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Luís J.M. Amoreira Departamento de Física UBI. Primavera 2011

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(1)

Breve introdu¸c˜

ao `

a ´

optica geom´etrica

Lu´ıs J.M. Amoreira

Departamento de F´ısica

UBI

Primavera 2011

´

Indice

1 Introdu¸c˜ao 2

2 Reflex˜ao em espelhos planos 2

2.1 Propriedades da imagem reflectida num espelho plano . . . 3

3 Reflex˜ao em espelhos esf´ericos 4 3.1 A aproxima¸c˜ao paraxial . . . 5

3.2 Foco de um espelho esf´erico . . . 5

3.3 Imagem reflectida num espelho convexo . . . 7

3.4 Imagem reflectida num espelho cˆoncavo . . . 8

3.5 Imagens formadas por reflex˜ao — Resumo . . . 10

4 Refrac¸c˜ao em superf´ıcies planas 11 5 Refrac¸c˜ao em superf´ıcies esf´ericas 12 5.1 Focos de uma superf´ıcie refractora esf´erica. Potˆencia di´optrica . . . 13

5.2 Posi¸c˜ao e caracter´ısticas das imagens refractadas . . . 15

5.3 Tra¸cado de raios . . . 17

5.4 Refrac¸c˜ao em superf´ıcies esf´ericas — Resumo . . . 17

6 Lentes finas 18 6.1 Equa¸c˜ao das lentes . . . 19

6.2 Tra¸cado de raios e amplia¸c˜ao transversal . . . 21

6.3 Propriedades das imagens refractadas em lentes finas . . . 22

6.4 Refrac¸c˜ao em lentes finas — Resumo . . . 23

7 Sistemas ´opticos compostos 23 7.1 Objectos virtuais . . . 25

8 Instrumentos ´opticos 26 8.1 O olho humano . . . 26

8.2 A lente de aumento . . . 26

8.3 Microsc´opio composto . . . 26

(2)

1

Introdu¸

ao

Escrevo estas notas porque no manual recomendado para a disciplina de Elementos de F´ısica II (Halliday, Resnick e Krane, “F´ısica vol. 4”) ´e seguida uma conven¸c˜ao de sinais para as distˆancias medidas em sistemas ´opticos que considero complicada de compreender e de aplicar e que, na minha opini˜ao, ser´a talvez abandonada. Espero com este esfor¸co produzir apontamentos que possam, neste cap´ıtulo de ´optica geom´etrica, substituir o manual.

Estes apontamentos ocupam-se essencialmente com a determina¸c˜ao das propriedades (posi¸c˜ao, amplia¸c˜ao, etc.) das imagens produzidas em sistemas ´opticos simples constitu´ıdos por lentes e espelhos. Os pontos de partida para este estudo s˜ao a Lei

da Reflex˜ao e a Lei de Snell, que j´a foram abordadas (e de-duzidas) nas aulas. Recapitulando muito brevemente estas leis, sabemos que quando um raio de luz incide na superf´ıcie de separa¸c˜ao de dois meios diferentes, uma parte da energia luminosa ´e reflectida na superf´ıcie, e outra refractada (ver a figura). Se θ1, θ2e θ3forem, respectivamente, os ˆangulos

que o raio incidente, o raio refractado e o raio reflectido fazem com a normal `a superf´ıcie no ponto de incidˆencia, ent˜ao verificam-se as seguintes

Figura 1

Lei da reflex˜ao: Os raios incidente e reflectido e a normal `a superf´ıcie no ponto de incidˆencia pertencem ao mesmo plano e tem-se

θ1= θ3. (1)

Lei de Snell: Os raios incidente e refractado e a normal `a superf´ıcie no ponto de incidˆencia pertencem ao mesmo plano e tem-se

n1sin θ1= n2sin θ2, (2)

onde n1 e n2 s˜ao, respectivamente, os ´ındices de refrac¸c˜ao do meio onde se propaga o raio

incidente e do de onde se propaga o raio refractado.

Um aspecto destas duas leis que vale a pena real¸car, porque ser´a ´util mais tarde, ´e que delas se deduz que o trajecto dos raios luminosos num sistema ´optico ´e revers´ıvel. Com efeito, se invertermos o sentido dos raios de luz numa reflex˜ao ou refrac¸c˜ao, os mesmos ˆangulos, agora em papel inverso (o que era um ˆangulo de “entrada” ´e agora um ˆangulo de “sa´ıda”), continuam a satisfazer as eqs. (1) ou (2). Verifique-o!

2

Reflex˜

ao em espelhos planos

Consideremos um objecto pontual O, colocado a uma distˆancia do de um espelho plano (ver a figura). Alguns

raios de luz que dele emanam (em todas as direc¸c˜oes) inci-dem no espelho e sofrem a´ı uma reflex˜ao. De acordo com a eq. (1) os ˆangulos que as direc¸c˜oes de incidˆencia e de reflex˜ao fazem com a normal `a superf´ıcie do espelho s˜ao iguais. Consideremos trˆes (ou mais) quaisquer destes raios que incidem no espelho. Constatamos que as direc¸c˜oes dos raios reflectidos intersectam-se todas num ponto situado atr´as do espelho. Assim, os raios reflectidos parecem, aos olhos de um observador, ter origem nesse ponto. Trata-se, pois, da imagem I do objecto O por reflex˜ao no espelho.

Considera¸c˜oes geom´etricas simples (recorrendo `as pro-priedades de semelhan¸ca de triˆangulos ou `a trigonome-tria b´asica) permitem-nos concluir que os objectos e as

Figura 2

suas

(3)

seja,

di = do,

e pertencem (objecto e imagem) a uma mesma normal `a superf´ıcie do espelho.

2.1

Propriedades da imagem reflectida num espelho plano

Consideremos agora a imagem formada por reflex˜ao num espelho plano de um objecto extenso. Para simplificar (e seguindo um preceito de aplica¸c˜ao universal em ´optica geom´etrica), o objecto considerado ´e uma seta paralela ao espelho (ver a Figura 3). Sejam O e O0 os pontos extremos da

seta e I e I0 as suas imagens.

Figura 3: Objecto e imagem numa reflex˜ao num espelho plano.

Posi¸c˜ao

Aproveitamos estudo simples para introduzir a conven¸c˜ao de sinais que vamos seguir neste curso. Para especificar a posi¸c˜ao do objecto e da imagem num problema de ´optica, usamos um sistema de coordenadas cartesiano que tem a origem no centro do elemento ´optico que estamos a considerar em cada momento (neste caso, temos apenas um elemento — o espelho — e a origem encontra-se assinalada pelo ponto V na figura); as posi¸c˜oes `a direita da origem tem coordenada horizontal positiva, as que se encontram `a esquerda, tˆem-na negativa. De igual modo, as posi¸c˜oes acima da origem tˆem coordenada vertical positiva, e as que se encontram abaixo tˆem-na negativa.

Assim, representando por o e i as coordenadas horizontais do objecto e da sua imagem, o facto de elas se encontrarem a iguais distˆancias do espelho (logo, da origem) traduz-se na equa¸c˜ao

i = −o (reflex˜ao num espelho plano). Amplia¸c˜ao transversal

´

E usual representar a altura do objecto (isto ´e, na Figura 3, a distˆancia O0O) por h e a da imagem

por h0. Chama-se amplia¸c˜ao transversal de um sistema ´optico ao quociente entre a altura da imagem e a do objecto, ou seja,

A = h

0

h. (3)

Se o valor da amplia¸c˜ao transversal ´e positivo, isso significa que o objecto e a imagem aparecem ambos do mesmo lado do eixo ´optico: est˜ao os dois acima, ou abaixo, do eixo. Nesse caso, dizemos (veja j´a a seguir) que a imagem ´e direita. Caso a amplia¸c˜ao transversal seja negativa, ent˜ao a imagem e o objecto est˜ao orientados em sentido oposto e dizemos que a imagem ´e invertida.

Para a reflex˜ao num espelho plano que estamos a estudar, como os pontos O e I (Figura 3) est˜ao `a mesma altura sobre o eixo e o mesmo sucede com os pontos O0 e I0, conclu´ımos que, neste caso, h = h0, ou seja,

(4)

Orienta¸c˜ao

O objecto e a sua imagem na reflex˜ao num espelho plano est˜ao ambos orientados no no mesmo sentido (as duas setas na Figura 3 est˜ao as duas viradas para cima). Nesta situa¸c˜ao, dizemos que a imagem ´e direita. Estudaremos em breve situa¸c˜oes em que a imagem tem sentido inverso ao do objecto, caso em que dizemos tratar-se de uma imagem invertida.

Realidade

Quando analis´amos a forma¸c˜ao da imagem na reflex˜ao num espelho plano (reveja a Figura 2), constat´amos que os raios reflectidos parecem todos ter origem no ponto imagem I. ´E claro que isso n˜ao ´e verdade, uma vez que a luz nem sequer se propaga para tr´as do espelho. A posi¸c˜ao da imagem ´e obtida pelo prolongamento dos raios reflectidos, criando a ilus˜ao da sua localiza¸c˜ao. Em situa¸c˜oes como estas, dizemos que a imagem ´e virtual.

Noutras situa¸c˜oes, que estudaremos a seguir, a imagem de um objecto est´a efectivamente localizada numa posi¸c˜ao de onde emanam os raios de luz que chegam aos olhos dos observadores. Nessas situa¸c˜oes dizemos que a imagem ´e real. Quando se coloca um ´ecran na posi¸c˜ao de uma imagem real (como acontece numa projec¸c˜ao de slides ou de cinema), ela ´e a´ı materializada. Obviamente, tal n˜ao pode ocorrer na reflex˜ao num espelho plano, j´a que a imagem se situa atr´as do espelho, onde n˜ao chega a luz.

3

Reflex˜

ao em espelhos esf´

ericos

Na an´alise da reflex˜ao da luz, devemos distinguir dois tipos de superf´ıcies esf´ericas: as cˆoncavas, quando a curvatura da superf´ıcie ´e para o lado de onde incide a luz, e as convexas, que tˆem a curvatura para o lado oposto `aquele de onde a luz vem (veja a Figura 4). Um espelho esf´erico ´e

Figura 4: A reflex˜ao em espelhos cˆoncavos (esquerda) e convexos (direita).

uma por¸c˜ao reflectora de superf´ıcie esf´erica (por exemplo, uma calote, se se tratar de um espelho circular). As caracter´ısticas mais ´obvias (e mais relevantes para o estudo que se segue) desta superf´ıcie reflectora s˜ao (1) que todos os seus pontos se encontram `a mesma distˆancia (o raio) de um mesmo ponto (o centro da esfera a que pertence), e (2) que a sua normal, em cada ponto, cont´em tamb´em o centro (veja a Figura 5).

Figura 5: Centro de curvatura de espelhos esf´ericos cˆoncavos (`a esquerda) e convexos (`a direita) e normal `a superf´ıcie em cada ponto.

(5)

Dado um espelho esf´erico, escolhemos um ponto da sua superf´ıcie de forma mais ou menos arbitr´aria (mas ´e conveniente que seja um ponto pr´oximo do centro geom´etrico do espelho), a que chamaremos v´ertice. A direc¸c˜ao normal `a superf´ıcie reflectora que cont´em o v´ertice chama-se eixo ´

optico do espelho. Convencionalmente, em esquemas para a an´alise de sistemas ´opticos, desenha-se o eixo ´optico em posi¸c˜ao horizontal, e representa-se o espelho de tal forma que a luz incide vinda do lado esquerdo do diagrama.

Consideremos um raio de luz que incide num espelho cˆoncavo num ponto Q segundo uma direc¸c˜ao paralela ao eixo ´optico e dele distanciada h (ver a figura ao lado). Este raio ser´a reflectido numa direc¸c˜ao que cruza o eixo ´optico num ponto F , cuja posi¸c˜ao pode ser determinado a partir da lei da reflex˜ao. Seja α o ˆangulo que o raio incidente faz com a normal ao espelho no ponto de incidˆencia, isto ´e com a direc¸c˜ao do segmento de recta QC, onde C ´e o centro de

curvatura do espelho. Ent˜ao podemos escrever Figura 6

tan α = h CS tan 2α = h F S (4)

3.1

A aproxima¸

ao paraxial

A resolu¸c˜ao destas equa¸c˜oes para a determina¸c˜ao da posi¸c˜ao do ponto F n˜ao ´e nada simples. Mas, em quase todas as situa¸c˜oes de interesse pr´atico, a distˆancia h ´e pequena quando comparada com o raio de curvatura do espelho (ou seja, o trajecto do raio incidente ´e muito pr´oximo do eixo ´

optico). Nessas situa¸c˜oes, ent˜ao, o ˆangulo de incidˆencia α ´e muito pequeno, o que permite fazer as seguintes substitui¸c˜oes aproximadas:

tan α ' α tan 2α ' 2α

CS ' CV F S ' F V ,

com as quais o sistema da eq. (4) se reescreve como

α = h

CV

2α = h

F V, de onde se obtem facilmente

F V = CV

2 . (5)

Esta aproxima¸c˜ao, que nos permitiu obter facilmente uma solu¸c˜ao aproximada para o sistema da eq. (4), tem o nome de aproxima¸c˜ao paraxial e ser´a sempre usada nestes apontamentos.

3.2

Foco de um espelho esf´

erico

O ponto F , para onde s˜ao reflectidos os raios que incidem num espelho concˆavo paralelamente ao eixo ´optico, chama-se ponto focal ou foco do espelho. De acordo com a eq. (5), o foco situa-se no ponto m´edio do centro de curvatura e do v´ertice do espelho, qualquer que seja o valor de h (desde que seja suficientemente pequeno para que se justifique a aplica¸c˜ao da aproxima¸c˜ao paraxial, bem entendido). Note-se que, como o trajecto dos raios de luz na reflex˜ao ´e revers´ıvel, raios de luz que tenham origem no foco (ou que simplesmente passem pelo foco) de um espelho cˆoncavo s˜ao por ele reflectidos reflectidos em direc¸c˜oes paralelas ao eixo ´optico (veja a Figura 7).

(6)

Figura 7: O foco de um espelho esf´erico cˆoncavo ´e o ponto para onde convergem raios que incidem paralelamente ao eixo ´optico (direita). Inversamente, raios com origem no foco s˜ao reflectidos pelo espelho em direc¸c˜oes paralelas ao eixo (direita).

Para espelhos convexos tamb´em se define um foco, j´a n˜ao como ponto para onde os raios de luz reflectidos convergem, porque os espelhos convexos n˜ao tˆem essa propriedade, mas sim como ponto de onde raios que incidem no espelho paralelos ao eixo parecem divergir. Com efeito, consideremos um raio para-lelo ao eixo de um espelho convexo num ponto situado a uma altura h. Seja α o ˆangulo que a direc¸c˜ao de incidˆencia faz com

a normal ao espelho nesse ponto (veja figura ao lado). Como no Figura 8

estudo da reflex˜ao num espelho cˆoncavo, tamb´em aqui podemos escrever, impondo a aproxima¸c˜ao paraxial,

α ' h

V C

2α ' h

V F, de onde resulta, tal como para a reflex˜ao no espelho cˆoncavo,

V F = V C 2 .

Assim, constatamos que, tamb´em para espelhos convexos, o foco se encontra no ponto m´edio entre o v´ertice e o centro de curvatura.

O foco dos espelhos convexos tamb´em se pode determinar considerando a situa¸c˜ao inversa: raios que, depois de reflectidos, s˜ao paralelos ao eixo devem ter incidido no espelho dirigidos ao foco (veja a Figura 9).

Figura 9: O foco de um espelho esf´erico convexo ´e o ponto de onde parecem emanar os reflexos de raios que incidiram paralelamente ao eixo (esquerda), ou, equivalentemente, o ponto para onde se dirigem raios incidentes que s˜ao reflectidos paralelamente ao eixo.

Como resultado da reflex˜ao num espelho cˆoncavo, os raios reflectidos s˜ao sempre mais con-vergentes (ou menos dicon-vergentes) do que os incidentes. Por isso, os espelhos cˆoncavos dizem-se convergentes.

(7)

3.3

Imagem reflectida num espelho convexo

Consideremos agora um objecto extenso (a convencional seta vertical) colocado em frente a um espelho convexo (veja a Figura 10). Em geral, n˜ao ´e tarefa muito simples encontrar em que direc¸c˜ao um raio arbitr´ario com origem no ponto O ´e reflectido pelo espelho. Mas h´a trˆes raios especiais para os quais essa determina¸c˜ao ´e muito f´acil. O primeiro destes raios ´e o que incide

Figura 10: Forma¸c˜ao da imagem reflectida num espelho esf´erico convexo.

no espelho paralelamente ao eixo. J´a sabemos que esse raio ´e reflectido numa direc¸c˜ao tal que, depois da reflex˜ao, parece ter tido origem no foco do espelho. O segundo raio ´e aquele que incide no v´ertice do espelho. Nesse ponto, a normal `a superf´ıcie espelhada ´e o eixo ´optico, a partir do qual ´e f´acil tra¸car o raio reflectido. O terceiro raio ´e aquele que vai dirigido ao centro de curvatura do espelho. Esse incide perpendicularmente, logo, ´e reflectido na mesma direc¸c˜ao de incidˆencia, mas em sentido oposto. Ora, os prolongamentos destes trˆes raios intersectam-se todos no ponto I representado na Figura 10, que, assim, parece ser a origem de todos os raios que, tendo tido origem no ponto O, sofreram reflex˜ao no espelho convexo. O ponto I ´e pois a imagem do ponto O por reflex˜ao neste espelho. Uma constru¸c˜ao em tudo semelhante permite demonstrar que o ponto I0´e a imagem do ponto O0, de forma que a imagem do objecto extenso (seta O0O) ´e a seta I0I.

Posi¸c˜ao da imagem

Seja, mais uma vez h a altura do objecto (ou seja, a distˆancia O’O) e o a sua coordenada hori-zontal (de acordo com a conven¸c˜ao que introduzimos, o < 0). Da mesma maneira, sejam h0 e i respectivamente a altura e a coordenada horizontal da imagem. Ent˜ao, analisando a Figura 10, podemos escrever tan α = h O0V = h0 I0V tan β = h V F = h0 I0F

Destas duas igualdades obtemos h0/h = V I 0 O0V = i −o e h 0/h = I0F V F = f − i f , de onde resulta −i o = f − i f , ou seja, −if = of − oi.

Dividindo esta equa¸c˜ao por oif e reorganizando os termos obtemos 1 i + 1 o = 1 f, (6)

(8)

que ´e a chamada equa¸c˜ao dos espelhos. Veremos mais tarde que ela se aplica tamb´em a espelhos cˆoncavos. Como deve ser ´obvio, esta equa¸c˜ao ´e v´alida para espelhos planos: nesse caso, o raio de curvatura da superf´ıcie ´e infinito, logo, 1/f = 0 e resulta ent˜ao apenas o = −i, resultado que j´a deduzimos anteriormente.

Amplia¸c˜ao transversal

Tal como no caso da reflex˜ao em espelhos planos, a amplia¸c˜ao transversal define-se como o quoci-ente entre a altura da imagem e a do objecto, ou seja,

A = h

0

h.

Como vimos na dedu¸c˜ao da eq. (6), esta raz˜ao ´e igual `a raz˜ao V I0/O0V . Ent˜ao podemos tamb´em

escrever

A = −i o.

Usando a equa¸c˜ao dos espelhos para escrever i como fun¸c˜ao de o, obtemos

A = − f

o − f.

Tratando-se de um espelho convexo, o foco encontra-se `a direita do v´ertice, logo f > 0. Assim, o denominador da frac¸c˜ao no lado direito desta equa¸c˜ao ´e negativo e maior em m´odulo do que f . Logo, a amplia¸c˜ao trasnversal da imagem reflectida por um espelho convexo ´e positiva e menor do que 1.

Orienta¸c˜ao

Uma vez que a amplia¸c˜ao transversal tem valor positivo, a imagem reflectida num espelho convexo ´

e direita. Realidade

Tal como para a reflex˜ao em espelhos planos, a imagem reflectida num espelho convexo forma-se atr´as do espelho, onde n˜ao chegam os raios de luz. Logo, ela s´o pode ser uma imagem virtual.

3.4

Imagem reflectida num espelho cˆ

oncavo

Caso 1: o objecto est´a atr´as do centro de curvatura

A Figura 11 ilustra a geometria da forma¸c˜ao da imagem reflectida num espelho cˆoncavo. Os raios de luz originados no ponto O reflectidos no espelho cruzam-se todos (os trˆes representados e outros que consider´assemos) no ponto I, ou seja, parecem ter a´ı origem aos olhos de um observador. Assim, este ponto ´e a imagem do ponto O por reflex˜ao no espelho cˆoncavo.

Podemos repetir a an´alise feita antes para os espelhos convexos. Note que

tan α = h f − o = −h0 −f tan β = h −o = −h0 −i,

onde, como antes, o, i e f s˜ao respectivamente as coordenadas horizontais do objecto, da imagem e do foco (agora s˜ao todas negativas, porque estes elementos est˜ao todos `a esquerda do v´ertice), h

(9)

Figura 11: Forma¸c˜ao da imagem por reflex˜ao num espelho cˆoncavo.

´

e a altura do objecto e h0 (agora negativo) ´e a altura da imagem. De cada uma destas express˜oes deduzimos duas f´ormulas para a amplia¸c˜ao transversal

h0 h = f f − o (7) h0 h = − i o, (8)

de onde resulta a igualdade

f f − o = − i o, ou seja f o = −if + io. Dividindo esta express˜ao por iof obtemos, por fim,

1 i + 1 o = 1 f, (9)

f´ormula em tudo semelhante `a que obtivemos na an´alise da reflex˜ao em espelhos convexos [eq. (6)]. A imagem reflectida ´e agora real, j´a que definida pelos pr´oprios raios reflectidos, e n˜ao pelos seus prolongamentos atr´as do espelho. Ela ´e tamb´em, claramente, invertida e reduzida (uma vez que |i| < |o|). Mas estas propriedades da imagem reflectida num espelho cˆoncavo n˜ao s˜ao universais, dependem da posi¸c˜ao do objecto. H´a trˆes situa¸c˜oes a distinguir: (1) quando o objecto est´a a uma distˆancia do espelho superior ao seu raio de curvatura (o < −R = 2f ), situa¸c˜ao que acab´amos de estudar; (2) quando o objecto est´a situado entre o centro de curvatura e o foco do espelho (2f < o < f ); (3) quando o objecto est´a entre o foco e o espelho (f < o < 0).

N˜ao vamos repetir a an´alise que fizemos h´a pouco agora para os casos 2 e 3 (mas o leitor deve fazˆe-lo!). Apresentamos apenas os diagramas de raios para essas situa¸c˜oes e algumas constata¸c˜oes. Caso 2: o objecto encontra-se entre o centro e o foco do espelho

(10)

Caso 3: o objecto encontra-se entre o foco e o espelho

Imagem virtual, direita, ampliada

3.5

Imagens formadas por reflex˜

ao — Resumo

• Foco de um espelho esf´erico: raios de luz que incidem num espelho cˆoncavo paralelamente ao eixo ´optico s˜ao reflectidos em direc¸c˜oes que convergem para o foco; raios de luz que incidem num espelho convexo paralelamente ao eixo ´optico s˜ao reflectidos em direc¸c˜oes que divergem do foco.

• O foco de um espelho encontra-se sobre o eixo ´optico, no ponto m´edio entre o v´ertice e o centro de curvatura (f = r/2)

• Representam-se os diagramas de raios com a luz incidindo do lado esquerdo.

• As coordenadas horizontais s˜ao consideradas positivas para posi¸c˜oes `a direita do espelho, e negativas em caso contr´ario.

• As coordenadas verticais s˜ao consideradas positivas para posi¸c˜oes acima do eixo ´optico e negativas para posi¸c˜oes abaixo desse eixo.

• Dadas as trˆes regras anteriores, a coordenada do foco de um espelho cˆoncavo ´e negativa, a do de um espelho convexo ´e positiva

• As coordenadas horizontais da imagem (i), do objecto (o) e do foco do espelho (f ) relacionam-se atrav´es da equa¸c˜ao dos espelhos

1 i + 1 o = 1 f

• A amplia¸c˜ao transversal ´e o quociente entre a altura do objecto e a da imagem (considerada negativa se for invertida, de acordo com a conven¸c˜ao de sinais). Pode tamb´em ser calculada pelo sim´etrico do quociente entre a coordenada horizontal da imagem e a do objecto:

A = h

0

h = −

i o.

• Quando a amplia¸c˜ao ´e positiva, a imagem ´e direita; quando a amplia¸c˜ao ´e negativa, a imagem ´

e invertida. Quando a amplia¸c˜ao tem m´odulo maior do que um, a imagem ´e ampliada; quando o m´odulo da amplia¸c˜ao ´e menor do que um, a imagem ´e reduzida.

• A imagem reflectida num espelho convexo ´e sempre virtual, direita e reduzida

• As propriedades da imagem reflectida num espelho cˆoncavo variam com a distˆancia do ob-jecto ao espelho:

– objecto atr´as do centro: imagem real, invertida, reduzida

– objecto entre o centro e o foco: imagem real, invertida, ampliada – objecto entre o foco e o espelho: imagem virtual, direita, ampliada

(11)

• Ta¸cado de raios

1. raios de luz que incidem no espelho paralelamente ao eixo ´optico s˜ao reflectidos em direc¸c˜oes que convergem para o foco (espelhos cˆoncavos) ou que divergem do foco (espelhos convexos)

2. Raios de luz que incidem em direc¸c˜oes que contˆem o foco s˜ao reflectidos paralelamente ao eixo ´optico

3. Raios de luz que incidem no espelho numa direc¸c˜ao que cont´em o centro de curvatura s˜ao reflectidos na mesma direc¸c˜ao (mas em sentido oposto, ´e claro)

4

Refrac¸

ao em superf´ıcies planas

Quando olhamos a paisagem atrav´es de uma janela de vidro ou quando vemos peixes nadando num lago ou num aqu´ario, a luz vinda dos objectos que observamos sofre um (ou mais) processos de refra¸c˜ao no vidro da janela ou na superf´ıcie da ´agua, antes de chegar aos nossos olhos. Por isso, aquilo que observamos s˜ao as imagens refractadas dos objectos e n˜ao os objectos em si. Quase sempre, a posi¸c˜ao onde observamos a imagem n˜ao ´e aquela onde se encontra o objecto. No que se segue, vamos ocupar-nos com o estudo da posi¸c˜ao e das propriedades das imagens refractadas, come¸cando pela situa¸c˜ao mais simples, em que a refrac¸c˜ao se faz numa superf´ıcie plana.

Consideremos ent˜ao dois meios com ´ındices de refrac¸c˜ao n1 e n2 separados por uma superf´ıcie plana. Esses dois meios

podem ser, por exemplo, vidro e ar. Consideremos um objecto (a j´a proverbial setinha) no interior do meio com ´ındice n1, que

´

e observado a partir do meio com ´ındice n2 e consideremos,

para concretizar a discuss˜ao e os diagramas, que n1 > n2 (ver

a figura). Quando atravessam a superf´ıcie que separa os dois meios, os raios de luz s˜ao refractados, verificando-se a lei de Snell,

n1sin θ1= n2sin θ2.

Figura 12

A imagem refractada da extremidade da setinha objecto (o ponto O, na figura), ´e um ponto I de onde parecem emanar os os raios de luz que chegam ao meio 2. Consideremos os dois raios com origem em O representados na figura: um incide perpendicularmente na superf´ıcie refractora, o outro segundo uma direc¸c˜ao que faz com a normal um ˆangulo θ1. O primeiro, dado que incide

perpendicularmente, ´e refractado mantendo a sua direc¸c˜ao; o segundo ´e desviado afastando-se da normal (uma vez que consider´amos, para concretizar, que n1 > n2). As direc¸c˜oes dos dois raios

refractados intersectam-se no ponto I, que ´e ent˜ao a imagem do ponto objecto O.

Note-se que a posi¸c˜ao do ponto I depende da direc¸c˜ao do segundo raio considerado. Logo, nem todos os raios com origem em O s˜ao refractados segundo direc¸c˜oes que parecem ter origem em I. Assim, a posi¸c˜ao da imagem refractada depende da direc¸c˜ao de observa¸c˜ao. Mas, se restringirmos a nossa aten¸c˜ao aos limites de validade da aproxima¸c˜ao paraxial (ou seja, considerando apenas raios perpendiculares, ou quase perpendiculares, `a superf´ıcie refractora), obtemos facilmente uma express˜ao para a posi¸c˜ao da imagem. Com efeito, a lei de Snell, nos termos da aproxima¸c˜ao paraxial (em que os ˆangulos envolvidos s˜ao pequenos, logo, ´e v´alida a aproxima¸c˜ao sin θ ' θ), resume-se a

n1θ1= n2θ2. (10)

Por outro lado, da figura obtemos as igualdades seguintes tan θ1=

h

−o tan θ2=

h −i,

onde, como no estudo dos espelhos, o e i representam as coordenadas horizontais, medidas a partir de uma origem situada na superf´ıcie refractora, do objecto e da imagem, respectivamente. Estas

(12)

igualdades, nos termos da aproxima¸c˜ao paraxial, simplificam-se como θ1= − h o θ2= − h i, de onde se deduz que

oθ1= iθ2,

e substituindo aqui a vers˜ao aproximada da lei de Snell [eq. (10)], obtemos n2o = n1i,

equa¸c˜ao que reescrevemos numa forma diferente, por raz˜oes que se tornar˜ao claras daqui a pouco: n2

i −

n1

o = 0. (11)

Esta equa¸c˜ao permite-nos calcular a posi¸c˜ao da imagem refractada numa superf´ıcie plana, na aproxima¸c˜ao paraxial. Note-se que, nesta aproxima¸c˜ao, a amplia¸c˜ao transversal tem o valor 1 (esse facto foi at´e usado na dedu¸c˜ao). Como se pode verificar na figura, ou por inspec¸c˜ao da eq. (11), quando n1> n2, a imagem situa-se mais perto da superf´ıcie do que o objecto. Este efeito ´e posto

em evidˆencia na Figura 13.

Figura 13: Refrac¸c˜ao da luz na superf´ıcie da ´agua. Como a imagem de cada ponto submerso do cabo da colher est´a mais pr´oxima da superf´ıcie do que o respectivo ponto, o cabo da colher parece ter um ˆangulo, apesar de ser rectil´ıneo.

5

Refrac¸

ao em superf´ıcies esf´

ericas

Analizemos agora a refrac¸c˜ao em superf´ıcies esf´ericas, como o que acontece quando a luz entra ou sai de uma lente ou quando vemos um peixe que nada no interior de um aqu´ario esf´erico.

Sejam ent˜ao dois meios 1 e 2, com ´ındices de refrac¸c˜ao respectivamente n1e n2(por exemplo, ar

e vidro), separados por uma superf´ıcie esf´erica. Para concretizar ideias, consideremos um objecto no meio 1, observado a partir do meio 2. Conforme a concavidade ou convexidade da superf´ıcie refractora e a rela¸c˜ao entre os valores dos ´ındices de refrac¸c˜ao dos dois meios, a superf´ıcie pode ser convergente ou divergente. Uma vez que, nos processos de refrac¸c˜ao, os raios de luz se aproximam da normal quando penetram num meio de ´ındice de difrac¸c˜ao superior, deduzimos facilmente que, se a superf´ıcie refractora fˆor cˆoncava e o ´ındice de refrac¸c˜ao do meio onde a luz penetra for superior ao daquele que ela abandona, ent˜ao a superf´ıcie refractora ´e divergente. Considera¸c˜oes semelhantes permitem-nos compreender as restantes situa¸c˜oes, todas resumidas na Figura 14

(13)

Figura 14: Convergˆencia ou divergˆencia de superf´ıcies refractoras esf´ericas. Se o meio de incidˆencia tem ´ındice de difrac¸c˜ao inferior ao do meio para onde se d´a a refrac¸c˜ao, ent˜ao uma superf´ıcie convexa ´e convergente e uma cˆoncava ´e divergente (diagramas da linha de cima). Se a rela¸c˜ao de ordem entre os ´ındices for a inversa, ent˜ao as superf´ıcies convexas s˜ao divergentes e as cˆoncavas convergentes (diagramas da linha de baixo).

5.1

Focos de uma superf´ıcie refractora esf´

erica. Potˆ

encia di´

optrica

Consideremos um raio de luz que incide numa superf´ıcie refractora esf´erica segundo uma direc¸c˜ao paralela ao eixo ´optico1, n˜ao muito afastada dele. O raio difractado n˜ao ´e, em geral, paralelo ao

eixo ´optico; logo, a sua direc¸c˜ao intersecta esse eixo. Dentro da validade da aproxima¸c˜ao paraxial, qualquer raio que incida paralelamente ao eixo ´optico ´e refractado numa direc¸c˜ao que cruza o eixo ´

optico num mesmo ponto, chamado foco secund´ario da superf´ıcie. Esse ponto pode estar `a frente ou atr´as do v´ertice, consoante a superf´ıcie ´e convergente ou divergente (veja a Figura 15).

Consideremos agora um raio que incide na superf´ıcie refractora de tal modo que ´e refractado paralelamente ao eixo ´optico. O ponto onde a direc¸c˜ao do raio incidente se cruza com o eixo ´optico chama-se o foco prim´ario da superf´ıcie (veja a Figura 15).

Figura 15: Pontos focais de superf´ıcies convergentes (esquerda) e de superf´ıcies divergentes (di-reita).

Determinemos a posi¸c˜ao dos focos de uma superf´ıcie refractora. Para tal consideramos um raio que incide na superf´ıcie paralelamente ao eixo ´optico (ver a Figura 16, `a esquerda). Examinando a figura, obtemos as seguintes igualdades:

tan α2= h2 r tan θ2= h2 f2 ,

onde f2 representa a coordenada horizontal do ponto F2, medida a partir de uma origem situada

no v´ertice da superf´ıcie. Impondo agora a aproxima¸c˜ao paraxial, estas f´ormulas escrevem-se na

1O v´ertice, o centro de curvatura e o eixo ´optico de uma superf´ıcie refractora esf´erica definem-se da mesma

(14)

Figura 16: Diagramas para a determina¸c˜ao da posi¸c˜ao do foco secund´ario (esquerda) e prim´ario (direita). forma α2= h2 r θ2= h2 f2 , de onde resulta rα2= f2θ2. (12)

Por outro lado, a Lei de Snell determina que

n1sin α2= n2sin β2,

ou seja, nos termos da aproxima¸c˜ao paraxial,

n1α2= n2β2. (13)

Por fim, sendo β2 e θ2 dois ˆangulos internos de um triˆangulo e sendo α2 o ˆangulo externo do

terceiro v´ertice, temos

θ2= α2− β2. (14)

Substituindo a eq. (14) na eq. (12), obtemos

(f2− r)α2= f2β2;

substituindo agora aqui α2dado pela eq. (13) resulta

n2− n1

n2

f2= r,

equa¸c˜ao que reescrevemos como

n2

f2

= n2− n1

r . (15)

Seguindo um procedimento em tudo semelhante, obtemos uma f´ormula para a determina¸c˜ao da posi¸c˜ao do foco prim´ario F1:

n1 f1 = n1− n2 r = − n2 f2 . (16)

Note-se que, se n2 > 11, ent˜ao f1 < 0 (o que significa que F1 est´a `a esquerda da superf´ıcie) e

f2 > 0 (ou seja, F2 est´a `a direita da superf´ıcie). Estes factos est˜ao de acordo com as ilustra¸c˜oes

qualitativas da Figura 15.

Veremos adiante que outros sitemas ´opticos (na verdade, todos os sistemas ´opticos) podem ser caracterizados pela existˆencia destes dois focos. Ao inverso da coordenada horizontal do foco secund´ario chama-se potˆencia di´optrica:

P = 1

f2

.

A unidade da potˆencia di´optrica, no Sistema Internacional, ´e o m−1, a que, neste contexto da ´

(15)

5.2

Posi¸

ao e caracter´ısticas das imagens refractadas

Posi¸c˜ao da imagem — f´ormula da refrac¸c˜ao em superf´ıcies esf´ericas Vamos agora deduzir uma express˜ao para o c´alculo da posi¸c˜ao

da imagem refractada numa superf´ıcie esf´erica. Consideremos, mais uma vez, dois meios 1 e 2, separados por uma superf´ıcie esf´erica com raio r e um objecto com altura h, situado no meio 1 e observado a partir do meio 2. A figura ao lado ilustra esta situa¸c˜ao para o caso em que a superf´ıcie ´e convexa e convergente.

Seja h0 a coordenada vertical da extremidade da seta imagem Figura 17

(|h0| ´e a altura da imagem) e f2, i e o as coordenadas horizontais respectivamente do foco

se-cund´ario, da imagem e do objecto. Da an´alise da figura, aceitando a aproxima¸c˜ao paraxial, obtemos as igualdades n1α = n2β (17a) α = h −o, β = −h0 i (17b) θ = h f2 = −h 0 i − f2 (17c) Da ´ultima destas equa¸c˜oes obtemos

h0

h = −

i − f2

f2

; (18)

divindindo as duas equa¸c˜oes (17b) uma pela outra, resulta h0 h = β α i o; usando agora a eq. 17a), vem

h0 h = n1 n2 i o. (19)

As duas equa¸c˜oes (18) e (19) podem agora ser igualadas, obtendo-se n1if2= −n2oi + n2of2.

Dividindo esta equa¸c˜ao por oif2, resulta

n2 i − n1 o = n2 f2 .

Por fim, substitu´ımos aqui a express˜ao que encontr´amos para a posi¸c˜ao do foco secund´ario [eq. (15)], resultando a f´ormula da refrac¸c˜ao em superf´ıcies esf´ericas:

n2 i − n1 o = n2− n1 r . (20)

Esta f´ormula foi deduzida considerando uma superf´ıcie refractora convexa convergente (ou seja, com o meio onde a luz entra com maior ´ındice de refrac¸c˜ao do que o daquele que a luz abandona). No entanto a sua validade ´e geral, ficando ao cargo do leitor verific´a-lo nos restantes casos. Ali´as, ela ´e at´e v´alida para a refrac¸c˜ao em superf´ıcies planas: nesse caso, devemos tomar r → ∞, e a eq. (20) reduz-se `a que deduzimos para a refrac¸c˜ao em planos, a eq. (11).

Aten¸c˜ao: o manual escolhido (Halliday Resnick e Krane, “F´ısica”) segue uma conven¸c˜ao de sinais diferente e, por isso, apresenta uma f´ormula diferente para a refrac¸c˜ao em superf´ıcies esf´ericas, na qual o termo n1/o aparece a somar, e

n˜ao a subtrair. Os alunos da disciplina podem aplicar a f´ormula que preferirem (desde que a apliquem correctamente, ´e claro).

(16)

Caracter´ısticas da imagem refractada

A amplia¸c˜ao transversal de uma imagem refractada, dada pelo quociente entre as coordenadas verticais do ponto imagem e do ponto objecto, pode ser calculada com a eq. (19), que aqui reescrevemos:

A =n1 n2

i o.

O valor da amplia¸c˜ao pode ser usado para determinar se a imagem ´e ampliada ou reduzida (con-forme o seu m´odulo ´e maior ou menor do que a unidade) e se ´e direita ou invertida (conforme o seu sinal ´e positivo ou negativo).

Tal como sucede na reflex˜ao em espelhos esf´ericos, tamb´em aqui devemos distinguir as situa¸c˜oes em que a refrac¸c˜ao ´e convergente daquelas em que ´e divergente. ´E importante recordar (ver a Figura 15), quando a refrac¸c˜ao ´e convergente o foco secund´ario situa-se no meio onde se propaga a luz refractada e o foco prim´ario naquele onde se propaga a luz incidente; quando a refrac¸c˜ao ´e divergente, esta disposi¸c˜ao dos focos inverte-se.

Consideremos primeiro a primeira situa¸c˜ao, isto ´e, a refrac¸c˜ao numa superf´ıcie convergente. Neste caso, o objecto (de onde partem os raios incidentes) encontra-se do mesmo lado que o foco prim´ario, ou seja, f1 e o tˆem o mesmo sinal. Ent˜ao, a raz˜ao x = o/f1 ´e positiva. Substituindo

o = xf1 na equa¸c˜ao das superf´ıcies refractoras [eq. (20)], obtemos

n2 i = x 1 − x f1 n1

[usou-se aqui tamb´em a eq. (16)], e substituindo este resultado na f´ormula da amplia¸c˜ao da eq. (19) resulta

A = 1

1 − x.

Esta f´ormula permite-nos determinar o valor da amplia¸c˜ao (logo, a orienta¸c˜ao e a amplia¸c˜ao da imagem) quando a superf´ıcie ´e convergente. Devemos considerar trˆes situa¸c˜oes:

1. O objecto est´a entre o foco prim´ario e a superf´ıcie. Neste caso, o < f1, logo x < 1. Ent˜ao A > 1, ou seja, a imagem ´e ampliada

e direita. Por outro lado, como a amplia¸c˜ao ´e positiva, cons-tatamos que a imagem ´e formada do lado do objecto; logo, ´e

definida pelos prolongamentos dos raios refractados, e n˜ao pelos raios em si. Ela ´e, assim, uma imagem virtual.

2. O objecto est´a mais afastado que o foco prim´ario, mas a uma distˆancia do espelho inferior ao dobro da distˆancia desse foco, isto ´e 2f1 < o < f1 (recorde que o e f1 s˜ao negativos). Ent˜ao

1 < x < 2, logo A < −1: a imagem ´e ampliada e invertida. Al´em disso, como a amplia¸c˜ao ´e negativa, a imagem forma-se

no lado oposto ao do objecto. Assim, a sua posi¸c˜ao ´e definida pela intersec¸c˜ao dos raios de luz refractada, ou seja, ´e real.

3. O objecto est´a a uma distˆancia da superf´ıcie refractora supe-rior ao dobro da distˆancia que separa o foco prim´ario dessa superf´ıcie. Ent˜ao x > 2, −1 < A < 0: a imagem ´e reduzida e invertida. Tal como no caso anterior, tamb´em aqui a imagem ´e real.

Consideremos agora o caso de uma superf´ıcie divergente. Nesse caso, o foco prim´ario est´a `a frente da superf´ıcie, logo, f1> 0. Assim,

a raz˜ao x = o/f1 ´e agora negativa. A amplia¸c˜ao A = 1/(1 − x) ´e

consequentemente sempre positiva e menor do que a unidade (note que 1 − x com x negativo ´e maior do que 1): a imagem formada

(17)

Figura 18: Passos na constru¸c˜ao de um diagrama de raios para estudar a refra¸c˜ao em superf´ıcies convergentes (`a esquerda) e divergentes (`a direita) [considera-se que o meio de incidˆencia tˆem ´ındice de refrac¸c˜ao inferior]. A imagem formada numa refrac¸c˜ao divergente ´e sempre reduzida, direita e virtual. No exemplo ilustrado `a esquerda, a imagem ´e invertida, reduzida e real, porque o objecto encontra-se a uma distˆancia da superf´ıcie superior ao dobro da primeira distˆancia focal (o < 2f1).

a que se encontra o objecto. Como no caso 1 das superf´ıcies convergentes, tamb´em aqui a imagem ´

e virtual.

5.3

Tra¸

cado de raios

Para se determinar a posi¸c˜ao e as caracter´ısticas da imagem refractada por tra¸cado de raios, come¸camos por calcular as posi¸c˜oes dos dois focos (prim´ario e secund´ario, usando as eqs. (15) e (16). Em seguida, representamos num diagrama (desenhado `a escala o mais cuidadosamente poss´ıvel) a superf´ıcie refractora, o eixo ´optico, o objecto e os dois focos; desenhamos um raio com origem no objecto que incida paralelamente ao eixo ´optico: esse raio ser´a refractado numa direc¸c˜ao que passa pelo foco secund´ario; desenhamos agora um raio com origem no objecto que incide na superf´ıcie numa direc¸c˜ao que contenha o foco prim´ario: esse raio ser´a difractado paralelamente ao eixo ´optico. O ponto onde as direc¸c˜oes dos dois raios se intersectam ´e a imagem refractada. A Figura 18 ilustra o procedimento para uma superf´ıcie convergente (`a esquerda) e outra divergente (`a direita).

Podemos testar a qualidade do diagrama analisando a traject´oria de raios que incidem perpen-dicularmente `a superf´ıcie. Esses raios s˜ao refractados mantendo a sua direc¸c˜ao (j´a que o ˆangulo de incidˆencia, medido relativamente `a normal, ´e neste caso zero), e essa direc¸c˜ao deve conter o ponto imagem, como acontece com todos os raios com origem no objecto. Assim, a recta que une oo objecto e a sua imagem deve ser perpendicular `a superf´ıce refractora.

Por fim, depois determinada a posi¸c˜ao da da imagem, estimamos a distˆancia que a separa da superf´ıcie e a sua altura medindo os comprimentos respectivos com uma r´egua e fazendo a transforma¸c˜ao de escala apopriada.

5.4

Refrac¸

ao em superf´ıcies esf´

ericas — Resumo

• Focos de uma superf´ıcie refractora esf´erica: raios que incidem numa superf´ıcie refractora paralelamente ao eixo ´optico v˜ao ser refractados em direc¸c˜oes que intersectam o eixo ´optico num ponto chamado foco secund´ario (F2); raios que s˜ao refractados em direc¸c˜oes paralelas

ao eixo ´optico incidem na lente segundo uma direc¸c˜ao que cont´em o foco prim´ario (F1)

• A conven¸c˜ao de sinais ´e a mesma que foi usada para espelhos: posi¸c˜oes `a esquerda da superf´ıcie refractora tˆem coordenada horizontal negativa, posi¸c˜oes `a sua direita teem-na

(18)

positiva; posi¸c˜oes acima do eixo ´optico tˆem coordenada vertical positiva, posi¸c˜oes abaixo teem-na negativa.

• Coordenadas dos focos (note que j´a n˜ao ficam no ponto m´edio entre o centro de curvatura e o v´ertice): n2 f2 = n2− n1 r n1 f1 = −n2− n1 r • Potˆencia di´optrica da superf´ıcie:

P = 1

f2

`

A unidade de potˆencia (m−1) d´a-se, em ´optica, o nome dioptria.

• Equa¸c˜ao das superf´ıcies esf´ericas: n2 i − n1 o = n2− n1 r = n2 f2 = −n1 f1 • Amplia¸c˜ao: a =h 0 h = n1 n2 i o

• A imagem refractada numa superf´ıcie divergente ´e sempre reduzida, direita, virtual • A imagem refractada numa superf´ıce convergente pode ser de diferentes tipos:

– objecto a uma distˆancia superior ao dobro da do foco prim´ario (o < 2f1): imagem

invertida, reduzida, real

– objecto mais afastado do que o foco prim´ario, mas a uma distˆancia inferior ao dobro da do foco (2f1< o < f1): imagem invertida, ampliada, real

– Objecto entre o foco e a superf´ıcie (o > f1): imagem direita, ampliada, virtual

• Tra¸cado de raios

1. Raios que incidem na superf´ıcie paralelamente ao eixo ´optico, s˜ao refractados em di-rec¸c˜oes que contˆem o foco secund´ario.

2. Raios que incidem na superf´ıcie segundo direc¸c˜oes que contˆem o foco prim´ario s˜ao refractados paralelamente ao eixo ´optico

6

Lentes finas

Uma lente ´e um peda¸co de material transparente (vidro ou pl´astico, em geral) limitado por duas superf´ıcies (as faces da lente), em geral com forma esf´erica. O eixo ´optico da lente ´e uma linha que une os centros de curvatura das duas faces (ver a Figura 19).

Figura 19: Eixo ´optico, centros de curvatura e raios de uma lente bi-convexa (esquerda) e cˆ oncavo-convexa (direita).

(19)

Figura 20: Perfis poss´ıveis para lentes convergentes (em cima) e divergentes(em baixo).

Quando a luz atravessa uma lente, d˜ao-se dois processos de refrac¸c˜ao: um `a entrada, quando a luz entra para o interior da lente, e um outro `a sa´ıda. Para compreendermos o efeito que a lente tem sobre a propaga¸c˜ao da luz, devemos pois analisar estes dois processos. Em princ´ıpio, podemos fazˆe-lo aplicando a lei de Snell no estudo de cada refrac¸c˜ao.

Um pouco de reflex˜ao considerando a lei de Snell convence-nos de que uma lente com faces planas e paralelas n˜ao tem um efeito apreci´avel sobre a traject´oria dos raios de luz que nela incidem2. Caso as duas faces da lente sejam tais que a lente ´e mais espessa no seu centro (onde

passa o eixo ´optico) do que na periferia, a lente ´e convergente e, ao contr´ario, se a lente for mais fina no centro do que na periferia, ent˜ao ela ´e divergente. A Figura 20 ilustra diferentes perfis poss´ıveis para lentes convergentes e divergentes.

Mas, se pretendermos determinar a posi¸c˜ao e as caracter´ısticas da imagens formadas por re-frac¸c˜ao em lentes, a aplica¸c˜ao directa da lei de Snell leva a c´alculos muito complicados. Em vez disso, analisamos separadamente as duas refrac¸c˜oes. A luz proveniente do objecto refracta-se na superf´ıcie anterior da lente, o que origina uma imagem, cuja posi¸c˜ao e caracter´ısticas j´a sabemos determinar. Esta imagem pode ser real ou virtual mas, para todos os efeitos, a traject´oria dos raios de luz resultantes da refrac¸c˜ao ´e em tudo semelhante `a de raios origin´arios de um objecto com as dimens˜oes, posi¸c˜ao e orienta¸c˜ao dessa imagem. Assim, a imagem resultante da refrac¸c˜ao na su-perf´ıcie anterior vai servir como objecto para a refrac¸c˜ao na superf´ıcie posterior (ver a Figura 21).

Figura 21: Determina¸c˜ao da imagem refractada numa lente: a imagem da refrac¸c˜ao na face anterior (esquerda) serve de objecto para a refrac¸c˜ao na face posterior (direita).

6.1

Equa¸

ao das lentes

Consideremos uma lente, com duas faces esf´ericas de raios r1 e r2. Seja ne o ´ındice de refrac¸c˜ao

do meio exterior `a lente (quase sempre ar) e ni o do material que constitui a lente (quase sempre

vidro). Seja d a distˆancia entre os v´ertices (isto ´e, os pontos onde o eixo ´optico intersecta as superf´ıcies) das duas faces da lente. Consideremos a luz que incide na lente proveniente de um objecto situado `a esquerda, a uma |o| do v´ertice da primeira face. De acordo com a equa¸c˜ao das superf´ıcies refractoras, a primeira refrac¸c˜ao (a que ocorre na primeira superf´ıcie) produz uma

(20)

imagem cuja posi¸c˜ao ´e dada por ni i0 − ne o = ni− ne r1 , (21)

onde i0, o e r1 s˜ao as coordenadas horizontais da imagem, do objecto e do centro de curvatura,

relativamente a uma origem situada no v´ertice da superf´ıcie onde se d´a a refrac¸c˜ao, ou seja, neste caso, no da face anterior da lente.

Agora a imagem formada na primeira refrac¸c˜ao vai servir como objecto para a segunda. Ora, a coordenada horizontal deste objecto, relativamente a uma origem situada no v´ertice da segunda, ´

e

o0= i − d.

Aplicando de novo a equa¸c˜ao das superf´ıcies refractoras mas agora `a refrac¸c˜ao na face posterior, obtemos ne i − ni o0 = ne− ni r2 , ou seja, ne i − ni i0− d = ne− ni r2 , (22)

Fazemos agora uma aproxima¸c˜ao que simplifica imenso esta an´alise: consideremos que a espesssura da lente, d, ´e desprez´avel face aos raios de curvatura das suas faces. A esta aproxima¸c˜ao chama-se aproxima¸c˜ao das lentes finas. As lentes mais comuns (as dos ´oculos, ou as dos instrumentos ´

opticos mais vulgares) s˜ao de facto finas, de forma que esta aproxima¸c˜ao n˜ao restringe muito a aplicabilidade dos resultados que viermos a obter.

Considerando ent˜ao apenas lentes finas, para as quais d ' 0, reescrevemos a eq. (22) como ne i − ni i0 = ne− ni r2 . Mas, substituindo aqui ni/i0 dado pela eq. (21), obtemos

1 i − 1 o = ni− ne ne  1 r2 − 1 r1  . (23)

Uma lente, como qualquer sistem ´optico, pode ser caracterizada pelos seus dois focos, o foco prim´ario e o foco secund´ario. Recordo que o foco prim´ario ´e o ponto onde se intersectam o eixo ´optico e as direc¸c˜oes dos raios incidentes que s˜ao refractados paralelamente ao eixo ´optico, e que o foco secund´ario ´e o ponto onde se intersectam o eixo ´optico e as direc¸c˜oes dos raios refractados que incidiram paralelamente ao eixo ´optico. Consideremos um objecto `a esquerda da lente, infinitamente afastado. Os raios de luz que dele chegam `a lente incidem nela paralelamente, e s˜ao refractados em direc¸c˜oes que intersectam o eixo ´optico no foco secund´ario, que ´e ent˜ao a imagem deste objecto. Assim, subtituindo o = −∞ e i = f2 na eq. (23) obtemos uma express˜ao

para a posi¸c˜ao do foco secund´ario: 1 f2 =ni− ne ne  1 r2 − 1 r1  . (24)

De igual modo, consideremos agora um objecto pontual situado sobre o foco prim´ario. Ent˜ao os raios que incidam na lente em direc¸c˜oes que contenham a posi¸c˜ao deste objecto s˜ao refractados pela lente em direc¸c˜oes paralelas ao eixo ´optico, ou seja, convergem (e formam a imagem) no infinito. Substituindo agora na eq. (23) o = f1e i = ∞, obtemos

1 f1 = −ni− ne ne  1 r2 − 1 r1  . Comparando estas duas igualdades, conclu´ımos que

(21)

ou seja, os dois focos de uma lente est˜ao `a mesma distˆancia da lente, um de cada lado. Define-se distˆancia focal de uma lente como a posi¸c˜ao do seu foco secund´ario, isto ´e,

f = f2.

Substituido f = f2na eq. (23) e tendo em conta a eq. (24), obtemos, por fim, a equa¸c˜ao das lentes

1 i − 1 o = 1 f. (26)

Aten¸c˜ao: o manual escolhido (Halliday Resnick e Krane, “F´ısica”) segue uma conven¸c˜ao de sinais diferente e, por isso, apresenta uma f´ormula diferente para a refrac¸c˜ao em superf´ıcies esf´ericas, na qual o termo n1/o aparece a somar, e

n˜ao a subtrair. Os alunos da disciplina podem aplicar a f´ormula que preferirem (desde que a apliquem correctamente, ´e claro).

6.2

Tra¸

cado de raios e amplia¸

ao transversal

Podemos tamb´em determinar a posi¸c˜ao da imagem refractada por uma lente por m´etodos geom´ e-tricos, com um diagrama de raios, que se constr´oi do mesmo modo que para superf´ıcies refractoras, ou seja, considerando as defini¸c˜oes dos focos. No caso das lentes finas, a constru¸c˜ao dos diagramas at´e ´e mais simples porque os dois focos encontram-se `a mesma distˆancia da lente, um de cada lado.

Come¸camos por representar no diagrama o eixo ´optico, o objecto, a lente3e os seus dois focos

(que s˜ao equidistantes da lente). Se se trata de uma lente convergente, o foco secund´ario deve ser marcado `a direita da lente e o foco prim´ario `a sua esquerda (do lado em que se deve colocar, por conven¸c˜ao, o objecto; se, pelo contr´ario, a lente ´e divergente, o foco secund´ario deve ficar do lado esquerdo e o prim´ario do lado direito da lente. Em seguida, tra¸camos um raio com origem no objecto que incide na lente paralelamente ao eixo ´optico; este raio ´e refractado numa direc¸c˜ao que passa no foco secund´ario. Por fim, tra¸camos outro raio com origem no objecto que incide na lente segundo uma direc¸c˜ao que passa no foco prim´ario; este raio ´e refractado paralelamente ao eixo ´optico. O ponto onde as direc¸c˜oes dos dois raios refractados se cruzam ´e o ponto imagem.

At´e aqui, o procedimento ´e, como se vˆe, em tudo idˆentico ao seguido no tra¸cado de raios para superf´ıcies refractoras. Com lentes, no entanto, dispomos de um raio adicional. No centro da lente, as duas faces s˜ao paralelas (porque ambas s˜ao a´ı perpendiculares ao eixo ´optico. Assim, para um raio que incida no centro de uma lente com espessura desprez´avel, tudo se passa como se incidisse numa lente de faces planas e paralelas; logo, n˜ao um tal raio n˜ao sofre nenhum desvio, ou seja, atravessa a lente rectilineamente.

A Figura 22 ilustra os diagramas de raios para lentes convergentes e divergentes.

Figura 22: Diagramas de raios para a refrac¸c˜ao em lentes convergentes (`a esquerda) e divergentes (`a direita).

Foquemos agora a nossa aten¸c˜ao no primeiro diagrama (o da esquerda) da Figura 22, mais concretamente dos triˆangulos rectˆangulos definidos pelas duas extremidades do objecto e pelo

3Aproveito para introduzir uma conven¸ao de nota¸oes: nos diagramas de raios, ´e costume representar uma lente

convergente por um tra¸co vertical com setas viradas para fora nos seus extremos ( ) e as divergentes por um tra¸co vertical com setas viradas para dentro ( ).

(22)

v´ertice da lente (um), e pelas duas extremidades da imagem e pelo v´ertice (o outro). Estes dois triˆangulos s˜ao obviamente semelhantes, de forma que podemos escrever

h −o=

h0 i ,

onde h e h0 s˜ao respectivamente as alturas do objecto e da imagem e o e i s˜ao as suas respectivas coordenadas horizontais. Reordenando os termos, obtemos

h0

h =

i o.

Mas o quociente entre a altura da imagem e do objecto ´e a amplia¸c˜ao transversal. Ent˜ao a express˜ao da amplia¸c˜ao das imagens refractadas em lentes ´e

A = i

o. (27)

6.3

Propriedades das imagens refractadas em lentes finas

Lentes divergentes

Como j´a vimos, o foco secund´ario das lentes divergentes situa-se `a esquerda da lente, ou seja, f ≡ f2 < 0. Assim, a raz˜ao x = o/f ´e positiva (´e o quociente entre dois n´umeros negativos).

Podemos exprimir i como fun¸c˜ao de o e f , resolvendo a equa¸c˜ao das lentes [eq. (26)] em onde a i, obtendo-se

i = of o + f

Substituindo esta igualdade na express˜ao da amplia¸c˜ao transversal [eq. (27)], vem

A = f o + f = 1 1 + o/f = 1 1 + x.

Mas, como acab´amos de constatar, para lentes divergentes o quociente x = o/f ´e positivo, de forma que a amplia¸c˜ao resulta positiva e menor que a unidade. A imagem refractada numa lente divergente ´e, pois, direita e reduzida. Al´em disso, como a amplia¸c˜ao ´e positiva, i e o tˆem o mesmo sinal, ou seja, a imagem forma-se do lado da lente onde se encontra o objecto. Assim, a sua posi¸c˜ao ´e definida pelo prolongamento dos raios refractados para o lado da incidˆencia, e n˜ao pelos raios refractados em si, isto ´e, trata-se de uma imagem virtual.

Lentes convergentes

Para lentes convergentes, o foco secund´ario encontra-se `a direita da lente; logo, f ≡ f2 > 0. A

raz˜ao x = o/f ´e agora negativa. Assim, considerando a f´ormula para a amplia¸c˜ao que deduzimos no par´agrafo anterior, A = 1/(1 + x), devemos agora distinguir as trˆes seguintes possibilidades:

• o objecto encontra-se entre o foco e a lente (o > −f ). Neste caso, −1 < x < 0 e a amplia¸c˜ao ´

e ent˜ao maior do que a unidade. Assim, neste caso a imagem ´e direita e ampliada. Para al´em disso, a imagem forma-se do lado do objecto e, portanto, ´e virtual.

• o objecto encontra-se a uma distˆancia da lente superior `a distˆancia focal, mas inferior ao dobro da distˆancia focal (−2f < o < −f ). Agora, temos A < −1, ou seja, a imagem ´e invertida e ampliada. Por outro lado, ela forma-se do lado da lente oposto `aquele onde se encontra o objecto; logo, ´e real

• o objecto encontra-se a uma distˆancia da lente superior ao dobreo da distˆancia focal (o < −2f ). Temos agora −1 < A < 0: a imagem ´e invertida, reduzida e real.

(23)

Figura 23: Diagramas de raios para uma lente convergente quando o objecto se encontra entre a lente e o foco (`a esquerda), quando o objecto se encontra a uma distˆancia da lente compreendida entre uma e duas distˆancias focais (ao centro) e quando o objecto se encontra a uma distˆancia da lente superior a duas distˆancias focais (`a direita).

6.4

Refrac¸

ao em lentes finas — Resumo

• Os dois focos de uma lente fina encontram-se a igual distˆancia do seu centro, um de cada lado.

• Para lentes convergentes, o foco prim´ario encontra-se do lado da incidˆencia da luz e o foco secund´ario do lado oposto. Para lentes divergentes, ´e ao contr´ario.

• Raios que incidem na lente paralelamente ao eixo ´optico s˜ao refractados em direc¸c˜oes que passam no foco secund´ario. Raios que incidem na lente segundo direc¸c˜oes que passam no foco prim´ario s˜ao refractados paralelamente ao eixo ´optico. Raios que incidem no centro da lente n˜ao sofrem qualquer desvio quando atravessam a lente, mantˆam a sua direc¸c˜ao. • Coordenadas dos focos de uma lente

n1 f1 = −ni− ne ne  1 r1 − 1 r2  , n2 f2 =ni− ne ne  1 r1 − 1 r2  ,

onde se verifica a conven¸c˜ao de sinais (cartesiana) a que aderimos, nie nes˜ao respectivamente

os ´ındices de refrac¸c˜ao do material de que ´e composta a lente e do meio exterior e r1 e r2

s˜ao, respectivamente (e a aten¸c˜ao que ordem ´e importante!), os raios de curvatura das faces de entrada e de sa´ıda da luz na lente.

• Distˆancia focal de uma lente ´e a coordenada horizontal do foco secund´ario: f ≡ f2.

• Equa¸c˜ao das lentes:

1 i − 1 o = 1 f. • Amplia¸c˜ao A = i o

7

Sistemas ´

opticos compostos

Sistemas ´opticos compostos s˜ao sistemas que s˜ao constitu´ıdos por v´arios elementos ´opticos (lentes, espelhos, superf´ıcies) e n˜ao por um ´unico, como os que at´e agora temos vindo a estudar. Nesta sec¸c˜ao vamos estudar as propriedades das imagens produzidas por estes sistemas.

Na verdade, j´a estud´amos nestes apontamentos um exemplo de sistemas ´opticos compostos. Com efeito, descrevemos as lentes finas como duas superf´ıcies refractoras esf´ericas. A abordagem

(24)

que us´amos para o estudo das lentes como um sistemas de duas superf´ıcies ´e o molde com que se estudam todos os sistemas ´opticos compostos. Consiste em considerar separadamente cada um dos elementos, e em usar a imagem produzida por cada um como objecto para a forma¸c˜ao da imagem no seguinte.

´

E mais f´acil perceber isto seguindo um exemplo. Consideremos o sistema ´optico esquematizado na Figura 24, constitu´ıdo por duas lentes (convergentes, mas isso ´e um detalhe agora irrelevante) com distˆancias focais f e f0, situadas a uma distˆancia d uma da outra. Para determinarmos

Figura 24: Um sistema ´optico composto por duas lentes com distˆancias focais f e f0 situadas a uma distˆancia d uma da outra.

as propriedades das imagens formadas por refrac¸c˜ao nas duas lentes do sistema, consideramos primeiro o efeito da primeira lente e depois o efeito da seguunda lente, tomando como objecto a imagem produzida pela primeira. Em termos do tra¸cado de raios, as duas fases deste processo est˜ao esquematizadas na Figura 25.

Figura 25: Como determinar a posi¸c˜ao da imagem refractada num sistema de duas lentes: a imagem produzida por refrac¸c˜ao na primeira lente serve de objecto para a refrac¸c˜ao na segunda.

Algebricamente, o processo consiste no mesmo: determina-se a posi¸c˜ao da imagem refractada na primeira lente e essa imagem ser´a o objecto para a refrac¸c˜ao na segunda. Assim, se o for o valor da coordenada horizontal do objecto, medida relativamente `a primeira lente, ent˜ao o valor, i1 da coordenada horizontal (medida ainda relativamente `a primeira lente) da imagem refractada

nessa lente ´e dada por

1 i1 −1 o = 1 f.

A coordenada horizontal desta posi¸c˜ao (que ser´a agora a do objecto para a refrac¸c˜ao na segunda lente), medida relativamente `a segunda lente ´e

o2= i1− d,

onde, recordo, d ´e a distˆancia entre as duas lentes. A imagem refractada na segunda lente do objecto que consiste na imagem do objecto original refractada na primeira lente tem ent˜ao uma posi¸c˜ao, medida relativamente `a segunda lente, dada de novo pela lei das lentes:

1 i − 1 o2 = 1 f0.

(25)

A amplia¸c˜ao transversal da imagem refractada pelas duas lentes ´e, como sempre, a raz˜ao entre a altura da imagem (final) e a do objecto:

A = h

0

h.

Mas podemos multiplicar e dividir o segundo membro desta igualdade pela altura da imagem interm´edia, isto ´e daquela que se forma por refrac¸c˜ao na primeira lente apenas. Representando essa altura por h00, temos

A = h

0

h00

h00

h = A2A1,

onde A1 e A2 s˜ao as amplia¸c˜oes da primeira e da segunda refrac¸c˜oes, respectivamente.

7.1

Objectos virtuais

Pode ocorrer que a imagem refractada pela primeira lente se situe `a direita da segunda lente, como mostra a Figura 26. Nesse caso, dizemos que o objecto para a refrac¸c˜ao na segunda lente ´e um objecto virtual.

Figura 26: Exemplo de um objecto virtual: a imagem refractada na primeira lente est´a situada `a direita da segunda lente.

Do ponto de vista alg´ebrico, um objecto virtual distingue-se dos objectos reais apenas por terem coordenada horizontal positiva (ao contr´ario de todos os que consider´amos at´e agora, que eram todos reais). Mesmo estando o objecto interm´edio `a direita da segunda lente, a equa¸c˜ao das lentes continua v´alida, pelo que a podemos continuar a usar tamb´em nestes casos. Ou seja, numa abordagem alg´ebrica o procedimento ´e exactamente o mesmo, quer o objecto seja real, quer seja virtual.

Mas como fazer o tra¸cado de raios com um objecto virtual? O problema ´e como determinar em que direc¸c˜oes s˜ao refractados os raios que tra¸c´amos para definir a posi¸c˜ao da imagem refractada na primeira lente, e que encontram a segunda lente antes de a formarem. Para o raio que incidiu na primeira lente ap´os ter passado no foco prim´ario da primeira (ou, no caso das lentes divergentes, ap´os ter incidido na primeira lente numa direc¸c˜ao que continha o seu foco prim´ario), a quest˜ao ´e trivial, uma vez que este raio incide na segunda lente paralelamente ao eixo ´optico. Ele ´e refractado pela segunda lente numa direc¸c˜ao que contem o seu foco secund´ario.

Por outro lado, um outro raio refractado pela primeira lente tem um comportamento f´acil de prever quando atravessa a segunda lente: o raio que incide nela exactamente no centro. Este raio n˜ao ´e desviado pela segunda lente, de forma que continua o seu caminho at´e atingir o ponto onde se encontra a imagem refractada pela primeira lente. O ponto onde estes dois raios (o que incide na segunda lente paralelamente ao eixo ´optico e o que incide no seu centro) se intersectam ´e local onde se forma a imagem refractada no conjunto das duas lentes (veja a Figura 27).

(26)

Figura 27: Como determinar a posi¸c˜ao da imagem refractada numa lente de um objecto virtual: considera-se um raio que incida na lente paralelamente ao eixo ´optico e outro que incida no centro da lente.

8

Instrumentos ´

opticos

8.1

O olho humano

8.2

A lente de aumento

8.3

Microsc´

opio composto

8.4

Telesc´

opio

Referências

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