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Pº R.P /2009 SJC-CT-

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Pº R.P.135 e 136 /2009 SJC-CT- (Im)possibilidade legal de incluir a cláusula de reversão dos bens doados em contrato de partilha em vida.

DELIBERAçÃO Relatório

1. Os presentes recursos hierárquicos vêm interpostos das decisões proferidas pela Conservadora do Registo Predial de …de lavrar provisoriamente por dúvidas os registos de aquisição dos prédios descritos sob os números 903 e 904 da freguesia de …e 991 da freguesia de …a favor da recorrente Sofia …e de aquisição dos prédios descritos sob os números 992 e 1803 da freguesia de… a favor do recorrente José Manuel…, ambos os pedidos efectuados na mesma requisição de registo pelo solicitador António…, a que couberam as apresentações nºs 3… e 3…. 2… de Março de 20….

Os pedidos de registo foram instruídos com escritura de “Doações E Partilha Em Vida” de 1… de Outubro de 200…, lavrada no Cartório Notarial de Susana…, sito em …, da qual consta que José …doa aos recorrentes os prédios descritos sob os indicados números, “com cláusula de reversão, nos termos do artigo novecentos e sessenta do Código Civil, no caso do primeiro outorgante sobreviver aos donatários, seus filhos, e aos descendentes destes”.

No despacho de qualificação, cujos termos aqui se dão por integralmente reproduzidos, faz-se assentar a provisoriedade por dúvidas (artigos 68º e 70º do C.R.P.) no facto de não ser aplicável à partilha em vida (art. 2029º do Código Civil), a cláusula de reversão prevista no art. 960º do Código Civil, havendo “contradição” na estipulação da cláusula de reversão com o facto de constituir pressuposto da partilha em vida, para lá do consentimento dos herdeiros legitimários não donatários, o pagamento ou a obrigação de pagar destes àqueles “o valor das partes que proporcionalmente lhes tocariam nos bens doados”.

Questiona-se a recorrida: “Como se compagina este último pressuposto com a cláusula de reversão do artigo 960 do Cod.Civil, pressupondo esta última a volta dos bens ao património do doador, isto quando o donatário já “pagou o bem” ao dar tornas aos outros com direito a elas”?.

2. A interposição dos recursos teve lugar no dia 1… de Maio de 200… (Ap. 1… e 1…), cujos termos, aliás coincidentes, aqui se dão também por integralmente reproduzidos, mostrando-se as impugnações estruturadas em dois planos, de que retiramos a seguinte síntese:

a) Por um lado, invoca-se que o despacho de qualificação “padece de vício de

falta de fundamentação, não esclarecendo concretamente, não indicando qual a

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ilegalidade em causa, qual a norma violada, não enunciando as razões ou motivos que conduziram à decisão tomada e não dando resposta ao motivo da invocada contradição”;

b) Por outro, que não foram violadas as normas respeitantes ao instituto da partilha em vida e que no âmbito da liberdade contratual podem as partes estipular a reversão, “não existindo qualquer contradição entre a partilha em vida e a livre estipulação pelas partes da cláusula de reversão, para uma hipótese remota e que pode nunca vir a verificar-se”.

3. Depois de repetir a fundamentação já utilizada nos despachos de qualificação e de contra-argumentar ao que foi invocado pelos recorrentes, a recorrida terminou o seu despacho de sustentação afirmando: “Pese embora, toda a liberdade contratual permitida no artigo 405 do C.C., não me parece que ao doador mesmo com o consentimento dos donatários lhe fosse possível estabelecer a cláusula de reversão, numa partilha em vida apesar de esta se “materializar” numa doação”.

Questão prévia

O apresentante de ambos os pedidos de registo que, como vimos, representou tacitamente os agora recorrentes, foi notificado do despacho de qualificação no dia 7 de Abril de 2009, data esta que consta anotada nas respectivas fichas, como determina ao art. 71º, nº 3 do C.R.P..

Essa data de notificação é a que resulta da aplicação do disposto no art. 254º, nº 3 do C.P.C. , por estarmos no âmbito do processo de registo, não abrangido pela subsidiariedade do Código de Procedimento Administrativo prevista para o processo de impugnação hierárquica no art. 147º-B do C.R.P..

Contando o prazo de trinta dias previsto no art. 141º, nº 1 do C.R.P., - aplicável por força do disposto no art. 168º, nº 2 do Código de Procedimento Administrativo - , de forma contínua - por aplicação do disposto no art. 144º, nº 1 do C.P.C. -, o último dia do prazo de interposição dos recursos foi o dia 7 de Maio, quinta- feira, impondo-se assim concluir pela sua intempestividade, já que a interposição ocorreu só no dia 12 de Maio, terça-feira, e pela sua rejeição, nos termos do disposto no art. 173º, d) do C.P.A. , ex vi do indicado art. 147º-B, do C.R.P.

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1 Cfr. entendimento deste Conselho Técnico, tanto em sede de registo comercial como de registo predial, quanto às questões da data da notificação das decisões registrais, do prazo aplicável à impugnação hierárquica

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Porém, como vem sendo prática deste Conselho, a constatação dessa intempestividade e a consequente proposta de rejeição não devem constituir obstáculo à apreciação do mérito da impugnação, a qual vai expressa, de forma breve, na seguinte

Deliberação

1. Apesar de sistematicamente colocada no âmbito do direito das sucessões e de a terminologia escolhida o não manifestar

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, a definição legal de

das mesmas e respectiva contagem, constante dos pareceres emitidos respectivamente nos Pº R.Co. 32/2006 DSJ-CT e Pº R.P. 164/2008 SJC-CT, ambos disponíveis intranet.

2 Nestes dois planos, sai claramente identificada a natureza sucessória dos interesses que justificaram a consagração desta forma especial de doação entre vivos, colocando à disposição da pessoa um instrumento jurídico que lhe permite decidir desde já e de forma definitiva o destino dos seus bens e projectar essa decisão para depois da sua morte, isto é, dá-lhes o destino que quer que eles tivessem se, não o fazendo, viessem a integrar a sua futura herança. Daí que a lei exija a intervenção dos presuntivos herdeiros legitimários e a antecipação da conferência.

Dessa ligação, no mesmo acto, entre a doação entre vivos e a conferência ou igualação, resulta necessariamente uma complexidade de regime, no qual a causa aquisitiva dos bens está situada na doação entre vivos.

A propósito da natureza complexa deste regime e em que a conferência ou igualação tem que considerar-se como “consequente à transferência da propriedade”, por ser “necessária e logicamente ulterior à transmissão dos bens” , cfr. o parecer emitido por este Conselho no Pº nº 33/88 R.P.3( publicado na Regesta nº 2/89, pág. 80 a 85) , assim como a doutrina no mesmo indicada.

Porque essa doação entre vivos, conferida para efeitos sucessórios no mesmo acto, “interfere” com a sucessão do doador - “A partilha em vida é uma doação que se projecta na sucessão do doador, desde logo por os bens que tem por objecto terem já saído do património hereditário, a título gratuito, à data da abertura da sucessão”, ensina Carvalho Fernandes, in Lições de Direito das sucessões, 2ª Ed. Pág. 521 ou “A partilha em vida é uma doação verdadeira e própria, sujeita às regras da doação – nomeadamente à revogação por ingratidão. Com a consequência de que este negócio, no núcleo, não respeita ao direito sucessório. Mas a sucessão é reflexamente atingida pelo facto de os bens doados se não encontrarem já no património do de cujus à abertura da sucessão e por vinculações que atingem os quinhões hereditários”., ensina por sua vez Oliveira Ascensão, in Direito Civil - Sucessões, 5ª ed. Revista, pág. 99) (sublinhados nossos) – é que a lei adoptou a designação “partilha”, apesar de rigorosamente não ser possível identificar uma verdadeira partilha de bens, por não ficar a existir, após a doação, um objecto em relação ao qual os presumidos herdeiros legitimários sejam co-titulares e nessa qualidade o partilhem.

“No fundo, não há neste caso, senão uma doação (entre vivos) feita pelo ascendente a todos os herdeiros legitimários. Apenas sucede que alguns recebem bens enquanto outros só percebem verdadeiras tornas – o valor da quota (em bens) que caberia a cada um deles, se os bens deixados tivessem sido atribuídos a todos

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“partilha em vida” coloca na doação - “ doação entre vivos”, por contraposição com a doação “por morte” , que a lei só excepcionalmente admite ( art. 946º, nº 1, do C.C.

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) por constituir contrato sucessório - o efeito transmissivo dos bens que constituam o seu objecto.

2. A particularidade desta doação entre vivos reside no facto de ser feita a algum ou alguns dos presumidos herdeiros legitimários do doador e de ser prestado o consentimento pelos outros, pagando os donatários, ou obrigando-se a pagar, a estes o valor das partes que proporcionalmente lhes caberiam nos bens doados, reflectindo a designação legal ( “partilha”) a existência desses dois pressupostos

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3. Não existe qualquer disposição legal que proíba que na partilha em vida seja estipulada a reversão prevista no art. 960º do C.C. para a doação

“comum”, nem da sua própria natureza (complexa ) resulta qualquer incompatibilidade com esse condicionamento resolutivo, estando assim essa matéria na completa disponibilidade das partes( art. 405º, nº 1 do C.C.)

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eles na proporção em que a lei fixa os seus quinhões legitimários. Mas todos ficam, afora isso, em igualdade de condições, no próprio momento em que é feita a doação”.(Cit. de Pires de Lima e Antunes Varela, in Código Civil Anotado, Vol. VI, pág. 20.

3 Doações para casamento constantes de convenções antenupciais (artigos 1755, nº 2 e 1756º, nº 1do C.C.).

4 Claro que no regime comum da doação entre vivos o donatário também pode ser presumido herdeiro legitimário.

A especialidade está pois no facto de, porque é presumivelmente legitimário e porque a vontade do doador é projectar a doação na sua futura sucessão, a lei colocar como pressupostos da obtenção deste efeito a existência do consentimento dos restantes presumidos herdeiros legitimários e o referido pagamento ou obrigação de pagamento de tornas a que haja lugar.

5 Para a recorrida, a partilha em vida inclui um elemento que a faz assumir uma natureza em si própria incompatível com a inclusão da referida cláusula de reversão, e que é o pagamento (ou obrigação de pagamento) de tornas, considerando-o inconciliável com um eventual regresso dos bens ao património do doador.

Ora, salvo evidentemente melhor opinião, não vemos que exista essa impossibilidade ao dito condicionamento resolutivo resultante da estipulação da reversão, pois não nos parece que, neste plano, faça diferença convencionar a reversão dos bens doados numa comum doação em vida ou convencioná-la numa doação que é objecto da conferência imposta por lei , imediatamente e no mesmo acto.

Se o donatário pagou tornas aos outros legitimários, revertendo o bem para o doador, e tinha havido pagamento de tornas, a diferença será que aquele terá direito à “reversão” das tornas pagas, o que em nada interfere com a reversão do próprio bem.

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4. O art. 2º, nº 5, c) do Código do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de imóveis sujeita a IMT o excesso da quota parte que ao donatário pertencer , devendo a falta de prova do respectivo pagamento constituir obstáculo à natureza definitiva do registo de aquisição dos bens a seu favor ( Cfr. art. 50º do dito Código e artigos 68º, 70º e 72º, nº 1 do C.R.P.)

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Nos termos expostos, é entendimento deste Conselho que os recursos devem ser rejeitados, por serem intempestivos, de acordo com o disposto no art. 173º, d) do C.P.A., ex vi do art. 147º-B do C.R.P..

Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 18 de Dezembro de 2009.

Luís Manuel Nunes Martins, relator.

Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 22.12.2009

Encontramo-nos em ambas as situações perante uma condição convencionada ( e não uma conditio iuris) , que é facto sujeito a registo obrigatório ( art.960º, nº 3 do C.C. e art. 94º, b) do C.R.P.), só oponível a terceiros depois da data desse registo( art. 5º, nº 1 do C.R.P.).

Refira-se que a necessidade de reposição de tornas não é exclusiva da situação de reversão, já que, sobrevivendo ou tornando-se conhecido outro presumido herdeiro legitimário, este pode exigir que a sua parte lhe seja composta em dinheiro ( art. 2029º, nº 2 do C.C.).

Concluindo: a reversão dos bens doados está expressamente prevista para a “comum” doação entre vivos e do que na partilha em vida constitui especialidade em relação ao regime daquela não resulta atribuída uma natureza em relação à qual seja identificável uma incompatibilidade com esse condicionamento resolutivo, ou seja, com a vontade do doador e presumidos herdeiros legitimários em convencionarem a resolução dos efeitos de uma partilha em vida no caso de ocorrer a pré-morte dos donatários e seus descendentes, como aconteceu in casu..

6 Não fora o motivo de rejeição do recurso e apesar do que ficou dito anteriormente quanto ao único motivo invocado pela recorrida, a falta de prova do pagamento do IMT das tornas pagas pela recorrente Sofia determinaria a improcedência da impugnação do recurso quanto ao Pº R.P. 135/2009 SJC-CT, apesar da falta de pronúncia da recorrida quanto a este motivo de qualificação desfavorável, de acordo com o entendimento que nesta matéria vem sendo seguido por este Conselho (Cfr. Pº R.P. 237/2004 DSJ-CT, in BRN nº 1/2005(II), pág. 16) no sentido de que o referido artigo 50º do Código do IMT vincula não apenas o conservador em sede de qualificação mas ainda qualquer outra entidade em sede de requalificação do mesmo pedido.

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