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História da Fotografia e do Fotojornalismo em Ponta Grossa, PR: um projeto de resgate 1

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História da Fotografia e do Fotojornalismo em Ponta Grossa, PR: um

projeto de resgate

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SOUZA, Carlos Alberto de (Doutor)2 JASPER, Aline (Mestranda em Jornalismo)3 KALIBERDA, Andressa (Mestranda em Jornalismo)4 Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR

Resumo: A história da fotografia está diretamente relacionada ao desenvolvimento da tecnologia e à

consolidação da profissão de fotógrafo. Da mesma forma, o fotojornalismo se desenvolve com base em ‘saltos’ ou revoluções tecnológicas, como o início do uso da cor nos jornais e a transição entre fotografia analógica e digital. Considerando-se a importância da imagem, e em especial da fotografia, na construção de sentidos, estudar a história da fotografia e do fotojornalismo pode trazer contribuições valiosas para a compreensão da sociedade, especialmente em uma cidade de interior. Nesse sentido, o Projeto de Extensão Fotorreportagem UEPG desenvolve desde 2011 em Ponta Grossa, no Paraná, um trabalho de pesquisa e coleta de dados para resgatar a história dessas duas atividades na região. Ainda em processo, o projeto prevê entrevistas com fotógrafos e empresários da área, além da análise de jornais e de acervos fotográficos.

Palavras-chave: história; fotografia; fotojornalismo; memória

1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Audiovisual e Visual, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013.

2 Doutor em Ciências Humanas (Interdisciplinar) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor do Programa de Mestrado em Jornalismo e da Graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: carlossouza2013@hotmail.com

3 Discente do Programa de Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Graduada em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail:

aline.jasper1@gmail.com

4 Discente do Programa de Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Graduada em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail:

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História da Fotografia

Fotografia pode ser considerada como o ato de “congelar” um instante de realidade, seja com intenção testemunhal, informativa, artística ou histórica, conforme afirma Kubrusly (1984, p.69) “substitui o fluir da própria vida, o passar incessante do tempo, pelo correr de um filme ou uma fita de vídeo. Fotografar passa a ser o ato de parar o fluir de uma imagem já existente, não um processo de obtenção e reprodução dessa imagem.” Assim como a foto, a pintura e o desenho tem essa capacidade de gravar um recorte de determinada ação, entretanto essas últimas são feitas de maneira artesanal, enquanto a imagem fotográfica desenvolve-se mecanicamente, através de técnicas e equipamentos próprios. Entretanto, mesmo podendo ser reproduzida mecanicamente, toda imagem é única, porque retrata determinado momento, que se altera a cada instante, de acordo com o fluir natural da sociedade.

“La historia de la fotografía es la historia de si continuo desdoblamiento en nuevos y cada vez más sofisticados usos; como medio de expresión supone el acceso de las masas a la realización de imágenes, una novedad radical en la historia.” (BAEZA, 2007, p.9). A fotografia, retratadora da realidade, acaba por documentar a história da sociedade, desenvolvendo-se em consonância com essa. Isso porque seu uso, além de documento histórico, é fundamental no sentido informativo para o seu meio social.

Com raiz etimológica grega, fotografia significa “desenhar com luz”. O princípio da projeção de imagens já era conhecido na Grécia Antiga. A câmara obscura era constituída por um buraquinho pelo qual se olhava para dentro de uma “caixa” onde havia, na parede oposta, uma imagem difusa e invertida de uma cena externa à caixa. Leonardo Da Vinci a estudou sistematicamente no século XV, e incluiu uma lente para focalizar a imagem e um espelho para invertê-la. O Daguerreótipo, chapa polida de cobre recoberta com prata metálica e exposta a vapores de iodo para formar iodeto de prata, surge em 1839, foi feito pela primeira vez pelo francês Louis Daguerre.

Porém, durante seus primeiros anos, a imagem fotográfica era vista com certa cautela, sendo considerada menos verossímil que a pintura. “O aparecimento da fotografia, singularizadora e analógica, provocará, assim, uma crise de readaptação no universo da arte representacional, “privada” do realismo por um outro realismo.” (SOUSA: 2004, p.24). Outro fator que criava certa desconfiança com relação à

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fotografia, era a durabilidade da mesma, já que não haviam testes com relação ao tempo que o papel levaria para deteriorar, o que fazia com que alguns indivíduos, ou famílias, embora tivessem sua imagem fotografada, ainda optassem por fazê-la com pintores, cuja função principal, durante o século XIX era de retratista.

A popularização da fotografia começa a se desenvolver – embora timidamente - a partir da década de 1880, quando George Eastman inventa o filme flexível para a fixação da imagem, e a câmera caixão “à prova de erros”. A empresa Kodak popularizou-se com a promessa de ser apropriada até mesmo para novatos, com o slogan “Você aperta o botão, nós fazemos o resto”. Essa frase visava criar a sensação de acessibilidade da imagem. Entretanto, o valor dos equipamentos e da impressão, acabava por reduzir esse efeito popular da imagem fotográfica, que continua elitizado até meados do século XX.

A fotografia não está enclausurada à condição de registro iconográfico, isento de cenários, personagens e fatos das mais diversas naturezas que configuram os infinitos assuntos a circundar os fotógrafos, onde quer que se movimentem. Há um olhar e uma elaboração estética na construção da imagem fotográfica. A imaginação criadora é a alma dessa forma de expressão; a imagem não pode ser entendida apenas como registro mecânico da realidade dita factual (KOSSOY, 2001, p. 49)

Ao longo de sua trajetória, a imagem fotográfica foi se firmando no imaginário popular como prova definitiva de que algo aconteceu e testemunho da verdade do fato, uma maneira credível de se dizer que nada foi alterado no acontecimento ao ser fotografado. Segundo Susan Sontag (1977, p.22), “fotografar é, em essência, um ato de não-intervenção. [...] Tirar uma foto é ter um interesse pelas coisas como elas são, pela permanência do status quo (pelo menos enquanto for necessário para tirar uma ‘boa’ foto)”.

Mais do que um mero “apertador de botões”, o fotógrafo se torna, com o passar do tempo, criador de uma realidade a partir da lente da câmera. Lima, (1989, p.13) diz que “Toda fotografia é um certificado de presença”. A construção dessa imagem depende, além dos personagens e objetos que configuram a ação da fotografia, do cenário que será pano de fundo. “El exceso de imágenes banales perjudica mucho más a la comunicación visual que su ausencia, así como sobreinformar es una de las mejores formas de desinformar.” (BAEZA, 2007, p.60). Quando há uma sobrecarga de informações, elas se confundem e criam o risco de o fotógrafo passar uma informação

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diferente da pretendida. O excesso de informação desvia atenção do leitor para pontos distintos da imagem, o que o faz fixá-la em períodos que não aqueles pretendidos.

Assim, ao desviar o foco de atenção, o leitor deixa de absorver a mensagem central da foto, acarretando em perda de informação. Isso dificulta ainda mais o processo de comunicação através da imagem, que já é precário, uma vez que não há grande difusão de conhecimentos na área. Segundo Lima (1989, p. 25), a falta de ensino da linguagem imagética nas escolas é prejudicial ao processo de comunicação, já que a imagem ganha cada vez mais espaço como fonte informativa e o domínio de sua leitura é fundamental para que se possa interpretar as mensagens nela contidas.

A leitura fotográfica deve ser aprendida através de critérios técnicos, estéticos ou iconográficos, entretanto, sua interpretação, tal como no caso das outras formas de linguagem, é livre, já que depende de fatores relativos a cada indivíduo, tais como condição socioeconômica, cultural, o meio e o espaço temporal que aquele indivíduo ocupa, grau de escolaridade, entre outros.

Nessa perspectiva, Lima (1989, p.19) diz que “é um grave erro achar que a linguagem da fotografia é universal. Não existe nem uma foto que possa ser interpretada da mesma forma por um brasileiro, um francês e um chinês, por uma moça de 18 anos e um homem de 80”. Isso se dá porque as experiências inerentes a cada indivíduo acabam por influir na sua forma de ver o mundo e interpretar as imagens, que podem ser tidas como representação do mesmo.

Assim, cada indivíduo interpreta uma foto, seja artística ou informativa, de acordo com suas experiências pessoais, sociais e culturais. Embora ambos vejam o mesmo objeto representado na imagem, a interpretação que farão da mesma dependerá dos fatores acima relacionados. Por exemplo, ao expor uma criança brasileira de classe social menos favorável à mesma imagem que um adulto oriental rico, ambos terão reação diferente à imagem, porque além das experiências de vida distintas, o espaço físico, social e cultural a que estão expostos é diverso, contribuindo para diferentes visões acerca de um mesmo assunto.

“A ação da leitura de uma fotografia desencadeia reações emocionais mais espontâneas e quase sempre mais intensas que a leitura de um texto literário, causada pela forma como é escrita e apresentada essa informação visual.” (PINHEIRO FILHO,

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2003, p.3) Isso acontece porque o leitor identifica-se com a situação ao passo que observa a realidade retratada. Embora ele possa não ter vivido tal fato, inconscientemente vai se colocar como personagem principal da ação, representando assim os dramas vividos na imagem. No texto escrito, a ausência do visual dificulta essa interação emocional, tornando-a mais branda em relação ao texto fotográfico. Essa característica implica o caráter humanístico da imagem, uma vez que esta vislumbra ser mediadora do sujeito leitor com a realidade retratada, insuflando informações e sensações e agregando o valor estético inerente à imagem fotográfica.

História do Fotojornalismo

O fotojornalismo não possui uma definição clara quanto à sua significação. Muitas das definições apontam para o ato de informar pela imagem, conforme afirma Souza (2004, p. 11-12)

(...) entendemos por fotojornalismo a actividade que pode visar informar, contextualizar, oferecer conhecimento, formar, esclarecer ou marcar pontos de vista ("opinar") através da fotografia de acontecimentos e da cobertura de assuntos de interesse jornalístico. Este interesse pode variar de um para outro órgão de comunicação social e não tem necessariamente a ver com os critérios de noticiabilidade dominantes.

Ou seja, a determinação de fotojornalismo não está diretamente ligada aos critérios de noticiabilidade que permeiam o fazer jornalístico, mas segue critérios próprios relacionados aos conceitos de fotografia, juntamente com a ambição de informar. Dessa maneira, o fotojornalismo pode ser considerado como o ato de informar através da fotografia, onde o texto pode aparecer como mera complementação, no sentido contextualizador da mensagem transmitida através da imagem.

O termo fotojornalismo designa tanto a função profissional que é realizada na imprensa quanto o tipo de imagens que esta canaliza. “El fotoperiodismo define en cambio la aplicación de un tipo de documentalismo que depende de un encargo o de unas directrices marcadas por un medio de prensa sobre temas más bien coyunturales y vinculados a valores de información o noticia.” (BAEZA, 2007, p. 45)

É no fotojornalismo que a fotografia pode exibir toda a sua capacidade de transmitir informações. E essas informações podem ser passadas, com beleza, pelo simples enquadramento que o fotógrafo tem a possibilidade de fazer. E

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na verdade o que o fotógrafo muitas vezes faz é transformar uma notícia visualmente agradável ou importante num grande acontecimento. Nada acontece hoje nas comunicações impressas sem o endosso da fotografia. (LIMA, 1989, p. 11)

O surgimento da atividade fotojornalística está diretamente ligado à necessidade de representação imagética da realidade. Dessa forma, ao absorver alguns conceitos da pintura, principalmente quanto ao enquadramento e à iluminação, de forma a criar ambientes agradáveis no que diz respeito à apreciação visual, o ato de fotografar acaba por construir uma representação social da realidade, que proporciona ao homem uma nova forma de apreensão do real. “Desde os primórdios da fotografia as guerras foram campo fecundo para o exercício fotográfico. [...] Como consequência, a estética do trabalho fotojornalístico de alguns fotógrafos passaram a aproximar sua obra com a arte.” (COUTINHO, 2010, p.11). Seguindo esses parâmetros, o fotojornalismo, mais que informar, passa a se utilizar de meios estéticos para atrair o leitor.

Em meados do século XIX, com o crescente interesse pela ideia de veracidade absoluta, transmitido pelo fotojornalismo, começa a surgir o discurso da objetividade fotojornalística, que visava driblar a censura e a manipulação das informações, além de promover maior credibilidade ao trabalho do fotógrafo. Após o final da Primeira Guerra Mundial, com a acentuação da busca por imagens mais nítidas e desvencilhadas da manipulação através da ajuda do objeto (ou pessoa) fotografado, os manuais sobre fotojornalismo começam uma tentativa de desvencilhamento do ofício de fotojornalista com o campo das belas artes.

Em 1895 aparecem no Brasil os primeiros clichês obtidos pela técnica de zincografia5. No ano de 1898, o Jornal do Brasil inicia a publicação de charges através do processo zincográfico, instalando em seguida, oficinas de fotografia e galvanoplastia. Em 1900, surge a Revista da Semana, como suplemento do Jornal do Brasil. Essa revista passa a utilizar fotografias lado a lado com caricaturas, popularizando a imagem fotográfica no Brasil.

Entretanto, uma das principais revoluções tidas no fotojornalismo brasileiro acontece com a revista O Cruzeiro. Lançada em 1928, ela passa a publicar imagens estouradas, além de séries de fotografias quando da cobertura de um determinado fato a

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partir de 1943, momento em que o fotógrafo francês Jean Mazon implanta o conceito de linguagem visual na revista. Em 1952 a revista Manchete era inaugurada, e elege o fotojornalismo como seu ponto forte. A mais antiga revista ilustrada do Paraná surge em 1919 com o nome de “O Itiberê”, na cidade de Paranaguá.

Com o desenvolvimento de novas técnicas para captação e edição de imagens, alguns aspectos da rotina do profissional de fotojornalismo passaram a ser reconfiguradas. (PEIXOTO E JUNIOR, 2006, p.2):

Pode-se citar desde uma preocupação diferenciada com o enquadramento ou a seleção de ângulos mais trabalhados, até a escolha de pautas as quais pudessem cada vez mais se conectar com um conceito que acabara por se desenvolver dentro das redações: o do all news.

Dessa forma, a busca pela informação imagética começa a criar parâmetros próprios, dando início ao que se pode chamar de critérios de noticiabilidade que são característicos ao fazer fotojornalístico. Estes, apesar de não serem os mesmos, mantém certas relações com os critérios de noticiabilidade jornalísticos convencionais, estudados nas academias como princípio básico do jornalismo tradicional. Dentre os critérios fotojornalísticos, pode-se citar a estética, a ação e a relevância informativa da imagem. Além destes, Munhoz (2006) cita a velocidade. Segundo o autor, os leitores buscam na fotografia o registro do momento exato do fato retratado. Essa atitude do fotógrafo, em congelar o momento exato, transfere maior veracidade à informação e fidelidade ao momento retratado, dando a sensação ao leitor de estar presente e ter pleno conhecimento acerca do que está sendo noticiado.

Barthes (1984) afirma que o fotojornalismo é uma mensagem, e como tal é constituída de três partes fundamentais e indispensáveis, sendo elas a fonte emissora, o canal de transmissão e o meio receptor. A fonte transmissora, segundo o autor, seria o fotojornalista, ou a própria redação do meio informativo. O canal de transmissão é o meio pelo qual a fotografia chega ao público (jornal, revista, sites, etc) e o meio receptor é o público leitor. Segundo o autor, além da própria imagem, há outros elementos componentes da mensagem que dão sentido à mesma, sendo por exemplo o título, a legenda, paginação e de maneira menos eloquente, porém tão importante, o nome do jornal.

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O Projeto Fotorreportagem UEPG

No início do ano de 2010, um grupo de alunos do curso de Jornalismo e um professor do Departamento de Jornalismo identificaram uma carência de atividades, tanto de pesquisa científica quanto de extensão universitária, na área de Fotojornalismo. Na percepção desse grupo de pessoas, havia um incentivo maior a outras áreas do jornalismo, enquanto que a fotografia era deixada de lado e tratada apenas como disciplina no primeiro ano.

Notando-se a quantidade de alunos interessados na área, tanto profissionalmente quanto academicamente, surgiu a ideia de montar um Grupo de Estudos em Fotografia, que passou a se reunir semanalmente para discutir temáticas relacionadas à ética no fotojornalismo, aspectos técnicos da fotografia, a profissão de fotojornalista, dentre outros temas, com a orientação do Prof. Dr. Carlos Alberto de Souza (autor deste artigo).

Após algumas reuniões do Grupo de Discussões, ficou claro que havia diversas ideias de atividades possíveis dentro do grupo e identificou-se uma demanda pela institucionalização dessas atividades. Assim, em agosto de 2010 foi institucionalizado junto à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais da Universidade Estadual de Ponta Grossa o Projeto de Extensão “Fotorreportagem UEPG”.

Vale ressaltar que do mesmo Grupo de Discussões surgiu também a Linha de Pesquisa em Fotojornalismo, Imagem e Tecnologia, que já teve institucionalizadas 11 pesquisas de Iniciação Científica, 3 das quais se tornaram Trabalhos de Conclusão de Curso, além de 2 projetos de Mestrado em Jornalismo.

O projeto Fotorreportagem UEPG, que passou a ser conhecido por “Foca Foto”, realiza atividades diversas. Há a produção de fotorreportagens, integrada à disciplina de Fotojornalismo, com os alunos do 1º ano do curso. Os alunos extensionistas produzem fotografias para as exposições do projeto (de agosto de 2010 a abril de 2013, foram realizadas 9 exposições fotográficas, sempre com o intuito de aliar o fotojornalismo à fotografia artística) e para as seções “Destaque” e “Antes e Depois”. “Destaque” preve a escolha de duas fotografias consideradas por uma comissão avaliadora como as melhores da semana, conferindo aos fotógrafos pontuações cumulativas que serão convertidas em prêmios no final do ano. A atividade “Antes e Depois” consiste na

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reprodução de fotos antigas de locais da cidade de Ponta Grossa, colocando em contraponto as fotografias originais com fotografias produzidas pelos estudantes de jornalismo no mesmo local, com o enquadramento e angulação o mais próximo possível do original. Além disso, o projeto promove palestras e debates com profissionais da área (tanto fotógrafos quanto fotojornalistas) e viagens para a produção fotográfica.

O grupo tem como atividade também o resgate da história da fotografia e do fotojornalismo em Ponta Grossa. Essa produção teve início em 2011 como uma série de reportagens e passou a ter maior abrangência, transformando-se em um esforço de pesquisa e levantamento de dados. Os alunos envolvidos no projeto realizam entrevistas com fotógrafos que têm envolvimento com a história da fotografia na região, para posterior análise dos dados coletados e sistematização das informações.

A proposta é recuperar a trajetória da fotografia na cidade por meio da história oral, considerando que os depoimentos de fotógrafos e empresários da área podem trazer uma valiosa contribuição para a memória da profissão, identificando pioneirismos, mudanças técnicas e motivações para a profissionalização da fotografia.

Além de obter dados e informações quanto à história da fotografia, os alunos extensionistas são orientados a tentar encontrar mais contatos para futuras entrevistas, ampliando assim a abrangência e pluralidade dos dados.

Até o presente momento, foram coletados dados que têm ligação com a história da fotografia em Ponta Grossa. A ideia, além da ampliação esses dados, é reunir informações sobre o surgimento e desenvolvimento do fotojornalismo na região. A linha de pesquisa “Fotojornalismo, Imagem e Tecnologia” tem institucionalizadas duas pesquisas científicas que fazem esse esforço de resgate. Uma dessas pesquisas é um projeto de Mestrado em Jornalismo, da aluna Andressa Kaliberda (co-autora desse artigo), que objetiva analisar as mudanças tecnológicas na trajetória histórica do fotojornalismo de dois jornais do Paraná: a Gazeta do Povo, jornal de circulação estadual, e o Diário dos Campos, que circula na região dos Campos Gerais. Também há uma pesquisa voluntária de Iniciação Científica que tem o intuito de verificar como se deu essa trajetória no Jornal da Manhã, que também circula nos Campos Gerais.

Mesmo estando ainda em processo de coleta de dados, já se pode apreender importantes aspectos da história da fotografia, como as dificuldades de se fotografar nos

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primórdios da profissão.

Os primeiros fotógrafos de Ponta Grossa tinham que fabricar as próprias chapas e as máquinas de revelação. ‘Tinha um fotógrafo aqui no Centro de

Ponta Grossa, por volta dos anos 30, que produzia suas próprias chapas, sem as quais era impossível fixar a imagem. No escuro, ele preparava a emulsão sensível a luz, que era aplicada com pincel em cima do vidro. As chapas depois de utilizadas eram reaproveitadas. Eu devia ter uns 12 anos nesta época’, conta Carlos Jendreieck. (FOCA FOTO, 2011)

Percebe-se também na fala dos entrevistados que houve resistência à transição da fotografia analógica para a fotografia digital. Vários profissionais afirmam que sentiram medo das possibilidades geradas pela nova tecnologia e relutaram em mudar seus equipamentos. O fotógrafo Domingos Silva Souza conta que “Foi uma revolução muito rápida, foi um verdadeiro furacão. Ou entrava na digital ou ia para casa. Todo mundo teve que se adaptar.” (FOCA FOTO, 2011)

A máquina digital e a popularização da fotografia transformaram definitivamente a profissão e o ato de fotografar. Seu Koch nunca usou equipamento digital e parece não ter interesse. Lembra de sua primeira máquina e das outras que vieram depois. (FOCA FOTO, 2012)

Outros dados relevantes a serem analisados têm relação com a percepção dos profissionais da área quanto à mudança de comportamento dos próprios fotógrafos com a evolução da tecnologia e barateamento dos equipamentos.

Houve uma grande mudança, conta Jendreieck . Hoje já não existem mais fotoclubes. Em fotografia as pessoas estão cada vez mais isoladas, trabalhando sozinhas. O clima é de competição. ‘Hoje quase não existe

união, cada um cuida de seus negócios.’ (FOCA FOTO, 2011)

Algumas informações preliminares sobre a história do fotojornalismo podem ser encontradas em fragmentos das entrevistas já realizadas, como o relato do fotógrafo Germano Koch:

Koch conta que as atividades de fotografia nos jornais da cidade eram realizadas por profissionais de empresas fotográficas. Os jornais, quando precisavam, contratavam o fotógrafo para um determinado serviço. ‘Trabalhei por um tempo para o Jornal Última Hora. Tirava as fotos e

entregava o filme, não era propriamente fotógrafo do veículo. Quem mais fazia isso, 90%, era o pessoal do Foto Weiss. Lembro de alguns fotógrafos que trabalharam nos jornais. Ernesto Koch, meu irmão, trabalhou no Diário dos Campos por alguns meses. Ele tinha até laboratório dentro do jornal. Também me lembro de Dário Rodrigues, que há cinquenta anos cobria as pautas para o Jornal da Manhã’ (FOCA FOTO, 2012)

Dentre as atividades futuras de coleta de dados, também está prevista uma pesquisa e análise do acervo de fotografias e jornais da Casa da Memória de Ponta

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Grossa. Vale ressaltar que nesse acervo encontram-se cerca de 45.000 negativos em chapa de vidro e celulose rígida do Foto Bianchi, uma das renomadas empresas antigas de fotografia na região. Espera-se que a análise desse tipo de acervo possa também contribuir para a compreensão da história da fotografia.

Considerações Finais

Quando se produz conhecimento sobre a trajetória histórica da fotografia e do fotojornalismo, se afeta também o modo de pensar a sociedade em todo o período afetado por essas práticas. Dessa forma, na medida em que traz à tona um esforço de resgate da memória de uma profissão, o projeto de extensão Fotorreportagem UEPG presta um importante serviço à cidade de Ponta Grossa.

Há poucas iniciativas de resgate da memória dessas duas atividades na região dos Campos Gerais. Percebe-se uma dificuldade em encontrar os atores sociais envolvidos nessa história, até pelo ineditismo da pesquisa e por alguns desses atores já haverem falecido.

Como a história da fotografia é bastante marcada por protagonistas, a escolha das entrevistas como técnica de coleta de dados se mostra oportuna, na medida em que permite que sejam analisadas também as percepções pessoais dos profissionais diretamente envolvidos com essa história.

O projeto ainda está em progresso, portanto ainda há lacunas nos dados e pouco se produziu sobre a história do fotojornalismo na região. No entanto, a colaboração com a linha de pesquisa científica ‘Fotojornalismo, Imagem e Tecnologia’ proporciona uma oportunidade de preencher essas lacunas, além de imprimir maior profundidade ao debate gerado pelo esforço de pesquisa.

Dessa forma, espera-se que o projeto possa produzir conhecimentos e contribuir para a compreensão das atividades da fotografia e do fotojornalismo em Ponta Grossa, por meio de um resgate histórico que ainda não foi feito em profundidade e que é, portanto, oportuno para os estudos na área.

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Referências

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Referências

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