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Interpretação Geohistórica do Movimento Zapatista

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Academic year: 2021

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Débora Cristina Monteiro, Felippe Rodrigo Souza Silva Instituto de Geociências – UFF deboracrissouza@gmail.com, flpp.rdg@gmail.com

Interpretação Geohistórica do Movimento Zapatista

INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

O presente artigo propõe-se a introduzir uma leitura geohistórica de alguns marcantes aspectos do Zapatismo, um dos movimentos antiglobalização de maior notoriedade no tempo-espaço contemporâneo.

Com sua base, sobretudo, indígeno-campesina, o Zapatismo apresenta-se ao mundo nos levantes de 1º de janeiro de 1994 comandados pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) em diversos municípios de Chiapas, estado que concentra os maiores índices de desigualdade, miséria e precariedade sociais do país – mesma data na qual entrou em vigor o Tratado Norte-americano de Livre Comércio (NAFTA), inimigo declarado do movimento.

Para entendermos a originalidade do Zapatismo frente à multiplicidade das perspectivas de luta por uma sociedade mais justa e humanitária, bem como o seu significado político no contexto latino-americano das cada vez mais hegemônicas e avassaladoras medidas neoliberais; uma análise articulada de sua evolução no tempo e no espaço, ainda que de caráter introdutório, torna-se fundamental. Este será o objetivo do artigo a ser apresentado, que a partir da base conceitual das escalas de análise e classificações espaço-temporais oferecida por Fernand Braudel e Christian Grataloup, pautar-se-á em torno da questão central de como se deu a expansão territorial do Movimento Zapatista em seu histórico de lutas, fundamental para a própria explicação de como ele se encontra hoje territorialmente organizado.

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Para o alcance de tais objetivos foi realizada uma pesquisa preliminar, durante os últimos dez meses, na qual foram levantadas informações da mídia (noticiários, revistas e documentários) e, sobretudo, representativas fontes da literatura científica nacional e internacional diretamente relacionadas ao assunto. Esses dados e informações foram posteriormente reunidos e sistematizados em função da questão central que aqui destacamos e da operacionalização da categoria analítica que ora consideramos ser a mais adequada para o alcance de nossos objetivos: o território, entendido como um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder (SOUZA, 2007:78), configurando-se, dessa forma, como a diferenciada manifestação espacial dessas relações sobre a superfície da Terra e representando, portanto, a própria dimensão política do espaço geográfico.

Tais procedimentos possibilitaram uma primeira tentativa de periodização geohistórica do Movimento Zapatista, que será detalhada a seguir.

EVOLUÇÃO GEOHISTÓRICA DO ZAPATISMO

1. Discussão teórico-conceitual: uma breve introdução

Não há como falarmos de geohistória sem reportarmo-nos, antes de tudo, ao historiador Fernand Braudel, ainda hoje seu maior teorizador, sendo por isso, um dos maiores contribuidores para um diálogo mais profícuo entre geógrafos e historiadores.

A tipologia de durações temporais por ele sintetizada já na introdução de O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II (1983), uma de suas obras-primas, oferece um excelente ponto de partida para a análise aqui pretendida. Aí ele estabelece três formas básicas de “tempos”, correspondentes a histórias com durações e ritmos – e, poderíamos acrescentar, até certo ponto extensões/organizações espaciais – peculiares: o tempo “geográfico”, de longa duração, correspondente a uma história “quase fora do tempo” das relações das sociedades com o meio físico, sendo portanto uma “história do meio” de ritmo muitíssimo lento, quase imóvel; o tempo social, de média duração, relativo a uma história social das mudanças de conjuntura dos agrupamentos humanos e suas mudanças de conjuntura econômicas, políticas e civilizacionais; e, por fim, o tempo individual, este de curta duração, referente aos breves acontecimentos e vivências cotidianas

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– tempo superficial, ultra-sensível e, por isso mesmo, perigoso a uma analise histórica pouco apurada dos fatos, privilegiado pela História tradicional, e retratado nos noticiários diários.

Como se tornará evidente nos apontamentos que faremos a seguir, a média duração é, das três, a mais apropriada para a apreensão dos ritmos pelos quais se deu o desenvolvimento histórico do movimento zapatista. É partir dela, portanto, que procuraremos articular os momentos capitais da evolução histórica do zapatismo às amplitudes geográficas que neles tenham se mostrado como as mais preponderantes.

Essa busca pela definição das escalas temporais e espaciais mais essenciais a cada período/lugar da geohistória zapatista, bem como pelas formas mais apropriadas de sua articulação, será aqui uma preocupação constante, atendendo-se assim ao princípio norteador apontado por Grataloup (2006:39), segundo o qual para qualquer tipo de periodização é necessário dizer a que local ela se aplica, da mesma forma que para toda delimitação de uma área também é necessário precisar quais são seus marcos cronológicos, não havendo, dessa forma, uma era sem área e vice-versa. Logo toda periodização implica uma regionalização, sendo a recíproca igualmente verdadeira.

2. Quadro geográfico e socioeconômico de Chiapas

Pretende-se aqui traçar brevemente um quadro descritivo do estado de Chiapas, em alguns de seus mais elementares aspectos geográficos (socioeconômicos, políticos e mesmo físicos) de maior relevância para o entendimento da evolução geohistórica do Zapatismo.

Berço do EZLN e palco principal de sua luta guerrilheira pela terra e pela justiça social, Chiapas é uma das 32 entidades federativas do México, situando-se no extremo sudoeste deste país e tendo como capital a cidade de Tuxtla Gutiérrez. Limita-se a norte com os estados de Tobasco, Oaxaca e Veracruz; a oeste com o Oceano Pacífico e a leste e sul com a Guatemala (fig. 1). Sua superfície de 74.211 km² é habitada

Figura 1 – Localização do estado de Chiapas no território nacional do México. Fonte: www.pickatrail.com

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por cerca de 3.600.000 de pessoas, das quais um milhão são indígenas (GENNARI, 2002:15). Ao todo, oito etnias indígenas marcam presença no estado (fig. 3).

Seu relevo, de topografia fortemente acidentada, apresenta sete regiões fisiográficas mais ou menos bem definidas: a Planície Costeira do Pacífico, a Sierra Madre de Chiapas, a Depressão central, o Bloco Central, a Planície aluvial do Norte, as Montanhas do Norte e as Montanhas do Oriente (fig. 2). Estas duas últimas são de todas elas, as que merecem atenção mais especial, pois, como veremos posteriormente, se converterão em situações geográficas altamente estratégicas para as instalações do EZLN, dadas as suas condições ambientais altamente inóspitas e de baixa acessibilidade, facilitadas pela sua elevada altitude (que em muitos pontos ultrapassa 2000m) e pela presença, na mesma região, da Selva de Lacandona, com sua vegetação tropical do tipo ombrófila densa, refúgio permanente dos zapatistas (fig. 2).

Figura 2 – Mapa fisiográfico do estado de Chiapas com destaque para a região da Selva de Lacandona. Fonte: www.vmapas.com (com

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Segundo Gennari (2002), A região de Chiapas é bastante rica em recursos naturais e de grande potencialidade econômica: o estado é responsável por cerca de 82% da planta petroquímica do México e suas hidrelétricas produzem cerca de 20% da energia do país, enquanto apenas a terça parte das casas chiapanecas possuem energia elétrica (a maioria das demais não possui sequer um lampião a gás). É o maior produtor nacional de milho, detendo ainda 35% da produção nacional de café. Suas florestas são exploradas pelo extrativismo de madeiras nobres. Seu espaço agrário é estruturalmente marcado pela presença histórica do latifúndio: suas fazendas contam com cerca de

3 milhões de cabeças de gado, mas, apesar do

peso da produção agropecuária chiapaneca na economia mexicana, 54 em cada 100 moradores do estado estão desnutridos, chegando estes índices de desnutrição ao altíssimo patamar de 80% da população residente nas regiões de montanha e de selva.

Ainda segundo este autor, o turismo que se desenvolve em torno das pirâmides astecas e das construções dos antigos maias é outra importante atividade econômica do estado. Para atender a estas demandas turísticas, Chiapas conta com uma média de sete quartos de hotel para cada 1000 turistas, ao mesmo tempo em que possui apenas 0,3 leitos de hospital para cada 1000 habitantes e um centro cirúrgico para cada 100 mil chiapanecos. Toda essa situação de extrema miséria e ausência de assistência governamental secularmente vivenciadas pela maior parte da população chiapaneca possibilita a alarmante estatística de uma morte a cada 35 minutos.

Os índices educacionais do estado são igualmente precários. De cada 100 crianças que freqüentam o ensino primário, 72 não terminam a primeira série. Mais da metade das escolas não oferecem nada além da terceira série e somente metade tem um professor para cada curso que é oferecido. Em 1989, das 16.058 salas de aula, somente 1096 estavam em zonas indígenas (EZLN, 1992 apud GENNARI, 2002).

Figura 3 – presença de etnias indígenas de origem maia e asteca nos municípios do estado de Chiapas. Fonte: www.rehberg.net/nonviolentways/mapa

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Estes são apenas alguns dos lamentáveis aspectos socioeconômicos de Chiapas, estruturalmente firmados em sua história. Uma história de intensa luta e resistência indígena e campesina em séculos de colonialismo espanhol. A visão mais precisa dessa elementar situação geográfica de Chiapas no contexto de seu país, obtida pelo quadro geográfico descritivo que acaba de ser apresentado, servirá de subsídio à análise geohistórica do Zapatismo propriamente dita que iniciaremos a seguir. É num quadro geográfico não muito diferente deste de hoje, de extrema desigualdade e precariedade sociais, que o EZLN surgirá e se afirmará enquanto movimento político latino-americano de lutas por condições mais dignas de vida e trabalho.

3. O Zapatismo e sua geohistória

Os marcos e trajetórias históricas fundamentais da atividade política Zapatista, em sua localização, expansão e articulação no espaço, podem ser analisadas em três etapas evolutivas, tomando-se o levante de 1º de janeiro de 1994 como o acontecimento central, o “período-pólo” do desenvolvimento geohistórico do movimento, as quais chamaremos aqui de “fase pré-1994”, o próprio levante de 1994 e a “fase pós-1994”. Cada uma destas etapas, em si mesmas bastante intensas e de grande complexidade, correspondem a contextos de (re)ordenamento espacial bastante peculiares, que por sua vez, cumpriram também papel decisivo nesta dinâmica histórico-geográfica. Estas fases geohistóricas serão mais detalhadamente analisadas a seguir na escala dos tempos médios em suas transformações conjunturais. A perspectiva de leitura é a do acompanhamento do “desenho animado que o arranjo espacial experimenta a cada vez que se alteram as formas sociais que o engendram” (MOREIRA, 1990:9), visando-se “estudar as relações de força que o geram e através dele se manifestam” (idem).

3.1 Fase Pré-1994

Como veremos mais adiante, o levante zapatista de 1º de janeiro de 1994, foi fruto de uma decisão coletiva dos zapatistas, num período em que o movimento, que o mundo até então não conhecia, encontrava-se já bastante amadurecido politicamente, contando uma década de história. Muito se conhece até hoje sobre esse marco histórico do Zapatismo e

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suas posteriores repercussões políticas de maior importância, porém, pouco se sabe sobre essa tão importante e tão densa geohistoricamente fase inicial, na qual o movimento deu seus primeiros e decisivos passos. Em vista disso, os relatos concedidos pelo Subcomandante Marcos, o porta-voz e comandante do EZLN, em diversas entrevistas e comunicados, tem sido até então a principal fonte de pesquisa para aqueles que pretendem melhor compreender o que aqui estamos chamando de “fase pré-1994” do Zapatismo.

Com base nestes relatos, Gennari (2002) nos explica que o grupo incipiente que dará origem ao EZLN, é dissidente da geração dos movimentos e das manifestações de protesto, marcadamente estudantis, que estouram no México (e no mundo) em fins da década de 1960. As primeiras lideranças que irão compor essa formação embrionária do movimento zapatista chegam a Chiapas em meados da década de 1970, após um período de intensa e violenta repressão policial a estes movimentos em todo o país. O grupo inicial é, portanto, essencialmente urbano e fortemente influenciado pelas doutrinas do Marxismo-leninismo, fato confirmado pelo próprio Subcomandante Marcos: “Na prática, o primeiro elemento é uma organização político-militar marxista-leninista, muito parecida em suas escolhas operacionais aos movimentos guerrilheiros de libertação nacional da América do Sul e da América Central. De acordo com esta organização, não é mais possível contrapor-se ao poder constituído através de meios pacíficos: é necessário enfrentá-lo através de uma guerra popular, derrotá-lo e, em seguida, criar um governo que trabalhe na construção do socialismo, da ditadura do proletariado, do comunismo e assim por diante. No fundo, seu objetivo é um tipo de guerrilha parecida com aquela típica do foco, ou núcleo guerrilheiro: criar consciência através da propaganda armada e induzir outros grupos a escolher a luta armada, para chegar, em seguida, a uma guerra popular.” (LE BOT, 1997 apud GENNARI, 2002)

Marcos afirma que, neste momento inicial, o grupo é formado por um movimento indígena com duas componentes básicas: de um lado, o movimento indígena armado da selva, muito isolado, e, do outro, uma pequena elite formada por uma dezena de intelectuais orgânicos – trata-se de indígenas politizados com grande capacidade organizativa, uma ampla experiência política em Chiapas e uma bastante firmada consciência nacional, à perspectiva de, nas palavras do próprio Marcos, a longo prazo, não permanecerem, ou de não serem somente indígenas. Ao tomarem consciência e concordarem que a luta armada apresentava-se como a única alternativa para os problemas da terra, das condições de vida e

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dos direitos políticos, estes dois pequenos grupos incipientes, o grupo militar e a elite indígena, entram em contato, articulam-se e passam a trabalhar a idéia da necessidade de começar a construir, não apenas um grupo de guerrilheiros, mas um exército regular.

É assim que, em novembro de 1983, o grupo funda o Exército Zapatista de Libertação Nacional, o EZLN, decidindo-se estabelecer nas regiões montanhosas da Selva de Lacandona, onde nem o governo, nem as guadias blancas possuíam interesse em acessar. Tem início então uma difícil fase de isolamento e adaptação do grupo às inóspitas condições ambientais da selva e da montanha, que se estende até 1985 aproximadamente. O Subcomandante Marcos chega à selva e integra-se ao EZLN nesta época, em meados de 1984, quando a rede que garantia as provisões do grupo era clandestina e vinha ainda da cidade até aos acampamentos.

Apesar da marcante influência da tradição marxista-leninista num primeiro momento, nesses primeiros anos da década de 1980 o grupo inicial passa por algumas mudanças tanto em seu ideário como do ponto de vista dos seus métodos de ação, possibilitando definir certos pressupostos político-militares, que se consolidarão posteriormente como diretrizes políticas básicas do movimento. Em primeiro lugar, a derrocada das manifestações estudantis da década de 1960, forçou o grupo a repensar os pressupostos básicos de sua atividade política, o que, segundo Marcos, os levou a contemplar uma nova possibilidade: a formação de um grupo armado, não para começar uma guerra, mas sim para poder intervir quando do estouro das lutas, para sair em campo aberto no momento certo; um exército de libertação que acumularia forças em silêncio, sem ações públicas, de modo a prestar auxílios político-militares quando a revolução social de caráter nacional tornar-se iminente, sem jamais esquecer que esta revolução será obra das próprias camadas populares mexicanas, jamais por ou a partir de um grupo político isolado.

Esse ideário político ainda marcadamente marxista, embora já inicialmente repensado, começa a ser divulgado nos primeiros contatos estabelecidos com as comunidades indígenas tzeltal, tzotzil, chol e tojolabal, mais próximas à região montanhosa e de selva onde o grupo se manteve por cerca de cinco anos. Marcos ressalta que para os indígenas essa vinculação do grupo com a montanha “é muito importante porque a montanha é um território onde nem eles ousam adentrar-se, a não ser para caçar e onde permanecem o menos possível. Ninguém fica para dormir, por medo do perigo, mas sobretudo por causa de tudo aquilo que a noite e a

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montanha representam para a tradição cultural indígena” (LE BOT, 1997 apud GENNARI, 2002).

Segundo Marcos, dois elementos indígenas, um interior e outro exterior ao movimento, desempenharam papel importantíssimo nesses primeiros diálogos do EZLN com as comunidades indígenas estabelecidos entre 1985 e 1987: a elite indígena politizada e, principalmente, a figura indígena a qual os zapatistas se referem freqüentemente como “Velho Antônio”, “homem de idade, que pode parecer uma personagem literária, mas que existiu realmente” tornando-se “o laço com as comunidades, com o mundo delas, com a sua componente mais indígena” (idem). Ambos passam a ser assim os principais intermediários, os tradutores desses contatos iniciais, amenizando as dificuldades colocadas pelas barreiras da língua e de outros aspectos culturais.

Foram estas dificuldades que fizeram com que o EZLN, que a partir de então passar a ter gradualmente uma maior incorporação indígena, percebesse a realidade sócio-cultural completamente nova com que estava lidando, a indígeno-campesina, e, logo, sua incapacidade de compreendê-la eficientemente dentro das leituras marxistas mais ortodoxas de referência fortemente urbano-industrial, segundo as quais o operariado urbano é a classe revolucionária por excelência, sendo o camponês e, ainda mais, o indígena (categoria pouco considerada pela tradição marxista) classes incapazes de ocupar uma posição de liderança no processo revolucionário. Colocava-se assim uma necessidade capital para a própria sobrevivência do movimento: a de deixar de ver-se como uma espécie de “vanguarda revolucionária” detentora de um “modelo universal” de revolução, e se dispor a aprender com os indígenas e sua histórica experiência política de resistência.

Assumindo essa posição de “aluno diante dos mestres”, o EZLN estabelece essa fase inicial dos contatos com os grupos indígenas, regida por um esquema de “troca de favores” acelerado pela repressão dos latifundiários e suas guardias blancas às comunidades que à época começavam a se intensificar: as lideranças indígenas ofereciam suprimentos alimentares ao EZLN e, em troca, este lhes oferecia treinamento e instrução militar para defenderem-se das milícias latifundiárias. As famílias indígenas resolvem mandar os seus filhos para a montanha para que se tornem guerrilheiros, ampliando assim o exército e ao mesmo tempo, conferindo-lhe uma componente indígena mais consistente. É o início de um longo processo de transformação do EZLN, de exército de uma vanguarda revolucionária em exército das

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comunidades indígenas, isto é, numa das formas de luta de um movimento indígena mais amplo. No momento em que o EZLN se adéqua às comunidades, ele se torna uma das várias formas de resistência, é contagiado pelos indígenas e se submete às comunidades.

Os contatos entre o grupo armado e as comunidades indígenas, ainda esporádicos até 1987, se tornam a partir de então cada vez mais estreitos. Entre os anos de 1987 e 1991 o processo de incorporação indígena do EZLN se amadurece e se amplia, acelerando-se, sobretudo, no biênio 1989-1990, quando a violência das guardias blancas e do próprio exército governamental às comunidades se intensifica de forma avassaladora. O contexto de grande indignação social aí gerado é agravado pelas fraudes nas eleições nacionais e pela proliferação de epidemias que atingiram em cheio as crianças indígenas desnutridas. Firma-se assim a base indígeno-campesina do movimento zapatista e os indígenas assumem a própria direção do EZLN, que de poucas centenas chega rapidamente à casa dos milhares de combatentes em apenas dois anos.

Com a alteração do Governo Salinas ao artigo 27 da Constituição Federal Mexicana, exigida pelos acordos feitos para a inserção do México no Nafta, as agressões aos direitos indígenas tornam-se insustentáveis. O artigo 27 garantia o direito indígena à propriedade coletiva dos ejidos, uma forma de reforma agrária parcial, que apesar de burguesa e extremamente precária, representa a principal conquista da Revolução Mexicana de 1910. Sua alteração transformou todas as terras, inclusive as indígenas, em mercadoria que agora poderia ser vendida ou comprada. Ao incentivar o livre mercado da propriedade rural, com prejuízo aos pequenos lavradores, que sem infraestrutura e incentivos econômicos, encontravam em absoluta desvantagem no mercado agrícola; a reforma favoreceu ainda mais o fortalecimento de uma estrutura agrícola fundada no latifúndio, principal inimigo da revolução de Emiliano Zapata, intensificando-se assim os conflitos no campo (SIMONETTI, 2007:127).

Diante da ausência de alternativas pacíficas frente a um governo cada vez mais opressor, os indígenas decidem, mediante a consulta de todas as comunidades, pela luta armada e o levante de 1994, numa decisão quase unânime.

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A decisão das comunidades indígenas pelo levante armado exigiu uma grande capacidade de organização e mesmo redefinição tática, estratégica e logística do EZLN, que até o momento não havia ainda vivido a experiência efetiva da guerra e tampouco imaginado um dia ser o iniciador da mesma. Como vimos, a guerra sempre havia sido entendida, na concepção original do movimento, como um processo a ser iniciado por amplos setores populares da sociedade, o qual o EZLN deveria apenas apoiar militarmente. Supondo as possíveis agressões das tropas do governo após a ofensiva zapatista, o EZLN preparou um esquema militar defensivo, que abrangia todos os vales da Selva Lacandona e os pontos mais importantes da Região de Los Altos, área onde possuía o grosso de suas tropas e, por isso, maior domínio e controle territorial.

Chega assim o 1º de janeiro de 1994 e o aparecimento político do Movimento Zapatista ao mundo. Milhares de homens e mulheres armados, com o rosto coberto, ocuparam, durante a madrugada, 16 municípios de Chiapas. Na cidade de San Cristobal de Las Casas, segunda maior do estado, tomaram a sede do governo local, anunciando serem membros do Exército Zapatista de Libertação Nacional (SIMONETTI, 2007:126). De lá os zapatistas anunciaram a Declaración de la Selva Lacandona, declaração de guerra ao governo e ao exército mexicano, transmitida por rádio, através de uma emissora também ocupada na cidade de Ocosingo. Nela foram explicitadas as causas que levaram os camponeses indígenas a se rebelarem em armas e as suas demandas básicas, resumidas em onze pontos essenciais: casa, terra, trabalho, alimentação, saúde, educação, independência, democracia, liberdade e justiça, indispensáveis para promoção da paz. Segundo o Subcomandante Marcos, a Declaración de la Selva Lacandona representou um papel crucial neste momento em que o Zapatismo se apresenta ao mundo, por ser fruto de uma confluência de perspectivas políticas socialistas no interior do movimento, desde o marxismo mais próximo do trotskismo até a social democracia, passando ainda pelas que estavam mais perto de Marxismo de Lênin e Gramsci. Sua elaboração permitiu articular essas diferentes idéias, evidenciando que as propostas que dizem respeito ao mundo, ao sistema colonial e ao regime de Partido de Estado, devem ser discutidas com toda a sociedade, jamais impostas pelas armas: “Não se trata de derrubar o regime e de impor pelas armas o socialismo, a ditadura do proletariado, ou sabe-se lá o quê; em lugar disso, é necessário que estas idéias ou outras, possam confrontar-se num novo espaço político que, por enquanto,

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não pode existir devido ao sistema de Partido de Estado.” (LE BOT, 1997 apud GENNARI, 2002).

Percebe-se, assim, que apesar dos indígenas serem majoritários no interior do EZLN, as questões levantadas em sua atuação afirmam-se como demandas de âmbito nacional e não local. Reivindicações das minorias oprimidas como um todo, em toda a sua multiplicidade, não apenas dos camponeses e indígenas. Neste sentido, os conceitos de nação e de pátria passam a desempenhar um papel altamente estratégico no ideário zapatista.

O levante foi seguido pela imediata e violenta repressão militar das tropas do governo federal às instalações do EZLN. Todo esse conflito teve larga divulgação na mídia a nível mundial. A repressão militar ao EZLN repercutiu de maneira muito negativa nas comunidades nacional e internacional, que logo reprovaram a atitude do Governo Salinas de Gortari, forçando o mesmo a estabelecer relações mais pacíficas com o movimento indígena. Após 12 dias de combate entre zapatistas e o exército federal, foi assinado no dia 27 de janeiro um cessar fogo, dando início a um processo de negociação voltado para a discussão mais ampla sobre a reforma agrária, os direitos indígenas e as demandas sociais.

Após o choque inicial do combate e principalmente após o plebiscito mostrando que a opinião do povo mexicano era a favor do cessar fogo, o EZLN, sem nunca abandonar a sua atividade político-militar, começou a apresentar uma forma de combate totalmente diferente. Apoiado no folclore indígena reelaborado pelas palavras do Subcomandante Marcos, o EZLN começou a utilizar de uma arma até então nova para os guerrilheiros: a mídia (JUNIOR, 2005). A ampla repercussão que o levante armado zapatista teve na mídia fez o movimento perceber o papel que as novas tecnologias de comunicação em massa, especialmente a internet, poderiam cumprir como instrumentos para a divulgação ideológica do movimento e para o próprio diálogo com a sociedade em âmbito nacional e internacional.

Neste período o número de comunicados zapatistas aumentou vertiginosamente e o mundo todo começou a conhecer a vertente literária do subcomandante Marcos, pela poética de seus textos, suas citações, sua “tradução” do mundo indígena com seus mitos e sua cultura ancestral. Um grande contingente de jornalistas começou a ter acesso ao território controlado pelo EZLN, e a partir deste momento pôde-se ter um maior conhecimento acerca da vida nas comunidades da selva, sendo feitas as primeiras entrevistas com o Subcomandante Marcos e com outros representantes da comandância indígena (JUNIOR, 2005).

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3.3 Fase pós-1994

Os anos posteriores ao marco histórico mais importante do Movimento Zapatista foram marcados pelo total desrespeito por parte do governo mexicano aos acordos de paz inicialmente firmados e aos direitos humanos nos territórios zapatistas. Sua repressão ao Zapatismo permaneceu, seja pela ação direta de suas tropas, seja pela via indireta do financiamento de guardias blancas e de outros grupos paramilitares clandestinos locais.

Mas esta foi também a fase na qual o movimento conquistou dois notáveis avanços de grande importância para sua organização política e divulgação internacional: o aperfeiçoamento do uso da mídia e da grande rede visando à ampliação dos diálogos com a sociedade civil mexicana e internacional por um lado, e a criação de seus municípios autônomos locais, por outro.

A partir de 1994 começam a serem criados os chamados municípios autônomos zapatistas que se sobrepõem às delimitações municipais oficiais e são regidos por sistemas político-administrativos próprios. Neles há moradias, escolas, hospitais, oficinas de trabalho, marcenarias, terras cultivadas, gestados coletivamente em torno de uma “economia de guerra”, isto é, com uma estrutura adaptada às situações de conflito militar, geralmente freqüentes. Os municípios autônomos articularam-se politicamente por duas formas sucessivas de auto-gestão político-administrativa: primeiramente pelo modelo das “Aguascalientes” e, em seguida, pelo sistema dos “caracoles” e suas “juntas do buen gobierno”.

As “Aguascalientes” representaram uma primeira experiência mais ampla e articulada de organização político-administrativa dos municípios autônomos partindo-se de sua base territorial. Elas surgem a partir da necessidade de receber grandes contingentes de pessoas em encontros e conferências nacionais e internacionais realizadas pelo movimento, a exemplo da Convenção Nacional Democrática, realizada em 1994 e o Primeiro Encontro pela Humanidade e Contra o Neoliberalismo, em 1996, ambos realizados na região da Selva de Lacandona, o primeiro com a participação de 6 mil pessoas e o segundo com 5 mil participantes de 40 países. A denominação se deu em alusão à Convenção Nacional Revolucionária que se realizou no estado de Aguascalientes, na qual foram recebidas as forças insurgentes durante a revolução mexicana (SOTO, 2003:2). Ao todo chegaram a ser formadas 5 sedes de “Aguascalientes” (fig. 4).

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Os “caracoles”, por sua vez, entraram em vigor a partir de 2003, após a decisão coletiva dos zapatistas pela extinção do regime das “Aguascalientes”. É basicamente uma nova forma de regionalização político-administrativa dos municípios autônomos em unidades de governança, desta vez não tão voltada para os eventos internacionais promovidos pelo movimento, sendo mais centrada em torno da própria estruturação interna dos municípios.

Os 27 munícipios são organizados em 5 caracóis, os quais possuem, cada um, uma “Junta do Bom Governo” (fig. 5). Estas juntas, que são eleitas em assembléia, tem um mandato de 10 dias em média para não correr o risco de que um coletivo fique acomodado com determinada direção política. A opção pela denominação se deve ao significado de espírito coletivista que os antepassados indígenas conferiam a figura do caracol.

4. Observações finais

Com a exposição detalhada do histórico do Movimento Zapatista na perspectiva de suas mais relevantes repercussões territoriais, que acaba de ser apresentada, podemos perceber como a dinâmica inerente ao seu desenvolvimento enquanto movimento político revolucionário foi variável e complexa no tempo e no espaço. Sempre na escala mais ou menos regular das durações médias, percebemos o quanto as transformações de conjuntura pelas quais o movimento passou inseriram-se em amplitudes espaciais as mais variáveis, dúbias e múltiplas, conforme as fases geohistóricas que ora destacamos (tabela 1).

Figura 4 – Localização das Aguascalientes nos territórios zapatistas. Fonte:

www.nodo50.org/pchiapas/mapas.htm

Figura 5 – Localização dos Caracoles e seus respectivos agrupamentos de municípios autônomos. Fonte: www.nodo50.org/pchiapas/mapas.htm

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Movimento Zapatista “Fase” geohistórica Durações médias (de 2 a 4 anos) Principais transformações/ características Amplitude espacial “Pré – levante de 1994” 1983 – 1985 Fundação do EZLN; Isolamento inicial do foco guerrilheiro na selva. Local 1985 – 1987 Primeiros contados do grupo guerrilheiro inicial

com as comunidades indígenas mais próximas

(ainda esporádicos) Local (embora um pouco maior) 1987 – 1991 Os contatos do grupo armado com as comunidades se estreitam; o ideário zapatista é em grande parte reformulado pelo

aprendizado com a experiência política das

lideranças indígenas; O EZLN se multiplica, chegando a milhares de combatentes; sua influência amadurece e se amplia. “regional” (grande parte da região

das Montanhas Orientais e do Norte Chiapanecas) 1991 – 1993 A incorporação indígena do EZLN se consolida; os indígenas assumem o comando do EZLN e decidem democraticamente pelo levante armado. “regional” (intra-estadual) Levante de 1994 1994 Ocupação de 16 munícipios do estado de Chiapas; tomada da sede municipal de São Cristobal de Las Casas; Apresentação do EZLN ao país e ao mundo e promulgação da Declaración de la Selva Lacandona. “regional” (ações pontuais com visibilidade mundial)

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“Pós – levante de 1994”

1995 – 1999

Uso da internet pelo movimento como

instrumento de divulgação de seus ideais e propósitos e veículo de comunicação

com a Sociedade civil nacional e internacional;

Criação dos municípios autônomos regidos pela

Aguascalientes e voltados para a defesa à repressão das tropas do exército federal e das

guardias blancas. Realização do I

Encontro pela Humanidade e Contra o

Neoliberalismo.

Local, nacional e global (articuladas) 1999 – 2003 Redefinições da organização político-administrativa dos Aguascalientes visando substituí-los

pelo sistema dos Caracoles (transição).

Local, nacional e global (articulados)

2003 em diante Criação dos Caracoles e reestruturação dos municípios autônomos.

Local, nacional e global (articulados)

De um pequeno foco guerrilheiro isolado na selva, num período inicial, em sua limitadíssima territorialidade, vemos a progressiva expansão e (re)definição de um movimento social cada vez mais forte e integrado, com sua, a princípio lenta e, logo, repentinamente acelerada inserção nas comunidades indígenas locais, a ponto de a elas ser completamente incorporado, já na passagem para os anos 90, alcançando uma área de influência que aí prontamente abarcava grande parte de um estado tão fortemente marcado pela presença indígena. Em pouco menos de uma década, desde a sua fundação, o EZLN, à medida que foi sendo consubstanciado pela experiência da luta indígena, sua cultura e tradução do mundo, foi adquirindo uma capacidade extraordinária de articular diferentes grupos étnicos, num esforço conjunto sem precedentes na história de Chiapas. Estavam, assim, estabelecidas as condições geográficas e históricas necessárias para a tomada consciente da decisão pelo levante armado

Tabela 1 – Representação tabular da leitura geohistórica do Zapatismo aqui proposta em três “fases” inseridas em tempos de duração média e amplitudes espaciais variadas (elaborado pelos autores).

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no ano novo de 1994, o divisor de águas de sua geohistória. A amplitude espacial que agora se coloca é inteiramente diversa. Todo o mundo passa a tomar conhecimento de um movimento político indígena até então confinado em uma territorialidade quase que exclusivamente local, e se recusa a assistir passivamente os abusos cometidos pelas tropas do governo ao EZLN. Cria-se subitamente um ambiente favorável ao diálogo direto das comunidades indígenas locais, negligenciadas em cinco séculos de exploração colonialista, com o mundo. E os indígenas também demonstram extraordinária eficiência nesse sentido: o de conseguir manter muitas de suas tradições e o modo de vida de seus antepassados, usufruindo, ao mesmo tempo, de tecnologias inteiramente novas, articulando-se entre dois mundos: o mundo “local” da tradição e das lutas dos camponeses indígenas e o mundo “global” das comunicações instantâneas e “globalizadas” em rede.

As “Aguascalientes” e seus municípios autônomos surgem, assim, como uma resultante direta desse diálogo do Zapatismo com o mundo, recebendo-o de portas abertas e preparando as bases territoriais necessárias para o estabelecimento dos Caracoles, forma mais avançada de organização territorial do movimento, capaz de articular todos os municípios autônomos num verdadeiro território-rede de resistência.

Talvez o que há de mais essencial em toda essa dinâmica têmporo-espacial tão peculiar seja as traduções culturais que a nortearam: primeiramente a tradução do mundo indígena para o movimento armado e, logo depois, a tradução do movimento, agora “indigenizado”, para o mundo. O resultado disso é uma concepção de revolução social alternativa e em constante (re)construção, sempre predisposta aos debates com os mais diversos setores da sociedade civil local, nacional e mundial; e pautada em louváveis valores humanitários, éticos e morais: “Uma espécie de tradução, enriquecida pela perspectiva da transição política. A idéia de um mundo mais justo, mais ou menos aquilo que anseia o socialismo só que repensado, enriquecido de elementos humanitários, éticos, morais, mais do que propriamente indígenas. A revolução torna-se um problema essencialmente moral. Ético. Mais do que um problema de distribuição da riqueza ou de expropriação dos meios de produção, a revolução representa a possibilidade de um espaço de dignidade para o ser humano. (...) A revolução torna-se a garantia de que a dignidade existe e deve ser respeitada.” (Subcomandante Marcos).

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BIBLIOGRAFIA

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Referências

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