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FRAGILIDADE E MORTALIDADE DOS IDOSOS RESIDENTES NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO: UMA ANÁLISE ENTRE OS ANOS DE 2006 A 2010

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FRAGILIDADE E MORTALIDADE DOS IDOSOS RESIDENTES NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO: UMA ANÁLISE ENTRE OS ANOS DE 2006 A

2010

Luciana Correia Alves1 Yeda Aparecida de Oliveira Duarte2

Maria Lúcia Lebrão3

Resumo

Os idosos são o segmento da população que mais está crescendo em todo o mundo. A fragilidade é uma síndrome geriátrica que resulta de uma redução multi-sistêmica na capacidade de reserva, sendo considerada uma das grandes mudanças gerontológicas enfrentadas pelas sociedades que envelhecem e um importante indicador de queda, hospitalização, incapacidade funcional, institucionalização e óbito entre os idosos. O objetivo do presente estudo foi analisar a influência da fragilidade na mortalidade dos idosos paulistanos no período entre 2006 a 2010. O estudo foi desenvolvido com base em dados provenientes do Estudo SABE (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento), um estudo longitudinal com os idosos do município de São Paulo que se iniciou em 2000 como um estudo multicêntrico para traçar o perfil das condições de vida e saúde. Foram selecionados todos os indivíduos com 60 anos e mais de idade no ano de 2006, de ambos os sexos. A amostra considerada era de 1.399 indivíduos, representando 1.019.243 idosos residentes do município de São Paulo. A variável dependente foi o óbito (sim, não) em 2010. As variáveis independentes foram a fragilidade, a idade, o sexo, a capacidade funcional, as doenças crônicas e o declínio cognitivo em 2006. Para estimar a associação entre o óbito com a fragilidade ajustado pelas variáveis demográficas e de condição de saúde foi realizada uma análise de regressão logística binária múltipla. Fragilidade, sexo, capacidade funcional e declínio cognitivo exerceram uma significativa influência na mortalidade entre os idosos (p<0,05). Ser frágil aumentou em 2,3 vezes o risco de mortalidade entre idosos em 2010 em relação aos não-frágeis. Prevenir ou retardar a instalação do quadro de fragilidade pode aumentar a sobrevivência dos idosos.

Palavras-chave: Mortalidade; Envelhecimento da população; Idoso fragilizado.

1 Professora do Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e

Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (NEPO) “Elza Berquó” – UNICAMP. e-mail: luciana@nepo.unicamp.br.

2 Professora da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

3 Professora do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São

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1. INTRODUÇÃO

O processo de envelhecimento populacional tem ocorrido de forma bastante acentuada no Brasil desde as últimas décadas do século passado. O fenômeno se caracteriza tanto pelo incremento da representatividade em números absolutos e relativos dos idosos, quanto por um aumento da sobrevivência, especialmente nas idades mais avançadas.

No Brasil, a redução nos níveis de mortalidade infantil desde 1940 acarretou ganhos significativos da esperança de vida, como resultado das diminuições de mortes provocadas pelas doenças infectocontagiosas. Entre o período de 2000 a 2010, a taxa bruta de mortalidade mudou de 6,67 para 6,06 óbitos por 1.000 habitantes. E a esperança de vida ao nascer passou de 69,83 anos para 73,86, respectivamente (IBGE, 2013).

A redução da mortalidade infanto-juvenil e o aumento da proporção de idosos na população, observados ao longo do tempo, contribuíram para aumentar a concentração das mortes em idades mais avançadas. Atualmente, de cada 100 óbitos ocorridos no Brasil, 63 correspondem a pessoas de 60 anos ou mais de idade, aumentando para 68 casos no Estado de São Paulo. Em 1980, essa participação era menor: 38% e 42%, respectivamente (CAMARGO, 2016). A expectativa de vida aos 60 anos também cresceu bastante, evoluindo de 20,3 em 2000 para 21,4 em 2010 e aos 80 anos de 9,1 em 2000 para 9,6 no ano de 2010 (IBGE, 2010).

A combinação das mudanças ocorridas na estrutura etária com as do padrão de mortalidade experimentadas pela população nas últimas décadas, passando de uma predominância de mortes por doenças infectocontagiosas para crônico-degenerativas, ocasionou modificações expressivas nas taxas de mortalidade e na distribuição das principais causas de morte entre idosos.

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Entre os idosos de 60 anos ou mais no Estado de São Paulo, os óbitos correspondiam a 42,1% do total dos residentes no Estado, em 1980, passando a responder por mais da metade a partir da década de 1990, até alcançarem 68,0%, em 2014. Os óbitos femininos nessa faixa etária, que representavam 47,4% em 1980, já eram maioria três anos depois e atingiram 76,1%, em 2014. Pode-se dizer que, atualmente, a cada dez mortes ocorridas entre mulheres, oito são de idosas, enquanto entre os homens essa relação é de seis para cada dez óbitos. Apesar do aumento importante no número de óbitos, a diminuição da taxa de mortalidade foi de aproximadamente 12% entre os idosos no período 2000-2012 (CAMARGO, 2016). Por sua vez, no município de São Paulo, a taxa bruta de mortalidade passou de 6,55 em 2000 para 6,23 óbitos por 1.000 habitantes em 2010, sendo que entre os indivíduos de 60 anos e mais a taxa aumentou de 3,65 para 4,13 óbitos por 1.000 habitantes. Nos anos 2000 e 2010, a proporção de óbitos dos idosos com 60 anos e mais no município representava 55,8% e 66,2%, respectivamente (BRASIL, 2013).

O envelhecimento populacional e o aumento da longevidade da população trazem consigo uma série de outras preocupações relacionadas à saúde e à qualidade de vida dos idosos. Fried et al. (2001) define a fragilidade em idosos como uma síndrome clínica caracterizada pela diminuição da reserva energética, força e desempenho, que resulta em um declínio cumulativo de múltiplos sistemas fisiológicos, levando a um estado de maior vulnerabilidade (FRIED et al., 2001). É por ora considerada um importante problema de saúde pública entre aqueles que estão envelhecendo por estar diretamente associada a um maior risco de queda, hospitalização, incapacidade funcional, institucionalização e óbito entre os idosos (MELLO; ENGSTROM; ALVES, 2014).

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Em países desenvolvidos como os da Europa e América do Norte, a prevalência de fragilidade varia de 5,8% a 27,3% (FRIED et al., 2001; ROCKWOOD et al., 2004; PUTS; DEEG; LIPS, 2005; BARRETO, 2008). Existem poucos estudos de base populacional realizados no Brasil sobre a prevalência de fragilidade. Duarte et al. (2011), estudando um recorte do Estudo SABE com idosos com 75 anos e mais em 2006, no município de São Paulo, encontraram uma prevalência da fragilidade de 15,4%. Por sua vez, Veira et al. (2013), objetivando identificar a prevalência e fatores associados à fragilidade em idosos comunitários de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil em 2008/2009 encontraram uma prevalência de fragilidade de 8,7%.

Estudos prévios têm demonstrado importantes associações entre fragilidade e idade (OTTENBACHER et al., 2005), sexo (ALVARADO et al., 2008), nível socioeconômico (ROCKWOOD et al., 1994), doenças crônicas (NOURHASHEMI et al., 2001), função cognitiva (FRIED et al., 2001), depressão (WOODS et al., 2005), incapacidade funcional (MICHELON et al., 2006) e óbitos (PUTS; DEEG; LIPS, 2005). De acordo Mello; Engstrom e Alves (2014), idade avançada e sexo feminino possuem uma relação direta com a fragilidade em idosos. Há evidências de uma forte relação entre fragilidade e mortalidade em homens e mulheres idosos e que entre as mulheres essa intensidade da associação é ainda maior (PUTS; DEEG; LIPS, 2005; MARTÍNEZ-REIG et al., 2016). Duarte et al. (2011) realizaram um estudo de sobrevida com idosos brasileiros acima de 75 anos de acordo com as categorias da fragilidade (não frágil, pré-frágil e frágil) em 3 anos de follow-up visando estabelecer o risco de óbitos entre eles. Os achados mostraram que idosos pré-frágeis e frágeis apresentam um risco relativo de 1,6 e 2,9 de evoluírem para o óbito ao longo do acompanhamento, respectivamente.

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Embora estudos internacionais já tenham explorado a relação entre fragilidade e mortalidade em idosos, no Brasil há uma escassez de estudos que investiguem mais detalhadamente essas associações. Essa discussão faz surgir algumas questões, tais como: existe realmente uma influência da condição de fragilidade no risco de óbito entre os idosos residentes em países em desenvolvimento, tomando o município de São Paulo como parte dessa totalidade do país? Será que o risco irá variar segundo sexo e idade? E qual seria a magnitude da variação em caso de existência da mesma? A hipótese desta pesquisa é a de que idosos pré-frágeis e frágeis, do sexo feminino e de idades mais avançadas têm maiores riscos de evoluir para o óbito comparativamente aos não frágeis e aos idosos pré-frageis e frágeis, do sexo masculino e de mesma idade.

Com o processo de envelhecimento populacional caminhando rapidamente e a longevidade se estendendo cada vez mais, torna-se necessário um olhar mais atento para a questão da fragilidade e mortalidade. Esse cenário tende a se potencializar, demandando uma discussão mais detalhada e, consequentemente, um entendimento mais amplo das particularidades relacionas ao processo de envelhecer no Brasil.

Diante do exposto acima, o objetivo do presente estudo foi analisar a influência da condição de fragilidade na mortalidade dos idosos paulistanos no período entre 2006 a 2010.

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6 2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Fonte de dados

O estudo foi desenvolvido com base em dados do Estudo SABE (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento) que se iniciou em 2000, sob a coordenação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O Estudo SABE original era um estudo epidemiológico transversal, de base populacional, que tinha a finalidade de traçar o perfil das condições de vida e saúde dos idosos que residiam em áreas urbanas de sete países da América Latina e Caribe: Argentina, Barbados, Brasil, Chile, Cuba, México e Uruguai. No Brasil, o Estudo SABE circunscreveu-se aos limites territoriais do município de São Paulo. Foram entrevistados 2.143 idosos (indivíduos com 60 anos e mais), não institucionalizados, de ambos os sexos, no período entre janeiro de 2000 a março de 2001. A amostra probabilística foi selecionada em dois estágios (LEBRÃO; DUARTE, 2003).

No Brasil, em 2006, o Estudo SABE passou a ser longitudinal. A coorte de 2000 foi localizada e 1.115 idosos foram entrevistados novamente. As perdas no período corresponderam aos óbitos (22,9%), as recusas (9,6%), mudanças (2,5%), institucionalizações (0,4%) e indivíduos que não foram localizados (12,6%). Essa coorte foi denominada de A06. No mesmo momento foi realizado um novo sorteio

probabilístico para a entrada de uma coorte com 298 indivíduos com idade entre 60 a 64 anos (coorte B06). No ano de 2010, uma nova onda do Estudo SABE foi realizada. As

coortes A06 e B06 foram identificadas e entrevistadas novamente (n=990). As perdas no

período foram devido as mortes (11,9%) e as recusas, mudanças, institucionalizações e indivíduos que não foram localizados (18,0%). E, em 2011, uma amostra probabilística de constituída de 355 idosos entre 60 a 64 anos (coorte C10) foi selecionada e

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FIGURA 1 - Diagrama de coortes do Estudo SABE

Para essa investigação foram selecionados 1.399 indivíduos com 60 anos e mais em 2006, pertencentes às coortes A06 e B06, de ambos os sexos. A amostra considerada

representava 1.019.243 idosos residentes do município de São Paulo. Esse estudo se caracteriza por ser observacional do tipo coorte. Os idosos selecionados para o estudo no ano de 2006 foram acompanhados até o ano de 2010.

2.2 Variáveis

A variável dependente foi o óbito (sim e não) na data da entrevista em 2010. O status vital foi identificado no momento da entrevista de 2010 e averiguado por meio da checagem da certidão de óbito a fim de obter a confirmação e outras informações, tais

A00 0 A06 6 A10 0 B06 6 B10 0 C10 0 n=2.143 n=1.115 n=298 Perdas 2000-2006 n= 1.028 n=748 n=242 n=355 Perdas 2006-2010 n= 423

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como a data e a causa do óbito. Essas informações foram fornecidas pelos parentes ou responsáveis do idoso.

As variáveis independentes em 2006 foram: fragilidade (não frágil, pré-frágil, frágil), idade (60-64, 65-69, 70-74, 75-79, 80 anos e mais), sexo, número de doenças crônicas (0, 2, 2-3, 4 ou mais), capacidade funcional (dificuldade em pelo menos uma Atividade Instrumental de Vida Diária-AIVB) e declínio cognitivo (sim, não).

A condição de fragilidade foi definida de acordo com critérios de Fried et al. (2001): perda de peso não intencional, diminuição da força muscular, queixa de fadiga ou exaustão, diminuição da velocidade da marcha e baixo nível de atividade física. A partir disso, foi construído um índice de fragilidade em uma escala contínua (0 a 5), considerando a presença ou ausência de cada um dos cinco componentes descritos. A presença de três ou mais desses componentes determinou a condição de frágil, um ou dois definiu o pré-frágil e sua ausência caracterizou o fato do indivíduo não ser frágil.

As doenças crônicas foram avaliadas pela seguinte pergunta: “Alguma vez um médico ou enfermeiro lhe disse que o senhor tem...?” Um conjunto de 9 doenças crônicas foram investigadas (hipertensão, diabetes, doença pulmonar, doença cardíaca, embolia/AVC, artrite/artrose/reumatismo, câncer, osteoporose, depressão). A capacidade funcional foi avaliada por meio das Atividades Instrumentais de Vida Diária (cuidar do próprio dinheiro, usar um transporte, fazer compras, telefonar, tomar medicamento). Os idosos que relataram dificuldade ou incapacidade de realizar pelo menos uma das tarefas foi registrado como possuindo dificuldade nessa dimensão. O declínio cognitivo foi determinado pela pontuação obtida no Mini Exame do Estado Mental (MEEM) segundo nível de escolaridade (18 pontos ou menos para analfabeto; 22 pontos ou menos para 1 a 3 anos de estudo; 23 pontos ou menos para 4 a 7 anos de

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estudo; 27 pontos ou menos para 8 anos ou mais de estudo) sugerido por Herrera et al. (2002).

2.3 Análise estatística

Foram calculadas estatísticas descritivas para as variáveis pertencentes ao estudo em 2006 (baseline) e ocorrência do óbito em 2010. A Taxa Bruta de Mortalidade (TBM) foi estimada pela razão entre o número total de óbitos entre o período 2006 a 2010 e o tempo de contribuição de cada indivíduo idoso na coorte (anos-pessoas). A TBM foi expressa por 1.000 habitantes. A mortalidade proporcional foi calculada pela razão entre o número de óbitos dos idosos no período pelo número total de óbitos multiplicado por 100.

A fim de verificar se as proporções das variáveis fragilidade e óbito segundo sexo e da fragilidade segundo óbito são diferentes realizou-se testes de Qui-Quadrado com correção de Rao-Scott, considerando um nível de significância de 5%. Para estimar a associação entre o óbito no período entre 2006 a 2010 com a fragilidade ajustado pelas variáveis demográficas e de condição de saúde em 2006 foi realizada uma análise de regressão logística binária múltipla.

Inicialmente, realizou-se uma análise de regressão logística binária simples entre fragilidade e óbito. Na análise de regressão logística binária múltipla foram incluídas de maneira simultânea todas as variáveis pertencentes ao estudo, tendo como referência um nível de significância de 5%. Os resultados do modelo foram apresentados como Risco Relativo (RR). Foi realizada a análise de resíduo para o modelo final.

Para garantir a representatividade da população total, foram incorporados aos dados os pesos para a expansão da amostra e para evitar que os efeitos de conglomeração produzam impacto significativo na precisão das estimativas, podendo

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levar a conclusões incorretas na análise de testes de hipóteses, foram incorporados no processo de estimação dessas medidas os aspectos que definem o plano amostral complexo do Estudo SABE.

Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa R, versão 3.1.3. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo com o Protocolo de Pesquisa no 1.345 de 2006 e no 2.044 de 2010. A participação foi voluntária e todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

3. RESULTADOS

Na amostra a idade variou de 60 a 104 anos, sendo a idade média 70,0 anos (DP = 7,5 anos) e a mediana 69,0 anos. Do total de participantes, 59,4% eram do sexo feminino. Observa-se que 41,2% dos idosos tinham dificuldade em pelo menos uma AIVD, 18,8% apresentavam 4 ou mais doenças crônicas e 28,1% declínio cognitivo (Tabela 1). A prevalência dos idosos com fragilidade em 2006 era de 8,5% e pré-fragilidade 41,5% (Figura 2).

Cerca de 6,8% dos idosos morreram entre o período de 2006 a 2010. A mortalidade proporcional foi de 48,0% para os homens. A TBM foi de 30,38/1.000 habitantes. Entre as mulheres a TBM foi de 21,73/1.000 e no grupo dos homens de 27,09/1.000 habitantes.

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TABELA 1 - Distribuição relativa da amostra segundo características demográficas e de condições de saúde, município de São Paulo, 2006 (baseline)

Variáveis Distribuição Absoluta (n=1.019.243) Distribuição Relativa (%) Idade 60 – 64 65 – 69 70 – 74 75 – 79 80 anos e mais Sexo Homem Mulher

Dificuldade em pelo menos uma AIVD*

Não

Sim

Número de doenças crônicas 0 1 2-3 4 ou mais Declínio cognitivo Não Sim 291.575 276.147 202.625 128.466 120.430 413.971 605.272 599.292 419.951 141.195 252.087 434.419 191.542 733.162 286.081 28,6 27,1 19,9 12,6 11,8 40,6 59,4 58,8 41,2 13,9 24,7 42,6 18,8 71,9 28,1

Fonte: Estudo SABE (2006).

*AIVD: Atividade Instrumental de Vida Diária.

Fonte: Estudo SABE (2006).

FIGURA 2 - Distribuição relativa (%) da condição de fragilidade dos idosos, município de São Paulo, 2006

Entre os idosos pré-frágeis e frágeis em 2006, 59,4% e 68,0% eram do sexo feminino, respectivamente. No entanto, não existem diferenças estatisticamente

50,0 41,5

8,5

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significativas nas proporções entre as variáveis fragilidade e sexo (p>0,05). Aproximadamente 58,7% dos idosos que morreram entre os anos de 2006 a 2010 eram do sexo masculino e as proporções entre óbito e sexo mostraram diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) (Tabela 2). Entre os idosos frágeis em 2006, 14,6% evoluíram para o óbito em 2010. Existe uma diferença estatisticamente significativa entre fragilidade e óbito (p<0,05).

TABELA 2 - Distribuição relativa (%) da condição de fragilidade e ocorrência de óbito dos idosos, município de São Paulo, 2006-2010

Variáveis Homens Mulheres Valor-p

Fragilidade Não frágil Pré-frágil Frágil Óbito Não Sim 42,1 40,6 32,0 39,3 58,7 57,9 59,4 68,0 60,7 41,3 0,269 0,000

Fonte: Estudo SABE (2006).

TABELA 3 - Distribuição relativa (%) da condição de fragilidade dos idosos segundo ocorrência de óbito, município de São Paulo, 2006-2010

Variáveis Óbito Valor-p

Não Sim Fragilidade Não frágil Pré-frágil Frágil 95,3 92,4 85,4 4,7 7,6 14,6 0,006

Fonte: Estudo SABE (2006).

A Tabela 4 mostra o risco do modelo de regressão logístico binário simples e múltiplo para a ocorrência de óbito dos idosos em 2010. No modelo de regressão logístico binário simples se observa uma associação estatisticamente significativa entre fragilidade e óbito. Ser frágil aumenta em 3,46 vezes o risco do idoso morrer em relação aos não frágeis. No modelo de regressão logístico binário múltiplo, os resultados apontam que fragilidade, sexo, dificuldades em pelo menos uma AIVD e declínio cognitivo exercem uma significativa influência na ocorrência de óbitos entre os idosos e

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as associações foram estatisticamente significativas ao nível de 5%. A fragilidade foi o determinante mais fortemente relacionado. Ser frágil aumenta em 2,28 vezes o risco de os idosos morrerem comparativamente à categoria de referência não frágil (p < 0,05). Apresentar dificuldades em pelo menos uma AIVD e declínio cognitivo aumenta em 1,79 e 1,67 o risco dos idosos morrerem em relação à categoria de referência, respectivamente (p < 0,05). O sexo se mostrou como um fator protetor. Idosos do sexo feminino tem um risco 66% menor de morrerem em relação aos homens. Os resultados das análises de resíduo indicaram que o modelo de regressão estava adequado.

TABELA 4 - Risco relativo do modelo de regressão logístico binário múltiplo para a ocorrência de óbito dos idosos residentes no município de São Paulo, 2006

Variável Risco Relativo Bruto Valor-p Risco Relativo Ajustado Valor-p Intercepto Fragilidade Não frágil Pré-frágil Frágil Idade 60 – 64 65 – 69 70 – 74 75 – 79 80 anos e mais Sexo Homem Mulher

Dificuldade em pelo menos uma AIVD

Não Sim

Número de doenças crônicas

0 1 2-3 4 ou mais Declínio Cognitivo Não Sim NA 1,00 1,66 3,46 NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA 0,000 0,096 0,000 NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA 1,00 1,41 2,28 1,00 1,08 1,72 0,48 0,88 1,00 0,34 1,00 1,79 1,00 0,58 0,87 1,18 1,00 1,67 0,000 0,242 0,044 0,854 0,126 0,140 0,747 0,000 0,038 0,226 0,710 0,717 0,028

Fonte: Estudo SABE (2006).

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14 4. DISCUSSÃO

Esse estudo explorou a influência da fragilidade na mortalidade dos idosos paulistanos no período entre 2006 a 2010. Os achados a partir do modelo de regressão encontraram que a fragilidade foi o fator mais forte relacionado com a ocorrência de óbito mesmo quando o modelo foi controlado por outros fatores.

Foi encontrado uma maior prevalência de idosos pré-frágeis. Para todas as categorias de fragilidade as mulheres idosas eram mais frequentes em comparação aos homens. Os resultados desse estudo corroboram com outros que ressalta que a condição de pré-fragilidade e fragilidade segue uma sequência na qual o indivíduo experimenta, em primeiro lugar, um comprometimento gradativo das condições de saúde, o que resulta no declínio das reservas fisiológicas e, consequentemente, na pré-fragilidade; e depois uma subsequente diminuição da eficiência da homeostase e maior vulnerabilidade que o leva a uma condição de fragilidade (FRIED et al., 2004; NETUVELI; BLANE, 2008). Uma maior prevalência de fragilidade entre as mulheres idosas é um resultado esperado. Homens e mulheres envelhecem de forma diferente e apresentam desigualdades em termos de condições de saúde. Os estudos revelam que os homens experimentam ao longo da vida maiores taxas específicas de mortalidade, ao passo que as mulheres uma pior saúde (LAHELMA et al., 1999). Apesar das mulheres viverem mais comparativamente aos homens, esse tempo adicional de sobrevivência é vivido em condições de saúde mais adversas, com maiores taxas de morbidade, como por exemplo um maior número de doenças crônicas, de incapacidade funcional, fragilidade etc. Por sua vez, os homens se deparam com condições que são, frequentemente, mais graves, como as doenças crônicas fatais, o que os levam a deixar a coorte mais cedo (VERBRUGGE, 1985). De fato, os achados do presente estudo apontam para essa direção. Entre 2006 e 2010, a taxa de mortalidade foi maior entre os

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idosos do sexo masculino do que do feminino, concordando com os resultados de outras pesquisas (PUTS; DEEG; LIPS, 2005).

Na análise de regressão, o sexo feminino se mostrou como um fator protetor para o óbito, reforçando que existe uma contribuição diferenciada por sexo, de diversas doenças crônicas, que podem ser responsáveis pelas mudanças nos riscos de óbitos entre homens e mulheres ao longo do tempo. Além disso, as mulheres geralmente têm maior percepção das doenças, apresentam maior tendência para o autocuidado e buscam mais assistência médica do que os homens, o que tenderia a aumentar a probabilidade de ter a doença ou uma condição de saúde como a fragilidade diagnosticada precocemente, o que favorece a ampliação do seu tempo médio de vida.

Além do sexo, dificuldades em pelo menos uma AIVD e declínio cognitivo mostraram uma expressiva influência e foram considerados como fatores de confundimento nessa análise. O declínio cognitivo potencializa as perdas físicas e funcionais entre os idosos, tornando-os mais vulneráveis e frágeis, aumentando, consequentemente, o risco de mortalidade entre eles. As dificuldades em pelo menos uma AIVD segue esse mesmo caminho. Idosos em declínio funcional são mais vulneráveis e mais susceptíveis a evoluírem para um estágio de fragilidade e óbito.

Os resultados do presente estudo concordam com os achados de Puts; Deeg e Lips (2005); Martínez-Reig et al. (2016) e Duarte et al. (2011) e apontam que de fato há uma forte relação entre fragilidade e mortalidade entre os idosos ao longo do tempo.

Ao contrário do que se esperava, nessa investigação, a idade não apresentou relações estatisticamente significativas com o risco de óbito.

Este trabalho reafirma a importância de estudos de coorte no Brasil, ferramenta imprescindível para o monitoramento, avaliação e discussões sobre saúde e assistência dos idosos. E os resultados encontrados nessa análise fornecem uma contribuição

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importante para o entendimento da fragilidade e mortalidade dos idosos sob uma perspectiva longitudinal no Brasil, ao tomar o município de São Paulo como parte desta totalidade.

5. CONCLUSÃO

Com o envelhecimento populacional e a maior longevidade da população, a fragilidade passa a ser considerada um importante problema de saúde pública entre os idosos por acarretar diferentes níveis de demanda, em especial em relação aos serviços de saúde disponíveis, como o aumento dos gastos em saúde no setor e maior utilização dos serviços.

O presente estudo reforça a noção de que são bastante relevantes estratégias específicas e ações voltadas para prevenir ou retardar a instalação do quadro de fragilidade quanto os fatores que causam a mesma. Medidas dessa natureza podem além de aumentar a sobrevivência dos idosos, ampliar esse tempo adicional de vida em melhores condições de saúde e qualidade ativa, proporcionando um envelhecer mais ativo e saudável.

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17 REFERÊNCIAS

ALVARADO, B. E. et al. Life course social and health conditions linked to frailty in Latin American older men and women. The Journals of Gerontology Series A: Biological Sciences and Medical Sciences, Oxford, v. 63, n. 12, p. 1399-1406, 2008. BARRETO, P. S. Atualidades sobre fragilidade no idoso e exercício físico. Geriatria & Gerontologia, Rio de Janeiro, RJ, v. 2, n. 2, p. 72-80, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. Mortalidade: 1996 a 2013, pela CID-10.

Brasília, DF, 2013. Disponível em:

<http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205>. Acesso em: 19 abr. 2016.

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