• Nenhum resultado encontrado

Palavras Chave: Helenismo, Médio Crescente, Resistência.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Palavras Chave: Helenismo, Médio Crescente, Resistência."

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA À EXPANSÃO DO HELENISMO NO MÉDIO CRESCENTE NO II SÉC. A.E.C.

Thiago Borges de Santana1; Ágabo Borges de Sousa2;Simone Silva de Jesus3; Bruna Jessica Cabral4

1. Bolsista BROBIC/UEFS, Graduando em Licenciatura Plena em História, Universidade Estadual de Feira de Santana e-mail: thiagosantanaborges@oi.com.br

2. Orientador, Departamento de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: dr_agabo@hotmail.com

3. Participante do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Filosofia, Departamento de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: symonedejesus@hotmail.com 4. Participante do Projeto As Escolas Filosóficas do II século a. Cr. e o Movimento Apocalíptico de Daniel, departamento de Ciencias Humanas e Filosofia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: brunna_cabral19@hotmail.com

Palavras Chave: Helenismo, Médio Crescente, Resistência.

INTRODUÇÃO

O desiderato de Alexandre Magno (356-323 a.E.C) de estabelecer uma monarquia universal foi preponderante na difusão da cultura Helênica. A expansão dessa cultura ocasionou nos domínios do império grego uma modificação na forma de pensar e agir das coletividades Ocidentais e Médio-Orientais. Neste sentido, o movimento de interação e fusão cultural, que houve entre as nações em contato com o império alexandrino, segundo Helmut Koester é designado de helenismo, esse período, no qual o modo de vida heleno foi gradativamente sendo imposto e interagindo com outras culturas, é denominado de helenístico (1980, p. 39).

O Helenismo em seu processo de expansão foi envolvido em processo de “circularidade cultural”1

, e não deve ser visto como homogêneo, “[...] mas repleto de especificidades locais, resultado do encontro da cultura grega com as múltiplas e variadas culturas locais dispostas no mediterrâneo, no Egeu e para além desses dois mares.” (LEVINE 1998: 16-7. Apud.: CHEVITARESE & CORNELLI, 2007, p. 16, nota 1). Entretanto, dentro desse processo de interpretação e fusão de culturas, o fenômeno exerceu suas influências mais ativamente que passivamente, o que podemos constatar observando as estruturas que se consolidaram em toda parte, por exemplo, a língua, a religião e entre outras. (KOESTER, 1980, p. 40-51).

O povo judeu teve uma formação mista, ou seja, se constituíram a partir de interações étnicas e culturais múltiplas (KESSLER, 2009, p. 27). Todavia, algumas narrativas, presentes nos escritos veterotestamentários, descrevem que nem todos os judeus eram fieis ao monoteísmo que a lei hebraica exigia2. Então, podemos observar que o discurso sobre a desobediência abre espaço para pensarmos como os judeus se colocavam de diferentes maneiras diante da lei hebraica. Contudo, parcelas da população desenvolveram e foram fiéis às peculiaridades da cultura judaica, a qual segundo Kessler (2007, p. 50), se reconhece e é reconhecida a partir da sua relação com sua divindade YHWH. Há esse respeito John J. Collins descreve que:

1

Sobre o conceito de “circularidade cultural” ver: GINZBURG, 2006, p. 12.

(2)

No começo do período helenístico, Hecateu de Abdera escreveu sua famosa descrição do período dos habitantes da Judeia, na qual notou que seu modo de vida diferia daquele de outros povos e era um tanto anti-social e hostil a estrangeiros. (2010, p. 31).

É neste contexto, da influencia helênica no Médio Crescente que há a reafirmação da identidade e do pacto com a divindade, refletidos no movimento Apocalíptico e no movimento Macabeu, aproximadamente no século II a.E.C. Tais movimentos estão documentados nos textos veterotestamentários de Daniel e Macabeus

I e II.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com base no método histórico-social, o qual segundo Rainer Kessler consiste em uma “análise da estrutura social de uma sociedade em seu desenvolvimento histórico, reside na tentativa de conectar um elemento estático com um elemento dinâmico” (KESSLER, 2009, p. 09), ou seja, aliar as rupturas com as continuidades de uma determinada sociedade. Neste sentido Rainer Kessler aponta que a sociedade pode ser apresentada de duas formas: a partir das épocas na qual “o peso da apresentação está mais fortemente colocado nas rupturas e nas características de um determinado período do que nos traços contínuos” (KESSLER, 2009, p. 13), e a partir das instituições centrando a abordagem nas continuidades.

Esse trabalho é uma interface do projeto de pesquisa desenvolvido pelo Dr. Ágabo Borges de Sousa3. Porém, diferencia-se dele no sentido da utilização do método histórico-social, utilizando como documentação primária as narrativas presentes nos livros veterotestamentários de Daniel e Macabeus I e II, com o objetivo principal de entender como os judeus dentre de uma estrutura aculturante, diferente de outros povos, conseguiram, em alguma medida, se rebelarem abertamente à aculturação helênica.

Os textos bíblicos veterotestamentários, utilizados nesse trabalho com documentação primária, por ora apresentam problemas suficientes, pois eles “são passíveis da aplicação do critério científico da dúvida / questionamento dos dados” (SELVATICI, 2006, p. 6), sendo que a negação desses textos como documentação histórica, revela um desconhecimento sobre a temática, ou mesmo um preconceito acadêmico, no que diz respeito a utilização de textos bíblicos como documentação histórica4.

DISCUSSÃO

O Livro Veterotestamentário de Daniel como Literatura apocalíptica

A Teoria Macabéia, a partir de algumas estruturas textuais e o contexto sócio-histórico, estabelece que o livro de Daniel foi escrito no II séc. a.E.C., na época dos Macabeus. Esta Teoria aponta a impossibilidade de Daniel ter escrito o livro, pois há vários problemas de cunho histórico. A primeira problemática que podemos elencar é a localização do mesmo na ordem canônica. A septuaginta (LXX) e outras traduções

3

O objetivo geral do projeto de pesquisa O diálogo das escolas filosóficas do II século e a influência dos

movimentos helenizantes no Médio Crescente, a partir da literatura apocalíptica veterotestamentária é

“Compreender o movimento apocalíptico de Daniel em seu contexto histórico, identificando seus

fundamentos filosóficos no contexto da influência helênica no Médio Crescente” (SOUSA, 2011, p. 15).

(3)

colocam o livro de Daniel entre os profetas maiores, depois de Ezequiel “E a Tenak (Bíblia Hebraica) coloca o livro de Daniel em sua última parte, entre os escritos (Ketubim)”, (SOUSA, 2012, p. 05).

Ao analisar o contexto histórico-social de alguns povos da época helenística, podemos perceber que o gênero literário apocalíptico era produzido por povos oprimidos por reinos imperialistas. Nesta perspectiva, segundo André Leonardo Chevitarese, o livro Daniel em seu capitulo 11:20-39, utiliza “uma linguagem criptográfica com coloração apocalíptica, [...]. Daniel aponta, a partir de quatro linhas gerais, as ações de Antíoco Epífanes:[...]”. (2004, p. 77-76). Já, Vicente Dobroruka argumenta que o livro Daniel, se apresenta como um “libelo antigrego” (2000, p. 07).

Os Livros Deuterocanônicos dos Macabeus

O primeiro livro dos Macabeus segundo a introdução do mesmo na Bíblia versão de Jerusalém, descreve que ele foi escrito por um judeu palestinense, que começou a obra aproximadamente em 134 a.E.C., e termina pouco depois da morte de João Hircano em 100 a.E.C. O livro foi escrito em hebraico, más só foi conservado numa tradução grega. A narrativa imita as antigas crônicas de Israel e abrange um período de quarenta anos (BÍBLIA, 2007, p. 716).

O livro dois dos Macabeus segundo a mesma introdução Bíblica, relata que o segundo não é a continuação do primeiro, más, paralelo a ele, não representando mais do que quinze anos “e corresponde somente ao conteúdo dos caps. 1-7 do primeiro livro” (BÍBLIA, 2007, p. 717).

De forma geral o livro trata da revolta dos Judeus contra as imposições culturais helenizantes impostas pelos governantes do império selêucida no II séc. a.E.C. No final dessa revolta surge a dinastia judaica dos asmoneus.

A Helenização

Hoje não podemos negar o fato de que a opressão dos reinos helênicos proporcionou o surgimento de uma literatura apocalíptica como aporte teórico para uma resistência ideológica (DOBRORUKA, 2000, p. 4). Em contra partida, havia uma elite judaica interessada na helenização da Judeia, Contudo houveram aqueles que foram fieis aos preceitos da lei, esta era religiosa e social ao mesmo tempo, transgredi-la significava perder traços culturais da identidade (COLLINS, 2010, p. 32).

O templo judaico era um local sagrado para os judeus, esse templo chegou a ser dedicado à outra divindade, a qual foi considerada pelos judeus de a “abominação da desolação”. Neste sentido a mentalidade corrente, a partir da leitura do livro veterotestamentário Daniel, era de que os poderes políticos do homem iriam cair e se instalaria uma regência divina.

Os macabeus não conseguiram esperar pela regência divina, todavia eles usavam textos judaicos, entre eles o livro de Daniel, a fim de fomentarem as mentalidades do movimento armado, como podemos comprovar no Primeiro Livro dos Macabeus 2, 51-64.

(4)

A partir da análise da documentação e da bibliografia proposta, podemos concluir que, apesar de haverem movimentos de resistência, uma parte dos judeus foi helenizada e outra parte se manteve fiel aos preceitos da lei hebraica. Para Monica Selvatici (2006, p. 10,11), Fílon, o filósofo judaico de Alexandria e o apostolo Paulo, “guardados os contextos específicos”, representam o encontro entre a tradição judaica e a cultura helênica.

Também podemos constatar que tal encontro, ao contrário do que se esperava, proporcionou interações culturais, as quais permitiram um movimento de reforma por parte de Judeus helenistas, tendo como figura central “[...] um Galileu do século I E.C.: Jesus de Nazaré” (CHEVITARESE & CORNELLI, 2007, p. 69).

Desta forma podemos perceber que, as interações culturais entre helênicos e judeus continuaram e é inegável que o cristianismo, com o seu caráter universalista, é o resultado sistemático dessa união e esta, possibilitou uma nova forma de pensar e agir no mundo. Neste sentido tais modos de pensar e agir até hoje influenciam na construção do pensamento do homem ocidental pós-moderno.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA de Jerusalém. 7ª Impressão. São Paulo: Paulus, 2011.

CHEVITARESE. André L. Fronteiras Culturais no Mediterrâneo Antigo: Gregos e Judeus nos períodos arcaico, clássico e helenístico. Politeia: História e Sociedade, Vol. 4, Nº 1 2004. Disponível em: http://periodicos.uesb.br: Acessado em: 02/07/12 às 19h:05min.

CHEVITARESE, Andre L. & CORNELLI, Gabriele. Judaísmo, Cristianismo e

Helenismo: ensaios acerca das interações culturais no Mediterrâneo antigo. São Paulo:

Annablume, FAPESP, 2007.

COLLINS, John J. Culto e Cultura: “Os limites da helenização na Judéia”. In:

NOGUEIRA, Paulo de Souza, Org.; FUNARI, Pedro Paulo A., Org.; COLLINS, John J., Org. Identidades fluídas no judaísmo antigo e no cristianismo primitivo. São Paulo: ANNABLUME; FAPESP, 2010.

___________________. A propaganda antigrega em alguns escritos judaicos do Segundo Templo: decompondo o mito helenístico. Publicado em Historiama - revista eletrônica de história. Porto Alegre, julho/2000.

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2006.

KESSLER,Rainer. História Social do Antigo Israel. Paulinas, São Paulo, 2009.

KOESTER, Helmut. Introduction to the New Testament: History, Culture and Religion of the Hellenistic Age. Vol. 1. New York: By Walter de Gruyter & Co. 1980.

(5)

SELVATICI, Monica. Os judeus helenistas e a primeira expansão cristã: Questões de narrativa, visibilidade histórica e etnicidade no Livro dos Atos dos Apóstolos. 17/03/2006. 233 f. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas, SP. 2006. Orientador: Prof. Dr. André Leonardo Chevitarese.

SOUSA, Ágabo Borges de. O diálogo das escolas filosóficas do II século e as

influências dos movimentos helenizantes no Médio crescente, a partir da literatura apocalíptica veterotestamentária. Projeto de Pesquisa. CNPq. UEFS, DCHF. 2011.

SOUSA, Ágabo Borges de. Daniel: Um Apocalipse Anticuo-Testamentário. Grupo de Pesquisa As Escolas Filosóficas do II sec. a.Cr. e o Movimento Apocalíptico de Daniel Projeto de Pesquisa. CNPq. UEFS, DCHF, NEF. 2012.

Referências

Documentos relacionados

O diagnóstico foi realizado através da cisternocintilografia, sugestiva de fístula liquórica; e da cisternotomografia que mostrou área de deiscência óssea em região de tegmen

Se você vai para o mundo da fantasia e não está consciente de que está lá, você está se alienando da realidade (fugindo da realidade), você não está no aqui e

In: VI SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DAS COMUNIDADES TEUTO-BRASILEIRAS (6: 2002: Santa Cruz do Sul).. BARROSO, Véra Lúcia

A autoavaliação consiste em processos de avaliação cíclica dos resultados da instituição, como um todo, no sentido de aferir o cumprimento da sua missão e objetivos.

Promovido pelo Sindifisco Nacio- nal em parceria com o Mosap (Mo- vimento Nacional de Aposentados e Pensionistas), o Encontro ocorreu no dia 20 de março, data em que também

[r]

Quero ir com o avô Markus buscar a Boneca-Mais-Linda-do-Mundo, quero andar de trenó, comer maçãs assadas e pão escuro com geleia (17) de framboesa (18).... – Porque é tão

A atividade de financiamento hipotecário em Espanha limitou-se à gestão da carteira de crédito em balanço, para além da gestão dos imóveis adjudicados em reembolso de