de um problema de definição de políticas reflicta necessariamente as concepções, os valores e os interesses de quem o estruturou.

Acresce, ainda, que a existência de diferentes níveis e escalas de análise de um sistema hierárquico implica, forçosamente, a existência de descrições não equivalentes. Daí que o problema das identidades múltiplas dos sistemas complexos não possa ser interpretado apenas em termos da pluralidade epistemológica decorrente da existência inevitável de observadores não equivalentes, mas também pelas características ontológicas do sistema observado (Giampietro, 1994; Giampietro e Mayumi, 2000). De acordo com M. Giampietro, mesmo a descrição simples e “objectiva” da orientação geográfica de um ponto não é, de facto, possível sem uma decisão subjectiva e arbitrária sobre a escala a utilizar. De facto, um mesmo local, por exemplo, nos Estados Unidos, pode situar-se geograficamente no norte, no sul, no leste ou no oeste conforme a escala de representação escolhida seja o país inteiro, um único estado, etc.2 A determinação da escala tem consequências importantíssimas na análise multicritério, nomeadamente na definição dos critérios de avaliação (por exemplo, definir que actores sociais podem ser considerados interlocutores pertinentes na avaliação do impacto da construção de infra-estruturas para a prática de ski numa região de montanha, onde tanto os habitantes locais, como os potenciais utilizadores oriundos das zonas urbanas e até os movimentos ambientalistas e os ecologistas de qualquer ponto do mundo parecem constituir hipóteses razoáveis), no cálculo dos valores de impacto (por exemplo, definir se um indicador de contaminação deve ser calculado à escala local ou a uma escala mais vasta: no caso dos automóveis a hidrogénio, por exemplo, a sua utilização, do ponto de vista local, é indiscutivelmente vantajosa, mas à escala mundial pode não o ser, já que as emissões poluentes dependem da técnica usada na produção do hidrogénio, mero transmissor e não fonte de energia) ou na escolha dos factores de

ponderação (um assunto que será aprofundado mais adiante).

• Um dos reflexos destas acentuadas subjectividades na representação dos problemas de definição de políticas é o facto de em qualquer classificação ordenada das diferentes políticas alternativas ter de se estabelecer uma definição operacional de “ valor, apesar de haver tantas

1 NT: Mantém-se a sigla inglesa correspondente à designação Social Multi-Criteria Evaluation.

2 Os sistemas de identidade múltipla e de escala múltipla podem designar-se “holarquias de aprendizagerrí’.

Um holon é um todo constituído por parcelas mais pequenas (por exemplo, o corpo humano é constituído por órgãos, tecidos, células, átomos) e, simultaneamente, é parte constitutiva de um todo maior (um indivíduo é parte de uma família, de uma comunidade, de um país, da economia mundial) (Koestler, 1969).

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I definições quantos os actores sociais com interesses, objectivos e identidades culturais diferentes. Quer isto dizer que, para se proceder a uma classificação ordenada das várias I alternativas, é fundamental determinar não só aquilo que é importante para os vários actores

sociais, mas também aquilo que é pertinente para a representação da realidade que o modelo pretende descrever.

• Em geral, a investigação científica não atribuiu, até agora, grande importância a estas preocupações. Por outro lado, a novidade dos problemas trazidos pelo terceiro milénio (como as vacas loucas ou os organismos geneticamente modificados) significa que, muitas vezes, quando é preciso tomar uma decisão sobre problemas com eventuais consequências a longo prazo, se enfrentam situações “em que os factos são incertos, os valores discutíveis, os riscos elevados e as decisões urgenteé ’ (Funtowicz e Ravetz, 1991, 1994).

Nestas circunstâncias, os cientistas só podem fornecer dados úteis se interagirem com a sociedade, da mesma forma que a sociedade só pode tomar decisões correctas se interagir com os cientistas. Ou seja, a questão do “aperfeiçoamento do processo de definição de políticas”

deve rapidamente inscrever-se no programa de acção não só dos “cientistas” e dos “agentes de decisão”, mas da sociedade inteira. Este alargamento da “comunidade de pares” é fundamental para que, no caso de sistemas reflexivos complexos, a qualidade do processo de decisão se mantenha. Para tal, Funtowicz e Ravetz propuseram um novo enquadramento epistemológico, a que chamaram “Ciência pós-normal” , que, em matéria de definição de políticas, permite resolver com mais facilidade questões relacionadas com dois aspectos fundamentais da ciência: a incerteza e os conflitos de valores. A designação “pós-normal” pretende denotar a diferença relativamente aos quebra-cabeças da ciência normal, no sentido kuhniano (Kuhn, 1962).

A ciência pós-normal pode ser caracterizada por oposição a outras estratégias científicas complementares, como se vê no diagrama apresentado na Figura 1, construído a partir de dois eixos: o eixo horizontal corresponde ao grau de “incerteza” do sistema e o eixo vertical aos

“riscos da decisão” . Quando a incerteza e os riscos são reduzidos, está-se no domínio da ciência académica “normal” , em que é seguro confiar nos “conhecimentos especializados codificados”.

Quando a incerteza e os riscos atingem um nível médio, já não basta a aplicação das técnicas habituais e dos conhecimentos normalizados e vulgarizados. Esses casos exigem perícia, discernimento e, às vezes, coragem para adaptar o “conhecimento geral” à “situação específica”.

Segundo Funtowicz e Ravetz, trata-se de “opiniões de especialistas” , precisamente o que um cirurgião ou um engenheiro faz em situações difíceis. Por fim, há os casos em que as conclusões não são inteiramente ditadas por dados científicos e as deduções são (natural e legitimamente) condicionadas pelos valores pessoais do actor em causa. Quando os riscos são muito elevados (por exemplo, quando uma determinada política pode abalar profundamente uma instituição), impõe-se, então, uma atitude cautelosa que questione as sucessivas conclusões científicas apresentadas (o que se aplica também aos casos em que o grau de incerteza do sistema é reduzido). Este procedimento só é incorrecto se for dissimulado, por exemplo, se um cientista se declarar imparcial, mas na realidade, defender um determinado ponto de vista. Quando uma tese científica é abertamente contestada por opiniões antagónicas legítimas, entra-se no domínio da ciência pós-normal.

Estas afirmações, tributárias da teoria dos sistemas complexos e da ciência pós-normal, são também corroboradas pelo conceito filosófico de comparabilidade fraca3 (Martinez-Alier et a i, 1998; O'Neill, 1993). A comparabilidade fraca pressupõe incomensurabilidade, ou seja, a existência de um conflito de valores irredutível quanto à escolha do termo comum de

3 Em termos de lógica formal, a diferença entre comparabilidade fraca e forte e a opção pela comparabilidade fraca pode exprimir-se utilizando a distinção de Geach entre adjectivos atributivos e predicativos (Geach, 1967). O adjectivo A é predicativo se satisfizer as seguinte condições lógicas:

(1) se X for AY, então X é A e X é Y;

(2) se X for AY e todo os Y forem Z , então X é AZ.

Junho '03/(6/34)

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