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MatematicaDiscreta-06

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Academic year: 2021

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Números Inteiros (I) – Axiomas e Resultados

Simples

Apresentamos aqui diversas propriedades gerais dos números inteiros que não precisa-rão ser provadas quando você, aluno, for demonstrar teoremas nesta disciplina. Esses resultados são apresentados em duas partes:

o Definição dos números inteiros (seção 1) o Outros resultados básicos (seção 3)

1. Definição Axiomática do Conjunto dos Números Inteiros (Z)

O conjunto dos números inteiros, representado por Z, pode ser definido a partir dos axi-omas do conjunto dos números naturais N, apresentados na aula passada. No entanto, isso seria bastante trabalhoso. Para avançarmos mais rapidamente, partiremos direta-mente de uma definição axiomática do conjunto dos números inteiros Z.

A definição axiomática de Z aqui apresentada não é a única possível, nem a mais sucin-ta – ela é a axiomatização que nos pareceu mais fácil de entender e de usar. Outras axi-omatizações diferentes são propostas em outros livros, mas todas elas são equivalentes neste sentido: todas elas permitem provar os mesmos teoremas. Segue a definição:

O conjunto Z é um conjunto definido juntamente com as operações de + (adição) e . (multiplicação) e com as relações de = (igualdade) e < (menor que) de modo que todas as seguintes propriedades (axiomas) são satisfeitas:

1.1. Propriedades de Fechamento

Se adicionarmos ou multiplicarmos dois inteiros, temos sempre um resultado inteiro. Dizemos que o conjunto Z é fechado para as operações de adição e multiplicação. Isso

(2)

Para todos a e b inteiros:

(F-1) a + b é inteiro (ou seja, a soma de inteiros dá um inteiro) (F-2) a . b é inteiro

Observações:

1) A subtração entre inteiros a-b é definida como uma adição a+(-b), onde o –b é definido pelo axioma (OpA). Logo, a-b dá sempre inteiro também.

2) Uma operação de divisão entre inteiros será apresentada posteriormente, por meio de um teorema.

3) Não se preocupe em decorar os nomes das propriedades, apenas entenda bem o que cada uma afirma.

1.2. Propriedades Básicas das Operações (+ e .)

Os axiomas abaixo valem para todo a e todo b inteiros:

 Associatividade (O-1) (a + b) + c = a + (b + c) (O-2) (a . b) . c = a . (b . c)  Comutatividade (O-3) a + b = b + a (O-4) a . b = b . a  Distributividade

(O-5) a . (b + c) = a.b + a.c

1.3. Elementos Neutros

Existem certos números inteiros, representados como 0 e 1, tais que: (N-1) a + 0 = a

(3)

Em outras palavras, os axiomas acima afirmam que 0 é elemento neutro da adição e que 1 é elemento neutro da multiplicação. Outro axioma mostra que esses dois ele-mentos são distintos:

(N-3) 0  1

1.4. Oposto Aditivo

O próximo axioma relaciona cada inteiro a a algum oposto aditivo dele, representado como (-a).

Para todo inteiro a, existe um inteiro (-a), tal que: (OpA) a + (-a) = 0

Observações:

1) Não há axioma sobre um “oposto multiplicativo de a” que multiplicado por a daria 1, pois não é verdade a existência dele para todo inteiro a.

1.5. Propriedades Básicas das Relações (= e <)

Os axiomas desta seção valem para todos a, b e c inteiros:

 Reflexividade (R-1) a = a  Simetria (R-2) Se a = b , então b = a  Transitividade (R-3) Se a = b e b = c , então a = c (R-4) Se a < b e b < c , então a < c

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1.6. Transformações nas Relações

Nesta seção, apresentamos axiomas que permitem “manipular” ou “alterar” uma relação para obter outra relação, usando as operações de adição e multiplicação.

Os axiomas desta seção valem para todos a, b e c inteiros:

 Adição a ambos os lados

(M-1) Se a = b , então a + c = b+ c (M-2) Se a < b , então a + c < b + c

 Multiplicação de ambos os lados

(M-3) Se a = b , então a . c = b . c (M-4) Se a < b e c>0 , então a . c < b . c

 Cancelamento de fator comum

(M-5) Se a . c = b . c e c 0 , então a = b (M-6) Se a . c < b . c e c>0 , então a < b

Observação:

1) Os dois axiomas de cancelamento dão a idéia de que é realizada uma divisão por c em ambos os lados. Porém, o axioma apresenta isso indiretamente, sem assu-mir que existe uma operação de “divisão”.

2) Aliás, cuidado ao usar estes axiomas. Se um fator c não obedecer às condições dadas, e você o cancelar, você poderá obter alguma contradição matemática! 3) Juntos, os axiomas (M-3) e (M-4) nos garantem que: se a=b, então podemos

substituir a por b (e vice-versa) em qualquer expressão envolvendo apenas adi-ção e multiplicaadi-ção.

1.7. Outros Axiomas

Aqui listamos mais dois axiomas importantes:

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(Tri) Apenas uma das seguintes relações é verdadeira: a < b , ou

a = b , ou a > b

 Princípio da Boa Ordem: Este axioma vale para todo conjunto de inteiros S (ou seja, todo S que é subconjunto de Z):

(Boa) Se S é não-vazio e contém apenas inteiros não-negativos, então S tem um elemento mínimo.

Quando um conjunto S qualquer satisfizer às condições acima, vamos nos referir ao seu elemento mínimo como min(S).

Observação:

1) O princípio da boa ordem é um axioma muito importante desta definição de Z. Ele não vale, por exemplo, no conjunto dos números reais R.

2) Este mesmo princípio é a justificativa por trás de um importante método de pro-va para afirmações sobre os inteiros: a propro-va por indução.

2. Provando Teoremas a Partir dos Axiomas

Veja que os axiomas definem os números inteiros de forma um tanto sutil. Somente dois números são citados diretamente pelos axiomas: o 0 e o 1. Os demais inteiros são defi-nidos indiretamente a partir deles e a partir das operações.

Além disso, para quem já estudou os números inteiros de forma intuitiva (não-axiomática), os axiomas parecem muito simples e óbvios. Em parte, essa é a intenção. O objetivo é que a definição seja a mais simples possível, mas que, ainda assim, permita provar os resultados (teoremas) elementares sobre os números inteiros.

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Como dissemos antes, você pode entender os axiomas (e as regras de inferência) como sendo as peças de um jogo (um quebra-cabeça) lógico e peças de um LEGO. Uma vez montadas essas peças, obtemos novas afirmações matemáticas verdadeiras.

2.1 Provando Equações e Inequações

Vamos começas provando propriedades dos inteiros expressas como igualdades (equa-ções).

Exemplo 1: Para todos a, b e c inteiros: a+(b+c) = c+(b+a). Demonstração (para a, b e c inteiros quaisquer).

Vamos desenvolver a expressão a+(b+c) usando axiomas: a+(b+c)

= a+(c+b) = (c+b)+a

= c+(b+a). (Quais axiomas foram usados?) Por transitividade: a+(b+c) = c+(b+a).

(Provado).

O caminho para provar algo assim não é evidente à primeira vista. Você tem que tentar usar os diversos axiomas, de diversas maneiras, até chegar a conclusão desejada.

Para provar equações <expressão1>=<expressão2>, duas formas simples são:

 Desenvolver a expressão de um dos lados da equação até chegar na expressão do outro lado. No final, a equação é obtida pelo axioma de transitividade da igualdade. Fizemos isso no exemplo 1.

 Manipulando equações até obter (de forma mais direta) a equação desejada. Para isso, usamos, em especial, os axiomas de transformações nas relações. Vamos usar esta ideia no exemplo 2.

Exemplo 2: Provar que, para qualquer inteiro a, temos a.0 = 0. Demonstração:

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0+0 = 0 (Começamos com a igualdade, com ambos os lados juntos) Usando outro axioma, podemos multiplicar ambos os lados por a:

a.(0+0) = a.0

Pela propriedade da distributividade: a.0 + a.0 = a.0

Pela simetria da igualdade (que vamos usar muitas vezes implicitamente): a.0 + a.0 = a.0

O axioma do oposto aditivo nos garante que existe um oposto de a.0, que repre-sentamos como (-a.0). Somando-o a ambos os lados:

(-a.0) + a.0 + a.0 = (-a.0) + a.0

Pelo mesmo axioma do oposto aditivo, a soma de a.0 com (-a.0) dá 0. Assim, chegamos a esta equação:

0 + a.0 = 0

Pelo axioma do elemento neutro, o lado esquerdo dá a.0, logo: a.0 = 0

(Provado).

2.2 Provando Inequações

Podemos provar resultados com inequações (> ou <) de forma similar à que usamos para provar a equação do exemplo 2, ou seja, manipulando as inequações com os axio-mas adequados.

Exemplo 3: Provar que 1 > 0. Desta vez, vamos precisar assumir o seguinte lema (um teorema auxiliar), cuja demonstração está no material extra:

Lema: Para todo a, temos a.a  0. Demonstração:

Pelo lema dado (considerando a=1) podemos concluir que: 1.1  0

Como 1 é elemento neutro da multiplicação, concluímos: 1  0

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1 > 0 (Provado).

2.3 Estamos Usando Regras de Inferência Implicitamente

Veja que, nas demonstrações anteriores, não citamos explicitamente as regras de infe-rência. Mesmo assim elas foram usadas! Todo o raciocínio das demonstrações matemá-ticas tem que seguir, implicitamente, as regras de inferência.

Vamos ilustrar isso com o último passo do exemplo 3. Nele, usamos a regra de inferên-cia silogismo disjuntivo (confira). Em todos os exemplos (de 1 a 3), todas as vezes que usamos um axioma escrito como um “se...então...”, nós estávamos usando implicita-mente a regra de modus ponens. Releia os exemplos e perceba.

2.4 Vamos Usar os Axiomas Implicitamente

Nas demonstrações no restante da disciplina não seremos tão detalhistas a ponto de citar cada axioma utilizado. Também pularemos algumas etapas óbvias. Porém, mesmo sem citá-los, é preciso tomar cuidado de fazer apenas aquilo que pode ser justificado por algum axioma.

O próximo exemplo mostra justamente o que acontece se não tomarmos esse cuidado. Ele “prova” um resultado errado devido a um axioma mal usado. Tente descobrir qual o problema na demonstração a seguir.

Exemplo 3: Provar que 0 = 1. (Falso!) Resposta (falsa):

Vamos definir uma variável x assim: x = 0

Então, multiplicando ambos os lados por x-1, temos: x.(x-1) = 0.(x-1)

Pelo exemplo anterior, sabemos que o lado direito dá zero. Logo: x.(x-1) = 0

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x.(x-1) = x.0

Agora, vamos cancelar x de ambos os lados, chegamos a: x-1 = 0

Adicionando 1 a ambos os lados, obtemos: x = 1

Usando a primeira equação, podemos substituir x para obter: 0 = 1

 O que há de errado nesta demonstração?

O erro foi no uso da propriedade do cancelamento para tirar o fator x. Veja que, pelo axioma em questão, este cancelamento só seria possível se x  0. Como definimos, ini-cialmente, que x = 0, o cancelamento de x não pode ser realizado!

2.5 Mais Exemplos

Colocamos, em um material extra, a demonstração de vários outros teoremas simples. Estude para entender a essência de demonstrações matemáticas. Alguns resultados pro-vados no material:

 Se a < 0 , então (-a) > 0.

 Se a > b e n<0 , então a.n < b.n. (Ou seja, a relação < inverte ao se multiplicar por um valor n negativo).

 Para todo a, temos a2 0.

 Se a2 = 0, então a = 0.

 Não existe valor inteiro a tal que 0 < a < 1. (Ou seja, não existe valor inteiro en-tre 0 e 1).

 a.b = 0 se e somente se a=0 ou b=0.

 a.b = 1 se e somente se a=b=1 ou a=b=-1.

Os dois últimos resultados acima são importantes, pois mostram como resolver certas equações simples envolvendo multiplicação. Chamamos a atenção, em especial, para o último teorema, que é exclusivo dos números inteiros – ele não vale para os reais, por

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Aconselhamos que você tente provar alguns destes resultados ou consulte as demonstra-ções no material extra, para entendê-los melhor.

Porém, como queremos ver coisas mais avançadas e mais interessantes nesta disciplina, não usaremos apenas os axiomas nas próximas demonstrações. Outros resultados sim-ples que você poderá usar são apresentados resumidamente na próxima seção.

3. Outros Resultados Básicos

Esta seção é apenas um guia para resultados (teoremas) e definições que você poderá usar. A grande maioria deles você, certamente, já viu na sua carreira estudantil. Se você não se lembrar dos detalhes, recomendamos que revise em outros materiais esses con-ceitos, pois eles serão necessários no restante da disciplina.

Seguem os resultados que você pode assumir sem provar:

I) Primeiramente, você pode usar o que sabe sobre como representar os números e como calcular as operações (pois os axiomas não falam nada a respeito disso):

 Representação dos números inteiros: além do 0 e 1 (apresentados nos axio-mas), você pode usar qualquer dos demais números inteiros na representação de-cimal usual: 2, 3, 4, 5, ..., 10, 11, 12, ...

 Contas básicas envolvendo os números: pode usar diretamente resultados de todas as operações, inclusive a divisão: 1 + 2 . 3 = 7, etc.

II) Você pode usar outras operações (definidas a partir de + e . ) e as propriedades dessas outras operações:

 A exponenciação e suas propriedades: o a0 = 1

o a(n+m) = an + am o a(n.m) = ( an ) m

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o (ab)n = anbn o etc.

 Propriedades das expressões algébricas (inclusive os produtos notáveis): o (a+b)(c+d+e) = ac + ad + ae + bc + bd + be

o (a+b)2 = a² + 2ab + b² o (a+b).(a-b) = a² - b² o etc.

III) Pode usar conhecimentos sobre resolução de equações tais como:

 Resolução de sistemas de equações lineares

 Resolução de equações do segundo grau: método de Baskhara  Resolução de equações inteiras (veja o material extra):

o a.b = 0 se e somente se a=0 ou b=0.

o a.b = 1 se e somente se a=b=1 ou a=b=-1.

 Outros resultados relacionados a equações: o Se an = bn e n é ímpar, então a = b o Se an = bn e n é par, então a =  b o Se a < b e c < d, então a+c < b+d o etc.

IV) Você também poderá usar os principais teoremas apresentados nesta disciplina, à medida que eles forem ensinados:

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Observações Finais

Nas próximas aulas vamos ver como fazer com demonstrações mais complexas (sobre assuntos mais interessantes!). Resumindo esta aula, nas demonstrações que veremos, você poderá usar diretamente (sem provar):

 os axiomas,

 o conhecimento matemático do ensino médio sobre álgebra  os teoremas que vamos ver ao longo da disciplina

Se tiver dúvida se pode ou não usar um certo teorema matemático como premissa para uma demonstração, pergunte ao professor.

“Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e ele te amará. Dá instrução ao sábio, e ele se fará mais sábio;

ensina o justo e ele crescerá em prudência.” (Provérbios cap. 9, versos 8 e 9)

Referências

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