• Nenhum resultado encontrado

A cravagem de centeio : acção phisiologica e emprego therapeutico

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A cravagem de centeio : acção phisiologica e emprego therapeutico"

Copied!
65
0
0

Texto

(1)

JfMí

III

4 CRAVAGEM I I I I

AGCÃO PHISIOLOGICA E EMPREGO THERAPEUTICD

DISSERTAÇÃO MAUGDRAl

APRESENTADA A

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

PARA SER DEFENDIDA SOB A PRESIDÊNCIA

DO BX.m0 SHE.

U G U S T O ^ H E N R I Q U E D ' ^ L M E I D A ^ A N D A O

FOB

AUGUSTO JOSÉ DOMINGUES D'AUAUJO

-*v£jffip2-',*;:

PORTO

TYB. DE ALEXANDRE DA FONSECA VASCONCELLOS

Kua do Moinho de Vento, 29

1880

(2)

DIRECTOR

CONSELHEIRO MANOEL MAEIA DA COSTA LEITE SECRETARIO

VICENTE DRBINO DE FREITAS

CORPO CATHEDRATICO

LENTES CATHEDRATICOS l.a Cadeira^-Anatomia descriptiva e

geral J0J0 Pereira Dias Lebre.

?'« padeira—Physiologia , Antonio d'Azevedo Maia. 3.a Cadeira—Historia natural dos

me-dicamentos. Materia medica Dr. José Carlos Lopes. 4.* Cadeira — Pathologia externa e

* » 'nfrapeutica externa Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5." Cadeira—Medicina operatória... Pedro Augusto Dias.

6.a Cadeira — Partos, moléstias das

mulheres de parto e dos

reeem-. a nascidos Dr. Agostinho Antonio do Souto.

7." Cadeira — Pathologia interna —

Therapeutica interna Antonio d'Oliveira Monteiro. 8.a Cadeira—Clinica medica Manoel Rodrigues da Silva Pinto

9 .» Cadeira- Clinica cirúrgica Eduardo Pereira Pimenta. 10.» Cadeira—Anatomia pathologica.. Manoel de Jesus Antunes Lemos. 11.a Cadeira—Medicina legal, hygiene

privada e publica e toxicologia

,n a J"1!3? ^ : D r- JoséF. Ayres deGouvêa Osório.

12. Cadeira — Pathologia geral,

se-meiologia e historia medica Illidio Ayres Pereira do Valle. Pharmacia Vaga.

LENTES JUBILADOS Dr. José Pereira Reis. José d1 Andrade Gramaxo.

João Xavier d'Oliveira Barros. Antonio Bernardino d1 Almeida.

Luiz Pereira da Fonseca.

Conselheiro Manoel M. da Costa Leite. LENTES SUBSTITUTOS

Secção medica ! Vicente Urbino de Freitas. " I Miguel Arthur da Costa Santos. Secção cirúrgica j Augusto Henrique d'Almeida Brandão.

" "} Ricardo d'Almeida Jorge. Secção medica...

Secção cirúrgica.

LENTE DEMONSTRADOR

Secção cirúrgica Cândido Augusto Corrêa de Pinho. _ A Escola não responde pelas doutrinss expendidas na dissertação e enun-ciadas nas proposições.

(3)

O I L L .m° E E X .m° SNB.

d Hl Til

«p^ío fteimíjue Olmeidít Irandão

COMO PENHOR DO MAIOR RECONHECIMENTO E CONSIDERAÇÃO

©. ©. e <&

(4)

O estudo phisiologico e clinico da cravagem de centeio, foi precedido do sen estudo toxico, por isso que as assoladoras epidemias a que o pão que con-tinha esta substancia dava origem, era incentivo de mais, para que o seu estudo se não fizesse esperar. Essas epidemias tornaram-se notáveis sobre tudo em França pelas innumeras victimas que causavam, e que alcunhavam de castigo de Deus, de fogo de Santo Antonio, etc., etc., e que não era mais do que os effeitos tóxicos da cravagem de centeio, ou melhor, o ergotismo. Em Portugal as mesmas epidemias se no-taram no districto de Vizeu em 1850 e 1854, como nos conta o snr. Macedo Pinto.

Se tratássemos de historiar o ergotismo, o que fa-ríamos se esse fosse o nosso thema, descrevefa-ríamos minuciosamente as epidemias que se tem dado, bem como o syndroma clinico, que as caractérisa, porém como esse não é o ponto sobre que temos de disser-tar, e além d'isso seria longo, passaremos a historiar a cravagem de centeio, desde que entrou no foro me-dico, e digo no foro meme-dico, por isso que por bas-tante tempo, eram mais os historiadores, que os me-dicos que tratavam d'esta substancia.

Crê-se que o primeiro experimentador foi o Ur. Thuilier, que em 1676, estudou esta substancia ali-mentando animaes, e em 1688 já Camerarius assi-gnalava os seus effeitos em provocar as contracções

(5)

uterinas e designava os pós da cravagem, pós do parto. É na mesma epocha, segundo diz Paul Ber-nard, que apparece a sua indicação contra as hemor-rhagias uterinas. M. Salerne em 1748 e Model em 1760, tratando de continuar os trabalhos dos seus an-tecessores, reconheceram certos effeitos da cravagem, mas a medicina pouco adiantara com isso. O acaso e mesmo a experimentação tinham feito reconhecer ef-feitos preciosos, porém o seu modo de actuar no organismo, o guia mais seguro para raciocinar as suas indicações e contra-indicações, esse faltava. Para isso só havia dous caminhos a seguir, o raciocínio e a experimentação. Aquelle era o meio mais longo e mais incerto, porque segundo as ideas hypotheticas que se fizessem da acção phisiologica, as conclusões deviam ser différentes e incertas.

Podia-se sempre discutir o raciocínio, emquanto que o ponto de partida não fosse um facto verificado, e que a conclusão não fosse verificável também.

É pois o segundo caminho, o da experimentação, que todos os pharmacologistas modernos seguem, e n'este grupo entra Holmes que n'uma these escripta em 1870 trata largamente este assumpto.

Seguindo porém a historia, que deixamos em-Sa-lerne e Model, diremos que, em 1780 Muller apre-sentava o primeiro ensaio da interpretação da acção da cravagem, attribuindo-a a partes salinas e acidas, que irritavam as fibras musculares, produzindo con-vulsões.

Tissot admitte duas explicações, uma que actua-va sobre os nervos,- outra que putrefazia o sangue e consecutivamente a gangrena.

Sauvages pelo contrario admitte um principio mias-matico que coagularia o sangue.

Em 1820 Bailly explicou todos os effeitos da cra-vagem por uma forte irritação sobre os nervos, e de-pois por uma acção directa sobre a circulação, nuindo a contractibilidade, conseguintemete a dimi-nuição na velocidade do sangue, a estagnação e a

(6)

coa-gulação do sangue nas veias. Assim julgava Bailly ex-plicar a pallidez dos músculos e o seu arrefecimento. É certo hoje que aquella causa produziria precisa-mente o inverso. Gaspard no Jornal de Philosophia de 1822 reapparece com a opinião das propriedades pútridas da cravagem, confundindo as manchas lívi-das e gangrenosas, com as manchas escorbuticas, mais consequência das más condições hygienicas, do que do uso dos alimentos com cravagem. Villeneuve em 1827 na sua memoria, apresenta a opinião de Chatard, medico americano, opinião um pouco rasoa-vel, de que o utero durante o trabalho é o centro d'uma actividade que faz com que se lhe attribua uma acção, que n'outro caso seria espalhada por todo o organismo. Além d'isso Villeneuve diz, que o utero é dotado durante a gestação d'uma sensibilidade mais exquisita, talvez até particular, e recebendo ou exer-cendo sympathicamente effeitos múltiplos, pôde no momento da parturiação adquirir uma sensibilidade tal, que seja sympathicamente mais ou menos im-pressionavel pela cravagem. N'estas duas opiniões ha alguma cousa de verdade; que um órgão inteira-mente muscular, enormeinteira-mente desenvolvido como é o utero no momento do trabalho, está admiravel-mente preparado para servir de reactivo aos medica-mentos próprios a actuar sobre as fibras musculares lisas não se contesta, e isto explica porque nenhum outro órgão é tão intensamente influenciado pela cra-vagem, como este, e mesmo tão sensível.

D'aqui se vê também que, quando existem poly-pos de utero ou outros tumores, a cravagem actua in-tensamente. Já vemos pois que n'esta epocha se tra-tava de explicar a acção electiva sobre o utero; e no mesmo anno apparece Courhaut a admitlir a influen-cia sobre os vasos produzindo a sua retracção, guiado pelos phenomenos da circulação. Estes porém eram mal interpretados. Muitos outros pharmacologistas, como Langius, Trousseau, Maisonneuve, Bonjeau, Sa-lerne e outros admittiam a acção sobre os vasos e

(7)

apontavam a tumefação das veias. Este ultimo, san-grando uma veia, notou que corria pouco sangue e até babava segundo a sua propria expressão. Este fa-cto não se explicava senão pelo obstáculo á circulação nas arteriolas como suppunha já Courhaut. Não se podendo porém explicar a admittida retracção das ar-teriolas, e na impossibilidade de explicar a acção da cravagem sobre o utero e as convulsões, outras opi-niões appareceram. Assim Mialhe e Arnal crêem n'uma acção sobre os albuminóides do sangue, coa-gulando-os. As autopsias porém, immediatas á morte, envalidavam este modo de ver, por isso que o san-gue não apparecia coagulado, nem mesmo no cão, que se coagula rapidamente post-mortem.

Goupil em 18á7 admitte que a cravagem tem uma acção especifica quer sobre o plexo hypogastrico, quer sobre os ganglios, que lhe dão origem produzindo acção análoga á dos venenos. Em 1830 Sparjani fun-dado em factos tberapeuticos, espistaxis, hemoptises, etc., admitte uma acção sobre os vasos que faz contra-hir, tanto em relação ao utero, como aos restantes do organismo. Os factos que justificavam este modo de ver eram diminutos e insufficientes, e tanto assim que em 1831 ainda Roche semelha a gangrena ergotica á gangrena senil.

D'aqui avante principiam a ser emittidas opiniões que muito se aproximam das actualmente seguidas. Apparece então Muller, de Stettin, deduzindo a sua acção sobre os capillares das vantagens que lhe reco-nheciam nas hemorrhagias ; e pelo contrario Trous-seau e Maisonneuve attribuindo os seus effeitos á acção sobre os centros nervosos. No meio d'estas opiniões já bem adiantadas apparece Hamilton, se-gundo cita Pereira, dizendo que a cravagem do cen-teio actuava sobre o utero influenciando sobre a

ima-ginação dos indivíduos que a ingeriam.

Parola em 1844 e Bonjeau em 1845, reconhece-ram a acção sobre as arteriolas, ou melhor, presumi-ram-na, dizendo Bonjeau que o cérebro era o primeiro

(8)

a ser influenciado. Ora realmente onde encontramos este assumpto magistralmente tratado é por G. See, fazendo variadíssimas experiências e concluindo: 1.° enfraquecimento notável ainda que passageiro da cir-culação ; 2.° regularisação duradoura e manisfesta do pulso; 3.° perda completa de sua força e resistência. Esta ultima conclusão porém não é hoje geralmente acceite, como veremos, e além d'isso See não procu-rava relacionar os différentes phenomenos ergoticos. Em 1847 Sovet foi mais completa, concluindo: 1.° que a cravagem fazia contrahir as artérias; 2.» que por esta contracção suspendia as hemorrhagias ; 3.° que é pelo mesmo mechanismo que excita as contra-cções do utero, da bexiga e dos outros músculos pa-ralysados. Todas estas conclusões tinham o defeito de não serem baseadas em constatações direitas.

Em 1850 ainda houve quem quizesse attribuir a contracção do utero á contracção vascular, a que J. Simon se oppoz, considerando estes dous phenome-nos como dependentes d'uma e mesma causa, a con-tracção das suas fibras musculares. Por essa mesma occasião Strahle considera a cravagem como um nar-cótico, paralysando os pequenos vasos, donde a estase do sangue na peripheria, e attribue a contracção do utero a uma acção excitante, especifica sobre o plexo hypogastrico.

Allier em 1860 admitte uma estimulação sobre o systema nervoso, sobre tudo para os nervos da be-xiga e do utero, considerando todos os outros pheno-menos como mysteriosos. Desde 1862 até 1870 appa-recem ainda pharmacologistas que suppoem uma acção na crase do sangue, e outros com opiniões compre-hendidas nas apresentadas.

Por este resumo histórico vemos quão variadas tem sido as explicações propostas sobre o modo de acção da cravagem, umas mais justificadas do que ou-tras, sem comtudo nenhuma d'ellas estar authorisada a impor-se com aquelle cunho scientifico, que a ex-perimentação só pôde dar, quando bem feita, e

(9)

cor-roborada pela constatação directa das conclusões que d'ella emanam. Admitte-se que se não tivesse cons-tatado de visu a excitação cerebral, como queriam uns, nem a putrefacção do sangue, como queriam ou-tros nem a sua acção especifica sobre o plexo hypo-gastrico, como queriam ainda outros, etc., etc. ; o que porém se podia de certo verificar era a retrac-ção dos pequenos vasos, em que a maioria dos pharmacologistas, como vimos, concordavam, e que só vimos verificada depois de 1870, cabendo tal glo-ria a Holmes, como vamos ver.

Antes de entrarmos no estudo da acção phisiolo-gica, diremos alguma cousa, o mais resumido possí-vel sobre a sua historia natural.

A cravagem de centeio é um parasita, que usurpa na espiga do centeio o lugar do grão bom. A este respeito não ha duvidas, o que não succède quando se estuda a sua natureza e origem. Muitas opiniões se tem apresentado e defendido ; como porém não nos pertence discutil-as, apenas as enunciaremos apresentando por ultimo a mais geralmente acceite, taes são :

i.° — Schneider e Taube dizem que é devida a uma substancia amelada que com o orvalho pe-netra no grão.

2.°—Bondary attribue-a á natureza do estrume; 3.° —Bosc, Rosier e outros consideram-na como devida

a um excesso ou má qualidade de sueco nu-tritivo ;

4.° — Vauquelin e Very suppõe que seja resultante da putrefação ;

5.°—Parmentier crê que provém da casca do grão, fraca ou alterada ;

6.°—Bequillet, Bernard de Jussieu e outros conside-ram-na como resultante d'uma falta de fecun-dação ;

(10)

7.° —Duhamel e Ray pensam que seja devida á pica-dura de certos insectos, ou para se nutrirem, ou para depositarem seus ovos, dando a des-organisação do grão;

8.°—Paulet, de Gandolle e Leveille avançam que a cravagem é um vegetal novo, apparecendo no lugar do grão. Seria um verdadeiro parasita, um cogumelo do género sclersticum, que de-senvolvendo-se sobre o ovário, mata o gér-men, substituindo-o. Para dar uma idéa exa-cta d'esté parasita citarei as proprias pala-vras de Baudelocque na sua memoria sobre a cravagem de centeio apresentada á Acade-mia de Medicina em 4842 :

«Ce jenue médecin, dit-il, M. Léveillé, ayant obser-ve attentiobser-vement le seigle ergoté à différentes époches de son développement, découvrit que cette production se composait de deux parties tout á fait différentes : l'une qui n'est autre chose que l'ovaire non fécondé, et qui est l'ergot que tout le monde connaît; l'autre á peine visible, á peine observée, parce qu'on ne l'aperçoit qu'à une certaine époque du développe-ment de l'ergot, susceptible de se détacher avec la plus grande facilité, ou bien de tomber en diliquium sous l'apparence d'un suc visquex qui s'écoule.

«Cette dernière partie est un véritable champi-gnon, auquel M. Léveillé donne le nom de sphacela-ria segetum á cause de la propriété qu'il lui prête de déterminer lá gangrène, lorsqu'l est pris á l'inté-rieur pendant quelque temps... Celui-ci se montre á l'extrémité libre de l'ergot, sous forme d'un corps jaunâtre, conique, de volume variable, ayant quelque-fois plusieurs lignes de longueur, parsemé d'ondula-tions irrégulières et très-petites. Sa base divisée en quatre ou cinq parties, embrasse de toutes parts l'ex-trémité externe de l'ovaire ergotisé. Son sommet est arrondi ou tuberculeux, et présente quelquefois des poils qui sont étrangers à sa composition.

(11)

écou-1er um liquide de consistance oléagineuse qui se des-séche sur l'ergot, y forme une croûte mince d'un jaune sale, laquelle se fendille et se détache par la suite sous forme d'écailes. Petit á petit, la sphacé-laire diminue de volume, se desséche, se ride et se sépare avec la plus grande facilité de l'ovaire ergoté. La sphacélaire ne prend pas toujours um développe-ment aussi régulier...

«Lorsque le temps est pluvieux, á l'époque où le champignon a pris tout son développement, ce cham-pignon est lave; le suc qui s'en écoule est mêlé, en-traîné avec l'eau ; il ne reste sur l'ergot aucune trace de son existence. Souvent la sphacélaire elle même est entraînée ; d'autres fois elle est réduite à un très-petit volume.

En général, l'ergot (claviceps purpurea sclerotium dams) est une plante parasite, de la famille des champignons. Ce serait même, pour Léveillé, un vé-ritable champignon arrêté dans son développement. En effet, planté dans une terre humide, ou le voit continuer son évolution et se transformer en une plante voisine d'agaric. Du reste, l'analyse chimique y démontre lés principes ordinaires de champignons. Lorsque les circontances particulières favorisent son développement, on voit les étamines et les pistils se coller ensemble au moyen d'une substance miel-leuse qui empêche la fécondation et qui n'est autre que le sphacelaria segetum de Léveillé, peut-être aussi le miellat, que Schneider et Taùbe, ayant né-gligé de remonter jusqu'aux causes premières de lá maladie, en avaient pris pour point de départ alors qu'elle n'en est qu'ne manifestation.

L'ergot parît alors sur le sommet de l'ovaire dont il soulève Pépiderme qui s'en détache; il est mou, visqueux, d'un blanc jaunâtre, puis se développe, en-traînant á sa partie supérieure la sphacèle qui cons-titue un petit paquet de matière cérébriforme molle, blanchâtre, qui coule même sur le champignon et qui finit par disparaître en séchant.

(12)

Si alors on confiait ce grain ainsi modifié á la terre humide, il donnerait, au bout d'un certain temps, naissance á de petites sphères, constituant de petits champignons garnis d'une tête et d'un support que Tulasne désignait sous le nom de «claviceps pur-purea.»

Il y a donc clans l'ergot, trois états que l'on peut représenter comme il suit : «la sphacéle, l'ergot, le claviceps.»

Propriedades phisicas. — Antes de apontar as pro-priedades phisicas, diremos que a cravagem tem vários nomes vulgares, segundo as províncias. Assim conhe-cem-na com o nome de: cravagem de centeio, ferru-gem do centeio, esporão do centeio, etc.

Nós empregaremos o mais commum que é o de cravagem de centeio, ou simplesmente cravagem.

A cravagem tem uma forma alongada, um pouco curva, cylindrica, tumefacta na parte media, sulcada longitudinalmente, apresentando-se ás vezes triangu-lar, com seus bordos rombos e ás vezes com cristas. Seu comprimento varia de í a 5 centímetros e sua grossura de 1 a 6 millemetros. A sua côr é escuro-violeta e ás vezes acinzentada. Secca e bem conser-vada é inodora; o seu sabor, quando mastigada, é acre e estyptico. Nas fossas nasaes produz um purido

análogo ao do tabaco. Inflamma-se facilmente dando uma chamma azul.

Composição chimica.—As analyses chimicas d'esta substancia são também innumeras.

Em 1817 Vauquelin dá á cravagem os seguintes princípios: uma materia corante violeta, acido livre, que suppunha ser o phosphorico, uma materia azo-tada e ammoniaco livre.

Em 1832 apparece a analyse de Wiggers mais completa e que Gubler aceita attribuindo-lhe os se-guintes princípios: óleo gordo branco, materia gorda crystalisavel muito molle, cerina, materia, fongosa, ergotina, osmazome vegetal, assucar de cravagem, materia gommosa extractiva misturada com um

(13)

prin-cipio corante, (azote vermelho do sangue), albumina vegetal, phosphato acido de cal, combinado com tra-ços de ferro, e acido siliaco.

A de Bonjeau é a ultima, e segundo diz Leteurte na sua historia da cravagem de centeio publicada em 1871, é a melhor analyse. Para elle a crava-gem contém : óleo fixo, ergotina, resina branca, um pó vermelho inerte insolúvel no alcool e no ether, gomma, gluten, albumina vegetal, fungina, materia corante violeta, chlorureto de sódio, phosphato acido de cal, oxido de ferro, cobre, fibras linhosas e agua. Ha mais analyses anteriores a esta, porém julga-mos sufficientes as apresentadas, e tanto mais que são as mais seguidas, por isso passaremos ao estudo da acção phisiologica.

(14)

Apparelho digestivo

As manifestações da cravagem ou da ergotina n'este apparelho são pouco importantes. Na cavidade bocal re-duzem-se apenas a um gosto acre, estyptico, e se a dose fôr sufficiente produz mais tarde diminuição na secreção salivar. Na garganta produz uma seccura bastante intensa. No estômago apparecem nauseas, e ás vezes vómitos, sede, e segundo alguns authores haveria também perda de appetite e dores. Leteurte, porem, diz que podem apparecer todos estes sympto-mas, sem que o appetite seja modificado. Um dos symptomas mais constantes do apparelho gastro-in-testinal, e que todos os pharmacologistas que se oc-cupam d'esta substancia, tem notado, é uma consti-pação pertinaz, e contracções enérgicas sobre tudo do intestino delgado. Estas contracções foram verifi-cadas por Laborde e Peton abrindo a cavidade abdo-minal, e injectando depois a ergotina. Estas mesmas contracções se haviam já notado atra vez da parede abdominal desenhando-se as ansas intestinaes. Este facto da contracção intestinal parece estar em contra-dicção com a constipação, porém não está realmente

(15)

por isso que a contracção é egual sobre todo o in-testino, bera como a seccura da mucosa, devida a constricção vascular, propriedade aproveitável na the-rapeutica como veremos.

Apparelho circulatório

Coração. — Os movimentos do coração tem sido notados por diversos authores, como são Parola, Mil-let, See e Holmes, etc. Este ultimo, que foi com cer-teza, o que mais tem concorrido para o estudo da cravagem de centeio, fez experiências em rãs, pondo-lbes o coração a descoberto, e applicando a umas o curare e a outras além do curare a ergotina, para comparando reconhecer o que de facto pertencia á ergotina. Assim nas rãs simplesmente curarisadas as pulsações cardíacas desciam de 62 a 38 em meia hora, e nas ergotisadas de 80 a 60. Não havia modifi-cações no volume da onda sanguínea, nem no rythmo na primeira, pelo contrario na segunda a onda ventri-cular era menos volumosa.

A diastole fazia-se mais lentamente, produzindo assim a diminuição no numero das pulsações, e termi-nava por ser incompleta, apesar das auriculas se con-trahirem vivamente e de enviarem menos sangue. As mesmas experiências feitas em rãs não curarisadas confirmaram os resultados observados, notando-se ape-nas que a systole se fazia mais energicamente, e que a diminuição do numero das pulsações, se bem que era constante, variava. Assim n'umas descia de 40 a 20 pulsações n'uma hora, outras vezes em meia hora de 46 a 26, e ainda 62 a 20 n'um quarto d'hora. O facto dominante, como se vê claramen-te, é o da diminuição no numero das pulsações, e da menor quantidade de sangue impellido a cada systole. A que serão devidas taes manifestações do lado do coração? Era natural suppor um certo en-fraquecimento do lado do coração, se a diastole fosse

(16)

normal, e a systole prolongada e incompleta, porém dando-se precisamente o contrario, além da retra-cção arterial de que logo fallaremos, não encontra-mos outra explicação mais rasoavel de^ que, taes ef-feitos são devidos ao excesso de tensão nas artérias e ao excesso de trabalho que o augmento d'esta re-sistência oppõe ao coração. Segundo See as pulsa-ções cardíacas quando irregulares tornam-se regula-res, e esta regularidade é bastante duradoura, do se tracta de indivíduos com lesões cardíacas, quan-do porém ha simples modificação funccional, pro-veniente quer do estado anemico quer da excitação nervosa, essa regularidade não se dá, ou melhor não è apreciável.

Artérias. É nas artérias que encontramos as mo-dificações mais importantes produzidas pela cravagem, ou pelo seu extracto. Antes de Holmes ninguém ha-via visto a contracção arterial, muitos a tinham pre-sumido, porém ninguém verificado. Essa gloria per-tence a Holmes. Este sábio serviu-se nas_suas expe-riências de ergotina de Bonjeau em injecções na pelle de rãs, de cravagem em pó introduzido directamente no estômago, e ainda de maceração de cravagem em injecções, e com qualquer d'estes preparados pharma-ceuticos, elle verificou na patta do animal e na lin-gua a contracção arterial, servindo-se para isso do microscópio e d'uma camará clara, onde se desenha-vam os dous contornos que marcadesenha-vam o diâmetro do vaso. Para evitar toda a causa d'erro relativa á mobi-lidade, e ao traumatismo, curarisou o animal, para pôr de parte a mobilidade ; ainda lhe restava porém a influencia do ar, a posição anormal, etc., e para se precaver contra todas as causas de erro, traçou vários desenhos na camará clara, antes da applicação do seu preparado ergotico, e notou que não havia modifica-ções no diâmetro do vaso. Todas as modificamodifica-ções que depois se dessem seriam com todo o fundamento de-pendentes da cravagem. Em 11 experiências observou elle uma constricção rápida e duradoura manifestar-se

(17)

em 9 minutos depois da injecção na coxa, e perma-necendo o mínimo 24 minutos, e o máximo 1 hora e 20 minutos. «En resume, diz elle, l'injection sous-cutane de 4 à 6 gouttes de maceration aqueuse, froide, suffit pour provoquer, en 8 a 11 minutes, une contraction sensible des artères de la langue, contraction que dure de 25 a 33 minutes dans les cas ordinaires, et peut se prolonger beaucoup plus.» Depois de Holmes, que muitas vezes repetiu com egual successo as experiên-cias citadas, foram ellas renovadas de différentes ma-neiras e em différentes animaes; por Brieseman, Po-tel, e Eberty sobre as arteriolas da membrana natato-ria de mesenterio da rã ; por Brown-Sequard nas arte-riolas da espinal medulla; por Patrich e Nichol nas suas observações ophtalmoscopicas, e ultimamente La-borde e Peton em exames directos sobre orelhas de coelhos, confirmaram os resultados obtidos pelos ex-perimentadores citados. A contracção das arteriolas traz consecutivamente o augmento de tensão, uma congestão passiva nos vasos en amont, como dizem os francezes e de que faltaremos.

Capillares. — Soffrerão os capillares acção directa dos preparados da cravagem de centeio? Parece que não; porisso que os elementos anatómicos sobre que elles actuam não existem n'elles, e as modificações que observamos são dependentes das modificações das arteriolas. Nós sabemos que a pressão nos capillares e a velocidade do.sangue na sua rede, será tanto maior, quanto maior fôr a quantidade de sangue que alli chegue n'um dado tempo. Sabemos também que a contracção das arteriolas aórticas augmenta a resistên-cia que já a sua estreitesa oppõe ao curso do sangue, d'aqui podemos concluir que deve augmentar a velo-cidade, mas esta velocidade não compensa de modo algum a resistência que augmentou.

D'aqui resulta que não sendo o calibre dos capilla-res modificado, e a receita sendo menor, seguir-se-ha que a pressão deve n'elles ser menor, e o escoamento ou despeza n'um dado tempo menor também.

(18)

Todos sabem que a quantidade de liquido que sae n'iim tempo dado por uma cânula d'uma seringa de-pende mais do diâmetro d'essa cânula do que da pres-são; porque por maior que seja a pressão, pela cânula não sahirá mais liquido, do que o que ella pôde com-portar, o que succederia se ella fosse mais larga, por-que n'esse caso sahiria mais, ainda por-que a pressão fosse menor. A circulação é difficultada nos capilla-res e comparada até certo ponto com o que se passa na anemia, onde tia diminuição na chegada de mate-riaes úteis. Este afrouxamento na circulação capillar depende, como dissemos, da menor quantidade de sangue que as arteriolas ahi deixam chegar, e a sua tenção aproximar-se-ha da das veias. D'aqui vemos que se dá nos capillares uma estase sanguínea, mas não produz o oedema que as estases ligadas a lesões cardíacas produzem, porque n'estas ha concomitante-mente augmento de tensão nas veias e nos capillares, e n'aquellas a tensão diminue porque chega menos sangue. Isto ainda nos explica porque não apparece a albumina nas ourinas, mas o arrefecimento, pallidez e diminuição do volume dos membros. A contracção das arteriolas, que nos dá conta das modificações ca-pillares, nos vae ainda explicar as modificações do lado das veias.

Veias.—As perturbações venosas não teem sido reconhecidas por meio da experimentação mas sim pela observação e confirmadas pela autopsia. Todos os authores são concordes em ter presenciado nas veias o seu engorgitamento e tumefação. Holmes diz ter notado depois da morte a sua distensão tanto em relação ás veias da pelle como ás das grandes cavida-des esphlanchnicas : veias e seios da dura mater e ra-chis, veias cavas, veias e artérias pulmonares.

Parece estranho que isto succéda, quando, como acabamos de ver, o sangue chega em menor quanti-dade que no estado normal sendo por tanto de espe-rar que ellas se retrahissem. A quantidade de san-gue nas veias pôde augmentar: 1.° quando a receita

(19)

sendo a mesma a despeza fôr menor ; 2.° quando au-gmente a receita sendo a despeza a mesma. A re-ceita longe de augmentar diminue, logo tal replecção do systema venoso não poderá dar-se, senão quando a despeza diminue. E' realmente o que se dá.

Gomo vimos as arteriolas contrahem-se considera-velmente, impedindo que n'ellas passe a quantidade de sangue que costuma passar, e este sangue accumu-la-se então nos grossos vasos arteriaes, que a seu turno vão impedir que o coração funccione normalmente, como vimos. O coração esquerdo portanto dificul-ta a circulação pulmonar e consecutivamente a circu-lação no coração direito, cujo sangue que sáe encon-tra obstáculo ao seu curso, na artéria pulmonar, no coração esquerdo e suas dependências. O coração di-reito não podendo n'um tempo dado expulsar a quan-tidade de sangue que recebe das veias, necessaria-mente se ha de accumular em todo o systema venoso, cuja capacidade é grande, e cujas paredes se dilatam com facilidade; podendo, como diz Paul Bernard, ar-mazenar-se n'elle uma quantidade relativamente con-siderável, sem augmentar notavelmente a tenção san-guínea. Ha aqui uma completa analogia com o que se dá na insuficiência das válvulas cardíacas.

Modificações na tensão. — Holmes querendo reco-nhecer as modificações da tensão, que elle esperava, depois da contricção das pequenas artérias, applicou o manómetro ao qual tinha adaptado o apparelho re-gistrador de Marey, para pelos seus traçados melhor avaliar as modificações de pressão. Para obter resul-tados os mais precisos possíveis teve um certo nu-mero de precauções que julgamos desnecessário apon-tar. Applicando o apparelho na carótida primitiva d'um cão, injectou 3 grammas da solução de extra-cto aquoso da cravagem.

Antes porém, da injecção, que foi na veia jugular, poz o cylindro registrador em movimento a fim de n'elle se traçar o nivel normal e geral da tensão cir-culatória do "cão em experiência, para depois

(20)

compa-rar com os caracteres apresentados depois da inje-cção.

O traçado que se seguia á injecção foi bem cara-cterístico, por isso que houve uma depressão con-siderável, de 15 centímetros á que estava, desceu em alguns segundos a 7 e 8. Esta depressão era progressiva, a não ser uma pequena elevação corres-pondendo aos gritos e esforços do animal, cujo me-chanismo mais tarde explicaremos. Estas elevações não trazem causa de erro ao resultado obtido, por-que são constantes, e apenas são de 1 a 2 centíme-tros, e pouco duradouras, 1 ou 2 segundos. Depois d'esta depressão principia a pressão a subir gradual e progressivamente passando do nivel normal, e che-gando a subir 5 centímetros, para depois descer e fi-car na normalidade. O augmento d'esta pressão va-riava entre 0,1 centímetros e 0,5 e a sua duração entre 2 segundos e 36 minutos, variações dependen-tes da rapidez da penetração no sangue da injecção e da dose empregada. A diminuição da pressão é ter-mo medio de 65 millimetros, e a sua duração é bas-tante variável, sendo comprehendida entre 10 minu-tos e 36 segundos.

O mais importante porém é a constância mais ac-centuada na depressão do que na ascensão, havendo casos até em que se não notou a ascensão consecu-tiva, e de que daremos a explicação.

Esta depressão surprehendeu Holmes que não es-perava tal resultado, pelo contrario á vista da con-tracção das pequenas artérias, esperava um augmen-to de pressão simplesmente. Lembrou-se que se-ria devida á irritação produzida pela substancia toxica sobre o sangue, e em seguida sobre o coração. Esta explicação não podia admittir-se porque sendo quasi todas as suas injecções feitas com 1 grammas d'uma solução de 0,25 centigrammas de extracto para 0,75 d'agua, por meio da seringa de Pravaz, o mais len-tamente possivel, e por semi-voltas do pistão, succe-dia, segundo Holmes, que, passando 5 grammas de

(21)

sangue por segundo na veia jugular, a quantidade de extracto contido n'uma goita de solução, chegaria ao coração diluído em 400 vezes seu pezo de sangue. Esta substancia n'estas condições seria insufficiente para ser irritante, além de que nada nos authorisa a suppor na substancia tal propriedade.

Além d'isso, notou-se, que quando a injecção se fazia na artéria crural, a depressão era bastante mais considerável do que quando se fazia na veia crural, e comtudo n'esta ia menos diluída no sangue.

Seria tal depressão dependente da existência d'um corpo estranho no sangue ? Não é possivel, porque Holmes, injectando n'um cão 3 grammas d'agua fria, depois S grammas d'uma solução de sub-carbonato de soda, e por ultimo 3 da solução de ergotina, os tra-çados correspondentes destruíam completamente tal hy-pothèse. Attribuiu-se ainda á excitação dos nervos depressores e do pneumogastrico ; porém a tal res-peito diz Holmes o seguinte :

«On voit (fig. 4), que la section des deux depres-seurs (vérifiés avec soin, avant d'etre sectionnés), n'a empêché une chute soudaine pendant une injection.» Mais abaixo diz, referindo-se a uns traçados da sua monographia sobre a cravagem do centeio:

«J'en dirai tout autant des pneumogastriques : fig. 6, leur section jointe á celle de deux depresseurs a donné une ascension immediate. J'ai repete également ces experiences en les variant, et je n'ai pas réussi davantage á faire la part de nerfs vagues dans ce phé-nomène.

Gomo explicar pois tal depressão? A explicação está ainda dependente da acção que as preparações ergoticas tem sobre a fibra muscular lisa. Supponha-mos a ergotina introduzida quer directamente, quer por via hypodermica, quer ainda pelo estômago, nas veias cavas superiores ou inferiores. N'estes vasos nada influenciará, não só porque n'elles existem pou-cas fibras, como também porque estão separadas por uma tunica interna muito espessa. Passará ao coração

(22)

direito, e entrando na artéria pulmonar onde encon­ tram os primeiros elementos susceptíveis de serem in­ fluenciados, as fibras lisas, com ellas se demorará. D'aqui resulta que produzirá a contracção das arterio­ las pulmonares, e portanto o augmente de tensão n'esta artéria, que a seu turno por intermédio do coração di­ reito, determinará um augmento de tensão nas veias cavas, que se despejarão menos facilmente. Diminuin­ do o debito da artéria pulmonar, as veias do mesmo nome receberão menos sangue, chegando menos ao coração esquerdo e consecutivamente ao systema aór­ tico, e d'aqui, diminuição de tensão n'estas duas or­ dens_de vasos. Haverá pois augmento de tensão e con­ gestão no systema venoso, e diminuição no aórtico. Depois o sangue ergotisado que passa atravez das ar­ teriolas pulmonares, vae a seu turno actuar sobre as fibras das arteriolas aórticas, e o sangue deixando de passar como antes, congestiona o systema aórtico, e portanto augmento de pressão consecutiva á depressão. Esta concepção theorica teve a sancção da experimen­ tação, porque se notou como já disse, que a injecção na veia crural não produzia a ascensão consecutiva á depressão, pelo contrario na artéria do mesmo nome, a depressão foi de 13 centímetros obtida depois de bastante tempo e a ascensão foi de 3 centimetros o que estava em relação com o caminho a percorrer. Quando a injecção se fazia na veia a solução não estando bem diluída no sangue, actuava apenas sobre uma parte do pulmão, o que não succedia quando se injectava na artéria, porque ia bem misturada com o sangue, e actuava sobre a totalidade pulmonar o que nos ex­ plica a differença na depressão n'um e n'outro caso. Para justificar mais este modo de ver, Holmes pôde conseguir, determinando um effeito análogo ao da cravagem sobre o pulmão, obter por resultado uma depressão análoga também. Para isso fez duas expe­ riências; uma comprimindo por meio d'um fio a veia cava inferior e a veia porta, e outra injectando pó de lycopodio na veia jugular.

(23)

Na primeira experiência tomou um traçado an-tes de aberto o abdomen, outro depois e finalmente outro quando tranquillo o animal.

A depressão deu-se, sem comtudo ser tão accen-tuada, o que não admira, porque não podemos com-parar a constricção produzida por estas duas veias, á constricção pulmonar. A outra experiência consistiu em injectar como disse pó de lycopodio na veia jugu-lar. Todos sabem que este pó é perfeitamente iner-te, excluindo portanto qualquer idea de irritação; e sendo extremamente fino, pode obliterar grande nu-mero de vasos, dessiminando-se pelo apparelho da circulação pulmonar, comparando-se d'esté modo ao extracto da cravagem. Na primeira experiência com este pó, a quantidade foi tão considerável que o ani-mal morreu, depois da diminuição progressiva da pressão até 3 e 4 centímetros. Novas experiências feitas com o mesmo pó vieram corroborar as conclu-sões acceites. Na compressão da veia cava inferior e da veia porta, se não obliteramos os ramos vasculares do pulmão, impedimos que o sangue alli passe na quantidade normal, similhantemente, se bem que por outro processo, á acção da cravagem. Holmes na sua monographia a que me referi já, apresenta os traçados obtidos com estas experiências, e não cabe a menor duvida de que ha perfeita analogia com-os obtidos pela acção dos preparados ergoticos.

Modificações no pulso,—Nem todos os experimen-tadores concordam nas modificações do pulso, o que não admira quando se attenda, que a absorpção da cravagem dá segundo os períodos e talvez segundo o modo de administração e doses, depressões arteriaes e augmentos de pressão différentes. G. See attri-bue ao pulso as seguintes modificações : diminuição considerável e passageira, no numero das pulsações, regularidade duradoura e manifesta, perda completa de sua força e resistência. Em quanto á perda de sua força e resistência nem todos concordam, e Holmes pelo contrario diz que ella se torna mais forte e

(24)

du-ra. Rabuteau também concorda com a dureza do pul-so, attribuindo-lhe além d'isso diminuição no numero, pequenez e regularidade a que se referem todos que tem tratado d'esta substancia.

Apparelho respiratório

Poucos ou nenhuns authores fazem capitulo á parte das alterações trazidas á respiração, e ape-nas de passagem apontam uma ou outra modificação. Bailly no artigo que escreveu no Diccionario de Ja-coud, diz que a respiração não parece ser influenciada pela cravagem ou seus derivados ; pelo menos que a observação não o tem mostrado. Apesar d'isto nós cre-mos que ella deve ser modificada, attentas as intimas relações entre a circulação e a respiração, e os gritos dados pelos animaes em que se faziam as experiências da cravagem, bem como os seus esforços, mais de-pendentes da agonia ou anciedade do que da dôr. Hol-mes diz ter notado, durante o período da ascensão da pressão, uma respiração irregular, fraca e frequente, o que era de esperar, attendendo como disse ás mo-dificações circulatórias.

Âpparelho nervoso. — As modificações experimen-tadas pelos centros nervosos tem attrahido a attenção de todos os observadores. Manifestam-se algumas horas apoz a administração da cravagem, e prolon-gam-se por bastante tempo. Estes phenomenos são, dilatação das pupillas, cephalalgia, zumbidos dos ou-vidos, somnolencia, entorpecimento, fraqueza muscu-lar sobre tudo nos membros inferiores e indicisão na marcha. Estes symptomas ou modificações nervosas, raras vezes são de grande intensidade, passando mui-tas vezes desapercebidos. Quando se aggravam cons-tituem o periodo prodomico da intoxicação ergotica de que não tractamos.

(25)

Apparelho secretor

Todas as secreções são em geral enfraquecidas, e não é de admirar, depois das perturbações que assi-gnants aos capillares, que isso succéda. O sangue encontrando-se diminuído nos capillares, as glândulas não poderão segregar a mesma quantidade de secre-ções, como quando o sangue lhe chega em maior quantidade e com maior tensão. Assim vemos nós di-minuir o suor, tornando a pelle secca e rugosa ; a se-creção salivar egualmente diminuída, e bem assim as secreções gástricas de que já falíamos a propósito do apparelho digestivo. Todos concordam em relação ás secreções apontadas; o mesmo porém não succède em relação á secreção urinaria, que alguns querem ver augmentada, devido a uma acção diurética do medicamento, o que parece estar em opposição com os phenomenos observados na circulação, e que tanta preponderância tem sobre as secreções. Que logo de-pois da introducção sub-cutanea da cravagem de cen-teio, ha a expulsão d'uma certa quantidade de ourina, não ha duvida, porque todos os experimentadores o tem observado, bem como micções frequentes; porém não concordam todos sobre a sua explicação. Será o resultado d'uma influencia real da cravagem sobre a secreção urinaria, ou será o resultado d'uma acção exercida sobre o reservatório urinário, ou sobre o musculo vesical?

Vamos ver o que se passa do lado do reservatório urinário. Experiências feitas n'este sentido por Peton levaram-no a concluir, que a acção da cravagem sobre a bexiga é total e efficaz, isto é, capaz de expulsar a ourina do reservatório. A contracção provocada é rá-pida, instantânea e enérgica ; ha uma verdadeira pro-pulsão d'ourina no animal experimentado, bem diffé-rente da que se dá habitualmente. Experiências idên-ticas foram feitas em différentes animaes,

(26)

curarisa-g dos, para pôr de parte qualquer causa de erro pro-veniente do traumatismo, e o resultado foi análogo também, isto é, a contracção da bexiga. N'uma d'es-tas experiências feid'es-tas n'uni cão, notse que a ou-rina se accumulava, distendendo o reservatório ape-sar das suas contracções.

Seria esta accumulação um effeito diurético? Pa-rece que não, e se o é, esse effeito é pequeníssimo, e não sabemos como explical-o. Não é pela accumulação que nos suggère o effeito diurectico, porque essa está dependente a contracção do collo vesical, contracção sufficientemente enérgica para se oppôr á sahida da ourina impellida pelas contracções vesicaes; o effeito diurectico suggere-nos das experiências a que Ivon se sujeitou, e pelos resultados dos quaes se vê, como elle mesmo diz, que o volume da ourina augmentara durante dous dias, apesar do regimen habitual não ter sido modificado. A par d'esté resultado, o mesmo Yvon não tem encontrado n'outras experiências nem augmento nem diminuição na quantidade de ourina. Assim devemos, até mais decisivas experiências e observações, ser reservados sobre os effeitos diuréti-cos constantes da cravagem. O que é realmente carac-terístico é a acção da cravagem sobre a contractibili-dade da bexiga. D'aqui tiramos nós indicações pre-ciosas de que fatiaremos.

Utero. — Se no estudo da cravagem ha effeitos phisiologicos que devam fixar a attenção do practico, são sem duvida alguma os que ella exerce sobre o outro. O conhecimento da acção uterina da cravagem é anterior ainda ao das suas propriedades hemostati-cas, e todos concordam na sua acção, quando as suas fibras se encontrem hypertrophiadas, e augmentadas, quer no estado phisiologico, como é a prenhez, quer ainda em estados pathologicos, como são tumores de qualquer natureza, ou qualquer corpo estranho. As observações de experiências as mais variadas e fre-quentes o provam exhuberantemente, para que seja necessário demorar-me aqui; passa como facto

(27)

as-sente na sciencia. As opiniões porém encontram-se e divergem, quer quando se tracta de saber se a con- • tracção das fibras do utero pela cravagem, é capaz de produzir o aborto, quer quando se tracta de saber se ella actua sobre o utero no estado de vacuidade, e fi-nalmente quando se tracta de saber o mechanismo da sua acção. Ainda aqui poderíamos dizer alguma cousa sobre a sua nocividade sobre o producto da concep-ção, porém trataremos d'isso a propósito da therapeu-tica. Alguns authores não querem admittir na crava-gem a acção de iniciar as contracções uterinas, e que só tem a propriedade de as augmentar quando princi-piadas, sendo assim incapaz de produzir o aborto.

Que as contracções são, ou podem ser por ella ini-ciadas, provam-n'o a experiência, as considerações que fizemos a propósito da fibra lisa dos vasos, e ainda a observação clinica. Que sejam essas contracções capazes e sufíicientes para produzirem sempre o aborto, não af-firmamos.

Peton, a quem por mais d'uma vez nos temos re-ferido, fez varias experiências em fêmeas de animaes, prenhas, e o aborto produzia-se. Não se poderá dizer que as contracções tivessem principiado antes, e que o parto se fez nas condições normaes, porque algu-mas das experiências foram feitas em coelhas que não apresentavam os phenomenos preparatórios que são particulares aós seus costumes, especialmente não ti-nham preparado o ninho habitual para receber os seus filhos, despojando-se do seu pello, como fazem habitual-mente para guarnecer o ninho. Além d'isso Peton diz-nos, que os filhos não vieram em condições de viabi-lidade.

Nós sabemos que desde o momento da concepção até á parturiação, o utero vae-se dilatando e hypertro-phiando, ao passo que a sua actividade vae augmen-tando, e porisso que a acção da cravagem se vae tam-bém tornando cada vez mais intensa, attingindo o seu máximo na occasião do parto. Que as contracções pro-duzidas pela cravagem durante a prenhez produzam

(28)

sempre o aborto, não podemos nós affirmar, porisso que a experimentação nem sempre o attesta.

A cravagem actuará sobre o utero fora da gestação, no estado de vacuidade?

Prescot diz claramente, que a cravagem não actua sobre o utero, senão quando as fibras d'esté órgão são dilatadas, que o utero unimpregnated não é por ella influenciado.

Este modo de ver tem sido seguido por Mande-ville, Villeneuve e outros, apezar da asserção de Pres-cot não repousar em facto algum. Ao lado porém d'es-ta opinião nada fundamend'es-tada nós encontramos Mul-ler, Peronnier, Richet e outros que defendem energi-camente a contractibilidade do utero não gravido pela cravagem. Este modo de ver vemol-o nós corroborado pelas innumeras curas de tumores uterinos pela acção constrictiva do útero sobre o tumor e por outras de que fadaremos.

Esta contracção é effectivamente fraca comparada com a que se dá no estado de gestação, o que se ex-plica pela lei de Rabuteau : «une substance agissant sur des elements anatomiques déterminés, et se trou-vant en circulation dans le sang, impressione d'au-tant plus vivement les organes de ces elements anato-miques qu'ils sont plus irrigués».

Antes de passarmos a estudar o mechanismo das contracções diremos que a cravagem durante o traba-lho modifica o typo das contracções uterinas tornan-do-as, de intermittentes que eram, rémittentes.

Muitas questões se tem levantado a propósito do modo como a cravagem de centeio produzia as con-tracções uterinas.

Não trataremos agora aqui de discutir se a crava-gem actua directamente sobre a fibra lisa ou se actua excitando o systema nervoso, porque isso fará objecto d'um capitulo á parte, subordinando todas as modi-ficações operadas nos órgãos providos de fibras lisas. Aqui tractaremos apenas das explicações referidas sim-plesmente ao utero. São duas as questões principaes.

(29)

As contracções uterinas estarão como quer G. See dependentes da retracção vascular, ou estarão ambas dependentes da mesma causa? Estarão as con-tracções uterinas dependentes como quer Brown-Se-quard d'uma anemia da medulla, dependente da con-tracção capillar?

Foi G. See que considerando a cravagem como um medicamento vascular, admittiu que o utero se con-trahia devido á retracção vascular. Hoje ninguém ac-ceita este modo de ver. Realmente se attendermos por um lado a que a contracção vascular está dependente do seu elemento contractu a fibra muscular, e se por outro lado nós attendermos, a que o mesmo elemento contractil se encontra no utero, não se comprehende bem como a cravagem vá actuar sobre a íibra muscu-lar dos vasos do utero, e não actue sobre a fibra mus-cular do próprio utero, a não ser que se demonstre que no organismo haja duas qualidades de fibras lisas com propriedades inteiramente différentes.

Como muito bem diz Rabuteau, não ha medicamen-tos que actuam de preferencia sobre este ou aquelle orgao, mas sim medicamentos que actuam sobre os elementos anatómicos. Contracção uterina e vascular são factos análogos e simultâneos segundo provam, além das concepções theoricas, as experiências feitas n'este sentido por Peton, para provar que a contracção vascular do utero não era dependente, como alguns queriam da contracção uterina. Estas experiências con-sistiam em injectar solucções de ergotina nas orelhas de coelhos, que pela sua transparência se prestavam perfeitamente, e verificar a contracção vascular, in-dependente da acção das fibras do órgão.

Brown-Sequard porém explicava d'outro modo. As experiências d'Oser e de Schleseir mostram que a anemia medullar provoca contracções uterinas, e Brown-Sequard partindo d'estes resultados admittiu a contracção uterina dependente da anemia medullar ; porém a contracção dá-se ainda depois de se haver seccionado a medulla, e tendo supprimido portanto

(30)

toda a communicação entre ella e o utero, segundo provam as experiências de Boreischa da Russia, feitas em coelhas e cadellas, e que se acham citadas por Paul Gerard na sua these sobre o tractamento dos myomas uterinos.

Na Allemanha, Wernich fez também varias expe-riências. Pondo a descoberto um segmento do craneo, e ainda uma porção da medulla, e injectando depois 3 a 5 decigrammas de ergotina na veia durai, obser-vou os phenomenos que se passam nos capillares e no utero, verificando ao mesmo tempo que a contracção uterina se deva primeiro que a anemia da medulla.

Parece pois que podemos concluir com todo o fun-damento que a cravagem actua sobre a fibra lisa, ou melhor que não é por intermédio da anemia da

me-dulla que as contracções se operam.

Passaremos agora a tractar d'um dos pontos mais discutíveis da phisiologia da cravagem do centeio, e vem a ser se elle actua directamente sobre a fibra muscular lisa, ou por intermédio do systema nervoso.

Acção pathogenetica

Todos os resultados orgânicos, produzidos em se-guida á introducção, por qualquer methodo, da cra-vagem de centeio, ou dos seus compostos, estão de-pendentes da sua acção directa sobre as fibras lisas, ou indirectamente por intermédio dos centros vaso-motores?

Decidirmo-nos por qualquer d'estas opiniões, é realmente arrojado, porque faltam muitos elementos indispensáveis para resolver o problema. Se fosse pos-sível separar os dois elementos, que cooperam na contracção vascular, de modo que podessemos actuar isoladamente sobre cada um d'elles, a questão seria fácil de resolver. Como diz Fieury nada nos affiança que a fibra lisa ou estriada esteja absolutamente iso-lada de toda a relação com os filetes nervosos

(31)

moto-res, d'onde a impossibilidade de marcar rigorosamente o que pertence a este ou áquelle elemento.

Se é impossível emittir uma opinião cathegorica sobre tal assumpto, o mesmo não succède, quando tractamos de nos decidir, em face da maior ou me-nor probabilidade, por uma ou por outra, ponde-rando todos os argumentos respectivos, e experiências múltiplas e variadas feitas com todo o cuidado, por homens competentes com o íim de derramar toda a a luz possível sobre um assumpto, onde toda e qual-quer hypothèse sobre tudo nervosa se pôde sustentar mais ou menos, porque infelizmente quando se inter-vém com o systema nervoso para a explicação de qualquer phenomeno, é quasi substituir uma incognita por outra; o problema as mais das vezes desloca-se mas não se resolve. Ë o reservatório commum de to-dos os subterfúgios scientiflcos.

Pondo de parte estas considerações que em nada nos esclarece a questão, vamos ver as différentes expe-riências que se lêem feito e as conclusões que se teem tirado, e á vista d'ellas fazer o nosso juizo, e emittir a.nossa opinião, que se nada adianta, representa pelo menos a convicção que assentamos depois d'esté es-tudo.

As primeiras experiências que se fizeram n'este sentido, e ao mesmo tempo das mais completas, foram as de Holmes da Philadelphia.

Este experimentador querendo elucidar-se sobre esta questão, determinou a dilatação vascular seccio-nando o sciatico no membro posterior, ou arrancando o ganglio cervical superior, para a pupilla, lingua e ca-beça. Se a contracção se vereficasse podia provavel-mente concluir que a cravagem não actuava sobre as fibras dos vasos. Em certas experiências obteve a con-tracção vascular, n'outras, do lado são havia realmente contracção e do lado paralysado havia mais dilatação. Estas experiências d'Holmes, em que se dá a dilatação ainda mais considerável depois da introducção da cra-vagem, parece alguma cousa poder provar em favor da

(32)

acção pelos centros nervosos, porisso^ que intercepta-da a relação com elles, e por tanto a sua influencia, os vasos se não contrahiram, pelo menos appare.nte-mente, debaixo da acção da cravagem.

Ora, além d'esta acção por intermédio dos centros nervosos, estar posta de parte por muitíssimas expe-riências, nas quaes a contracção se dá constantemente _ apezar da sua não intervenção, o facto da dilatação nada refuta a opinião"dos que querem que a cravagem actue por intermédio da fibra lisa directamente ; por-que nós sabemos perfeitamente por-que quando um vaso não é influenciado pelos vaso-molores, se dilata, e que por tanto o sangue aflue ali em maior quantidade.

Assim quando introduzimos a cravagem n'um or-ganismo qualquer n'aquellas condições, ella, actuando sobre todas as fibras musculares dos vasos, contra-he-os, e força portanto o sangue a ir accumular-se nos vasos que lhe offerecem menos resistência.

Dizer-nos-hão agora, que o vaso paralysado, in-fluenciado pela cravagem deve reagir, e n'esse caso se não deve dilatar mais. A isso responderemos, que o vaso reage afectivamente, mas não tanto que possa compensar, e oppôr obstáculo bastante á massa de sangue, que lhe chega proveniente da contracção ge-ral, porque lhe falta parte da -força motrix, como é a que lhe vem dos vaso-motores. Esta experiência pois ainda prova em favor da acção directa sobre a fibra lisa, e nada vale em favor da theoria nervosa, por-que como dissemos os vasos estando dilatados, po-dem estar realmente contratados.

Wernich em 1873 procurou estabelecer a influen-cia directa dos princípios da cravagem sobre a fibra lisa, por meio da experimentação. Para isso cortou em coelhos primeiro os filetes sympathicos que vão á orelha, e depois practicando uma injecção d'ergotina na base d'esta orelha, observou contracções das arté-rias d'esté órgão.

Labord e Peton tiram conclusões análogas das suas variadíssimas experiências.

(33)

Estes experimentadores desenervando a orelha de um coelho cortando para isso o filete cervical do gran-de sympathico e o nervo grangran-de auricular, e introdu-zindo depois 2 grammas de ergotina em solução, na base da mesma orelha notaram que a vermelhedão, e calorificação mais exageradas, anteriores á injecção, se transformaram em anemia rápida e progressiva, is-chemia e refrigeração. A acção directa e immediata * da cravagem sobre a fibra muscular lisa das tunicas arteriaes, independente de toda a intervenção nervo-sa, parece achar-se aqui demonstrada.

Mas estarão os vasos completamente privados da influencia nervosa? Vulpian não o pensa assim, e diz : «Qu'on ne peut jamais espérer détruire toutes les cen-tres nerveux d'une partie. On ne détruit pas, par exem-ple les ganglions microscopes ni les cellules nerveuse qui se trouvent, ainsi que nous l'avons vu, soit dans les plexus nerveux circumvasculaires, soit dans ceux de la paroi même de vaisseaux, et ce sont lá évidem-ment des centres nerveux permettant la production de phénomènes reflexes.» Admittamos que a acção ner-vosa não desapparecesse completamente, o que porém não podia deixar de succéder era diminuir de inten-sidade tal acção, tal preponderância, mas nós vemos, segundo o attestam todas as experiências, que a dif-ferença de intensidade'nas contracção vasculares é pou-co apreciável. Quer nos parecer que aqui ha mais um argumento a favor da acção directa sobre a fibra lisa, porisso que se realmente a contracção vascular depen-desse do systema nervoso, o facto de se terem ou não cortado os nervos devia influir, e bastante na in-tensidade de tal contracção, o que se não nota, como dissemos.

Mais; se os ganglios podem ser efectivamente agentes da constricção vascular, nós não vemos razão

nem motivo algum para que depois da secção do sym-pathico, elles não continuem a fornecer influxo nervoso, evitando que os vasos se dilatem. Uma das experiên-cias que mais nos leva a acreditar na acção directa

(34)

sobre a fibra lisa, é uma experiência feita por Peton n'um coelho ao qual havia quinze dias tinha cortado na região cervical do lado direito o nervo grande sym-pathico e o grande nervo auricular do plexo cervical. N'este coelho Peton injectou um gramma de ergo-tina entre as orelhas. Grande differença se patenteava na vascularisação e temperatura das duas orelhas. A • desenervada era muito mais quente, mais vermelha e

os vasos muito mais dilatados, e a pupilla contrahida. A injecção foi feita ás 5 horas e ás S e 35 minu-tos a acção da ergotina se mostrou d'um modo claro ; a desigualdade das pupillas desapparecera, ambas eram egualmente dilatadas. Não se nota mais differença entre a vascularisação das orelhas, ambas estão egual-mente pallidas e frias.

Esta experiência, repito, fundamenta mais ainda o nosso modo de ver, porque tendo o sympathico, e o grande nervo auricular sido cortado havia 15 dias, é provável que os ganglios e as extremidades nervo-sas tivessem perdido a sua actividade funccional, porisso que para os nervos motores separados do seu centro a sua excitabilidade desapparece 4 dias depois de cor-tados. Se para os vaso-motores o mesmo não fosse, era muito provável que a sua actividade fosse considera-velmente modificada, comtudo a experiência diz-nos, que a cravagem actuou como quando todos os nervos eram intactos. Cremos poder concluir com grande probabilidade pela acção directa da cravagem sobre a fibra lisa, sem comtudo querermos negar que o sys-tema nervoso possa tomar alguma parle n'esta acção, se bem que pequena, porque os factos não justificam muito essa acção.

A tendência particularmente localisadora da crava-gem nos parece resultar e deduzir-se immediatamente da electividade que lhe é peculiar. A clinica a cada passo nos vem mostrar que os resultados da applica-ção da cravagem são tanto mais seguros, quanto a sua introducção é mais próxima do órgão sobre o qual queremos que actue. E' principio assente em

(35)

logia, que mais uma substancia medicamentosa ou to-xica impressiona rápida e primitivamente o systema nervoso central, mais sua acção phisiologica e thera-peutica se généralisa. Esta acção se estenderia rapi-damente sobre um ou muitos dos grandes actos func-cionaes, tributários d'esté systema: sensibilidade ge-ral, motricidade, reflexos, etc., etc.

Póde-se mesmo estabelecer uma subordinação ou • escala nos effeitos mais ou menos genaralisados, se-gundo que a impressão primitiva e predominante do agente actua sobre o systema nervoso ganglionnar ou sympathico, ou sobre o systema cerebro-espinal. Quan-to mais a acção do medicamenQuan-to se afasta da inter-venção nervosos mais os phenomenos phisiologicos e therapeuticos se localisam ; tal é o que se passa em relação á cravagem e á localisação dos seus effeitos, aliás tão pronunciada, porque actua não só sobre um elemento muscular contractil, mas sobre um elemento muscular especial; a fibra lisa.

Eis a rasão, porque o transporte mais immediato e mais rápido da cravagem em contacto com a fibra lisa, favorece consideravelmente os seus effeitos.

Que a acção d'esta substancia se não faz por in-termédio dos centros nervosos, não soffre contestação alguma, por isso que todas as experiências são con-cordes em provar, que cortando as relações entre uma dada região e os centros nervosos, a contracção ainda se dá. A mesma conclusão se não pôde tirar fa-cilmente, quando se attribue a acção do medicamento aos ganglios. Já apresentamos algumas razões que nos inclinam a privar os ganglios d'essa acção ; porém ha mais; para admittir essa acção dependente do systema sympathico, torna-se necessário, provar pri-meiro que este systema tem vida independente, e que a sua força nervosa é por elle creada, e não conductor do influxo medullar ou bolbar.

Ora é o que até hoje se não tem demonstrado, e que é ponto já pouco discutível na sciencia. Não en-trarei em muitas explanações, porque não faz parte

(36)

do nosso trabalho, e apenas de passagem diremos al-guma cousa.

Se os ganglios tem vida propria e independente, nós não sabemos como é que, quando os desligamos das suas relações centraes, elles não continuam a fornecer o seu influxo nervoso aos vasos impedindo, que elles se dilatem. Da mesma maneira se não com-prehende. como quando cortamos a medulla, apesar do sympathico ficar intacto, os vasos se dilatem tam-bém, e finalmente não se admitte com bastante funda-mento que elles tenham essa presumida independên-cia, quando fazendo uma hemisecção no bolbo mani-festa-se a paralysia vaso-motor das duas ametades do corpo. O grande sympathico parece-nos antes um nervo medullar, como provam as experiências de Budge.

Além d'isso nós vemos que ha nervos vaso-mo-tores que tiram origem da medulla, por exemplo, a corda do tympano, o sciatico, o glosso-pharingeo, etc., o que faz presumir que o sympathico alli toma origem também.

Budge a tal respeito diz : «La demonstration que le nerf sympathique est un nerf medullar a été four-nie pour moi de la manière suivante. Si l'on excite, sur un mammifère ou sur une grenouille, le segment de la moelle que se trouve au voisinage dtt point d'émergence des nerfs du plexus brachial; si l'on ex-cite ce segment d'un seul coté, la pupille de ce coté se dilate ; si on le sectionne, elle se contracte. Si ce segment est excité de deux cotés, les deux pupilles se dilatent. Si le nerf sympathique cervical a été li-gaturé auparavant d'un seul coté alors il n'y a que la pupille du coté opposé qui se dilate. Si l'on coupe á un grenouille les racines postérieures des troisième et quatrième paires nerveuses, la pupille se contractera passagèrement; si les racines antérieures de ces mê-mes nerfs sont sectionèes la pupille se contracte et persist en cet état. Schiff, Goltz, Ludwig e Thery ont prouvé qu'il fallait chercher dans la moelle allongée la principale source de tous les nerfs vasculaires.

(37)

près mes observations, c'est la pédoncule cerebral qui est l'origine primier de l'innervation du sympathi-que.»

Muitos outros phisiologistas não admittem a inde-pendência d'esté systema, e d'esté numero encontra-mos Kuss, que na sua ultima edição diz : «Il est donc reconnu aujourd'hui que la plupart de phénomènes nerveux des fonctions viscérales ont pour centre la moelle epinere, et que, même pour ses fonctions va-so-motrice le grand sympathique n'a q'une force d'emprunt provenant de la partie supérieure de l'axe nerveux rachidien ; il en est de même pour son in-fluence sur le coeur et pour la plupart de reflexes viscérales, dont le centre se trouve dans la moelle de telle sorte que l'expression même de syspteme grand sympathique ne signifie rien aujourd'hui. »

Pharmacologia

Antes de passarmos ao estudo therapeutico d'esta substancia, julgamos da maxima importância, esclare-cer alguns pontos que muito interessam ao clinico, e que deve ter na maior consideração, para se não vêr a braços com o imprevisto. Ha quem diga que a cra-vagem de centeio não perde com o tempo as suas propriedades medicamentosas ainda que não haja o maior cuidado na sua conservação, outros que as não perde quando na sua conservação se attenda a um certo numero de condições. Assim Victor Legrip diz que a cravagem se conserva indefinidamente quando se prepare o pó com cravagem recente e bem secca, se exponha a uma temperatura de 40 a 50 graus, se feche hermeticamente em vasos de vidro, e se prive da acção da luz.

Bourchardat diz ter conservado mais de 3 annos a cravagem em bom estado, tendo apenas o cuidado de ter no fundo do frasco que a continha, 15 grammas de mercúrio. O dr. Hulin de Tours conta o seguinte facto: assistia a uma parturiente cujo trabalho corria

(38)

muito lentamente, e para lh'o activar mandou á pbar-macia pedir 2 grammas de cravagem em pó em 2 pa-peis, que pelo facto do trabalho se activar, se tornou desnecessário empregar. Dous annos mais tarde, foi de novo convidado para combater uma inércia com-pleta do utero na mesma mulher, e de novo mandava procurar á pharmacia a cravagem, quando a partu-riente lhe disse, que tinha os primeiros guardados.

O papel que continha a cravagem estava muito manchado pelo óleo o que não abonava muito o seu bom estado; pois 12 minutos depois da engestão d'um papel d'esta cravagem, as dores se reanimaram e o parto deu-se. Ha porém muitos authores que não concordam com esta inalterabilidade da cravagem pelo tempo, e só a empregam quando recente. Nós julgamos que é sempre conveniente seguir a opinião d'estes úl-timos, visto que as opiniões divergem, e além d'isso porque é uma substancia que se pôde colher todos os annos, e é extremamente barata.

A cravagem do centeio porém, não se presta aos processos de introducção na economia, que a acção phisiologica e a experimentação nos indicam. Uma e outra nos dizem que das três vias de introducção, o estômago, a injecção hypodermica, e a injecção inters-ticial, sao as injecções que nos merecem a preferen-cia. Referindo-se á introducção pelo estômago diz Paulo Gerard, que em varias experiências feitas tém obtido sempre effeitos pouco intensos, muito lentos, e pouco em relação com a quantidade de cravagem ingerida. A differença é consideravelmente grande quando recorremos á injecção. Basta 0,066 de ex-tracto para dar em alguns minutos o mesmo resulta-do que se obtém com um gramma de cravagem em pó. Isto pelo que diz respeito á injecção hypodermi-ca, porque na injecção intersticial, no utero por exem-plo, os effeitos são ainda mais rápidos e intensos. Por este methodo os accidentes locaes, abcessos e es-caras, tão frequentes quando a injecção é hypodermi-ca, são aqui excepcionaes, e no logar da picadura não

(39)

subsistem nem a dor, nem os núcleos de induração que apparecem na injecção hypodermica.

Assente pois que é ás injecções que as mais das vezes temos de recorrer, sobre tudo quando um ef-feito rápido se torne necessário, n'uma hemorrhagia por exemplo, onde o tempo é tudo, dizemos nós, que sendo ás injecções que frequentemente temos de re-correr, torna-se necessário ver de todos os princípios activos que se dizem da cravagem, saber qual d'elles é o que nos merece mais confiança.

Cada author recommenda o principio que desco-briu, e outros são mais levados por sympathias dos seus authores, do que por um exame experimental, rigoroso e consciencioso.

Tem-se attribuido as propriedades activas da cra-vagem a différentes princípios, como são : a ergotina de Wenzel, de Bonjeau, de Wiggers, a ergotinina de Tanret, a scleromucina e o acido scleromucico de Dra-gendorff e Padwisostzki, chimicos allemães, e por ul-timo a uns princípios não albuminóides, preparados pelo processo de Yvon. Passemos agora cada um d'el-les em revista, e vamos ver se encontraremos algum que possa com vantagem empregar-se.

A ergotina de Wenzel injectada na pelle d'uma rã produz irregularidades notáveis nas contracções das auriculas e dos ventrículos. Não produz contrac-ção alguma nas arteriolas, e não tem influencia so-bre a tensão arterial e soso-bre o numero de pulsações cardíacas. Vemos pois que a ergotina de Wenzel não satisfaz ao fim, e por isso não deve empregar-se.

A ergotinina de Tanret tem sido objecto de estu-dos sérios por Moli, Budin e Galippe, Labord e Pe-ton, Gosselin, Dujardia-Baumetz e outros. Moli que foi o primeiro a empregal-a, diz ter obtido com ella resultados favoráveis.

Budin e Galippe com uma injecção hypodermica de 0,08 centigrammas de ergotinina n'um cão, obte-ram effeitos apreciáveis : vómitos, dores abdominaes, e abaixamento de temperatura: ecom 0,105

(40)

miligram-mas ii'outro cão mais pequeno determinaram a mor-te. Laborde e Peton, notaram resultados análogos e não duvidosos, empregando apenas 0,02 centigram-mas.

Gosselin tém obtido resultados therapeuticos con-tradictorios em casos de metrorrhagias, no hospital de caridade. Em dous casos mostrou-se dolorosa, e provocou vómitos e pheaomenos de torpor. N'um caso de metrorrhagia antiga, no mesmo hospital, pro-duziu effeitos hemostaticos incontestáveis.

O dr. Dujardin-Baumetz experimentando a ergo-tinina de Tanret na dose de 0,004 a 5 milligrammas, nas suas doentes, doses muito mais pequenas do que as empregadas nos animaes, determinou vómitos e cólicas dolorosas que duraram 24 horas, e isto sem effeito therapeutico proporcional, por isso que as me-trorrhagias de que as mulheres, em que elle experi-mentava, eram portadoras, não se suspenderam. Ha pois n'estes dados, que a experimentação e a clini-ca nos fornecem, contradicções que se não podem explicar, senão porque a substancia empregada dif-fère notavelmente na sua actividade, e conseguinte-mente na sua constituição chimica. Accrescentaremos, como diz Peton, que cada milligramma corresponde em peso a um gramma de cravagem de centeio, de modo que um decigramma de ergotinina suficiente-mente activa, corresponderia ás doses enormes de 40 a 60 grammas em injecção sub-cutanea, e -de 80 a 100 de substancia bruta, introduzida pelo estômago. Assim parece-nos, que podemos concluir com Paul Benard: 1.° que a ergotinina é de mediocre efficacia em therapeutica ; 2.° que é imminentemente toxica, e mais no homem que nos animaes; 3.° que apre-senta uma inconstância notável nos seus effeitos, de-pendente ou da sua alterabilidade, ou da imperfeição na sua preparação, ou ainda, e o mais provável dos caracteres inhérentes á sua natureza.

Em junho de 1876 Dragendorff e Padwissotzki, chimicos allemães, publicaram os resultados dos seus

Referências

Documentos relacionados

O estudo da velocidade de ingestão, também conhecida como taxa de consumo instantâneo, relaciona-se diretamente com os efeitos da estrutura do dossel forrageiro sobre o

 Coxins do trato de saída são responsá- veis pela separação dos vasos aorta e tronco pulmonar, septação ventricular e formação das valvas semilunares. SEPTAÇÃO DO

Para cada habitat (Enrocamentos, Canal Principal e Margens) foi realizada uma análise das comunidades de peixes, de forma a tentar compreender as principais diferenças entre

Mas havia entre elas um filósofo que pensava que o que cantava a cotovia não era exatamente mentira ou loucura, mas uma mensagem às rãs, segundo à qual podiam ser

Ele estava prestes a suportar o peso da tempestade, mas não estava com medo e, portanto, sendo um sofredor companheiro com seus discípulos em apuros e sendo ele mesmo o

Não existindo refeitório, pagarão ao empregado o valor de R$ 21,00 (vinte e um reais) ou concederão documento-refeição de igual valor, não sendo permitida a concessão

A justificativa do projeto esta embasada no levantamento realizado em 2009 pelos alunos do Instituto o qual puderam acompanhar de perto a real necessidades das

nos faz compreender que isto significa não encher totalmente o coração, mas manter espaço no coração para Deus para os irmãos, para a solidariedade, para a bondade,