• Nenhum resultado encontrado

A arrecadação do IPTU no município de Santana do Deserto – Minas Gerais

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A arrecadação do IPTU no município de Santana do Deserto – Minas Gerais"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

A ARRECADAÇÃO DO IPTU NO MUNICIPIO DE SANTANA DO

DESERTO – MINAS GERAIS

Alexander Rodrigues da Silva – alexander_srodrigues@hotmail.com – UFF/ICHS

Resumo

O imposto Predial e Territorial Urbano é de competência Municipal e incide sobre quaisquer propriedades situadas em território urbano e que usem de estruturas deste, conforme regulamentado no artigo 156 da Constituição Federal de 1988 e nos artigos 32 e 33 do Código Tributário Nacional. A problemática desta pesquisa é identificar os aprimoramentos necessários para aumentar a arrecadação com o IPTU no município e o objetivo do trabalho propor medidas para alcançar esse aumento. A metodologia baseia-se na legislação quanto ao assunto, na análise dos dados contábeis quanto à arrecadação do tributo entre os anos de 2013 e 2015 e em entrevista com o secretário de fazenda municipal. Conclui-se que há necessidade de atualização do cadastro imobiliário e da planta genérica de valores que resultam nos valores venais compatíveis com o mercado e que compõem a base de cálculo para a cobrança do IPTU.

Palavras-chave: IPTU; Arrecadação Municipal; Santana do Deserto.

1 - Introdução

O presente trabalho apresenta dados sobre a arrecadação tributária no Município de Santana do Deserto que sofre com a falha administrativa e cultural quanto ao gerenciamento do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU: administrativa pela forma como são gerenciados os cadastros e a cobrança, e cultural pela percepção negativa e desconhecimento dos cidadãos quanto ao tributo. Somadas as dificuldades financeiras e fragilidades enfrentadas pelos municípios de pequeno porte como Santana do Deserto, onde as principais fontes de receita são as transferências correntes (compostas pelas cotas partes do FPM, ICMS, IPVA, IPI e FUNDEB) e a receita tributária, (composta pelo IPTU, ISSQN, ITBI e IRRF). Vale lembrar que os impostos não são vinculados formalmente, ou seja, os impostos que sua arrecadação não gera contrapartida da administração pública e, portanto, podem ser utilizados para manutenção de serviços como iluminação pública, pavimentações e obras de melhoria a critério da administração.

No município, o IPTU é regulamentado pelo Código Tributário Municipal instituído pela Lei Municipal nº 360 de 6 de maio de 1983, além das normas constantes no Código Tributário Nacional e na Constituição Federal de 1988.

Este estudo justifica-se pela necessidade de um material científico orientando para o aumento da arrecadação da receita tributária do município, que, como explicitado anteriormente, tem no imposto uma de suas principais fontes de previsão de receita tributária, prejudicando o orçamento com a diminuição da receita que fora prevista e afixado um valor de despesa para ela. Dessa forma, baseados no estudo, os administradores públicos locais poderão ter base científica em estudos semelhantes sobre o assunto e assim tentar minimizar as diferenças entre previsão e realização da receita, obtendo parte dos recursos para cumprir com suas ações previstas na Lei Orçamentária Anual, notada a necessidade de calçamentos de

(2)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

ruas, construção de redes de esgoto ou obras que tornem o abastecimento de água eficiente, por exemplo.

A ineficiência na arrecadação se dá pela não aplicação de penalidades aos proprietários de imóveis complementadas pelas dificuldades de se implantar políticas de cobranças que seriam interpretadas como medidas impopulares, refletindo negativamente na imagem política do Chefe do Executivo, sendo mais cômodo administrar apenas as receitas de transferências correntes.

No entanto a presente pesquisa pretende responder ao questionamento: Quais os aprimoramentos necessários para aumentar a arrecadação do IPTU?

Sendo o objetivo geral do trabalho propor medidas que levem ao aumento da arrecadação ao corrigir erros e fragilidades no processo, identificando as principais falhas na arrecadação do IPTU, sejam elas administrativas quando se referirem à tomada de decisão de se executar o que está previsto no Código Tributário Municipal ou operacionais quando se tratarem do cadastro e da fiscalização dos imóveis quanto à sua existência e seus valores venais; enquanto os objetivos específicos buscarão: apresentar a legislação na qual o município se baseia para arrecadar o tributo; descrever o cadastro disponível para arrecadação; e expor os valores arrecadados entre os anos de 2013 e 2015.

A metodologia utilizada é composta de uma entrevista com o secretário de fazenda municipal para entendimento do processo de cadastro para a arrecadação do IPTU no município estudado, assim como uma pesquisa documental nos demonstrativos da receita corrente líquida e nos balancetes financeiros de receita dos anos de 2013 a 2015, extraídos do portal da transparência do município estudado e do município de Goianá/MG – município de mesmo porte com o qual fez-se uma comparação sobre a arrecadação - dos quais foram extraídos os valores arrecadados com o tributo no período. Com tais dados em mãos, foi elaborado o Balanced Scorecard (ou BSC) sobre a arrecadação do IPTU no município, estabelecendo metas para diferentes perspectivas sobre os indicadores financeiros e não financeiros, facilitando tomadas de decisão de níveis estratégicos e operacionais (KAPLAN; NORTON, 1997).

2 – Apresentação do Caso

O Município de Santana do Deserto está situado na Zona da Mata Mineira e sua população em 2010 era de 3860 habitantes (Censo IBGE, 2010). O Município é composto por 6 bairros com 1035 propriedades construídas urbanas e 170 propriedades urbanas sem construção cadastradas para a cobrança do IPTU, distribuídas conforme o Quadro 1.

Quadro 1 - Distribuição das propriedades Urbanas.

LOCALIDADE PROPRIEDADES COM CONSTRUÇÕES

PROPRIEDADES SEM CONSTRUÇÕES

BAIRRO DAS FLORES 120 32

CENTRO 586 81

(3)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

SERRARIA 162 9

SILVEIRA LOBO 15 7

SOSSEGO 49 12

TOTAL 1035 170

Fonte: Elaborado pelo autor com dados fornecidos pelo Setor tributário da Prefeitura Municipal de Santana do Deserto.

O Código Tributário Nacional, legislativamente superior ao Código Tributário Municipal, determina em seu artigo 32, que os municípios estabeleçam suas alíquotas, mas fixa os critérios de presença de calçamento, abastecimento de água, rede de esgoto, iluminação pública, escola primária pública e unidade básica de saúde para que as áreas sejam consideradas urbanas; e em seu artigo 33 que a base de cálculo será o valor venal do imóvel.

O Código Tributário Municipal de Santana do Deserto foi instituído pela Lei Municipal nº 360 de 6 de maio de 1983, e nele o IPTU está dividido como previsto na Constituição de 1934 apresentado separadamente como Imposto Sobre a Propriedade Territorial Urbana e Imposto Sobre a Propriedade Predial Urbana. Em seus artigos 5º e 8º, o Código Tributário Municipal trata respectivamente do fato gerador sendo a propriedade de um terreno e da alíquota para terrenos sem construções em áreas urbanas ou que tem potencialidades de se tornarem urbanas, 2% (dois por cento) do valor venal. Os artigos 9º e 13 também tratam do fato gerador e da alíquota, mas sobre terrenos com algum tipo de construção, sendo a propriedade de um imóvel o seu fato gerador e 0,5% (meio por cento) a sua alíquota.

Assim, ainda que mais antigo, o Código Tributário Municipal de Santana do Deserto está de acordo com o que ficou estabelecido na posterior Constituição Federal de 1988 em seu artigo 156, que mantém aos municípios a instituição do imposto desde que seja progressivo em razão do valor de imóvel e que tenha alíquotas diferenciadas de acordo com sua localização.

O município tem uma extensão de 182,655 km² (IBGE, 2010), sendo sua maior parte de território rural, conforme podemos observar na Figura 1, e é dificultada a distinção de alíquotas de IPTU por localizações, acontecendo a progressividade dos valores pagos apenas em função das variações dos valores venais de imóvel para imóvel (Carvalho Jr, 2006).

(4)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO Figura 1 – Localização das áreas urbanas do Município de Santana do Deserto

Fonte: Plano Municipal De Saneamento Básico de Santana do Deserto – MG – 2013.1

São consideradas apenas duas variações de alíquota: 2% para imóveis não construídos e 0,5% para imóveis construídos, não sendo considerados imóveis construídos as construções provisórias que possam ser facilmente desmontadas, as construções em andamento ou paralisadas, as em ruínas ou ainda as consideradas por autoridade competente inapropriadas ou inseguras para ocupação, conforme os incisos I ao IV do artigo 6º do Código Tributário Municipal.

O setor tributário é composto por um funcionário de carreira da instituição, sendo subordinado à secretaria de fazenda e responsável pela alimentação do sistema de informação adotado para esta finalidade, pelo envio anual das correspondências de cobranças, pelo atendimento ao público para informações e atualizações de débitos e a comunicação com o setor jurídico para eventuais cobranças de valores de exercícios anteriores.

Ao cadastrar um novo imóvel à base do IPTU, é necessário que o proprietário apresente o documento que comprove a compra e demonstre o valor pago por este que será a base de cálculo ao imposto. Caso o proprietário tenha adquirido um imóvel ainda sem construção e posteriormente tenha construído a edificação, há a necessidade de levantamento do valor atual deste. Tal avaliação deve ser realizada baseada na chamada Pauta de Valores Mínimos para Terrenos Rurais e Urbanos, elaborada pela Superintendência Regional da Fazenda com os valores base para os municípios da Administração Fazendária 1º Nível – Juiz de Fora/MG, conforme quadros 2 e 3:

1 Plano Municipal De Saneamento Básico de Santana do Deserto – MG – 2013, disponível em:

(5)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO Quadro 2 – Avaliação de terrenos urbanos sem edificações por m²

MUNICÍPIO CENTRO BAIRRO PROXIMO

AO CENTRO BAIRRO PERIFÉRICO

Belmiro Braga R$ 50,00 R$ 35,00 R$ 20,00 Chácara R$ 60,00 R$ 40,00 R$ 30,00 Chiador R$ 50,00 R$ 35,00 R$ 20,00 Coronel Pacheco R$ 50,00 R$ 35,00 R$ 20,00 Goianá R$ 60,00 R$ 40,00 R$ 30,00 Lima Duarte R$ 70,00 R$ 50,00 R$ 35,00 Matias Barbosa R$ 70,00 R$ 50,00 R$ 35,00 Piau R$ 50,00 R$ 35,00 R$ 20,00 Rio Novo R$ 50,00 R$ 35,00 R$ 20,00 Rio Preto R$ 50,00 R$ 35,00 R$ 20,00 Santa Bárbara do Monte Verde R$ 60,00 R$ 35,00 R$ 20,00 Santa Rita do Jacutinga R$ 50,00 R$ 35,00 R$ 20,00 Santana do Deserto R$ 60,00 R$ 35,00 R$ 20,00

Juiz de Fora2 IPTU3 IPTU³ IPTU³

Fonte - Superintendência Regional Da Fazenda - Administração Fazendária 1º Nivel Juiz De Fora Quadro 3 - Avaliação de construções por m²

MUNICÍPIO PRIMEIRA SIMPLES SEM ACABAMENTO

E SEM LAJE

Belmiro Braga R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00

Chácara R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00

2 Bairros Alto dos Passos; São Mateus, Cascatinha, Grambery; Santa Helena; Quintas da Avenida; Centro e

condomínios fechados majorar em 40%.

3 No Município de Juiz de Fora, os valores por m² são calculados pela Comissão de Avaliação de Imóveis para o IPTU.

(6)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO Chiador R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Coronel Pacheco R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Goianá R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Lima Duarte R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Matias Barbosa R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Piau R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Rio Novo R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Rio Preto R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Santa Bárbara do Monte Verde R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Santa Rita do Jacutinga R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00 Santana do Deserto R$ 600,00 R$ 410,00 R$ 200,00

Juiz de Fora4 IPTU5 IPTU5 IPTU5

Fonte - Superintendência Regional Da Fazenda - Administração Fazendária 1º Nivel Juiz De Fora

Em tese, esses valores mínimos deveriam ser somados à avaliação da Comissão de Avaliação, conforme o artigo 90 do CTM:

(...) integrada de pelo menos, 5 (cinco) pessoas idôneas e conhecedoras dos valores imobiliários locais, a fim de elaborar a planta de valores levando em conta os seguintes elementos:

I – Quanto ao terreno: a) Área;

b) Forma e dimensões; c) Localização; d) Condições físicas;

e) Equipamentos urbanos e serviços públicos existentes no local. II - Quanto à edificação:

a) Área construída; b) Localização;

c) Padrão ou tipo de construção;

4 Bairros Alto dos Passos; São Mateus, Cascatinha, Grambery; Santa Helena; Quintas da Avenida; Centro e condomínios fechados majorar em 40%.

5 No Município de Juiz de Fora, os valores por m² calculados pela Comissão de Avaliação de Imóveis para o IPTU.

(7)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO d) Estado de conservação;

e) Valor do imóvel, segundo o mercado imobiliário local.

A avaliação dos imóveis está relacionada à denominada Atualização da Planta de Valores Genéricos – APVG em Carvalho Jr (2006).

Esclarecidas as teorias da estrutura e do processo, passamos à problemática constante na aplicação prática dessas teorias, que oneram a arrecadação.

Em princípio, há a necessidade de revisão e renovação do Código Tributário Municipal, adequando-o à atual legislação em vista de o código em vigência ter sido elaborado em 1983, antes mesmo da Constituição Federal em vigor e de outras importantes normas quanto ao assunto, como a Lei Complementar nº 101 de 04 de maio de 2000, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal quando refere-se à efetiva arrecadação dos tributos e a Lei Complementar nº 116 de 31 de julho de 2003 que dispõe sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN, por exemplo.

Outro documento defasado e de suma importância no cálculo do IPTU é a Pauta de Valores Mínimos para Terrenos Rurais e Urbanos fornecida ao município pela Superintendência Regional da Fazenda. A pauta utilizada foi elaborada em dezembro de 2008, devendo ser ajustada aos valores atuais para adequar-se à dinâmica do mercado imobiliário e aprimorar a arrecadação.

O secretário de fazenda do município informou em entrevista que o cadastro e as atualizações quanto à existência e modificações de edificações nos imóveis são realizados apenas conforme a espontaneidade do contribuinte, que, caso não se proponha a comparecer ao setor tributário, não sofre advertências ou punições da Administração Municipal. O secretário ainda destacou que a última auditoria coletiva quanto à existência e avaliação dos imóveis por uma Comissão de Avaliação foi realizada em 2003.

O Município arrecadou nos últimos 3 anos R$ 229.121.96 provenientes do imposto, cerca de 60% menos que um outro município de mesmo porte, também da Zona da Mata Mineira, o Município de Goianá6, que arrecadou R$ 381.477,61 no mesmo período. Os detalhes podem ser observados nos quadros 4 e 5:

Quadro 4 - Arrecadação do IPTU em Santana do Deserto/MG nos últimos 3 anos.

ANO 2013 2014 2015 Arrecadação do Exercício R$ 36.073,78 R$ 41.254,23 R$ 43.772,81 Arrecadação em Dívida Ativa R$ 36.334,43 R$ 52.738,80 R$ 18.947,91 Total do IPTU Arrecadado R$ 72.408,21 R$ 93.993,03 R$ 62.720,72

6 Município de Goianá: Com extensão de 152,039 km² e uma população de 3928, segundo o Censo do IBGE (2010).

(8)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

Fonte: Elaborado pelo autor com dados publicados no Portal da Transparência da Prefeitura Municipal de Santana do Deserto7.

Quadro 5 - Arrecadação do IPTU em Goianá/MG nos últimos 3 anos.

ANO 2013 2014 2015 Arrecadação do Exercício R$ 79.231,15 R$ 80.540,66 R$ 105.209,49 Arrecadação em Dívida Ativa R$ 47.806,27 R$ 44.269,01 R$ 24.421,03 Total do IPTU Arrecadado R$ 127.037,42 R$ 124.809.67 R$ 129.477,61

Fonte: Elaborado pelo autor com dados publicados no Portal da Transparência da Prefeitura Municipal de Goianá8.

O Código Tributário do Município de Goianá9, instituído pela lei nº 77 de 1998, prevê em seu artigo 12, alíquotas de 2% para imóveis não construídos e 0,5% para imóveis edificados, portanto, com alíquotas iguais às aplicadas na cobrança do IPTU do Município de Santana do Deserto.

A partir da análise dos dados dos quadros 4 e 5, chega-se à conclusão de que o valor da arrecadação do Município de Goianá com o IPTU foi em média 71,64% maior que o do Município de Santana do Deserto para o período apurado.

Apresentados os detalhes sobre o município, passemos ao referencial teórico.

3 – Referencial Teórico

Paula Filho e Pantoja (2009) nos apresenta a regulamentação no Código Tributário Nacional, destacando que o IPTU é de arrecadação municipal, ficando sob os códigos tributários municipais e demais legislações a definição das alíquotas e demais regras de arrecadação para este imposto. Sá, et al. (2013), complementa o conceito com a distinção entre sistemas progressivos e regressivos de tributação quanto ao IPTU, utilizando o primeiro um conjunto de alíquotas com número mínimo de duas, com critérios de diferenciações de imóveis estabelecidos em legislações municipais; enquanto o segundo utiliza apenas uma alíquota para aplicação do imposto, sem distinções em função do valor venal ou quaisquer outros critérios.

Uma situação de imóveis que também ocorre no Município de Santana do Deserto foi observada por Carvalho Jr. (2006), na qual terrenos sem quaisquer edificações são tributados com alíquotas maiores em progressividade extrafiscal. No Município, imóveis sem

7 Portal da Transparência da Prefeitura Municipal de Santana do Deserto, disponível em: <http://publicacao.pm-sdeserto.siplanweb.com.br/>. Acesso em 05 out. de 2016.

8 Portal da Transparência da Prefeitura Municipal de Goianá, disponível em: <http://publicacao.pm-goiana.siplanweb.com.br//>. Acesso em 05 out. de 2016.

9 Código Tributário do Município de Goianá, disponível em: <http://www.goiana.mg.gov.br/leis/1998/77.pdf>. Acesso em 05 out. de 2016.

(9)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

construções são tributados em 2% sobre o valor venal sob o artigo 182, § 4º da Constituição Federal de 1988, e o artigo 7º do Estatuto das Cidades para assegurar o bom aproveitamento na função social da propriedade urbana. Ainda que no caso estudado ocorra progressividade de alíquotas apenas em função de imóveis edificados ou não, em Carvalho Jr. (2006, p. 17) fica constatado o uso de outros critérios para esse estabelecimento, como padrão construtivo, localização e tamanhos dos imóveis e o autor defende ainda a realização da Atualização da Planta Genérica de Valores – APGV:

A Atualização da Planta Genérica de Valores (APGV) e o recadastramento são medidas importantes para aumentar o nível e a equidade na arrecadação do IPTU. A APGV consiste em mudar os valores avaliados do metro quadrado dos terrenos onde estão inseridos os imóveis da cidade a fim de torná-los mais próximo do valor de mercado.

Para Carrazza (2005), a progressividade do IPTU está relacionada à capacidade contributiva dos cidadãos, podendo ser consideradas as condições e localidades dos imóveis de acordo APGV usada por Carvalho (2006) ou na Pauta de Valores Mínimos para Terrenos Rurais e Urbanos elaborada pela Superintendência Regional de Fazenda utilizada no Município de Santana do Deserto à aplicação do princípio da isonomia, superando injustiças e desigualdades sociais, e acatando ao princípio da capacidade contributiva. Em seu trabalho, Cesare (2002) acrescenta ainda que moradores de regiões que já dispõem de estruturas de serviços públicos se opõem ao princípio da progressividade de Carrazza (2005) ou das avaliações de Carvalho (2006), achando injusto esse tipo de tributação, alegando que os recursos não serão aplicados em suas regiões, e sim em regiões mais carentes dessa estrutura, devendo então, na perspectiva dessas pessoas, os recursos a serem aplicados nas regiões a receberem as melhorias.

Antes de qualquer tipo de progressividade no tributo, Afonso, et al. (2013), destacam que as alterações na planta genérica de valores dependem de aprovações no Legislativo Municipal, e que este, por vezes, acaba não julgando e avaliando com critérios técnicos, não incentivando dessa forma a revisão dos valores constantes na APGV conceituada por Carvalho (2006) ou que deveria ser elaborada pela Comissão de Avaliação prevista artigo 90 do Código Tributário Municipal de Santana do Deserto de forma a adequarem-se à dinâmica do mercado imobiliário. Cesare (2002) acrescenta a necessidade de alimentação permanente da base cadastral do município, uma vez que a base de cálculo é o valor venal do imóvel, complementando a ideia da necessidade da atualização do cadastro do município estudado, já que a última foi realizada há mais de uma década.

O Município de Santana do Deserto mantém-se principalmente com os repasses dos governos Federal e Estadual, principalmente com Fundo de Participação dos Municípios – FPM – o qual baseia-se na população como parâmetros de distribuição aos municípios e, portanto, com menores capacidades de arrecadar tributos. Para Afonso, et al. (2013), as regras de distribuição do FPM desestimulam o exercício pleno das competências tributárias dos pequenos municípios. Ainda segundo os autores, os municípios desse porte privilegiam receitas que exigem menores esforços. A proximidade aos eleitores acaba por influenciar na má cobrança dos tributos de aplicação direta, como se caracteriza o IPTU, pelo risco do desgaste político, conceituado por Oliveira e Lima (1979) apud Longo e Lima (1982).

(10)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

Ainda que o este estudo tenha como objetivo o aumento da arrecadação com o imposto, não é possível entender as fragilidades nessa arrecadação sem observar as várias perspectivas que envolvem a organização. Desta forma, propõe-se a observação do Balanced Scorecard no quadro 6 abaixo, modelo proposto por Kaplan e Norton (1997), sendo possível a partir deste, observar as perspectivas financeira, dos cidadãos, dos processos internos, e do aprendizado e crescimento:

Quadro 6 – Balanced Scorecard do Município de Santana do Deserto/MG.

Balanced Scorecard

Perspectiva Financeira

Objetivo Metas Indicadores Iniciativas

Aumentar as receitas com a arrecadação do IPTU. Melhorar em 70%10 a arrecadação. Balancete financeiro. Divulgar em vários canais de informação a possibilidade de parcelamento de débitos.

Perspectiva do Cidadão

Objetivo Metas Indicadores Iniciativas

Esclarecer aos

cidadãos

a necessidade da

atualização dos valores dos imóveis.

Propor o uso de pelo

menos metade da arrecadação do IPTU em obras de melhorias de infraestrutura. Número de obras iniciadas. Publicar os históricos de arrecadação em locais de grande circulação de pessoas e destacar os valores investidos em infraestrutura.

Perspectiva dos Processos Internos

Objetivo Metas Indicadores Iniciativas

Atualizar os cadastros de imóveis e contribuintes para a arrecadação. Atualizar 100 % da base de registros de imóveis adequando-a à planta de valores genéricos. Comparativo dos

valores médios dos

imóveis com

edificações e sem edificações.

Aplicação do artigo 90 do Código Tributário Municipal, formar uma

comissão para as

avaliações dos imóveis e atualizações do cadastro de imóveis.

Perspectiva do Aprendizado e Crescimento

Objetivo Metas Indicadores Iniciativas

10 Meta de melhoria de arrecadação baseada no comparativo entre as arrecadações do IPTU nos municípios de Santana do Deserto e Goianá.

(11)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO Qualificar pessoal para

pronto atendimento

ao público na

arrecadação.

Qualificar todos os funcionários

que lidam diretamente com os contribuintes. Quantidade de profissionais com certificados de qualificação. Selecionar profissionais do quadro de efetivos para especialização no setor.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da observação das perspectivas do Município de Santana do Deserto e da comparação com o Município de Goianá

O BSC proposto por Kaplan e Norton (1997) aplicado ao Município de Santana do Deserto permite a expansão da visão estratégica ao orientar ao mesmo tempo questões de esclarecimentos aos cidadãos sobre o imposto, estabelece as metas, corrige falhas de processos e qualifica pessoal, encaminhando todas as perspectivas ao aperfeiçoamento da arrecadação.

5 – Conclusão

Abrucio (1997) afirma que cada vez mais fortalece-se a necessidade de aproximação do modelo de gestão pública ao modelo de gestão privada pela maior exigência de eficiência do primeiro.

Este estudo expôs a legislação vigente em Santana do Deserto. O autor aponta como principal medida para o alcance dos objetivos a aplicação assídua do artigo 90 do Código Tributário do Município de Santana que prevê a reavaliação dos imóveis de toda a base cadastral e o cadastro de novos imóveis não constantes nela, notada a expansão da cidade nos últimos 10 anos e a consequente desatualização do cadastro de imóveis para a cobrança. Tal crescimento ainda não diferencia os bairros em regiões de diferentes capacidades contributivas para a implantação de um sistema de alíquotas progressivas, mas o valor do metro quadrado apresentado nos quadros 2 e 3 necessitam de reajustes para adequação ao mercado imobiliário.

Os desgastes políticos citados por Oliveira e Lima (1979) apud Longo e Lima (1982) e a comparação dos valores anuais de arrecadação do imposto às receitas de transferências correntes fazem com que permaneça um histórico de não cobrança acirrada de um dos principais impostos de competência municipal num município do porte de Santana do Deserto.

A elaboração do BSC para o município traçou metas para as 4 perspectivas propostas pelo modelo de Kaplan e Norton (1997), pretendendo assim o avanço de cada uma das perspectivas e do município como um todo. Com a efetiva aplicação do BSC apresentado, adotará-se a estratégia de aumentar a receita ao mesmo tempo que os cidadãos compreendem os motivos da adequação e será cumprido dever do Poder Executivo na gestão financeira do município ao mesmo tempo em que a organização cresce ao capacitar seus colaboradores.

6 – Referências

AFONSO, José Roberto R.; ARAÚJO, Erika Amorim; NÓBREGA, Marcos Antônio Rios da. O IPTU no Brasil: um diagnóstico abrangente. Rio de Janeiro: FGV, 2013. 79p. (FGV Projetos/ IDP; v. 4).

(12)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

BRASIL. Congresso Nacional (2000). Lei Complementar nº 101, 4 de maio 2000. LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal, Brasília, 24p. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm> Acesso em 30 Set. de 2015. BRASIL. Congresso Nacional (2003). Lei Complementar 116, 31 de julho de 2003. Dispõe sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza de competência dos Municípios e do Distrito Federal e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp116.htm> Acesso em 30 Set de 2015. BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil.

Rio de Janeiro, RJ. 1934. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm> Acesso em: 20 Set. de 2015.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Senado Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 20 Set. de 2015.

BRASIL. Estatuto da Cidade: Lei 10.257/2001 que estabelece diretrizes gerais da política urbana. Brasília, Câmara dos Deputados, 2001, 1a Edição. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 20 Set. de 2015.

CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 21ª ed. São Paulo: Malheiros Editores. 2005. p. 105.

CARVALHO JR., Pedro H. B. IPTU no Brasil: progressividade, arrecadação e aspectos extrafiscais. Brasília, DF: Ipea, dez. 2006. (Texto para Discussão no 1.251). Disponível em: <www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/TDs/td_1251.pdf>. Acesso em: 21 Mar. de 2016.

CESARE, Claudia M. de. IPTU: otimização & justiça tributária. In: CURSO DE GESTÃO URBANA E DE CIDADES, 4, 2002, Belo Horizonte. 2002. Disponível em: www.ibrarian.net/navon/paper/O_Imposto_sobre_a_Propriedade_Predial_e_Territori.pdf? paperid=11820337. Acesso em 20 Mar. de 2016.

GOIANÁ. Código Tributário Municipal: Lei 77/1998. Poder Executivo Municipal. Disponível em: < http://www.goiana.mg.gov.br/leis/1998/77.pdf> Acesso em 11 Out. de 2016.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA — IBGE. . 2013. Disponível em: <http://cod.ibge.gov.br/HR5 >. Acesso em: 20 Mar. de 2016.

KAPLAN, S. R.; NORTON P. D. A estratégia em ação: Balanced Scorecard. 4 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p.344.

(13)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

LONGO, Carlos A.; LIMA, José Carlos de S. O IPTU como fonte de recursos a nível municipal: Aspectos de eficiência e equidade. Revista Brasileira de Economia. Rio de Janeiro, 1982, p. 18.

MINISTÉRIO DA FAZENDA. Superintendência Regional da Fazenda - Administração Fazendária 1º Nível Juiz De Fora, 2008.

OLIVEIRA, J. T. V.; LIMA, J. C. de S. Incidência dos impostos municipais e uma avaliação das transferências de recursos federais: o caso dos municípios das capitais: São Paulo, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, relatório de pesquisa, fev. 1979. PAULA FILHO, Afrânio Faustino; PANTOJA, Gislane. Legislação Tributária. v. 1 – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2009. 144p.

PORTAL DA TRANSPARÊNCIA DA PREFEITURA MUNICIPAL DE GOIANÁ. Secretaria da Administração. Disponível em: <http://publicacao.pm-goiana.siplanweb.com.br/>. Acesso em 11 Out. de 2016.

PORTAL DA TRANSPARÊNCIA DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTANA DO DESERTO. Secretaria da Administração. Disponível em: <http://publicacao.pm-sdeserto.siplanweb.com.br/>. Acesso em 05 Out. de 2016.

SA, José Delfino; CAVALCANTE, Carlos Arthur Mattos Teixeira; KALID, Ricardo de Araújo e MALVEIRA, Ulisses de Araújo. Um modelo de otimização para alíquotas do IPTU socialmente mais justas. Rev. Adm. Pública [online]. 2013, vol.47, n.1, pp. 105-132. ISSN 0034-7612. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122013000100005 >. Acesso em 23 Jun. de 2016.

SANTANA DO DESERTO – MG. Código Tributário Municipal: Lei 360/1983. Poder Executivo Municipal.

SANTANA DO DESERTO – MG. Plano Municipal de Saneamento Básico de Santana do Deserto, CEIVAP, 2013, p. 250. Disponível em: <http://www.ceivap.org.br/mata/Santana-do-Deserto.pdf> Acesso em 20 Set. 2016.

Referências

Documentos relacionados

Saneamento Apesar da existência de loteamento formal, os poucos imóveis construídos, nesse loteamento, não são servidos por rede coletora de esgotos, sendo o destino final das

RESUMO: Algumas alternativas de embalagens metálicas destinadas ao acondicionamento de café solúvel, representadas por latas com duas espessuras de corpo e uma terceira com espessura

Não podem ser realizados atos de primeira transmissão de imóveis construídos nos lotes ou de frações autónomas desses imóveis sem que seja exibida, perante a

§ 4º A alienação de imóvel sobre o qual tenha sido instituída enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, será ineficaz

O direito de crédito de quem financiou a construção das unidades destinadas a venda pode ser exercido amplamente contra a devedora, mas contra terceiros adquirentes fica limitado

IV - a área total do lote não ultrapasse 480,00m2 (quatrocentos e oitenta metros quadrados). Parágrafo Único - Para efeitos do inciso IV, deste artigo, quando

8 na via pública; verificar a existência de &#34;habite-se&#34; nos imóveis construídos, reconstruídos ou que tenham sofrido obras de vulto; acompanhar o Engenheiro da Prefeitura ou

verificar imóveis recém construídos ou reformados, inspecionando o funcionamento das instalações sanitárias e o estado de conservação das paredes, telhados, portas