UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
DE
CIÊNCIAS
HUMANAS
DEPARTAMENTO
DE GEOCIÊNCIAS
CURSO
DE
MESTRADO
EM GEOGRAFIA
~
O
DESENVOLVIMENTO
URBANO
EA
PROMOÇAO
FUNDIÁRIA
E
IMOBILIÁRIA
NA
CIDADE
DE
IJUÍ/RS
BERNADETE
MARIA
DE
AZAMBUJA
ORIENTADOR:
Prof. Roberto Lobato CorrêaD|ssERTAÇÃo DE
MESTRADO
Área
de
concentração:Desenvolvimento Regional
e
UrbanoFlorianópolis
-
SC
Julho, 1991DEPARTAMENTO DE
OEOc|ÊNc|As
CURSO
DE
MESTRADO EM
GEOGRAFIA
"O DEsENvO|_v|MENTo
URBANO
E
A
PROMOÇÃO
FuND|ÁR|A'
,E
|MOB||_|ÁR|A
NA
c|DADE
DE
uuí/Rs."
BERNADETE
MARIA
DE AZAMBUJA
Dissertação submetida ao Curso
de
Mestradoem
Geografia, Áreade
Concentração: De-senvolvimento Regional
e
Urbano,do
Departamentode
Geociênciasdo
Centrode
Ciên-cias
Humanas
da
Universidade Federalde
Santa Catarina,em
cumprimento parcial dos requisitos para obtençâodo
títulode
Mestreem
Geografia.APROVADA
PELA
COMISSÃO EXAMINADORA
EM
/8
/_ 1991
ÊDÊMÊ
øL0Ik=~'f5c°N-3°»
Prof. Orientador Roberto Lobato Corrêa'I
ew")
Prof. Dout
rm
n igomannt
Prof. Mestre Ivo Sosti
o
Florianópolis
-
SC
Í
'I'
A991
dcATALoGAçÃo
NA FONTE
CEILA
R.soAREs
BIBLIOTECÁRIA
CRB-1o/926
Azambuja,
Bemadete
Maria deO
desenvolvimento urbano ea promoção
fundiáriae
imobiliá-ria
na
cidadede
Ijuí-RS /Bemadete
Mariade
Azambuja. - - Flo-rianópolis : 1991.
216
p. : il.Dissertação (mestrado)
-
Universidade Federalde
Santa Ca-tarina. Departamento
de
Geografia, 1991.1.Geografia urbana
-
Ijuí 2.Ijuí-
Geografia urbana 3.Geo-grafia urbana
-
Ijuí-
Teses
4.Urbanismo-
Geografia-
Ijuí5.Ijuí
-
Urbanismo
-
Geografia 6.Geografia urbana-
Expansão
horizontal
-
Ijuí 7.Geograf¡a urbana-
Expansão
vertical-
Ijuí8.SoIo urbano
-
Ijuí 9.Ijuí-
SoloUrbano
10.Ijuí-
imobiliário, se-tor 11.Imobiliário, setor
-
Ijuí I.TítuIo.cpu;
911.sz711(a1ô.s ljur)RESUMO
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . _ .ABSTRACT
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . _|NTRo|:›uÇÃo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . _ _I
-
A
FORMAÇÃO
REGIONAL
E
O
ESPAÇO
URBANO
DE
IJUÍ1
-
As
Origensda
Colonização no NoroesteGaúcho
. . . .1.1
-
As
condições históricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.2
-
O
estatutoda
colonização . . . . . . . . .2
-
A
Constituiçãoda
“Colôniade
Ijuhy" . . . . . . . . . .3
-
Agropecuária Colonial e DesenvolvimentoUrbano
. . . . .4
-
Desenvolvimentodo
Agrárioe
Atividades Urbanas . . . . . . .4.1
-
Modernizaçãodo
agrário regional: condições emudanças
4.2
-
Atividades comerciais: origem e possibilidades . . . . . _ _4.3
-
Atividades industriais: origeme
possibilidades . . . . . . . .4.4
-
A
terciarização das atividades . . . . . . . . . . . ll-
A
ESTIRUTURA INTERNA
DA
CIDADE
DE
lJUÍ . . . . . . . . _1
-
O
Quadro Urbano
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . _2
-
O
Centro ea
Periferia Urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . _ .3
-
Os
Excluídosdo Mercado
Formaldo
SoloUrbano
. . . . . . .3.1
-
A
ocupação
conjuntae o
fracionamento-do lote urbano .3.2
-
As
áreas de favelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . .ul
_
A
ExPANsÃo
HORIZONTAL
DA
CIDADE
. . . . . . . . . . . . . . _ _1
-
As
Formas de Expansão
Horizontal . . . . _ .1.1
-
Os
loteamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.2
-
Os
desmembramentos
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2
- Os
Corretores Imobiliários . . . . . . . . . . . . . . . . .2.1
-
As
empresas de
corretagem eo mercado de
intermediação imobiliária . . . .2.2
-
As
operaçõesde
parcelamentodo
solo urbano . . . . . . .3
- Os
Proprietários Fundiários e Outros Agentes Presentesna Expansão
Urbana .3.1
-
Promoção
fundiária . . . . . . . . . . .3.2
-
Promoção
imobiliária . . . . . . . .4
-
A
Produção
Mercantildo
Solo Urbanoe a Expansão
Horizontalda
Cidade . . . .lv
-
A
vERT|cA|_|zAçÃo
DA
c|DADE
. . . . . . . .1
- Os
Promotores Imobiliários isolados . . . . . . . . .2
-
O
Sistema
de
lnoorporação Imobiliária . . . . . . . . .2.1
-
As
empresas
inoorporadoras . . . . . . .2.2
-
As
operações_de incorporação imobiliária . . . . . . . . . . . . . . . . .2.3
-
As
características dos empreendimentos . . . . .3
-
Capital Imobiliário:do
promotor isoladoao
sistemade
incorporação . . . . . . _ .4
-
A
Formalizaçãodo
Poder dePromoção
Imobiliária . . . . . . . .CONCLUSÃO
. . . . ..FONTES DE
coNsul_TA
. . . . . ..suMÁR|o DE
QuADRos
. . . . . . . . . . ..suMÁR|o DE
MAPAS
. . . . . . .suMÁR|o DE
FIGURAS
. . . . . . . . . . . . . ..B|BL|oeRAr=|A
. . . . . . .ANEXOS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Anexo I-
Roteirode
Entrevista.
Anexo
ll~
Loteamentos Realizadosde 1933 a
1988-
Ijul/RSAnexo
Ill --Promoção
Imobiliária (Horizontal)de 1968 a 1982
-'- Ijul/RSAnexo
IV-
Edifícios Construldos por~Promotores isoladosde 1938 a
1989-
Ijul/RS...\
A
presente dissertação estudaa
produção-circulaçãodo
solo urbanode
Ijul/RS,em
periodo recente,que
se expressa naexpansão
horizontal e verticalda
cidade.O
fio
condutorda
análise é
o engendramento
e difusãodo mercado
de terras urbanas,que é a base
parao
surgimentodo
imobiliáriocomo
novo
ramo de
atividadesem
nivel local. Para tanto buscou-se os agentesmo-
deladores, estratégias e
mecanismos que dão
conteúdo à estruturaçãodo
solo urbanode
ljuí.H
Nesta perspectiva, recupera-se
a promoção
fundiária levadaa
efeito pelos di-versos proprietários privados,
que
faz surgira
figurado
corretor imobiliáriocomo
agente intermediárioe
que promove a expansão
horizontalda
cidade.Da
mesma
forma, recupera-sea promoção
imobiliá-ria realizada pelos promotores isolados
e
pelo sistemade
incorporaçãoque
se configurana
últimadécada.
É
pela construçãode
edificios residenciais e de negócios na área centralda
cidadeque
setransiciona,
na
atualidade,a
produção capitalistado
solo urbano, viao
solo criado.Para compreender
a
origem dos agentes,do
capital imobiliárioe
as condiçõesque
possibilitarama promoção
fundiáriae
de imóveis, recupera-sea
formação urbana-regional,a
constituição das atividadese
os elementos sociais presentes no desenvolvimentoda
cidade. Paratal,
é
necessário assinalarque
a cidadede
ljul, localizada no Noroeste gaúcho,é
tipica representanteda
pequena
produção mercantil, transplantadada
Europa e das Colônias Velhas,e
de seu desenvol-ABSTRACT
The
present dissertation studies the land use of the urban area of Ijuí, RioGrande do
Sul, in themost
recent period, which demonstrates the growth of the city both verticallyand
horizontally.The
line of analysis is the productionand
diffusion of the market for urban land, thatis the basis for the
emergenoe
of the real estate market asa
new
branch of activitieson
the local Ie-vel.
To
this end, the agencies for modelling, strategies,and mechanisms were
sought to give contentto the structure of the urban land of ljui.
In this perspective, to recover the promotion of real estate to realize through di-
verse private properties, that will
make
the person of the real estate agenta
intermediate agentewho
will promote the lateral expansion of the city. ln the
same
way, reoovering the promotion of landshown
through isolated promotersand
through the system of inoorporation that tookshape
in the last decade. lt is through construction of residencial buildings and businesses in the central area of thecity that the transition, in reality, to the production of capital of the urban land from the created land.
To
understand the origin of the real estate agentsand
the conditions thatmade
possible the promotion of land, the urban
and
regional formation, the organization of the activitiesand
of the social elements present in the city development were reooverd. For this purpose it is ne-cessary to infonn that ljui is located in the nortwest of the state and it is
a
typicalexample
of thesmall market production
and
its development in the social-spacial Brazilian society brought from Eu-l
-
A
Temática PropostaO
estudo sobrea
cidadede
ljui/RS, situadana
porção noroeste gaúcha, tendona atualidade
67
mil habitantes, buscou analisaro
urbano expressoem
cidadesde
menor
porte afas-tadas dos espaços metropolitanos, usualmente privilegiados nas pesquisas acadêmicas.
Além
da
vi-vência
como
moradora,a
escolhada
cidadede
ljui étambém
justificada pela atuação profissionaljunto
ao
Departamentode
Ciências Sociais eao
Cursode
Geografiada
Universidadede
liul.O
núcleoda
investigaçãoé o
urbano local.No
entanto,como
a
temática pro-posta
é complexa e
envolve inúmeros aspectosque
nãopodem
ser esgotadosnum
único trabalho,privilegiou-se seu estudo através
da
produção-circulaçãodo
solo urbanode
Ijuí/RS.A
análisedo
solourbano ijuiense
tem
como
ponto de partida a explicitaçãode
dois processos espaciais,a
saber.a
ex-pansão
urbana horizontal ea
verticalizaçãoda
cidade. Tais processos espaciaispodem
ser apreen-didos
ao
nivelda paisagem
urbana, resultantesda
própria constituiçãoda
cidadecomo
forma cons-truída
e
como
território privilegiado das ações locais. Porém,somente
istonão é o
bastante; para en-tendê-los é necessário rastrear os processos e agentes sociais, estratégias
e
mecanismos,que
tra-duzem
as práticas levadasa
efeito na cidade eque dão
conteúdoà
estruturaçãodo
espaço urbano.Para compreender os processos sócio-espaciais, presentes
em
ljuf/RS, esco-Iheu-se corno fio condutor
da
análisedo
solo urbanoo engendramento
e difusãodo mercado de
ter-ras
e
do
setor imobiliário local.Em
função das característicasda
cidade ede
seu porte,da
magnitu-de
dosempreendimentos
realizados,da
amplitudee
intensidade das açõesno
imobiliário local,o
pe-rfodo escolhido para análise,
que
inicialmente se propunha abarcar os últimos vinte anosde
atuaçãodos promotores, foi estendido
da década de
50 atéa
atualidade, privilegiando-sea
produção recentedo
solo urbano._
A
opção
foi feita tendoem
vistaque a
grandeexpansão
horizontalda
malha
urbana ocorre
no
periodode
1950-70. Por sua vez, as operações recentese
as sucessivas amplia-ções
do
perímetro urbanonão
são suficientes para explicara promoção
fundiáriana
cidade, pela,di-versidade
de
atuação e pelo grau de permanência das práticas mais antigas.O
periodo consideradopermitiu rastrear
a
constituiçãodo mercado de
terrasna
cidade,como
base
necessária para situara
ascensão
do
imobiliário localcomo
setor independente.2
A
promoção
fundiáriana
cidadede
Ijuí guarda estreita relaçãocom
o
tipode
ocupação do
espaço local, iniciadacom
a
pequena
produção mercantil,que
permite expressaro
vi- gorque
assumem
a propriedade fundiária ea
riqueza soba
formade
terras.Essa
característica per-mite desvendar
o
tipode
promotores fundiários e suas práticas,que é
condição essencial para osnovos desdobramentos
do
setor imobiliário.O
auge
dos loteamentos nesse primeiro periodo revelao
estágioa
que chega
a promoção
fundiária, eque
repercute até na atualidade, tanto nas novas operaçõesde
parcelamen-to
do
soloe de
seus agentes quantona promoção do
espaço construido. Por enquanto basta dizerque
esse processo auxilia nacompreensão
dos estoquesde
terrenosna
área central,a
existênciade
pequenas
glebas encravadas namalha
urbana,que somente
agora são parceladas, as práticasde
desmembramento
que passam a
ocorrer eque dão o tom
parao
“descontrole”que
o
poder públicolocal
detém
sobrea
produçãodo
solo urbano. Por fim, pemwite situaro
fundiáriona
atualidade,a
promoção
vertical e a capturada
intermediação imobiliária viao
profissional corretor.Como
a
análise é realizada soba
óticada
estruturaçãodo
solo urbano viaagentes-mercado, as caracteristicas
da promoção
fundiária eda expansão
horizontalda
cidade aca-bam
por exigira
extensãodo
períodode
análiseda
produção imobiliária. Recupera-se seu inícioe
asatividades realizadas pelos usuários e/ou promotores
que dão a
prática necessária parao
apareci-mento
dasempresas de
incorporação.É
necessário situara
origeme
difusãodo
setor imobiliário tan-to pelas operações de parcelamento
do
solo quanto pela produçãode
edificações.São
facesde
um
mesmo
setorque
possibilitam explicara
atividadede
promoção,como
um
estágio capitalistaque
setransiciona na atualidade.
u
Assim, situou-se nesta pesquisa
a
produção mercantildo
imobiliáriocomo
ati-vidade reiterada das práticas encetadas na
economia
local e regional,sendo que a
lógica mercantilé
o
fio condutorda
explicação.Essa
lógica mercantil reitera no imobiliário sua condiçãode
existênciaeé a
base para explicaro
modo como
ocon'ea
transição paraa
produção capitalistado
solo urbano.Por este viés
de
análise procura-se mostrarque o
sistemade
incorporação presentena
cidadeé a
expressão ainda
não acabada da
produção-circulação capitalistado
solo urbano, porque semantém
a
produçãocomandada
pelo usuário-promotor,o
financiamento particular,o
aporte fundiárioe
patri-monial
como
condição.Para muitos promotores,
em
cidadesde menor
complexidade urbana,a
produ-ção/circulação
do
solo urbanoé
setor secundáriode
atuação,em
que
capitaisou
rendas oriundasde
outras atividades,
ou
em
decorrênciado
estatutoda
propriedade privadada
terra, propiciam opera-ções imobiliárias mais esporádicas
ou
sistemáticas. Neste sentido buscou-se acentuara
riqueza, soba
fomtade
terras, ligadaà promoção
fundiáriaea
constituiçãordèeum
capital, ligadaà promoção
imobiliária, permitindo situar
a
transfonnaçãodo
conteúdodado ao
solo urbano, isto é,da
produçãoA
diversidadedas
ações realizadas,em
razão dos distintos interessese
neces-sidades
e
as alianças e conflitosque
se estabelecempermeiam a
atuação dos promotoresque
sefazem
presentesem
ljule
traduzema
potencializaçãodo
imobiliáriocomo campo
fértil de investi-mentos
locais na atualidade. Portanto,a
produçãodo
solo urbanotem
seu eixode
explicação assen-tado
em
dois processos sócio-econômicosque expressam a expansão
urbana horizontale
a
vertica-lização
da
cidade.O
primeiro éa
lógica rentista por excelênciaque
comanda
a expansão
urbana,dá
as bases parao
surgimentoe
destacaa ação
reiterada dos corretores imobiliários.O
segundo é
a
produção capitalistaque
estáem
processo no sistemade
incorporação imobiliária,a
qualpromove a
verticalizaçãoda
cidade.Pelas caracteristicas
da
produção-circulaçãodo
solo urbano,como
setor se-cundário
de
investimentosque
nasce e se consolida subordinadoao
desenvolvimentode
outras ati-vidades
e da
própria cidade, foi preciso oontextualizá-la no processode
constituiçãodo
urbano,de
suas funções e atividades, de suas inter-relações
com
o
agrárioe
com
a
regiãode
colonizaçãoda
pequena
produção mercantil, privilegiando-se o_Noroeste gaúcho.No
entanto, maisdo que
contex- tualizara
produção-circulaçãodo
solo urbanoa
nivelda
cidade,é
necessário resgatar sobque
condi-ções
e
quaissão
os agentese
práticasque
emergem
localmente.Razão
porque se buscoua
própriafonnação urbana e regional,
a
constituição das diferentes atividadeseconômicas
e agentes sociaisque
se fizeram presentes na história de ljul. Tratou-se, pois,de
buscar agentese
atividadesque
seligaram
à promoção
fundiária e imobiliária local.Porém, esse espaço local-regional
que
se foi formandoao
longodo
tempo não
está desligado
da
geografiae da
história nacional.Com
isto quer-se dizerque
o
lugar eleito para es-tudo concretiza
na sua
própria históriaa
formação sócio-espacial brasileira.Tendo
esta preocupaçãoteórico-metodológica
é que
se buscou apoio na Teoriadas
Dualidades
Brasileiras (l.M. Rangel)e
no
Pequeno
Modo
de Produção
(A. Mamigonian),baseadas no
materialismo histórico.Ambas
dão
conta
em
apontara
riquezado
processo iniciado localmente,o caminho de
desenvolvimentoque
sefoi forjando
ao
longodo tempo e que desemboca, também, na promoção
fundiáriae
imobiliária pre-sentes
na
estruturaçãodo
espaço urbanode
ljui.A
partir destas consideraçõesé que a
presente dissertação busca responder àsseguintes questões:
Quem
são os agentese
quais são as estratégiasquedetenninam ou
condicio-nam
a
produção-circulaçãodo
solo urbanode
ljul? Porque e
sobque
condiçõesemerge o mercado
imobiliário
como
setor independente? Qualé
a` origeme
naturezado
capital,que
se expressano
sis-tema
de
incorporação iniciado localmente?A
A
presente dissertação, frutoda
pesquisa realizada, está estruturadaem
cincopartes.
No
primeiro capitulo situa-se a' formação regionale
os processossócio-espaciais
que
engen-dram a
constituiçãodo
urbanoe de
suas atividades, asmudanças
ocorridasno
agrárioe o
desenvol-vimento intemalizado
na
cidadede
ljul. Analisa-sea
cidadede
ljul nascidada pequena
4
mercantil, transplantada para
o
Noroeste gaúcho atravésda
colonização dirigida pelo Estado,que
re- cria aliuma
divisãode
trabalho entreo
campo,com
o
colono-camponês,e
o
urbano,com
a
classedos comerciantes,
com
a
administração colonial ecomo
lugarde
ofícios diversos.Na
primeirametade do
SéculoXX
Ijuíé
regida pelaeconomia
mercantil,que
faz emergir
um
processode
industrialização locale
consolidaa
função comercialque a
cidade adqui-re para
a
extensa região colonial. Após, analisam-se as transfomtações substanciaisque
passam
a
ocon'er noagrário,
o
surgimentode
novas atividades urbanas,a manutenção ou
decadênciade
ve- lhas e, por fim, situa-seo
processode
terciarízaçãoda
cidade na atualidade.Assim
éque o
primeiro capítulo busca apresentarem
que
quadro e sobque
condições locais e regionaispodem
emergir asatividades e os agentes presentes
no
imobiliário local.O
segundo
capitulo apresenta, a partir das formas cristalizadas e dasmudan-
ças presentes
no
quadro urbano,o
significadoque o
imobiliário adquirena
cidade e porque
ocorrea
expansão
horizontale a
verticalizaçãodo
solo urbano. Entramem
cena
dois processos espaciais, is-to é,
a
centralização contrapostaà
periferização local, caracteristicasde
cidadesde
menor
porte on-de a
segregação social e espacialnão
se completou,mas
que
auxiliamna compreensão da
promo- ção vertical. Pelo ladoda
periferização incluem-se os excluídosda promoção
imobiliária,o que
per-mite apontar
a
outra faceda
urbanização brasileira, presente inclusiveem
cidades demenor
porte.Do
mesmo
modo,
as intervenções estataistambém
servem de contraponto para indicara
pressãosocial sobre
a
terra,tomada
mercadoria escassa, ecomo
produção imobiliária necessáriamas
des-valorizada
do
pontode
vista dos agentes privados.O
processode
desenvolvimento, assentadona pequena
produção mercantildo
campo
eda
cidade, permite explicara
fomiaçãodo mercado de
terras urbanase
o
papelda
proprie-dade
privadada
terrae de
sua herançana expansão
horizontal e verticalda
cidade.A
partir dosme-
canismosde
parcelamentodo
solo urbano,o
terceiro capitulo analisaa ação
dos agentesde
promo- ção fundiária e privilegiaa
atuação dos corretores imobiliários, mostrandocomo
o
solo urbano esua
propriedade incorporam-se
ao mercado
viaa
intermediaçãode
um
agente específico.A
partirda
produção mercantildo
solo urbano dá-sea
produção capitalistaque
se transiciona
na
atualidade, objetodo
quarto capitulo. Atravésda
indicação dos empreendimentose
das práticas realizadas explicita-se
a
atuação dos promotores imobiliários isoladose
dasempresas
de
incorporação.A
verticalização encetadana zona
centralda
cidade é setorde
pontada promoção
imobiliária,
que
se processacom
a
construçãode
edifíciosde
padrão metropolitano viaum
sistemade
incorporaçãoque
se constituina
atualidade. .i
*
Nesse
estágiode
desenvolvimento chega-seà
formalizaçãodo
poderda
pro-moção
imobiliáriae a
fonnalizaçãodas
atividadesdo
setor.Na
faseem
que
se encontraa promoção
e
o
setor imobiliárioem
Ijuí,o
Estadoé
agente secundário noque
tangea
produção-financiamentocomo
instânciade
poder local, é mediador das práticas levadasa
efeito pelos agentes privados-
ra- zão porque
o
Estado é tratadosempre de
forma subsidiária dos agentes privados e práticasda
pro-moção
imobiliária.Pela perspectiva teórico-metodológica adotada,
na
conclusãodo
trabalho re-toma-se
a
formaçãodo
espaço urbano local nos quadrosda pequena
produção mercantile
da
for-mação
sócio-espacial brasileira, apontando-seque
apromoção
fundiária, os agentes e suas práticas,bem
como
a expansão
horizontalda
cidade são derivações propiciadas pelo desenvolvimentoda
pe-quena
produção mercantil.Do
mesmo
modo
destaca-seque a promoção
imobiliária presentena
ver- ticalizaçãoda
cidade revela-secomo
produção capitalistado
solo urbanoque
se transicionana
atua-lidade,
a
partirde
um
capital imobiliárioque
sevem
constituindo,de
modo
a
mostrarque a
viade
desenvolvimento
que
se veio forjando, a nivel local, proporcionao
grande aportede
excedentesmo-
netáriosna
construção de edifícios._ll
-
A
Metodologia UtilizadaPara estudar
uma
temática específica-
a
produção-circulaçãodo
solo urbanode
Ijuí-
foi preciso pesquisarcomo
o
desenvolvimento local foi sendo potencializadoe
quais as es-pecificidades
que
foramsendo
engendradasno
decursoda
história. Neste sentido,a
diversidadede
agentes
e
práticas encontradas exigiua
recuperação de pesquisas realizadas sobreo
tema,como
modo
de
abordare
ressaltar efetivamenteo que
está ocorrendoa
nível local.P
No
entanto, tais agentes modeladoresdo
espaço urbanonão
são alheiosao
que
ocorrecom
o
próprio desenvolvimentoda
cidade, razão porque
se situoua
produção-circulaçãodo
solo urbanono
desenvolvimentoda
cidadede
ljul ede
como
foram surgindo os agentescom
suaspráticas.
Mas
a
faltade
estudos sistematizados sobreo
urbanode
Ijul exigirama
descrição seletivi-zada
do
emplrico referidaa
opções teórico-explicativas,como
modo
de apreendera
viade
desenvol-vimento expressa localmente
e a
emergência dos agentes modeladores ede
suas práticas-
diferen-temente
de
quem
faz pesquisasem
áreas metropolitanas, lugares privilegiadosde
estudos acadêmi-cos sobre
o
urbanoe onde
a
atuação reiterada dos agentes possibilita determinarnão
sóuma
gran-de
escala espacialde
observação,mas também
um
curto periodode
tempo a
ser investigado. Porsua
vez,o que
aquié
significativoe
adquire importância paraa
prática social e parao
estudopode
passar por subsidiário ou
pouco
expressivo alionde o
estágiode
desenvolvimentoexpõe
uma
facemais acabada e
novos desdobramentos.As
condiçõesde
estudoe
investigação determinaramum
longo caminho, per-6
sobre
a
temática urbana,a
formação sócio-espacial brasileira ea pequena
produção mercantil. Bus-cou-se explicitar
como
a
produção-circulaçãodo
solo urbano expressa-senuma
cidadedo
“interior",longe dos espaços metropolitanos, localizada
numa
regiãoque
se desenvolveu a partirda pequena
produção
e
que possibilitou a fomiação deuma
miríadede pequenos
e médios centros urbanos.A
caracteristicade
“desconcentração urbana"da
região Noroestegaúcha
exigiuuma
tomada de
posi-ção
com
relaçãoao
lugar e à temática proposta, paraque não
se coloquecomo
o
único,mas
que
sintetize e expresse as especificidades resultantes das determinações históricas ali presentes.
Dessa
forma, a partirdo
inicioda
investigação,quando da
exposiçãodo
projetode
estudo, paraa
fase de pesquisa e elaboração, houvea
exigênciade
um
continuo refazer dasquestões propostas, forma
de
não cairna
análise fácil deem
tudo encontraro
geralou de
privilegiaro
único,mas
sim de explicarde
quemodo
se apresentam localmente.Para
além do
referencial teórico-metodológico,o
trabalho contoucom
investi-gação de
campo
junto a fontes primárias, tais como: agentesde
promoção, representantesde
órgãospúblicos
e
associações de classe, atravésde
entrevistas dirigidas conformeo
modelo
em
anexo,de
um
dos instrumentos utilizados.Já o
levantamento de informações sobreo
parcelamentodo
solo ur-bano e a
construção de edifícios contou,além
de observações in loco,com
osdados
constantesdo
Arquivo
de
loteamentos ede
edificaçõesda
Secretaria Municipalde
Obras e Viaçãoda
PrefeituraMunicipal
de
Ijuí(PMI/SMOV).
~É
mister teceralgumas
considerações sobre as dificuldadesque
uma
pesquisaatravessa na busca
da
investigação empírica,quando da
realizaçãode
entrevistas eda
coletade
in-formações.
É
de
todo conveniente dizerque
os roteiros utilizados para as entrevistase a
coletade
informações não foram completamente preenchidos.
Os
roteiros são elaboradoscomo
situaçõesideais,
não buscam
a totalidade dos fatos e dados e são reorganizados paracada
agente entrevista- do. lsto decorreda
diversidade de atuação dos agentes,da
faltade
controlede
informações sistema-tizadas,
da
resistênciaem
informardados
numéricos eda memória
dos entrevistados. Refletecomo
os agentes tratam as informações, seu objeto
de
atuaçãoe
interesse,como
encaram a
entrevista e osdados
de que
dispõem.Sem
descuidar, é claro,do
modo
como
o
pesquisador trataa
entrevistae osdados
colhidos, optando por indicar informações qualitativas,que
podem
ser constatadas pelosextratos
de
entrevistas citadas no presente trabalho.Afora as entrevistas,
a
coletade dados e o
material bibliográfico utilizado paraa
pesquisa, foi necessário rastrear informações históricas sobrea
cidadede
ljui, atravésde documen-
tos
do
Arquivode
Ijuí(MADP
-
AI),da
Prefeitura Municipal(MADP -
Al, PMI),de empresas
(MADP
-
Al, Empresa)e
de
familias(MADP -
Al, Familia);além
de
periódicos locais (Correio Serrano, Jor- nalda Manhã, Semanário de
Informaçãoe Jomal
Cidade), constantesdo
acervodo
Museu
Antropo-lógico Diretor Pestana
(MADP)
mantido pelaFIDENE
-
ljui/RS.As
informações buscadas atravésde
arquivos
e
periódicos foram utilizadas para exemplificare
concretizar as questões tratadase a
expo-sição realizada sobre
o
urbanoe
as atividades,a expansão
horizontale
verticalda
cidade,c
imobiliá-rio, agentes
e
práticasde
promoção,não
se revestindo portantode
uma
recuperação cronológicae li-
teral
da
história local.O
presente capitulotem a
preocupaçãode
explicitaro
processode
constituiçãode
Ijuí,de
modo
a
situar as condições históricasque
em
periodo recente potencializaramo
imobiliá-rio
e o
fundiáriocomo
atividadeeconômica na
cidade. Há, pois,que
considerar tanto as condiçõesexternas
do
processoque
possibilitama
formação regional eo
próprio surgimentoda
cidade, quantoàs condições íntemas
que
engendram
atividades e população à cidade,de
modo
amostrar que a
formação urbana e regional
expressam o
desenvolvimentoda pequena
produção mercantil, trans-plantada
da
Europae
das Colônias Velhas, nos quadrosda
formação sócio-espacial brasiIeira.1Em
linhas gerais pode-se situaro
iniciodo
processode
inserçãoda
regiãoà
formação brasileira, através
da ocupação
das áreasde
campo
pelo latifúndio pastoriie das
áreasde
mata
tracamente utilizadas pela agricultura itinerante e coletade
en/a-mate, realizadas porcampo-
neses* nacionais.
As
áreasde mata
(vermapa
ng 1) vão ser definitivamente integradasao espaço
brasileiro pela introdução
de
uma
economia e
sociedade assentadasna pequena
produção mercantilque
propiciao
surgimentode pequenos
núcleos coloniais,muitos
mais
tarde transfomwadosem
ci- dades.A
pequena
produção, recriada sob os auspíciosdo
Estado,é
baseada na
pe-quena
propriedade privadada
terra, na policultura alimentar associadaà
criaçãode pequenos
ani-mais
voltadaao
mercado.É
realizada por famíliasde
imigrantes europeuse
descendentesque
aliama
disciplinaao
trabalho agrícolae
artesanal,uma
experiência urbanae
alguns. recursos materiaispossibilitados pela instalação
do empreendimento
ou trazidosda Europa
e, ainda, das Colônias Ve- lhas.A
estruturaçãodo
agrário vai ter correspondência no urbano,à medida que surgem
atividadesde
transtorrnação realizadas por artesãose pequenos
industriaisou
comandadas
por comerciantes,além de
apresentar atividadesde
comércioe
variados profissionais.No
processoa
cidadede
ljul vai expressaro
graude
intercâmbioe de
relaçõesextra-regio-O.__¶:..:_°° =:::` _`u m.`:-._‹ 2;. __=.:¡ ‹___ _____:__._ 9:_'_:¡:__°. :_=;°.. =_; _; °¶:__:‹ "u___.°` 1 :O9 8 3 8 ON O “gás I |. . _UC°w°fl__`..C¬' ..m._J “_ _.=°'... . _..fl_ .. _imJ .SW oo woz‹m¢ OE u_u: sã; “h`H` _____:_;`, 2;' __ K m' .`; 8 W _;_____: __ 3:. ...›
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nal.
Desde cedo
essas relações sãodadas
pelo surgimento, entre eles,de
uma
classe intermediáriaque
atua essencialmente no intercâmbio das mercadorias.Essa
classe intermediáriaé
representada,inicialmente,
modestos
comerciantes import-export localizadosem
ljuíque
mantêm
relaçõeseconômicas
com
comerciantes export-imporl2 estabelecidosem
Porto Alegre.Paralela
à
atividade comercial,no
decursoda
agropecuária colonial,a
cidadede
Ijuí verá surgir seu processo de industrialização (1920-50)que
vai conferirnova
dinâmicaao
urba-no.
No
período posterior,a
parda modemizaçâo do
agrário regional, ocorremmudanças
no
urbanoijuiense
com
repercussões na dinâmica das atividades ali presentes eque
fará surgiro
imobiliáriocomo
um
novo
ramo econômico na
cidade.A
explicitação, por vezesmorosa e
em
detalhe, das atividades presentesna
ci-dade de
ljui deve-se, fundamentalmente, aos poucos estudosque
privilegiamo
urbano localem
suadinâmica interna e
em
suas relaçõescom
o
agrárioe a
região.3De
outra parte,o
aqui realizadopermite batizar
o
estudo, situar as possibilidadesdo
ramo
imobiliário e corrigir equívocos paraquem
tem, presentemente, no urbano local sua fonte de- preocupações e
de comprensão da
realidade.1.
AS
ORIGENS DA COLONIZAÇÃO
NO NOROESTE
GAÚCHO
1.1.
As
Condições
HistóricasA
região Noroestedo
planaltogaúcho tem
alguns condicionamentos históricos especificos, manifestos nos interesses das elites locaise
nas vontades politicas dosgovemos
Impe-rial
e
Provincial,que dão
substânciaao
processode ocupação
deliberada.Da
partedo
Estadoa
preocupação está justificada na necessidade
de
densificara
populaçãoe
ali fixá-lade
modo
pemwa-nente, já
que a
área esteve sob constante litígio entre portuguesese
espanhóis pela possedo
territó-rio
e manutenção da
fronteira politica.De
outro lado,é
necessário referir os interessese
conflitos en-tre latifundiários
e
camponeses,na
luta pela propriedadeda
terra,que dão
vidaà
históriado
planaltodurante
o
século XlX.4Até fins
do
séculopassado a
região-
a
mais isoladado
RioGrande do
Sul-
desenvolvia atividades assentadas
numa
economia
natural,com
menor
intensidade nas trocas,mas
nem
por issomenos
significativasà
época.As
áreasde
campo
do
planaltoeram ocupadas
pelo lati-fúndio pastoril, centrado
na
pecuária,que
mantinha ligações estreitascom
a
Feirade Sorocaba e
entre-10
laçada, desenvolvia-se
uma
agriculturade
subsistência voltadaao
fomecimento alimentar das fazen-das e
do pequeno mercado
regional. Esta atividade agrioola realizava-seem
áreasde
campo
nasfranjas
do
Iatifúndio pastoril mas,também,
em
áreasde mata
aliadaao
extrativismoda
erva-mate,que
tinhana
exportação aos paisesdo
Prata e no abastecimento regional sua expressão econômica.A
estrutura socialcompunha-se de
estancieiros-militares, exportadoresde gado
bovino e
muar
e de
mate, alçadosa
defensoresdo
territórioda
Provincia ede
peões, escravose
camponeses que
também
eram
soldados nas incursões militares.Os
camponeses
nacionais, possei-ros caboclos, tanto
podiam
servir diretamenteao
estancieirocomo
trabalhadoresda
pecuária quantoindiretamente,
no
provimento alimentare na
coletada
erva-mateem
possesde
áreas devolutas5da
mata. “
Na
primeirametade do
século XIX essa estrutura social eeconômica
mantém-
se
num
equilibrio conflitual, entre fazendeiros ecamponeses
nacionais na disputa das terrasde ma-
ta.
Com
a
Leide
Terrasde 1850
acentua-sea
luta pela terra, intensificando-sea
privatização dasáreas devolutas
de
mata
por estancieiros locais.A
lei protegia as posses pacificasmas
de
quem
ti-nha
condiçõesde
Iegitimá-las,na
maioria dos casos os estancieiros. 'A
privatização das terrasde mata
alicerçao
processo de expropriação doscamponeses
nacionais, os caboclos,que
vêem
fechar-se suas possibilidades de reprodução via cole-ta
da
erva-mate,com
a
privatização continuada dos ervaisde
controle público,e
via desenvolvimentoda
agricultura itinerantede
subsistência.Nesse
processo restam aos caboclosduas
possibilidadesou tomarem-se
mão-de-obra nas estâncias, substituindoc
trabalho escravoem
declínio, ouavançam
a
fronteira agricolamata
adentro.A
elite local,que
vê declinar as exportaçõesde muares e de gado
bovino, pro-cura assenhorar-se
dos
ervais para controleda
produção e comercializaçãodo
mate
garantindo,ao
mesmo
tempo, forçade
trabalho livre para as estâncias.Além
de
ver aventadaa
possibilidadede
comercialização
e
valorização das terrasde
mata
para futurosempreendimentos de
comercialização,até então restritos
à
porção noroestedo
planalto.A
privatização das terras poderia garantir,num
fu-turo
bem
próximo,a
captaçãode
uma
renda auferidacom
a
especulação das terras agrícolase ao
mesmo
tempo
poderia incrementarcom
projetosde
colonizaçãoa
integraçãoda
regiãoao
conjuntoda
Provinciae do
Império.A
elite estancieirae
comerciante, representada pelaCâmara
de
Cruz Alta,tinha interesses
na expansão da
colonizaçãona
região,como
indica Zarth:“Os
imigranteseram
solicitados paraserem
agricultores nas áreasde
mata
vir-gem, de
fomwa paralela às estâncias pastoris.E
este pedido das elites locais tinha entre seus objetivosa venda e a
valorização das terras florestaisda
re-giãp
em
possede
estancieirosmesmo. Além
deste objetivo imediatista,não há
dúvidas
que
a expansão
agricolada
região trariauma
maior dinamizaçãodo
mercado
regional e, desta forma, beneticiaria os comerciantese
o
própriomu-
É
dessa formaque
está consolidada a face intema das condições históricas lo-cais
de ocupação
deliberadado
noroeste gaúcho, entrelaçando aos interesses locais as politicas ex-pansionistas govemamentais,
que
passam
a
conferir novo caráter social e espacial à região.No
en-tanto, essa nova qualidade concretiza-se na região somente no final
do
Século XIX,quando é
inicia-da a
construçãoda
ferroviaSão
Paulo-Rio Grande, que viabilizará a integração mais efetivada
re-gião
ao mercado
nacional eo
inicioda
comercialização das terrasde
mata.Mas
é somente
com
o
apoio oficial aos projetos
de
colonizaçãoque
se ampliaa
áreade
fundação das novas colônias.O
empreendimento de
colonização advinha,em
realidade,da
necessária inicia-tiva
de
caráter oficial. EscreveRoche a
este respeito:“Devia ser imposta pelo
Govêmo,
únicoque
podia conceber e traçarum
planogeral
de
tal envergadura, organizaro
recrutamentona
Europa, ofereceruma
compensação à demora e ao
custoda
viagem, conceder terras, instalar colo-nos e manter os estabelecimentos...
A
Administração, portanto, interveio paralançar
a
colonização, poisa
oficial foi anteriorà
particular, e, mais tarde, paraorienta-la, escolhendo as zonas
de
instalação e regulamentando as condiçõesa que estavam
submetidos os co|onos."7Desse
modo
desenha-sea
faceextema
das condições históricas internas, ne-cessárias
ao
sucessodo empreendimento
colonizador. Interesses econômicos e vontades politicas,aliados,
dão
as bases sociais e as condições políticas necessáriasà
constituiçãoe
difusãoda
pe-quena
propriedade ruralem
áreasda mata
rio-grandense.A
par disso,a
introdução e consolidaçãode
uma
camada
de pequenos
proprietários rurais, dissociadosdo
poder dos fazendeiros, poderia fa-zer frente à velha oligarquia
gaúcha
em
relação aos interesses dos comerciantes, conferindo outrospesos
e medidas à
estrutura politicada
sociedade rio-grandensee
nas suas relaçõescom
o
govemo
central.
Mas
issonão é
tudo.Os
projetosde
colonização oficial, encetados inicialmentepelo
Governo
Imperiale
sobo
aceitee
orientaçãodo
Govemo
Provincial,marcam
a
históriado
es-paço gaúcho a
partirde
1824. lnicia-sea ocupação
sistemática dos vales dos rios Sinos e Cai,com
a
vinda dos primeiros imigrantes alemães.
Já a
partir de 1875,com
a
introduçãode
imigrantes italia-nos,
é ocupada a
Encostada
Serra. Constitui-se, assim,a
região das Colônias Velhas no RioGrande
do
Sul,de
caracteristicasmarcadamente
coloniais-
pequena
propriedade, policultura alimentar as-sociada
à
criaçãode pequenos
animais,com
base na forçade
trabalho familiar.Após
os primeiros setenta anosde
imigraçãoe
colonização,em
áreas próxi-mas
a
Porto Alegre, evidencia-se, pela estrutura fundiária imposta aos colonos,a
necessidadede
novo
processo migratório, agoraintemamente no
país.O
tamanho da
propriedade associadoao
sis-tema
agricolade
rotaçãode
tenas,que
gerao
rápido esgotamentodo
solo, inviabilizaa
continuidadede
subsistênciada
prole numerosa, nos limitesdo
primeiro lote. Restava, então, para os colonos imi-grantes
e
seus filhos,a
possibilidadede
endereçara poupança acumulada na
primeira geraçãoà
12
“...o
tamanho de 25 a 30
hectares é 'pequeno demais' paraa
aplicaçãodo
sis-tema de
rotaçãode
terras.A
conseqüência éque
o
colonotem que
usaruma
rotação
de
terras muito mais curta eque
cultivar sua capoeiracada
6, 5,ou
mesmo
3
anos. Daí resultaque
os solos seesgotam
mais rapidamente, as co-lheitas decrescem e
a
estagnaçãoeconômica
se instala.A
deterioraçãoda
ter-ra
e da
gente émesmo
mais acelerada pela divisãocomum
dos lotes originais entre os herdeiros (...) Nestas condições, por tôda a parte os jovensemigram
das propriedades rurais para as cidades ou para novas zonas pioneiras, nas
quais procuram adquirir terra
e começar o
mesmo
ciclo econômico."8Havia assim,
além de
vontades politicase
interesses econômicos,um
contin-gente populacional excedente das Colônias Velhas engrossado por novas levas
de
emigrantes euro-peus, dispostos a pagar
o
preço pela propriedadede
um
lote colonial nazona de
expansão. Criam-se, então, as condições para
que
a fronteira agrícola fosse expandida e completamente fechadacom
a ocupação
sistemáticada
porção noroesteda
mata
gaúcha.É
dessemodo
que
ao
findardo
SéculoXIX,
em
detrimento doscamponeses
nacionais expropriadosde
suas terrasdesde
longa data,9 ini-cia-se
o povoamento da
região das ColôniasNovas
com
imigrantes europeus e descendentes da-queles
que povoaram
as Velhas Colônias.1.2.
O
Estatutoda
Colonização
É
mister ressaltar as novas qualidades históricasque o empreendimento de
colonização deliberada, levado
a
efeito no RioGrande do
Sul, transplanta para as áreasde
mata da
Província.
O
empreendimento
não podia pôra
perigoo
latifúndio pastoril,nem
a ocupação
das áreasde campo, de
modo
que
as forças politicase
decisórias possibilitaramo engendramento de
um
novotipo
de
estrutura agrária, nas áreasde
mata
-
pequena
produção mercantil-
realizada por imigran-tes europeus,
não
portugueses,e
seus descendentes.A
gratuidadeda
distribuição dos lotes coloniaisé
substituída pela necessáriavenda,
com
a
promulgaçãoda
leide
Terrasde 1850 e
que, no caso das colônias oficiais, objetivavao
autofinanciamentoda
colonização.A
pequena
propriedade, alicerçada na forçade
trabalho familiare
voltadaà
produçãode
uma
policultura alimentarcom
a
criaçãode pequenos
animais,tem
o
intuitodeliberado
da
produção de excedentes postosà
disposiçãodo mercado
nacional.Significa dizer
que
sea venda
dos lotes coloniais permitia auxiliarno
financia-mento do empreendimento
colonizador,a
introduçãoda pequena
produção pennitiaa
independênciaeconômica do
colonomas
também
do
colonizador,no
casoo
govemo
e ascompanhias
particulares,
na medida
em
que o
próprio imigrantecom
seu trabalho autofinanciavaa
sua subsistência e, ainda,comercializava os excedentes produzidos
de
modo
a
adquirir aqueles produtosde
forada
colônia.Mas
a
independênciado
oolonoé
relativizada pelo pesoda
divida colonial e pelo processode
inter-mediação
comercial interiorizado nos núcleos coloniais.Fica claro
também
que a
constituiçãode
um
novo
tipode
propriedade,com
novas condições
de
produção, permitia aumentaro volume
de exportação dos produtos alimentares,ao mercado
nacional realizada pelos comerciantes.Nesse
sentidoa
colonização empreendida pres-supunha, necessariamente,
a
inserçãoao mercado
nacional das áreas dinamizadascom
anova
eco-nomia;
bem
como
com
os novos núcleos ampliava-seo mercado
deconsumo
ea
intensidade dastrocas
comandadas
pelos comerciantes.Dentre as diversas leis
que
regeramo
processode
imigração e colonizaçãono
Rio
Grande do
Sul, particularmentea
Lei Provincial n9 304,de
1854,é a
expressãodo
estatutoda
colonização.1°
A
Lei determinavao tamanho
dos lotes coloniais,o
preçoe o
prazode
pagamento;autorizava adiantamento para auxilio
passagem e
para asacomodações
dos colonos; possibilitava,também,
às “familias brasileiras agrícolas,e
laboriosas”,em
condiçõesde
pagaro
lote, fazerem par-te
do
empreendimento;além de
permitiro
trabalho assalariadoe
proibiro
trabalho escravo."De
todos os artigos expressos na Lei Provincial,o
mais significativo aos objeti-vos deste trabalho é aquele
que
reza:"Na medição e demarcação
das colôniaso
presidenteda
Província fará reser-var as terras precisas para estradas, portos, igrejas, cemitérios e outras servi- dões públicas, cuja necessidade se reconhecer”.12
Tal artigo manifesta
a
vontade política das elitesgaúchas na
pennanênciado
oolono nas áreas
de
colonização, reservando-se espaços necessários auma
certa vida social próxi-ma
ao
lote colonial e,o que
é mais significativo,a
integração dos colonos ea
inserção dos seus pro-dutos no
mercado
nacional.A
insistência está assentada no sentidoda
quebrade
barreiras de iso-lamento
econômico e
espacial das áreasda mata
do planalto gaúcho.Essas medidas
em
realidadecaracterizam, via de regra, todos os projetos
de
colonizaçãocom
basena pequena
propriedade,não
sendo
uma
peculiaridadeda
colonizaçãoem
terras gaúchas.Planejam-se, juntamente
com
o
tipode
proprietárioque
vai habitar tais áreas,o
tipode
propriedadee de
produção,bem
como
os futuros centros urbanos.No
dizerde
H. Callai: “Apequena
propriedaderural
em
que o
oolono trabalhacom
sua própria fami-lia, produzindo
uma
policultura para provera
suaprópria sobrevivência,
e
co- mercializaro
excedentetem a denominação de
colônia.(...) Esta