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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICIA

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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICIA

Avaliação do estado funcional em pais primíparos

e pais multíparos às 6

CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICIA

Avaliação do estado funcional em pais primíparos

e pais multíparos às 6-8 semanas pós-parto

Ana Catarina Fernandes Barata

Coimbra, julho de 2013

CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICIA

Avaliação do estado funcional em pais primíparos

parto

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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICIA

Avaliação do estado funcional em pais p

e pais m

Orientadora: Professora Doutora Isabel Margarida Marques Monteiro Dias Mendes, Professora Coordenadora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Co-Orientadora: Mestre Sónia Margarida dos Santos Coelho, Enfe

de Centros de Saúde Baixo Mondego

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia.

CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICIA

Avaliação do estado funcional em pais primíparos

e pais multíparos às 6-8 semanas pós-parto

Ana Catarina Fernandes Barata

Orientadora: Professora Doutora Isabel Margarida Marques Monteiro Dias Mendes, Professora Coordenadora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

Orientadora: Mestre Sónia Margarida dos Santos Coelho, Enfermeira no Agrupamento de Centros de Saúde Baixo Mondego – Bussaco-Atlântico

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para a obtenção do grau de mestre em

Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia.

Coimbra, julho de 2013

CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICIA

rimíparos

parto

Orientadora: Professora Doutora Isabel Margarida Marques Monteiro Dias Mendes, Professora Coordenadora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

rmeira no Agrupamento Atlântico

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A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará a ser do tamanho original.

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À minha Mãe, que apesar da ausência física me acompanhou de mãos dadas ao longo dos dois últimos anos.

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AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Isabel Margarida Marques Monteiro Dias Mendes e à Enfermeira Sónia Margarida dos Santos Coelho, pela orientação científica do trabalho, pelo incentivo, calma e amizade demonstrada ao longo desta longa e difícil caminhada. A todos os pais que aceitaram participar nesta investigação, contribuindo assim para a evolução da ciência. Um agradecimento muito especial pois sem eles não teria conseguido alcançar esta etapa da minha vida académica.

Aos enfermeiros de todos os centros de saúde onde realizei a recolha de dados, pela disponibilidade e paciência.

Ao meu Pai, que está sempre ao meu lado sem nunca me deixar desistir!

Às minhas colegas e amigas do curso de especialidade, Sónia, Liana e Ana, e ao Ricardo, que me ajudaram, apoiaram, compreenderam e ouviram, nos bons e maus momentos deste percurso.

Aos meus amigos, pelo carinho, pelo incentivo e pela compreensão nas minhas ausências.

Ao André, pela sua incansável dedicação, apoio, compreensão, incentivo e amor, e ao João André, só por existir, me fazer Mãe e, por isso, me dar forças para alcançar todos os meus objetivos. Aos dois grandes amores da minha vida, sem eles nada disto seria possível!

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SIGLAS

ACES – Agrupamento de Centros de Saúde ARS – Administração Regional de Saúde

CIPE – Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem CNPD – Comissão Nacional de Proteção de Dados

CS – Centro de Saúde

ESEnfC – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra ESMO – Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia F – Teste One-Way ANOVA

IEF-P – Inventário do Estado Funcional – Pais

IFSAC – The Inventory of Functional Status After Childbirth IFS-AP – The Inventory of Functional Status – Antepartum IFS-F – The Inventory of Functional Status – Fathers OMS – Organização Mundial de Saúde

Md – Mediana Mo – Moda MP – Médico particular n – Frequência absoluta N – Amostra p – Significância RN – Recém-nascido rs – Correlação de Spearman

SPSS® – Statistical Package for Social Sciences

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t – Teste t de Student para amostras independentes VD – Variável dependente VI – Variável independente Z – Teste U de Mann-Whitney α – Alpha de Cronbach ̅ – Média

xmin – Valor mínimo

xmáx – Valor máximo

– Teste de Kruskal-Wallis % – Percentagem

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RESUMO

Enquadramento: O papel do pai na sociedade foi mudando ao longo do tempo,

decorrente das alterações que a própria sociedade foi sofrendo. Se no passado o pai assumia um papel distante em relação aos filhos, o homem atual envolve-se, demonstra interesse e está presente física e emocionalmente no decorrer da gravidez, parto e puerpério. A parentalidade marca um momento de crise, que à luz do modelo de adaptação de Roy exige uma adaptação e responsabilização dos pais aos novos papéis apresentados. Considerando-se estado funcional o modo adaptativo do desempenho desses papéis.

Objetivos: Avaliar e descrever o estado funcional dos pais 6 a 8 semanas após o

parto, analisar a associação entre fatores de natureza sociodemográfica e obstétrica no estado funcional paterno e comparar o estado funcional em pais primíparos e em pais multíparos no mesmo período.

Método: Para a realização deste estudo descritivo-correlacional e transversal foi

aplicado como instrumento de recolha de dados um questionário (constituído por caracterização sociodemográfica e Inventário do Estado Funcional-Pais - IEF-P), após autorização das comissões de ética e aprovação da comissão nacional de proteção de dados (CNPD). Recolha de dados pró-formulário, decorrente entre novembro de 2012 e junho de 2013 na região norte e centro do país. A amostra deste estudo é constituída por 67 pais (amostra não probabilística do tipo acidental).

Resultados: A evidência gerada com o estudo revela que o estado funcional paterno

não é influenciado pela idade, habilitações literárias, local de residência, estado civil e paridade. Sendo parcialmente influenciado pela situação profissional e local de vigilância da pré-natal.

Conclusões: A estabilidade profissional parece transmitir estabilidade emocional.

Acreditando-se que o homem ao sentir que assegura o sustento da família, se sente também mais disponível para participar nas novas tarefas e responsabilidades. Atualmente, os pais procuram saber tudo sobre o seu filho optando cada vez mais por serviços especializados, cabendo aos profissionais de saúde e nomeadamente aos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia (ESMO), desenvolver competências e demonstrar a qualidade nos cuidados prestados nos centros de saúde (CS), contribuindo para uma transição e adaptação à parentalidade mais favoráveis.

Palavras-chave: estado funcional paterno, parentalidade, pós-parto, família,

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ABSTRACT

Background: The father´s role in society has been changing trough time, as a result of

the evolution suffered by society. If in the past, the father used to assume a distant role in his relationship with his children, nowadays he gets involved, shows interest and stays physically and emotionally present during pregnancy, birth and puerperium. Parenthood sets a moment of crisis, which in Roy´s adaptation model requires an adaptation and accountability of the father regarding the new roles he now has to assume. In this process we consider the functional status to be the adaptative mode to the performance of these roles.

Objectives: Evaluate and describe the functional status of the father 6 to 8 weeks after

the birth, analyze the association between sociodemographic and obstetrics factors in fathers’ functional status and finally, to compare the functional state of first time fathers and multiple time ones, in the same period.

Method: For this descriptive-correlational and transversal study was applied as a tool

for data collection a questionnaire (consisting in socialdemographic characterization and the inventory of functional status – fathers, portuguese version), after the necessary ethics committee and CNPD approval. Pro-form data collection from November 2012 to June 2013, in the north and center of the country. The sample was made of 67 fathers (non probabilistic sample, accidental type).

Results: The study revealed evidence that fathers’ functional status is not influenced

by age, qualification, place of residence, marital status and parity. However is partly influenced by professional situation and pre-natal surveillance site.

Conclusions: Profession stability seems to transfer emotional stability, as we believe

that the man feels more available to participate in new tasks and responsibilities if he feels that he assures his family livelihood. Nowadays, parents seek to know everything about his child, increasely choosing specialized services and leaving to the health professionals, namely midwifes, the skills development and the demonstration of quality in the health care rended in health centers, allowing and contributing to a more favorable transition and adaptation periods.

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RESUMEN

Fondo: El papel del padre en la sociedad ha cambiado a lo largo del tiempo, derivado

de los cambios que la propria sociedad ha sufrido. En el pasado, el padre tenía una relación distante con sus hijos, mientras el corriente padre se interesa y se demuenstra física y emocionalmente presente durante el embarazo, el nacimiento y el puerperio. La parentalidade marca un momento de crisis, que bajo el modelo de adaptación de Roy requiere una adaptación y responsabilizacion de los padres con respeto a sus nuevos papeles presentados. Se considera el estado funcional, el modo adaptativo del desempeño de estos papeles.

Objetivos: Evaluar y describir el estado funcional paternal, 6 a 8 semanas después

del nacimiento. Analizar la asociación entre los factores de naturaleza socio demográfica y obstétrica en el estado funcional paternal y por fin comparar el estado funcional en padres primíparos y multíparos en el mismo período.

Método: Para este estudio descritivo-correcional y transversal se aplicó como

herramienta para la recolección de datos ha sido un cuestionario (que consiste en caracterización socio demográfica y inventario del estado funcional – padres), seguido de las necesarias aprobaciones de las comisiones de ética y CNPD. Recolección de datos pro-forma transcurrida de Noviembre 2012 a Junio 2013, en el norte y centro del país. La muestra en este estudio es constituida por 67 padres (muestra no probabilística accidental).

Resultados: El estudio ha establecido que el estado funcional paternal no es

influenciado por edad, calificaciones, domicilio, estado civil y paridad, todavía siendo parcialmente influenciado por la situación profesional y local de vigilancia pre-natal.

Conclusiones: La estabilidad profesional parece transmitir estabilidad emocional. Se

cree que el hombre se siente más predispuesto para participar en las nuevas tareas y responsabilidades al sentir que asegura el sustento de su familia. Actualmente los padres buscan saber todo lo posible sobre su niño, siendo creciente su opción por servicios especializados, requiriendo a los profesionales de salud (a saber los enfermeros especializados en obstetricia) el desarrollo de habilidades y la demostración de calidad en los cuidados de los centros de salud, contribuyendo para una transición y adaptación más favorable.

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SUMÁRIO

Pág.

INTRODUÇÃO…….…….……….…….……….…….……... 21

I PARTE: ENQUADRAMENTO TEÓRICO….…….……… 25

1. PARENTALIDADE….…….……….…….……….. 27

1.1. CONCEITO DE FAMÍLIA E SUA EVOLUÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA... 27

1.2. A EVOLUÇÃO DO PAPEL DO PAI NO DECORRER DA HISTÓRIA………. 31

1.3. A TRANSIÇÃO PARA A PARENTALIDADE. ….…….………... 34

1.3.1. O pai no pós-parto – compreensão sob a ótica do Modelo de Adaptação de Roy….…….……….…….……….………… 42

2. CONCEITO DE ESTADO FUNCIONAL PATERNO….…….………... 49

3. FATORES ASSOCIADOS AO ESTADO FUNCIONAL PATERNO….…….…. 53

3.1. FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS….…….……….…….……... 53

3.2. FATORES OBSTÉTRICOS….…….……….…….……… 55

II PARTE: ESTUDO EMPÍRICO….…….……….…….……… 57

4. METODOLOGIA….…….……….…….……….. 59

4.1. PROBLEMÁTICA, TIPO DE ESTUDO E OBJETIVOS….…….……… 59

4.2. QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO….…….……….…….………. 62

4.3. POPULAÇÃO E AMOSTRA….…….……….…….………... 62

4.4. OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS….…….……… 64

4.4.1. Variável dependente….…….……….…….……….. 64

4.4.2. Variáveis independentes….…….……….…….……….. 64

4.5. INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS….…….……… 66

4.6. PROCESSO DE RECOLHA DE DADOS….…….……….…….……. 71

4.7. PROCEDIMENTOS ÉTICOS E FORMAIS ….…….………... 72

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5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS….…….……… 75

5.1. CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA….…….……….. 75 5.2. CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO FUNCIONAL PATERNO….…….………. 78

5.3. INFLUÊNCIA DOS FATORES SOCIODEMOGRAFICOS E

OBSTÉTRICOS NO ESTADO FUNCIONAL PATERNO….…….……….. 79

6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS….…….……….…….……….. 89 CONCLUSÃO/SUGESTÕES….…….……….…….………. 95 BIBLIOGRAFIA

APÊNDICES

APÊNDICE I – Instrumento de recolha de dados APÊNDICE II – Pedidos de autorização às instituições APÊNDICE III – Consentimento livre e informado

APÊNDICE IV – Quadros de procedimentos estatísticos ANEXOS

ANEXO I – Parecer da comissão de ética da Unidade de Investigação em

Ciências de Saúde: enfermagem

ANEXO II – Autorização do ACES do baixo mondego III ANEXO III – Parecer da comissão de ética da ARS do centro

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ÍNDICE DE QUADROS

Pág. Quadro 1 – Relação entre os conceitos mais importantes do Modelo de

Adaptação de Roy e os apresentados no estudo……...…..….…….……… 46

Quadro 2 – Relação entre os pressupostos mais importantes do Modelo de Adaptação de Roy e os apresentados no estudo………….….…….……… 47

Quadro 3 – Dimensões e itens do IEF-P….…….……….…….…………. 67

Quadro 4 – Consistência interna do IEF-P….…….………..….……… 70

Quadro 5 – Distribuição dos pais pela idade….…….………. 76

Quadro 6 – Distribuição das características sociodemográficas dos pais (N=67)……….. 76

Quadro 7 – Distribuição das características obstétricas (N=67) ….…….………... 77

Quadro 8 – Medidas descritivas observadas para o IEF-P….…….………. 78

Quadro 9 – Comparação entre os valores médios e desvio padrão do estado funcional paterno, do estudo realizado, com alguns estudos de referência……... 79

Quadro 10 – Matriz de correlação bivariada de Spearman entre o estado funcional paterno e a idade….…….……….…….……… 80

Quadro 11 – Resultados da aplicação do teste de Kruskal-Wallis; VD: estado funcional paterno; Fator: habilitações literárias….…….………. 81

Quadro 12 – Resultados da aplicação do teste One-Way ANOVA; VD: estado funcional paterno; Fator: habilitações literárias….…….………. 81

Quadro 13 – Resultados da aplicação do teste t de Student para amostras independentes; VD: estado funcional paterno; VI: situação profissional………… 82

Quadro 14 – Resultados da aplicação do teste U de Mann-Whitney; VD:estado funcional paterno; VI: situação profissional……….. 82

Quadro 15 – Resultados da aplicação do teste One-Way ANOVA; VD: estado funcional paterno; Fator: local de residência………... 83

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Quadro 16 – Resultados da aplicação do teste de Kruskal-Wallis; VD: estado funcional paterno; Fator: local de residência….…….……….…….……... 83 Quadro 17 – Resultados da aplicação do teste One-Way ANOVA; VD: estado funcional paterno; Fator: estado civil….…….……….…….……… 84 Quadro 18 – Resultados da aplicação do teste de Kruskal-Wallis; VD: estado funcional paterno; Fator: estado civil….…….……….…….……… 84 Quadro 19 – Resultados da aplicação do teste de Kruskal-Wallis; VD: estado funcional paterno; Fator: local de vigilância pré-natal….…….……….. 85 Quadro 20 – Resultados da aplicação do teste t de Student para amostras independentes; VD: estado funcional paterno; VI: paridade….…….………... 87 Quadro 21 – Resultados da aplicação do teste U de Mann-Whitney; VD: estado funcional paterno; VI: paridade….…….……….…….……….. 87

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INTRODUÇÃO

A gravidez e o nascimento de um filho implicam uma grande mudança na vida de um casal. As exigências próprias da prestação de cuidados assim como o processo irreversível de mudança da identidade, papéis e funções dos pais e de toda a família podem constituir um fator stressante.

Homens e mulheres vivem etapas semelhantes no processo de transição para a parentalidade apesar de o viverem em tempos ligeiramente diferentes, sendo a experiência para o pai muito mais psicológica e emocional do que física.

Tulman, Fawcett e Weiss (1993) desenvolveram The Inventory of Functional Status –

Fathers (IFS-F) tendo realizado estudos no sentido de enfatizarem a adaptação do

papel paterno durante os três trimestres de gravidez e após o parto, definindo estado funcional paterno como um conceito multidimensional que engloba a manutenção ou aumento de capacidades, na realização de tarefas domésticas, atividades sociais e comunitárias, cuidados ao recém-nascido (RN), cuidados à criança, atividade de cuidados pessoais, atividades laborais/profissionais e atividades de formação durante aqueles períodos.

Inicialmente e tendo como base o modelo teórico de enfermagem de adaptação de Roy, o conceito de estado funcional foi direcionado para a adaptação e responsabilização das mulheres após o nascimento de um filho (Fawcett e Tulman, 1990). Sendo posteriormente, durante os anos 90 alargado o estudo do estado funcional para recém pais (Tulman, Fawcett e Weiss,1993).

Durante décadas a gravidez e maternidade eram vistas como fenómenos exclusivamente femininos, centrando-se as atenções na mulher, no seu bem-estar e no bebé. Apesar de esta tendência ter vindo a ser contrariada, especialmente a partir dos anos 90, as investigações estão longe de colocar o pai e a mãe no mesmo nível. Sabe-se hoje que os homens assumem um papel muito mais participativo e interessado ao longo da gravidez, parto e posteriormente nos cuidados ao RN, acreditando-se nos positivos efeitos paternos no desenvolvimento da criança e no desenvolvimento da competência masculina em funções tradicionalmente vistas como maternas.

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Tendo por base este cenário considerou-se pertinente a realização do estudo do estado funcional paterno (em pais primíparos e pais multíparos) após o nascimento de um filho.

Os principais objetivos deste estudo, de cariz descritivo-correlacional, passam pela avaliação do estado funcional dos pais1 6 a 8 semanas após o parto e pela análise da influência de algumas variáveis sociodemográficas e obstétricas, comparando ainda o estado funcional em pais primíparos e pais multíparos.

De acordo com este propósito, e tendo como base a literatura e investigação já desenvolvida nesta área, definiram-se as seguintes questões de investigação.

QI: Qual o estado funcional paterno às 6-8 semanas pós-parto?

QII: Qual a relação entre o estado funcional paterno e as variáveis sociodemográficas (idade, habilitações literárias, situação profissional, local de residência, estado civil) e obstétricas (local de vigilância pré-natal, paridade)?

Para a consecução do estudo foi aplicado um questionário dividido em três partes: uma pequena nota introdutória, uma segunda parte composta por 11 questões do foro sociodemográfico e a terceira parte constituindo o Inventário do Estado Funcional-Pais (IEF-P).

Participaram 67 pais pertencentes às zonas norte e centro do país, que após terem tomado conhecimento dos objetivos e âmbito da investigação, aceitaram participar no mesmo e assinaram o consentimento livre e informado.

No decorrer deste estudo foram respeitados todos os preceitos éticos inerentes à investigação científica, tendo sido o projeto de investigação submetido à comissão de ética da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) e obtido um parecer favorável – Parecer nº 99-06/2012. Foi ainda realizado o pedido de autorização aos Conselhos de Administração dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) do baixo mondego I e Baixo mondego III. O referido pedido foi encaminhado à comissão de ética da Administração Regional de Saúde (ARS) do centro que deu o seu parecer positivo a 23 de janeiro de 2013 mediante a autorização da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), a qual autorizou a aplicação dos questionários a 30 de abril de 2013.

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O presente relatório encontra-se dividido em duas grandes partes, primeira parte constituída pelo enquadramento teórico e a segunda parte onde é apresentado o estudo empírico.

No enquadramento teórico são abordados, ao longo de três capítulos, os conceitos de família, parentalidade e estado funcional, sendo realizada uma revisão sobre a evolução da família e do papel do pai na sociedade ocidental no decorrer da história assim como uma análise do processo de transição para a parentalidade. Destacando-se ainda, nesta primeira parte, os fatores associados ao conceito de estado funcional paterno.

A apresentação do estudo empírico encontra-se também dividida em três capítulos, sendo eles a parte metodológica, apresentação e análise dos resultados obtidos e respetiva discussão dos mesmos. Terminando este trabalho com as conclusões e sugestões para trabalhos futuros.

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1. PARENTALIDADE

A chegada de um filho constitui uma grande mudança na vida de um casal, acarretando alterações na vida pessoal, conjugal, social e profissional. Estando, atualmente, o homem mais consciente da importância do seu papel no seio familiar, este mostra-se cada vez mais disponível para assumir as suas responsabilidades no acompanhamento da gravidez da companheira e no acompanhamento e desenvolvimento dos seus filhos.

No presente capítulo será abordada a evolução da família e do papel paterno ao longo da história, o processo de transição para a parentalidade e a sua compreensão sob a ótica do modelo de adaptação de Roy. Define-se ainda o conceito de estado funcional paterno e os fatores sociodemográficos e obstétricos associados a este conceito.

1.1. CONCEITO DE FAMÍLIA E SUA EVOLUÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA

Ao longo da história, a família enquanto instituição não teve sempre o significado que lhe atribuímos atualmente tendo-se moldado em função das mudanças sociais. Esta sofreu alterações importantes a nível biológico, da diferença sexual, da função da mulher e do homem assim como a nível do simbólico e das proibições, o que se repercutiu no interior da sua estrutura e do seu funcionamento (Bayle, 2005).

Nos primeiros séculos e segundo o antigo testamento, a pessoa que atinge a maioridade deverá casar. Nesta época o casamento tinha em vista a procriação, de tal forma que no referido documento nasce a obrigatoriedade do “levirato”, ou seja, o dever do homem desposar a viúva do seu irmão se esta não tiver tido filhos do falecido. A limitação voluntária da natalidade é vista com estranheza. Os filhos definem a sorte do casal e da mulher, em especial. E magoar uma grávida é considerado o ato mais criminoso (Relvas e Lourenço, 2001).

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Já no século V, Santo Agostinho resume em três bens a reflexão dos primeiros padres acerca do casamento: proles, files, sacramentum (descendência, fidelidade, sacramento). Segundo este pensador, o primeiro bem no casamento é a sua procriação. No entanto, aceita que possam existir relações sexuais sem intenção de reprodução desde que se mantenha a intenção de cumprir o “dever conjugal” (Idem). Ao longo dos primeiros séculos percebe-se que, a descendência já não é o objetivo principal do casamento e, nem a adoção nem o divórcio são aceites por motivos de esterilidade (Ibidem).

No período que decorre entre os séculos XVI e XIX, a família vai modificar-se a todos os níveis. Na idade média, a doação efetuada para o casamento, entregue no dia das núpcias à noiva, era registada na “tábua de dote” e visava a “procriação de filhos ou causas necessárias” (Relvas e Lourenço, 2001, p.109). Nesta época o casamento era visto como um contrato civil que unia o homem à mulher com o intuito de procriar filhos legítimos (Relvas e Lourenço, 2001).

Nesta época, a família é aberta ao exterior, relacionando-se com os outros membros da família alargada e com os vizinhos, ao ponto de perder a sua privacidade. Ela é autoritária, contém as suas emoções e a sexualidade não é vista como fonte de prazer mas apenas como meio de procriação (Bayle, 2005).

A este modelo familiar segue-se a família patriarcal, modelo que imperou entre o século XVII e o início do século XVIII. A família torna-se independente dos outros parentes e do exterior, notando-se um crescendo da expressão de emoções, do amor conjugal e parental apesar do forte poder paternal que se faz ainda sentir (Idem). Mais tarde no século XIX, o pensamento roda à volta da ideia que a relação maternal enfraquece o amor conjugal. Mantém-se a ideia do casamento com objetivo de procriação. Aqui a mulher ocupa o papel central, sendo o filho o objetivo e o homem não passando do meio para realizar o seu desejo de procriação. Com o nascimento, o homem é afastado do leito conjugal e até mesmo do bebé, para que este não perturbe o sono do pai que têem obrigações laborais. O coito é também proibido durante todo o período de amamentação para que não prejudique a criança (Relvas e Lourenço, 2001).

Estas funções afetivas, indiscriminadamente atribuídas à mulher pela comunidade científica (quer ao nível da sociologia, da psicanálise ou da medicina), ajudaram a colocar a mulher em casa, fortalecendo um contexto social em que o poder da mulher já dependia, em grande parte, da sua fertilidade (Idem).

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A partir dos anos 70, um extenso conjunto de fenómenos pôs em destaque um tipo de família: a família nuclear doméstica fechada (mais conhecida na época como burguesa) com fortes laços emocionais, bastante individualizada em relação à família alargada e preocupada com a educação dos filhos. A partir deste ponto a escolha do cônjuge é feita em função de um relacionamento com amor e afeto, baseado nas normas do amor romântico (Bayle, 2005; Leal, 2005).

Já na atualidade, a família é vista como uma das mais importantes instituições da sociedade, representando um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. Esta é reconhecida como uma unidade social fundamental, uma vez que os contactos nela estabelecidos são por norma mais duradouros do que com qualquer outro grupo. Unanimemente considerada como a principal responsável pela inclusão e socialização das crianças, transmite aos seus membros princípios, valores e o seu background cultural, sendo por isso o pilar necessário para um bom equilíbrio pessoal e social (Bobak, Lowdermilk e Jensen, 1999; Bayle, 2005; Lowdermilk e Perry, 2006).

Trata-se de uma união mais ou menos durável, e socialmente aprovada, entre um homem, uma mulher e os seus filhos, existindo uma relação de aliança a nível horizontal e uma relação de filiação a nível vertical. E ao contrário do que consideravam alguns autores, a família não é uma construção da sociedade, é antes um fenómeno universal, presente em todos os tipos de sociedade (Bayle, 2005). Apesar do stresse e das tensões da vida moderna, a família através da sua estrutura e funcionamento, constitui ainda, para os seus membros, o seu principal sistema de suporte (Bobak, Lowdermilk e Jensen, 1999; Lowdermilk e Perry, 2006).

As famílias são definidas tendo em consideração a estrutura familiar, as suas funções, composição e os seus laços afetivos. Nas palavras de Friedman (1992) apud Bobak, Lowdermilk e Jensen (1999, p.12) “a família são duas ou mais pessoas que estão ligadas entre si por laços de partilha e proximidade emocional e que se identificam como parte da família”.

Esta definição permite incluir uma diversidade de novos modelos familiares que foram surgindo nas últimas décadas desde: famílias monoparentais, famílias combinadas e famílias homossexuais, além das tradicionais famílias nucleares e famílias alargadas. Em 1997, Relvas definia família como um conjunto de indivíduos que desenvolvem entre si, de forma sistemática e organizada, interações particulares que lhe conferem individualidade grupal e autonomia. Segundo o mesmo autor, estas interações

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evoluem ao longo do tempo, sendo que a individualidade grupal se transforma à medida que se cria e desenvolve um sentimento de pertença de cada um dos seus membros e a autonomia deste sistema cresce e solidifica-se através da possibilidade de desenvolvimento/individualização desses mesmos indivíduos (Relvas e Lourenço, 2001; Lourenço e Afonso, 2008)

Já segundo a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) (2006, p. 171), família define-se como:

Grupo com as características específicas: Grupo de seres humanos vistos como uma unidade social ou um todo colectivo, composta por membros ligados através da consanguinidade, afinidade emocional ou parentesco legal, incluindo pessoas que são importantes para o cliente. A unidade social constituída pela família como um todo é vista como algo para além dos indivíduos e da sua relação sanguínea, de parentesco, relação emocional ou legal, incluindo pessoas que são importantes para o cliente, que constituem as partes do grupo.

As famílias trabalham em cooperação para cumprir as funções familiares (afetivas, de socialização, reprodutivas, económicas e de cuidados de saúde). Através da dinâmica familiar os membros da família assumem papéis sociais adequados, que são aprendidos em família e através dos pares (Bobak, Lowdermilk e Jensen, 1999; Lowdermilk e Perry, 2006).

De forma mais ou menos rígida as famílias constroem fronteiras com a sociedade, distinguindo os seus membros dos estranhos mantendo, no entanto, canais através dos quais interagem com a sociedade, assegurando que a família recebe os seus apoios (Idem).

Atendendo a isto podemos considerar a família como um sistema, uma vez que ela: é composta por objetos e respetivos atributos e relações; contém subsistemas e é contida por outros sistemas, todos eles ligados entre si hierarquicamente e possui limites e fronteiras que a distinguem do meio (Alarcão, 2006).

Enquanto grupo, a família possui forças internas, dependentes da sua própria história (e da sua dinâmica e independentes dos contextos em que se enquadra) e um conjunto importante de competências que lhe permite ultrapassar o stresse inerente ao seu próprio desenvolvimento ou a dificuldades acidentais (Idem).

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A família é então um sistema que se reproduz a si próprio, mantendo-se e continuando a ser família, independentemente de permanecer informalmente aberto às influências do exterior e organizacionalmente fechado, criando assim as suas próprias determinações e as suas próprias finalidades integrando as informações que recebe (Relvas, 1996; Relvas e Lourenço, 2001; Alarcão, 2006).

Podemos acrescentar que este sistema vivo, muda para poder manter-se. A sua mera existência pressupõe um ciclo evolutivo que acompanha cada indivíduo durante o seu desenvolvimento e se espelha nas diversas etapas da interface indivíduo/grupo. Estas etapas assinalam momentos de crise (transformação) que poderão conduzir a dois resultados distintos: uma mudança/evolução ou risco de bloqueamento/perturbação evolutiva. Cada um destes resultados leva invariavelmente a uma reestruturação relacional e funcional da família no seu conjunto, contribuindo como elemento do seu processo de desenvolvimento (Alarcão, 2006).

Também por isto, é seguro afirmar que uma família é bastante mais que a soma dos seus elementos. O comportamento, assim como o desenvolvimento e os momentos de crise (resultantes em mudanças ou bloqueamentos) de cada um, são indissociáveis dos restantes membros e cada um deles irá afetar a família no seu conjunto. Independentemente da carga positiva ou negativa de que se faz acompanhar é assumido de forma geral que toda a mudança implica stresse, devido à imprevisibilidade que esta comporta (Idem).

O stresse oriundo da transição de um para outro período do ciclo vital é inegável ainda que esperado e normativo, de que são exemplo a gravidez/maternidade/paternidade, que constituem, no processo evolutivo familiar, uma dessas crises normativas: a transição da conjugalidade para a parentalidade (Relvas e Lourenço, 2001; Alarcão, 2006).

1.2. A EVOLUÇÃO DO PAPEL DO PAI NO DECORRER DA HISTÓRIA

Até ao século XVIII, o pai assumia apenas o papel de formador moral, responsável pela transmissão de valores culturais e morais aos seus filhos. Sendo colocado completamente de parte no que dizia respeito ao nascimento, era considerado indesejável ou rejeitado. Já após o nascimento, o pai era descrito como alheio ou

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ausente nos cuidados que a mãe prestava ao bebé (Lamb, 1992; Brazelton e Cramer, 1993).

Sendo a sociedade desta época uma sociedade estratificada e hierarquizada, os filhos assumiam uma posição completamente submissa à autoridade do pai. Este exercia total influência na vida dos seus filhos, preparando-os para um ofício e decidindo quem eles deveriam cortejar. Este facto pode ser explicado pela importância que era dada na altura à continuidade e à herança familiar (Taborda e Fonseca, 2007).

O poder dos pais era de tal forma significativo, na altura, que em caso de separação os filhos eram entregues aos pais. No entanto, apesar da influência e proximidade, a relação pai-filho era essencialmente instrumental, baseada na transmissão de saberes e regras de conduta, sendo o envolvimento emocional e os cuidados diários negligenciados (Idem).

No século XIX, com a industrialização, as ideias face ao papel paterno começam a mudar. Surge a indignação face à prepotência do pai e o sustento económico começa a ser a característica dominante da função paterna. Nesta época um bom pai seria aquele que conseguia obter um bom rendimento para o sustento da família (Lamb, 1992; Cabrera et al., 2000; Taborda e Fonseca, 2007).

No entanto, acontece a II guerra mundial que vem modificar também a conceptualização da paternidade. O afastamento dos pais devido a este acontecimento histórico leva à valorização da educação das crianças (Taborda e Fonseca, 2007).

Já no século XX, associado à emancipação da mulher altera-se novamente o papel paterno. Com a entrada das mulheres no mundo do trabalho, as funções educativas das crianças começam a ser delegadas a outras instituições, os papéis e funções familiares alteram-se, proporcionando-se pela primeira vez um sistema mais igualitário entre homens e mulheres (Cabrera et al., 2000; Taborda e Fonseca, 2007).

A figura paterna deixa de ser vista como autoritária e começa progressivamente a envolver-se na prestação de cuidados, tornando-se mais afetivo.

Desde o final do século XX que o conceito de paternidade tem sido alvo de múltiplos estudos e debates, surgindo a partir de meados da década de 70 a identificação do pai como progenitor ativo, envolvente e envolvido nos cuidados (Lamb, 1992; Balancho, 2004).

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Atualmente, o pai mostra-se envolvido nos cuidados do dia-a-dia e na educação dos filhos e assume os cuidados em qualquer fase do desenvolvimento da criança. Apesar do sustento económico ainda ser uma questão crucial, o pai na atualidade tem um grande impacto no desenvolvimento das crianças (Lamb, 1992; Taborda e Fonseca, 2007).

Segundo Nunes (1999) e Taborda e Fonseca (2007) na atualidade, o pai demonstra um interesse crescente pela gravidez, investe no futuro do filho, empenha-se nos preparativos para o enxoval e experiencia a vivência da gravidez da sua mulher de forma mais próxima e mais intensa, envolvido no novo sentir do direito a uma paternidade ativa, participativa e enriquecedora da própria vivência pessoal e do relacionamento com o filho que vai nascer.

Existem vários fatores que determinam este maior envolvimento paterno. Quando os pais se sentem mais competentes no papel que desempenham, quando existe harmonia entre o casal, quando são incentivados pela parceira a participar nos cuidados, quando aumenta o tempo disponível para os cuidados e quando diminui o stresse profissional o envolvimento paterno é maior (Lamb, 1992).

Acredita-se hoje que esse papel extremamente importante de apoio à mulher, socialmente difundido e aceite, não é tudo. De facto, os homens também experienciam a gravidez à sua maneira, havendo já vários estudos que demonstram diversas alterações psicológicas subtis na transição para a parentalidade. Estas alterações no pai expectante, segundo conclusões dos mesmos estudos, revelam que são necessários os nove meses de gestação para os pais se adaptarem à sua nova identidade (Colman e Colman, 1994).

Quando um homem/cônjuge acompanha a sua mulher/esposa grávida às consultas e às sessões de preparação para o parto, não está unicamente a servir de apoio físico e psicológico à sua companheira, sentindo também necessidade de exercer a sua paternidade de alguma forma e de ver e sentir o seu filho, nem que seja através de ecografias (Taborda e Fonseca, 2007).

Para que isto suceda, contudo, é primordial que o pai perceba a importância do seu papel na prestação de cuidados ao seu filho e que incorpore a sua participação em todas as fases do desenvolvimento e crescimento do seu filho, desde o período pré-concecional (Mendes, 2009).

O desenvolvimento deste conceito do envolvimento paterno sai reforçado com a crença atual de que os laços afetivos fixados entre pai e filho durante a gravidez são

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fundamentais para o desenvolvimento da paternidade e para um vínculo pai-filho na vida fora do útero (Freitas, Coelho e Silva, 2007).

1.3. A TRANSIÇÃO PARA A PARENTALIDADE

A gravidez e o nascimento de um filho marcam uma nova etapa na vida de um casal, trazendo consigo implicações na vida familiar social e profissional. Nas palavras de Camus (2002), a parentalidade é atualmente um processo que visa o envolvimento do casal, no qual ambos devem participar de forma ativa e conjunta no planeamento do nascimento, nas preocupações emocionalmente preenchidas pelo tempo de espera e pelo acolhimento a dispensar à criança, na definição e na aplicação prática dos objetivos educativos (Felizardo et al., 2010).

Se durante décadas, na sociedade ocidental os assuntos relacionados com a gravidez, parto e pós-parto foram exclusivos da responsabilidade feminina, na atualidade o homem está mais consciente da importância do seu papel no que se refere ao acompanhamento e desenvolvimento dos filhos (Mendes, 2009).

De acordo com Lamb (1992), surge a partir dos anos 70 a ideia de uma “nova paternidade”, uma nova imagem do pai, enquanto progenitor não só comprometido com o sustento económico mas emocionalmente envolvido e capaz de assumir os cuidados em qualquer fase do desenvolvimento da criança. O pai expectante “ideal” torna-se aquele homem ativamente apoiante da companheira grávida, estando tão envolvido na gravidez como ela, mostrando-se um participante sensível das classes pré-natais (Gomez, 2005).

Segundo a CIPE (2006, p.43) a parentalidade define-se como:

Acção de Tomar Conta com as características específicas: Assumir as responsabilidades de ser mãe e/ou pai; comportamento destinado a facilitar a incorporação de um recém-nascido na unidade familiar; comportamentos para optimizar o crescimento e desenvolvimento das crianças; interiorização das expectativas dos indivíduos, famílias, amigos e sociedade quanto aos comportamentos de papel parental adequados ou inadequados.

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Tal como acontece com a maternidade, o assumir do papel paterno reporta-se a um conjunto de mudanças que culminam com uma redefinição de papéis e a uma integração maturacional (Mendes, 2009).

Enquanto fenómeno sociocultural a parentalidade na vertente paterna é muito menos estudada que a parentalidade na vertente materna. No entanto, tal como acontece com as mulheres, as exigências do papel parental produz nos homens novos desafios e tensões no relacionamento com os seus parceiros, na sua vida profissional e na sua própria vida (Barclay e Lupton, 1999; Henwood e Procter, 2003).

Segundo Oliveira (2006, p.26), paternidade é um “processo que implica não apenas um envolvimento biológico de um homem para com o seu filho, mas um envolvimento efetivo no seu processo de desenvolvimento e crescimento que passa pela responsabilidade e partilha de direitos e deveres em pé de igualdade com a mãe”. Uma transição pode ser considerada como um tempo de conflito interno e de desequilíbrio que leva ao estabelecimento de novas estruturas afetivas e cognitivas. Esta é muitas vezes considerada sinónimo de mudança e implica tanto adaptações cognitivas como comportamentais que necessitam de ser realizadas pelo indivíduo que a experimenta. Sendo que as transições bem sucedidas levam a um melhor e mais diferenciado nível de integração e adaptação (Cowan e Cowan, 1995).

Não é unânime o período que medeia a transição para a parentalidade. De acordo com as palavras de Bridges (1991) apud Im (2010), transição define-se como um período de tempo com um ponto de partida identificável, que se estende desde os primeiros sinais de antecipação, perceção ou demonstração de mudança, que se move por um período de instabilidade, confusão e aflição até um eventual fim que marcado por um novo começo ou período de estabilidade. Já para White (2002) esta refere-se a um breve período de tempo que vai do início da gravidez aos primeiros meses de vida do RN.

Para outros autores podem ser considerados dois marcos: o biológico e o psicológico e social. Se biologicamente a transição se inicia com a conceção, psicológica e socialmente acredita-se que podem registar-se uma série de acontecimentos e expectativas que precedem a conceção, nomeadamente decisões referentes a ter ou não uma criança ou quando a ter, que influenciam a experiência desta transição (Oliveira, Pedrosa e Canavarro, 2005).

Draper já em 2003, afirmava que na mulher a transição para a maternidade se inicia quando a gravidez é confirmada, embora psicologicamente esta transição se inicie

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antes da conceção. Todas as alterações próprias da gravidez que a mulher sente no seu corpo ajudam naquela transição. Ao mesmo tempo que a sociedade lhe exige cuidados e hábitos redobrados com a alimentação, higiene e exercício físico, inerentes ao seu novo estado.

Neste processo, o homem encontra-se à margem, não conseguindo sentir biologicamente as alterações induzidas pela gravidez, torna a sua transição biológica para a parentalidade ilusória. Apesar disso, alguns autores consideram que tanto homens como mulheres têm tempos muito similares nas tarefas de desenvolvimento e transição, com pequenas diferenças, fazendo cada um a sua própria trajetória (Salmela-Aro et al., 2000).

Na literatura estão definidas as tarefas desenvolvimentais que são vivenciadas na transição para a maternidade:

Tarefa 1 – Aceitar a gravidez: os homens têm tendência a se atrasarem em relação às mulheres na aceitação da gravidez como real, facto que está relacionado com não sentirem os primeiros desconfortos nem a amenorreia, primeiro indicador da possibilidade da gravidez.

Tarefa 2 – Aceitar a realidade do feto: é geralmente após a primeira ecografia quando o coração do bebé é ouvido pela primeira vez que surge nos pais a primeira ligação afetiva ao feto.

Tarefa 3 – Reavaliar e reestruturar a relação com os pais: nesta fase os futuros pais revivem a sua infância e reaproximam-se dos seus pais, deixando de ser apenas filhos para assumirem o novo papel parental.

Tarefa 4 – Reavaliar e reestruturar a relação com o cônjuge ou companheiro: com a gravidez o casal sente-se mais dependente um do outro, no entanto, com o nascimento do filho, este irá ocupar grande parte do tempo que o casal tinha para si.

Tarefa 5 – Construir a relação com a criança enquanto pessoa separada: o nascimento do filho é um momento ambíguo para o casal. Por um lado, termina a gravidez, o que pode transmitir o sentimento de perda, por outro, finalmente conhecem o seu bebé e o processo de vinculação inicia-se.

Tarefa 6 – Reavaliar e reestruturar a sua própria identidade: os pais têm necessidade de integrar a nova identidade parental.

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Uma última tarefa diz respeito à reavaliação e reestruturação da relação com os outros filhos (o que se aplica apenas a casais com filhos), uma vez que o nascimento de uma criança obriga sempre a reajustamentos nas fratrias

(Colman e Colman, 1994, p. 175-187).

Apesar de na literatura ainda não ser possível encontrar a mesma definição para as tarefas desenvolvimentais paternas, visto que os estudos realizados até ao momento sempre deram muito mais ênfase à função materna do que à função paterna, aceita-se a sistematização de Mendes (2009, p. 54-64) com base nos autores Brazelton e Cramer (1993), Colman e Colman (1994) e Canavarro (2001) que descreve como tarefas desenvolvimentais paternas:

Tarefa 1 – Envolvimento paterno durante a gravidez: que se demonstra na preocupação maior com o bem-estar materno-fetal e correspondendo a uma fase de aproximação do casal. Nesta fase o marido tende a identificar-se, inconscientemente, com as alterações no corpo da mulher.

Tarefa 2 – Preparação para o parto e nascimento do filho: tem início logo no início da gravidez, traduzindo-se em preocupações constantes com a criança que irá nascer e com a sua saúde. Também a adaptação económica familiar à chegada do novo elemento se torna uma das preocupações centrais paternas.

Tarefa 3 – Construção do papel paterno: embora as grandes alterações surjam aquando da gravidez e nascimento da criança, o papel paterno irá necessitar de sofrer ajustamentos durante toda a vida – tornando-se um processo contínuo de adaptação e aprendizagem.

Além do ajustamento que experimenta ao conciliar as suas expectativas ao bebé real, o pai busca ainda o reconhecimento por parte da sua companheira, colegas, amigos, família, filho e sociedade (White, 2002; Friedewald e Newing, 2006).

Na transição para a parentalidade o homem é influenciado por diversas variáveis, passando por diversas fases e estádios. Inicialmente invadido por sentimentos de exclusão e ambivalência, muitas vezes consegue-se envolver profundamente e desenvolver o seu papel adequadamente, proporcionando um importante apoio (Felizardo et al., 2010).

Contudo, nem em todos os casos o pai consegue adaptar-se à nova realidade familiar durante as primeiras semanas (seis a doze) após o nascimento, manifestando dificuldades em manter ou desenvolver os relacionamentos quer com a companheira,

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quer com o RN e/ou outros filhos, quer com a família extensa e amigos. Embora o foco se mantenha na manutenção da integridade familiar, nestes casos, surgem dificuldades no equilíbrio entre o seu trabalho e o trabalho doméstico, na gestão de prioridades, no desenvolvimento de novas rotinas e na manutenção de energia quando colocado frente a fatores stressantes (St John, Cameron e McVeigh 2006).

No processo de transição para a parentalidade autores como Henwood e Procter (2003) identificam quatro perspetivas. A primeira refere-se a uma transformação psicossocial progressiva ao nível das dinâmicas familiares, destacando-se os papéis de poder, dominância e subordinação entre homens e mulheres no seio da família, desempenhando o pai, no entanto, um papel flexível, afetuoso e responsável. Outra das perspetivas tenta repor os valores da família tradicional, assumindo o homem, pai e chefe de família, o cargo acima da autonomia da mulher ou necessidades dos filhos. A terceira perspetiva refere-se a uma situação mista de otimismo e resistência à mudança nas relações entre ser homem e ser pai. A última perspetiva representa o discurso da nova parentalidade que reproduz a hegemonia masculina, em que o homem adquire um estatuto privilegiado captando para si atividades domésticas relacionadas com os filhos que outrora pertenciam à mulher, aliando o sucesso familiar ao profissional.

Para Canavarro e Pedrosa (2005) a transição para a parentalidade pode ser analisada à luz da psicologia em três abordagens: a teoria da vinculação, a perspetiva ecológica e a perspetiva desenvolvimental.

A teoria da vinculação, desenvolvida por Bowlby, assenta no princípio da segurança e na construção da relação entre a figura cuidadora e a criança. De facto, é praticamente universal que uma das nossas necessidades primordiais é a de estabelecer relações afetivas e de proximidade ao longo da vida. Esta ideia torna-se ainda mais pertinente quando falamos na figura cuidadora e na sua responsabilidade na criação de um refúgio seguro e confortável a uma criança, onde o bebé pode sempre regressar em situações de stresse (Canavarro e Pedrosa, 2005).

A perspetiva ecológica, aborda uma situação mais ampla e contextual, tendo em conta o pai e os microssistemas que influenciam e suportam as transições por que ele passa, referindo ainda também os macrossistemas, que descrevem as mudanças (por vezes marcantes) que sucedem no seu contexto social. De facto, esta perspetiva está intimamente relacionada com o campo relacional, incidindo num modelo pessoa-processo-contexto-tempo e que durante o processo de adaptação parental, reconhece a relevância dos diferentes sistemas sociais e quais as suas interações. Contudo, esta

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perspetiva assume também a individualidade de cada pessoa e contexto, pelo que devem sempre ser consideradas na transição e adaptação à parentalidade: as características dos pais e crianças; contexto e dinâmicas familiares, contexto social onde a família se insere; características socioeconómicas, culturais e legais da sociedade envolvente – macrossistema (Idem).

Na perspetiva desenvolvimental, o facto da transição para a parentalidade ser considerada um acontecimento normativo, comum à maioria das famílias, esperado e com duração temporal limitada não implica que esta seja isenta de stresse ou, pelo menos de fatores stressantes, sejam eles físicos, psicológicos e financeiros. Não é possível ignorar que a gravidez e o nascimento produzem uma tensão que perturba o funcionamento familiar, no entanto, mais uma vez é preciso ter em conta a unicidade de cada casal e de cada contexto pois este stresse é vivenciado de uma forma específica por cada família, perante o nascimento de cada criança (Ibidem).

A parentalidade implica, tanto para os homens como para as mulheres, uma série de transformações e incertezas que acompanham a aquisição dos novos papéis e responsabilidades anteriormente inexistentes. Esta terá que ser coordenada com a vida profissional, conjugal e social. Para os novos pais a mudança será de não pais para pais, para os pais com filhos a modificação será de pais para novamente pais (Draper, 2003).

Como em todas as mudanças, a transição para a parentalidade é acompanhada de alguma incerteza de como serão no novo papel e como será a vida a partir desse momento. Este não é só um processo individual para o pai, é um percurso que cada indivíduo tem que fazer mas que acompanha a transição que a mãe faz para a parentalidade, a transição da família, do casal, dos próprios avós e se existirem filhos, a transição que também estes têm que fazer (Idem).

Para Brazelton (1988), a gravidez funciona como um período de preparação para os novos papéis que homem e mulher irão assumir, frente ao bebé e a tudo o que ele irá exigir. Neste sentido é necessário fomentar uma participação mais ativa do pai, preparando-o para todo o processo da gravidez e do parto (Piccinini et al., 2004 e Felizardo et al., 2010).

Há inclusivamente estudos que demonstram que para as mulheres a participação do companheiro no trabalho de parto e parto é muito importante, positiva e transmite segurança e conforto. Da mesma forma que, para o homem o parto é um momento de intensas emoções, pois possibilita a aproximação direta pai-filho sem a mulher como

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intermediário, ao contrário do que acontece durante a gestação (Felizardo et al., 2010).

O envolvimento paterno pode variar bastante ao longo da gravidez, consoante o desenvolvimento do feto e as características dos pais. Numa primeira fase, desde a suspeita da gravidez até à sua confirmação, os pais podem manifestar desconforto, stresse e ambivalência. Numa segunda fase, como os sinais físicos ainda não são evidentes, pensam não ser realidade e afastam-se emocionalmente. Numa terceira e última fase, já constatam a gravidez como real e como algo importante. Esta última fase ocorre muitas vezes já no terceiro trimestre, quando o nascimento está mais próximo e os pais se conseguem tornar mais ativos na preparação da chegada do bebé. Se alguns nunca chegam a envolver-se outros há que se envolvem profundamente, participando ao máximo e com grande disponibilidade emocional (Idem).

Como nos demonstram as investigações com mais de uma década, torna-se primordial envolver o pai, o mais precocemente possível, na atenção profissional de vigilância pré-natal, prepará-lo para o nascimento e para uma nova vivência familiar (Capinha, 1999).

Percebe-se nas palavras de May (1982) apud por Bobak, Lowdermilk e Jensen (1999) que o envolvimento paterno durante a gravidez refere-se não só a comportamentos (como acompanhamento de consultas e ecografias) mas também a um envolvimento emocional. A participação do pai em atividades relativas às gestantes e aos preparativos para a chegada do bebé, bem como as preocupações e ansiedades paternas são bons indícios do envolvimento paterno (Piccinini et al., 2004).

Brazelton e Cramer (1993), identificaram como principais sentimentos dos pais expectantes:

• Exclusão, como uma das primeiras reações;

• Inveja e competição com a companheira pelo filho (estas reações são positivas pois fomentam a vinculação ao filho e reforçam os laços entre o casal);

• Preocupações financeiras, habitacionais e com a saúde da grávida e feto (sentimentos que contribuem para o sentimento de responsabilidade e ansiedade);

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• Isolamento, que pode surgir pelos mesmo motivos e também pelo decréscimo da mobilidade social à medida que se aproxima do fim da gravidez (Gomez, 2005). Vários autores ao longo dos últimos anos identificaram nos pais expectantes sintomas somáticos típicos da gravidez. A este fenómeno Trethowan e Conlon (1965) deram o nome de síndroma de Couvade (ou síndroma de incubação). A partir do seu estudo pioneiro os referidos autores concluíram que os sintomas mais comuns eram gastrointestinais, dermatológicos, musculares e outros sintomas gerais, nomeadamente alterações do apetite ou do peso, náuseas ou dores de cabeça. Outros investigadores mais recentemente incluíram na definição também sintomatologia psicológica (Gomez, 2005).

As transformações associadas ao síndrome de Couvade são psicológicas, geradas a partir de dentro do homem e não sociais, não sendo muitas vezes percebidas e reconhecidas pelos homens e pelas pessoas que os rodeiam como ligadas à gravidez (Colman e Colman, 1994).

Não é consensual a evolução dos sintomas ao longo da gravidez. Admite-se que a apresentação mais frequente seja uma curva em U (os sintomas tenderiam a iniciar-se no primeiro trimestre, a declinar no segundo e a reaparecer com mais intensidade no terceiro, geralmente desaparecendo com o nascimento) mas outros estudos sugerem que os sintomas podem aparecer em qualquer altura até ao nascimento, não sendo na maioria dos casos requerido tratamento (Gomez, 2005).

O síndrome de Couvade pode ser influenciado por um amplo conjunto de variáveis, nomeadamente idade, nível socioeconómico, etnia, estatuto marital, planeamento ou desejo da gravidez, número de filhos anterior, vinculação às figuras parentais, fatores da personalidade e envolvimento paterno (Idem).

O envolvimento paterno durante a gravidez parece reforçar a sua identidade como agentes participativos, reduzir a sensação de exclusão e influenciar fortemente a adaptação materna (Ibidem).

Também após o parto, o processo de construção do papel paterno se mostra complexo, principalmente para os pais pela primeira vez. Matta e Knudson-Martin (2006) referem que os pais necessitam de fazer ajustamentos em diversas áreas da sua vida (trabalho, tempo social/pessoal e no relacionamento com a companheira) de forma a encontrar espaço psicológico e físico para o bebé nas suas vidas.

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Durante os primeiros dois meses após o nascimento, destacam-se como fatores que influenciam a relação pai-filho: o processo de organizar o espaço físico para o bebé, a relação com o seu pai e o apoio à sua companheira (Mendes, 2009).

Alguns estudos confirmam que pais que apresentam uma relação positiva com a companheira/esposa e que encontram o equilíbrio entre o seu tempo de atividade laboral e tempo pessoal atingem com maior sucesso a competência na construção do papel parental (Idem).

1.3.1. O pai no pós-parto – compreensão sob a ótica do Modelo de Adaptação de Roy

O conhecimento em enfermagem aumenta e desenvolve-se à medida que os modelos e teorias de enfermagem vão surgindo, guiando as investigações no sentido do desenvolvimento da disciplina e consequentemente da prática.

As teorias de enfermagem começaram a surgir nos anos 50. Muitas delas na década de 70 procuravam, através da explicação entre os factos e os eventos naturais, o estabelecimento da enfermagem como ciência. Desde esse momento que a enfermagem tem ganho espaço como disciplina importante na área da saúde, enquanto desempenha um importante papel na promoção, prevenção e reabilitação naquela área (Coelho e Mendes, 2011).

Enquanto a enfermagem se desenvolve como profissão, os seus profissionais tornam-se mais conscientes da importância da prática batornam-seada na teoria e das vantagens da implementação de um modelo de conceptualização de enfermagem como base para a prática, nomeadamente: o aumento dos cuidados de enfermagem aos utentes, a avaliação e diagnósticos de enfermagem mais abrangentes e rigorosos, uma especial atenção às necessidades psicossociais dos utentes e uma melhoria da comunicação inter e intraprofissional (Roy e Andrews, 2001).

Os modelos de enfermagem são descrições da prática de enfermagem que se expressam utilizando os designados metaparadigmas, construídos por cada teórico de acordo com a sua conceptualização (Coelho e Mendes, 2011).

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Afaf Ibrahim Meleis dedicou grande parte da sua carreira ao desenvolvimento da Teoria da Transição, onde considerou que os padrões de transição são múltiplos e complexos (Im, 2010).

Com uma longa formação em ciências da saúde, a teórica de enfermagem construiu a sua obra tendo presentes aqueles conceitos que identificou como centrais no domínio da enfermagem: a pessoa, a saúde, a enfermagem e o ambiente (Rodrigues, Pagliuca e Silva, 2004).

A experiência da transição inclui cinco propriedades claramente identificadas por aquela teórica: tomada de consciência, compromisso, mudança e diferença, intervalo de tempo e pontos críticos e eventos.

a) A tomada de consciência é definida como a perceção e reconhecimento da experiencia da transição.

b) O compromisso faz referência ao nível de envolvimento da pessoa inerente à transição.

c) As mudanças nas identidades, nos papéis desempenhados, nos relacionamentos, nas habilidades e nos padrões de comportamento trazem um sentido de movimento e direção tanto aos processos internos como aos processos externos. Acredita-se que o confronto com as diferenças pode ser explicado por expetativas inéditas ou divergentes, pelo facto da pessoa se sentir diferente, pelo facto da pessoa achar que está diferente ou pelo facto da pessoa ver o mundo e os outros de forma distinta.

d) As transições acontecem fluindo ou movendo-se ao longo de um intervalo de tempo. No entanto, alguns autores consideram que pode ser difícil, impossível, ou até talvez contraproducente colocar fronteiras no intervalo de tempo de certas experiências transitórias.

e) Os pontos críticos e eventos são definidos como eventos marcantes, como o nascimento, a morte, o final da menstruação ou o diagnóstico de uma doença (Im, 2010).

Compreende-se assim porque o nascimento de um filho implica um processo de transição para a parentalidade, tanto para as mães como para os pais. Este é um momento de crise que, para alguns autores, se inicia ainda durante a gravidez, enquanto para outros acontece apenas após o nascimento, não sendo no entanto claros os limites em que decorre, implicando mudança da identidade, dos relacionamentos, dos papéis desempenhados e dos hábitos daqueles que se tornam pais.

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A personalidade e o meio sócio cultural são fatores que podem facilitar ou dificultar o processo e os resultados de uma transição saudável. Sendo possível os enfermeiros e restantes profissionais de saúde, através da forma como se desenrola o processo e os seus resultados, identificar se os utentes estão a viver uma transição saudável ou, pelo contrário, apresentam sinais de vulnerabilidade ou de risco. Podendo assim intervir atempadamente, ajudando-os a ultrapassar as dificuldades com vista a atingir um processo de transição saudável (Im, 2010).

Apesar de ser aceite na comunidade cientifica a expressão transição para a parentalidade e de se perceber a importância da Teoria de Transição de Meleis para a sua melhor compreensão, esta etapa do ciclo vital pode ser também percebida como uma fase de adaptação aos novos papéis e responsabilidades a assumir pelos casais. Desta forma, considerando os autores dos estudos realizados a nível nacional e internacional no âmbito do estado funcional, assim como às autoras do instrumento original que serviu de base ao IEF-P (versão portuguesa), desenvolver-se-á a presente investigação tendo por base o Modelo de Adaptação de Roy.

A irmã Callista Roy, que desenvolveu o Modelo de Adaptação, define enfermagem como uma profissão dos cuidados de saúde que se centra nos processos de vida humanos, enfatizando a promoção da saúde dos indivíduos, grupos e sociedade como um todo, e como a ciência e a prática que expande as capacidades de adaptação, melhorando a transformação ambiental e da pessoa (Philips, 2002; Rodrigues, Pagliuca e Silva, 2004).

A pessoa, enquanto metaparadigma do modelo de Roy, é entendida como um sistema de adaptação holístico, isto é, o ser humano é descrito como um todo com partes que funcionam como uma unidade com vista a um objetivo. Os sistemas humanos podem ser indivíduos ou grupos, nomeadamente famílias, organizações, comunidades ou mesmo a sociedade como um todo (Idem).

A saúde é um reflexo da adaptação, isto é, a interação entre a pessoa e o ambiente. Esta pode não estar livre de situações inevitáveis como a morte, a doença, a infelicidade ou o stresse, mas a capacidade para lidar com elas deve manter-se o mais competente possível. Por último, o ambiente é definido enquanto metaparadigma deste modelo como todas as circunstâncias, condições ou influências que rodeiam e afetam o desenvolvimento de pessoas ou grupos, sendo o ambiente em mudança que estimula as pessoas a dar respostas de adaptação (Ibidem).

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