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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Évora Processo nº 400/14.9TBALR.E1. Relator: PAULO AMARAL Sessão: 09 Julho 2015 Votação: UNANIMIDADE

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 400/14.9TBALR.E1 Relator: PAULO AMARAL

Sessão: 09 Julho 2015 Votação: UNANIMIDADE

IMPEDIMENTO

Sumário

O juiz que, processo penal, condenou um arguido no pagamento de uma indemnização ao lesado não está impedido de julgar um procedimento cautelar de arresto para garantia do seu pagamento.

Texto Integral

AA, na qualidade de herdeira e de cabeça-de-casal da herança de HH, instaurou contra BB, e mulher, CC, DD e, marido, EE e FF e, mulher, GG, procedimento cautelar pedindo que fosse decretado o arresto de um imóvel que identificam.

Tal arresto foi decretado.

Os requeridos deduziram oposição, na qual impugnaram a factualidade alegada na petição inicial para fundamentar a existência dos pressupostos para o arresto e arguiram a falta de personalidade judiciária da herança e a ilegitimidade da requerente pessoa singular para estar por si só a demandar nos presentes autos.

*

Depois de produzida a prova, foi proferida sentença que julgando improcedente, por não provada, a oposição deduzida pelos requeridos, manteve, nos seus precisos termos, a providência cautelar de arresto decretada nos autos.

*

Desta sentença recorrem os requeridos focando nas alegações os seguintes pontos: (1.º) impedimento do juiz, (2.º) incomunicabilidade da dívida e a

existência de benfeitorias no prédio e (3.º) valor probatório das declarações de parte.

Invocam ainda a nulidade da sentença por omissão de pronúncia.

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*

A recorrida não contra-alegou.

*

Foram colhidos os vistos.

*

Começaremos pela nulidade da sentença que vem invocada nestes termos:

«No seu articulado a Requerida CC suscitou a inadmissibilidade da apreensão dos bens de que é proprietária apenas sendo lícito apreender-se, quanto

muito, a meação dos bens que é detida pelo seu marido BB, nada dizendo a sentença recorrida quanto a esta matéria, facto que constitui nulidade processual que desde já se invoca [artigo 615.º, nº.1, al. d), do Código de Processo Civil].

«Deveria pois a sentença recorrida ter julgado procedente a oposição

deduzida e ter ordenado o levantamento do arresto que incide sobre bens que fazem parte, presentemente do património de FF e mulher, mas que

anteriormente computam o património comum dos co-requeridos BB e mulher CC».

Mas, muito simplesmente, isto não é verdade..

Transcreve-se um trecho da pp. 20-21 da sentença:

«Uma outra questão é colocada na oposição dos requeridos — a extensão do arresto — no sentido de que, sendo os requeridos BB e CC casados sob o regime da comunhão geral de bens, não será possível o arresto do bem que é comum do casal, mas tão só a meação do primeiro nesse património comum (embora, afinal, não peticionem a redução do arresto, mas tão só o

levantamento do arresto decretado).

«Com efeito, dispõe a alínea b), do art.º 1692.º, do Código Civil que «São de exclusiva responsabilidade do cônjuge a que respeitam: … as dívidas

provenientes de crimes e as indemnizações …».

«Por seu turno estatui o n.º 1, do art.º 1696.º, do mesmo diploma legal que

«Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns.»

«A dívida proveniente de crimes é incomunicável. Por ela só respondem os bens do cônjuge culpado.

«Sucede que o bem imóvel objeto do arresto não se encontra registado em nome do casal BB (autor do crime e responsável civil e criminal) e mulher, CC.

Tal bem encontra-se registado em nome dos requeridos FF e GG, razão pela qual foram demandados na presente providência cautelar».

Assim, e porque o tribunal conheceu a questão levantada pelos recorrentes, não existe a dita nulidade.

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*

A matéria de facto é a seguinte:

1. A requerente é cabeça-de-casal da herança aberta por óbito de HH.

2. No âmbito do processo comum colectivo n.º 1/13.9 GFALR, que correu termos no Tribunal de Almeirim, o pedido de indemnização cível formulado pelos demandantes cíveis foi julgado parcialmente procedente e o demandado cível, ora requerido, foi condenado a pagar a AA, II, JJ e LL, a quantia de 89 500,00 € (oitenta e nove mil e quinhentos euros).

3. O requerido BB foi, ainda, condenado pela prática de um crime de

homicídio, praticado contra HH, no dia 02.01.2013, na pena de 11 anos de prisão.

4. Os requeridos BB e CC eram donos e legítimos possuidores do prédio misto, que se compõe de uma parte urbana – duas casas de rés-do-chão, para

habitação, e quintal – e de uma parte rústica – pinhal, cultura arvense, horta, vinha e pomar de prunóideas – com a área total de 4 800 m2, descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 6841, inscrito na matriz respectiva sob os artigos 49, secção 051, e artigos 3217 e 4526, em virtude da

adjudicação do mesmo em processo especial de divisão de coisa comum que correu termos no Tribunal de Almeirim com o n.º 495/2002.

5. Os requeridos BB e CC sempre residiram no referido prédio.

6. Em 07 de fevereiro de 2013, os requeridos BB e CC declararam doar o prédio referido em 4. à sua filha DD e cônjuge EE, pelo valor global de 65 383,80 €, declarando que a doação era feita “por conta das quotas disponíveis dos doadores”.

7. No acórdão referido em 2. considerou-se provado que a economia do agregado familiar de BB e CC baseia-se nas respetivas pensões de reforma que rondam cerca de 600,00 €.

8. Em 17 de julho de 2013, quando o processo comum colectivo n.º 1/13.9 GFALR corria já os seus termos e depois de proferida a acusação, os

requeridos DD e cônjuge EE declararam vender a FF e GG, e estes declararam comprar, o referido prédio, pelo valor global de 120 000,00 €, a liquidar em 300 prestações mensais de 400,00 € cada.

9. Os requeridos FF e GG são vizinhos dos requeridos BB e CC e dos requeridos DD e cônjuge EE.

10. A aquisição referida em 9. encontra-se registada.

11. O requerido FFcedeu aos requeridos DD e cônjuge EE, a título de comodato e para a sua habitação, o referido prédio.

12. No âmbito do arresto preventivo que correu por apenso ao aludido processo crime, sob o n.º 1/13.9 GFALR – A, foi decretado, entre outros, por sentença datada de 07.01.2014, o arresto preventivo dos valores depositados

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em contas tituladas pelo requerido BB (também aqui requerido), junto de quaisquer entidades bancárias, tendo sido oficiadas estas últimas entidades para os devidos efeitos, apurando-se, assim, mediante resposta datada de 24.03.2014, que o identificado requerido detém/detinha conta(s) bancária(s) na entidade Banco, mas que essa mesma(s) conta(s) se encontra(m) ”saldada (s) desde o passado dia 03.01.2013 e 10.01.2013”.

13. Como factos indiciariamente provados no procedimento cautelar referido em 12., considerou então o tribunal os seguintes:

- “A aqui requerente é cabeça-de-casal da herança aberta por óbito de HH.

- No âmbito dos autos principais foi deduzido o respetivo pedido de indemnização civil contra o aqui requerido e arguido naquele processo.

- O requerido trabalhou a vida inteira no sector agrícola, a par da sua família, auferindo agora a respectiva pensão.

- O requerido era dono e legítimo possuidor do prédio que se compõe de uma parte urbana – duas casas de rés-do-chão, para habitação, e quintal – e de uma parte rústica – pinhal, cultura arvense, horta, vinha e pomar de prunóideas – com a área total de 4 800 m2, descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 6841, inscrito na matriz respectiva sob os artigos 49, secção 051, e artigos 3217 e 4526, em virtude da adjudicação do mesmo em processo especial de divisão de coisa comum que correu termos no Tribunal de Almeirim com o n.º 495/2002.

- Em 07.02.2013, o prédio referido em 4) foi doado a DD.

- Em 17.07.2013, portanto quando o processo principal corria já os seus termos, procedeu-se ao registo da aquisição do imóvel referido em 4) a favor de FF e GG, vizinhos do ora arguido, e testemunhas arroladas pela defesa no âmbito do processo principal.

- O imóvel referido em 4) continua a ser a casa de habitação do arguido e da sua esposa, onde detêm os seus pertences, e onde aquela continua a

estruturar e levar a sua vivência.

- Por acórdão proferido em 11.12.2013, ainda não transitado em julgado, o requerido foi condenado pela prática do crime de homicídio simples de HH, na pena de onze (11) anos de prisão, e no pagamento a AAa quantia de 12 000 € – doze mil euros – (a título de danos morais por ela sofridos com a morte da vítima), acrescida dos juros de mora legais, calculados sobre essa quantia, desde a data da prolação do presente acórdão até integral e efetivo

cumprimento; a II, JJ e LL a quantia de 10 000 € – dez mil euros – (a título de danos morais por ela sofridos com a morte da vítima), para cada um, acrescida dos juros de mora legais, calculados sobre essa quantia, desde a data da

prolação do presente acórdão até integral e efetivo cumprimento e a AA, II, JJ e LL, em conjunto a quantia de 47 500,00 € (quarenta e sete mil e quinhentos

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euros), acrescida dos juros de mora legais, calculados sobre essa quantia, desde a data da prolação do presente acórdão até integral e efetivo

cumprimento.”

14. O acórdão da primeira instância proferido no processo comum colectivo n.º 1/13.9 GFALR foi confirmado pelo Supremo Tribunal de Justiça quanto ao montante indemnizatório arbitrado – 89 500,00 €.

15. Os requeridos BB e CC são casados um com o outro no regime da comunhão geral de bens.

*

E foram não provados os seguintes:

1. No prédio identificado em 4. dos factos provados tem edificado uma benfeitoria propriedade dos requeridos DD e marido, EE, cujo valor é manifestamente superior ao da parcela rústica.

2. O valor do prédio que consta da doação resulta de elementos fornecidos pelos intervenientes naquele ato notarial.

3. Os requeridos FF e GG desconheciam que a venda ocorreu com o intuito de o requerido HH se furtar ao pagamento de qualquer indemnização, assim como desconheciam as importâncias reclamadas àquele.

4. Os requeridos FF e GGdesconheciam os desenvolvimentos do processo - crime aquando da outorga da escritura de compra e venda.

5. O preço referido em 8. dos factos provados encontra-se a ser pago mensalmente, contra recibo, pelos requeridos FF e GG.

6. Na última declaração de IRS entregue, os requeridos DD e marido, EE declararam a venda efectuada aos requeridos FF e GG.

*

O primeiro fundamento para a revogação da sentença é que o juiz que a proferiu estava impedido de o fazer uma vez que foi quem julgou o processo crime e, neste, arbitrou a indemnização, isto atento o disposto no artigo 115.º, nº.1, al. c) do CPC.

Este preceito legal estabelece que nenhum juiz pode exercer as suas funções, em jurisdição contenciosa ou voluntária «Quando tenha intervindo na causa como mandatário ou perito ou quando haja que decidir questão sobre que tenha dado parecer ou se tenha pronunciado, ainda que oralmente» (o problema só se coloca quanto à segunda parte). Citam a este respeito José Lebre de Freitas e Isabel Alexandre em Código de Processo Civil Anotado, Vol.

I, 3.ª ed., Coimbra Editora, 2014, p. 233: «Visa-se, em qualquer dos casos, vedar a intervenção do juiz que já comprometeu a sua opinião com os factos subjacentes à lide ou com a posição de um dos lados em conflito».

A leitura do artigo revela-nos uma situação bem diferente daquela que temos perante nós: a de uma pessoa que esteve fora da magistratura e que agora

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tem esta profissão; e que na sua vida anterior emitiu parecer ou opinião profissional sobre um dado caso que está agora em julgamento.

Manifestamente, esta pessoa não pode julgar o caso pois que sobre ele já tem opinião formada, já tem um preconceito.

O caso aqui é outro. Estamos perante um juiz que no exercício das suas

funções julgou um caso e que, no mesmo exercício de funções, vai agora julgar um caso relacionado. Não há qualquer impedimento pois que a isenção não fica comprometida; o resultado dependerá, como sempre, da prova que for apresentada e é sempre possível que a nova decisão venha a ser diferente da que decorreria da anterior. Ou seja, o facto de o mesmo juiz julgar duas causa relacionadas entre si não lhe retira a sua capacidade de imparcialidade, não lhe confere um pré-juízo sobre a decisão da segunda causa.

Exemplo claro, a nosso ver, de que a lei não encara esta situação como causa de impedimento é o disposto no art.º 662.º, n.º 3, al. d), Cód. Proc. Civil. A repetição do julgamento anulado deve ser feita pelo juiz que fez o julgamento.

Só se isto não for possível é que outro juiz tomará uma posição. E repare-se que estamos a falar do mesmo exacto caso e não de dois com alguma relação entre si. É o mesmo julgamento que é repetido pelo mesmo juiz.

Entendemos, pois, que a circunstância de um juiz ter realizado um julgamento não o impede (no sentido próprio do termo) de realizar outro relacionado.

*

Em relação à questão da incomunicabilidade da dívida, e consequente impossibilidade de decretar o arresto sobre bens comuns, cremos que a sentença coloca bem a questão no trecho acima citado.

Os recorrentes pretendem que o prédio é um bem comum mas também

alegam que sobre ele existe uma benfeitoria que foi doada, juntamente com o solo, aos segundos requeridos.

Assim, das duas uma: ou o prédio é dos primeiros requeridos ou é dos

segundos. No segundo caso, não está certo dizer que «o arresto decretado é ilegal porquanto ofende (...) em última análise o anterior direito de

propriedade da Requerida CC». No primeiro caso, já não estará certo dizer que o arresto ofende «o direito de propriedade dos Requeridos FF e mulher GG».

Mas os recorrentes é que têm de saber a quem pertence o prédio.

Para já, os elementos disponíveis indicam que formalmente os 3.º requeridos são os titulares inscritos do direito de propriedade por força de uma venda que lhes fizeram os 2.º requeridos que, por sua vez, o haviam recebido dos 1.º requeridos — tudo isto depois do homicídio.

Mas para isto existe o art.º 392.º, n.º 2, Cód. Proc. Civil, que permite o arresto contra o adquirente de bens do devedor. A aplicação deste preceito legal,

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explicitada na sentença, não está contrariada pelas alegações.

A argumentação, por não ter em conta o preceito legal citado, é apenas formal.

*

Em relação à última questão, os recorrentes defendem que o tribunal procedeu mal classificar a prova produzida com os depoimentos dos

requeridos e bem assim da testemunha MM como depoimentos interessados na causa. Baseia-se, para tanto, no facto de a lei permitir as declarações de parte (art.º 466.º, Cód. Proc. Civil) e de as partes estarem obrigadas ao dever de verdade, ainda que não sujeitas a juramento como qualquer uma normal testemunha.

Por isso, e em forma de conclusão, o tribunal tem de valorar os depoimentos dos requeridos FF e GG, pelo simples facto de serem parte nos autos.

Uma coisa temos por certa: não é por as partes estarem obrigadas a dizer a verdade que o tribunal tem de acreditar nos seus depoimentos. Não há aqui prova plena, queremos dizer, não é por uma parte dizer que é branco que o tribunal é obrigado a dar por provado tal.

O que se passa é que os depoimentos dos requeridos foram avaliados e, tal como a prova testemunhal, estão sujeitos à livre apreciação do tribunal (cit.

art.º, n.º 3) não estando este vinculado pelo seu conteúdo.

Por isso não deu por provados uma série de factos que, ao invés, os

recorrentes pretendem ver provados. E não deu porque os depoimentos não mereceram credibilidade, como na sentença se explica. Não deixa de ser interessante, aliás, que os recorrentes aleguem que há já 3 ou 4 anos a

requerida DD tinha proposto a venda ao requerido FF quando o certo é que o prédio só lhe foi doado em Fevereiro de 2013! Sendo certo, ainda mais, que, conforme as suas próprias declarações, perguntada sobre a circunstância de o prédio lhe ter sido doado pelos pais cerca de um mês após a prática do crime, ter respondido evasivamente não saber o que se passava na cabeça do pai, já que esta doação nunca havia sido tema de conversa entre ambos.

Manifestamente, o tribunal não podia deixar de valorar estes depoimentos como fez, isto é, não lhe atribuindo qualquer valor, sendo certo, como é, que não estamos perante uma prova vinculativa.

*

Pelo exposto, julga-se improcedente o recurso.

Custas pelos recorrentes.

Évora, 9 de Julho de 2015 Paulo Amaral

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Francisco Xavier Elisabete Valente

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