Maria
Joo
Leote
de Carvalho
ENTRE AS
MALHAS
DO
DESVIO
Jovens,
espagos,
trajectrias
edelinquncias.
ZOOI
Universidade Nova de Lisboa Faculdade deCinciasSociaiseHumanas
UNIVERSIDADE
NOVA DE LISBOA
FACULDADE
DE
CINCIAS
SOCIAIS
E
HUMANAS
Departamento
de
Sociologia
Curso de Mestrado em
Sociologia
ENTRE
AS
MALHAS
DO
DESVIO
Jovens,
espagos,
trajectrias
edelinquncias.
Maria Joo Leote de Carvalho
Dissertago apresentada
na Faculdade deCincias Sociais e Humanas daUniversidade Nova de Lisboa para a obtenco do grau de Mestreem Sociologia.
"Devo
confessar
que, cada
vezque tenho
de
falar
sobre osistema
tutelar
portugus
ede
avaliar
osprs
e oscontras
da suaevoluco
numsentido
mais
prximo
do
"modelo
justiga"
sinto
umaprofunda inquietago.
uma
angsfia
antiga,
que
vemdo
tempo
emque
trabalhava
naquele
sistema, h
quase
umadezena de
anos, ecompreendi
que
as criancas que tinhaali
minha
frente,
no
eram, emregra,
mais
"delinquentes"
ou mais"marginais"
do
que
outras, queencontrava, barulhentas
e livres, nas ruas,nos
cafs,
noscinemas.
Eramsimplesmente,
maisinfelizes
edesprotegidas.
E
interrogava-me
cada dia seefectivamente
asajudava."
AGRADECIMENTOS
A todos os que
contribuirom,
adiferentes
nveis, paro que arealizaco
destetrabalho
setomasseefectiva,
ficaaqui
expressoo meumaiorreconhecimento.
difcil
exprimir
empalavras
oacolhimento
e totaldisponibilidade
manifestada,
desde o
primeira
hora,pelas
Direcges
eEquipas
doscolgios
visitados sem osquais
estapesquisa
no teria sidoconcretizada.
Porque
omomento
ento vivido, na fase de transicco(acelerada)
entre as duas Leis. a todosexigia
um redobrar de esforcosdecorrente
de um forte acrscimo do volume de trabalho emcondigoes.
a altura, amdademasiado
precrias
sob oponto
de vista dos recursos humanose fsicos facea umfuturo degrandes incgnitas,
realca-se oprivilgio
que foi aceder durante otempo
depermanncia
em cadainstituigo
partilha
das suasvivncias
num clima de abertura e incentivopermanentes.
Pela suaperseveranga
eempenho,
a todos, assim como aosjovens
dessescolgios,
que estainvestigago
dedicada.
Ao Prof. Doutor Nelson Lourenco, meu orientador, um
agradecimento
pelo
incentivo,apoio
e totalconfianga
em mimdepositada
aolongo
destetempo.
Do Prof. DoutorManuel
Lisboadificilmente
seesquecer
aspreciosas
orientages
sugendas
e adisponibilidade permanente
para oapoio metodolgico
que mepermitiu
avancar com maiordeterminaco
paraodesenvolvimento
daanlise estatstica.
Fundamental
eindispensvel
foram aautorizago
concedida
e asinformaces
cedidas
pelo
Instituto deReinsergo
Social
do Ministrio daJustiga,
aquem
seagradece,
em
especial,
nas pessoas do seu anterior e actual Presidente, Dr. JooFigueiredo
e Dr. Antnio Ganho. Umparticular
reconhecimento
Dr~-.CIara
AlbinaVice-Presidente
do referido instituto, aquem coube acolher aprimeira
discusso
sobre oprojecto
tornando-se
a suacolaboraco
decisiva parao arrancaredelinear de todooestudo.Aos Prof. Doutor Rui Santos e Prof. Doutor Casimiro Balsa
pelos
contributos
degrande
relevncia
proporcionados
durante aparte
escolar do mestrado,imprescindveis
na fasepreparatria.
Umapalavra
tambm ao Prof. Doutor Carlos Cardoso, da EscolaSuperior
deEducago
de Lisboa, com quem tudo istocomegou.
Referncias
presentes
de modo muito intenso aolongo
destaspginas
so a Df.Eliana Gerso e o Dr. Armando Leandro. Das carinhosaspalavras
de incentivo,confianga
e nimo transmitidas emerge o seuexemplo
de muitos anos naprtica
do Direito de Menores aliado a uma linha de reflexo sobre o mesmo na defesa incessante dos direitos da infncia ejuventude
emPortugal.
Nesta mesma linha, umaespecial
referncia ainda ao Dr. RuiEpifnio.
A todos oreconhecimento
pelos
valiosos contributosque, aosmais diversos
nveis,
seencontramaqui
expressos.Uma
palavra
muitoespecial
deagradecimento
tambm
devida Dr*. Elza Pais,Presidente do Instituto
Portugus
para aDroga
eToxicodependncia,
entidadeVrias pessoas e
departamentos
colaboraramigualmente,
de formadirecta
ou indirecta para arealizaco
destainvestigago.
Esto neste caso, oSecretariado
do Presidente do Instituto deReinsergo
Social, eespecificamente
Ludovina Teixeira, a quem muito se deve, e a Dr*. IsaRodrigues
eequipa
do Centro deDocumentago
e Biblioteca do mesmoInstituto.
Por toda acolaborago,
umreconhecimento
muito forte a todos no Centro Educativo PadreAntnio
de Oliveira, em Caxias. Umagradecimento
Dr
TeresaCintro
doGabinete
dePoltica
Legistativa
ePlaneamento
doMinistrio
da Justicapelo
interesse eajuda
concretizada.
Ao Jos Leonardo e aoHugo
Seabra,colegas
nestepercurso,
ao Dimtri Sudan, Marlia e a Isabel Allen, Cristina e ao Mno Correira, a Adelaide Colehoe aManuel
Silvapelo
estmulo
eapoio
contnuo.
Ao Ricardo Machado Tcnico
Profissional
deReinsergo
Social
nesse Centropela
cedncia
dafotografia
queabreeste trabalho.A Manuea
Baptista
Lopes,
paraalm
do acesso a fontes deinformaco
imprescindveis,
a amizade, oacompanhamento
e o estmulo de sempre no desbravar denovos
caminhos
ques
valorizaram esteestudo.
Um enorme
agradecimento
a Manuel Mendes, Director do Centro Educativo PadreAntnio
de Oliveira. Mais do que oincansvel
apoio,
apreocupaco
e cuidadosconstantes, a total
colaboraco
mobilizando diferentes vontades
e pessoas tornando-seindispensvel
no abrirdemuitasportas
aolongo
destepercurso.
Realce
especial
para Pedro Strecht,pela
amizade,pelo exemplo, pelas palavras
de
forga
e incentivo semprepresentes.
O raroprivilgio
dapartilha
e d.scussaopermanente
de ideias noacompanhamento
dasdiferentes
fases dedesenvolv.mento
deste
projecto,
sem aqual
no teriasido
possvel
ultrapassar
osmomentosmaisdificeis.
minha
famlia
eamigos.
Ameus
pais
eirmos, por tudo.Finalmente, e porque os itimos so os
primeiros,
umobrigado
aosjovens
doCentro Educativo Padre
Antnio
de Oliveira, em Caxias, por tudo o que, aolongo
dos ltimosquinze
anos da minhacarreiraprofissional,
tem aceitado darINDICE
Introdugo
^PARTE I -
ENQUADRAMENTO
E MODO DEINVESTIGAQO
Captulo
I -SOCIEDADE
E DESVIO: ADELINQUNCIA
JUVENIL.1.1. Em orno dodesvio; que
leitura(s)
possvel(is)
para este conceito? 1 11.2. Daconformidadeaodesvio social.
^
1.3. Desvioecontrolo sociai:a
intervengo
doEstado. 211 .4. Da infncia
juventude:
um processo depermanente
(re)construgo
social. 241.4.1. Uma breve
perspectiva
histrica sobreacondigo
deser
crianga
e
serjovem.
1.4.2.A
juventude
comocondigo
social: entreaaparente
unidadee adiversidade.
^
1 5 Entreasmalhas do desvio:a
delinquncia
juvenil.
361.6. O
ponto
de vistajurdico
nadefinigo
dos conceitos de desvioedelinquenciajuvenis
!uzdaOrganizago
Tutelar de Menores(1
978).
42Captulo
II - AINTERVENQO
INSTITUCIONAL
NAREA
DAJUSTIQA
TUTELAR EMPORTUGAL
(at
final de2000).
2.1. Aintervenco
judiciria
aodesvioedelinquncia juvenis:
osistemadejustiga
tutelar. . /1rt1iN
2.1.1.
Origens
eevolugo
histrica: daLei de Proteccaoo Infancia
(191
1) aOrganzago
Tutelar de Menores(1 978).
492.1 .2. Ocontexto internacional do sistema de
justiga
tutelar. 5422. Estruturaereasde
actuago
dosservigos
oficiais. 572.2.1, A
Direcgo-Geral
dosServigos
Tutelares de Menores.57
2.2.2. O Institutode
Reinsergo
Social. 582.3.
Evolugo
etendnciasgerais
doscasosrecenseadosnosistema dejustiga
tutelar entreadcadade80e ade90. ^
2.3.1. Osdados:crticadas fontesdasestatsticasoficiais da
Justiga,
602.3.2. "Menoresem
;u/zo"
;evolugodoscasosrecenseados.
622.3.3. "Menores
emjuzo":
natureza doscasosrecenseados porprtica
defacto ilcito.
^
2.3.4. "Menores
em/uzo":
naturezadasmedidastutelaresaplicadas.
6/ 2.3.5. Uma visoglobal
sobreacolocago
emintemamentoeminstituigo
tutelarentre 1978-2000. 69
2.3.6. Caminhos
percorridos:
um olhar crtico sobreanaturezadasuaaplicago
noquadro
daOrganizago
TuteiardeMenores(1 978).
73Captulo
III - ASPECTOSMETODOLGICOS.
3.1. Objectivosda
investigago
ehipteses
de trabalho. 773.2.
Estratgia metodolgica.
33 Dados: crticadas fontes do dossiertutelar.
J
3.4. Instrumentode recolhadedados:
construgo
eaplicago
doquestionano. 66PARTE II
-ESPAQOS,
TRAJECTRIAS
EDESVIO(S).
Captulo
IV-TRAQOS
SOCIAIS:CONTEXTOS
DE ORIGEM EINTERVENQO
TUTELAR.94 96
34
135cx
4.1.Sexoeidade.
4.2.
Situagojurdica.
4.2. 1. Da T
intervengo
tutelar entrada noactualcolgio.
v
4.2.2. Pessoaou entidade
participante
.^
4.2.3. Tribunal
responsvel
pelo
processo, ]024.2.4. Medidastutelares
aplicadas.
J03
4.2.5.
Colocago
institucional: natureza dasituago
etempodeafectago.
1 054.3.0ngens
]9?
4,3.1. Naturalidade; distritoeconcelho. '^0
4.3.2. Pasde
origem,
nacionalidadeeorigem
tnica. 1094.3.3. Percursodosno nascidosem
Portugal.
] 1 54.3.4. Posse de documentos oficiais. ] ]6
4.3.5. Local deresidncia. ] ^ 7
4.4. Ogrupo
parental:
idade, nvel deinstrugo
esituago
profissionai.
1 244.5
.Situago
escolar entradaemcolgio.
J
294.6,. -
Situago
faceaotrabalho.Em sntese.
Captulo
V-(SOBRE)VIVNCIAS
NAFAMLIA: ESPAQOS
ETRAJECTRIAS.
5. 1.0 grupodomsticode
origem:
espagodecontrastes?J
385.1.1. Naturezadogrupodomstico. 41
5.1 2. Dimensodogrupo domstico. 49
5.1.3. Estrutura familiardogrupo domstico. '5
5.1.3.1.Motivosda
ruptura
nogrupoparental.
1 525.1.3.2. Idade data da
ruptura
nogrupoparental.
1575, 1 ,4. Natureza dorelacionamentoentre
pais
efilhos. 1585.1.5. Fratria. ]&
5.2. Problemticassinalizadasnogrupodomstico. 65
5.2.1.
Doengas
doforomental/psiquitrico/psicolgico.
1 66
5.2.2. Deficincias fisicas e/ou outrasdoengas. ]61
5.2.3. Violncia domstica:umaviso
global.
1675.2.4. Violncia domstica:a
especificidade
dosmaustratos contraacrianga.
1 7 15.2.5.Alcoolismo. 174
5.2.6.
Toxicodependncia:
consumodedrogas.
1755.2.7. Crimmalidade: anterioreseactuais
aetenges.
1 765.2.8. Outras condutas desviantes. ]78
5.2.9. Umaviso
integrada.
]785.3. Percurso dos
jovens
colocadoseminstituiges
deoutrossistemas. 1835.4.
Situago
relativaajovenscomfilhos. ] 885.5.
Situago
identificadaemtermos desade. 1 89Emsntese.
Captulo
VI -(RE)PENSAR
O DESVIOE ADELINQUNCIA
JUVENIS: OS ACTOS E OSSEUS AUTORES.
6. 1, Consumosdesubstncias lcitaseilcitas.
201 6.1.1. Natureza dosconsumosidentificados.
201
6.1.2.
Associages
entretiposdeconsumos.^
204 6. 1 .3. Em tornode contextos sociais: consumos ereade residncia. 208
214
6.2. - Entreaescolaeo
"
desviar-se ,
6.3.- Juventudee
delinquncias.
_
6.3.1.
- Os actoseos seusautores: naturezados factos ihcitos
presumidos.
1 1 o
6 3 2 - A
especificidade
dos factos ilcitosassociadosadrogas.
2266.3.3. -
Principais
formas deactuago
naprtica
de factos ilcitos.Tragos
desociabilidades alternativas?
6.3.4. - Emtornodecontextossociais: natureza dos factos ilcitos porareade
residncia.
6.3.5.- Naturezada
actuago:
"especializaco"
oudiversidade?6.3.6.- Consumosefactos ilcitos: deum ladoaooutro.
236
231 232
238
248
Concluso
: PROCURADE UM FUTURO...Referncias
biobliogrficas
Anexos
Anexo I- Instrumentode
notago
estatsticadoGEP/Ministrio
daJustiga (1997)
AnexoII -
Mapa
dosservigos
do Instituto deReinsergo
Socialanivel nacional(2000).
Anexo III- Tabela:menoresem
juzo
entre 1978-2000segundo
oactuago
quedeterminoua
actuago
doTribunal.AnexoIV- Tabela:
Evolugo
da % dosfactos ilcitospresumidos
emrelagao
aos menores
emjuzoentre
1978-2000porgrandes categorias.
Anexo V-Tabela:
Evolugo
donmero demenoresinternadoseminst.tutelar entre 1978-2000,Anexo VI-laOelo:
Evolugo
em % dos motivosque determinaramaactuago
do Tribunal noscasosde internamentoeminst.tutelar entre 1978-2000,AnexoVII- Documentosconstantesnodossier tutelar.
Anexo VIII - Questionrio.
Anexo IX- Modelo 602 do Instituto de
Reinsergo
Social.Anexo X - Tabela:
caracterizago
douniversoemestudo entre 1 de Setembroe31 de Dezembrode
2000/distribuigo
porcolgio.
Anexo XI- Tabela:Naturalidade, pordistrito.
Anexo XII- Tabela:
ltimo
localderesidncia conhecido, por distnto.Anexo XIII- Tabela: Motivosdaactual
detengo
demembrosdogrupodomestico.Anexo XIV- Tabela: Motivosdeanteriores
detenges
demembrosdogrupo domestico.Anexo XV- Tabela: Factos ilcitos
presumidos
luz doCdigo
Penal, porsexo.Anexo XVI - Tabela:
Bens/objectos
furtados, porsexo.ndice
de Quadros68
89
91 95
Quadro 1 - Medidas tutelares
aplicadas
entre 1978-2000.Quadro 2- Processo de
delimitago
dosub-universoemestudo.Quadro 3- Motivosqueestona
origem
daintervengo jurisdicional.
Quadro 4-
Distribuigo
dapopulago
porsexoeiaade.Quadro 5- Cruzamentoda idade data da 1
intervengo
tutelarcom aidadea
data do 1internamentoem
colgio.
Quadro 6- Medidastutelares
aplicadas
antesdacolocago
emcolgio,
porsexo.
Quadro 7-
ltimo
local deresidncia conhecido, porregio.
Quadro 8- Grupo
socio-profissional
do grupoparental,
Quadro9- Matrcula escolar existente, poranodeescolaridade.
Quadro 10- Abandonoescolarprecoce, poranodeescolardade.
Quadro 1 1 -
Integrago
emactividadesescolaresdiferenciadas.^
Quadro 12 - Natureza dogrupo domsticoque mtegrava entradaemcolegio.
Quadro 13- Nmeroconhecido de grupos domsticos poronde passou ate
a
entradaem
colgio
'^jj
Quadro 1 4- Natureza aorelacionamento
pai-filho
efilho-pai._
Quadro 1 5- Natureza dorelacionamentome-filho efilho-me.
164 166 181 184 207 209 218 228 233 234 236 Quadro16-
Tipo
decolocago
institucionaldosirmos.Quadro 17 - Problemticas assinaladasnogrupo domstico.
Quadro 1 8 -
Percentagem
dasproblemticas
nosgrupos domsticosemfungao
do
cruzamento porsi mesmas.
Quadro 19- Natureza da
colocago
oficial foradafamliabiologica (1
situagao).
Quadro 20- Pessoaouentidade
participante.
Quadro 21 - Idade datada la
colocago
oficial fora da familiab.ologica,
=>
Quadro 22- Naturezadas
mudangas
identificadas.Quadro 23- Tempode
permanncia
emcolocago
institucionalantenoraentrada
^^
em
colgio.
_ ?n4Quadro 24-
Identificago
dostipos
deconsumo e suasassociagoes.*
Quadro 25-
Percentagem
das refernciasemrelago
avrios tiposdeconsumos.Quadro 26- Cruzamentoda idade datada 1
intervengo
tutelarcomotipode
consumos.
Quadro 27
-Percentagem
relativaaocruzamentoda rea de residencia com otipodeconsumos.
^/
Quadro 28- Cruzamentoda rea de residnciacom o
tipo
desubstancia(drogas)
iiu
Quadro 29-
Percentagem
relativaaocruzamento dasituago
escolarcom o
tipo
deconsumos. 01r
Quadro 30- Absentismo,
indisciplina
eprtica
dedelitos noespago escolar.Quadro 31 - Outrascondutas desviantes
praticadas
pelo jovem.Quadro33- Factosilcitos por forma de
actuago
identificadaeporsexo.Quadro 34-
Distribuigo
dosindivduossuspeitos
daprtica
defactosilicitos portipo.Quadro 35- Os
quatro
factos ilcitosourespectivas associages
maissignificativas
categorias
de1. 2e3tiposde actosQuadro 36-
Associago
entreosfactos ilcitose aidentificagao
deconsumosndice
deGrficos
Grfico 1 - Menoresem
juzo
entre 1978-2000.segunao
asituago
quedeterminoua
actuago
doTribunalGrfico 2-
Evolugo
da %dosfactos ilcitospresumidos
emrelagao
aos menores emjuzo
entre1980-200porgrandes categorias.
Grfico 3-
Evolugo
do nmerodemenoresinternadoseminstituigo
tutelar(inst.
dereeducago/colgio)
entre 1978-2000, porsexo.Grfico4-
Evolugo
em%dosmotivos aue determinaramoactuagao
doTnbunalnoscasos
de internamentoem
instituigo
tutelarentre 1978-2000.Grfico 5
-Histograma
de idades.Grfico6- Idade data da 1
intervengo
tutelar, 1internamentoemcolegio
e
entradanoactual.
Grfico7 - Pessoasouentidade
participante.
Grfico8- Tribunal
responsvel
peloprocesso.Grfico9
-Tempo
deafectago
acolgio(s).
Grfico 10-
Colocago
institucionalnosistema dejustiga
tutelar:afectagao
a
colegio(s).
Grfico 11 - Pas de
origem
dojovem, dameedopai.
Grfico 12- Nacionalidade.
Grfico 13-
ltimo
localderesidnciaporconcelho.Grfico 14 -
Tipologia
do bairro/zonado ltimo local de residncia conhecido.Grfico 15
-Tipode
alojamento
.J
* '
Grfico 16- O grupo
parental:
idade dospais entradado filhoemcolegio^
Grfico 1 7- O
grupo
parental:
nveldeinstrugo
formal concluido. Grfico 18-O grupo
parental: situago profissional
aentradadofilhoem
colgio.
nGrfico1 9-
Situago
escolar data daentradaemcolgio.
^
Grfico 20- Dimensodo
grupo domsticoqueintegrava entradaemcolegio.
Grfico21 - Estrutura familiar do grupo domstico datada entradaemcolegio
Grfico22- Ausnciado
progenitor
nogrupo domstico: motivoidentificadoda1rupturadogrupo
parental.
163
164
170
173
Grfico 23- Idade data da 1 Q
ruptura
identificadanogrupoparental.
157Grfico 24- Dimenso da fratriaenmerodeirmoscomquem vivia entradaem
colgio.
Grfico 25-
Colocago
nafratria.Grfico 26- Violncia domstica:
agentes
evtimas.Grfico27- Maus tratos contraa
crianga
oujovem:
agente.
Grfico 28- Refernciaaoconsumodesubstncias lcitasouilcitas.
201
Grfico 29 - Natureza doconsumodesubstncias lcitasoullcitas referenciadas.
202
Grfico 30- Refernciaaoconsumode
drogas:
substncias identificadas. 203Grfico 31 - Refernciaaoconsumode substncias lcitasouilcitas, por idadea
datada 1
intervengo
tutelar. 20Grfico 32 - Factos ilcitosseinalizados nosprocessostutelares:suanaturezaface
leipenal.
,Grfico 33- Bens furtadosnos casosde
suspeita
de furtosefurto de/e usodeveic. zz\Grfico 34- Locais ondeserealizoua
prtica
defurtos(excep. veculos)
223
Grfico35-
Detengo
e/ouusodearma:tipodearmas.225
Grfico 36-
Suspeita
daprtica
defactos ilcitose suaassociago
comdrogas.22/
Grfico 37- Trfico de
droga:
tipo
desubstncias detectadas.227
Grfico 38-
Distribuigo
dotipodeprtica
porgrandes
categorias.
Lista das abreviaturas mais usadas
CAEF
-Colgio
deAcolhimento,
Educago
eFormago
CRSS- Centro
Regional
daSeguranga
SocialDGSTM
-Direcgo-Geral
dosServigos
Tutelares
de MenoresGEP -
Gabinete
deEstudos
ePlaneamento
doMinistrio
daJustiga
IAC - Institutode
Apoio
Crianga
IDS- Instituto parao
Desenvolvimento
SocialIPDT- Instituto
Portugus
para aDroga
eToxicodependncia
IRS - Institutode
Reinsergo
Social
ISSS - Instituto paraa
Solidariedade
eSeguranga
Social
LTE- Lei Tutelar Educativa
OTM
ntrod?^io
INTRODUQO
A actualidade da
problemtica
doscomportamentos
desviantes dosjovens
nassociedadesmodernas. em
especial
sob a formadedelinquncia,
tendea colocar-se de forma intensa emqualquer
contextopela
diversidade e natureza dasquestes
que em simesmaencerra.
Em
Portugal,
aliada sua crescente visibilidade no final da dcada de 90, estatemtica veio a constituir-se como
objecto
deespecial
mteresse porparte
dos decisorespolticos
ncapresentago
de novaspropostas
deintervengo
que resultam doreconhecimento da necessidade de
diferenciago
de tratamento dos casos quechegam
aos Tribunais de Famlia e Menores emfungo
das dimenses que Ihe estosubjacentes
'.Assume-se que
definigo
depolticas
sociais naexecugo
deestratgias
e modelosde
intervengo
a desenvolver institucionalmente neste campo devecorresponder
ummais
profundo
conhecimento sobre esteproblema
social que, apesar dessaprogressiva
notoriedade, permanece ainda, em
larga
medida, na obscuridadeignorando-se
muitosdosseusreais contornos
(Sousa
Santos et al.,1998).
De facto, face a um
aparente
aumento nesses anos dos actospassveis
deenquadramento
nascategorias
do desvio edelinquncia juvenis contrape-se
aescassez de dados fiveis que possam sustentar a
afirmago
desse aumento(Gersdo,
1998, 2000; Sebastio, 1995b;Rodrigues,
1999),
bem como depesquisas
quepermitam
teruma viso mais
aproximada
deste fenmeno e dos acores sociais nele maisdirectamente envolvidos: as
prprias
criangas
oujovens.
1
Nos termos do
Dcspacho
20MJ96. de 30 dc Janciro, foi eonslituda a Comisso para a Roforma doSistcma de Exccucodc Pcnasc Mcdidas,
prcsid?la pela
Pro"'. DoutoraAnabclaRodriyues.
coni oobjecltvo
dcdcsenvolvcr umaavaliaeo do sistcma de
justica
tutclardc mcnorcs cmPortugal
quc.a data. tinhacomoquadro lcgal
aOrganizaco
Tutclar de Mcnorcs I.Dccreto-Lci n" 3I47X. de 27 de Oulubro). Dos trabalhoslevadosa eabo porestaComisso resultoua
apresenlagiio
dc di\crsas propostasque vieram atraduzir-se naaprovaco pcla
AsscmbleiadaRcpblica.
cm 1999. da Lei de Frotceco de Criancas e Jovens emPcrigo
(Ministcrio
o Trabalho e da Solidaricdadc) e da Lei Tutclar Edueativa (Ministno da Justieai vindo a ocorrcr a enlrada emvigor
ile ambas no dia I dc Janeiro dc 2001. SubstituinUo as dtias. emconjunto.
aOrganiza^o
Tutelar de Mcnorcs(1978),a intervencotutclar dcproteceo
expressanaprimcira
descnvolvc-se relativamente a easos emquese
vcrifique
aameas'ados
dircitoscsseneiais(eivicos.soeiais. eeonomieos ceulturais) da erianca ou
jovcm requerendo-se.
dcste modo. a actuaeo do Estado: aintcnen^o
lutclarcdueativa
prcconizada
nascgunda
est rcser\ada a jovens que entre os 12 e os 16 anos de idadc tenhampratieado
t'aetoqualifieado pela
lci eomo erime eoloeando em eausa os valorcsjurdieos
esseneiais a vidasocial dcnotando ainda os mesmos a ncecssidadc de educaeo para odireito que sc eonstitui eomo o tun
cspcei'ieo
da acco do Estado a Cste mvel (Fonscea, 2000).Quer
numas eomo noutrassituavcs
aIntrodn^do
Embora se
desconhega
a sua verdadeira dimenso. parece ser difcil de contrariar aideia de que se tem assistido ao crescimento de um sentimento
generalizado
deinseguranga
relativamentedelinquncia
juvenil,
sobretudo, urbana,a par,alisdoquepoder
estar a suceder com a criminalidade emgeral (Lourengo
et al.1998).
Poder-se-sugerir,
comoaponta
Rodrigues
(1999),
que tal, at certoponto,
residir no facto de seviver nos dias de
hoje
a umadramatizago
epolitizago
da violnciaextraordinariamente
grandes,
manifestages
estas que a todos afectam comopotenciais
oureais vtimas.Neste sentido, no
ponto
departida
desteprojecto
demvestigago
est a necessidade de se contribuir para um melhor conhecimento sobre aproblemtica
do desvio e dadelinquncia juvenis
emPortugal
tomando comoobjecto
de estudo osjovens de ambos os sexos at aos dezoito anos de idade que se encontravam em
execugo
de medida institucional no sistema dejustiga
tutelar de menores na faseimediatamente anterior entrada em
vigor
da Lei Tutelor Educativa(2001),
compreendendo-se,
nestes termos, operodo
entre 1 de Setembro e 31 de Dezembrode2000.
luz das
profundas
mudangas
ocorridas nos ltimos anos na sociedadeporuguesa
a nveldemogrfico,
econmico e cultural, aemergncia
deste fenmeno social e dasproblemticas
a eleassociadasimplicam,
numaperspectiva
de anlisesociolgica,
quese atenda ao facto de
comportamentos
desta naturezaintegrarem
duascomponentes
irrenunciveis; a docomportamento
em siprprio
e a da suadefinigo
como desvianteou
delinquente
(Figueiredo
DioseCosta Andrade,1984).
Se por
delinquir
se entende aacgo
de cometer uma falta ou delito nodesrespeito
pelos
quadros
de regras que uma sociedade temlegalmente
institudos(Matos, 1996),
essatransgresso
traduz umoruptura
face aos limiares de tolerncia dosgrupos sociais,portadores
de sistemas de norrnas e de vg^i- o.e uma sociedade num dado momentoda sua
evolugo (Selosse.
1976).Configura-se,
ento, como decisivo re;eva~ que adelinquncia,
mais do que umproblema
de natureza meramentejurdica.
antes demais um
problema
emmenementesocial queobriga
a uma maiorimplicaco
de toda asociedade na procura de alternativas que
objectivem
a suaprevengo
e combate(Rodrigues.
1997).Nesta ordem de ideias, por efeito dessa
transgresso
vem a desencaaear-se ummecanismo social de
reprovagdo
edesango
quereflecte umareacgo
colectiva quevai para alm do
quadro
familiar e educativo suscitando umaintervengo
de naturezaadministrativa ou
jucicina
(Selosse,
1976). Deste modo, emfungo
destes doisquadros
de referncia, o que se
prende
com a natureza e dimenso doscomportamentos
Introdu^do
comunidade, e o
normativo-jurdico
- das leis ecrengas, e tambm das
prticas
assumidas institucionalmente em
relago
a esses mesmoscomportamentos
(Moura
Ferreira,1997),
que se situa a anlise a desenvolver aolongo
desteprojecto
deinvestigago.
Sendo a
prevengo
dadelinquncia
uma das maisrduas tarefas cometidas a umasociedade como
parte
essencial daprevengo
do crime, este fenmenoveio aadquirir,
gradualmente,
um contedoprprio
no mbito do estabelecimento de umajurisdigo
especial
deprotecgo
da infdncia ejuventude
emPortugal corporizada
no sistema dejustiga
tutelar de menores 2. V-se, assim,consagrada
a existncia de direitos e deveresespecficos
entendidos estes nosprincpios
de umquadro
normativo de naturezajuridica
que tende a dar
expresso
a umsentimentocomunitrio
que releva adiferenciago
designificado
e depolticas
deintervengo
que os actos delitivospraticados
porjovens
oupor adultos requerememsi
prprios
(Mannheim, 1985).
s
profundas
transformages
que decorrem nesta rea com a entrada emvigor
daLei Tutelar Educativo 3
contrape-se
um enorme vazio em termos deinformago
e conhecimentoda realidade social do que foi este sistema at data. De entre oleque
de medidas tutelares
passveis
deaplicago
a menores de 18 anos, noquadro
domodelo
vigente
entre 1978 e 31 de Dezembro de 2000 -aOrganizago
Tutelar deMenores-, a mais grave
reportava-se
colocago
emregime
de internamento emColgio
de Acolhimento,Educago
eFormago
do Instituto deReinsergo
Social do Ministrio daJustiga
4.Mais do que ressalvar a
importdncia
dos factospraticados,
o que estava na basedaescolha de uma medida era a
avaliago
dapersonalidade
e dascondiges
de vida esituago
familiar dojovem;
os factos em si mesmos nopodiam
ser valorados senocomosintoma de
madoptago
nOo tendo sequer deserprovados
(Gerso,
1994; Souso Santosetal,1998).
2
Estc sistemanotem naturczacvel rclativamcntc a erianeasc
jovcns
em riseo social, ncm naturezapeiul
paramcnoresde 16anos:atc esta idadc soeonsidcrados
inimputavcis
face da leipenal
spodendo
ser-lhcimpostas
mcdidas tutclarcsdeprotecco,
assistnciaoueducaeo(O.T.M.. I97X)."
Faee ao modelo anienor definido
pela Organiza<~o
Tutelar de Menorcs (197K-21XX)), a Lci TulclarEducatvarcpresentaumavaneo
signifieativo
em termosde materialcgislativa
na consagraeodcprineipios
orientadorcs quc proeuram destacar a multidimensionalidade do fenmeno da
delinquneia
juvcnil
norespeito pclos
direitoseonsagrados
em diferentesconvcn^es
e acordos internaeionais sobre a inancia eju\cntude
ratifieadosnosltimosanospclo
KstadoPortugus.
4
No mbito daLei Tutclar Kducativa passaram a
dcsignar-se
por Ccntros Edueativospermanecendo
sob atutela doInstitutode Reinsereo Social.
'*
Umadas
qucstdcs
maiseomplevas
c eritieadasaolongo
dosanospor diversosauorcs(C.ersao. 199I, I99S;Rodrigucs,
1997. 1999: Sousa Santosctal.. 199X: 1-Y.nseca. 21)00)prcndc-se
eom ofaetodc. nombito desicmodclo
lcgislativo,
aojovem
mcnorde 16anosde idadc apenaspoder
screonsideradaasuspc'ua
pela prtiea
de um factoquc faee da luz
penal
seriaqualifieado
como crime. mcsmoquando apanhado
cmflagrante,
unia ve/ quc a lei noprevia
a realizaco dcjulgamento
em sedeprpria
qucasscguraria
a conscqucnteIn.Hoduro
A reviso da literatura revela a
inadequago
do modelo deintervengo
institucionalde cariz
proteccionista
emvigor
desde 1911 at final de 2000 no nossopas
argumentando-se
que aintervengo
tutelar terhoje
outra razo deser emfungo
dasprofundas
transformages
ocorridas nos modos de vida e em toda a sociedade 6.Sugere-se
que estainteivengo
apenas dever ser admitida nos casos em quesetenha manifestadoumasituagdo
desvianteque torne claraaruptura
com elementos nuclearesaa ordem
jurdica
estando actualmente definido um outrotipo
derespostas
queacentua a
diferenciago
dos casos e o seu encaminhamento para vrios nveis deintervengo
nacomunidaOeou porparte
do Estado.No mesmo sentido
apontaram
as ObservacesFinais(1996)
do Comit dos Direitos daCrianga
sobre oprimeiro
relatrio relativoaplicago,
emPortugal,
daConvengo
sobre os Direitos daCrianga,
reforgando-se
esta ideia nosegundo
relatnoda Comissointer-ministerial nacional
(1998).
Refere-se nestes documentos que aaplicago
daOrganizago
Tutelar de Menores(1978-2000)
no foi satisfatria no que dizrespeito
concesso das
garantias processuais
dacrianga
e s formas deintervengo
relativas aquem
suspeito
daprdtica
facto ilcito que luz da leipenal
seriaqualificado
comocrime e a quem se encontra apenas em
situago
de carncia deprotecco
eassistncia social.
Assume-se que esse
tipo
deintervengo
revestiu-se deaspectos
positivos
no que concerne abertura dasinstituiges
comunidade e na suaintervengo
global
assente numa menoresfigmatizago
dosjovens
suspeitos
daprtica
de factos ilcitos(Gerso,
1984, 1989, 1994;Rodrigues,
1997;Epifnio
e Farinha.1997).
Contudo,a'guns
destesaspectos
foramconseguidos
custa daindiferenciago
em termos da accodesenvolvida face a menores que foram, antes de mais, vtimas nunca tendo enrraco em conflito com a Lei e
jovens
com condutas desviantes. mesmodolinquentes (Sousa
Santos et al,1998).
Tal resultc. ra da suacolocago,
emconjunto,
nurr.a n esmainstituigo
no serespeitando
as diferentes necessidadeseducativasespeciais
de uns e outros, acabando por ser este oaspecto
maisnegativo
realgaOo
por diversos autores. Por outro lado, ressaltova a crescente dificuldade destasinstituiges
lidarem, noregime
aberto em que funcionavam, com os
jovens
queapresentavam
umaproblemtica
acentuadamente
delinquente
numj
longo
percurso emtermos de vidcmarginal.
Sabendo-se como os mais variadosestudos realizados nacional e internacionalmente
nesta rea
(Cusson,
1989; Selosse, 1995; Sousa Santos et al., 1998; Fonseca,2000)
tendemproeessuais
fieandoa anlisc dc eadaeasosujeita
a uma e\cntual diserieionaridade por parte das entidadesol'ieiais(Cierso. 19X9).
*
Esta linhade anlise ser maisdesenvolvida no
captulo
II dcdicado intervcnco institueional na areadaIniroduco
a
apresentar
uma forteassociago
entre estrato social edelinquncia
oficialrecenseada em sistemas de
justiga surgindo
osjovens
dos mais baixos estratos sociais massivamentesobrerrepresentaaos
nessetipo
de sistemas 7, aquesto
emPortugal
assumiu foros e maior
gravidaOe
uma vez que aprpria
lei acentuava avulnerabilidadesocial como critrio decisivo para a
intervengdo
menosprezando
at s ltimasconsequncias
apossvel prtica
de factos ilcitos.Em suma, como levantado para discusso
pelos
autores do Relatno doObservatrio Permanente da
Justiga
Portuguesa
(1998)
sobre aJustiga
de Menores, ao falar-se destajuridisgo
nombito daOrganizago
Tutelar de Menores(1978-2000)
estar-se-
perante
"itmajusti^a
desqualificada,
caracterizada por um modo deinterven^o patcrnalisui
einstitucionalizadora. sclcccionandoem
cspecial
os grupos sociais nwis vulnerveis,relathwncntequal
seregista
umagrande discrcpncia
entre aprocurapotencial
dc tutelaeatutclaefectiva"
(Sousa
Santoset al, 1998.p.l).
Tambm o
prprio
Ministrio daJustiga
veio a reconhecer a crise em que seencontrava este modelo
apontando
que a mesma advinha daincapacidade
deresposta
que atravessava verticalmente todo o sistema desde o nvellegislativo
ao daaplicago
dodireitopassando pelo
deexecugo
dasdecisesproferidas
(Ministrio
daJustiga,
1997).
Nesta
linha,
importa
reter um outro facto que se reveste deespecial
significado:
aconsiderago
que a medida de internamento, a mais grave das medidasaplicveis
neste campo
pelo
seu carcter deprivago
de liberdade, deixou de funcionar como o ltimo recursopassando
a ser,praticamente.
"o "nico" recurso"(Miranda
Pereira 8, cit. inCias,
1995).
Esteaspecto
resultar, em ltima anlise, da ineficcia ou inexistncia deoutros sistemasde
apoio
nacomunidade.Face a este
enquadramento,
falar do universo dejovens
internados nosColgios
doInstitutode
Reinsergo
Soeial pordeciso dos Tribunaisimplica
terpresente
c diversidadede
situages
que sob uma mesma capa, eaumprimeiro
esuperficial
olhar, setendemaocultar. Estando esta
populago
referenciada como uma das de maior risco aos maisdiversos nveis no desenvolvimento de
potenciais
trajectrias
demarginalidade,
excluso(es) social(ais) e criminalidade dever a mesma, apesar das condicionantes
legais
anteriormenteapresentadas,
integrar
umapluralidade
deperfis
sociaiscujos
Como sugcrc Cusson (I99X) a
proposito
do funeionamento das inslnciasjudiciais
um poueo por todo omundo.quanto maisumacriancaou
jovcm provir
deum mcio socialcceonomicameniedesfavoiceido. maiselevadas seroas
probabilidadcs
dc serlevadoaTribunal de Menorcsradieandoocernedestaquesto,
aindascgundo
mesmo autor. na natureza c cficaeia dos mecanismos dc controlo informal.dcsignaihimcntc,
afamlia c no olhar sclcctivo e
segregador
quc.partida.
tende a condicionar. os agcntes das instneias dceontrolo formal.
N
Iiiir<>iiucii<'
pontos
comuns ediferengas
seimpe
melhorconhecerverificandoqual
a natureza dascondutas desviantes
e/ou
delinquentes
a assinaladas.Nesta ordem de ideias,
afigura-se
comosignificativamente
pertinente
arealizago
de uma anlisesociogrfica
aprofundada
no levantamento dostragos
individuais, familiares e sociais assinalados nos seus percursos de vida que se traduza naemergncia
dacomplexidade
epolimorfia
dassituages
e casos recenseados neste sistema, vectorfulcral para o desenvoivimento de
polticas
sociais que visem uma maior eficdcia naprevengo
destassituages.
Naturalmente, a vasta
abrangncia
do campo em anlise requer que se tomemdeterminadas
opges
tericasemetodolgicas elegendo-se
paraobjecto
desteestudo,de entre o universo em causa, os
jovens
de ambosos sexos emrelago
aosquais esteja
s:nc:!zada oficiolmente :
c
prtica
de actos desviantese/ou
delinquentes
at data dasua
primeira
colocago
num destescolgios.
Porque
aproblemdtica
do desvio edelinquncia juvenis
que interessa analisarporser essaque.partida,
deveria constituirocerne da
colocago
institucional no sistema dejustiga
tutelar, os casos de meravitimago
1G, apenas internados nestes estabelecimentos comosolugo
de ltimo recurso por no terem encontradoresposta
noutros sistemas, no se constituem comoalvo deestudo ".
Assim, define-se como
objectivo
central destainvestigago:
identificar, analisar ecompreender
emque medida, e a que nveis,se associam factoresde ordem individual,familiaresocial assinalados
pelos
mecanismos de controlo formal nospercursos de vidae nos contextos desocalizago
dosjovens
comprtica
de actos aesviantese/ou
delinquentes
que se encontravam emcolocago
institucional nos catorzeColgios
deAcolhimento,
Educago
eFormago
do Instituto deReinsergdo
Social nosltimosquatro
mesesdevigncia
daOrganizago
TutelardeMenores(1978).
Por sinaiizado ofuiabnente cntende-se a cxistneia dc rcfercneia concrcta e
espccifiea
em doeumentoofieial emanado de agcntes de mccanimos dc eontrolo formal (cntidadcs <ui
organismos
do l.stado.dcsignadamcntc,
para efeito.s deste estudo. os Tribunais. as autoridadespolieiais
ou asequipas
?\o InstitutodeReinsercoSocial)constantesnodossierindividualdosmcnoresafcelosaoseatorze
eolgios.
Considcram-sc neste grupo os jo\ens quc data da sua colocaeo em instituieo do sisiema de
justica
tutelar estavam apcnas refcrcnciados por sc eneontrarcm numa situaco de vitimaeo (de abandono.
negligneia
ou maus tratos de naturcza diversa) daqual
resultou a intcr\ eueo do lsiado no havendoqualquer
indieaco ofieial a uma eventualprtiea
de eondutas desvianles e/oudelinqucntes.
Como mai.sfrcntcsc ter
oportunidade
deverifieardclalhailamcnte.asquestes
dcvitimaeoultrapassam
delonge.
e aosmais divcrsos nvcis. cstc rcstrito nmero de casos atravessando todo o universoemestudo. Trata-se,
pois.
de um ponto fulcral na anlisc da>
trajeelorias daqucles
que alm dcpossveis
vtimas associam a outrascondic/>esno desenvolvimcnto deaetos
delinquentes.
i:
Decorrcnte da fase
exploratria
destadissertaco.aabordagem
mais detalhada sobreestes easos cncontra-sc desenvolvidaemestudo intitulado "Jovcns.dclinquncias
edrogas:
cspa^os cirajccirias"
aprcscntado
lnirodu{'do
De entre as malhas do desvio sdo apenas considerados para efeitos desta
investigagdo
um grupoespecfico
de entreaqueles
que foramj
objecto
de umaetiquetagem jurdica
aqual
veio a resultarna suacolocagdo
institucional. Interessa,pois,
atender ao facto que setrata de estudaro desvio e adelinquncia juvenis
centrando oolhar numa
populago
constituda somente por casos recenseados, a um daao momento. num sistema que seapresenta
como aponta
dapirmide
doslitgios
doaparelho judicial.
Avisdo queaqui
se obtmreporta-se
exclusivamente a umaparte
daproblemtica
em causa ficando muitolonge
de aabranger
no seu todo como otendem a comprovar os resultados dos mais diversos estudos realizados na
Europa
e nos Estados Unidos queapontam
grandezas
bastante diferenciadas relativamentedelinquncia
dosjovens
entre os 12 e os 18 anos consoante a natureza das fontes emanlise 12
(Cusson,
1989; Queloz,1994).
Mais ainda, tambm os resultadosapresentados
serestringem
aoscasosanalisados levantando-se, no entanto,umconjunto
depistas
queimportaria
verificar quer emrelago
a outros espagos e indivduos, quer emrelago
aomesmo sistema dluz denovo
quadro
legal.
Enquanto
problema
socialmenteconstrudo,
adelinquncia
destaca acondigo
dejovem
comoetapa
desocializagdo
que spode
sercompreendida
em referncia aocontexto em que vivida reflectindo
experincias passadas
epresentes
narelago
comdiversos
agentes
desocializago,
de entre osquais
se salientam afamlia,
o grupo de pares,a escolaeoutrasinstituiges.
Acredita-se que aque muitas coisassejogam
esecolocam em causa. numa
evolugo
por vezesdemasiadorepentna
quepode
abarcar desde aresolugdo
saudvel e desdramatizante de umproblema,
quantas
das ocasiesfrequentemente
menor,at exclusoouestigmatizago
(Queloz, 1994).
Nesta
investigago, parte-se
dahiptese
que o desvio e adeiinquncia juvenis
dificilmenfe
podero
serabordadoscom baseem modelos de causalidadeassentes emrelagcs
line.'respotencialmente
passveis
degeneralizcgc
c o-mo se de causas nicase
globais
sepudesse
falarignorando-se
acomplexidade
da vida social. Pelo contrrio,defende-se antes que sero o resultado da
agregago
dos maisdiversos factores para aqual
sosusceptveis
de concorrer, a um momento e num contextoespecficos,
mltiplas
variveisde naturezaindividual, microemacrossocial.
"
Nestc mbito. e l'aec a resultados obtidos em diversas
pcsquisas.
adelinquneia
auto-rcvcladapoder
abranger
XOa9(K.f dosjovens:
adelinqucneia
aparente(partieipada
s autoridadcspolieiais podera abrangcr
X a I09<: dos
jovcns
e adclinquencia
sancionada(pelos
Tribunaisc autoridadesjudiei.irias) podera abrangcr
4 a 5C" dosjovcns
(Lc Blanc, 1997:Queloz,
1994). Numa incsina linha, Cusson (19X9) alcrta para aslunitaees que os cstudos ecntrados sobrc as estatisties ou sobre os sisiemas oficiais de
justiea poderuo
enccrraremsiprprios
sc ficarem"rcfns"dc uma leitura rcdutora (juc destacaraclasse soeialcomo ainaisforte variavel na
possvcl
pretcnso
decxpHcaco
dodesvio cclclinquncia juvcnis quando.
na reahdadc.essascondutas sc cncontraro
generalizadas
a maisde90%dapopulaco
juvenil.
assim que tendca ficarapenas umapequena fracco.de modo
particular.
submetidaa umolharselcctivo por parte das instncias deIntrodit^o
Como se ter
oportunidade
de verificar no decorrer destaspginas,
mais do quetentar
explicar-se
estaproblemtica,
oque se vem a destacar-se oretrato dosespagos e contextos que marcam estastrajectrias
de vida no desvendar de contornosprofundos
da sociedadeportuguesa
ondepobreza,
excluso(es)
social(ais),
marginalidade
e desvio, ou at mesmo criminalidade,qualquer
um destes vectores fortemente associado a umainteracgo
familiar marcadamentenegativa
sob oponto
de vista da
qualidade
darelago
afectiva entrepais
e filhos, se constituem como ostragos
maisrelevantes.O desenvolvimento de um olhar atento sobre percursos de vida destes
jovens
tememconta os
aspectos
elimitages
estruturais que dominam ainteracgo
e as dinmicas familiares em volta dasquais
os mesmos actuam no evidenciar da sua autonomiarelativa.
Os debates desenvolvidos acerca desta temtica tm vindo a enfatizar a
ligagdo
entre influncias de ordem social e o desenvolvimento de
comportamentos juvenis
reprovados
socialmente,designadamente,
narelago
com consumo e/ou trfico desubstncias ilcitas
(drogas)
ou com abusos de substncias lcitas (tabaco,lcool,
medicamentos,colas),
emergindo
cada vezmaisaconscincia de que apenassepossui
um viso
parcelar
e menor desteproblema, pela multiplicidade
de contextos e devariveis aue o atravessam. A este nvel, so
significativos
os resultados obtidos porAgra
et al.
(1997)
em estuCo realizado em 1993junto
dapopulagdo
de menoresemregime
deinternato em estabelecimentos tutelaresda
regio
de Lisboa que sugerem a tendnciapara a
permanncia
de certos indicadoressociogrficos
ao nvei dacaracterizago
dasdinmicas e estilos de vida familiarescom
predominncia
de famlias de baixo estatuto scio-cultural escio-profissional,
degrande
dimenso,apresentando
disfunges
emespecial
quantoqrelages
de autoridade verificando-se aindafrequenternente situagoes
de
distupgo
familiar(Agra
etal,1997).
Ainda que condicionados
pelas
linhas orientadoras daaplicago
daOrganizagdo
Tuteiar de Menores
(1978-2000)
assume,pois,
uma extraordinriaimportncia
ainterrogago
levantada por Machado Pais(199b)
noque concerneaoquestionamento
sobre
quais
osreais mecanismos deselecgo
quejustificam
oaparecimento
sistemticodos
jovens
oriundos dos estratos sociais mais desfavorecidos do ponto de vistascio-ecnomico nas estatsicas oficiais do sistema de
justiga
tutelar de menorespodendo,
eventualmente, estar-se na presenga de processos estruturais que acentuam areprodugo
dedesigualdades
sociais.Porque
astrajectrias
individuais se inscrevem emquaCros
sociais ma:sabrangentes
de entre os
quais
se evidencia a famlia. esta mesmainterrogago
dever ser lida luzInlroducdo
constrangimentos
estruturais que as moldam e afectam a sua dinmica interna e derelago
com o exterior,tambm
ser verdade que, at determinadoponto,
dispem
de uma autonomiaque Ihespermite,
mesmoquando
sujeitas
acondiges
sociaisobjectivas
similares,
apresentarem
modos de existir e deresposta
s
situages
diferenciados eparticulares.
A par das
profundas
transformages
culturais e sociais ocorridas na sociedadeportuguesa
no decorrer dos ltimos anos, nomeadamente. no campo da famlia, o desenvolvimento de novas linhas deorientago
na rea daSociologia
da Famlia veiotrazer a
introdugo
de novos conceitos queimplicam
leituras dinmicas da realidade social emfungo
da diversidade dastrajectrias
sociais familiares que acabam por colocar em causa a tradicional viso funcionalista dospapis
familiares(Kellerhals
etal.,
1989).
Diversamentedavariago quantitativa
defamlias no nossopas,
a sua estruturaque est fundamentalmente em causa. As fortes
alterages
verificadas no seu seio; avariago
da sua dimenso, as novas formas de relacionamento e a suadisperso
nosmeios urbanos so
alguns
dos factores mais influentes naevolugo
da sociedadeportuguesa
actual(Garcia
et al.,2000)
e que aolongo
destaspginas
seroobjecto
departicular
atengo.
Jovens, espacos,
trajectrias
edelinquncias perspectivam
aconstrugo
de diversoscaminhos de
abordagem.
quele
aqui
apresentado
no so de todo indiferente razes de ordempessoal
eprofissional
que seprendem,
fundamentalmente,com o exercciodefunges
docentes durante mais dequinze
anos num destescolgios.
No a
juventude
de uma formagenrica
eabrangente
que se vai encontrar aolongo
destaspginas
como se delaalguma
vez fossepossvel
faia: sem se descer,concreta e
especificamente,
aosprprios jovens.
Do mesmo modo, no adelinquncia
num sentido fechado e redutor, estritamentesociolgico
ou meramenteiurdico,
queemergir
nestapesquisa; pelo
contrrio, sodelinquncias
vrias,partes
deumconceito mais lato. que se
aqui
evidenciam. So percursos de vida que se tocam ouse afastam luz da anlise dos espagos atravessados e das
trajectrias
reveladas. Sojovens
que, por entre asmalhas do desvio. seapresentam naquilo
que delesse deram aconhecerou que foi
possvel
aosmecanismosde controlo formalsobre osmesmossaber.Das
limitages
decorrentes doprprio objecto
de estudo e da natureza e dimensodesta
pesquisa,
esteconjunto
deopges
metolgicas
reflecte um determinado olhartragado
luz deobjectivos especficos
quepotenciam
uma certaperspectiva
emdetrimento de muitas outras
possveis
como, alis, sc vospolhado
naprpria
organizago
deste trabalho.Assim, para alm desta
introdugo.
da concluso,bibliografia
e anexos, opresente
Introdu^uo
de trs
captulos.
Cada um destes subdivide-se emalguns
pontos
emfungo
dapertinncia
dasabordagens
realizadas.A
primeira parte,
deenquadramento
terico eapresentago
do modo deinvestigago,
resulta, sobretudo, de uma fase de anlise documental. Noprimeiro
captulo procede-se
delimitago
tericadaproblemtica
do desvio e dadelinauncia
juvenis passando-se considerago
dacondigo
dainfdncia ejuventude
emfungo
dealguns
dosprincipais
quadros
tericos. Termina-se com aproblematizago
do conceitode
delinquncia
juvenil
partindo-se
de umaarticulago
entre olharessociolgicos
ejurdico.
A existncia de umsegundo captulo,
maislongo
do queinicialmenteprevisto,
justificada
pela
necessidade deexplicitago
mais detalhada de certosaspectos
normativo-jurdicos subjacentes
aosistema dejustiga
tutelaratfinal de 2000.Sendo o processo de
investigago
um caminharlongo
naverificago
dashipteses
quese
afiguraram
como asmaisplausveis
face aoobjecto
de estudo,adivulgago
dos resultados reflecte, naturalmente, as escolhasparticulares
de quem leva a cabo essainvestigago
tendo-se, por isso, a conscincia que muitas outrasquestes
e reflexespotencialmente
relevantes acabam por ficar de fora. Deste modo. no terceirocaptulo
salienta-se a
fundamentago
dasopges
de carctermetodolgico, caracterizago
das tcnicas escolhidas e
descrigo
do processo que conduziudelimitago
douniverso destacando-seo
conjunto
deprocedimentos
deanlisesubjacentes.
A
segunda
parte
-jovens,
espagos,trajectrias
edelinquncias-
, numa linha decontinuidade est voltada para a
apresentago, interpretago
e discusso dos dados obtidos nainvestigago emprica
sobre o desvio edelinquncia
napopulago
doscolgios
do Instituto deReinsergo
Social.Porque
oponto
de vista dossujeitos
noobjecto
de anlise nestaspginas,
ainda assim asua presenga manifesta-se no incio decada um dos
capitulos
quecompem
estaparte
atravs dadivulgagdo
de textosoriginais
dejovens
de um doscolgios
recolhidos informalmente em diversos momentcc no exerccioda nossa actividadeprofissional.
A sua incluso nada maispretende
doque manter viva a necessidade deenquadrar
a leitura destes dados tendo em atenco a existnciade umoutrooihar. tantas dasvezesesquecido
oumenosprezado
socialmente.Estes trs
captulos
so dedicados aoaprofundamento
eproblematizagdo
dos dadosrelativosa diferentes vectores de
caracterizago
e anlise de entre osquais,
nosendo,de modo
algum.
estanques entre si, dois merecem umaparticular
atengo:
o grupodomsticoe as condutas desviantes e
prtica
de factos ilcitos. Deste processo resulta otragar
de umquadro
global
de anlise que mais do que trazerrespostas
acerco daproblemtica
em estudo se revela como fonte demltiplas
interrogages
noquestionamento
sobre ascondiges
de vida que, aindahoje,
assinalam acondigo
PARTE
I
ENQUADRAMENTO
TERICO
E
SocicdadeeDesvio:a DclimiunciaJuvenii.
I
-SOCIEDADE
E
DESVIO:
A
DEUNQUNCIA
JUVENIL
1.1. - Em torno do desvio: que leitura(s)
possvel(is)
para este conceito?"Saa com a minha mee
perguntava-ihe:
o qitc c isio. o qiteaquilo'!
h clarespondia
istoumapedra, aquilo
tunpcssaro.
Era verdade e no era verdade.
Porquc
umapcdra
cra scmprcqualqucr
coisadiferente
e opssaro
erapequenoecastanhoougrande
epreto, de bico amarelo.Tinha de haver uma ordem cpara isso cra
prcciso
perguntaros nomes. Entdovoltavaaperguniar:oque isto.oquea
quiloT'
(Tamaro,
1997,p.48)'3
O estudo do
comportamento
que sedesigna
como desviante tem vindo a constitur.desde o sculo XIX, um campo de trabalho aliciante edesafiante para os
investigadores
sociais. Oconceito de desvio,
enquanto
fenmenocomplexo
de natureza social, remete para umabrangente
campo de anlise definidopelas
interacges
estabelecidas entre indivduos, sociedades, e os sistemas de normas que tendem aenquadrar
e orientar aacgo
dos diversos actores sociais num determinado contexto(Becker,
1963, p. 9; Cohen, 1971, p. 14;Giddens, 1997, p.172).
Na
perspectiva
de vdrios autores(Cusson,
1995;Agra
e Matos. 1997) est-seperante
um conceito
transdisciplinar
quepermite
encontrar racionalidade emobjectos
sociaisaparentemente
todspares
como o crime, a sexualidade, adroga,
adoenga
ou a morte entre outros 1J, Para que talseja
possvel
requere-se umaatengo
especial
variabilidade dapercepgo
de norma e de desvio de sociedade para sociedade, depoca
parapoca
colocando-se, assim, em relevo apertinncia
de se circunscreverclaramentea
problemtica
queseconstitui comoobjecto
de estudo numapesquisa.
Interessando,de modoparticular
nesteestudo, odesvio sob a forma dedelinquncia,
parte-se
daideia que centro de um sistema socia! tudoseencontraorganizado
em tornode
instituiges
cujas
funges objectivam
amanutengdo
da estrutura social. Se se';
InT'amaro. Susanna(1997).Parauma vozso. 2"cdico. Lisboa: Ed.Prescnca.
u
Numa
primcira aproximaco
sob umaperspeetiva
soeiolgica.
Cusson (1995)propc
uma classificaeoquccnilobi sete
eategorias
de acordo com a naturcza doprprio
dcsvio: os erimes e delitos. o suiedio. oahuso ila
droga.
astransgrcsses
sc.xuais. os desviosreligiosos.
as docncas mentais e oshandicaps
tsieos.Questionando-se
sobre aoportunidade
de incluir nodesvio fenmcnos to diferentes como oerime ou umhandieap
l'sico(atitulo deexemplo
asurdez),csteautor alertaparaanecessidadedc sc atendcr existcneiade "uina
gradu^o
nouniverso dodesvio que vai dcsdc o dcsviopcrfciiarncnio
vountrioaoinvolunrdrio"(idem.
p.359).
Fundamentandoasuaanlise nos trahalhos dc Mcrton(1971). Moseovici(1976)e Montanino e Sasiirin(1976).
Cusson (1995. p. 380) eondcnsa cssascategorias
inieiaisem apenas quatroquc variamcntrco mcnosc o mais voluntrio: osdeficicntes(saicm do domimo daaeco voluntaria),os indivduoscom
pcrturhaccs
de eomportamento (situacesintcrmdiasem que o careter voluntrio doaeto no cxeluidomas tamhem no accite). os trangressorcs e os desviantcs sub-culturais. Scndo estas duas ultimas