apêndice marie-thérèse davidson tradução Álvaro lorencini mano gentil
AQUILES
Os combates de
copyright © 2003 by Éditions Nathan/vuef, Paris, França
grafia atualizada segundo o acordo ortográfico da língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no brasil em 2009.
Título original
les combats d’achille
Projeto gráfico
Kiko Farkas e thiago lacaz/máquina estúdio
Ilustração da capa
iuri lioi
Preparação
maria Fernanda alvares
Revisão
Carmen s. da Costa huendel Viana
dados internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara brasileira do livro, SP, brasil)
gentil, mano
os combates de aquiles / mano gentil; apêndice marie-thérèse davidson; tradução Álvaro lorencini. — são Paulo : Companhia das letras, 2011.
título original: les combats d’achille.
ISBN 978-85-359-1801-4
1. mitologia grega — literatura juvenil i. davidson, marie-thérèse. ii. título.
10-13621 CDD-028.5
Índice para catálogo sistemático: 1. mitologia grega : literatura juvenil 028.5
[2011]
Sumário
mapa: o mundo de aquiles 7 Prólogo 9 1. infância 13 2. No palácio de Ciros 23 3. Primeiros aborrecimentos 33 4. as belas cativas 41 5. longe do combate 51 6. a morte de um amigo 59 7. Uma terrível carnificina 67 8. Vingança 77
9. Pacificações 83
10. Um herói desaparece 91 epílogo 97
genealogia de aquiles 98
apêndice — Para conhecer melhor aquiles 101 glossário 111
mt. olimpo mt. Pélion mt. ida Ftia atenas tenedos troia Ciros micenas esparta Áulis mar egeu tessÁlia troada
O mundo de
Aquiles
helesponto99
PrólOgO
m pé na proa do navio, Aquiles deixa o olhar correr pelo horizonte. Ele não se cansa do espetáculo, sempre o mesmo e sempre sedutor. Mil velas cobrem o mar cintilante: a ar-mada grega inteira encaminha-se para a Ásia, para Troia, a ladra. Os gregos, todos enfim unidos, preparam-se para vingar a honra de um dos seus, o rei Menelau, cuja esposa fora raptada por um príncipe troiano.
— E pensar que eu quase perdi esta aventura... — mur-mura o jovem, com um sorriso feliz.
— O que está dizendo, Aquiles? — pergunta-lhe seu companheiro Pátroclo, que acaba de chegar.
— Todo dia, a todo instante, eu me alegro por estar aqui, com você, com meus mirmídones,* com os maiores guer-reiros gregos! Vou finalmente conhecer a guerra e a glória! Ao redor da proa, as ondas agitam sua cabeleira de es-puma e murmuram em eco:
— a guerra e a glória... — a guerra... a glória... — a glória... e a morte... — ... e a morte!
Balançando os cachos loiros, Aquiles se volta para o amigo:
— Decididamente, minha mãe nunca desiste! Ela me seguirá até Troia!
— Você ainda se queixa! — retruca Pátroclo, tão mo-reno quanto o amigo é loiro. — Ter como mãe a nereida* Tétis é uma sorte e uma honra que todos invejam!
Aquiles não dá corda ao amigo. Uma sorte... Uma honra...
Suavemente embalado pela onda, seu espírito se des-prende, parte à deriva, longe, bem longe, para as praias de sua infância...
11 Uma sorte... Uma honra...
Certamente não era o que pensava seu pai, Peleu, o rei dos mirmídones, depois de ter visto seus seis primeiros filhos morrerem. Na verdade, sua esposa, Tétis, deusa imortal, não se conformava em ver os filhos desaparece-rem: para ela, era muito pouco que eles tivessem apenas alguns anos de vida. Então, como não podia torná-los eternos — não tinha poder para isso —, tentava ao me-nos deixá-los invulneráveis. Ora, só existiam dois meios para tal: o fogo ou a água do Stix!* E seus seis primeiros filhos acabaram todos mortos, afogados ou devorados pe-las chamas...
O pai lhe contara várias vezes a história de seu nascimento...
étis esperava o sétimo filho, e Peleu o
queria vivo, mesmo que isso durasse
apenas o tempo de uma vida humana. Ele estava, portanto, decidido a impedir, a todo custo, que a esposa agisse a seu bel-prazer.
Já fazia nove dias que um céu alaranjado cobria o reino dos mirmídones. O raio de Zeus* se abatia sobre os quatro cantos da terra e ninguém sabia realmente onde, quan-do, nem a quem ele ia atingir. Peleu via nisso um funesto
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INFÂNCIA
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esticava o lençol de linho branco que a cobria. Ao redor dela, as criadas se afainavam: uma aquecia água e quei-mava incenso num braseiro, outra arruquei-mava as almofadas embaixo de sua senhora.
Impressionado, Peleu não ousou entrar, e correu para uma sala vizinha, onde permaneceu de ouvido atento. Não tardou a ouvir gemidos, cada vez mais fortes, e brus-camente um grito, reconhecível entre todos, lhe comuni-cou que seu filho nascera.
Aproximou-se então e lançou um olhar pelo vão da porta. Tétis estava de olhos fechados, e uma lágrima rolava sobre sua face. Uma criada acabara de depositar em seus braços o pequeno corpo choroso. A mãe inclinou-se sobre ele e murmurou ternamente:
— Meu pequeno, meu pequenino... Não posso aban-doná-lo à sua infeliz sorte. Você vai ver, não é nada... Não precisa ter medo, sabe? Depois, nada mais poderá atingi--lo nem feriatingi--lo. Você viverá, tenho certeza disso. Oh, sim, não quero que você morra como os outros!
Peleu ouviu distintamente essas últimas palavras e, por um curto instante, aguardou: renunciava ela a suas práticas mortais?
Mas a deusa já se voltava para a criada: — Preparou o fogo?
— Sim, divina Tétis. Faremos como para os outros... Estarei ao seu lado.
— Obrigada, minha boa Aretusa, você pelo menos me apoia. Não é como o pobre Peleu, que não compreende nada. Mortal ele nasceu, mortal ele permanecerá!
Peleu, furioso, recuou: não era o momento de mostrar-se! Alguns minutos depois, ele ouviu a criada anunciar que estava tudo pronto, e, então, Tétis se mexeu na cama e fa-lou em voz baixa. Era hora de agir.
Passando a cabeça pelo vão da porta, Peleu descobriu um espetáculo que o deixou apavorado. Sua esposa acabara de mergulhar o bebê nas chamas do braseiro. Sem pensar, ele se lançou em socorro do filho. Arrancou-o das mãos da mãe e fugiu com o menino, deixando Tétis apavorada.
Que cavalgada! Peleu queria esconder o filho para cui-dar tranquilamente de seus ferimentos. Mas, ao olhar mais de perto, só o calcanhar direito do menino estava machucado, com sérias queimaduras. Quanto ao resto do corpo, parecia inalterado: mesmo quando o menino se