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P.º n.º R.P. 91/2012 SJC-CT Registo com base em transação judicial. Trato sucessivo. Habilitação de herdeiros PARECER

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P.º n.º R.P. 91/2012 SJC-CT Registo com base em transação judicial. Trato sucessivo. Habilitação de herdeiros

PARECER

1. Através do sítio www.predialonline.pt e a coberto da ap. …, de 2012/05/24, foi pedido o registo do facto “Operação de Transformação Fundiária – Estruturação de Compropriedade”, juntando-se para o efeito uma certidão judicial extraída dos autos de divisão de coisa comum (interpostos por Nuno … contra Maria …, Álvaro …, Carina …, Márcio … e Fábio …), contendo a transação judicial homologada por sentença transitada em julgado que pôs fim ao litígio, e, complementarmente, os documentos que instruíram os referidos autos e a certidão extraída dos autos de inventário de António …

1.1. O prédio indicado no pedido de registo é o descrito sob o n.º …, da freguesia de …, concelho de …, do qual foi anteriormente desanexado o descrito sob o n.º …, e encontra-se registado em comum e partes iguais a favor de Maria …, solteira, e de Nuno A…

1.2. Na transação, homologada por sentença transitada em julgado e apresentada como título para o registo, é dito que o prédio descrito sob o n.º … se encontra materialmente dividido em dois novos prédios, que se identificam sob as alíneas a) e b); que «os Autores são donos e legítimos possuidores do prédio descrito sob a alínea a) que adquiriram por usucapião»; que «os Réus são donos e legítimos possuidores do prédio descrito sob a alínea b) que adquiriram por usucapião»; e que «AA. e RR. reconhecem o direito de propriedade de ambos adquirido por usucapião».

1.3. A desanexação do prédio n.º … foi feita com base na transação judicial referida e na dependência do registo de aquisição, em comum e sem determinação de parte ou direito, a favor dos réus, Maria …, viúva, Álvaro …, Carina …, Márcio … e Fábio …, e corresponde ao prédio identificado sob a alínea b) daquela transação, sobrando, na descrição n.º …, o prédio identificado sob a alínea a) da mesma transação.

1.4. Dos documentos complementarmente juntos, destacam-se a certidão de nascimento da ré, Maria …, a cópia não certificada do seu assento de casamento, e a certidão

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extraída dos autos de inventário de António …, reproduzindo o auto de declarações do cabeça de casal, no qual se alega que o inventariado também deixou como herdeiro o filho José …, casado com Maria …, “no regime de comunhão de bens”, o qual veio a falecer em 7/12/95, deixando a representá-lo os seus filhos Álvaro …, Carina …, Márcio … e Fábio …

2. Após a convolação do pedido para: “Aquisição”, o registo foi efetuado como provisório por dúvidas, fundamentando-se o despacho respetivo na circunstância de não ter sido apresentada a habilitação de herdeiros do cônjuge da titular inscrita, Maria ..., nos termos do artigo 83.º do Código do Notariado e de forma a dar-se por cumprido o princípio do trato sucessivo a que se refere o artigo 34.º/4 do Código do Registo Predial (CRP).

3. É desta provisoriedade por dúvidas que vem interposto o presente recurso, nele se aduzindo que os réus na ação já obtiveram o registo a seu favor, pelo que constitui violação do disposto nos artigos 5.º e 6.º-A do Código de Procedimento Administrativo (CPA) o “tratamento desigual” conferido ao pedido de registo apresentado pelos autores; que a certidão judicial extraída dos autos de inventário comprova que o falecido José … foi casado com a titular inscrita, no regime da comunhão geral de bens, e deixou como herdeiros os aludidos réus; e que a habilitação legitimidade, sancionada por sentença homologatória da transação, que julga as partes legítimas, “é trato sucessivo suficiente” no que tange à inscrição do direito adquirido pelo recorrente, posto que não está em causa registar o património do falecido, senão habilitar os seus herdeiros em determinado conflito.

4. No despacho a que se refere o artigo 142.º-A/1 do CRP é sustentada a provisoriedade por dúvidas, em termos que aqui damos por inteiramente reproduzidos.

Questões iniciais Da aplicação do CPA

1. Antes de se apreciar a questão de fundo, convém notar que a função do registo predial é dar publicidade à situação jurídica dos prédios, tendo em vista a segurança do

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comércio jurídico imobiliário (artigo 1.º do CRP), pelo que não raras vezes se tem afirmado que é secundária a dimensão de interesse público assinalada ao registo predial, posto que o seu foco e domínio se coloca no plano dos direitos privados e o seu fim radica na eficácia dos direitos publicitados contra terceiros.

1.1. É neste fio de pensamento que vem seguindo a posição do Conselho Técnico, negando-se aos atos típicos do conservador a natureza de atos administrativos e, por conseguinte, retirando-se da esfera do direito administrativo a resolução dos casos omissos, para encontrar no Código de Processo Civil a fonte adequada para superação das lacunas.

1.2. Tratando-se de um serviço público, tal não significa indiferença ao peso e valia de princípios gerais que se mostrem inspirados na Lei Constitucional e transversais a todo o direito relacional em que participe um órgão da Administração Pública, em ponderação, claro está, com os princípios que enformam o sistema de registo predial.

1.3. Serve isto para dizer que a apreciação da viabilidade do pedido de registo deve ser feita segundo o critério previsto no artigo 68.º do CRP, seguindo as coordenadas aí fixadas, e de acordo com o juízo de valor suscitado pelo caso concreto, não cabendo nela a interferência de quaisquer fatores subjetivos ou situações pessoais; deve assentar nos documentos apresentados; deve guiar-se pelos elementos objetivos que integram o processo de registo respetivo; e deve, acima de tudo, ser correta, do ponto de vista da legalidade, não se limitando, portanto, a copiar a interpretação dos factos e do direito posta em decisões anteriores, do mesmo autor ou de outrem, a menos que o mesmo conteúdo decisório se imponha por força de uma interpretação vinculativa emitida superiormente.

1.4. É nesta atuação que se destaca o momento de vinculação pelo princípio da igualdade, reivindicado pelo recorrente, e se sustenta a conformidade com a lei, sendo que a regra do precedente ou da autovinculação sugerida no requerimento de recurso, para além de não combinar com o princípio da legalidade, nos termos em que este se encontra definido no artigo 68.º do CRP, exige requisitos positivos e negativos que, naturalmente, não se ajustam ao iter procedimental do registo, à natureza da atividade e ao nível de interesses implicados. O mesmo se passa com o princípio da

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proporcionalidade invocado, que, constituindo um limite interno da discricionariedade administrativa, não tem lugar no âmbito da atividade registal, porquanto, como se sabe, esta não se guia por critérios de oportunidade e mérito, senão de legalidade.

1.5. É, pois, no acerto técnico-jurídico da decisão tomada no processo de registo que, à luz do princípio da legalidade, deve centrar-se o esforço de apreciação do recurso, não cabendo projetar nela princípios cuja concretização reclama um âmbito de aplicação diverso.

Do pedido de registo

2. Como atrás dissemos, o escopo do registo predial é a segurança do comércio jurídico imobiliário, conferindo um efeito presuntivo geral de verdade ou de exatidão, que se impõe erga omnes, relativamente aos factos nele inscritos e ao seu conteúdo (artigo 7.º do CRP), garantindo a oponibilidade destes factos contra terceiros (artigo 5.º do CRP), fazendo prevalecer o direito inscrito em primeiro lugar sobre os que se lhe seguirem relativamente aos mesmos bens (artigo 6.º do CRP), e permitindo aos terceiros que o consultam ordenar, com base na informação registal, as relações jurídicas que tenham por objeto o prédio ou o direito registado.

2.1. Para que tal desiderato de confiança se torne efetivo e tal eficácia e proteção se conceda com base no que o registo demonstra, ponto é que escrupulosamente se atente na verdade do pedido e que toda a atuação de assessoria dos interessados e de suprimento de deficiências do processo de registo se faça com salvaguarda do princípio da prioridade, de modo a que, em cada momento, se possa dar resposta categórica, consistente e inequívoca acerca da situação jurídica do prédio, tendo por base os suportes existentes e os elementos que dele constam.

2.2. É, pois, no pedido e na anotação da apresentação no diário que se contém o quid que há de guiar todo o processo de registo; é a partir da indicação do facto e do prédio objeto do registo (elementos essenciais da instância reproduzidos no diário) que se prossegue e desenvolve o processo de registo, que se presta informação a terceiros, que se potencia a certeza jurídica e a segurança do comércio jurídico imobiliário que

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mobilizam o sistema do registo predial (artigo 1.º do CRP) e que se estabiliza e delimita o objeto da prioridade a que alude o artigo 6.º do CRP.

2.3. Daí não poder admitir-se que um pedido formulado e anotado no diário com referência ao registo de uma “operação de transformação fundiária – estruturação de compropriedade” dê lugar à feitura de um registo de “aquisição”, sem o reflexo tabular de um qualquer ato administrativo ou instrumento de gestão territorial ou urbanística e sem nenhum emparcelamento do fundo predial implicado, como aconteceu no caso em apreço.

2.4. Com efeito, o documento apresentado comprova os termos de uma transação judicial homologada por sentença transitada em julgado, que põe fim à linha de trato sucessivo em vigor sobre o prédio n.º …, reconhecendo-se o seu fracionamento material, por via da divisão verbal ocorrida entre os comproprietários, e o direito singular, fundado em aquisição por usucapião, sobre cada um dos novos prédios formados.

2.4.1. É claro que os títulos apresentados não revelam ou comprovam o instrumento de execução do plano em que a estruturação da compropriedade se analisa (artigo 129.º do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de setembro, e suas alterações) e é evidente, em face dos mesmos títulos, o erro na formulação do pedido e na identificação do facto jurídico, escolhendo-se, no leque dos factos jurídicos disponíveis na plataforma eletrónica, um facto jurídico que nada tem que ver com a realidade substantiva documentada.

2.4.2. Mas foi este facto jurídico que foi ao diário, e foi contando com ele, ou com os efeitos do seu registo, que, entretanto, foi sendo prestada a informação sobre a situação jurídica do prédio, donde, não havendo entre os termos do pedido e o teor dos documentos apresentados um mínimo de correspondência, nem qualquer equiparação de efeitos entre os registos de um facto (emparcelamento de prédios, com constituição da compropriedade sobre o novo prédio) e do outro (aquisição do prédio, resultante de divisão de coisa comum, por transação judicial), o que havia a fazer era recusar o

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registo1, ao invés de se ter convolado o pedido; de se ter alterado completamente um

dos elementos essenciais do registo mencionado no diário; e de, assim, se ter atribuído ao registo um conteúdo e um alcance em nada condizentes com a apresentação efetuada e levada ao diário.

2.5. Obviamente, não queremos dizer com isto que a posição do qualificador perante um pedido incorretamente formulado ou uma exteriorização de vontade juridicamente desenquadrada, face ao que os documentos apresentados revelam, não possa (rectius, não deva) ser de aproveitamento da instância, mediante a indagação da vontade do interessado no registo e o enquadramento jurídico-registral dessa vontade baseado nos documentos que são carreados para o processo.

2.5.1. Só que a possibilidade de convolação tem de conhecer limites, sob pena de se postergar o princípio da prioridade e de se desvirtuar o sentido da informação registal entretanto veiculada a terceiros, sendo que, para nós, a linha está precisamente nos elementos essenciais da apresentação presentes no diário (suporte essencial da informação prestada ao terceiros e da menção, aposta na ficha de registo, relativa aos atos pendentes de qualificação) e nos efeitos que o registo pendente pode produzir. 2.5.2. A convolação deve, assim, traduzir-se na correção da designação do facto, que se identificou sem rigor técnico-jurídico na requisição de registo, ou no reajustamento do pedido em face de uma vontade exteriorizada de forma imprecisa ou deficiente, mas inequivocamente revelada nas declarações produzidas e nos documentos apresentados (ainda que a certeza acerca dessa vontade tenha de ser obtida em sede de suprimento de deficiências);

2.5.3. Porém, da convolação do pedido (assim como do suprimento de deficiências do processo de registo) não deve resultar um novo pedido, relativo a um facto diverso no conteúdo, nos efeitos jurídicos e no enquadramento normativo, funcionando esta como instrumento de substituição, por erro no preenchimento do pedido, ao invés de servir,

1 Por ser manifesto que o facto (Operação de transformação fundiária – Estruturação de compropriedade),

efetivamente coberto pela apresentação anotada no diário, não está titulado nos documentos apresentados (artigo 69.º/1/b) do CRP).

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como é suposto, de instrumento de adequação técnico-jurídica dos termos do pedido ao fim pretendido pelo interessado, manipulando-se, de uma assentada, a informação contida no diário e a prioridade do registo, que, todos sabemos, se apoia nos elementos da anotação (cfr. artigos 6.º, 61.º, 75.º e 77.º do CRP).

2.6. Do que vem de ser dito se conclui que o facto registado – aquisição – não tem o mínimo de correspondência com o facto jurídico indicado no pedido de registo e no diário e, portanto, não foi apresentado, donde a sua subsistência tabular representa a feitura de um registo nulo, nos termos do artigo 16.º/e) do CRP.

2.7. Ora, a despeito de ser secundário o interesse público subjacente à feitura dos registos, é primário o interesse público na feitura de registos válidos, pelo que o princípio de verdade e de certeza jurídica e o interesse público de segurança do comércio jurídico imobiliário demandam que, oficiosamente, se conheça das debilidades do processo de registo que podem conduzir à feitura de um registo nulo.

2.8. A nulidade do registo é, pois, consequência bastante para que, nesta sede, se proponha a recusa do registo, na certeza de não poder ser outra, senão o estrito cumprimento da lei e a salvaguarda do interesse público, a expectativa do interessado, diante de um pedido da sua inteira responsabilidade.

Do facto registado

3. Mas, a mais da impertinência da convolação do pedido efetuada, temos que os documentos apresentados não comprovam a aquisição por transação, posto que os interessados expressamente declaram que a causa da aquisição é a usucapião, e não o negócio jurídico translativo do direito controvertido em que a transação, também, poderá traduzir-se (artigo 1248.º do CC), e o que fazem é reconhecer o direito que a cada parte pertence nos prédios resultantes da divisão jurídica do prédio n.º … operada pela invocação da usucapião.

3.1. Com efeito, segundo o artigo 1316.º do CC, a causa que justifica a aquisição do direito pode ser, entre outras, a usucapião, e esta, face ao disposto no artigo 1287.º do CC, é um efeito da posse reiterada de um direito real, que, mediante invocação pelos

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interessados (artigo 1292.º do CC), determina uma aquisição originária do direito correspondente à posse exercida, sendo que os documentos que podem comprovar a usucapião, como “modo de aquisição”, são, nos termos do artigo 116.º do CRP, a escritura pública de justificação de direitos e a decisão proferida no âmbito do processo, desjudicializado, de justificação previsto nos artigos 117.º-A e seguintes do CRP.

3.2. A aquisição por usucapião não resulta, assim, de concessões recíprocas dos interessados, ou de um acordo de vontades no sentido de transmitir, de um lado, e de adquirir, do outro, o direito real correspondente, nem este se funda no direito anterior, antes é adquirido ex novo, indiferente, portanto, às vicissitudes do direito anterior. 3.3. Tanto basta para distinguir a usucapião (enquanto título material de aquisição) do contrato, outra causa de aquisição do direito de propriedade prevista no artigo 1316.º do CC, e, sendo nesta categoria (de contrato) que a transação se insere (artigo 1248.º do CC), é bom de ver que um contrato nunca poderá titular a aquisição de um direito real produzida pela usucapião, por efeito da posse, mantida durante um certo tempo, daquele direito real a cujo exercício ela corresponde2.

3.4. Não obstante, a transação a que se refere a certidão judicial apresentada foi homologada por sentença transitada em julgado, pelo que a sua validade, quanto ao objeto e à qualidade das pessoas que nela intervieram3, foi já sindicada pelo tribunal,

não competindo agora ao conservador aduzir razões, senão de ordem tabular e de suficiência da prova documental junta ao processo de registo, para fundamentar a apreciação de viabilidade do pedido.

3.5. Vale isto por dizer que, embora a transação apresentada não possa constituir título para o registo da aquisição por usucapião, porquanto, fora dos casos especialmente previstos, só aos documentos previstos no artigo 116.º do CRP se reconhece tal

2 Cfr. processos 88/96 R.P.4 e R.P. 22/2000 DSJ-CT.

3É também do foro judicial, concretamente, do âmbito de apreciação da validade da transação, o problema de

saber se o fracionamento do prédio cumpre as disposições legais vigentes em matéria de loteamentos urbanos, não pertencendo, portanto, ao qualificador sindicar tal matéria.

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qualidade, a verdade é que por cima dessa transação está uma decisão judicial transitada em julgado.

3.6. E esta decisão judicial, ainda que não aplicando o direito objetivo aos factos, antes sancionando a solução que as partes encontraram para a demanda e condenando as partes nos precisos termos em que a transação foi estabelecida, como que absorve o acertamento que os sujeitos processuais deram ao litígio e o alargamento objetivo do pleito que nela avulta, reconhecendo o autor (ora interessado) como proprietário do prédio descrito sob a alínea a) da transação.

3.7. Donde, como sentença que chama a si o mérito para que aponta a transação, nessa medida, constituindo caso julgado material (artigos 301.º/2 e 671.º/1 do CPC)4, não

custa o seu enquadramento no artigo 3.º/1/c) do CRP a título de decisão final de reconhecimento do direito de propriedade a favor do autor, podendo ingressar no registo por inscrição e com a menção de que se trata de sentença homologatória de transação. 3.8. Como vem sendo salientado nos diversos pareceres deste Conselho que versam sobre o tema, na perspetiva dos efeitos do registo, os do reconhecimento do direito de propriedade, decorrentes do registo da decisão final, são equivalentes aos da inscrição de aquisição, já que ambos condicionam para o futuro a regra da continuidade das inscrições, sendo também a mesma a presunção que deles deriva (artigo 7.º do CRP).

4Como se refere no acórdão da Relação de Coimbra (processo 152/09.4TBVZL.C1) “transitada em julgado uma

sentença homologatória de transação, a força obrigatória da referida decisão sobre a relação material controvertida impõe-se dentro e fora do processo”, já que a decisão homologatória de transação assume o mesmo valor que uma decisão proferida sobre a causa, com a particularidade de se substituir o dispositivo da sentença pelo negócio querido pelas partes.

Esclarecedor é, de resto, o acórdão do STJ, de 2004/03/25 (processo 03B4074), no sentido de que a sentença homologatória, não conhecendo do mérito, chama a si o mérito para que aponta o contrato de transação, acabando por dar, ela própria, mas sempre em concordância com a vontade das partes, a solução do litígio. E, uma vez transitada em julgado, como que corta, definitivamente, o cordão umbilical que a ligava à transação de que nascera.

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3.9. Logo, o facto jurídico a publicitar só poderia ser a decisão de homologação da transação judicial, com o reconhecimento do direito de propriedade a favor do autor, por o haver adquirido por usucapião.

Da decisão impugnada

4. Finalmente, radicando o fundamento das dúvidas apostas ao registo na falta de apresentação de habilitação de herdeiros do cônjuge do titular inscrito, importa dizer, com o recorrente, que, não estando em causa o registo de aquisição fundada no fenómeno sucessório, mas a tradução tabular de um ato de natureza processual, não se vê razão para exigir aqui o documento a que se refere o artigo 49.º do CRP.

4.1. Tratando-se, neste caso, de refletir no registo uma decisão judicial, de que resulta, por homologação da transação judicial realizada nos autos judiciais, o reconhecimento do direito de propriedade a favor do autor, bastará que se demonstre que a titular inscrita, agora viúva, interveio na ação e que, com ela, intervieram também os (demais) herdeiros do cônjuge falecido, a quem o bem registado, alegadamente, se comunicou por efeito do casamento.

4.2. Para que o princípio do trato sucessivo (artigo 34.º/4 do CRP) se dê como observado, mostrar-se-á então suficiente a intervenção do titular inscrito e a dedução processual da habilitação-legitimidade, isto é, da habilitação preliminar ou inicial consubstanciada na alegação e prova, sindicada pelo juiz do processo, dos factos respeitantes ao óbito do anterior titular da relação jurídica impugnanda e, bem assim, os relativos ao parentesco que levam ao reconhecimento da qualidade de sucessíveis dos réus, e tendente a legitimar, originariamente, a parte processual enquanto sucessora do cônjuge do titular inscrito, a quem o bem registado se comunicou por efeito do casamento (artigo 2.º/2 do CRP)5.

5 Na esteira de Alberto dos Reis, a habilitação-legitimidade é definida como requisito de legitimidade ativa ou

passiva, tendo lugar sempre que na petição inicial de uma ação ou no requerimento para uma execução se alega que o autor ou o réu (ou o exequente ou o executado) já sucedeu (ex-ante) na titularidade da relação ou posição jurídica controvertida (v.g. de um crédito ou de uma obrigação) pertença de outrem, assim justificando a sua legitimidade ad causam para a ação ou execução (em apreço) através da invocação, além do mais, dos factos consubstanciadores da sucessão e respetiva prova. Como requisito que é da legitimidade da parte, não

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5. Se por aí nada obsta a que o registo se faça, sobra, no entanto, a flagrante desconformidade do pedido formulado e anotado no diário (operação de transformação fundiária) com o facto jurídico titulado nos documentos apresentados (decisão judicial homologatória de transação, com reconhecimento do direito de propriedade), determinando, nos termos atrás referidos, que, em sede de decisão a tomar no presente recurso hierárquico, se proponha a recusa do registo (artigos 68.º e 69.º/1/b) do CRP)6, como forma de evitar a feitura de um registo nulo (artigo 16.º/e) do CRP) e a

improcedência do recurso.

Do exposto, extraímos as seguintes

CONCLUSÕES

I- A convolação do pedido de registo deve operar como ato interno de correção da designação do facto jurídico a registar, que se identificou sem rigor técnico-jurídico na requisição de registo, ou de adequação do pedido à vontade do interessado inequivocamente revelada nas declarações produzidas e nos documentos apresentados, conquanto exteriorizada de forma imprecisa ou deficiente.

II – Como ato de «aproveitamento da instância» que é, a convolação não pode ir além da adequação técnico-jurídica dos termos do pedido ao fim pretendido pelo interessado, não devendo, assim, envolver um novo pedido, relativo a um

possui autonomia processual, enxertando-se, por isso, nos próprios autos da ação (Ferreira de Almeida, Direito Processual Civil I, 2010, p. 643).

6 Caberá, se for o caso e no momento próprio, efetuar um averbamento à inscrição dando conta de que, em

sede de impugnação, se alterou a qualificação para “recusa do registo de Operação de Transformação Fundiária – Estruturação de Compropriedade”, observando-se a propósito o que ficou dito no parecer proferido no Pº nº R.P. 131/2001 DSJ-CT, publicado no BRN 4/2002, nomeadamente no parágrafo que precede as conclusões.

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facto diverso no conteúdo, nos efeitos jurídicos e no enquadramento normativo, com violação do princípio da prioridade e da apresentação no diário.

III- Em face das disposições conjugadas dos artigos 1316.º, 1287.º, 1292.º e 1248.º do Código Civil e 116.º do Código do Registo Predial, a transação judicial não constitui título para o registo da aquisição da propriedade fundada em usucapião.

IV – A decisão proferida sobre transação de que resulte o reconhecimento do direito de propriedade a favor do autor está sujeita a registo, logo que transitada em julgado (artigo 3.º/1/c) do Código do Registo Predial), devendo explicitar-se, no extrato da inscrição respetiva, que se trata de sentença homologatória.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 21 de março de 2013. Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, António Manuel Fernandes Lopes, Luís Manuel Nunes Martins.

Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente do Conselho Diretivo em 25.03.2013.

Referências

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