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ABORTO E DIREITOS HUMANOS, UM CENÁRIO CONFLITANTE.

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Academic year: 2021

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ABORTO E DIREITOS HUMANOS, UM CENÁRIO CONFLITANTE.

Ritielle Brasil de Oliveira

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1 INTRODUÇÃO

Aborto, ato praticado pelas mais diversas culturas e atualmente alvo de muitas discussões. O presente trabalhado anseia desvendar a clandestinidade da prática abortiva e averiguar o conflito de direitos humanos que cerca o tema.

2 OBJETIVOS

O objetivo geral da pesquisa é demonstrar a prática do aborto no Brasil. Para isso, farei em um primeiro momento, uma contextualização histórica do fenômeno até chegarmos a conceituação atual do aborto; segundo momento, irei mostrar como o ordenamento jurídico brasileiro protege a vida, seguindo a pesquisa, trabalharei direitos fundamentais, tais como, dignidade da pessoa humana e autonomia da vontade e por fim demonstrarei a prática abortiva no Brasil.

3 METODOLOGIA

O método para abordar a questão é o hipotético-dedutivo. O trabalho insere-se no Eixo Temático, Direitos Humanos, Educação, Cultura e Linguagem.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

BREVE HISTÓRICO DA PRÁTICA ABORTIVA FRENTE A ATUAL CONCEITUAÇÃO DO ATO.

A prática do aborto, que rotineiramente demonstra sua relevância, é também um tema arcaico e comum em muitas culturas. Já era documentado em sociedades antigas o ato, quando as mulheres que se deparavam com uma gestação indesejada ou quando não poderiam prosseguir a mesma. Era assim a solução mais ágil em épocas que não existiam métodos para se prevenir uma gestação. As técnicas aplicadas eram as mais diversas, alguns povos usavam de ervas, outros de técnicas de pressão abdominal.

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Autora. Estudante do 8º semestre do Curso de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria – FADISMA. E-mail: ritibrasil@hotmail.com

2 Para aprofundamento, pesquisar em “O ABORTO PROVOCADO COMO UMA POSSIBILIDADE

NA EXISTÊNCIA DA MULHER: REFLEXÕES FENOMENOLÓGIGO-EXISTENCIAIS”, Melina Séfora

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Com o passar dos séculos e com o surgimento dos métodos contraceptivos o cenário foi se transformando, contudo o tema sempre perpassa por questões morais, legais e religiosas, as quais subsistem aos dias atuais. O sistema jurídico brasileiro protege a vida desde sua concepção, criminalizando assim o aborto.

Atualmente o aborto nas palavras de Maria Helena Diniz (2008,p.29) é a “interrupção da gravidez antes de seu termo normal, seja ela espontânea ou provocada, tenha havido ou não expulsão do feto destruído.”

A Medicina versa sobre diversas e importantes diferenciações, contudo não relevante para presente pesquisa. Faz-se importante resalvar, para o mundo jurídico e presente trabalho, a diferença entre o aborto e o parto prematuro nas palavras de Maria Helena Diniz (2008,p.29) o “aborto seria a interrupção da gestação nos primeiros seis meses de vida intra-uterina, ante a inviabilidade do feto, enquanto o parto prematuro ocorreria depois do sexto mês, continuando vivo o produto da concepção.”

DIREITO À VIDA, TIPIFICAÇÃO DA PRÁTICA ABORTIVA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.

O direito à vida é um direito fundamental de primeira geração. A Carta Magna elucida em seu art.5º, caput a proteção à vida. Esta proteção se confirma no Código Civil de 2002, quando em seu texto o art. 2º demonstra a proteção do nascituro desde a concepção.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (BRASIL, 1988)

O aborto se classifica das mais variáveis formas, vamos aqui nos ater as práticas tipificadas pela lei. O Código Penal Brasileiro torna clara a classificação e as punições do aborto provocado, nos seus artigos 124 até o 127, demonstrando que haverá punição quando provocado pela própria gestante ou por terceiros, com anuência ou não da gestante. O artigo 127, CP se detém a penalizar o terceiro pela prática que causou lesão corporal grave ou até mesmo morte da gestante.

Souza Rebouças. Acesso em: 22/10/2015. Disponível: <http://www.ibamendes.com/2011/02/breve-historico-do-

aborto.html>.

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Contudo há duas modalidades permitidas de aborto no nosso ordenamento jurídico o chamado aborto necessário, conforme a nomenclatura aduz, em não havendo outra forma de salvar a gestante este é indispensável para proteger sua vida, aqui não se levará em consideração a anuência da paciente.

Por fim, se comprovada à violência, independente de autorização judicial assim como no aborto necessário. Se consentido pela gestante o médico fará o aborto em vítimas de estupro.

CONTRAPONDO DIREITOS FUNDAMENTAIS

Atualmente, a vida e o corpo são pautados pelas legislações, onde se estabelece normas a partir da concepção do feto até a morte humana. Algumas dúvidas transpõem o tempo, como fazem Cheila Aparecida Oliveira e Patrícia Bordin um sábio questionamento a cerca do corpo e de quem o mesmo pertence, no artigo A Efetividade do Direito ao Próprio Corpo, In O novo no direito (2014,p.468), pontuam:

A quem pertence o corpo de um indivíduo, então? Ao grupo social? Ao Estado?

Ambas alternativas desrespeitam direitos fundamentais, posto que seriam um retrocesso ad infinitum na evolução histórica e cultural dos seres humanos. É sabido que na Pré-Histórica, quando princípios morais velados pelos instintos tangiam o comportamento de um grupo, todas as ações e reações dependiam do consentimento prévio deste grupo.

O ser humano que tem direito não somente a vida, mas sim a uma vida com dignidade, princípio constitucional, elencado no art. 1º, caput,III, da Constituição Federal de 1988:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana; (BRASIL, 1988)

De forma implícita os direitos fundamentais asseguram a autonomia da vontade aos seres humanos, nas palavras de Marmelstein (2008,p.95) seria:

A proteção da autonomia da vontade tem como objetivo conferir ao individuo o direito de autodeterminação, ou seja, de determinar autonomamente o seu próprio destino, fazendo escolhas que digam respeito a sua vida e ao seu desenvolvimento humano, como a decisão de casar-se ou não, de ter filhos ou não, de definir sua orientação sexual etc.

Um ordenamento jurídico que tem como princípio constitucional a Dignidade

Humana, que confirma os Direitos Fundamentais em sua constituição, assegurando liberdade

e assim autonomia de vontade a seus cidadãos e que ao mesmo tempo criminaliza o aborto,

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parece ser desconexo. Criminalizar o ato não assegura uma não pratica do ato. Muito pelo contrário, no livro Aborto e Saúde Pública no Brasil 20 anos (2009,p.13), o Ministério da Saúde relata que “Os resultados confiáveis da principais pesquisas sobre aborto no Brasil comprovam que a ilegalidade traz consequências negativas para a saúde das mulheres, pouco coíbe a prática e perpetua a desigualdade social.”

ESTATÍSTICAS, UM PERFIL DA PRÁTICA ABORTIVA NO BRASIL.

Mulheres morrem não só no nosso país, mas em todo mundo por se submeterem a práticas abortivas clandestinas, por tomarem remédios que não sabem ao certo a procedência e a forma de manuseio, por se submeterem a clandestinidade. “Segundo a ONU, pelo menos 70 mil mulheres perdem a vida anualmente em consequência de aborto realizado em condições precárias.” (Maluf, 2013, p.260)

O aborto é algo tão oculto que até as pesquisas são escassas, na maioria das vezes é a mídia que nos traz informações. Em um importante artigo de Debora Diniz e Marcelo Medeiros, os autores fazem um levantamento por amostragem com o objetivo de desenhar a atual conjuntura do aborto no Brasil e subsidiar ações públicas de saúde para mulheres que praticam aborto no Brasil. Questionaram 2.002 mulheres alfabetizadas com idades entre 18 e 39 anos no ano 2010, na zona urbana. Partindo da conclusão do artigo “Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna”, entendemos o fenômeno no nosso país.

A PNA indica que o aborto é tão comum no Brasil que, ao completar quarenta anos, mais de uma em cada cinco mulheres já fez aborto. Tipicamente, o aborto é feito nas idades que compõem o centro do período reprodutivo feminino, isto é, entre 18 e 29 anos, e é mais comum entre mulheres de menor escolaridade, fato que pode estar relacionado a outras características sociais das mulheres de baixo nível educacional. [...] O uso de medicamentos para a indução do último aborto ocorreu em metade dos casos. Considerando que a maior parte das mulheres é de baixa escolaridade, é provável que para a outra metade das mulheres, que não fez uso de medicamentos, o aborto seja realizado em condições precárias de saúde. Não surpreende que os níveis de internação pós-aborto contabilizados pela PNA sejam elevados, ocorrendo em quase a metade dos casos. Um fenômeno tão comum e com consequências de saúde tão importantes coloca o aborto em posição de prioridade na agenda de saúde pública nacional. (2010,p.964)

5 CONCLUSÕES

No decorrer deste trabalho foi possível averiguar o conflito entre direitos

fundamentais, tais como o direito à vida, a dignidade da pessoa e a autonomia da vontade

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frente ao aborto. Observemos a prática abortiva no mundo, segundo a ONU, e em especial, no Brasil.O trabalho demonstra que por o aborto ser crime, faz com que as mulheres recorram a clinicas clandestinas, a medicamentos os quais não sabem ao certo a prescrição, submetendo- as a riscos de saúde.

Estudos que versem sobre o tema são importantes para que se abram portas para a discussão, pois as pesquisas mostram que a proibição não inibe o ato. O que deve ser protegido é a integridade física, a saúde e a dignidade dessas mulheres que se submetem a esta prática clandestina.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Vade mecum. São Paulo:

Saraiva, 2014.

BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Vade mecum.

São Paulo: Saraiva, 2014.

OLIVEIRA, Cheila Aparecida, BORDIN, Patrícia. A efetividade do direito ao próprio corpo. In Organizadores GAGLIETTI, Mauro, COSTA, Thaise Nara Graziottin, CASAGRANDE, Aline. O novo no direito. Ijuí: Ed. Unijuí, 2014.

DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 9.ed.rev., aum. e atual. de acordo com o Código de Ética Médica – São Paulo: Saraiva, 2014.

DINIZ, Debora. MEDEIROS,Marcelo. Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna. Disponível em: http://www.apublica.org/wp- content/uploads/2013/09/PNA.pdf. Acessado em: 11 de agosto de 2015.

MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. Curso de bioética e biodireito. 2.ed. São Paulo: Atlas,2013.

MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. São Paulo: Atlas,2008.

Referências

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