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Crônicas, contos e poesias de um sonhador

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Academic year: 2021

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NEREU ÁVILA DO NASCIMENTO

Crônicas, contos e poesias de um sonhador

São Paulo Pragmatha

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Pragmatha Editora www.pragmatha.com.br Edição: Sandra Veroneze

Identidade visual e diagramação: Pragmatha Ilustração: Maristel Nascimento

Fotografia de capa: Eduardo Miranda Ramos Copy right: Do Autor

Todos os direitos reservados

Proibida reprodução total ou parcial sem a expressa autorização

N244c Nascimento, Nereu Ávila do.

Crônicas, contos e poesias de um sonhador / Nereu Ávila do Nascimento. – São Paulo:

Pragmatha, 2021.

136 p. ; 14 x 21 cm.

ISBN 978-65-86926-19-4

1.Literatura brasileira. 2.Crônicas brasileiras. 3.Prosa brasileira. 4.Poesia brasileira. 5.An- tologias. 6.Autorrealização. I.Título.

CDU 869.0(81)-3 869.0(81)-3(082) CDD B869.8 869.9108 Catalogação na publicação:

Bibliotecária Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252

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Para a esposa Maristel e filhos Maiara,

Marcele e Nairo, que sempre me incentivaram em meus sonhos

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Sumário

Meus sonhos ... 09

A pontuação da morte ... 11 Das pequenas coisas ... 13 Cantor solito ... 15

Caverá, distrito de Rosário do Sul ... 17 Folhas de outono ... 19

Sem nada para pensar ... 20 Meus cachorros ... 21

Na água incolor da chuva ... 23 Na estação verão ... 25

O que não consigo escrever ... 27 Os parasitas ... 29

Por que brincamos com as letras? ... 31 Quando a ideia teima em não vir ... 33 Xerenga, sonho de guri ... 35

A máquina de costura ... 37 Carrinho de lomba ... 39 Eu, ela, de barco no rio ... 41 Fazenda de guri ... 43

História de um passado ... 45 A calhandra e o chopim ... 48 O burrinho que virou mágico ... 49 O conto do cem contos ... 53 O tombo da Chiquinha ... 55 Os piolhos de Piratini ... 57

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Seu Augusto ... 59 Talo de couve ... 61 A chuva de verão ... 63 A poeira na estrada ... 65 Aquentando ... 67

As flores do jardim meu ... 69 Do tempo bom “dos banhados” ... 71 Êxodo ao reverso ... 73

Meu remédio, a poesia ... 75 O vento sul ... 76

Minha aura ... 77

Na beira do fogão a lenha ... 79 Na picumã do galpão ... 81 Paisagem ... 84

Namorei com a lua ... 85

Não sobrou chão pros meus sonhos ... 87 Neste meu chão ... 89

No meu pôr de sol ... 91 Relembrança ... 94

No tempo da lamparina ... 95 O manto ... 97

O preço da discórdia ... 99 Payada de um homem só ... 101 Revoada dos anjos ... 103 São Benedito ... 105 Tamanco velho ... 107 Poema curto ... 109

Diálogo entre a Fome e a Necessidade ... 111 Há 35 anos atrás ... 113

O Silêncio e a Balbúrdia ... 115

Quando épocas diferentes proseiam ... 117 Afirmação ... 119

Da galponeira à valsa ... 121

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Desanquei numa rancheira ... 123 Retoçando no bailão ... 125

Retoçando no bailão de fumo ... 127 Surungo de galpão ... 129

Vaneira debochada ... 131 Xerenga, sonho de guri ... 133

Quando a cidade volta ao campo ... 135

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Meus sonhos

Sonhamos... mas diziam os antigos que sonhar era coisa de quem queria fugir da lida, do trabalho pesado, dos dissa- bores da vida, coisa de preguiçoso. Ora, sonhos são para se- rem sonhados. Não podemos sonhar sem ter os pés no chão.

A vida é uma eterna busca, seja pela realidade ou quem sabe até de uma fantasia. Muitas vezes estas fantasias com as quais sonhamos nos fazem acordar para a realidade.

Este que vos escreve sonhava e sonhava muito. No traba- lho bruto da lavoura, pequeno agricultor, queria sair daquele mundo no qual vivia. Eu pensava: como vou sair desta coisa que não me pertence. Eu não era feliz, embora trabalhador, e sabia que não queria aquilo para a vida. Nos devaneios do dia a dia, agarrado ao cabo do arado, arando a terra para o plantio de sub existência, seria utopia querer casar, ter filhos, ter uma vida menos sofrida?

E assim não via o dia passar. À noite, após o jantar, não com muita variedades, mas porém de sustância e farta, ia para meu catre, colchão de palha desfiada, travesseiro de pena, acolchoado de roupas velhas de lã, costurados e com uma capa de “chitão”, mas muito aconchegante. Tive um so- nho real: só existe uma forma de sair desta existência en- fadonha e de pouca oportunidade, e essa oportunidade é estudar, ter conhecimento do mundo exterior desarraigan- do-me e neste prelúdio iniciar uma caminhada sem retorno, buscando cada vez mais meu ideal.

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E assim foi dada a partida. Supletivo, trabalho na lavoura, segundo grau à noite já na cidade, ajuda e apoio dos saudo- sos José Bicca Larré e Ruth Larré, minha grande inspiradora e que até hoje sinto a presença nas horas que estou escreven- do. Voltando um pouco no tempo, neste ínterim passei em um concurso público, Polícia Federal, Academia em Brasí- lia em 1981, assumi a função de agente em Bagé. Casei, tive três filhos, duas gêmeas e um guri, todos com a vida digna e estabelecidos. A esposa é artista plástica, com trabalhos ma- ravilhosos.

E assim estou aposentado, feliz e fazendo algumas escri- tas que às vezes acho boas, outras nem tanto. Mais sonho, só o que falta, pois já plantei árvores, casei, tive filhos, sou bem sucedido na vida pessoal, e agora quero publicar um livro, sonho que se tornou, com esta obra, realidade.

Portanto, sonhar vale a pena.

Nereu Avila do Nascimento Autor

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A pontuação da morte

Leia-se bem a morte;

Morte, vírgula, ou morte, ponto.

Atente-se à pontuação:

Depois da vírgula, segue, Mas depois do ponto, não.

Para os da vírgula É preciso crença.

O ponto não, O ponto dispensa.

Há quem pontue a morte Com uma interrogação, Estes estão no escuro.

Há também os reticentes, Morte em cima do muro.

E eu, poeta, afinal?

Depois da morte, Ponto final.

Mas na minha insignificância, discordando de alguns poetas, digo que a morte não é um ponto final, mas sim um recomeço de um outro poema, poema este que começou, ou que já vinha sendo escrito, nesta encarnação.

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A Ruth completará a poesia da vida junto aos seus que já estão no mundo espiritual.

Junte-se a eles, faça poesia e de lá de cima recite-as para nós.

Poema de Antônio Augusto Ferreira.

Conclusão de Nereu Avila do Nascimento

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Das pequenas coisas

Hoje estamos arraigados a um cotidiano tão dinâmico que não vemos o tempo passar. A vida vai escapando por entre os dedos. A evolução do homem nos atropela, nos transforma em mera massa de manobra. O caos social no qual vivemos faz com que passemos a maior parte do tempo enclausurados em nós mesmos. Nosso introspectivo bem analisado é uma cadeia de lutas, angústias internas, conflitos externos, onde procuramos sair da decadência moral detur- pada pela inversão de valores. O justo passa a ser injusto, o legal passa ser ilegal, conforme o interesse da massa domi- nante.

Deixamos de enxergar as pequenas coisas que nos ro- deiam, que de imperceptíveis para muitos são muito per- cebíveis para quem olha as coisas sempre com bons olhos, perseverança, caridade, religiosidade e atitude.

As pequenas coisas, quando percebidas, nos engrande- cem, nos tornam melhores. Um pequeno ato de auxiliar alguém, por exemplo, para quem auxiliou pode ser uma pequena coisa, mas para quem foi auxiliado pode ser uma grande coisa, pois esta mensuração é feita conforme a neces- sidade de cada um.

Temos um ego, infelizmente, muito grande, que nos deixa orgulhosos quando praticamos um ato que terceiras pesso- as percebam. Muitas vezes por hipocrisia mostramos que estamos fazendo o bem, mas será que este altruísmo nos é

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benéfico perante nosso ser?

Ora, as pequenas coisas são, na maioria das vezes, mais beneficentes do que grandes coisas feitas com estardalha- ços, mais para ser vista do que propriamente para realmente ajudar o próximo.

E assim vamos caminhando junto com a humanidade, cada um ao seu modo e no seu jeito de ser.

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Cantor solito

Cantava...

Cantava na estrada e a cada passo uma rima, um pen- samento: o melhor cantador do mundo. Guri canta, passa o tempo. A cada verso sonhava em ser cantor, quiçá algum Teixeirinha, José Mendes, Gildo de Freitas, Roberto Carlos.

Nunca gostei do Erasmo.

A estrada se encurtava, mesmo longa. A areia quente do verão nem era sentida, assim como a gelada do inverno, pois os pés eram de casca grossa das rosetas, das pedras, do en- cardume do barro. Trincado como terra seca da estiagem, somente eram desencascurrados quando havia alguma festa e assim mesmo com caco de telha que era esfregado com sabão de pedra. Bem, não vem ao caso, voltamos aos versos.

Homenageava todos os seus ídolos, fazia rimas ricas e fi- cava admirado com ele mesmo... Será que algum dia vou poder passar toda essa minha inteligência para o papel?

Ora, guri, esquece. Inteligência, coisa nenhuma; apenas ri- mas de sonhador.

A cada moirão uma coruja olhava pensativa, como a ad- mirar aquele guri na estrada. Até elas adivinhavam que o guri estava inventando coisas: versos, traquinagem, alguma diabice, coisas de piá. Ficava feliz não estar sendo servida como teste para pontaria de bodocaço.

Já estou devaneando novamente. Guri cantor não con- segue se concentrar em nada. Se bem que até hoje canto

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alguma coisa, talvez por influência de alguém, Tio Mirote, bom trovador, que com ele cantei alguns versos. Até no seu velório cantei um.

Aliás, a família Farias de Avila tinha o dom da rima. As rimas ficavam perdidas ao léu, quem sabe sendo ouvidas por alguma alma penada que perambulava procurando paz.

Pode ser que até a encontrasse na ingenuidade daquelas ri- mas secretas. Não cantava alto, pois voz de guri é insupor- tável, principalmente quando está ficando meio franguinho.

Parece taquara rachada. Os versos saíam com suave poesia.

Acho que até algumas preás, no silêncio de seus corredo- res... É, preás também têm corredores no meio das macegas, e choravam ao “ouvirem” aquela brilhante melodia.

Bueno, versos foram feitos para serem cantados, mas por quem canta. Guri canta sozinho. Não tem platéia, somente a dos corredores moribundos, onde apenas os brejos cres- cem e são testemunhas de muitas desilusões. Muitos amores esquecidos, ou não, mas que nos levam para muitas encru- zilhadas que escolhemos. E poderemos um dia sermos can- tores de verdade.

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Caverá, distrito de Rosário do Sul

Não vou falar da história revolucionária do Caverá, Ho- nório Lemos, “O Leão do Caverá”, nada. Falarei da minha ligação com aquela terra maravilhosa, lugar ermo, mas má- gico.

Na minha primeira ida para aquela região, nos idos do ano 2000, na Estância Santo Agostinho, propriedade da fa- mília do meu colega Breno Cesar de Oliveira Araújo e hoje grande parte de sua propriedade, havia uma marcação e castração a pealo, tradição da época. Lá chegando, parecia que tudo aquilo me era familiar, inclusive as pessoas. Olhava aquela serra, denominada Serra do Caverá, e pensava comi- go: eu já estive aqui. Bom, mas isto é outra história. As pes- soas daquele lugar são afáveis, prestativas e fiéis na amizade.

Dona Neiva, mãe do meu colega, é pessoa maravilhosa e hoje reside em São Gabriel na casa da filha, pois anda meio adoentada. Conheci o Angelo, irmão do Breno, a Salete, as filhas Aniely e Suziely.

Comecei a trovar com Seu Antonio Vieira, nós meio en- xaguado e mais uns que estavam por ali. A turma ria muito.

Tinha o José, o Roberto, o Paulo e outros que não me vêm à memória agora. Aquilo foi se tornando um hábito. Todo o ano ia para o evento, depois comecei ir a passeio, aniversá- rios... Digamos que, acho, fiquei amigo de todos.

Bueno, hoje minha convivência com a família do seu An- tonio é fraterna, pura, e posso dizer que é das poucas real-

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mente compactas. A dona Davina, sua esposa, agradabilís- sima, é grande amiga de minha esposa. Seus filhos Diogo e Andreia são como um parente muito próximo. A Marione, esposa do Diogo, a Maiarinha, filha deles, o Barlan, esposo da Andréia, é pessoa fantástica. E seus filhos, Guilherme e Bruno, são guris criados como antigamente.

Ali tem uma comunidade maravilhosa denominada Co- munidade Quilombola Rincão da Chirca, onde vivem pes- soas pelas quais tenho o maior carinho. Sua líder é Mariglei Dias de Lima, pessoa lutadora que venceu com muito sacri- fício sendo professora e fazendo licenciatura em Educação do Campo. É pedagoga de graduação, presidente da Asso- ciação dos Produtores Rurais do Rincão do Batista, outra comunidade da região, e continua morando lá. Nesta comu- nidade residem tantos amigos além da dona Ilca, que deixa- rei de nominar para não cometer injustiça.

A estrada, que deixa a BR 190 e liga Rosário do Sul a Alegrete, tem 47 quilômetros de terra e pedra. Sobe, desce...

Este trecho não fazemos em menos de uma hora e meia em condições normais. Tem o Rio Touro Passo, o Rio Caverá.

Este dá um alagamento de mais ou menos um quilômetro, deixando os moradores sem terem por onde sair quando grandes chuvaradas chegam. Se ocorre alguma urgência, tem que tentar a sorte saindo por Alegrete e aumentando muitos quilômetros e com muitas dificuldades também.

Minha lembrança interna com aquele pedaço de chão me deixou emocionado quando fui conhecer um cemité- rio daqueles em ruínas e com mais de 200 anos. Os antigos moradores já conheceram assim. Quando tentei entrar nas tumbas em ruína me deu uma choradeira e não consegui entrar. Bem, agora deixo à interpretação dos leitores, pois cada um tem uma crença e só sei que foi assim.

Hoje falo no meu Caverá com carinho. Alimento ami- zade com os moradores e algo da memória que restou de outras eras.

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Folhas de outono

Chegou a primavera e suas folhas verdes, flores, perfu- mes que se espalham ao léu com seu inebriante transmutar ao nosso redor. Tudo tão belo e perfumado, finda a sazão, veio o verão, com seu calor exuberante, corpos bronzeados e juventude bamboleando a vida.

Outono, ora outono, toda aquela beleza foi-se embora?

Não, não foi, apenas mais uma beleza vista com outros olhos, com outro entendimento, outra quimera. É a preparação da natureza para enfrentar outra estação. As árvores se trans- formam num amarelo ouro que encanta, resplandece cores.

Os olores somem dos quintais, laranjeiras, pitangueiras, plá- tanos, ah plátanos! Árvore símbolo do outono, gigante, res- plandecente, contundente no esplendor de seu orgulho ma- jestoso. Paramos para ver suas folhas flutuando no ar para desabrochar na terra mais energia ao se decompor para que novas vidas venham fortes e revigorantes na natureza tão devastada. Galhos ficam parecendo sem vida, adormecidos, esperando o inverno, e assim um novo ciclo de estação. Para cada lado que podemos olhar, vimos uma tela descolorida, mas perspicaz, que é capaz de nos fazer esquecer as melan- colias dos nossos dias de agruras.

Num comparativo, nossas vidas são como as folhas de outono que nascem, crescem, produzem sombras, protegem os frutos e assim vamos, como as árvores, nos transforman- do em energia positiva para a preservação dos nossos vigo- res terrenos.

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Sem nada para pensar

Hoje não penso em nada, memória vazia, quase um oco.

Só falta retumbar como um tamborim. Há um silêncio nas ideias que nem mesmo eu compreendo. Inspiração? Ora, inspiração... Quando não se pensa em nada nem os santos ajudam.

Mas por que escrever, então? Ora, para passar o tempo, refrescar a cabeça, fazer bobagens sem compromisso com a literatura pesquisada e às vezes meio monótona. Estou aqui escrevendo do nada, olhando os cachorros, as galinhas, o campo e a natureza perfeita que Deus colocou em nosso vi- ver. Ou será que fomos colocados na natureza para destruí- -la, como ser irracional que acho que somos? Se fôssemos racionais não faríamos o que fazemos.

Já estou até voltando a ter ideias. Credo. Será que estou despertando e do nada comecei a pensar? Bom, já é algo melhor do que escrever baboseiras, ou será que isto é uma baboseira? Que seja, a vida não é só de coisas sérias. Faze- mos coisas variáveis, algumas boas, outras nem tanto. Bri- gamos com as letras, com as palavras e com as frases, mas é uma briga salutar. Assim, dias melhores virão, nas ideias, na vida e quiçá na nossa sociedade, onde predomina a hipocri- sia e a desonestidade.

Hoje, sem pensar em nada, saiu isto. Talvez amanhã me- lhore e escreva coisas melhores.

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Meus cachorros

Não sei desde qual era remota que o homem e o animal são exímios predadores. Na cadeia alimentar um fugia do outro. Matavam por necessidade, meio de sobrevivência.

Mas a evolução e a perspicácia do homem foram adestrando animais, seja para trabalho, caça, diversão e até como com- panheiros das horas de solidão.

Divago para falar dos cães, estes fiéis amigos. Sempre fui apaixonado por esta espécie de animal. Cães estão sempre prontos ao teu chamado, dormem no teu lado, muitas vezes com um olho aberto, controlando os movimentos ao redor para uma eventual intervenção. Tive muitos na minha vida.

Estes amigos não cabem nos dedos das mãos e nem dos pés juntos, se for contar. Já os amigos humanos sobram dedos de uma mão.

Ah, meus cachorros... Que lembranças boas tenho do Ro- deio, Tupã... Cadela não tinha nome próprio, pois apareceu adulta e a adotei. Atendia simplesmente por Cadela. Tenho saudade da Pantera. Todos eles foram meus fiéis compa- nheiros de caçada, na minha fase de predador. Todos eles já estão no mundo espiritual “cachorril”, creio eu, pois pecados, ah, isso não, eram incapazes de praticá-los. O Rodeio às ve- zes fazia um furtinho, mas mais por diversão.

Foram muitas as noites de caminhadas pelos campos, mais sonhando o que seria da vida como adulto do que pro- priamente visando matar algum tatu. Sempre gostei de an-

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dar sozinho pelos campos para pensar na vida.

Esse guri se fez homem e dos sonhos das caçadas foi des- pertado um viver que lutei para conseguir alcançar.

Hoje tenho três cachorros que estão comigo. Tive o Jô e o Juca, dois belos dálmatas que já estão no mundo superior dos cães e sendo fiéis ao Papai do Céu. Meus parceiros de hoje: o Joca, o Chaves e a Chiquinha, que quando faz tra- quinagem é chamada de Francisca da Silva. Ela entende que aquilo não é um carinho e sim uma bronca. Estava esque- cendo o Gaúcho, que é meio adotado, mas de coração é do meu vizinho.

Espelho-me nestes animais para levar uma vida de com- preensão, de esperança, pois eles me esperam todos os dias.

Embora saia por cinco minutos, quando chego a festa é a mesma de quando fico dias sem vir na chácara. Falando assim parece que ficam abandonados, mas não. Tem uma pessoa que mora na chácara e os cuida tão bem que fico despreocupado quando me ausento.

Meus cachorros até parece que são a alma dos outros que voltaram para curtir comigo a vida que levo hoje, diferente das noites de caçadas de guri em que sonhava o que sou hoje. Muitas conversas tive com eles naquelas noites escuras.

Proseava sentado num cupim. Meus amigos, não quero esta vida que está parecendo que vou ter. Vou correr atrás, quero ter uma vida mais confortável, mais leve do que a vida que levo no campo apenas como meio de sobrevivência.

Galguei, realizei meus sonhos e acho que por isso eles voltaram para curtir comigo a vida que sonhamos juntos num fundo de campo. Hoje proseamos, mas nada de lamen- tações. Vieram curtir comigo uma vida no campo, porém bem diferente da vida que levávamos.

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Na água incolor da chuva

As águas incolores das chuvas deixam os campos verdes e com um perfume indescritível, embora só quem conviva no dia a dia com água mais pura que existe, sem poluentes, é capaz de sentir este perfume. A natureza é perfeita, embora o homem a torpedeie de lixo e contaminações das maiores possíveis.

O campo na estiagem fica ressequido e feio, nada pro- duz. Animais sofrem com falta de pastagem e de água para beberem. Lavouras ficam amareladas, seus grãos não se de- senvolvem. Em muitas regiões são feitas romarias e novenas pedido aos seus santos protetores para que “mandem chu- va”. Céu azul, ocaso vermelho, e é aquela tristeza quando a seca está grande. Proliferam pragas nas lavouras e tudo isto faz com que o pobre agricultor, já enfraquecido pelo baixo preço da produção e pela ganância dos atravessadores, fique cada vez mais endividado.

Divago muito quando escrevo. Talvez seja uma caracte- rística deste pseudo escritor. Mas esta divagação sempre tem um fito: fazer com que as pesssoas compreendam a neces- sidade de preservarmos a natureza para que nosso planeta não se esvaia deste líquido tão precioso que é a água.

Não li, não pesquisei, talvez até por falta de tempo ou preguiça, ou mesmo por achismo. Mas não seria muita coin- cidência nosso nordeste brasileiro estar com o clima tão delirante justamente onde, após “seu descobrimento”, essa

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região tenha sido atacada por holandeses, portugueses, re- metendo toda a madeira possível para a Europa?

Afora esta herança da colonização, temos os fatores cli- máticos e a famosa indústria da seca, sobre a qual nem con- vém aqui discorrer.

A água é a raiz vital da humanidade. Nossa vida se torna um círculo em torno dela. Até em crenças religiosas ela se manifesta.

Portanto, em época de seca, o ocaso e o arrebol nos di- zem muito sobre a vinda da chuva. Olhamos o horizonte com expectativa, esperando a manifestação das nuvens que venham nos trazer fartura e energia.

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