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Agrodiesel e sistemas de produção de mamona no município de Morro do Chapéu (Bahia), safra 2015-2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ALYNSON DOS SANTOS ROCHA

AGRODIESEL E SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE MAMONA

NO MUNICÍPIO DE MORRO DO CHAPÉU (BAHIA), SAFRA

2015-2016.

Salvador

2017

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ALYNSON DOS SANTOS ROCHA

AGRODIESEL E SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE MAMONA

NO MUNICÍPIO DE MORRO DO CHAPÉU (BAHIA), SAFRA

2015-2016

.

Tese apresentada à banca examinadora e ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia, como requisito à obtenção do título de Doutor em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Vitor de Athayde Couto.

Salvador

2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram à conclusão deste trabalho. Inicialmente, agradeço fortemente ao Prof. Vitor pela amizade nesses quase vinte anos, confiança e pelas fundamentais orientações que possibilitaram o bom andamento desta pesquisa; aos professores Gustavo Machado, Noeli Pertile e às Doutoras Lívia Liberato e Maria de Lourdes Novaes Schefler, pela avaliação e observações feitas no âmbito da Banca Examinadora. Especial agradecimento ao Professor Sylvio Bandeira de Mello e Silva que não teve a oportunidade de conhecer o produto final da pesquisa, mas que contribuiu com referências sobre a realidade rural/regional da Bahia.

Agradeço fundamentalmente as informações fornecidas pelo Engenheiro Agrônomo Maurício Coutinho da PBio e do Técnico Agrícola da Embrapa Elói Falcão. Durante a pesquisa de campo em Morro do Chapéu e em Salvador, os numerosos contatos permitiram consolidar as análises e o entendimento da realidade da produção de mamona e dos agentes envolvidos na cadeia produtiva, dos agricultores familiares às empresas processadoras e comerciantes. Igualmente, sou grato ao Coordenador de Assistência Técnica Agrícola da PBio Daniel Kryzinsk, ao Técnico da empresa BioÓleo Daniel Arão e ao Sr. Jonatas Silva Fernandes pelas informações complementares sobre a realidade da mamona e das cooperativas na região. Evidentemente, agradeço aos agricultores familiares morrenses que permitiram as entrevistas, sempre com a boa acolhida que lhes é característica, além do Sr. André Severo, na condução pelos caminhos nos distantes povoados de Malhada da Areia, Icó, Olhos D'água, Velame, Ouricuri I e II.

Agradeço também aos professores Nélson Giordano Delgado, Sílvio Pereira Leite, Karina Kato, Alberto Di Sabatto, Georges Flexor, ao doutorando José Renato Porto e à Secretária Diva de Faria, do Observatório de Políticas Públicas para a Agricultura (OPPA), vinculado à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro pela amizade, conhecimentos absorvidos e confiança depositada em mim para a coordenação regional da segunda etapa da pesquisa “Biodiesel, Agricultura Familiar e Políticas de Desenvolvimento: impactos socioeconômicos da produção de biodiesel nas áreas de influência da Petrobras”, importante suporte à continuidade da pesquisa em campo para este trabalho.

Aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação em Geografia, Dirce Almeida e Itanajara Muniz da Silva sou grato pela paciência ao longo dos quatro anos de curso. Aos funcionários do Departamento de Economia Valdirene França e Marcelo Soares, forte abraço e obrigado. Igualmente aos inúmeros colegas e amigos nas faculdades de Economia e Geografia da UFBA e da Universidade do Oeste da Bahia (UFOB), especialmente ao Prof. Jorge Neris, que indiretamente contribuíram com este trabalho.

À Profa. Edna Maria da Silva da EMEV/UFBA, companheiríssima de trabalho!!! A meus pais, irmãos e sobrinhos, igualmente obrigado!!!

Finalmente, agradecimento mais do que especial à minha amada família: à minha esposa Joseanie Mendonça, pelo amor, dedicação e, sobretudo, paciência (muita) em todo o período; à minha filha Raíssa, filhona querida; e à pequena Maira, iluminando o final dos trabalhos. Eternamente grato por estarem na minha vida!!!!!

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ROCHA, Alynson dos Santos. Agrodiesel e sistemas de produção de mamona no

município de Morro do Chapéu (Bahia), safra 2015-2016. 322 f. il. 2017. Tese

(Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar como a alternativa da mamona para o agrodiesel nos anos 2000, a partir dos desdobramentos das ações do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), contribui (ou não) à alteração dos sistemas de produção familiares em Morro do Chapéu (Bahia) e da atuação dos agentes envolvidos – agricultores, atravessadores, Petrobras Biocombustíveis (PBio, subsidiária da Petrobras para agrocombustíveis), empresas processadoras, de assistência técnica e cooperativas. Utilizando-se como referência a base conceitual em torno dos sistemas de produção e agrário, que privilegiam a abordagem transdisciplinar e multiescalar, além dos procedimentos da metodologia Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários/de Produção (ADSA) constrói-se tipologia de agricultores familiares ligados ao agrodiesel como subsídio à observação das formas de inserção na nova dinâmica produtiva e, simultaneamente, sua permanência nos circuitos de comercialização estabelecidos, especialmente com os atravessadores. O recorte temporal para essas análises compreende à safra 2015-2016, para a qual estudam-se as dinâmicas agronômica, econômica, além das repercussões com a chegada do agrodiesel de mamona para os seis tipos de sistemas de produção identificados. Complementa-se analisando-se a atuação das cooperativas de agricultores familiares, dos atravessadores e dos técnicos vinculados à PBio, Embrapa e BioÓleo com a implantação do modelo UTD em 2014. Aparentemente, o conjunto de ações dos agentes relacionados ao agrodiesel em Morro do Chapéu não conseguiu alterar significativamente a estrutura produtiva e relações entre agricultores e demais agentes, permanecendo atuações estabelecidas ao longo de décadas de plantio da mamona. As iniciativas na região, embora repletas de argumentos positivos, chocam-se com a complexa realidade dos espaços de execução. Exige-se o amplo conhecimento a priori dessas realidades, seus agentes e interdependências, além da posterior continuidade das ações. São afirmações que reforçam críticas ao estabelecimento de programas estatais, aos moldes do PNPB, sem a devida e profunda observação às especificidades do semiárido. Os resultados desta pesquisa apontam ao esmaecimento do agrodiesel de mamona como alternativa aos agricultores familiares do semiárido baiano, especialmente em Morro do Chapéu.

Palavras-chave: Agrodiesel. Mamona. Sistema de produção. Morro do Chapéu.

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ROCHA, Alynson dos Santos. Agrodiesel and castor bean production systems in

the municipality of Morro do Chapéu (Bahia), harvest-year 2015-2016. 322 pp. ill.

2017. Thesis (Ph. D) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

ABSTRACT

The objective of this work is to analyze how the castor bean agrodiesel alternative in the years 2000, based on the unfolding of the actions of the National Biodiesel Production and Use Plan (PNPB), contributes (or not) to the alteration of production systems in Morro do Chapéu (Bahia) and the activities of the agents involved – farmers, middlemen, Petrobras Biocombustíveis (PBio, Petrobras subsidiary for agrofuels), processing companies, technical assistance agents and cooperatives. Using as reference the conceptual basis about the production and agrarian systems, which favor the transdisciplinary and multi-scale approach, and the procedures from the Diagnostic Analysis of Agrarian Systems/Production (ADSA) methodology, the typology of family farmers linked to agrodiesel is constructed as a subsidy to the observation of the forms of insertion in the new productive dynamics and, simultaneously, their permanence in established commercialization circuits, especially with the middlemen. The time cut for these analyzes is the harvest-year of 2015-2016. In the six types of production systems identified, agronomic and economic dynamics are studied, as well as the repercussions with the arrival of castor bean agrodiesel. It complements the analysis of the cooperatives of family farmers, middlemen and technicians linked to PBio, Embrapa and BioÓleo with the implementation of the UTD (Test and Demonstration Unity) model in 2014. Apparently, the set of actions of agents related to agrodiesel in Morro do Chapéu was not able to change significantly the productive structure and relations between farmers and other agents, remaining established actions throughout decades of castor bean planting. These set of actions, although full of positive arguments, are confronted with the complex reality of the spaces of execution. They require a broad knowledge a priori of these realities, their agents and interdependencies, and the subsequent continuity of actions. These are statements that reinforce criticism of the establishment of state programs, as the PNPB, without observation of the specificities of the semi-arid region. The results of this work point to the disintegration of castor bean agrodiesel as an alternative to the family farmers of the Bahian semiarid, especially in Morro do Chapéu.

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ROCHA, Alynson dos Santos. Agrodiesel et systèmes de production de ricin

dans la municipalité de Morro du Chapéu (Bahia), récolte 2015-2016. 322 f. il.

2017. Thèse (Doctorat) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

RÉSUMÉ

Cette étude vise à examiner comment l’alternative de ricin pour agrodiesel dans les années 2000, des conséquences des actions du Plan National pour la Production et l'Utilisation de Biodiesel (PNPB) contribue (ou non) à la modification des systèmes de production à Morro du Chapéu (Bahia) et les activités des agents impliqués – les agriculteurs, les intermédiaires, le Petrobras Biocarburants (PBIO, une filiale de Petrobras pour les agrocarburants), les entreprises de transformation, l'assistance technique et les coopératives. Il est utilisé comme référence la base conceptuelle des systèmes de production et agricoles et son approches trans-disciplinaire et multi-échelle, au-delá de les procédures de méthodologie Analyse Diagnostic des Systèmes Agraires/de Production (ADSA) est construit une typologie des agriculteurs connecté à l’agrodiesel comme une subvention à l'observation des formes d'intégration dans une nouvelle dynamique de production et en même temps de leur séjour dans les canaux de commercialisation établis, en particulier avec les intermédiaires. Le calendrier de cette analyse comprend 2015-2016. Dans les six types identifiés de systèmes de production, sont étudiés les dynamiques agronomique, économique, et l'impact à la suite d'arrivée de l’agrodiesel de huile de ricin. Ensuite, les analyses sont faites sur la performance des coopératives d'agriculteurs familiaux, des intermédiaires et des techniques lié à PBIO, Embrapa et BioÓleo aprés l’implantation du modèle UTD en 2014. Apparemment, l'ensemble des actions des agents liées au agrodiesel à Morro du Chapéu ne change pas de manière significative la structure de la production et des relations entre les agriculteurs et les autres agents, structure consolidée le long de décennies de plantation de graines de ricin. Ces initiatives, si plein d'arguments positifs, entre en conflit avec la réalité complexe des espaces d'exécution. Appelez la vaste connaissance a priori de ces réalités, ses agents et interdépendances, ainsi que la continuité des actions ultérieures. Sont des déclarations qui renforcent essentielles à la mise en place de programmes de l'État, des modèles PNPB, sans observation appropriée et approfondie de la semi-aride spécifique. Ces résultats indiquent l’erosion de l'alternative du agrodiesel de ricin pour les agriculteurs familiaux du semiarid da Bahia, en particulier dans Morro du Chapéu.

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LISTA DE FIGURAS:

Figura 1 Sistemas de produção inseridos na unidade de produção

agrícola 35

Figura 2 Sistema integrado agricultura-pecuária (ICLS) 37 Figura 3 Diferentes abordagens dos sistemas de produção 40

Figura 4 Níveis de análise para a dinâmica rural 44

Figura 5 O sistema agrário 45

Figura 6 Representação do sistema de atividades para famílias rurais 50 Figura 7 Principais procedimentos da metodologia ADSA 54 Figura 8 Dinâmica econômica das rendas dos agricultores 57 Figura 9 Rendas de agricultor na região de Irecê (Bahia) 59

Figura 10 Exemplo de produtor em Irecê (BA) 61

Figura 11 Subdivisões das energias renováveis 70

Figura 12 Esquema técnico da produção de biodiesel 73

Figura 13 Usos da mamona 96

Figura 14 Subsídios ao longo da cadeia produtiva dos agrocombustíveis 104 Figura 15 Evolução da oferta energética brasileira (%) 107 Figura 16 Principais discussões para os agrocombustíveis, por setores 120 Figura 17 Trajetória histórica dos agrocombustíveis no Brasil 127

Figura 18 Resumo esquemático do PNPB 128

Figura 19 Cadeia produtiva dos agrocombustíveis no Brasil 130 Figura 20 Cronograma de adições de biodiesel ao diesel mineral 134 Figura 21 Empresas com SCS por região, Brasil 2015 143 Figura 22 Biodiesel adquirido da agricultura familiar no âmbito do SCS,

2015 145

Figura 23 Resumo esquemático do Probiodiesel Bahia 151 Figura 24 Produção de biodiesel na Bahia com registro na ANP, 2005-2015 154 Figura 25 Variações térmicas anuais em Morro do Chapéu, 2010-2016 175 Figura 26 Precipitações anuais em Morro do Chapéu, 2010-2016 176 Figura 26a Localização do município de Morro do Chapéu (BA) 178 Figura 27 Precipitações em Morro do Chapéu, out-2015 a jul-2016 200 Figura 28 Morro do Chapéu. Localização da pesquisa de campo, 2015-16 201 Figura 29 Fluxograma da dinâmica do sistema de produção Tipo I 210 Figura 30 Fluxograma da dinâmica do sistema de produção Tipo II 218 Figura 31 Fluxograma da dinâmica do sistema de produção Tipo III 226 (continua)

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LISTA DE FIGURAS (continuação):

Figura 32 Fluxograma da dinâmica do sistema de produção Tipo IV 232 Figura 33 Fluxograma da dinâmica do sistema de produção Tipo V 239 Figura 34 Fluxograma da dinâmica do sistema de produção Tipo VI 246 Figura 35 O atravessador no circuito produtivo da mamona em Morro do

Chapéu 267

Figura 36 Projeto UTDs no semiárido brasileiro 275

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LISTA DE FOTOS:

Fotos 1 e 2 Macambira-de-flecha (Bromelia laciniosa); Mandacaru (Cereus

jamacaru) 177

Foto 3 Paisagem árida. Morro do Chapéu, outubro, 2015 201 Fotos 4 e 5 Povoados (Icó, Queimada Nova). Morro do Chapéu 202 Foto 6 Subsistema de cultivo mamona. Sistema de produção Tipo I 209 Foto 7 Subsistema de cultivo sisal. Morro do Chapéu, outubro, 2015 212 Foto 8 Subsistema de criação caprinos. Morro do Chapéu, outubro,

2015 219

Foto 9 Subsistema de cultivo cebola irrigada. Morro do Chapéu,

outubro, 2015 226

Foto 10 Subsistema de cultivo palma. Morro do Chapéu 232 Foto 11 Subsistema de cultivo mamona e feijão associados, Tipo V 238 Foto 12 Subsistema de cultivo de tomate. Sistema de produção Tipo VI 244

Foto 13 Tomate TY 2006 244

Foto 14 Grande produção de cebola. Povoado Velame (Morro do

Chapéu, Bahia) 245

Foto 15 Tanque de irrigação para lavoura de tomate 247

Foto 16 Subsolador 255

Foto 17 Mamona (Paraguaçu) exposta ao sol para secagem 257 Fotos 18 e 19 Máquina de perfuração de poço artesiano. Morro do Chapéu 260 Foto 20 Lavoura de cebola irrigada. Povoado Malhada da Areia, Morro

do Chapéu 263

Foto 21 UTD Matriz. Povoado Olhos d’Água. Morro do Chapéu, 2015 276 Foto 22 UTD Matriz. Povoado Malhada da Areia. Morro do Chapéu,

2015

277 Fotos 23 e 24 UTD Matriz. Povoado Olhos D’Água. Dia de campo, 2015 279

(13)

LISTA DE QUADROS:

Quadro 1 Analisando os sistemas de produção agrícolas 34

Quadro 2 Abordagens de sistemas agrários 47

Quadro 3 O sistema agrário e a abordagem da agricultura comparada 48 Quadro 4 Características técnico-produtivas das gerações de

biocombustíveis 70

Quadro 5 Principais matérias-primas para agrocombustíveis no Brasil 86 Quadro 6 Aspectos dos agrocombustíveis e posição brasileira 88 Quadro 7 Principais grupos e discussões na gênese do PNPB 132 Quadro 8 Instrumentos voltados à criação de mercados de biocombustíveis 134

Quadro 9 A Petrobras Biocombustíveis – PBio 141

Quadro 10 Viabilidade da produção de agrodiesel de dendê 150 Quadro 11 Variedades de mamona na Bahia e características agronômicas 162 Quadro 12 Faz. Santa Clara (PI): realidade se impõe ao agrodiesel no

Semiárido 165

Quadro 13 Cenário do agrodiesel de mamona em Quixadá, Ceará 168 Quadro 14 Síntese Geomorfológica em Morro do Chapéu 179

Quadro 15 Morro do Chapéu: informações gerais 182

Quadro 16 História, economia e política em Morro do Chapéu 196 Quadro 17 Distribuição das UTFs no sistema de produção Tipo I 211 Quadro 18 Distribuição das UTFs no sistema de produção Tipo II 220 Quadro 19 Distribuição das UTFs no sistema de produção Tipo III 227 Quadro 20 Distribuição das UTFs no sistema de produção Tipo IV 233 Quadro 21 Distribuição das UTFs no sistema de produção Tipo V 239 Quadro 22 Distribuição das UTFs no sistema de produção Tipo VI 247

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LISTA DE GRÁFICOS:

Gráfico 1 Principais matérias-primas para o biodiesel no Brasil, junho

2016 77

Gráfico 2 Oscilação de preços no complexo soja, 2006-2016 78 Gráfico 3 Produção (cana-de-açúcar), Brasil 2006-2016 80 Gráfico 4 Preços do álcool anidro/hídrico, Brasil 2006-2016 81 Gráficos 5 e 6 Produção de mamona no mundo, 2000 e 2014 90 Gráficos 7 e 8 Exportadores e importadores de óleo de mamona, 2015 90

Gráfico 9 Produção de mamona, Brasil 2000-2014 91

Gráfico 10 Participação da Bahia na produção de mamona brasileira,

2014 91

Gráfico 11 Mamona: preços médios mensais (saca 60kg), Bahia 2015 92 Gráficos 12 e

13 Variação dos preços dos óleos vegetais e do óleo cru, 2006-2016 103 Gráfico 14 Volume de biodiesel nos leilões da ANP, 2005-2015 142 Gráfico 15 Variação de preços nos leilões de biodiesel da ANP,

2005-2015 142

Gráfico 16 Evolução do número de famílias nos arranjos do SCS,

2008-2015. 145

Gráfico 17 Aquisições de biodiesel em milhões de reais, 2015. 146 Gráfico 18 Famílias nos arranjos do SCS, Bahia 2008-2015. 155 Gráfico 19 Volume de biodiesel adquirida da agricultura familiar, Bahia

2008-2015. 155

Gráfico 20 Evolução do índice de Gini para Morro do Chapéu 184 Gráfico 21 Evolução do VA por segmento, VA total e PIB em Morro do

Chapéu. 189

Gráfico 22 Produção das principais lavouras em Morro do Chapéu,

1990-2015. 195

Gráfico 23 Efetivo das principais criações em Morro do Chapéu,

1974-2015. 195

Gráfico 24 Renda por Unidade de Trabalho Familiar (RA/UTF) em relação às áreas por UTFs (SA/UTF) dos subsistemas de produção,

Tipo I. 216

Gráfico 25 Renda por Unidade de Trabalho Familiar (RA/UTF) em relação às áreas por UTFs (SA/UTF) dos subsistemas de produção,

Tipo II. 222

Gráfico 26 Variação de preços da cebola (praça Irecê) 2015. 225 Gráfico 27 Renda por Unidade de Trabalho Familiar (RA/UTF) em relação às91

áreas por UTFs (SA/UTF) dos subsistemas de produção, Tipo III. 230 (continua)

(15)

LISTA DE GRÁFICOS (continuação):

Gráfico 28 Renda por Unidade de Trabalho Familiar (RA/UTF) em relação às áreas por UTFs (SA/UTF) dos subsistemas de produção, Tipo

IV. 236

Gráfico 29 Renda por Unidade de Trabalho Familiar (RA/UTF) em relação às áreas por UTFs (SA/UTF) dos subsistemas de produção, Tipo V.

242 Gráfico 30 Renda por Unidade de Trabalho Familiar (RA/UTF) em relação

às áreas por UTFs (SA/UTF) dos subsistemas de produção, Tipo VI.

250 Gráfico 31 Variação dos preços do tomate – praça Chapada Diamantina

(BA).

(16)

LISTA DE TABELAS:

Tabela 1 Produção de mamona no mundo, 2000 e 2014. 90

Tabela 2 Índice de Gini para Bahia e Morro do Chapéu, 1920-2006 183 Tabela 3 Estrutura fundiária em Morro do Chapéu, 2006 185 Tabela 4 Indicadores macroeconômicos de Morro do Chapéu (VA por

segmento; VA total; Arrecadação de impostos, PIB e PIB per

capita – R$ 1.000 a preços correntes) – 2010-2012. 188

Tabela 5 Rendimentos familiares do sistema Tipo I 214

Tabela 6 Rendimentos por UTFs e área dos subsistemas produtivos (Tipo I)

214

Tabela 7 Rendimentos familiares do sistema Tipo II 221 Tabela 8 Rendimentos por UTFs e área dos subsistemas produtivos

(Tipo II)

221

Tabela 9 Rendimentos familiares do sistema Tipo III 229 Tabela 10 Rendimentos por UTFs e área dos subsistemas produtivos

(Tipo III)

229

Tabela 11 Rendimentos familiares do sistema Tipo IV 235 Tabela 12 Rendimentos por UTFs e área dos subsistemas produtivos

(Tipo IV)

235

Tabela 13 Rendimentos familiares do sistema Tipo V 241 Tabela 14 Rendimentos por UTFs e área dos subsistemas produtivos

(Tipo V)

241

Tabela 15 Rendimentos familiares do sistema Tipo VI 249 Tabela 16 Rendimentos por UTFs e área dos subsistemas produtivos

(Tipo VI)

249

Tabela 17 Rendimento físico e teor de óleo em cultivares de mamona, 2016

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS:

ADSA Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários

Abiove Associação Brasileira da Indústria de Óleo Vegetais

ANP Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Astec Assistência Técnica

Bahiabio Programa de Produção e Uso de Biocombustíveis na Bahia

Bahiater Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural Cenpes Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello

Cepea Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Ceped Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia Ceplac Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira CGIAR Consultative Group on International Agricultural Research CNA Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária

CNPE Conselho Nacional de Política Energética CNRS Centre National de la Recherche Scientifique

Codevasf Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba Conab Companhia Nacional de Abastecimento

Contag Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura CPATSA Centro de Pesquisa do Agropecuária Tropico Semiárido CPT Comissão Pastoral da Terra

DAP Declaração de Aptidão ao Pronaf

EBDA Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário EIA Energy Informartion Administration

Embrapa Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária

Epagri Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina Esalq Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

Fetraf Federação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura Familiar FIAN Foodfirst Information and Action Network International

GEE Gases de Efeito Estufa

GTIB Grupo de Trabalho Interministerial sobre Biodiesel IAPAR Instituto Agronômico do Paraná

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (continuação):

ICLS Integrated Crop-Livestock Systems

IFPRI International Food Policy Research Institute

IICA Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura INA-PG Institut National Agronomique, Paris-Grignon

Incra Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Inmet Instituto Nacional de Meteorologia

INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial INRA Institut National de la Recherche Agronomique Mapa Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário MME Ministério das Minas e Energia

MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão MST Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra Nead Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OVEG Programa Nacional de Alternativas Energéticas Renováveis de

Origens Vegetais

PBIO Petrobras Biocombustíveis

PNAE Programa Nacional de Aquisição de Alimentos

PNPB Programa Nacional de Produção de Uso do Biodiesel Proalcool Programa Nacional do Álcool Combustível

Probiodiesel Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico do Biodiesel Probiodiesel Bahia Programa de Biodiesel da Bahia

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (continuação):

Prooleo Programa Nacional de Óleos Vegetais para Fins Energéticos RBB Rede Baiana de Biocombustíveis

SCS Selo Combustível Social

SDR Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado da Bahia Seagri Secretaria de Agricultura Irrigação e Reforma Agrária da Bahia Secti Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia

SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia UECE Universidade Estadual do Ceará

UFC Universidade Federal do Ceará

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul Unica União da Indústria de Cana-de-açúcar

Unijuí Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul UTD Unidade de Teste e Demonstração

UTF Unidade de Trabalho Familiar Worldbank Banco Mundial

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SUMÁRIO:

1 INTRODUÇÃO………... 22

2 SISTEMAS AGRÁRIOS, SISTEMAS DE PRODUÇÃO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS………...…... 30

2.1 A METODOLOGIA ANÁLISE DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS………. 30

2.1.1 Os sistemas de produção e o sistema agrário………..…. 32

2.1.2 Princípios gerais do método………...….…... 52

2.1.3 Analise econômica dos sistemas de produção………….…..…....… 56

2.2 APLICABILIDADE NA ÁREA DE ESTUDO……….………...… 59

2.3 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS………... 65

3 AGROCOMBUSTÍVEIS: UMA NOVA ORDEM ENERGÉTICA?……… 69

3.1 SEMÂNTICA, PROCESSOS E MATÉRIAS-PRIMAS……….. 69

3.1.1 Termos, conceitos e síntese do processo produtivo………. 69

3.1.2 Principais matérias-primas e alternativas………. 77

3.1.2.1 Avanços da soja e do etanol de cana-de-açúcar no Brasil………. 77

3.1.2.2 Potenciais matérias-primas alternativas para agrocombustíveis……... 83

3.1.3 A lavoura e os usos do óleo de mamona……….. 91

3.2 PRINCIPAIS DEBATES NAS MÚLTIPLAS ESCALAS………. 99

3.2.1 Defesas e contestações aos agrocombustíveis……….. 99

3.2.2 Relações com os preços do petróleo……… 103

3.2.3 Full tanks at the cost of empty stomachs……….... 106

3.2.4 Reorganização do capital em torno dos agrocombustíveis…….... 116

3.2.5 Novas agendas de pesquisa……….…. 119

3.3 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS………. 124

4 AGROCOMBUSTÍVEIS NO BRASIL E A AGRICULTURA FAMILIAR 129 4.1 O PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL (PNPB)……….. 129

4.2 IMPLICAÇÕES PARA O ESTADO DA BAHIA………... 152

4.3 AGRODIESEL DE MAMONA: DA EUFORIA À FRUSTRAÇÃO………. 163

(21)

SUMÁRIO (continuação):

5 SISTEMAS DE PRODUÇÃO, COOPERATIVAS E UTDs EM MORRO

DO CHAPÉU …..……….. 179

5.1 MORRO DO CHAPÉU: HISTÓRIA E GEOECONOMIA………...….. 179

5.1.1 Informações gerais………. 179

5.1.2 Dinâmica agrária………..….. 188

5.1.3 Dinâmica econômica local………... 191

5.1.4 Trajetória histórica e agrícola………...….. 195

5.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E CONDIÇÕES INICIAIS DA PESQUISA………. 205

5.3 PERFIS DOS AGRICULTORES PRODUTORES DE MAMONA NO MUNICÍPIO……….... 209

5.4 SISTEMAS DE PRODUÇÃO: AGRO-GEO-ECONOMIA……….. 212

5.5 DINÂMICA DOS PROCESSOS PRODUTIVOS LOCAIS………... 260

5.6 ATUAÇÃO DAS COOPERATIVAS DE AGRICULTORES FAMILIARES………..……... 275

5.7 AS UNIDADES DE TESTE E DEMONSTRAÇÃO (UTDs)………...……. 281

5.8 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS………...……… 289

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS………..….. 294

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo analisar como a alternativa da mamona para o agrodiesel nos anos 2000, a partir dos desdobramentos das ações do Programa Nacional de produção e Uso de Biodiesel (PNPB), contribui (ou não) à alteração dos sistemas de produção consolidados em Morro do Chapéu (Chapada Diamantina, no semiárido baiano), da atuação dos agentes envolvidos – agricultores, atravessadores, Petrobras Biocombustíveis (PBio, subsidiária da Petrobras para agrocombustíveis), empresas processadoras, de assistência técnica e cooperativas. Analisam-se dinâmicas produtivas, notadamente a associação entre lavouras de mamona, feijão e milho; a organização dos agricultores familiares e as ações das cooperativas relacionadas. Reforça-se que este objetivo envolve aspectos agronômicos, econômicos e geográficos em um esforço de análise transdisciplinar. Acessoriamente, resgata-se a trajetória histórica e geoeconômica dos processos produtivos locais, a partir da associação entre as lavouras, nos anos 1970; as crises, causadas sobretudo pelas secas; os impactos sob os cultivos de sequeiro, que obedecem ao regime pluviométrico; introdução de novos cultivos, irrigados; até agrodiesel como alternativa produtiva. Para este trabalho, considera-se como recorte temporal a safra 2015-2016 da mamona, cujos tratos culturais inciam-se geralmente nos meses de outubro e novembro, prolongando-se até a colheita, a partir de março do ano seguinte.

Utiliza-se a base conceitual relacionada aos sistemas de produção e agrário, especialmente a partir de geógrafos e economistas rurais franceses (système de

production e système agraire), que privilegia análises a partir de diálogos entre

Agronomia, Economia e Geografia, além da perspectiva multiescalar para o entendimento de realidades rurais específicas. Some-se aos procedimentos da metodologia Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários/de Produção (ADSA) constrói-se tipologia de agricultores familiares em povoados de Morro do Chapéu produtores de mamona e ligados ao agrodiesel como subsídio à observação das suas formas de inserção na nova dinâmica produtiva e, simultaneamente, sua permanência nos circuitos de comercialização estabelecidos, especialmente com os atravessadores, sem maiores interesses sobre o destino final da produção, agrodiesel ou a indústria ricinoquímica. Adjacentemente, analisam-se as formas de atuação de técnicos agrícolas no objetivo de fornecer assistência técnica aos

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agricultores seja indiretamente, Astec indireta com a intermediação das cooperativas, seja diretamente, Astec direta, a partir do modelo Unidade de Teste e Demonstração (UTDs), implantado em 2014.

No debate sobre agrocombustíveis e agricultura familiar no Brasil nos anos 2000 tem-se que, apesar do entusiasmo inicial seguido ao lançamento do PNPB – expectativa de inclusão da agricultura familiar especialmente no Semiárido –, algumas questões de súbito ganham importância e apontam uma série de contradições geradas nos primeiros anos de operacionalização do Programa. Isso se deve à constatação do domínio de outras fontes de matérias-primas na produção do agrocombustível (cana-de-açúcar e soja) e, por conseguinte, domínio de grandes grupos nacionais e/ou estrangeiros em toda a cadeia produtiva, gerando um descompasso entre as premissas iniciais do PNPB, os mecanismos implantados para o alcance de tais premissas e os reais beneficiados ao final do processo. O agricultor familiar, outrora importante elemento, aparentemente permanece (apenas como) fornecedor de matérias-primas. A criação, no âmbito do PNPB, do mecanismo do Selo Combustível Social (SCS) para mediar as relações entre empresas e agricultores é reveladora das desigualdades dos processos de inserção dos agentes (agricultores familiares, cooperativas, empresas processadoras).

Para os agricultores familiares produtores de mamona essa inserção é feita a partir de contratos firmados com empresas processadoras. Especificamente em Morro do Chapéu observa-se também a participação de cooperativas que fazem a intermediação entre a produção primária e as empresas. Torna-se necessário questionar o grau de adoção da alternativa do agrodiesel para a arregimentação de agricultores e, particularmente, qual o perfil do agricultor vinculado ao agrocombustível. Imediatamente emergem os impactos das secas como justificativa para quebras de contratos e desistências da destinação da mamona. A formalização das relações entre agricultores em empresas ligadas ao agrodiesel, apontada como excessiva diante da conjuntura local, contribui à permanência de personagens bastantes conhecidos no processo de produção e comercialização da mamona: os atravessadores.

A mamona desempenha papel de provedora de rendas imediatas aos gastos correntes do agricultor. Pode-se esperar alguma resistência dos agricultores em alterar práticas produtivas agrícolas reproduzidas em décadas de plantio. O apelo da maior produtividade traduzindo-se em maiores rendas para os agricultores têm sido

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a base da argumentação pelas mudanças apresentadas por técnicos agrícolas, cooperativas, empresas processadoras nos modelos de Astec direta ou indireta. São reforçadas, subsequentemente, questões como a mobilização pela organização dos agricultores para o plantio da mamona; utilização de técnicas consideradas mais produtivas nos tratos culturas; introdução de novos cultivares (variedade da planta); profissionalização da comercialização dos produtos; tentativa de redução da presença dos atravessadores, pelos contratos que buscam fidelizar o agricultor em suas entregas da produção.

Buscando compreender a realidade da mamona em Moro do Chapéu, com o advento to agrodiesel, são elaboradas as seguintes guias de pesquisa: a) A destinação da mamona ao agrodiesel altera profundamente dinâmicas estabelecidas nos sistemas de produção/atividades. Essas alterações são capitaneadas por agentes de assistência técnica rural, cooperativas de agricultores familiares e empresas processadoras que orientam mudanças nos subsistemas de cultivos e de criações, além de representarem os agricultores nas questões contratuais referentes à comercialização da oleaginosa. Sobressaem-se discussões sobre o perfil (social, econômico) e as formas de inserção do agricultor familiar nessa dinâmica. Tais formas de inserção do agricultor familiar apresentam correlação com a atuação das cooperativas visando ao cumprimento dos formalismos da atividade e na disseminação das técnicas produtivas agrícolas, a princípio vantajosas aos agricultores; b) Esse conjunto de alterações encontra resistências dentre os agricultores familiares. As resistências estão relacionadas à dificuldade de liberação de recursos aos tratos culturais (excesso de formalidades nos trâmites oficiais), custos elevados dos cultivares apresentados, mesmo sendo mais produtivos e de ciclo mais curto que as chamadas cultivares crioulas; na preferência dos agricultores pela manutenção dos circuitos produtivos estabelecidos, especialmente com a figura do atravessador; e pela seca prolongada que atinge a região mais intensamente desde 2010, que desestimula compromissos pela impossibilidade de manutenção da regularidade requerida com o agrodiesel. Os agricultores optam por alternativas de acordo com a disponibilidade de recursos naturais e/ou financeiros: tem-se o exemplo das lavouras de olerícolas irrigadas, tomate e cebola, que implicam custos de manutenção de poços artesianos; e a dependência crescente dos programas de transferências de rendas (programas sociais e aposentadorias), como estratégias de sobrevivência.

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Para entender essa realidade, além das repercussões da questão dos agrocombustíveis nas escalas nacional e global sobre a escala local de análise, este trabalho é subdividido em cinco capítulos, além desta Introdução. No Capítulo 02 – Procedimentos metodológicos e aplicabilidade na área de estudo – faz-se a apresentação dos conceitos norteadores da pesquisa, sistema de produção e sistema agrário, abordando as origens e usos dos termos. Resgata-se particularmente a tradição francesa na discussão e formulação dos conceitos – mais intensamente após os anos 1970 –, destacando-se os trabalhos dos geógrafos Paul Fenelon e Pierre George, além das contribuições de Pierre-Jean Roca, Marc Dufumier, Jacques Brossier, Marcel Mazoyer, Hubert Cochet, Caroline Tafani, Pierre Roudart, entre outros. Os termos sistema de cultura, sistema agrícola, sistema de produção, a novíssima abordagem do sistema de atividades e, finalmente, o sistema agrário, são variantes que refletem a evolução das contribuições conceituais que partem de uma mesma observação inicial: a defesa e a necessidade do entendimento das realidades rurais combinando os conhecimentos, afastando da perspectiva puramente agronômica. Em seguida apresentam-se os procedimentos da metodologia Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários/de Produção e a aplicação nos povoados selecionados em Morro do Chapéu em busca dos objetivos geral e acessórios descritos. No Capítulo 03 – Agrocombustíveis: uma nova ordem energética? – discutem-se agrocombustíveis como alternativa energética, apresentando termos e síntese do processo produtivo. Os avanços das principais matérias-primas, cana-de-açúcar e soja, as repercussões, além de fontes potenciais de óleo combustíveis complementam o debate. Têm-se em seguida as principais questões sobre a lavoura de mamona, produção, usos e sua utilização como combustível. Essas informações levam ao embate entre defesa e contestação dos agrocombustíveis, relacionado diretamente com a produção de alimentos e oscilações do preço dos óleos minerais. Diante da complexidade do tema e subtemas, sugere-se ampla agenda de pesquisa aos agrocombustíveis.

No Capítulo 04 – Agrocombustíveis no Brasil e a agricultura familiar – apresentam-se as discussões específicas envolvendo agrocombustíveis e a agricultura familiar brasileira, inciando-se com a trajetória dos óleos vegetais combustíveis no Brasil, ainda nos anos 1920, a partir dos testes com óleos de amendoim, girassol, palma e algodão, no âmbito do Instituto nacional de Tecnologia. Com o PNPB, em 2004, busca-se conjunto de ações peculiares (sociais inclusivas,

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como o Selo Combustível Social, SCS) que o diferenciam do ProÁlcool nos anos 1980/90 outra experiência com agrocombustível de grande abrangência no Brasil. As ações do PNPB, a cargo da Petrobras (PBio), apresentam repercussões para o estado da Bahia, também analisadas. A utilização da mamona como matéria-prima ao agrodiesel, outrora euforicamente apontada como a redenção do agricultor familiar do semiárido, converte-se rapidamente em frustração, devido não apenas a aspectos técnicos (viscosidade do óleo puro) e econômicos (domínio da soja), mas a um elemento fundamental a ser considerado: a seca (e seus impactos).

De fato, a seca está no centro das observações do Capítulo 05 – Sistemas de produção, cooperativas e UTDs em Morro do Chapéu – com a apresentação dos resultados da pesquisa de campo em povoados do município, realizada para o ano safra da mamona de 2015-2016. Inicia-se com Informações gerais, caracterização econômica e a trajetória histórica e agrícola local. Objetiva-se investigar alterações na dinâmica produtiva e, especificamente, itinerário técnico das atividades agrícolas dos primeiros momentos de formação do município, nos séculos XVI e XVII, destacando-se a exploração de gado bovino de corte, passando pela exploração mineral nos séculos seguintes até a consolidação das atividades agrícolas, consolidando lavouras de sequeiro, irrigadas e pecuária. As informações corroboram a classificação do sistema agrário local como gado-policultura, permitindo melhor compreensão dos sistemas de produção e seus subsistemas de cultivo, criação e transformação. Estes são identificados após a apresentação das condições gerais da pesquisa e das situações mais comuns resultantes da estiagem prolongada no município: agricultores com perdas totais nas lavouras, adotando estratégias de vendas de animais; agricultores com produtos passíveis de comercialização; agricultores em melhores condições, capazes de estocar a mamona aguardando melhor conjuntura de preços. Esses perfis estão presentes na tipologia de agricultores construída como procedimento da metodologia ADSA.

Nos seis tipos de sistemas de produção representativos identificados, estudam-se as dinâmicas agronômica, econômica, além das repercussões com a chegada do agrodiesel de mamona. Complementa-se analisando-se a atuação das cooperativas de agricultores familiares, dos atravessadores e dos técnicos vinculados à PBio, Embrapa e BioÓleo com a implantação do modelo UTD em 2014. Note-se que a situação da Petrobras, e por conseguinte da sua subsidiária de agrocombustíveis, em virtude das investigações de desvios de recursos públicos, tem impacto direto

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aos agricultores em Morro do Chapéu, com a diminuição de recursos para assistência técnica, sementes e tratos culturais, gerando desconfianças e perda de credibilidade das ações – mesmo reconhecendo-se os aspectos positivos de melhoria das técnicas, fornecimento de tecnologias e criação de canal de comercialização – fortalecendo estruturas conhecidas e consolidadas, a exemplo dos atravessadores. Encerra-se este trabalho com as Considerações Finais.

Os resultados sugerem agricultores bastante fragilizados economicamente devido à seca severa que atinge Morro do Chapéu no período em que se conduz a pesquisa de campo. As informações recolhidas junto aos agricultores e informantes-chave locais apontam prejuízos particularmente nas lavouras mais tradicionais, de milho e feijão, com baixos rendimentos físicos das lavouras e, consequente, sem a comercialização e rendas derivadas dos produtos. Isso pode sugerir que o agricultor, por questões de sobrevivência, concentre suas rendas e da família – além da venda de animais, que aproveitam os restolhos das lavouras perdidas – nas atividades não-agrícolas e transferências de rendas (aposentadorias). A lavoura de mamona, conhecida por sua resistência à estiagem, também apresenta baixos resultados produtivos no período da pesquisa, alterando estratégias dos agricultores de produção e de comercialização com relação à oleaginosa, notadamente a despreocupação com o destino da mamona: o agrodiesel – envolvendo a estrutura no âmbito do PNPB – ou a indústria ricinoquímica. Note-se que o exercício desta pesquisa se concentrou em apenas um ano safra. É de amplo conhecimento que, com chuvas em volume adequado e regulares, os resultados produtivos podem ser completamente alterados, sejam de rendimentos físicos das lavouras, sejam de comercialização e rendas auferidas.

Especificamente ao agrodiesel de mamona, aparentemente o conjunto de ações dos agentes relacionados em Morro do Chapéu não conseguiu alterar significativamente a estrutura produtiva e relações entre agricultores e demais agentes, permanecendo atuações estabelecidas ao longo de décadas de plantio da mamona, notadamente o atravessador. É consenso entre técnicos, gestores de cooperativas, agricultores e seus representantes, que as ações tiveram um período positivo, até 2014, gerando expectativas não concretizadas nos anos seguintes. As dificuldades de atuação das cooperativas, devido a problemas de gestão, endividamentos e desvios de funções restringem essas instituições a intermediadoras nas relações de compra e venda da oleaginosa, deixando-se toda a

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operação logística a cargo de empresas privadas. O agravamento da seca reduz sensivelmente a percepção de fidelidade do agricultor nas entregas da mamona no circuito formal de comercialização. A necessidade de recursos imediatos força a venda da produção pelo agricultor ao agente mais próximo e, não raro, fornecedor de recursos à lavoura, o atravessador. A implantação da UTDs alterou o fornecimento da assistência técnica, buscando maior proximidade aos agricultores. São iniciativas que, embora repletas de argumentos positivos, chocam-se com a complexa realidade dos espaços de execução. Exige-se o amplo conhecimento a

priori dessas realidades, seus agentes e interdependências, além da posterior

continuidade das ações. Reduz-se o potencial de frustrações e descréditos aos elementos mais fragilizados da cadeia produtiva da mamona: o pequeno agricultor familiar do semiárido baiano.

Essas observações reforçam críticas à execução das ações do PNPB no semiárido baiano. A não observação em profundidade das relações entre agricultores e atravessadores na região não permitiu a anulação da sua atuação nos povoados. É possível afirmar que a presença do atravessador foi até mesmo reforçada, uma vez que o longo trâmite e exigências oficiais para as liberações de recursos da lavoura impele o agricultor a recorrer ao agente mais próximo, com recursos disponíveis e imediatos. O esforço na adoção pelos agricultores de variedades de mamona com maiores rendimentos físicos das lavouras – porém de ciclo produtivo mais curto, exigindo mais tratos culturais anuais, invariavelmente repercutindo em maiores custos – encontra ainda resistências dos defensores das sementes crioulas, tradicionais na região. A demonstração dos resultados, a exemplo da proposta das UTDs, alterou apenas parcialmente essa conjuntura.

O entusiasmo que se seguiu à mudança da orientação política do governo federal em 2003 e, particularmente, com a perspectiva de implantação do PNPB – e seus múltiplos objetivos econômicos e sociais, além dos diversificados (alguns inéditos em programas agroenergéticos nacionais) mecanismos de ação e incentivos (SCS e leilões, por exemplo) – ofuscaram a obrigatoriedade de se conhecer previamente as realidades a serem impactadas in loco. Nesse caso, as relações dos agricultores com a terra, a produção, as lavouras e criações e com os demais agentes das cadeias produtivas. As adversidades (produtivas, técnicas, de logística e preços) que se seguiram às ações e os resultados pouco animadores reforçam nesse aparente desconhecimento a principal crítica ao programa agroenergético

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federal. Os resultados desta pesquisa apontam ao esmaecimento do agrodiesel de mamona como alternativa aos agricultores familiares do semiárido baiano, especialmente em Morro do Chapéu. O agrodiesel de mamona converte-se, assim, em ideia efêmera, de pouca repercussão para o agricultor.

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2. SISTEMAS AGRÁRIOS, SISTEMAS DE PRODUÇÃO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo faz-se a apresentação da abordagem de sistemas agrários e de sistemas de produção/atividades, base dos procedimentos metodológicos executados nesta Tese. Apresentam-se inicialmente os objetivos gerais da metodologia Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários/de Produção, os conceitos de sistemas de produção e agrário, além dos princípios gerais do método e os passos para a análise econômica da composição das rendas dos agricultores. Em seguida, descreve-se o conjunto de procedimentos específicos e sua aplicação no município selecionado ao estudo de caso, Morro do Chapéu, semiárido baiano, produtor de mamona e alvo de ações de agentes públicos e privados da cadeia produtiva do agrodiesel.

2.1 A METODOLOGIA ANÁLISE DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS AGRÁRIOS

Estudar, diagnosticar e propor ações a partir de distintas e peculiares realidades agrícolas/agrárias no mundo, Brasil, Bahia – e, particularmente, no Semiárido nordestino –, sugere a utilização de procedimentos metodológicos com os quais é possível captar, sistematizar e apresentar tais diversidades sociais, econômicas, técnicas e agroecológicas, nas diferentes escalas geográficas de análise. Objetiva-se reduzir as frequentes discrepâncias entre as intencionalidades de projetos de desenvolvimento orientados para a transformação das realidades no campo e os resultados práticos obtidos ao não se observarem as dinâmicas presentes em cada espaço.

A abordagem metodológica denominada Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários (ADSA) consiste em estudar não apenas as relações econômicas inerentes aos chamados sistemas de produção, mas a complexidade dos aspectos sociais e ecológicos envolvidos. Desenvolvida especialmente na França pelo Institut des Sciences et Industries du Vivant et de l'Environnement (Paris AgroTech), no Brasil a abordagem é utilizada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em estudos em áreas de assentamentos rurais, muito embora a sua aplicabilidade seja mais ampla, podendo ser utilizada também na avaliação de diversos tipos de sistemas de produção – foco desta Tese de Doutoramento, como

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explicado nas seções seguintes –, como unidades produtivas capitalistas, patronais, familiares, etc. Outros centros de pesquisa que adotam a abordagem de sistemas agrários são o Iapar (Instituto Agronômico do Paraná); Unijuí (Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul) e a UFRGS (Universidade Federal Rural do Rio Grande do Sul); Embrapa-CPATSA (Centro de Pesquisa do Agropecuária Tropico Semiárido), em Pernambuco; Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), entre outros.

A finalidade da abordagem metodológica é subsidiar a elaboração de projetos, programas e políticas governamentais de desenvolvimento, baseados no processo de avaliação das principais atividades desenvolvidas nas unidades produtivas, sejam agrícolas ou não-agrícolas, relacionando também suas trajetórias históricas, de forma a prover elementos para uma projeção de tendências. Parte-se fundamentalmente da afirmação de que “(…) não pode haver intervenções eficazes para a transformação da agricultura sem um conhecimento científico prévio das realidades agrárias nas quais pretende-se intervir.” Essa afirmação, apresentada pelo Prof. Marc Dufumier (DUFUMIER, 2010, p. 57), professor de Agricultura Comparada e Desenvolvimento Agrícola do Paris Agrotech, ressalta a importância na identificação dos elementos que caracterizam e interferem na evolução/transformação dos sistemas de produção e suas responsabilidades na dinâmica das realidades das agriculturas. Esses elementos, continua o professor, são base para as ações interventivas do Estado, aqui considerando o seu interesse não apenas pelo crescimento, mas simultaneamente pelo desenvolvimento rural.

O essencial é poder caracterizar as práticas técnicas, econômicas e sociais dos agricultores, e compreender melhor o que orienta a sua evolução, em relação às prática de outras categorias socioprofissionais. A questão é, com efeito, saber concretamente o que os agricultores fazem e conhecer as razões pelas quais eles são levados a operar os seus atuais sistemas de produção. O importante é poder, em seguida, prever as condições sob as quais eles eventualmente poderiam modificar seu comportamento. (DUFUMIER, 2010, p. 58)

Dois conceitos são fundamentais ao entendimento dos procedimentos da metodologia ADSA: sistema agrário e sistemas de produção. Esse conceitos são apresentados nas seções seguintes.

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2.1.1 Os sistemas de produção e o sistema agrário

Pierre-Jean Roca (ROCA, 1987), pesquisador do centro francês de pesquisa científica – Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) –, analisa a evolução das abordagens envolvendo sistemas e produções agrícolas. O autor inicia com as primeiras acepções, ainda no começo do século XX, que faziam referência aos chamados sistema de culturas (système de culture). Os sistemas de culturas envolvem as formas de exploração da natureza pelo homem, abordagem superior à consideração de técnicas agrícolas, envolvendo aspectos sociais, de organização da produção, acesso, propriedade e relações do homem com a terra. Nos anos 1960, o geógrafo francês Paul Fenelon, resgatando o debate em torno do conceito, assim define o sistema de cultura:

[…] expressão que e aplica à organização da produção agrícola de um domínio ou de uma região, em função do meio físico (terra, solo, clima, água, vegetação) e do meio humano (propriedade, estrutura agrária, meios de transporte, produtos para autoconsumo, mercados locais, nacional ou internacionais); a combinação desses diversos elementos levam a rendimentos maiores ou menores de produtos vegetais e animais. (FENELON, 1970, p. 76-77) (tradução nossa)

Nos anos 1970, a expressão système de culture foi agrupada à expressão

système agricole, particularmente nos trabalhos do geógrafo Pierre George

(GEORGE, 1974). O caráter social associado à maneira de exploração da terra foi reforçado: o sistema agrícola envolve todas as formas de uso da terra, equilibrando culturas e técnicas nas unidades produtivas. Esses aspectos são indissociáveis às condições físicas e sociais dos espaços de atuação dos homens.

Nos anos 1980, segundo Roca (1987), intensifica-se o diálogo entre geógrafos, agrônomos e economistas rurais, ampliando-se a abordagem dos sistemas de cultura/agrícola, incorporando-se as diferentes escalas de análise e adicionando a noção de sistemas de produção, particularmente quando a escala local dos agricultores é observada. O sistema de produção (que incorpora o sistema de cultura agrícola) compreende “uma combinação moderadamente coerente no espaço e no tempo de quantidades de trabalho, meios de produção com objetivo de obter diferentes produtos agrícolas”, traduz-se livremente da definição do Prof. Dufumier (DUFUMIER, 1985). Aqui, é importante compreender as atividades

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agrícolas como parte de um conjunto maior de atividades do agricultor – implicando a divisão dos insumos produtivos entre tais atividades de acordo com suas estratégias. Isso denota a importância e necessidade da utilização de sistemas de produção como base ao entendimento das relações complexas derivadas das atividades agrícolas:

Afim de compreender a complexidade do funcionamento das explorações agrícolas e explicitar sua logica, o conceito de sistemas de produção se impõe pouco a pouco ao analisar e compreender as práticas produtivas dos agricultores. Quando a produção agrícola figura em lugar importante, é conveniente analisar e compreender as relações que se estabelecem entre os sistemas de produção e o sistema global de atividades do agricultor, tanto do ponto de vista da repartição da força de trabalho (em atividades concorrentes ou complementares) quanto do ponto de vista do acesso e da utilização do capital. (COCHET; DEVIENNE, 2006, p. 579) (tradução nossa)

Cochet e Devienne (2006) reafirmam que a abordagem analítica dos sistemas de produção permite formular hipóteses em relação às “perspectivas de evolução” das atividades agrícolas locais (além de suas interações/dinâmicas socioeconômicas), identificando problemas, gargalos e apontando as direções de eventuais mudanças das técnicas e práticas utilizadas pelos agricultores em determinado espaço rural. A partir dessa noção:

O termo sistema de produção indica que o foco está na estrutura, organização e operação das fazendas: entender o que os agricultores estão fazendo, como e por quê (como eles combinam uma série de atividades e práticas agrícolas dentro de sua fazenda, qual é a racionalidade de suas práticas, quais são as restrições técnicas e econômicas que enfrentam) e avaliam os resultados obtidos (desempenho técnico e resultados econômicos). (COCHET; DEVIENNE, 2006, p. 579) (tradução nossa)

Tristan e colaboradores (2009, p.1) complementam a discussão incorporando à noção de sistemas de produção a combinação das atividades produtivas e dos meios de produção (terra, trabalho e capital) distribuídos nos subsistemas de produção. Os subsistemas (de cultivo, de criação e de transformação) são caracterizados por seus itinerários técnicos, suas trajetórias históricas e pelos rendimentos das produções. Os principais parâmetros a serem considerados na

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análise da evolução dos sistemas de produção, segundo os autores são: a) o grau de diversificação e especialização dos subsistemas e b) o grau de utilização de capital e trabalho por unidade de área da unidade produtiva do agricultor.

Quadro 1 – Analisando os sistemas de produção agrícolas

Inicialmente procura-se avaliar as possibilidades de melhorar as condições para a reprodução econômica das explorações em função do tipo de sistema de produção adotado. Após, a partir da caracterização técnica e das avaliações econômicas da etapa anterior, é possível identificar atividades ou técnicas que possam contribuir para um aumento da produtividade e da renda dos agricultores, respeitando-se os estrangulamentos anteriormente detectados em cada tipo de sistema de produção analisado. Com base nestes resultados são definidas alternativas de ação técnica, organizacional, gerencial e de políticas públicas para o desenvolvimento dos diferentes tipos de unidades de produção, bem como estratégias de intervenção no processo de desenvolvimento local. É interessante salientar que tais alternativas devem ser avaliadas tanto do ponto de vista financeiro no âmbito das unidades de produção (por meio de fluxos financeiros baseados no potencial de renda gerada pelas atividades) quanto do ponto de vista do interesse econômico geral da sociedade (por meio da análise do potencial de agregação de valor das atividades).

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Figura 1 – Sistemas de produção inseridos na unidade de produção agrícola

Fonte: adaptado de Dufumier (2010); Mazoyer, Miguel e Roudart (2009). SISTEMA DE PRODUÇÃO:

UNIDADE DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR

Itinerário técnico/modo

de condução

INTERAÇÕES COM MERCADOS

Transformação Cultivo

Criação

SISTEMA SOCIAL:

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No final dos anos 1980, Jacques Brossier, professor do Institut National de la Recherche Agronomique (INRA) em Dijon, região da Borgonha, reforça que a ideia de sistema de produção não se traduz propriamente em novidade – reportando usos do termo no início do século XIX na França. Para países anglo-saxões o termo próximo farming system é mais recente, forjado sob o suporte de estudos particularmente sobre a dinâmica agrícola nos países em desenvolvimento no século XX. Desperta a atenção do pesquisador a profusão de termos não necessariamente utilizados com o mesmo sentido por economistas, agrônomos e geógrafos – além de agricultores e agentes correlacionados em seus cotidianos –, mas que apresentam alguma similaridade conceitual. Destacam-se, além de sistema de produção e

farming system (ou sistemas agrícolas, em tradução livre), sistema de cultura,

sistema de exploração, système d’élevage (sistemas de criação e suas conexões com o elemento humano e recursos naturais) e système d’agriculture (BROSSIER, 1987). Torna-se necessário analisar – e esse é um dos objetivos do autor em trabalho – se esses termos são equivalentes, complementares ou mesmo concorrentes, diante da diversidade de usos e apropriações pelas áreas do conhecimento. Um primeiro passo é a identificação de três grandes abordagens para a questão:

a) Abordagem microeconômica, próxima à tradição da Economia Rural francesa, gestada no âmbito das escolas de engenharia para a agricultura e agronomia do século XIX. Os sistemas de produção estão ligados à gestão da unidade produtiva. A condução das atividades agrícolas tem como objetivo o aumento das rendas – e, por conseguinte, lucros – do agricultor. O sistema de produção é compreendido como a combinação de fatores de produção e dos resultados da exploração agrícola. Aparentemente, a noção de sistema de cultura (agricultura e pecuária), système d’élevage e sistema de exploração fazem parte dessa abordagem, destacando-se o trabalho do agrônomo Adrien Étienne Pierre de Gasparin (1783-1862) na clássica publicação Cours d’Agriculture, em 1845 (BROSSIER, 1987; GASPARIN, 1845). Pode-se afirmar que essa abordagem ainda predomina nos séculos XX e XXI, especialmente quando associada a estudos agronômicos de eficiência de sistemas produtivos em termos de produtividade dos fatores de produção, evocando as discussões sobre intensificação dos usos da terra, do trabalho e do capital – congregando aqui biólogos e economistas rurais de viés

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microeconômico. Associações com as noções de produtivismo, análise comparativa de sistemas tecnicamente eficientes, agricultura autônoma e intensiva, busca pela crescente produtividade por unidade de área refletem a permanência do conceito de sistema restrito à combinação de fatores de produção, técnicas e tecnologias (e suas interconexões) à disposição dos agricultores.

Análise semelhante, na tradição anglo-saxã é sintetizada por Moraes e colaboradores (2014) ao descrever os chamados sistemas integrados de cultivo pecuária, ou ICLS de Integrated Crop-Livestock Systems. A ideia é bastante próxima à visão de sistemas de produção na abordagem de agrônomos e economistas rurais de formação técnica. Os ICLS são caracterizados como sistemas que enfatizam (ou que buscam enfatizar) as interconexões, interdependências e/ou sinergias entre lavouras, criações e recursos naturais (Figura 2), nas diferentes escalas geográficas de espaço e tempo, resultando em múltiplas abordagens das atividades agropecuárias e silvícolas (sequenciais, concorrentes ou complementares) de acordo com unidades de paisagens, hidrologias, geomorfologias e climatologias.

Os objetivos e benefícios dos ICLS geralmente versam sobre melhorias dos processos de produção agrícolas integradas, arrefecendo os riscos inerentes às atividades; as reduções de danos ao meio ambiente, uma vez que sempre é possível aproveitar as integrações – nutrientes, restolhos, forragens, resíduos, excrementos, etc. – para racionalizar os usos de máquinas, equipamentos e, principalmente, recursos hídricos e agroquímicos durante os tratos culturais; subjacente manutenção da biodiversidade, elevando o potencial em termos de segurança alimentar para os consumidores. As percepções de todo maior que a soma das partes dentro do sistema e da não oposição entre aumento dos rendimentos físicos das lavouras e criações produtividade e manutenção dos recursos ambientais permanecem na análise do ICLS. Existe ainda a vertente social dos benefícios, sugerindo a redução dos movimentos migratórios entre áreas rurais e urbanas, além do potencial de criação de novas oportunidades de ocupação no meio rural. A limitação principal aos sistemas integrados está ligada à produtividade das lavouras e criações, diante do aumento das demandas por alimentos. Existe a percepção de que os ICLS estariam mais associados a pequenas produções e áreas, com menores exigências técnicas e tecnológicas e baixos rendimentos das atividades agrícolas (GUPTA et al., 2012; MORAES et al., 2014).

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Figura 2 – Sistema integrado agricultura-pecuária (ICLS)

Fonte: extraído de Gupta (1992)

b) Abordagem que enfatiza aspectos sociais e suas influências sobre as alterações nos sistemas de produção. Os sistemas de produção são combinações de terra, força de trabalho e diversos outros meios utilizados para a produção agrícola (lavouras e criações). A peculiaridade está na observação às diferentes qualificações, habilidades e recursos da força de trabalho definindo as características dos sistemas. Faz-se necessário, portanto, abordar tipologias de sistemas de produção que captem a diversidade e dinâmicas das agriculturas, ou dos systèmes d’agriculture. Destaca-se o trabalho Mode de production et système

de culture et d’élevage, do engenheiro agrônomo, economista rural e diretor de

pesquisas do INRA no final dos anos 1980 Claude Reboul (1933-1987) (REBOUL, 1976);

c) Abordagem mais ampla que as anteriores, incorporando, para além da utilização dos recursos produtivos, uma série de aspectos, tais como as formas de exploração da terra, da organização e remuneração da força de trabalho, além da distribuição, comercialização e consumo da produção agrícola. Aqui Brossier (1987)

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destaca o trabalho do professor Robert Badouin (1925-2014) L’analyse économique

du système productif en agriculture (BADOUIN, 1987).

Complementando o alcance dessa última abordagem, os também professores do INRA Gilles Allaire e Michel Blanc (ALLAIRE; BLANC, 1979) definem “sistema social de produção”, conjunto das relações entre agricultores e suas unidades produtivas, envolvendo as “contradições, conflitos e cooperações” decorrentes. Ressalte-se a particularidade dessas relações a cada espaço geográfico, com suas trajetórias históricas e sociais. Estabelece-se a separação entre o caráter microeconômico e formalmente técnico do sistema de produção, chamado pelos professores de sistema elementar de produção, e privilegia-se a abordagem de natureza social.

Apesar das tentativas de distinção, Brossier (1987) aponta a gradual utilização do termo sistemas de produção tanto para indicar as atividades estritas, relativas à gestão das unidades produtivas, quanto para a incorporar a “dimensão social” da questão. Seja com diferentes sentidos, o autor afirma a necessidade primária do entendimento do sistema, considerando fundamentais as conexões e interdependências (e não justaposições) entre culturas, criações e transformações e todas as combinações e sinergias existentes. Igualmente fundamentais, as influências e estímulos externos determinam, estruturam e reestruturam os sistemas e seus componentes, caracterizando a dinâmica das atividades produtivas. A modernização e o progresso técnico agrícola decorrem da evolução dessas interdependências, estímulos, influências e transformações em consequência. São ações que explicam as escolhas de técnicas e tecnologias e, no limite, refletem as alterações dos usos de capital e trabalho nas atividades agrícolas.

Referências

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