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Arquitetura e as tecnologias de informação : da revolução industrial a revolução digital

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES

Mestrado em Multimeios

ARQUITETURA E AS TECNOLOGIAS DE INFORMA<;AO

DA REVOLU<;AO INDUSTRIAL

A

REVOLU<;AO DIGITAL

FABIO DUARTE DE ARAUJO SILVA

Disserta'(ao apresentada ao Curso de Mestrado em Multimeios do lnstituto de Aries da UNICAMP c,omo requisito parcial para a obtenyiio do grau de Mestre em Multimeios, sob a orien!ayiio do Prof. Dr. Gilberte dos Santos Prado, do DMM- lA

(2)

L~Jc!::' ..

l2.J

Q t ,=t FICHA CATALOGRAFICA ELABORADA PELA

BIBLIOTECA CENTRAL DA UN I CAMP

Silva, Fabio Duarte de Araujo

Si38a Arquitetura e as tecnologias de informat;:ao : da Revolut;:ao Industrial

a

Revolut;:ao Digital

I

Fabio Duarte de Araujo Silva. -- Campinas, SP : [s.n.], 1996

Orientador: Gilberta dos Santos Prado.

Dissertat;:ao (mestrado)- Universidade Estadual de Campinas. lnstituto de Aries.

1. Arquitetura. 2. Tecnologia da informat;:ao.

I. Prado, Gilberta dos Santos. II. Universidade Estadual de Campinas. lnstituto de Aries. Ill. Titulo.

(3)

Bam:a Examinadora

Prof. Dr. Gilberto dos Santos Prado, orientador

Prof. Dr. Julio Plaza Gonzalez

Prof. Dr. Martin Grossmann

(4)
(5)

Agradecimentos

a Maria Silvia Lordello e Paulo Silveira, meus pais; Valeria e Fernando Duarte, meus irmaos; e Dafne Campos, pela companhia e incentive constantes

ao Prof. Dr. Gilberta dos Santos Prado, pela orientac;:ao livre e segura, estimulando-me a trilhar meus pr6prios caminhos

a

Prof" Roti Nielba Turin, fundac;:8o de meu desenvolvimento intelectual

a FAPESP- Fundac;:ao de Amparo a Pesquisa do Estado de Sao Paulo-, pela concessao da bolsa, que possibilitou

a

realizac;:ao deste trabalho

a Coordenac;:ao de P6s-Graduac;:ao do Institute de Artes, pelos auxilios para que apresentasse partes desta dissertac;:ao em congresses cientificos

aos colegas da Secretaria da p6s-graduac;:ao e da Biblioteca do IA-Unicamp, pelos prestimos em todos os mementos

as bibliotecas da Escola de Engenharia de Sao Carlos- USP; da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - USP; da Universidad de Madrid, Espanha; do Institute Goethe, Sao Paulo; e do Bauhaus-Archiv, Berlim, Alemanha; e a Prof".

Dr". Diana Domingues

a Emanuel Pimenta, Unitram, Lisboa, Portugal; Alex Adriaansens e Andreas Broeckman, V2_0rganisatie, Rotterdam, Holanda; Mr. Peter Hahn,

Bauhaus-Archiv, Berlim, Alemanha; Christian Moller, Frankfurt, Alemanha; e Prof Fred Forest, Sophia-Antipolis, Nice, Franc;:a; que me receberam para breves temporadas de estudo e pesquisa, que enriqueceram minha dissertac;:ao

aos meus amigos Gustavo S. Lanfranchi, Paulo S. Teixeira, Javier A. Robles, e Roberto R. Gambarato, pelo compartilhamento das inquietac;:6es arquitetonicas que nos movem

(6)

5

I

RESUMO

Com este trabalho pretendo discutir as interat;:6es entre os avant;:os tecnol6gicos e a concept;:iio de objetos arquitet6nicos, desde a Revoluc;ao Industrial ate a Revoluc;ao Digital.

Tccnologias lndustriais

A revolu<;:iio meci'mica industrial foi fort;:a motriz para transformat;:6es sociais e espaciais das cidades, desde o desenvolvimento de novos materiais, ate a incorpora<;:ao de novos veiculos na concep<;:ao e apreensao do espat;:o.

Tclc-Tccnologias

Os meios de comunicat;:iio de massa ampliaram nossas concept;:6es espaciais e temporais. Viveriamos numa "Aideia Global", onde alguns arquitetos imaginavam os objetos arquitet6nicos formando um sistema global, funcionando atraves da troca de informat;:oes com outros elementos simi lares.

Tecnologias Digitais

A Arquitetura Virtual se faz como interface entre usuarios e ambientes mediada por maquinas inteligentes. Analiso projetos de arquitetura nesse universo, discutindo:

A tradut;:iio da imaterialidade das imagens videograficas na materialidade arquitet6nica de espat;:os publicos.

A incorporat;:iio das tecnologias eletr6nicas transformando arquitetura num meio de comunicat;:iio interativo com seu ambiente circundante, recriando-o constante

e

imprevisivelmente, tendo o usuario como vetor.

E finalmente, discutindo como a arquitetura poderia ter como locus os universes virtuais. Como ambientes digitais podem trazer a possibilidade de novas sensat;:oes, 16gicas, composit;:oes e liberdades que estao alem da antiga materialidade da arquitetura: liberdade exponenciada.

(7)

6

I

ABSTRACT

In this work I intend to discuss the interactions between technological advances and the conception of architectural objects from Industrial to Digital Revolution.

Industrial Technologies

Mechanic industrial revolution was the motricity force to the social and spatial trlilnsformations of the cities, since the use and development Gf new materials, till the consideration of new vehicules, like cars and airplanes, to the space aprehension.

Tele-

Technologies

Mass media amplified our temporal and spatial conception of the world. We would live in a Global Village, where some architects thought architectural objects as components of a global system, working by changing informations with other ones.

Digital Technologies

Virtual Architecture is the architecture that become an interface mediated by intelligent machines between user and environments. I propose a discussion of contemporary projects in this new world, based on these three aspects:

Translation of video images immateriality to the architectural materiality.

Incorporation of electronic technologi.es thinking architecture as an interactive medium, always bringing the user as a vector to its realization, recreating constantly our environment.

And how virtual and digital environments could bring us the possibility to explorate sensations, logics, compositions and freedoms that are beyond the ancient architecture materiality: exponenciated freedom.

(8)

iN

DICE

INTRODU~AO

PARTE A

TECNOLOGIAS INDUSTRIAS E ARQUITETURA

Capitulo 1: BAUHAUS

1 . 1 A Republica de Weimar

1.2 Weimar - Dessau - Berlim 1.3 Arte & Industria: XIX I XX

Capitulo 2:

MARCEL BREUER

2.1 Leitura da Cadeira Wassily

Capitulo 3: WALTER GROPIUS 3.1 Bauhaus-Dessau 3.2 Leitura da Bauhaus-Dessau 1 3 24

25

29

34

44

46

50

52

7

(9)

PARTE B

TELE-TECNOLOGIAS E ARQUITETURA

Capitulo 4:

0 CONTEXTO MUNDIAL POS-GUERRA 59

Capitulo 5:

MARSHALL MCLUHAN

5.1

Contra e a Favor de Marshall Mcluhan 62

5.2

Do Universo Linear ao Global 64

5.3

0 Meio e a Mensagem 70

5.4

Aldeia Global 72

5.5

Comando na Tribo Televisiva 73

5.6

0 Habitat Global e a Arquitetura Metabolista 74

Capitulo 6:

BUCKMINSTER FULLER

6.1

Marshall Mcluhan e Buckminster Fuller via John Cage 79

6.2

0 Universo de Buckminster Fuller 81

6.3

A Regencia Sinergetica 83

6.4

40 : Veiculo Aerodinamico 85

6.5

Dymaxion e suas Extensoes 87

6.6

Domo Geodesico Transformando a Geologia Terrestre 89

Capitulo 7:

ARQUITETURA INSTANTANEA DO GRUPO ARCHIGRAM

7.1 A Arquitetura das HQs

7.2 A Revista Archigram 1: ldeias 7.3 Living City, o Cotidiano Recortado

95 96 99

(10)

7.4

Plug-in-City, Capsulas de Metropolis

7.5

Living

1990,

a Habitat;ao nos Anos

90

7.6

Mordomos Eletronicos

7.7

Quarto de Oncinhas

7.8

Arquitetura e Interface

7.9

Instant City, a Metropolis Visil<Jnle

7.10

0 Universe das MetaMetr6polis

PARTE C

TECNOLOGIAS ELETRONICAS E ARQUITETURA

Capitulo 8:

TRADUl;AO, INCORPORAl;AO E INSER<;:AO

Capitulo 9: TRADUl;AO

-IMAGENS DIGITAIS E ARQUITETURA

9.1

0 Video e as Folies de Groningen

9.2

Arquitetura de Movimento e de lmagens

9.3

Encruzilhadas de lmagens: Paul Virilio

9.4

P61os lnertes: Encruzilhadas

9.5

Superficies Limite: lmagens

9.6

lmagens Numericas

9.7

Muralhas Digitais e Portais: Interfaces

9.8

Bernard Tschumi, Video Folie

9.8.1

Parque de La Villette, Paris

9.8.2

Video Folie, Groningen

9.9 Peter Eisenman, Video Folie

9.9.1

Eisenman e Derrida: Khbra

129

129

131

133

133

9

102

103

104

105

106

106

108

11 5

120

121

123

123

124

126

128

(11)

9.9.2 Eisenman e Deleuze: Dobras 9.9.3 Video Folie, Groningen

Capitulo 10:

135

136

INCORPORACAO - TECNOLOGIAS ELETRONICA E ARQUITETURA 10.1 Ambientes Virtuais: Peter Weibel

10.2 Oscila<;5es e Interfaces 10.3 Arquitetura como Caixa Preta 10.4 Knowbotic: Ambiente lnterativo

10.5 Jean Nouvel: lnstituto do Mundo Arabe 1 0.5.1 Paris de Mitterand

10.5.2 Jean Nouvel na Paris de Mitterand 10.5.3 lnstituto do Mundo Arabe

10.6 A Casa Numerica

10.6.1 A Casa Numerica e a L6gica Fuzzy 10.6.2 lnforma<;5es Digitais Domiciliares 10.6.3 Do Carro

a

Geladeira

10.7 Christian Moiler: Space Balance e ZeiiGalerie 10.7.1 Space Balance, a Gangorra do Virtual

10.7.2 ZeiiGalerie e os Ruidos Urbanos

10.8 Perry Hoberman: Bar Code Hotel 1 0.8.1 Arquitetura em C6digo de Barras

Capitulo 11:

138

139

141

142

143

143

144

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146

146

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156

156

IMERSAO - SIMULACOES DIGITAIS DE ARQUITETURA

11.1 Modelos e Simula<;5es

11.2 A lnfografia Aeroespacial de Frank Gehry

161

162

(12)

11.3 Abismo Numerico

163

11.4 Philippe Queau: Virtudes e Vertigens

164

11.5 lmersao em Ambientes Virtuais

168

11.6 Simula9oes: o Resgate do Tempo

169

11.7 As Luzes do Museu do Louvre

169

11.8 Projetos ltalianos de Frank Lloyd Wright

171

.

11.9 Barcelona Digital de ldelfonso Cerda

172

11.10 0 Bale Triadico Danga na Bauhaus Virtual

174

11.11 Netr6polis: Arquitetura nas Redes Digitais

177

11.12 Arquitetura

a

Distancia: o lmagina 97 179

11.13 Woiksed, o Planeta Virtual de Emanuel Pimenta 180 11.13.1 lmpermanemcia das Coisas e das ldeias

11.13.2 A Maquina dos Sentidos 11.13.3 Woiksed PARTE D CONSIDERAyOES FINAlS Capitulo 12: DESMATERIALIZAyAO DA ARQUITETURA 12.1 A Desmaterializagao

12.2 Khbra, o Receptacula dos Possfveis

12.3 Encontro de Jacques Derrida e Charles S. Peirce 12.4 Dobras na Arquitetura

12.5 Dobras no Tempo

12.6 Prosseguimento: Netas para Trabalhos Futures

180 181

183

188 188

189

191

193

195

196

11

(13)

12

PARTE E

REFERENCIAS

llustra~oes

200

Videos e Filmes

.

203

URI, (World Wide Web)

204

Revistas

204

Artigos e Textos Avulsos

205

(14)

13

(15)

As Cidades e a Medida Humana

A cidade em que vivemos e a sobreposiyao de hist6rias, culturas, formas urbanas e arquitetonicas que tramam e organizam nossa frui<;:ao no cotidiano urbano. A arquitetura, mais que · servir para proteger os homens das intemperies, e uma forma de organizayao de suas referencias culturais e seu posicionamento crftico junto ao ambiente natural. Para Vitruvio, seria um instrumento de medida e ordenar:;ao da cultura humana frente ao universo.

A arquitetura e um meio de transmissao de informao;:6es com a qual o homem vem dando a sua medida aos territ6rios que ocupa.

Mas para se realizar como a concretiza<;:ao de um extrato cultural; mas para isso, sempre houve o intermedio de tecnicas de constru<;:ao, seja no corte das pedras no antigo Egito, o uso do barro nas cidades maias ou os grandes paineis de a<;:o e vidro de Frankfurt contemporanea. Porem, quando estudamos a hist6ria da arquitetura, vemos que a tecnica foi considerada apenas como intermediaria entre as inteno;:6es e o objeto construldo, sem ser vista com autonomia. lsso foi claro ate meados do seculo XIX, quando encontramos em todas as artes um vinculo direto, ffsico, entre os artistas e a obra. Havia, clara, ferramentas, mas essas eram extensoes imediatas do homem em relac;:ao a suas obras.

Com a primeira revolu<;:ao industrial, a tecnica assumiria sua autonomia. Ja nas maquinas a vapor vemos uma transforma<;:ao teleol6gica no papel da tecnica, que passava a ser intermediador ativo entre as intenc;:oes do homem e a concretiza<;:ao de suas obras; e se colocava como o terceiro elemento no processo Homem - Tecnica - Obra. Vejamos, por exemplo, a industria textil. Com o uso da gera<;:ao de energia a vapor, foi passive! a construc;:ao de grandes maquinas que interpretavam OS movimentos das maos dos tecel6es

atraves de alavancas e barras de ferro. Produzindo cada vez em maior quantidade e mais rapidamente, os operadores dessas maquinas podiam nao

(16)

15

ter conhecimento algum da antiga arte da tecelagem. Essas maquinas traziam em si conhecimento dos padroes de conduta da arte que dispensava que seus operadores o tivessem.

Da Tecnica

a

Tecnologia

E

na transformagao de uma extensao imediata do homem em escala individual para seus desdobramentos distantes e em escala coletiva que se da o primeiro passo da evolugao da tecnica

a

tecnologia. A tecnica e um modo de fazer, uma opera9ao mental que posslblllta a lnterayi!lo entre o homem e sua obra, que se da atraves de intrumentos que estendem e adaptam as habilidades manuais

a

materia com que se vai trabalhar.

Com a maquina a vapor, que gerava, acumulava e distribula energia em larga escala, foi posslvel a potencializagao da tecnica, com a criayao de instrumentos mecanicos que operavam analogicamente ao trabalho dos bragos, maos e pernas de inumeros artesaos. Alem disso, podiam ser comandados por outras pessoas que nao tinham necessariamente conhecimento sobre as atividades artesanais.

Ha, na mudanga da tecnica

a

tecnologia, dois pontos que serao chaves ao desenvolvimento de todas as outras obras e cultura humana a partir de entao. Em primeiro Iugar houve a criagao da profissao do projetista, aquela pessoa com conhecimento dos processo artesanais e da mecanica maqulnica, que transferia os movimentos antes feitos pelos artesaos as bielas, cabos e alavancas das maquinas.

Em segundo Iugar, a autonomia da tecnologia em relagao ao artesao e ao produto. Um alicate, por exemplo, nao significa nada isoladamente, e pode ser usado para criar qualquer coisa. Depende do artesao que loma-lo

e

qual sua intengao, para produzir um objeto singular, pois s6 este determinado artesao

(17)

16

domina sua tecnica especifica. Ja os instrumentos tecnol6gicos trazem em si, mesmo inativos, suas potencialidades.

Uma maquina de corte de pedras serve para cortar pedras, sempre. E nao importa quem a opere. Assim, a tecnologia se instaura e se identifica como a transferencia de um determinado conhecimento e sua instrumentalizayao num aparelho que opera sempre com essas especificidades.

As Cidades Tecnol6gicas

0 historiador e crftico de arquitetura Leonardo Benevolo 1 nota que entre os seculos XVIII e XIX o tempo m9dio de vida subira de 35 para 50 anos, rompedo com um equilibria secular entre as gera96es. Em 1760 havia 7 milh6es de habitantes na lnglaterra, subindo para 14 milh6es em.

Com o aumento demografico e transformay6es produtivas, o territ6rio dos pafses que se industrializavam foi redesenhado, principlamente em virtude do movimento populacional do campo para as cidades. Manchester, que em 1760 tinha 12.000 habitantes, contava 400.000 em 1850; e Londres, em 1851 era a maior cidade do mundo, com 2,5 milh6es de habitantes. Esse redesenho se amplia com o desenvolvimento de meios de comunicayao necessaries para facilitar o fluxo de produtos e da pr6pia popula((ao, como foram as pistas, os canais navegaveis (na lnglaterra a partir de 1760), barcos e trens a vapor (em 1825).

Com a transforma((ao da tecnica em tecnologia, houve a construyao de grandes galp6es para abrigar as industrias que atrafam mao-de-obra do campo para as cidades. A industria e o comercio foram consequencias fundamentais do progresso tecnol6gico e desenvolvimento economico; e com o aumento da popula9ao nas cidades, houve um crescimento na oferta de bens e servi((OS, que criavam um novo aspecto nas grandes cidades.

1

(18)

17

Alem das mudanc;:as territoriais, houve uma mudanc;:a temporal nas cidades. Fases de equilibria seculares jamais existiriam novamente. Com as transformac;:oes tecnol6gicas, inserindo a rapidez de produc;:ao e distribuic;:ao de produtos e informac;:oes nas cidades, nao mais se poderia prever urn equ'ilibrio estavel, mas ao contrario, que o ritmo de novas transformac;:oes seria cada vez mais rapido e profunda.

Os Arquitetos nas Cidades Tecnol6gicas

Na metade do seculo XIX ja eram claras todas as mudanc;:as no ambiente urbana oriundas da Revoluc;:ao Industrial. Os arquitetos absorviam essas mudanc;:as tecnol6gicas cada vez mais em suas obras, ao mesmo tempo que demonstravam inquietac;:ao quanta ao futuro das cidades fabris. lniciam-se nesse perfodo discussoes e se formulam diversas propostas para reconfigurac;:Oes urbanas, abrangendo novas aspectos, como as questoes sociais e higienistas, alem de ser possivel notar claramente como isso interferia nas concepc;:oes esteticas.

Giulio Carlo Argan identifica que foi com essa explosao das cidades ligada ao avanc;:os tecnol6gicos que se originou urn campo especifico na arquitetura, que englobava nao s6 questoes formais e tecnicas, mas a complexidade de relac;:oes entre os homens e a sociedade que ocorria nas cidades, que agora apresentavam a necessidade de serem planejadas. Esse campo e o urbanismo, que serviu ao mesmo tempo como sintese de inquietac;:oes e propulsor de propostas da arquitetura moderna.

Sao desse periodo projetos urbanos em importantes cidades sufocadas pela industrializac;:ao, como e o caso do plano do barao Haussmann para Paris, centrado na abertura de boulevards e vias de circulac;:ao que incrementassem o fluxo urbane; e o Eixample de ldelfonso Cerda para Barcelona, que ampliou

(19)

18

a cidade com blocos ordenados em largas vias de circulayao com linhas de bonde, e introdugao de tecnicas higienistas no planejamento urbano. Podiamos continuar a enumerar essas cidades com Londres, Roma ou Chicago. E alem das reformas urbanas, diverso arquitetos-urbanistas langaram projetos de cidades industriais ideais, como e o Projeto de uma Cidade Industrial, de Tony Garnier, em 1901/1904.

Os Monumentos da lndustrializagao

As tecnologias tem 16gicas pr6prias que condicionam os seus produtos e, com isso,

o

meio onde se inserem. Os arquitetos estiveram atentos a isso, tanto quando propuseram reformas urbanas, como ao incorporarem essas transformagoes em seus projetos de obras menores.

Os avangos tecnol6gicos possibilitaram novas maneiras de fundir o ferro e modela-lo, assim como novas tecnicas de laminagao a vapor da madeira, e a fabricagao de placas de vidro maiores. Todos esses avangos no feitio dos materiais esliveram logo ligados a ediffcios com novas fungoes que configuravam as cidades.

0 comercio em larga escala, nacional e internacional, !eve um incremento atraves das vias ferreas, por onde os produtos eram transportados.

E

dessa epoca o crescimento das bolsas de comercio e dos servi<;;os dos correios. As pr6prias ferrovias tinham necessidade de estagoes de parada e depositos; e os trens metropolitanos subterraneos, tambem criavam novas tipos de edificagoes nas cidades.

Joseph Paxton construiu, em 1851, o Palacio de Crista!, para a primeira das grandes feiras industrias que foi a Exposir:;ao Universal de londres, onde utilizou segmentos metalicos e placas de vidro como elementos pre-fabricados, criando, com essas novas possibilidades tecnol6gicas, novas petencialidades esteticas - que safram das exposic;:oes e foram inseridas em espagos do

(20)

19

cotidiano urbano. Em 1865, Giuseppe Mengoni projetou a Galeria Vittorio Emanue/le II, cobrindo com estrutura metalica e placas de vidro quatro ruas em um cruzamento viario pr6ximo ao Domo de Milao. Essas galerias/rua, com tecnologia e desenho semelhantes, alastraram-se por Paris, Napoles, Bruxelas.

A tecnologia de estruturas metalicas e placas de vidro cobrindo grandes vaos foi utilizada em 1904 por Otto Wagner na Caixa Econ6mica de Viena. Essa mesma tecnologia ja fora empregada pelo arquiteto dez anos antes, na esta'!(l!lo Karlplatz de metrO, tambem em Vlena. Desse mesmo perfodo sao algumas esta'!(oes de metro construidas em Paris por Hector Guimard, estas com linhas claramente art nouveau, sendo que Otto Wagner ja prenunciava em seus projetos uma racionalizac;:8o formal que seria vigente na arquitetura modern a.

Com todas as possibilidades plasticas dos novas materias e a inser9ao na cultura moderna dos meios tecnol6gicos, houve uma crescents monumentalizavao da tecnologia: obras arquitetonicas que tiravam sua criatividade plastica dos novos meios e, muitas vezes, esgotavam-se nisso. Um clare exemplo

e

a Torre construida em Paris para a Feira lntemacional que comemorou os 100 anos da Revoluvao Francesa, projetada por Gustave Eiffel. A intenvao inicial era que, depois da feira, ela fosse desmontada. Simbolo de um periodo, mantiveram-na construida e se tornou simbolo do pais.

As Cidades Modernas

Foi no inicio desse seculo que a urgencia da reconcep9ao da cidade frente as novas tecnologias deu origem a um movimento internacional de arquitetura. Os arquitetos do movimento Moderno integravam a tecnologia em suas propostas nao apenas como um tecnica superlativa, mas como um saber autonomo, com caracteristicas pr6prias e com uma dinamica organizacional que, interagindo com as cidades, transformavam seus aspectos sociais, ideol6gicos, estruturais

(21)

20

e esteticos. Era precise projetar para as maquinas, com as maquinas e, sobretudo, projetar as interac;:oes maquina/cidade.

Oesse periodo e possivel destacar projetos de Mies van der Rohe, Walter Gropius e Le Corbusier - que sao paradigmaticos do movimento Moderno. Porem, seria possfvel tambem apontar os trabalhos de George Howe e William Lescale nos EUA, Jacobus Oud na Holanda ou Erik Asplund na Suecia. Houve, em linhas gerais, um movimento de vanguarda que propunha modificar e/ou construir globalmente as cidades.

E

desse periodo que parto para minhas discussoes desta disserta<;ao sobre as teorias e projetos que tern como centro de suas preocupac;:oes as intera<;:oes entre a Arquitetura e as Tecnologias de lnformar;ao.

Tecnologias Industrials, Tele-Tecnologias e Tecnologias Eletronicas

Com a intenc;:ao de acompanhar os trabalhos de arquitetos frente as transforma<;:oes das tecnologias de informac;:ao e sua interac;:ao com a arquitetura no seculo XX, divide este trabalho em tres partes, coerentes com as mudanc;:as tecnol6gicas chaves que vern redefinindo nossa interac;:ao com as cidades.

Num primeiro memento, deter-me-ei nas Tecnologias Industries mecanicas, que criou territories especificos ligados a diferentes func;:oes, introduzindo novos materials industrializados e veiculos de fruic;:ao dos espac;:os arquitetonicos. lsso se reforc;:ou ap6s a Primeira Guerra Mundial, e a escola alema Bauhaus foi por mim escolhida como sintetizadora das discussoes e propostas pois, em seu programa, apresentava os problemas da arquitetura estendendo-se do desenho da cidade ao desenho da colher. Seus trabalhos eram elaborados coletivamente e com uma preocupac;:ao pedag6gica para com os jovens arquitetos.

(22)

21

Nos anos 60, os meios de comunica<;:ao de massa, como radio e TV - com transmissoes intercontinentais ao vivo, via satelite -, cobriam o mundo todo e assim ampliavam nossas concepr;oes temporais e espaciais. Marshall Mcluhan foi o te6rico chave desses meios de massa, e tornou-se uma importante referemcia, prognosticando urn mundo retribalizado pelos meios eletronicos.

Arquitetos estiveram atentos a esses novos meios Tete- Tecno/6gicos e propuseram questoes e solur;oes arquitetonicas no universe costurado pelas transmiss6es de informar;ao. Buckminster Fuller propunha geodesicas que poderiam envolver todo o globe, e assim transformer as caracterfsticas de relacionamentos entre os homens e seu ambiente; e o grupo Archigram, que porjetavam as cidades instantaneas, que aportariam e desapareceriam ser deixar rastros ffsicos, apenas conex6es informacionais.

Hoje, a internet parece ser a realizar;ao da aldeia de Mcluhan; as TVs, antes na sala-de-estar, formam a paisagem urbana nas avenidas e cruzamentos; Paul Virilio escreve que a ultima insti.'mcia da alta velocidade

e

a inercia, onde o diferencial espar;o/tempo inexiste; Peter Weibel nomeia a arquitetura que se constr6i na interface espar;o/tecnologias digitais de Arquitetura Virtual; a cidade de Groningen espalha cabines de video deconstrutivistas em suas prayas;Perry Hoberman produz ambientes via c6digo de barras; Emanuel Pimenta prop6e a criar;ao de urn Planeta Virtual. 0 universo das Tecnologias Eletr6nicas e Digitais torna o novo territ6rio de projetar;ao e cosntrur;ao de propostas arquitetonicas.

Nesse final dos anos 90, as camadas das cidades nao se assentam antes que outras as transforme, absorva e construa novas lerril6rios. Sao algumas dessas camadas da arquitetura contemporanea que intenciono apresentar e discutir atraves das Tecnologias de lnformat;ao.

(23)

Fritz Lana

Metropolis, 19:27

Erik Asplund

Pavilhao de Exposic;:6es, Estocolmo, 1930

Joseph Paxton

Palacio de Cristal. Londres. 1851

Oas Tccnicas

as

TccnolO'.J,ias Industriais

Seculos XIX- XX

Com a primeira

revolu<;ao industrial a

tecnica assumiria sua

autonomia.

lnstrumentos

mecanicos

potencializaram as

extens6es ffsicas dos

homens em largo

escala. Do tecnica

a

tecnologia, houve

tambem uma

potencializa<;ao do

conhecimento

maqufnico que logo se

estendeu

a

transforma<;ao das

cidades e

a

cria<;ao de

objetos arquitet6nicos.

A arquitetura do seculo

XX e pautada nessa

transforma<;ao

tecnol6gica dos meios

de produ<;ao e

informa<;ao.

Gustave Eiffel

Torre Eiffei.Paris,l88 7/9

(24)

PARTE A

(25)

24

I

CAPiTULO 1:

Bauhaus

A Bauhaus, criada palo arquiteto Walter Gropius em 1919, em Weimar -Alemanha, que dirigiu a integragao da Escola de Balas Artes e a Escola de Artes Aplicadas - que estivera sob o comando de Henri Van de Velda -, e o primeiro p61o que escolho para trabalhar as relagoes entre a Arquitetura e os processes tecnol6gicos industrias do infcio deste seculo. Como escreveu Reyner Banhan, a Bauhaus foi " ... uma escola dedicada

a

arquitetura da !dade da Maquina e ao projeto de produtos da maquina, utilizando uma estetica da ldlilde da Maquina ... "2

Contudo, antes de iniciar as discussoes que reflitam as interagoes das tecnologias emergentes e os processes intelectivos de criagao atraves de obras da escola, ater-me-ei a . uma breve abordagem das premissas ideol6gicas e artisticas que impulsionaram sua criagao, a insergao em seu universe artistico e politico, a formagao de seu corpo de mestres, e seu desenvolvimento na sociedade industrial contemporanea. Os exatos quatorze anos de sua existencia, de 1919 a 1933, sao coincidentes com a epoca em que a Alemanha, derrotada na Primeira Guerra Mundial, esteve imersa na busca de sua reconstruc;:ao social, economica e politica - interna e externamente. Este periodo e caracterizado na hist6ria alema como a Republica de Weimar. Rainer Wick nota que" ... a hist6ria da Bauhaus comega e termina com a hist6ria da Republica de Weima('3.

2

BANHAM, Reyner; Teoria e Projeto na Primeira Era da Maquina; Ed. erspecliva; SP, 1979 (2a ed); p.16

3

(26)

25

1.1 A Republica de Weimar

No ano de 1917 a Alemanha safa derrotada da Primeira Guerra Mundial. 0 pars estava destrufdo econOmics, social e politicamente, asslm como suas importantes cidades estavam arrasadas. Era urgente a sua reconstruc;ao ffsica e politica, refazer-se sob a destruic;:ao da guerra e se enquadrar na nova ordem mundial ditada pelo Tratado de Versalhes.

Ao final da Guerra, ja premente a derrota alema, frente aos sacrificios a que estava exposta, a populac;ao rompia aos poucos com a aprovac;ao

a

politica Imperial e

a

guerra. 0 estado de calamidade estendia-se

a

queda constante do poder de compra dos salaries dos trabalhadores - reduzidos a um terc;:o -,

a

falta de transporte, ao racionamento de energia eletrica e agua encanada, e

a

falta de alimentos basicos, como carne, batatas, avos e farinha de trigo, sendo que 200.000 pessoas na capital, Berlim, subsistiam apenas com as sopas populares. Ao mesmo tempo, as revoltas dos operarios nas fabricas se alastravam, estimulados pela revoluc;ao vitoriosa na Russia, "que alimentava a esperanc;:a de alcanc;ar rapidamente a paz e liquidar, ao mesmo tempo, o regime imperia1".4

A Alemanha, dividida em 22 duas monarquias e 3 republicas, era governada porum imperador com poderes executives absolutes e poder para dissolver a qualquer momenta e pressuposto o Conselho Federal, composto por deputados nomeados de todos os seus 25 Estados. Em 26 de outubro de 1918 a Constituic;:ao sofreu uma serie de mudanc;as, transformando o pais numa monarquia parlamentar; contudo os disturbios entre os trabalhadores e classes politicas se alastravam por todos os Estados.

"Em todas as cidades do antigo Imperio alemiio, os dias de novembro de 1918 se assemelham aos da capital. Greves, manifesta<;:oes, assembleias gerais, discursos, vota<;:iies de resolu<;:6es, ocupa<;:iies de predios publicos, cortejos fiinebres se repetem sensivelmente da mesma maneira, em datas por vezes diferentes, nos centros urbanos de todos os Estados federados

4

RICHARD, Lionel; A Republica de Weimar (1919 - 1933); Cia das Letras + Circulo do Livro; SP, 1988 (3a reimpressao) , p. 25

(27)

26

que formavam o Imperio, do Hesse ao Wurtemberg, de Bremen e Lubeck

a

Sax6nia e

a

Renanla.'5

Os social-democratas, reformadores da Constitui<;:ao em 1918, apoiados pelo exercito, marcam elei<;:6es para janeiro de 1919: 87% do alemaes credenciados votaram, dando vit6ria-ao parlamentarismo.

A capital, Berlim, atingida duramente pela destrui<;:ao fisica e moral, nao apresentava condio;:oes para ser o centro de redefinio;:oes polfticas. A cldade escolhida foi Weimar, na Turfngia, com 6.000 habitantes, bern mais calma e polo de emergencia cultural do pais em varios mementos da hist6ria. Nesta cidade seria reconstrufda a estrutura politica da Alemanha e discutido o Tratado de Versalhes, pelo qual, entre diversos pontos, a Alemanha deve ceder um oitavo de sua superficie a paises vizinhos, como Polonia, Belgica e Tchecoslovaquia. Tambem

e

em Weimar que o paise definido como territ6rio unico, nao mais dividido em Estados autonomos. Ap6s a resolw;ao de seu problema mais turbulento, o Tratado de Versalhes, a sede da Republica regressa a Berlim no outono de 1919. Weimar passou a significar ao povo alemao nao mais sua heran<;:a classica, mas local de derrota pela aprova<;:ao do Tratado.

Contudo, a crise economica nao cessa. Alain Brossat escreveu que:

"De julho a dezembro de 1919, em seis meses apenas, o pre9o dos produtos de primeira necessidade dobrara. ( ... ) Em certas empresas, por falta de carviio e oleo, as maquinas estavam avariadas e retornava-se ao trabalho manual."6; e junto ha desconfian<;:as

gerais sabre os resultados da Republica:" ... sea Republica se imp6s em 1918 como etapa institucional diante do deslocamento ignominioso do Imperio, ela niio consegue, durante os reduzidos quinze anos que lhe cabem, impor sua legitimidade e seus valores consensuais. ( ... ) Para muitos alemiies, a Republica continua inexoravelmente associada

a

lembranya da derrota de 1918, a Versalhes ... "?

5 Ibidem.;

p.40

6 Ibidem. p.87

7 BROSSAT, Alain in RICHARD, Lionel (org); BERLIM, 1919-1933-A Encamaqilo Extrema

(28)

27

Peter Gay considera que, politicamente, "A Republica nasceu derrotada, viveu em tumulto e morreu em desastre, e desde o infcio havia muitos que viam sua labuta com suprema indiferenc;:a .. .''8 e "Ninguem deixou de perceber que a Republica veio ao mundo quase que por acidente e coberta de descuipas"9.

No correr dos anos o pais apresenla periodos de progresso e crise. A industrializac;:ao foi incentivada ap6s a derrota na Primeira Guerra com o intuito de produzir oferta de empregos e ajudar na reconstruc;:ao do pals, incentivando tambem a urbanizac;:ao das cidades: em 1931, 58% da populac;:ao a lema ativa trabalha nos setores de industria, comerclo e transportes. A industria e al<;;ada para colaborar na fabricac;:ao de pec;:as que serviriam de elementos construtivos para a construc;:ao de milhares de moradias necessarias e asseguradas pelo artigo 155 da Constituiyao, contando com uma equipe de arquitetos que controlava todos os nfveis desta operac;:ao, entre eles Erich Mendelsohn, Bruno Taut, Mies van der Rohe e Waiter Gropius.

"Onde quer que o problema de moradias ja se encontrava presente antes da guerra, este se lorna agudo no p6s-guerra, e sobretudo depois de alguns anos, grayas

a

retomada do crescimento demogrlifico. A vastidiio de tarefas

e

tao grande que somente o Estado esta capacitado a desempenM-Ia, raziio pela qual se intensificam as iniciativas de construyao subvencionada e se aperfeic;:oam as leis correspondentes"10

A Alemanha conhece uma febre da construc;:ao civil de 1925 a 1928, interrompida pela crise economica.

Os disturbios sociais e politicos continuavam, acentuados pelas consequentes crises economicas, por uma tentativa da Republica de unificar um pais historicamente dividido em Estados autonomos, e pelo ressentimento aos paises vizinhos, em especial

a

Franc;:a, pelas perdas e humilhal(6es oriundas do Tratado de Versalhes. Nas eleic;:oes legislativas de 1932 os nazis!as passam de 18,3% para 37,3% de representatividade, tornando-se o partido mais forte no Parlamento. "Nas ruas de todas as cidades, e mesmo das

8 GAY, Peter; A Cultura de Weimar. Paz e Terra; RJ, 1978; p.16 9

/bidem. p.24

10

(29)

-

28

aldeias, os homens de suas se96es de assalto exibiam a sua forya. Serviam-se dela contra os piquetes sindicais, contra os comunistas, os judeus, ( ... ) Crimes horriveis alimentavam o fascinio e o medo. Ambos eram fomentados pelos nazistas, ... "11

Os nazistas recusavam o Tratado de Versalhes, mantinham o sonho da dominayao alema em toda a Europa, e cada vez mais adquiriam simpatizantes entre os alemaes vinculados as tradi96es imperiais. Neste mesmo ano de 1932, Hindenburg

e

reeleito presidente da Republica e Adolf Hitler

e

nomeado conselheiro, pleiteando o cargo de chanceler. Nas ruas h8 batalhas entre os nazistas e os anti-fascistas. Em 1933 Hindenburg chama Hitler para compor o governo e lhe cede plenos poderes. A Constituic;:ao nada mais vale. lnstala-se o Terceiro Reich.

Hitler tern consciencia da necessidade de comoc;:ao da populac;:ao para ganhar forc;:a politica para levar a frente seus projetos. A seu lado estao Rudolph Joseph Goebels e Albert Speer. Goebels, no cargo de Ministro da Propaganda desde que Hitler se tornara chanceler,

e

responsavel pela propaganda nazista, criando filrnes de entretenimento e com cunho publicitario12. Speer

e

o arquiteto oficial do Reich, e cria monumentos arquitetonicos inspirados na tradic;:ao romantica do pais 1a A arquitetura deixa de ser instrumento de reconstruc;:ao social, investimento na industrializac;:ao para atingir a meta de dar moradia a toda populac;:8o - que linha como simbolo a Escola de arquitetura Bauhaus - para ser, cada vez mais, palco das encenac;:oes politicas do Nazismo14.

Desde sua instaurac;:ao em 1919 ao seu exterminio em 1932, a Republica de Weimar comportou incentives e insatisfac;:oes, e a Escola de Arquitetura Bauhaus esteve envolvida indiretamente em seus problemas politicos.

11

RICHARD, Lionel; Op. Cit., p.116

12

REES. Laurence; 0 Poder na Mfdia; BBC; London, 1992 (Documentario para Televisao)

13

CANETTI, Elias; A Consciencia das Patavras: Ensaiosl; Cia das Letras; SP. 1990;

14

COHEN, Peter; Arquitetura da Destrui!flio; Suecia,1989 (The Architecture of Doom -Filme)

(30)

29

1.2 Weimar- Dessau - Berlim

Walter Gropius esteve desde o infcio ligado

a

criagao da Bauhaus; e as intengoes que o levaram a propor a unificagao da Escola de Belas Artes e a Escola de Artes Aplicadas estao presentes desde sua formagao.

Nascido em 18 de maio de 1883 numa familia de arquitetos, estudou em Munique e Berlim - sua cidade natal - e logo iniciou-se profissionalmente como assistente de Peter Behrens, ate que em 1910 montou seu proprio gabinete. Nesse mesmo ano escreveu urn memorando que o tornaria conhecido, onde propos a prefabricagao industrial de pegas standards para construgao de casas.

Em 1911 projeta urn dos ediffcios mais importantes de sua carreira, apontado por muitos historiadores da Arquitetura no tocante

a

arquitetura e industrializa"ao no inicio do Modernismo: a fabrica de sapatos Fagus, em colabora"ao com Adolf Meyer. Leonardo Benevolo considera que "na produ"ao de Gropius, as obras que mais se assemelham com esta nao sao ediffcios, mas produtos industriais, como a automotriz de 1913 e o autom6vel Adler de 1930"15, afirmando que esta obra pode ser analisada exclusivamente por seu

carater tecnol6gico; e Giulio Carlo Argan aponta esta obra como responsavel por uma ruptura na concepgao de arquitetura industrial, resolvendo a funcionalidade e condi"oes psicol6gicas de trabalho com urn ediffcio que "ja nao e uma massa plastica, e sim uma constru"ao geometrica de pianos transparentes no espa"o". 16

A partir do ano seguinte Gropius participa da Werkbund Alema, movimento artistico que, com o Arts and Crafts, ingles, buscou a integra9ao da arte e artesanato, aproximando-se da industrializa9ao emergente. Esse sera o direcionamento dos interesses de Gropius. Em 1915 ele inicia negocia9oes com Fritz Mackensen, diretor da Escola Superior de Belas Artes de Weimar (Sanchsische Hochschule fUr Bildende Kunst) com o intuito de criar urn

15

BENEVOLO, Leonardo; Op. Cit.

16

(31)

30

"Departamento de Arquitetura e Artes Aplicadas", substituindo a Escola de Artes Aplicadas (Sanchsische Kunstgewerbeschule) de Van de Velde, fechada

ha

pouco. As negociaQOes se desenvolveram com o minlstro de Estado do Grao-Ducado da Saxonia. No memorandum datado de 25 de janeiro de 1916 Gropius propoe a criaQaO de "um institute de ensino, como local de consulta artistica para a industria, o artesanato e o trabalho manual"17, que esta muito proximo as ideias da Werkbund e as de Henri Van de Velde. A proposta foi muito mal acolhida na epoca, principalmente na camara dos mestres da Turingia, por considerarem que nao se daria atenc;:ao devida ao artesanato.

Ap6s o fim da Primeira Guerra Mundial, com a derrota alema e a abdicac;:ao de Guilherme II em novembro de 1918, as classes trabalhadoras, intelectuais, politicas e artfsticas iniciaram diversos manifestos de reconstruc;:ao do pais, incluindo as reformas no ensino. Neste bojo, Gropius recoloca suas ideias ao governo de Weimar, recem instaurado, sugerindo novamente a integrac;:ao da Escola de Belas Artes e a Escola de Artes Aplicadas. Apoiado pela esquerda assim como pela administrac;:ao ducal, e sob influencia do diretor geral dos museus de Berlim, Wilhelm von Bode, que via nisso a oportunidade de melhorar os produtos da industria e ligar os interesses da arte aos do Estado, cria a Bauhaus Estatal em 1919, na cidade de Weimar.

Assim, apesar de Gropius nunca envolver diretamente a Escola na politica alema, ela esteve sob seus efeitos desde sua criac;:ao, influenciando tanto nas mudanc;:as de sua direc;:ao- Gropius (1919-1928), Hannes Meyer (1928-1930) e Mies van der Rohe (19301933) , quanta nas transferencias de sua sede -Weimar (1919 -1925), Dessau (1925-1932) e Berlim (1932-1933).

Em 1919 a ideia da criac;:ao da Bauhaus em Weimar respondia aos anseios da reconstruc;:ao do novo Estado Alemao, mas cabe lembrar que pouco antes, 1916, esta proposta foi rechac;:ada pelos mesmos trabalhadores e artesaos que ora a apoiavam, no afa politico do surgimento de uma nova sociedade democratica e socialista.

17

(32)

31

Em 1923, por pressao do Estado, que a subvencionava e queria resultados, houve uma grande exposi~ao da produ~ao da Bauhaus. Apesar do bom reflexo internacional e apoio artistico interno, como da propria Werkbund - que realizava na mesma epoca.um simp6sio em Weimar-, os partidos de direita a criticaram ferozmente, e o apoio financeiro aos poucos escasseava, ja que o Ministro das FinanC(8s, o social-democrata Hartmann, considerava-a "superflua". A situa~ao chegou ao limite em marc;;o de 1925, quando os pr6prios mestres decretaram a dissoluc;;ao da Escola.

A convite de Fritz Hesse, prefeito de Dessau, toda a Bauhaus, mestres e alunos, transfere-se para essa cidade, escolhendo entre outros convites, vindos de Frankfurt-Meno, Mannheim, Munique, Darmstadt, Krefeld, Hamburgo, etc. Dessau, com cerca de 50.000 habitantes em 1925, era radicalmente diferente de Weimar: sediava um quarto da industria quimica da Alemanha e entre suas maiores empresas estava a fabrica de avioes, Junkers.

Para sediar a Escola foi necessaria a construc;;ao de um ediffcio, que ficou sob a responsabilidade de Gropius. Foi tambem encomendado a ele a construc;;ao das casas dos docentes; tres ediffcios duplos para os mestres Kandinsky, Klee, Moholy-Nagy, Schlemmer, Scheper e Muche; a sede do 6rgao municipal do Trabalho; e um bairro operario no suburbia de Torten, que em sua primeira fase consistiu na construc;;ao de 60 casas terreas independentes.

"No decurso total de Ires rases de constru<;:ao do Bairro Torten, Gropius p6de, pela primeira vez, testar um conceito central para a solu<;:iio da critica falta de alojamentos. Desde ha alguns anos que Gropius estudava meios para dirninuir os custos de construgiio atraves da racionaliza<;:ao do trabalho no local de constru.;:ilo, da utiliza<;:iio de materiais pre-fabricados e da estandardiza<;:ao"18

A construc;;ao da nova sede, iniciada em abril de 1925, e a concretizac;;ao das ideias da Bauhaus no campo da arquiletura, constantes desde seu primeiro programa e que agora tem chance unica de se firmar. Gropius envolve os

18

DROSTE, Magdalena; BAUHAUS, 1919-1933; Benedikt Taschen, Berlim, 1992

(33)

32

mestres de todas as oficinas e todos os alunos nos trabalhos de projeta.;:ao e construc;t:lo, tanto do ediffcio quanto do mobiliario, iluminagao, tapegaria, utensflios, etc. Leonardo Benevolo escreve que a inten.;:ao de um trabalho coletivo esta expresso nos pr6prios materials empregados na sede: "Gropius evita ressaltar sua individualidade com um tratamento que marque a consistEmcia ffsica que tem esses elementos, e em substfmcia recorre a apenas dois materials: o vidro para os espa.;:os vazios, envolvido em metal, e o reboco branco para os espa.;:os cheios." 19

E

notavel por fotos da sede de Dessau a existencia de diversos elementos constituintes dos trabalhos das Oflcinas da Escola formando os amblentes e ldentificando o trabalho da Bauhaus.

Ale o crash de Wall Street, EUA, em 1929, a Alemanha viveu um periodo de estabilidade econOmica, o que se refletiu na verba destinada pela Prefeitura de Dessau a Escola, e nas encomendas crescentes das empresas privadas por projetos de produtos desenvolvidos nas oficinas da Bauhaus. Porem, ja em 1928, desgastado com anos de responsabilidades administrativas, alem da pressao polilica dos conservadores de Dessau, que cortaram em mais de 60% as verbas para a Bauhaus, Gropius desliga-se da Escola e estabelece-se como arquiteto autonomo em Berlim. Com ele saem Herbert Bayer, Marcel Breuer e Lazl6 Moholy Nagy.

Assume a dire.;:ao Hannes Meyer, que estava a apenas nove meses como Mestre, com indica9ao do proprio Gropius. A Escola desprende-se cada vez mais de seu cunho artfstico para se voltar a projetagao de produtos ligados as necessidades da vida cotidiana.

"Sob tais condiyoes eram absolutamente inevitaveis os acontecimentos que preconizavam uma desint&gra<;:iio: Schlemmer desligou-se da Bauhaus em 1929, Klee em 1931, e em Kandinsky cresceu uma forte hostilidade com rela91io a Hannes Meyer. Apesar de o sentido da ideia b<isica da Bauhaus ter sido cerceado pela ac;:iio de Meyer, niio h1i que se negar que nos anos 1928 a 1930 a Bauhaus trabalhou com insupenivel eficiencia do ponto de vista da produyiio e da economia"20•

19

BENEVOLO, Leonardo; Hist6ria da Arquitetura Modema; p. 416

20

(34)

33

Todavia, esse distanciamento

e

responsavel pela diluiyao do projeto inicial da Escola de ligar o pensamento artfstico

a

industria, que era sua fon;a motriz. Se em cada produto da Bauhaus ate entao havia uma id€Ha articuladora dos processes intelectivos das Novas Tecnologias

e

da Arquitetura, o distanciamento da produ9ao do pensamento artfstico dos objetos faz com se per'ca a no9ao de design, por se valora apenas a parcela quantitativa que

e

possfvel pela industrializayao, sem considerar sua influi'mcia qualitative na reordena9ao conceitual dos novas produtos.

Em 1930 Meyer e demitido pelo Prefeito de Dessau, Fritz Hesse, acusado de incentivar celula comunista na Escola e apoiar a mineiros em greve. Nesse periodo, mesmo Gropius, que o havia indicado, esteve por tras de sua demissao, temendo que suas posic;:oes polfticas afetassem o prestigio da Bauhaus.

Mies van der Rohe, arquiteto ja internacionalmente conhecido pelo projelo do pavilhao alemao na Exposi9ao lnternacional de Barcelona em 1929, assume a dire9ao, nao se preocupando tanto com a produ9ao em massa dos objetos da Bauhaus, mas sim com o carater pedag6gico da Escola", priorizando sempre a arquitetura. "A Bauhaus foi transformada numa escola de arquitetura ao qual um pequeno numero de atelies se encontrava associado."21

Em 1932 os social-democratas safram derrotados das elei96es municipals em Dessau, e a Bauhaus foi obrigada a abandonar a cidade. Num ultimo suspiro, buscou se estabelecer como instituic;:ao privada em Berlim-Steglitz, ocupando o ediffcio de uma antiga fabrica. Com o aumento do poder dos nacional-socialistas, a Escola era alvo de constantes acusac;:oes de ser um reduto bolchevista e comunista, e sofria com repressoes da polfcia, SS e Gestapo.

Com a retomada da estetica romantica como revalorizac;:ao polftica da Alemanha, os nazistas, quando tomaram o predio da Bauhaus em Dessau,

21 DROSTE, Magdalena;

Op Cit, p. 206

(35)

34

sobrepoem "urn telhado inclinado, segundo a 'tradiyao nacional germanica', as coberturas planas do ediffcio de Gropius; desejava-se fazer desaparecer ate os vestfgios do abominavel 'internacionalismo' da Bauhaus"22.

Durante a ocupayao do ediffcio da escola em Dessau pelo Ill Reich, ele serviu de fabrica para os avioes Junkers e alojamento para o staff de Speer, alem de escola regional para os Jfderes nazistas. Em 20 de julho de 1933, num ambiente crftico financeira e politicamente, os mestres da Escola, liderados por Mies, aprovaram a auto-dissoluyao da Bauhaus, representando "urn exerdcio final da liberdade intelectual de escolha"23

Em 1945, o ediffcio de Dessau pegou fogo e a conservac;:ao da memoria da Bauhaus foi deixada de !ado pela Alemanha, ate que foi considerado monumento hist6rico em 1974.

1.3 Arte & Industria: XIX I XX

A industrializayao que ocorria em diversos pafses europeus desde o seculo XIX foi motive de preocupac;:ao dos movimentos artfsticos que ocorreram na Jnglaterra, ltalia, Russia, Alemanha, etc, tomando a 16gica fabril em graus diferentes, tanto pelo seu aspecto formal quanto pelas mudanc;:as que proporcionavam

a

sociedade.

Alem dos processes industriais que transformavam as rela9oes de produyao e trabalho, havia tambem a crescenta cria9ao de materiais produzidos industrialmente, e cada vez em maior escala. Os avan9os da siderurgia propiciavam a substituic;:ao do ferro-gusa pelo a9o, a invenyao do dfnamo em

1869 deu maior aproveitamento

a

energia eletrica, em 1876 e criado o telefone, em 1879 a lampada eletrica, e em 1885 o motor a explosao, utilizado em navios, autom6veis e, a partir de 1903, em avioes.

22

ARGAN,Giulio Carlo ; Walter Gropius e a Bauhaus; Ed Presen<;;a, Lisboa, 1984; p. 31 23 DROSTE, Magdalena; Op. Cit., p. 236

(36)

35

Os novos materiais e/ou a produ9ao maci9a deles, como o ago, o vidro e o concreto armado, redirecionam as discussoes arquitetonicas, com a criayao de novos elementos, que se tornaram paradigmas da arquitetura Moderna: coberturas transparentes, grandes estruturas, vaos livres maiores e balanyos. Tambem sao novos os temas dessa sociedade industrial e urbana emergente: pontes, ferrovias, metro, galpoes industriais, estayoes e rodovias redefinem o can:\ter dos grandes projetos, antes restritos aos monumentos publicos.

Deslocados de simbologias mfticas ou hist6ricas que, no mais das vezes, distinguiam o poder dos soberanos, os novos grandes projetos simbolizam a nova vida moderna, locada nas grandes cidades, cada vez mais industriais.

Em rela9ao as mudangas sociais, as formas de produ9ao mec€mica instauraram novas concepyoes de trabalho e, consequentemente, de moradia, lazer, cultura, etc. Giulio Carlo Argan pontua esse perfodo como sendo o nascimento de urn novo campo no estudo das cidades: o urbanismo.

Oriundo da convergencia de disciplinas como sociologia, economia e arquitetura, "nasceu da necessidade de enfrentar metodicamente os graves problemas determinados pela modificagao do fenomeno urbano, devido a 'Revolu9ao Industrial', e pela consequente transformagao da estrutura social, da economia e do modo de vida"24.

E

preciso lembrar que, com a

industrializagao, as cidades aumentam, alem de surgirem novas, devido a urn crescenta exodo rural que ocorreu em varios paises. Tambem ha novas necessidades sociais e profissionais, vinculadas a novos espagos, como escrit6rios, estagoes ferroviarias, edificios industria is, etc. Ha tambem carencia no setor habitacional, com a formayao de uma nova classe social, o proletariado.

Urn contingente populacional crescenta invadia as cidades, e nao havia como se adaptar as estruturas das antigas cidades burguesas: inicia-se, no campo

24

(37)

36

da arquitetura, pesquisas te6ricas e praticas para o equacionamento desses problemas tfpicos da sociedade industrial moderna.

A preocupac;:ao com os espayos das novas cidades estende-se a varias

manifesta~toes artfsticas, como o cinema. Em 1927, Fritz Lang, que havia estudado arquitetura, fez o filme "Metropolis"25, onde trac;:a um possfvel perfil

da ·megal6pole industrial e totalitaria, com a maquina tomando o Iugar dos homens e propiciando uma nova forma de tirania, onde os poderosos vivem nas alturas e os outros seres humanos, como escravos, habitam os subterraneos, recebendo ordens atraves de maquinas.

Contudo, trabalhos no campo da arquitetura e do urbanismo veem a problematica por outro aspecto. As novas Tecnologias !razem informa~toes

inovadoras ao contexte urbana: rompem-se velhas estruturas sociais e formais das cidades, transformam-se habitos e criam-se outros; e todas essas oscilac;:oes refletem-se e sao questionadas em todos os campos culturais. Se

ha

novas problemas a serem resolvidos, ha tambem novas elementos a serem absorvidos e trabalhados em todas suas potencialidades. Pontua-se em toda a Europa grupos e movimentos que, de diferentes maneiras, questionam e propoem dialogos entre as Tecnologias lndustriais e a Arquitetura.

A Bauhaus representa o apice desses processes de traduc;:ao entre processes tecnol6gicos e a arquitetura do infcio deste seculo. Contudo, houveram movimentos precedentes que foram importantes para a consolidac;:ao dos trabalhos da Escola e de Gropius, seu fundador. Ele mesmo enumera algumas de suas influencias26, como a Uga de Oficios Alemti (Deutscher Werkbund),

com

o

apoio de Peter Behrens, com quem Gropius trabalhara; Otto Wagner, com a construc;:ao da Caixa Econ6mica Postal em Viena, Austria; Sant'Elia e o futurismo italiano iniciado em 1913; e mesmo o arranha-ceu de tijolos construfdo par Root em Chicago, EUA, em 1883.

25

LANG, Fritz; Metropolis; Alemanha, 1927 (Filme)

26

GROPJUS, Walter; Bau/Jaus: Novarquitetura; Ed Perspectiva; SP, 1977 (33

(38)

37

Houve tambem o movimento ingles Arts and Crafts, na lnglaterra, notado pelos crfticos como ponte importante para a compreensao das relagoes entre arte e industria. Para isso basta atentar a evolugao industrial na Europa: a lnglaterra foi o bergo e incentivadora de mudangas industriais profundas e contfnuas, enquanto a Alemanha, com forte cultura artesanal, tardou seu avango tecnol6gico.

0 historiador da arquitetura G. C. Argan 27, por exemplo, coloca a Werkbund e

o Arts and Crafts como os dois fundamentos iniciais da Bauhaus, como exemplos de artes "menores" ou "aplicadas" posicionadas contra a arte "pura", exclusivamente formal, de idealismo estetico. Elodie Vitale, reportando as influencias de Gropius nos trabalhos desenvolvidos na lnglaterra coloca, alem do

Arts and Crafts

mais dois nomes: John Ruskin e William Morris. De Ruskin, observa similaridades na tentativa de "sfntese das artes sob a egide da arquitetura e da unificagao entre as artes e o artesanato"28; e de Morris ha a

apropriagao das "artes menores" e a pesquisa com processes fabris e diferentes materiais, com relevo do artesanato. Exatamente essa importi'!mcia do artesanato como aproximagao aos metodos industriais na lnglaterra que faz surgir diversas sociedades que trabalham com vies artfstico, entre elas o Arts and Crafts, criado em 1888 pelo proprio Morris.

Esse movimento foi importante em ambientes culturais de toda a Europa, inclusive na Alemanha, onde influenciou a criagao, par Hermann Muthesius, em 1907, do Deutscher Werkbund, "organizagao que !eve por fim munir artistas, artesaos, industriais e comerciantes a fim de melhorar a qualidade do produto manufaturado"2"- Nesse mesmo ana, Peter Behrens liga-se

a

industria

eletrica AEG (Allgemeine Electricitatsgesellschaft) como consultor de design para "tudo que a AEG construfsse, fabricasse ou imprimisse. E a AEG nao era a unica a fazer isso ... "30

27

ARGAN, Giulio Carlo; Op. Cit.

28

VITALE, Elodie; Op. Cit., p. 13

29 Ibidem.,

p.14

(39)

38

Na Werkbund iniciaram-se pesquisas que levavam em conta a padronizar;:ao dos produtos, buscando distanciar-se dos objetos artesanais personalizados: a arte como produto de uma colaborar;:ao de ideias e esforr;:os. isso ja prenuncia a tentativa de lndependt!lncia entre a ldeia do objeto e sua produr;:8o direta, ligada

a

industria, onde a intervenr;:ao do artifice seria extinta, onde os problemas, tanto de utilidade como do material, tecnica ou economia pretisavam ser resolvidos a priori: "A maquina nao faz mais do que receber e multiplicar a marca da idear;:ao ... 31 Porem, como se ve pelas propostas da Wekbund, tal idear;:ao levava a maquina em conta apenas em seu carater quantitativa, pois a "ideac;:ao" esta ainda preocupada com o artesanato, que seria a matriz intelectual e artfstica dos produtos.

Arquitetos como Walter Gropius e Mies van der Rohe, que seriam per;:as-chave da Bauhaus e de toda a Arquitetura Moderna, formaram-se na Werkbund.

Mesmo estando em um outro contexto, e preciso lembrar que enquanto esses movimentos ocorriam na europa, nos Estados Unidos, o americana Frederick W. Taylor propunha metodos revolucionaios para o trabalho industrial de linhas de montagem e que, mesmo antes de 1914, algumas companhias alemas ja utilizavam processos semelhantes.

Ap6s a Primeira Guerra Mundial, quando o ritmo das construr;:oes decrescera, havia uma situac;:ao economica, social e tecnol6gica profundamente alterada. Com a retomada dos trabalhos na industria, a classe operaria cresceu violentamente nos centros urbanos, cada vez mais politizadas e conscientes de seus direitos. Os problemas urbanos pensados antes da Guerra como projer;:oes para o futuro tornaram-se integralmente presen!es e de extrema gravidade, com preocupar;:ao pelos aspectos higii'micos, politicos, psicol6gicos, sociais e funcionais: a cidade era um organismo produ!ivo que precisava liberar-se de qualquer impecilho; e sua classe hegem6nica eram os operarios, muitos dos quais oriundos do carnpo, com necessidade de moradia, mas

31

ARGAN, Giulio Carlo; Op. Cit., p.26

(40)

39

conscientes da opressao das defici€mcias da cidade-fabrica do final do seculo

XIX.

"A sociedade dernocratica nao tern classes, tern apenas func;;oes; todas as func;;oes sao igualmente neoessarias; ala

a

lnll\llramenta oon$tllufda de comunioac;:oes, mas as cornunicayoes niio descem do alto, e sim circularn"32•

E

esse o contexto social, marcadamente industrializado, com reflexos no modo de vida de todos os citadinos, que Gropius se forma arquiteto e langa suas propostas arquitetonicas, preconizando o uso de elementos pre-fabricados industrialmente nos objetos arquitetonicos e que, expandindo-se tal 16gica, aplicar-se-ia

a

construyao das cidades provenientes da civilizagao industrial.

A situagao das cidades, reconstruidas em seus aspectos sociais e formais, aliada

a

fabricagao de novos materiais, como o concreto armado, Iigas metalicas e paineis de vidro, foram responsaveis pela redefinigao conceitual da Arquitetura: a funcionafidade tornou-se explicita, e mais, tornou-se o mole do pensamento arquitetonico. Vitorio Gregotti observa que a carga estetica dos objetos passa de simbolismos para as fungoes: "A mac;:aneta nao pode mais ter a forma de uma cabega de leao ou de uma flor-de-lis porque sua carga estetica e precisamente a expressao de sua maqanetafidade"33

Na Bauhaus a funcionalidade nao apenas se reflete em seus objetos, mas passa pela sua estrutura didatica, direcionando as oficinas a aproximag6es de industrias, que vieram a produzir e comercializar seus produtos.

Aos poucos, essas inteng6es se ampliam ao domfnio dos equipamentos domesticos

a

propria arquitetura, passando pelos veiculos, roupas, produtos de uso diario, embalagens, espetaculos, ate envolver toda a Cidade. 0 urbanismo se instaura nessa era de circulac;:ao de informac;:6es diversas, e o meio de circulagao e a cidade, e tais informag6es sao elementos de dialogo

32

ARGAN, Giulio Carlo; Arte Modema; Cia das Letras,SP.1993, p.270

33

(41)

40

entre fungoes: os veiculos dialogam com a ruas; estas com os novos edificios, etc.

Sendo que todas essas informag6es sao mediadas pela industria, isso se refletira na concepgao dos centros urbanos: "o plano urbanistico de uma grande cidade e o desenho industrial, da mesma forma que o projeto de uma colher."34 Se o urbanismo, disciplina que estuda toda a cidade, contem a essencia do desenho industrial,

ha

igual preocupagao com utensilios diarios minimos, do mobiliario as embalagens; e a Bauhaus tratou-os como pegas constituintes da sociedade industrial emergente: dialogos retroalimentadores entre o microcosmo e o macrocosmo.

Na essencia desse dialogo das novas formas industrials de produgao em massa para a constituigao do universo moderno, esta a ideia de estandartizar;ao.

A nogao de standard, tipo reproduzivel em serie, instaura-se com as tecnologias industriais do inicio deste seculo, colocando a possibilidade de reprodugao infinita a partir de um tipo inicial que transfere todas suas caracteristicas formals e conceituais para cada uma das reprodug6es. Argan aborda essa questao como um paradoxa, pois, apesar da nogao de standard sugerir uma repetigao mon6tona, o objeto, sem passar pelas mao do artesao, mas partindo diretamente do projeto a produgao industrial, levaria o publico a urn contato direto com o "valor ou qualidade da forma".35 Assim, ha a necessidade da resolugao total do objeto ja em seu projeto, que sera reproduzido infinitamente. Penso que, a principia, essa proposta respeita ao maximo o processo intelectivo de ideagao, transferindo suas qualidades diretamente a cada uma das reprodugoes, guardando nao apenas similaridades formais mas, em ultima insli'mcia, as qualidades intelectuais de sua concepgao.

34

ARGAN, Giulio Carlo, Op. Cit., p.220

35

(42)

41

Em 1935, Walter Benjamin escreveu sabre a destituiyao da

aura

que envolvia as obras de arte unicas na medida em que fossem reproduzidas infinitamente, substituindo "a existencia unica da obra por uma exislencia serial" 36,

resultando "violento abalo da tradiy.!!o"37• Seu texto detem-se na folografia, mas

se tornou paradigmatico em quase todos os ambitos da produgao artistica que se utilizam dos meios de produgao em serie. Se por um lado e valida essa ideia se pensarmos nas reprodugoes de uma tela, onde existira sempre

a

tela original e outras incontaveis reprodugoes - principalmente que se utilizem da base de reprodugao industrial -, isso nao e aplicavel as artes que tecem seus processes intelectivos de criagao em similaridade com essas mesmas tecnologias industriais.

Pelo contrario, como escreve Benjamin,

"com a reprodutibilidade tecnica, a obra de arte se emancipa, pela primeira vez na hist6ria, de sua exisU!ncia parasitaria, destacando-se do ritual. A obra de arte reproduzida e cada vez mais a reproduyiio de uma obra de arte criada para ser reproduzida. ( ... ) Mas, no momenta em que o criterio da autenticidade deixa de aplicar-se

a

produyiio artistica, toda a fungilo social da arte se transforma. "38

Tal e o caso dos objetos da Bauhaus, como a cadeira Wassily, de Marcel Breuer, e o edificio da Bauhaus-Dessau, de Walter Gropius, objetos de diferentes escalas compostos de elementos produzidos industrialmente.

Gropius sempre buscou pesquisar os tipos reproduziveis industrialmente como mote das oficinas da Bauhaus. Para ele,

"A existilncia de produtos padroes sempre caracteriza o apogeu de uma civilizagao, uma selegao de qualidade e uma separa((ao entre o pessoal e o ocasional e o essencial e o suprapessoal. ( ... ) e preciso opor-se

a

propaganda superficial e arrasadora, que indiscriminadamente eleva todo produto industrial em serie

a

categoria de produto standard. "39

36

BENJAMIN, Walter; "A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Tecnica" in Obras Escolhidas I; Ed Brasiliense, SP, 1987 37 Ibidem 38 Ibidem 39

GROPIUS, Walter, Bauhaus: Novarquitetura; Ed Perspectiva; SP, 1977; p.41

Referências

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