Superior Tribunal de Justiça
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 35.434 - PR (2011/0192002-0)
RELATOR
: MINISTRO BENEDITO GONÇALVES
RECORRENTE
: ADELAIDE GÓES SABES
ADVOGADO
: JAIME MOURA JORGE JÚNIOR E OUTRO(S)
RECORRIDO
: ESTADO DO PARANÁ
PROCURADORA
: LUYZA MARKS DE ALMEIDA E OUTRO(S)
EMENTA
ADMINISTRATIVO, CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO
ORDINÁRIO
EM
MANDADO
DE
SEGURANÇA.
FORNECIMENTO
DE
MEDICAMENTO IMPORTADO SEM REGISTRO NA ANVISA. AUSÊNCIA DE
DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
1. Trata-se de recurso ordinário em mandado de segurança no qual se objetiva o fornecimento
à impetrante de medicamento importado sem registro na Anvisa (substância química:
Tetrabenazina; nomes comerciais: Nitoman, Xenazine ou Revocon).
2. O Tribunal de Justiça do Paraná, ao denegar a segurança, por maioria, externou o
entendimento de que, "não sendo o medicamento postulado registrado na Anvisa, não é
possível ao Estado do Paraná fornecer o referido medicamento a senhora impetrante. Nestas
condições, voto para ser extinto o mandado de segurança sem julgamento do mérito porque
ausente direito líquido e certo a ser tutelado" (fl. 139).
3. Não se observam a liquidez e a certeza do direito invocado pela impetrante nem a prática
de ato ilegal ou de abuso de poder.
4. O fato de o medicamento pretendido não ter registro na Anvisa e, portanto, não poder ser
comercializado no território nacional, denota que o alegado direito não é líquido nem certo
para fins de impetração de mandado de segurança, porquanto o seu exercício depende de
eventual autorização da Anvisa para que o medicamento seja importado e distribuído pelo
Estado.
5. A entrada de medicamentos no território nacional, sem o devido registro na Anvisa,
configura o crime previsto no artigo 273, § 1º-B, I, do Código Penal; fato que não pode ser
desprezado pelo administrador público responsável pelo fornecimento do medicamento em
questão, razão pela qual não há falar que o seu não fornecimento caracteriza ato ilegal ou de
abuso de poder.
6. Recurso ordinário não provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao
recurso ordinário em mandado de segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Teori Albino Zavascki e Napoleão Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.
Licenciados os Srs. Ministros Francisco Falcão e Arnaldo Esteves Lima.
Brasília (DF), 02 de fevereiro de 2012(Data do Julgamento)
MINISTRO BENEDITO GONÇALVES
Relator
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 35.434 - PR (2011/0192002-0)
RELATOR
: MINISTRO BENEDITO GONÇALVES
RECORRENTE
: ADELAIDE GÓES SABES
ADVOGADO
: JAIME MOURA JORGE JÚNIOR E OUTRO(S)
RECORRIDO
: ESTADO DO PARANÁ
PROCURADORA
: LUYZA MARKS DE ALMEIDA E OUTRO(S)
RELATÓRIO
O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES (Relator):
Trata-se de recurso ordinário, com pedido de tramitação prioritária (Lei n. 10.741/2003 - Estatuto do Idoso), interposto por Adelaide Góes Sabes contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, que denegou seu mandado de segurança, por ausência de direito líquido e certo, no qual se pretende o acesso a medicamento importado (substância química: Tetrabenazina; nomes comerciais: Nitoman, Xenazine e Revocon), sem registro na Anvisa.A recorrente, noticiando ser portadora da moléstia Discinesia Tardia e que realizou terapia com os medicamentos Biperideno, Amantadina, Quetiapina, Levodopa e Triexidifenidil, os quais não lhe serviram, alega que a Secretaria de Saúde do Estado do Paraná não fornece o medicamento que lhe foi indicado, Tetrabenazina; e que não é relevante o fundamento que referido medicamento não tenha registro na Anvisa, pois o Estado tem o dever de fornecer-lhe o medicamento de que, comprovadamente, necessita. Informa que, por força de liminar, a Secretaria de Saúde Estadual iniciou o fornecimento do medicamento, o que demonstra a possibilidade de aquisição desse medicamento pelo Estado. Aduz que a suspensão do tratamento é temerária. Cita precedente do TJ-MG (n. 1.0024.06.215590-8/002), que, em caso semelhante, em que se necessitava do mesmo medicamento, julgou-se procedente o pedido mandamental.
Em contrarrazões (fls. 171 e seguintes), o Estado do Paraná argúi que o acórdão a quo "deu plena aplicabilidade ao artigo 196 da Constituição Federal, ao entender que deve ser privilegiado, na hipótese, não somente o sistema de política pública relativo aos medicamentos, mas também à própria saúde pública, quando não se autoriza a circulação de medicamentos que não possuem registro na Anvisa, portanto, não podem circular em território nacional" (fl. 174).
O Ministério Público Federal opina pelo provimento do recurso, ao argumento de que, "comprovada a gravidade da doença suportada pelo postulante e a eficácia do medicamento prescrito pelo médico, o fato de a medicação não possuir registro na Anvisa, por si só, não deve afastar o direito do enfermo ao recebimento do remédio. Na hipótese dos autos, o medicamento tetrabenazina, apesar de importado e não estar registrado na Anvisa, é possivelmente o único medicamento eficaz para o tratamento da doença Discinesia Tardia, no caso da impetrante, que já se submeteu a todas as medicações disponíveis no mercado nacional" (fl. 192).
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Autos conclusos em 29 de setembro de 2011.Superior Tribunal de Justiça
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 35.434 - PR (2011/0192002-0)
EMENTA
ADMINISTRATIVO, CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO
ORDINÁRIO
EM
MANDADO
DE
SEGURANÇA.
FORNECIMENTO
DE
MEDICAMENTO IMPORTADO SEM REGISTRO NA ANVISA. AUSÊNCIA DE
DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
1. Trata-se de recurso ordinário em mandado de segurança no qual se objetiva o fornecimento
à impetrante de medicamento importado sem registro na Anvisa (substância química:
Tetrabenazina; nomes comerciais: Nitoman, Xenazine ou Revocon).
2. O Tribunal de Justiça do Paraná, ao denegar a segurança, por maioria, externou o
entendimento de que, "não sendo o medicamento postulado registrado na Anvisa, não é
possível ao Estado do Paraná fornecer o referido medicamento a senhora impetrante. Nestas
condições, voto para ser extinto o mandado de segurança sem julgamento do mérito porque
ausente direito líquido e certo a ser tutelado" (fl. 139).
3. Não se observam a liquidez e a certeza do direito invocado pela impetrante nem a prática
de ato ilegal ou de abuso de poder.
4. O fato de o medicamento pretendido não ter registro na Anvisa e, portanto, não poder ser
comercializado no território nacional, denota que o alegado direito não é líquido nem certo
para fins de impetração de mandado de segurança, porquanto o seu exercício depende de
eventual autorização da Anvisa para que o medicamento seja importado e distribuído pelo
Estado.
5. A entrada de medicamentos no território nacional, sem o devido registro na Anvisa,
configura o crime previsto no artigo 273, § 1º-B, I, do Código Penal; fato que não pode ser
desprezado pelo administrador público responsável pelo fornecimento do medicamento em
questão, razão pela qual não há falar que o seu não fornecimento caracteriza ato ilegal ou de
abuso de poder.
6. Recurso ordinário não provido.
VOTO
O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES (Relator):
Trata-se de recurso ordinário em mandado de segurança no qual se objetiva o acesso a medicamento importado, sem registro na Anvisa.Consta da petição inicial que o mandamus foi impetrado contra ato atribuído ao Secretário de Saúde do Estado do Paraná, que deixou de fornecer à impetrante o medicamento Tetrabenazina 25 mg.
Nas informações (fl. 94), a autoridade coatora aduz que, em observância ao princípio da legalidade, não poderia fornecer o medicamento importado à impetrante, uma vez que seria necessária a autorização do Ministério da Saúde para seu fornecimento. Conclui, em razão disso, que não há ato arbitrário passível de impugnação por meio do mandado de segurança.
Superior Tribunal de Justiça
"não sendo o medicamento postulado registrado na Anvisa, não é possível ao Estado do Paraná fornecer o referido medicamento a senhora impetrante. Nestas condições, voto para ser extinto o mandado de segurança sem julgamento do mérito porque ausente direito líquido e certo a ser tutelado" (fl. 139).
O Ministério Público Federal entende que, "atualmente, a Presidência da Suprema Corte entende que, não obstante já existem decisões (já confirmadas pelo Plenário), no sentido de que é vedado à Administração Pública fornecer medicamentos que não possuam registro na ANVISA - destacando-se que o registro do fármaco é uma garantia à saúde pública, mostrando-se como condição necessária para atestar a segurança e a eficácia do produto - tal entendimento não é fechado, absoluto. Há, sim, casos excepcionais em que a importação de medicamento não registrado poderá ser autorizada" (fl. 194).
O parquet dá notícia do julgamento monocrático da Suspensão de Segurança n. 4316/RO, de relatoria do Ministro Presidente do STF, Cézar Peluso, no qual ficou assentado que "o fato de determinada medicação não possuir registro na ANVISA, por si só, não afasta o direito do portador de doença grave ao recebimento do remédio. Na hipótese dos autos, a medicação "Eculizumab - Soliris", apesar de importada e não estar registrada na ANVISA, é reconhecida pela comunidade médica como a única medicação eficaz para o tratamento da doença Hemoglobinúrio Paroxística Nortura - HPN [...] conforme reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STA 175/CE), em casos excepcionais, a importação de medicamento não registrado poderá ser autorizada pela Anvisa, quando 'adquiridos por intermédio de organismos multilaterais internacionais para uso de programas em saúde pública pelo Ministério da Saúde', nos termos da Lei n. 9.782/99" (fl. 196).
E o Estado do Paraná tão-somente alega a impossibilidade de fornecer medicamento em razão da ausência de seu registro na ANVISA, por questões financeiras e de "política de medicamentos" (fls. 176-177), não se referindo à existência de eventual tratamento alternativo para a impetrante que ela não tenha se submetido.
Vejamos.
Nos termos do art. 1º da Lei n. 12.016/2009 e em conformidade com o art. 5º, LXIX, da Constituição Federal, "conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça".
"Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração [...] o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao
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impetrante: se sua existência for duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada; se seu exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por outros meios judiciais" (Hely Lopes Meirelles, in "Mandado de Segurança", Malheiros Editores, 26ª Ed., p. 36-37).
E, no caso, não se observa a liquidez e certeza do direito invocado pela impetrante nem a prática de ato ilegal ou de abuso de poder.
O fato de o medicamento pretendido não ter registro na Anvisa e, portanto, não poder ser comercializado no território nacional, denota que o alegado direito não é líquido nem certo para fins de impetração de mandado de segurança, porquanto o seu exercício depende de eventual autorização da Anvisa para que o medicamento seja importado e distribuído pelo Estado.
Deve-se ponderar, aliás, que a entrada de medicamentos no território nacional, sem o devido registro na Anvisa, configura o crime previsto no artigo 273, § 1º-B, inciso I, do Código Penal; fato que não pode ser desprezado pelo administrador público responsável pelo fornecimento do medicamento em questão, razão pela qual não há falar que o não fornecimento do medicamento pretendido pela impetrante caractera ato ilegal ou de abuso de poder.
Soma-se a isso a ausência de certificação, quanto à segurança e à eficácia do medicamento, pela entidade autárquica responsável, uma vez que não se pode permitir que o Estado forneça medicamento que, eventualmente, possa prejudicar, de alguma forma (ainda não conhecida no território nacional), a saúde daquele cidadão que já a tem fragilizada em razão de sua enfermidade.
Assim, forçoso reconhecer que a impetrante deve procurar as vias ordinárias para o reconhecimento de seu alegado direito.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO PRIMEIRA TURMA
Número Registro: 2011/0192002-0 PROCESSO ELETRÔNICO RMS 35.434 / PR
Números Origem: 678801200 678801201
PAUTA: 13/12/2011 JULGADO: 02/02/2012
Relator
Exmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. AURÉLIO VIRGÍLIO VEIGA RIOS Secretária
Bela. BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ADELAIDE GÓES SABES
ADVOGADO : JAIME MOURA JORGE JÚNIOR E OUTRO(S)
RECORRIDO : ESTADO DO PARANÁ
PROCURADORA : LUYZA MARKS DE ALMEIDA E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Serviços - Saúde - Tratamento Médico-Hospitalar e/ou Fornecimento de Medicamentos
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso ordinário em mandado de segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki e Napoleão Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.