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A voz e vez da redação: Relatos acerca da trajetória de formação do telejornalista brasileiro - Parte 4 – Paulo Roberto Leandro

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Academic year: 2021

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MEMÓRIA

A VOZ E VEZ DA REDAÇÃO: RELATOS ACERCA DA TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DO TELEJORNALISTA BRASILEIRO - PARTE 3 –

PAULO ROBERTO LEANDRO

Valquíria Aparecida Passos Kneipp 1

RESUMO: o jornalista Paulo Roberto Leandro formou-se em Jornalismo na primeira turma da Escola de Comunicações da USP. Trabalhou em diversas redações e emissoras de televisão como a TV Tupi, exercendo as funções de editor de texto, editor regional, e como diretor de jornalismo da TV Globo em São Paulo durante seis anos. Até 2015 trabalhava na Rede TV! Como consultor e um dos principais editores, da gestão de Franz Vacek. Em entrevista gravada no dia 9 de novembro de 2006, o jornalista contou um pouco de sua formação e de sua trajetória pelo telejornalismo.

PALAVRAS-CHAVE: Televisão. Paulo Roberto Leandro. Telejornalismo.

ABSTRACT: the journalist Paulo Roberto Leandro graduated in Journalism in the first class of the School of Communications of USP. He worked in several newsrooms and television stations such as TV Tupi, performing the functions of text editor, regional editor, and as journalism director for TV Globo in São Paulo for six years. Until 2015 worked on Rede TV! as consultant and one of the main editors of the management of Franz Vacek. In interview recorded on November 9, 2006, the journalist told a bit about his background and his journey through telejournalism.

KEYWORDS: Television. Paulo Roberto Leandro. TV journalism.

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Doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Contato: valquiriakneipp@yahoo.com.br

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Introdução

Durante a pesquisa de doutorado realizada de 2005 a 2008, na Escola de Comunicações e Artes da USP, sobre a “trajetória de formação do telejornalista brasileiro” foram entrevistados 37 jornalistas que trabalharam ou trabalham em telejornalismo, divididos em cinco décadas (1950, 1960, 1970, 1980 e 1990). Destes personagens que contaram como se deu a formação do telejornalista no Brasil, até o momento, cinco faleceram. Para relembrar as contribuições destes jornalistas, as entrevistas realizadas com os mesmos durante a pesquisa serão publicadas em uma série de cinco edições da Revista Alterjor. Nesta edição, o quarto entrevistado é Paulo Roberto Leandro, que faleceu em 24 de janeiro de 2015, em São Paulo.

Valquíria Passos Kneipp: Como que você foi trabalhar em TV? Tinha alguma

exigência?

Paulo Roberto Leandro: Não. Eu já até escrevi isso em livros. Como eu sou da

primeira turma da Escola de Comunicações e Artes da USP, o professor Julio Morecon que foi o primeiro diretor da Eca, ele teve o bom censo de além de abrir o exame vestibular, como prevê qualquer regra, convidou alguns profissionais, que eram importantes na época para prestarem vestibular, em iguais condições como os demais alunos. E, eu tinha 18 anos e no primeiro ano de faculdade eu convivi com alguns chefes de redação da época, pessoas assim que tinham projeção profissional, que já eram realizados profissionalmente, mas que gostariam de ter um diploma universitário. Entre eles, o Walter Sampaio, que era diretor de jornalismo da Rede Excelsior, televisão, por exemplo, que era uma televisão importantíssima naquele período. Depois faliu, desapareceu como a Tupi. E o Walter Sampaio foi convidado e assumiu a direção de jornalismo das emissoras associadas, que eram a Rádio Difusora, a Rádio Tupi e a TV Tupi. Ele convidou alguns meninos, que eram contemporâneos dele em sala de aula e claro, que quando a gente tinha grupo de estudo, nós escrevíamos o trabalho para ele, porque ele não tinha tempo. Não era só eu, nós estudávamos em grupo, é claro ele tinha muito a contribuir, mas na hora de fazer o trabalho pesado, sobrava para a molecadinha onde eu me incluía. Então ele levou dois do grupo, esse de colegas de primeiro ano de faculdade, para trabalha com ele na Tupi. Que é o Sérgio Gomes, que está hoje na

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46 Jovem Pan e eu. Então, foi assim que eu entrei, não tinha pré-requisito era conhecer o

Walter Sampaio, não tinha outra.

VPK: Quais as funções que você desempenhou nas emissoras onde trabalhou?

PRL: Eu só não fui office boy, o resto acho que eu fiz quase tudo. Só não sei filmar,

também nunca quis aprender. Desempenhei todas as funções que são próprias do jornalista. Fui repórter, rádio escuta, editor-chefe de jornal de rádio, depois de jornal de televisão, fui chefe de reportagem, depois diretor de jornalismo. Também fui apresentador de programa de televisão. Tudo isso eu fiz. Mais quero deixar claro, nunca me iludi com exercer qualquer tipo de comando sobre máquina, porque o meu trabalho é sobre tudo intelectual. Não é que eu seja intelectual, que uma palavra que pode ser pejorativa. Mas o meu trabalho é com a cabeça, eu não preciso operar máquina. Alguém sabe operar máquina melhor do que eu espero, e existe gente que sabe fazer melhor do que eu isso.

VPK: Você poderia falar assim, mais ou menos, em qual época que você trabalhou em

cada emissora?

PRL: Falo com precisão. Entrei na Tupi - Emissoras Associadas em janeiro de 1968.

Sai em março de 1971 pedi demissão, porque eu quis ir pra Europa, onde eu morei um ano. Quando eu voltei trabalhei em 1974 na Bandeirantes. Em 1975 na TV Cultura sai de lá em 1980. Entrei na Globo em 1982 sai em 1995. Entrei na Rede TV em 1999 e sai agora em 2006. Tudo preciso.

VPK: E qual que é a diferença lá da Tupi pra Rede TV, ou seja, de quando você

começou para os dias de hoje?

PRL: Olha essa pergunta demanda vários tipos de resposta. Posso dar uma resposta de

caráter técnico e posso da uma resposta de caráter ético. De caráter técnico tem a ver com a história do telejornalismo. Quando eu entrei na Tupi a ferramenta que se tinha pra trabalhar, fazendo reportagem de televisão, era uma câmera Bary Haw 16 mm, com

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47 filme mudo preto e branco negativo, virava positivo sendo projetado, porque ele era

negativo na origem. É tinha um rolinho de filme de 100 pés dava três minutos de tempo útil. É raramente se saia à rua com uma câmera que gravava áudio, era auricom. Essa auricom também saia com um rolinho de filme de 100 pés, portanto você tinha que gravar entrevista ou entrevistas em no máximo três minutos. Isso é uma limitação de ordem técnica, que era assim os primórdios do telejornalismo. Pouco tempo depois, e aí não tem a ver com a Rede TV, tem a ver com a evolução tecnológica posta a disposição do telejornalismo, apareceram às câmeras Mitchel, que tinham um chassi de 400 pés que dava aquela maravilha de 12 minutos, era uma festa. Em seguida entrou o filme colorido e se trabalhava com essa câmera CP Mitchel com filme colorido. Mas tudo isso para a indústria de produção de televisão e o jornalismo se encaixa nela, significa custo. Vai-se para a rua consome x pés de filme, que custam x reais de cruzeiros para transformar numa reportagem de 30 segundos ou um minuto. Então, se media muito a produtividade da reportagem de rua, assim, quantos minutos você rodou na rua para trazer essa reportagem. Era uma lógica isso, quer dizer você rodou 4 minutos para botar um no ar? Seu custo está muito alto, o que é compreensível, não é correto, não estou defendendo, mas é compreensível, porque isso é custo. O filme era importado, na época, a revelação era um negócio caríssimo. E a televisão, o telejornalismo eu estou me restringindo especificamente ao telejornalismo rodava inteiramente em cima disso, não se tinha tape, que pudesse se apagado e você regravar na mesma fita. Isso não existia. O filme queima uma vez só. É depois de algum tempo, já na Globo, quando eu entrei na Globo ainda se usava um pouco de filme, mas já tava havendo uma transição para o tape. Não para o suporte magnético, não o suporte de cinema de película. E depois foi para U-matic. Anos se evoluiu demais, hoje em dia o ideal não trabalha com fita nenhuma, tudo com digital, da captação a edição e exibição. É isso faz uma diferença enorme, por isso que eu disse do ponto de vista técnico, muda um pouco a sua concepção de captar a realidade, tem que ter um pouco mais de discernimento, tem que ter um pouco mais de censo, quanto menores forem os recursos a sua disposição. Tem sempre ir à bola certa. Agora pode errar bastante, isso não quer dizer que todo mundo erra. Errava muito antes também. É mas tive o prazer de em 1969 faze para TV Tupi um documentário de uma hora, uma hora sobre o Vale do Jequitinhonha, apenas com uma câmera Belle Haw, e foi muito bonito. E era só filme mudo, quer dizer eu escrevi o

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48 texto de ponta a ponta e tinha uma sonoplastia feita no ar e narrador foi o Fábbio Peres.

Agora do ponto vista técnico tem um pouco a ver com a estética do que se faz em telejornalismo. Do ponto de vista ético você tinha, quando eu entrei na Tupi, uma relação promiscua entre o dono da empresa que era o Chateubriand e o poder. E o jornalismo era uma forma dele exercer o poder. Porque eram anos quentes, digamos assim havia uma reação muito forte da redação, do grupo de jornalistas para aquele tipo de exercício de poder, que não interessava a quem era jornalista pelo menos jornalista sério. É isso se preservou ao longo do tempo, depois foi se modificando um pouco por circunstâncias históricas. E agora eu diria que tem televisão muito bem equipada sem nenhum senso ético.

VPK: E para o jornalista fazer jornalismo naquela época e hoje na televisão o que

mudou?

PRL: Boa pergunta! Primeiro que não mudou só para o jornalista, mudou para os

jovens, para o mundo, para a realidade. Naquela época se travava uma luta muito forte contra um sistema que oprimia as pessoas, se oprimia a cidadania, oprimia quem era intermediário entre o poder e a cidadania, portanto o jornalista. Isso felizmente se derrubou, o país voltou a viver numa situação democrática, mais democracia dessa forma como se defendia não conseguiu se implantar, também nas relações capitalistas de poder na área de comunicação. Então, hoje eu acho que mais do que antes se exerce o poder através dos veículos de comunicação por suposto também no jornalismo.

VPK: Em sua opinião a televisão brasileira copiou o telejornalismo americano e

mantém até hoje esse modelo?

PRL: Na verdade busca essa origem, acho que é certo, digamos equívoco porque a

televisão o telejornalismo ele é herdeiro o radiojornalismo. Todos os primeiros profissionais que trabalharam em televisão vinham do rádio: locutor, redator tudo igual. Só saiam de uma sala, aonde a coisa ia por microfone e iam pra uma sala aonde a coisa ia por um estúdio de televisão, com câmera aberta em cima de alguém que lesse. Mas a receita era a mesma. É trabalhar basicamente com lead, trabalha com local com data e

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49 sempre notícia curta, tudo muito curtinho. Isso era modelo do rádio e isso veio para a

televisão nos anos 50. Isso se propagou pela televisão anos a fio. E no caso brasileiro vou fazer apenas um parêntese histórico, você me perdoe, mas ainda no final dos anos 50, começo dos anos 60 por falta de recurso técnico, ou seja, por falta de dinheiro, a televisão brasileira importou para o telejornalismo um modelo que não é bem americano, é um modelo parecido com um talk show. Você tinha algumas poucas informações, que podiam ser do dia ou da véspera, não importa, e meia dúzia de comentaristas, que ficavam falando sobre aquele acontecimento ou sobre aquilo que foi publicado nos jornais. Tinha isso na Excelsior, tinha isso na Tupi, Diário de São Paulo na TV era rigorosamente isso, o Edição Extra, que era na hora do almoço. Na Tupi eram seis pessoas falando. Era o Aurélio Campos, Maurício Loureiro Gama enfim eram esses. O próprio deputado hoje Arnaldo Faria de Sá é herdeiro dessa época, junto com outros que participavam com o que a gente chamava grosseiramente de “Jornal da Tosse” porque as pessoas pigarreavam enquanto comentavam. Isso foi uma maneira de você preencher espaço, por falta de recurso técnico por falta de poder de captação da realidade e você fica falando sobre a realidade, como uma espécie de intermediário sobre aquilo que era supostamente importante, e o público que depende daquela informação, sem o processo de captação que é caro. Isso foi se alterando com o tempo. Quem implantou um jornalismo de mais agilidade, digamos assim, na rua foi a rede Globo. Em 1969 ou 70 o governo americano convidou alguns jornalistas, que eram responsáveis por redações no Brasil, para irem conhecer o processo de produção dos telejornais nos Estados Unidos. Entre eles estavam o Walter Sampaio, a Alice Maria, quando ela voltou implantou junto com o Armando Nogueira isso, que gente conhece hoje como o Jornal Nacional. Tem menos gente que fala e mais repórter na rua não é? Só que se você olhar com algum cuidado, você vai ver que o repórter na rua também fala e não reporta. É porque com tempo vai se esvaindo a função de captação da realidade em lugar de captar você fala sobre ela, só que na rua. Vou dar um exemplo assim mais extremado dessa opção digamos assim técnica. Você tem um repórter em Nova Iorque que cobre o Iraque. Ele nunca esteve lá, isso é que se chama de voice over, quer dizer ele compra imagens de diversas emissoras. A única diferença é que não está no estúdio, mais se você pensar bem a solução é semelhante aquela dos anos 50 não é? Quando você comprava imagem da UPI e alguém no estúdio falava. Agora o sujeito

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50 está em Nova Iorque e fala sobre o Iraque, sem nunca ter ido lá. Agora ao mesmo tempo

o telejornalismo, que evidentemente incorporou receitas norte-americanas para as emissoras brasileiras, também colocou uma vertente brasileira nesse processo. Por exemplo, a reportagem de rua, ela é quase que inexistente em telejornais americanos, aqui no Brasil existe ainda. Pega o Ernesto Paglia, a Neide Duarte, o Zé Hamilton Ribeiro, alguns repórteres que saem pra rua e diante de um fato emergencial trazem um pouco da realidade para dentro do aparelho de televisão, isso não existe fora daqui, isso é uma invenção brasileira, como a telenovela é uma invenção brasileira.

VPK: Eu falei importou esse modelo tal, por causa daquele acordo Time Life Rede

Globo.

PRL: Não isso é tido como um evento historicamente importante e, eu diria pra você,

sem medo de errar, que é completamente irrelevante. Nenhuma empresa que chega ao porte da Rede Globo de Televisão ou das organizações Globo, que é maior do que a Rede Globo chega deste tamanho se não tiver um aporte de recursos capaz de torna-la um negócio tão grande quanto a Rede Globo é. Isso vale para siderurgia, metalurgia, vale para confecção, indústria têxtil, para o que você quiser. Porque se você perder tempo demais inventando uma nova tecnologia quando você chegar ao ponto de aplica-la estará ultrapassada. A Globo como outras, não defendo a Globo, estou discutindo uma questão histórica. A Globo como outros setores empresariais teve a sabedoria de dizer, “eu não quero inventar a roda, eu quero comprar a roda e daqui a pouco eu faço um automóvel”. E ela independe desse tipo de imposição de recursos hoje a muitos anos, por isso que eu digo, a Rede Globo inventou a teledramaturgia, que é melhor do que qualquer outro lugar do mundo. E inventou criando fórmulas de representar dramaturgia em televisão, que ninguém tinha arriscado fazer, e mais do que isso, fomentando a atividade de intelectuais da melhor qualidade, que são brasileiros, como Dias Gomes, entre outros. Agora só que ela não inventou a roda. Como é que eu ando? Eu vou andar sozinho. Pronto ela fez isso, não foi nada muito grave. Isso aí é coisa Lacerdista. Perdoe-me essa crítica.

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VPK: E por último gostaria que você contasse alguma história das emissoras ou de

alguma emissora, que você trabalhou que marcou a sua passagem pelo telejornalismo...

PRL: Sem nenhuma preocupação cronológica, digo o seguinte, fiquei 6 anos na TV

Cultura e lá tive dois episódios, que me marcaram pessoalmente além de profissionalmente. Um deles é que, numa segunda-feira, me dei conta que torcedores do Corinthians tinham alugado 3 ônibus para ir até Recife assistir um jogo da semifinal do campeonato brasileiro, em 1976. E achei aquilo uma loucura. Eu sou corinthiano, mas que coisa insana pegar um ônibus aqui para fica não sei quantas horas e assistir um jogo de futebol de 90 minutos, entrar no ônibus e ter que volta pra São Paulo e tendo que trabalhar, muitos deles são vagabundos, eu concordo. Mais é uma loucura. E aquilo me chamou a atenção, porque no domingo seguinte o Corinthians ia jogar contra o Fluminense. Eu propus ao Fernando Faro, que era diretor artístico da TV Cultura na época, que nós acompanhássemos os torcedores Corintianos para o Rio de Janeiro, se eles fossem de novo acompanhar o time daquele jeito. Que a gente fosse junto fazendo uma reportagem. Ele concordou, apostou na minha idéia. Então, nós colocamos uma equipe de reportagem, que era um repórter, um cinegrafista, o repórter Lucas Bataglin e o cinegrafista Nilo Mota, excelente repórter cinematográfico. Nós compramos a passagem junto com os Gaviões da Fiel, entramos no ônibus, fomos até o Rio de Janeiro gravando a viagem deles. Foram mais de 60 ônibus. Quem lia jornal na época há de se lembrar de que, tinha mais Corinthiano do que torcedor do Fluminense no Maracanã. Os Corinthianos invadiram o Maracanã, literalmente. E nós estávamos lá para testemunhar isso. É nós fomos dentro do ônibus, participamos do jogo, com a torcida, no ângulo da torcida, quer dizer o jogo não nos interessava o que interessava era que torcedor maluco é esse, que foi até lá. Voltamos com eles no mesmo ônibus. Isso foi segunda-feira de madrugada, mandamos revelar o filme, que era filme colorido e exibimos o documentário, de uma hora, às 9 horas da noite na TV Cultura da segunda-feira seguinte ao jogo. Foi uma loucura e um programa maravilhoso. Porque ele representou assim a conquista de uma ideia, aparentemente fora de propósito, com a realização de um grande trabalho jornalístico, de reportagem, de rua mesmo. Esse documentário de uma hora não tinha texto, era só depoimento, só expressão de torcedor o tempo todo. A gente usou para ilustrar uma parte a narração do Osmar Santos, que era da rádio Jovem Pan na

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52 época. Pedimos imagens do jogo na cobrança de pênaltis para a Bandeirantes, que nos

cedeu. E a gente exibiu tudo isso simultâneo, ao vivo no ar. Foi uma coisa muito bonita. Um marco da TV Cultura. Não porque eu tenha participado, mais foi um, na minha experiência profissional, sem dúvida foi um marco. O outro, isso também é de 1977 eu acho é que nós na TV Cultura, quando eu digo nós era o Carlos Queiroz Teles o Roberto Muylaert e eu, que era diretor de jornalismo. Nós começamos a discutir que o telejornalismo no Brasil sofria de um viés difícil de superar, porque as pessoas eram entrevistadas por pessoas que conheciam as pessoas. Jornalista conhece todo mundo, então as perguntas são mais ou menos viciadas. Não estou dizendo que desonestas, mas você trabalha com um mesmo repertório de conhecimento. E a gente queria mexer um pouco com esse eixo. Inventamos um programa de entrevistas, que fez o maior sucesso lá e eu apresentava que era Vox Populi, onde a pauta de pergunta era ditada pelo ser humano comum nas ruas. A gente colocava as nossas equipes de reportagem nas ruas de São Paulo 25 de março, viaduto do Chá e tal, para colher perguntas dirigidas para um personagem. E o combinado entre eu, que era o responsável do programa e o entrevistado era o seguinte: você não sabe o que vai ser perguntado e nem eu. A minha função não é fazer pergunta, é insistir caso você responda evasivamente alguma pergunta das pessoas, e eu só interferia quando sentia que isso estava ocorrendo. E foram programas belíssimos, basta dizer que a primeira vez, que o Lula deu uma entrevista de uma hora. Foi a TV Cultura no programa Vox Populi. Nossa foi uma loucura. A Elis Regina dizia que foi a melhor entrevista que ela deu na vida foi para o Vox Populi, está em algum jornal. E lá nós entrevistamos milhares de pessoas. Eu gravei acho que 110 programas. Era um programa semanal. E o que é interessante é o seguinte a TV Cultura, isso eu já disse outras vezes, ela não tinha absolutamente os mesmos recursos técnicos que nenhuma outra emissora, nenhuma outra. Já não existia mais a Tupi, mas ela não tinha os recursos que a Manchete tinha que a Globo imagina nada, mas a TV Cultura conseguiu reunir num certo período pessoas que tinham boas ideias e com poucos recursos faziam esses episódios que eu acabei de relatar, esse documentário de uma hora com uma equipe de reportagem, com filme, para ser revelado ainda para ser exibido no mesmo dia, e a faze um programa como esse Vox Populi, que foi marcante.

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VPK: E da Globo tem alguma história?

PRL: A Globo tem uma questão, como ela oferece qualquer recurso que você queira,

não rejeita nenhuma boa ideia, nunca vi isso, em quase 15 anos contratado por ela. Em 1982, a Globo fez uma cobertura de eleição, que foi desastrada. Custou muito caro para Globo, porque ela contratou uma empresa de fora a Proconsulte, que deu dados errados e a Globo pagou o preço por isso. O preço político certo. Ela escolheu errado e pagou o preço, que a parceira não tinha posto no contrato mais que levou a culpa. Então, o primeiro grande projeto que eu me enfiei na Globo foi em 1985, era a gente fazer uma, o que a gente chamava de apuração paralela, quer dizer a gente levanta número oficiais, antes que a Justiça Eleitoral. Como qualquer repartição pública no Brasil, a Justiça Eleitoral é lenta. A gente preparou um esquema muito ambicioso para conseguir os dados, antes de qualquer outra coisa e conseguimos. Nosso erro foi que fizemos isso em 1985 e nas eleições subseqüentes até o segundo turno do Fernando Henrique (1998). Quando eu ponderei na época, com o meu diretor, na época o Alberíco que não vai funcionar mais porque agora a Justiça vai estar na frente da gente, porque se informatizou e aí não ia dar. A gente ia ficar bem atrás e com uma margem de erro oficiosa enfim, que era ruim para a gente como veículo de informação. Mais dali pra frente todas as eleições, a gente cobriu alucinadamente, inclusive a do Collor com uma margem de erro de 0,03 por cento, numa dessas eleições eu contratei 16 mil pessoas no Brasil. É coisa pra burro. Para trabalhar 3, 4 dias. É muita coisa. Mais isso foi um negócio que marcou uma operação, e nessa aventura, eu tinha como parceiros o Gonzalez e o Marcelo Vaz, os dois são da GW.

Referência

KNEIPP, V.P. Trajetória da formação do telejornalista brasileiro – as implicações do modelo americano. Tese de Doutorado. Orientação: José Marques de Melo. São Paulo: PPGCOM-ECA-USP, 2008.

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