• Nenhum resultado encontrado

Saneamento e habitação no diagnóstico participativo: estudo de caso da agenda 21 do conjunto habitacional Rosalina em Fortaleza – Ceará

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Saneamento e habitação no diagnóstico participativo: estudo de caso da agenda 21 do conjunto habitacional Rosalina em Fortaleza – Ceará"

Copied!
144
0
0

Texto

(1)

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA HIDRÁULICA E AMBIENTAL MESTRADO EM SANEAMENTO AMBIENTAL

ROBERTO PIMENTEL HOLANDA

SANEAMENTO E HABITAÇÃO NO DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO: ESTUDO DE CASO DA AGENDA 21 DO CONJUNTO HABITACIONAL ROSALINA

EM FORTALEZA – CEARÁ

(2)

2

ROBERTO PIMENTEL HOLANDA

SANEAMENTO E HABITAÇÃO NO DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO: ESTUDO DE CASO DA AGENDA 21 DO CONJUNTO HABITACIONAL ROSALINA

EM FORTALEZA-CE

Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, na área de concentração em Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil.

Orientadora: Profª Drª Marisete Dantas de Aquino

(3)

3

ROBERTO PIMENTEL HOLANDA

SANEAMENTO E HABITAÇÃO NO DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO: ESTUDO DE CASO DA AGENDA 21 DO CONJUNTO HABITACIONAL ROSALINA

EM FORTALEZA-CE

Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil, na área de concentração em Saneamento Ambiental.

Aprovada em: ___/___/___.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________________ Profª Dra. Marisete Dantas de Aquino

Orientadora

____________________________________________________________________ Profª Dra. Maria Neyara de Oliveira Araújo

Examinador Interno

____________________________________________________________________ Prof. Dr. Adeildo Cabral da Silva

(4)

4

(5)

5

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Roberto e Socorro. Obrigado por toda a educação, compreensão e amor dedicados todos estes anos.

Às minhas irmãs, Samia e Suêrda pelo companheirismo, apoio e amizade incondicional. Amo vocês.

À minha Tia Cacilda pelo amor e dedicação nas primeiras fases de minha educação e distribuídos até hoje.

Aos dois grandes apoios, Alexandre Joca (Es Muss Sein) e tio Luis Palhano Loiola (Em Memória). Obrigado pelo estímulo e incentivo.

Aos bons momentos de descontração proporcionados por Elana, Alesandra, Raquel, Dediane, Helenice, Elzanir, Ângelo, Jorge, Rafael, Chico, Adriano Caetano, Mardônio e tio Dinho. Sei que sempre contarei com todos. Mais que amigos... Irmãos.

À Profª Drª Marisete Dantas de Aquino pela orientação, compreensão, confiança, paciência e conhecimento transmitido.

Aos colegas das turmas de mestrado de 2007.1, pelo companheirismo durante as disciplinas realizadas.

Aos queridos amigos e colegas Socorro (Helpinha), Germana, Elisângela (Elis), Ada, Neyliane, Henrique (Irmão), Roger, Vinícios, Paulo Igor, Francione e Cleto, pela amizade solidificada durante o curso de mestrado.

Aos professores do Departamento de Hidráulica e Saneamento (DEHA) por toda a base científica fornecida nos conhecimentos transmitidos.

(6)

6

(7)

7

RESUMO

A capital cearense ocupa os segundos piores lugares nas listas de acesso adequado à água, com 88,5%, e ao esgoto, com 71,1%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada em 2007. Estes dados reforçaram ainda mais a emergência para a viabilidade da obra de construção do Conjunto Habitacional Rosalina, comunidade caracterizada como área de risco em Fortaleza. Assim, em Abril de 2007, a Associação Civil Alternativa Terrazul com apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza e da Associação de Moradores da Comunidade da Rosalina iniciou o processo de construção e implementação da Agenda 21 Local, simultaneamente ao início das obras. Este trabalho observa o desenvolvimento desse processo, empregando uma metodologia que parte da coleta de dados primários e secundários, respectivamente, de forma indireta e direta, culminando com uma análise técnica crítica dos aspectos saneamento e habitação, dentro do universo de pesquisa compreendido entre Abril de 2007 à Junho de 2009. O diagnóstico prévio, ou dados primários da pesquisa, formou a base para o desenvolvimento de um questionário, aplicado de forma direta a uma amostra da população da Comunidade da Rosalina. Da análise das respostas, resultou os dados secundários, complementados com consultas aos órgãos responsáveis pela obra, como também, entrevistas com líderes comunitários locais. Observou-se que o processo de planejamento e diagnóstico participativo ou Agenda 21 não substitui planejamentos convencionais político-governamentais, pois sua implementação une-se aos mesmos para se fortalecer na execução de seus compromissos, tornando estes planos mais reais e vinculados à população.

(8)

8

ABSTRACT

The capital from Ceara, be situated in the second worst place on the appropriated water access lists with 88,5 %, and on the sewage system with 71,1%, according to National Research for Sample Residences - 2007. These informations confirm the emergency to viability of construction of the housing development Rosalina, district considerated as risck area in Fortaleza. Like this, Associação Civil Alternativa Terrazul, with the support from City Hall of Fortaleza and Associação de Moradores da Comunidade da Rosalina started the process of construction and implementation of the local Agenda 21, simultaneously the beginning of the construction. This paper observes the development of this process, using a methodology of primary and secondary data collection, direct and indirectly, ending with the technical and critical analysis of the environmental sanitation and habitation aspects, considering the research universe between April 2007 and June 2009. The previous diagnosis, or the primary data became the base for the development of a questionnaire, applied directly in a sample of Rosalina community. The answers analysis gave rise the secondary data, supplemented with consultation the people in charge of the building work, also local community leaderships. Observed that the planning process and participatory diagnosis or Agenda 21 don’t replace the

conventional political and government plannings, because your implementation joins them to strengthen in the execution of your obligations, becoming this plans more real and attached to the population.

(9)

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Aspectos Econômicos, Ecológicos e Sociais na Sustentabilidade ... 34

Figura 2 – A função do Fórum na definição de Cenário de Futuro ... 46

Figura 3 – A Formação Cíclica dos Subprocessos na Agenda 21 ... 52

Figura 4 – A Dinâmica do Processo da Gestão Social ... 53

Figura 5 – Comunidade Rosalina Pré-Intervenção no ano de 2006 ... 57

Figura 6 – Mapa do Município de Fortaleza (acima) e Zonas Administrativas (abaixo) ... 58

Figura 7 – Localização da Comunidade Rosalina destacando a área de Intervenção ... 59

Figura 8 – Condições Habitacionais na Comunidade Rosalina ... 65

Figura 9 – Casa da Agenda 21 Local da Comunidade Rosalina ... 69

Figura 10 –Grupo Temático realizando a “Oficina do Futuro” ... 70

Figura 11 –Modelo de Organização do Plano de Ação ... 71

Figura 12 – Cartaz de Divulgação da Conferência ... 74

Figura 13 – Mobilização para a Eleição do Fórum ... 74

Figura 14 – Participação do Teólogo, Filósofo e Ambientalista, Leonardo Boff ... 75

Figura 15 – Dados e Premissas Considerados no Projeto ... 79

Figura 16 – Planilha de Quantitativos e Preços Unitários da Licitação Rosalina ... 83

Figura 17 – Moradora da Comunidade Recebendo sua Casa ... 91

Figura 18 – Recorte do Jornal o Povo ... 91

Figura 19 – Canteiro de Obras: apartamentos do Conjunto Habitacional Rosalina, 2008 ... 103

Figura 20 – Canteiro de Obras: embriões do Conjunto Habitacional Rosalina, 2008... 104

Figura 21 – ETE do Conjunto Habitacional Rosalina, Agosto de 2009 ... 107

Figura 22 – ETE do Conjunto Habitacional Rosalina, Agosto de 2009 ... 108

Figura 23 – Situação atual da Infra-estrutura Urbanística Básica em alguns trechos, 2009 .. 109

Figura 24 – Embriões condenados pela Defesa Civil, Agosto de 2009. ... 110

Figura 25 – Habitações no período pré-chuvoso, Dezembro de 2008 ... 111

Figura 26 – Habitações no período pós quadra invernosa, Agosto de 2009 ... 112

Figura 27 – Centro Comunitário do Conjunto Habitacional Rosalina, Agosto de 2009 ... 113

Figura 28 – Vias de Acesso ao Conjunto Habitacional Rosalina, Agosto de 2009 ... 114

Figura 29 – Vista aérea panorâmica do Conjunto Habitacional Rosalina, 2008 ... 115

(10)

10

LISTA DE QUADROS

Quadro 3 – Capítulos da Agenda 21 Global ... 23

Quadro 4 – Linhas Estratégicas Estruturadoras da Agenda 21 Brasileira ... 27

Quadro 5 – Capítulos da Agenda 21 Brasileira ... 28

Quadro 6 – Instrumentos contidos no Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001) ... 37

Quadro 7 – Resultados Esperados de Sustentabilidade no Plano local ... 41

Quadro 8 – Metodologias para Implementação de Agenda 21 ... 49

(11)

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – População por Faixa Etária e Gênero ... 62

Tabela 2 – Gênero e Renda do Chefe de Família ... 63

Tabela 3 – Escolaridade do Chefe de Família ... 63

Tabela 4 – Número de Membros da Família ... 64

Tabela 5 – População por Faixa Etária e Grau de Escolaridade ... 64

Tabela 6 – Doenças Mais Freqüentes ... 65

Tabela 7 – Tipos de Moradia ... 76

Tabela 8 – Número de Cômodos ... 76

Tabela 9 – Banheiro ... 76

Tabela 10 – Destino do Lixo ... 77

Tabela 11 – Abastecimento de Água ... 77

Tabela 12 – Tratamento de Água ... 78

Tabela 13 – Rede e Distribuição... 80

Tabela 14 – Ligações Prediais ... 80

Tabela 15 – Etapas e Atividades da Obra ... 82

Tabela 16 – Conhecimento da População ... 92

Tabela 17 – Iniciativa ... 92

Tabela 18 – Objetivo ... 93

Tabela 19 – Fórum, Comissão ou Grupo de Trabalho ... 93

Tabela 20 – Responsáveis pela Coordenação do Processo de Constituição do Fórum ... 94

Tabela 21 – Reuniões do Fórum Regularmente ... 94

Tabela 22 – Funcionamento do Fórum ... 94

Tabela 23 – Interrupção do Processo da Agenda 21 ... 95

Tabela 24 –Prestação Pública de Contas das Atividades ... 95

Tabela 25 – Apresentação de Resultados da Agenda 21 ... 95

Tabela 26 – Iniciativa de Agenda 21 em Escola ... 96

Tabela 27 – Agenda 21 na Geração de Emprego e Renda ... 96

Tabela 28 – Agenda 21 no Fortalecimento e/ou Criação de Organizações Sociais ... 97

Tabela 29 – Processo da Agenda 21 com Apoio do Governo Municipal Atualmente ... 97

Tabela 30 – Órgãos Municipais Responsáveis pela Obra Dispostos a Ouvir a População ... 98

(12)

12

(13)

13

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

1.1 Justificativa ... 18

1.2 Objetivos ... 19

1.2.1 Objetivo Geral ... 19

1.2.2 Objetivos Específicos ... 19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 20

2.1 A Agenda 21 Global ... 21

2.2 A Agenda 21 Brasileira ... 26

2.2.1 Diretrizes Básicas e Ações Prioritárias ... 27

2.2.2 Estratégias de Atividades ... 30

2.2.3As Novas Diretrizes ... 31

2.3 O Âmbito Local: Cidade, Desenvolvimento e Sustentabilidade ... 32

2.3.1 O Estatuto da Cidade ... 36

2.3.2 Cidades Sustentáveis ... 37

2.3.2.1 Decálogo da Cidade Sustentável ... 39

2.3.2.2 Gestão Democrática na esfera Municipal: Sustentabilidade Local ... 40

2.3.2.3Instrumentos de Participação Popular nas Políticas Públicas ... 42

2.4 A Agenda 21 Local ... 44

2.4.1 Processo de Construção ... 45

2.4.2Resultados Locais ... 46

2.4.3 Metodologias para Implementação ... 48

2.4.4 Fonte de Recursos ... 53

2.4.4.1 Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA ... 53

2.4.4.2 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES ... 54

2.4.4.3 Caixa Econômica Federal – CEF: Programas destinados ao Setor Público ... 54

3 METODOLOGIA ... 56

3.1 Área de Intervenção ... 57

3.1.1 Características Gerais e Localização ... 57

3.1.2 Breve Histórico ... 60

3.1.3 Indicadores Sócio-econômicos ... 62

3.1.3.1 Aspectos Demográficos ... 62

(14)

14

3.1.3.2 Educação ... 64

3.1.3.3 Saúde ... 65

3.1.4 Diagnóstico Participativo: Cenário da Pesquisa ... 66

3.2 Agenda 21 da Rosalina ... 67

3.2.1 O Passo a Passo ... 68

3.2.1.1 Primeiro Passo ... 68

3.2.1.2 Segundo Passo ... 69

3.2.1.3 Terceiro Passo ... 70

3.2.1.4 Quarto e Quinto Passos ... 74

3.2.2 Diagnóstico 1: Habitacão ... 75

3.2.3 Diagnóstico 2: Saneamento Básico ... 76

3.3 O Conjunto Habitacional da Rosalina ... 78

3.3.1 O Projeto ... 79

3.3.2 Rede de Distribuição de Água ... 79

3.3.3 Justificativa da Localização ... 81

3.3.4 Cronograma de Atividades ... 81

3.3.5 Custos ... 83

3.4 Limitações Metodológicas ... 84

4 RESULTADOS ... 85

4.1 Análise dos Dados Primários ... 85

4.2 Análise dos Dados Secundários ... 90

4.3 Relatoria ... 100

5 CONCLUSÕES ... 118

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 120

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ... 129

ANEXO A – A CARTA DA TERRA ... 133

ANEXO B – ESTATUDO DA CIDADE: CAPÍTULO I, ART. 2º ... 138

ANEXO C – ESTATUDO DA CIDADE: CAPÍTULO III, DO PLANO DIRETOR .... 140

ANEXO D – CAPÍTULO 28 DA AGENDA 21 GLOBAL ... 142

(15)

15

1 INTRODUÇÃO

“Haverá paradeiro para o nosso desejo? (...) Uns preferem dinheiro, outros querem um passeio perto do precipício. Haverá paraíso sem perder o juízo sem morrer (...)

Num momento propício, haverá paradeiro para isso? Haverá paradeiro para o nosso desejo, dentro ou fora de nós? Haverá paraíso.”

Arnaldo Antunes

No ano de 1972, em Estocolmo, Suécia, foi realizada a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, com representantes de governo de diversos países, sendo celebrados diversos acordos. Para Reis (2005) e Gadotti (2008), este foi o primeiro marco da Organização das Nações Unidas (ONU), no trato das questões ambientais.

No total, participaram da Conferência, 113 países e 250 organizações não-governamentais (ONGs) que conjuntamente com alguns organismos das Nações Unidas, elaboraram a Declaração de Estocolmo, com seus 26 princípios básicos de atuação do homem em relação à natureza. Em 1988, por influência de Estocolmo e dos relatórios realizados após esta conferência, o Brasil inclui a proteção ambiental na Constituição através do artigo 225. (BENTHIEN, 2007)

A Cúpula levou à criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a uma maior compreensão da necessidade de direcionar o modo como olhamos para o meio ambiente. Dessa forma, pela primeira vez foram reunidos em um grande evento internacional, países industrializados e em desenvolvimento e iniciou uma série de Conferências da ONU que viriam a tratar de áreas específicas, como alimentação, moradia, população e direitos humanos.

Em 1982, uma avaliação dos dez anos pós-Estocolmo aconteceu e, desse encontro, emergiu um chamado para a formação de uma Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMA), implementada em 1983. Em 1987, os resultados dessa Comissão apareceram como o “Relatório Nosso Futuro Comum”, também conhecido como “Relatório

Brundtland”. Uma das suas principais recomendações, foi a realização de uma conferência

mundial que direcionasse os assuntos ali levantados. (ANA, 2002)

A maior significância atribuída ao documento, é que, ali, também, foi usada pela

primeira vez a definição de desenvolvimento sustentável, caracterizado como “aquele que

atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras

(16)

16

Segundo Mendes (1998), nessa definição se contém, com outras palavras, o duplo comprometimento com os seres humanos e com sua ambiência. O reconhecimento das restrições a que os processos estão submetidos, e, portanto, das restrições impostas ao seu sucesso.

Nessa lógica, a ONU, preocupada com a inércia dos países signatários da Conferência de Estocolmo, promoveu um novo encontro no ano de 1992, no intuito de suprir a lacuna dos vinte anos passados e traçar algumas estratégias para o Desenvolvimento Sustentável. Para o Brasil foi uma oportunidade ímpar, partindo na frente, pois já contava com a nova Carta Constitucional promulgada em 1988, primeira a destinar um capítulo para o meio ambiente, trazendo à luz o Desenvolvimento Sustentável e a promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino. (CAÚLA; OLIVEIRA, 2008)

Vinte anos depois de Estocolmo, em 1992, como resultado do Relatório Bruntland, a Assembléia Geral das Nações Unidas convocou a segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada a convite do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, no período de 3 a 14 de junho. Esta Conferência, conhecida como

“ECO 92”, “Cúpula da Terra” ou “RIO 92”, foi um marco decisivo nas negociações internacionais sobre as questões de meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

Na preparação para a Cúpula, foi tomada a importante Resolução 44/228, ressaltando

que, segundo Reis (2005), “a proteção ambiental deve ser enfocada num contexto de íntima

relação entre pobreza e degradação”, reconhecendo também que “a maioria dos problemas da

poluição é causada pelos países desenvolvidos, e que estes terão a maior responsabilidade em combatê-la”.

O evento contou com a participação de 179 países e inúmeras organizações não governamentais (ONG) de todo o mundo, e o discurso do desenvolvimento sustentável foi sendo legitimado, oficializado e difundido. A reunião tinha como principal objetivo, chegar a um equilíbrio justo entre as necessidades econômicas, sociais e ambientais das gerações atuais e futuras estabelecendo as bases para uma associação mundial entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, baseadas na compreensão das necessidades e interesses comuns. Esta premissa deveria dominar também os debates educativos nas próximas décadas.

(17)

17

princípios relativos às florestas, uma série de indicações para um manejo mais sustentável das florestas do mundo. Também foram assinadas duas convenções com força jurídica: a Convenção sobre Mudanças Climáticas e a Convenção sobre Biodiversidade. Paralelamente ao evento, foram iniciadas negociações para uma Convenção contra a desertificação, que ficou aberta a assinaturas até outubro de 1994, e entrou em vigor em dezembro de 1996. (KRANZ, 2008)

Além da Conferência oficial patrocinada pela ONU, ocorreu simultaneamente, o Fórum Global 92, promovido pelas entidades da Sociedade Civil. Participaram do Fórum mais de 10 mil representantes de ONG das mais variadas áreas de atuação de todo o mundo. Ele se constituiu num conjunto de eventos, englobando, entre outros, os encontros de mulheres, crianças, jovens e índios. Neste Fórum foi aprovada uma “Declaração do Rio”,

também chamada de “Carta da Terra” (Anexo A), conclamando a todos os participantes para

que adotassem o seu espírito e os seus princípios, em nível individual e social. (GADOTTI, 2007)

Na mesma Conferência foi acordada a criação de uma nova instituição no sistema das Nações Unidas, a fim de monitorar a implementação da A21. Foi criada, então, em 1993, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS), que promoveu um avançado sistema de parcerias entre as ONG e a ONU, e estimulou, em vários países, a criação de comissões de desenvolvimento sustentável e a definição de estratégias nacionais de desenvolvimento sustentável. (ANA, 2002)

Diante do possível extermínio do planeta, conferências e acordos vão surgindo, atitudes políticas são cada vez mais cobradas, e mesmo assim, no diálogo entre as Nações, o

principal assunto é “quem vai ficar com este abacaxi?”. Em um âmbito maior de consciência

surgem alternativas numa “cultura da paz” e uma “cultura da sustentabilidade”. Dessa maneira, em nosso momento, uma busca por uma evolução interior seria a melhor proposta. Partindo do intimo, dialogando com nosso particular, seria o melhor caminho para que a humanidade chegue a um entendimento, a um consenso quanto a todas as questões globais. (ANTUNES; GADOTTI, 2008)

(18)

18

Neste âmbito, a Agenda 21 se tornou um poderoso instrumento para promover a discussão sobre os novos paradigmas da sustentabilidade, tanto em nível internacional como em nível nacional, com foco no desenvolvimento local. Municípios, regiões e comunidades, começaram a se preocupar com a sustentabilidade do desenvolvimento local e iniciaram a elaboração de sua Agenda 21, apoiados no diagnóstico participativo para levantamento das prioridades do desenvolvimento da comunidade e a formulação do plano de ação.

O presente trabalho se propõe a relatar a experiência da Comunidade Rosalina, em Fortaleza-CE, na criação da sua Agenda 21 Local como fruto de um diagnóstico participativo. Administração municipal, empresas e atores da sociedade civil são chamados para participar do planejamento com o diagnóstico da situação atual e das oportunidades para o desenvolvimento local em diferentes aspectos, sobretudo no que se refere à habitação, saneamento e melhorias na qualidade de vida da comunidade.

Quanto à estrutura, divide-se em cinco capítulos: introdução, com breve resumo histórico dos caminhos percorridos até a formulação do conceito de desenvolvimento sustentável; no segundo capítulo consta o referencial teórico acerca de conceitos relevante ao surgimento e aplicação de Agenda 21, seu processo de construção e metodologias para implementação; o terceiro, define e aplica a metodologia empregada na pesquisa; no quarto capítulo, expõe-se e discute os resultados obtidos; conclusões e recomendações encerram o trabalho, formulando o quinto e último capítulo.

1.1Justificativa

Historicamente, a discussão do modelo de desenvolvimento sustentável começou na década de 1970 e continua até hoje, com um cenário cada vez mais amplo e participativo, implicando na necessidade de profundas mudanças nos atuais sistemas de produção, organização da sociedade humana e de utilização de recursos naturais essenciais à vida no planeta. Todas estas mudanças são catalisadas pelo processo de globalização que, sozinho, já é um desafio ao desenvolvimento sustentável. (REIS, 2005)

(19)

19

Seguindo neste contexto, este trabalho visa colaborar com um importante debate no cenário social atual, a partir de uma visão global, chegando-se ao aspecto local dos problemas que serão tratados de forma mais consistente. O principal intuito será levantar questões fundamentais em relação ao meio ambiente, habitação e saneamento, abrindo espaço para uma maior participação, entendimento e integração entre a população da Comunidade Rosalina.

De forma mais abrangente, tomaremos desde a identificação dos desafios, até a proposição de ações para resolução de conflitos, buscando a prática da sustentabilidade, seguindo os passos que são propostos na formação de uma Agenda 21, pois, dispor de informações atualizadas, abrangentes e confiáveis é essencial para a formulação e o redirecionamento das ações ou programas que visem o incremento da qualidade de vida da população, principalmente no âmbito local.

Assim, esperamos que os dados e observações provenientes da pesquisa, venham, mais uma vez, subsidiar formuladores de políticas e tomadores de decisões, bem como a comunidade acadêmica, nas questões do desenvolvimento social e urbano locais.

1.2Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Avaliar os aspectos saneamento, habitação e diagnóstico participativo no processo de implementação de Agenda 21 Local na construção do Conjunto Habitacional Rosalina, em Fortaleza-CE.

1.2.2 Objetivos Específicos

 Analisar o desenvolvimento do diagnóstico participativo na criação da Agenda 21 do Conjunto Habitacional Rosalina, assim como, sua implementação;

 Observar e relatar o processo de construção do conjunto habitacional, observando os aspectos saneamento e habitação, conforme o projeto da Prefeitura Municipal de Fortaleza;

(20)

20

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

“O termo “Agenda” foi concebido no sentido de intenções, desígnio, desejo de mudanças para um modelo de civilização em que predominasse

o equilíbrio ambiental e a justiça social entre as nações.” Agenda 21 Global

Entender a Agenda 21 Local (AL21) e suas propostas no campo de gestão participativa e sustentável é relevante para a compreensão do seu processo de aplicação, no entanto, torna-se necessário uma revisão histórica nos caminhos percorridos pelo homem, no trato com o meio ambiente, destacando-se o surgimento da consciência ecológica1 e dos ideais

de desenvolvimento sustentável dentro de nossos dias “insustentáveis".

Partindo desse entendimento, “o homem deve utilizá-los, de modo a desfrutar dos

recursos que a Natureza oferece para a melhoria da sua qualidade de vida, mas sempre buscando o equilíbrio dos mesmos, de forma a garantir a sua conservação, e consequentemente, a sua permanente utilização”. (MOTA, 2006)

Segundo Reis (2005), um importante resultado desta discussão, é a conscientização crescente sobre a significância que a interferência humana impõe aos sistemas naturais, sobre os desequilíbrios ambientais resultantes e os impactos desses desequilíbrios nos referidos

sistemas humanos e naturais. Na lógica desse raciocínio, Mota (2006) reforça que “o

surgimento de problemas ambientais graves, com reflexos sobre o próprio homem, levo-o a procurar compreender melhor os fenômenos naturais e a entender que deve agir como parte

integrante do sistema natural”.

Seguindo neste contexto, estes fundamentos visam colaborar com um debate de extrema importância no atual cenário da humanidade, a partir de uma visão global, chegando-se ao aspecto local dos problemas que chegando-serão tratados de forma mais consistente. O principal intuito será levantar questões fundamentais em relação ao meio ambiente, abrindo espaço para uma maior participação, entendimento e integração entre a população. De forma mais abrangente, tomaremos desde a identificação dos desafios, até a proposição de ações para resolução de conflitos, buscando a prática da sustentabilidade, seguindo os passos que são propostos na formação de uma Agenda 21.

(21)

21

2. A Agenda 21 Global

A humanidade se encontra em um momento de definição histórica. Defrontamos-nos com a perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no interior delas, o agravamento da pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a deterioração contínua dos ecossistemas de que depende nosso bem-estar. Não obstante, caso se integrem as preocupações relativas a meio ambiente e desenvolvimento e a elas se dedique mais atenção, será possível satisfazer às necessidades básicas, elevar o nível da vida de todos, obter ecossistemas melhor protegidos e gerenciados e construir um futuro mais próspero e seguro. São metas que nação alguma pode atingir sozinha; juntos, porém, podemos -- em uma associação mundial em prol do desenvolvimento sustentável. (AGENDA 21, Preâmbulo, 1996)

Esta proposta, rumo ao desafio de reduzir o impacto dos seres humanos sobre o planeta não é simples. Para muitas pessoas, alcançar o desenvolvimento sustentável significa assegurar acesso a mais recursos, não a menos. Em geral as soluções estão em corrigir estas desigualdades, e atingir uma redução global do consumo e do desperdício. (KRANZ, 2006)

A biodiversidade e as águas são elementos estratégicos que se bem utilizados, podem ser úteis no estabelecimento do Brasil entre as nações que já atingiram o desenvolvimento. Utilizando formas de exploração dos recursos naturais permitindo a preservação para gerações futuras, surgem neste contexto, os conceitos de Ecodesenvolvimento e Desenvolvimento Sustentável, bastante divulgado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como RIO 92. (LIMA; CASCON, 2008)

Dentro de nosso cenário atual, partindo para uma visão do futuro, vemos que,

Surge um novo paradigma de meio ambiente e desenvolvimento em resposta ao desafio da sustentabilidade, apoiado por valores e instituições novos e mais eqüitativos. Prevalece uma situação mais visionária, em que as mudanças radicais na forma em que as pessoas interagem umas com as outras e com o mundo em torno delas estimulam e apóiam medidas de políticas sustentáveis e um comportamento responsável por parte das empresas. Há uma colaboração muito mais ampla entre os governos, os cidadãos e outros grupos de interesse na tomada de decisões sobre questões de preocupação comum. Chega-se a um consenso sobre o que precisa ser feito para satisfazer as necessidades básicas e alcançar metas pessoais sem empobrecer outros ou estragar as perspectivas para a posteridade. (PNUMA, 2004).

(22)

22

Consolidou a idéia de que o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente devem constituir um binômio indissolúvel, que promova a ruptura do antigo padrão de crescimento econômico, tornando compatíveis duas grandes aspirações desse final de século: o direito ao desenvolvimento, sobretudo para os países que permanecem em patamares insatisfatórios de renda e de riqueza, e o direito ao usufruto da vida em ambiente saudável pelas futuras gerações. (MMA, 2000).

A A21 é um plano de ação a ser adotado num sentido global, nacional e local, por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação antrópica impacta o meio ambiente. Segundo o PNUMA (2004), suas recomendações estão divididas em quatro áreas principais:

a) questões sociais e econômicas como a cooperação internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável, combater a pobreza, mudar os padrões de consumo, as dinâmicas demográficas e a sustentabilidade, e proteger e promover a saúde humana;

b) conservação e manejo dos recursos visando o desenvolvimento, como a proteção da atmosfera, o combate ao desmatamento, o combate à desertificação e à seca, a promoção da agricultura sustentável e do desenvolvimento rural, a conservação da diversidade biológica, a proteção dos recursos de água doce e dos oceanos e o manejo racional de produtos químicos tóxicos e de resíduos perigosos;

c) fortalecimento do papel de grandes grupos, incluindo mulheres, crianças e jovens, povos indígenas e suas comunidades, ONGs, iniciativas de autoridades locais em apoio à Agenda 21, trabalhadores e seus sindicatos, comércio e indústria, a comunidade científica e tecnológica e agricultores;

d) meios de implementação do programa, incluindo mecanismos e recursos financeiros, transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis, promoção da educação, conscientização pública e capacitação, arranjos de instituições internacionais, mecanismos e instrumentos legais internacionais e informações para o processo de tomada de decisões.

(23)

23

Quadro 1 – Capítulos da Agenda 21 Global

CAPÍTULO TEMAS

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 Preâmbulo

SEÇÃO I: DIMENSÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS

Cooperação Internacional para Acelerar o Desenvolvimento Sustentável dos Países em Desenvolvimento e Políticas Internas Correlatadas

Combate à Pobreza

Mudança dos Padrões de Consumo Dinâmica Demográfica e Sustentabilidade

Proteção e Promoção das Condições da Saúde Humana

Promoção do Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos Humanos Integração entre Meio Ambiente e Desenvolvimento na Tomada de Decisões SEÇÃO II: CONSERVAÇÃO E GESTÃO DOS RECURSOS PARA O DESENVOLVIMENTO

Proteção da Atmosfera

Abordagem Integrada do Planejamento e do Gerenciamento dos Recursos Terrestres Combate ao Desflorestamento

Manejo de Ecossistemas Frágeis: A Luta Contra a Desertificação e a Seca

Gerenciamento de Ecossistemas Frágeis: Desenvolvimento Sustentável das Montanhas Promoção do Desenvolvimento Rural e Agrícola Sustentável

Conservação da Diversidade Biológica

Manejo Ambientalmente Saudável da Biotecnologia

Proteção de Oceanos, de Todos os Tipos de Mares, Inclusive Mares Fechados e Semifechados, e das Zonas Costeiras, e Proteção, Uso Racional e Desenvolvimento de seus Recursos Vivos

Proteção da Qualidade e do Abastecimento dos Recursos Hídricos: Aplicação de Critérios Integrados no Desenvolvimento, Manejo e Uso dos Recursos Hídricos

Manejo Ecologicamente Saudável das Substâncias Químicas Tóxicas, Incluída a Prevenção do Tráfico Internacional dos Produtos Tóxicos e Perigosos

Manejo Ambientalmente Saudável dos Resíduos Perigosos, Incluindo a Prevenção do Tráfico Internacional Ilícito de Resíduos Perigosos

Manejo Ambientalmente Saudável dos Resíduos Sólidos e Questões Relacionadas com os Esgotos

Manejo Seguro e Ambientalmente Saudável dos Resíduos Radioativos SEÇÃO III: FORTALECIMENTO DO PAPEL DOS GRUPOS PRINCIPAIS Preâmbulo

Ação Mundial pela Mulher, com Vistas a um Desenvolvimento Sustentável Eqüitativo A Infância e a Juventude no Desenvolvimento Sustentável

Reconhecimento e Fortalecimento do Papel das Populações Indígenas e suas Comunidades Fortalecimento do Papel das Organizações Não-Governamentais: Parceiros para um Desenvolvimento Sustentável

Iniciativas das Autoridades Locais em Apoio à Agenda 21 Fortalecimento do Papel dos Trabalhadores e de seus Sindicatos Fortalecimento do Papel do Comércio e da Indústria

Comunidade Científica e Tecnológica Fortalecimento do Papel dos Agricultores SEÇÃO IV: MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO Recursos e Mecanismos de Financiamento

Transferência de Tecnologia Ambientalmente Saudável, Cooperação e Fortalecimento Institucional

A Ciência para o Desenvolvimento Sustentável

Promoção do Ensino, da Conscientização e do Treinamento

Mecanismos Nacionais e Cooperação Internacional para Fortalecimento Institucional nos Países em Desenvolvimento

Arranjos Institucionais Internacionais

Instrumentos e Mecanismos Jurídicos Internacionais Informação para a Tomada de Decisões

(24)

24

O Desenvolvimento Sustentável por muito tempo tem sido considerado o ponto de partida para uma política ambiental com a Agenda 21 abrindo caminho para essa evolução. Eqüidade social e econômica, bem como a desenvolvimento global eficiente, são considerados os requisitos para este desenvolvimento sustentável. Somente quando esta harmonia é alcançada, tem-se uma perspectiva de solução para os problemas ambientais. (LANGEWEG, 1998)

Além desta conquista, resultaram desse processo outros acordos: a Declaração do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, a Convenção sobre a Diversidade Biológica e a Convenção sobre Mudanças Climáticas. Em termos das iniciativas, deixa-se explícito o papel de compromisso e responsabilidade que os Governos têm de facilitar seu processo de implementação em todas as escalas, sendo este, alicerce para que lideranças locais, juntamente com todos os segmentos da sociedade, se mobilizem em busca das mudanças propostas.

A Agenda 21, seu programa de implementação e os compromissos para com a carta de princípios do Rio foram fortemente reafirmados durante a Conferência de Joanesburgo, em 2002, e esta completando 18 anos. Segundo Holanda (2007), “muitas vezes temos a sensação de que a idéia e propostas expostas, não tiveram êxito. Isso leva a pensar em termos de construção de novos padrões, obrigando a entender o tempo como parte de um processo histórico”. Mas até quando devemos esperar por mudanças? Por que não assumimos um papel ativo no processo, já que somos parte dele? Temos que entender que,

Essa concepção processual e gradativa da validação do conceito implica assumir que os princípios e as premissas que devem orientar a implementação da Agenda 21 não constituem um rol completo e acabado: torná-la realidade é antes de tudo um processo social no qual todos os envolvidos vão pactuando paulatinamente novos consensos e montando uma Agenda possível rumo ao futuro que se deseja sustentável. (MMA, 2007)

Pois,

(25)

25

Como podemos ver, Agenda 21 traduz em ações o conceito de desenvolvimento sustentável, formulado anos antes de sua formação, pela Comissão Brundtland. Dessa forma, é importante destacar que a Rio 92 foi orientada para o desenvolvimento, e que a Agenda 21 é uma Agenda de Desenvolvimento Sustentável, onde, evidentemente, o meio ambiente é uma consideração de primeira ordem.

Na atualidade, Gadotti (2007) destaca o potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista que o colocou numa posição negativa frente à natureza. O capitalismo aumentou mais a capacidade de destruição da humanidade do que o seu bem-estar e prosperidade. As realizações concretas do socialismo seguiram na mesma esteira destrutiva colocando em risco não apenas a vida do ser humano mas de todas as formas de vida existentes sobre a Terra.

Estamos inseridos no mundo da era da informação e virtualização da realidade, num cenário de globalização provocada pelo avanço da revolução tecnológica, caracterizada pela internacionalização da produção e expansão dos fluxos financeiros; regionalização caracterizada pela formação de blocos econômicos; fragmentação que divide, centro e periferia, os que morrem de fome e os que morrem pelo consumo excessivo de alimentos, rivalidades e confrontos políticos, étnicos e terrorismo. (GADOTTI, 2007)

O enfoque desse processo de planejamento apresentado com o nome de Agenda 21 se insere neste contexto, não se restringindo somente às questões ligadas à preservação e conservação da natureza, mas sim a uma proposta ainda maior que rompe com outros desenvolvimentos dominantes, principalmente o econômico, dando lugar à sustentabilidade ampliada, unindo assim, Agenda Ambiental e Agenda Social, num todo. Em seus propósitos, as barreiras dos fatores sociais e ambientais são quebradas, rumo ao enfrentamento dos problemas da pobreza que assola o mundo, juntamente com a degradação ambiental crescente. Para isso, consideram-se inúmeras questões, dentre elas, programas de geração de emprego e renda; mudanças de padrões de consumo, com a implementação de medidas e instrumentos sustentáveis de desenvolvimento; adoção de novos modelos de gestão para a construção de cidades sustentáveis, promovidas com a Agenda 21 local. (MMA, 2007)

(26)

26

2.2 A Agenda 21 Brasileira

A convocação para as Agendas depende da mobilização de todos os segmentos da sociedade, sendo a democracia participativa a via política para a mudança esperada. (...) Mais do que um documento, a Agenda 21 Brasileira é um processo de planejamento participativo que diagnostica e analisa a situação do País, das Regiões, dos Estados e dos municípios, para em seguida, planejar seu futuro de forma sustentável. (MMA, 2000)

A Agenda 21 Brasileira é construída a partir das diretrizes da Agenda 21 Global, sendo o resultado de inúmeras consultas diretas à população brasileira, com o intuito de ser a formuladora do processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável, visando a sustentabilidade/conservação ambiental e a justiça social/crescimento econômico, em busca de uma verdadeira democracia participativa. Mas,

Incorporar nas políticas públicas nacionais, assim como nas ações dos diferentes seguimentos sociais, os princípios da sustentabilidade não é tarefa fácil, que mostre seus resultados em curto espaço de tempo. Ao contrário, é um desafio, um processo, que exige mudanças culturais, de hábitos arraigados há muito em nossa sociedade. Sociedade, que deverá superar a visão do desenvolvimento a partir apenas de espaços a serem ocupados e de recursos a serem apropriados, e entendê-la como possibilidade de construção coletiva, geradora de qualidade de vida. (VIANA, 2003)

As áreas que receberam mais atenção na fase de debates públicos foram as de gestão de recursos naturais e de agricultura sustentável, sendo um sinal de que os desafios de ideais sustentáveis ainda são vistos, geralmente, como aqueles associados a conservação dos espaços naturais. Mesmo assim, na etapa de debates regionais, a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS), buscou organizar as propostas com base nas diversas dimensões (Quadro 2), explicitando estratégias e eixos de ações estruturantes do desenvolvimento nacional. (BORN, 2003)

(27)

27

Quadro 2 –Linhas Estratégicas Estruturadoras da Agenda 21 Brasileira

DIMENSÕES

(A) (B) (C) (D)

GEO-AMBIENTAL SOCIAL ECONÔMICA

POLÍTICO-INSTITUCIONAL DO CONHECIMENTO DA INFORMAÇÃO E

Uso sustentável, conservação e proteção dos recursos

naturais.

Medidas de redução das desigualdades e

de combate à pobreza. Transformação produtiva e mudança dos padrões de consumo. Integração entre desenvolvimento e

meio ambiente na tomada de decisões.

Desenvolvimento tecnológico e cooperação, difusão e

transparência de tecnologia.

Ordenamento territorial.

Proteção e promoção das condições de

saúde humana e seguridade social. Inserção econômica competitiva. Descentralização para o desenvolvimento sustentável. Geração, absorção, adaptação e inovação

do conhecimento.

Manejo adequado dos resíduos, dos efluentes, das substâncias tóxicas e

radioativas.

Promoção da educação e da cultura, para a sustentabilidade.

Geração de emprego e renda, reforma agrária e

urbana.

Democratização das decisões e fortalecimento do papel dos parceiros do desenvolvimento

sustentável.

Informação para a tomada de decisões.

Manejo sustentável da biotecnologia.

Proteção e promoção dos grupos estratégicos de sociedade. Dinâmica demográfica e sustentabilidade. Cooperação, coordenação e fortalecimento da ação institucional. Promoção da capacitação e conscientização para a

sustentabilidade. Instrumentos de

regulação. Fonte: (BORN, 2003)

2.2.1 Diretrizes Básicas e Ações Prioritárias

O Programa Agenda 21 brasileiro é composto de três diretrizes básicas que, em consonância com a Global, reconhece a importância do nível local na concretização de políticas públicas sustentáveis, dispondo-as da seguinte forma:

Implementar a Agenda 21 Brasileira. Passada a etapa da elaboração, a Agenda 21 Brasileira tem agora o desafio de fazer com que todas as suas diretrizes e ações prioritárias sejam conhecidas, entendidas e transmitidas, entre outros, por meio da atuação da Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Brasileira - CPDS; implementação do Sistema da Agenda 21; mecanismos de implementação e monitoramento; integração das políticas públicas; promoção da inclusão das propostas da Agenda 21 Brasileira nos Planos das Agendas 21 Locais.

Orientar para a elaboração e implementação das Agendas 21 Locais. A Agenda 21 Local é um dos principais instrumentos para se conduzir processos de mobilização, troca de informações, geração de consensos em torno dos problemas e soluções locais e estabelecimento de prioridades para a gestão de desde um estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, até um bairro, uma escola. O processo deve ser articulado com outros projetos, programas e atividades do governo e sociedade, sendo consolidado, dentre outros, a partir do envolvimento dos agentes regionais e locais; análise, identificação e promoção de instrumentos financeiros; difusão e intercâmbio de experiências; definição de indicadores de desempenho.

(28)

28

formação; trabalho conjunto com interlocutores locais; identificação das atividades, necessidades, custos, estratégias de implementação; aplicação de metodologias apropriadas, respeitando o estágio em que a Agenda 21 Local em questão está. (MMA, 2007)

Dentro da promoção da educação para a sustentabilidade, uma parceria do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério da Educação (MEC), lançou, em 2004, uma cartilha “Construindo Agenda 21 na Escola” (MEC, 2004)2, de linguagem objetiva e

simplificada, que em seu anexo, distribui a plataforma dos 21 objetivos prioritários da Agenda Brasileira de forma direta e concisa (Quadro 3). Estes objetivos formam a divisão dos capítulos desse documento.

Quadro 3 – Capítulos da Agenda 21 Brasileira

OBJETIVO AÇÕES

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

A economia da poupança na sociedade do conhecimento

Produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício; Ecoeficiência e responsabilidade social das empresas;

Retomada do planejamento estratégico, infra-estrutura e integração regional; Energia renovável e a biomassa;

Informação e conhecimento para o desenvolvimento sustentável.

Inclusão social para uma sociedade solidária

Educação permanente para o trabalho e a vida;

Promover a saúde e evitar a doença, democratizando o SUS; Inclusão social e distribuição de renda;

Universalizar o saneamento ambiental protegendo o ambiente e a saúde.

Estratégia para a sustentabilidade urbana e rural

Gestão do espaço urbano e a autoridade metropolitana; Desenvolvimento sustentável do Brasil rural;

Promoção da agricultura sustentável;

Promover a Agenda 21 Local e o desenvolvimento integrado e sustentável; Implantar o transporte de massa e a mobilidade sustentável.

Recursos naturais estratégicos: água, biodiversidade e florestas

Preservar a quantidade e melhorar a qualidade da água nas bacias hidrográficas; Política florestal, controle do desmatamento e corredores de biodiversidade.

Governança e ética para a promoção da sustentabilidade

Descentralização e o pacto federativo: parcerias, consórcios e o poder local; Modernização do Estado: gestão ambiental e instrumentos econômicos;

Relações internacionais e governança global para o desenvolvimento sustentável; Cultura cívica e novas identidades na sociedade da comunicação;

Pedagogia da sustentabilidade: ética e solidariedade.

Fonte: (MEC, 2004)

(29)

29

O esforço na divulgação educativa é válido, porém, países como o Brasil, enfrentam um problema basilar que é o quadro precário da educação pública, apesar dos investimentos na área nos últimos anos. Lembremos que, um ano após a Conferência de Tbilisi3, em 1977, o Ministério da Educação (MEC) publicou um documento para a educação ambiental no ensino de 1º e 2º graus, avesso às propostas da Conferência, limitando a educação ambiental às ciências biológicas, descartando os aspectos sociais, culturais, econômicos, éticos e políticos. (CAÚLA; OLIVEIRA, 2008)

A Agenda 21 Brasileira, apesar de várias lacunas e elaboração tardia, representa um grande avanço no processo de planejamento do desenvolvimento, analisando o mesmo, e procurando compatibilizar equilíbrio econômico, ambiental e justiça social. Além disso, pela primeira vez na história, ter realizado um processo de consulta à sociedade sobre os rumos do desenvolvimento. Porém, é importante ressaltar que essa Agenda, só se constituirá realmente em instrumento de política pública se assumida pela sociedade juntamente com o atual governo. (BATISTA, 2003).

Quanto à legislação de educação ambiental, embora esteja em conformidade com os princípios ambientais, esbarra em dois problemas: o excesso de formalismo e o desconhecimento da Agenda 21 por parte dos próprios professores. Como agravante dessa situação, temos a estrutura física decadente das escolas e salas, baixo salário do corpo docente, a merenda escolar, a informatização das escolas, dentre outros. Precisamos de investimento direto com resultados de longo e médio prazo, possibilitando avançar sobre as dificuldades na educação ambiental. (CAÚLA; OLIVEIRA, 2008)

Mesmo que o processo não seja isento de equívocos, segundo Born (2003), a Agenda

21 brasileira deve ser entendida como “uma possível agenda de transformação. Isso significa

ir além das ações exemplares, dos projetos e ações fragmentados, para poder gerar

progressivamente a “cultura” e as políticas nacionais integradas da sustentabilidade”. Pois, “como decorrência, seja do processo, seja das visões e idiossincrasias presentes na sociedade

brasileira, a Agenda 21 nacional revela a tensão da busca das sustentabilidades social,

ambiental e ecológica com as políticas e práticas da eficiência econômica”, refletida na

“tendência de se valer crescentemente de instrumentos de regulação econômica em detrimento

aos de regulação estatal (comando-controle) e das demandas sociais de curtíssimo prazo,

própria de um quadro de grave exclusão social”.

3 A Conferência de Tbilisi, ocorrida em 1977, resultou em uma declaração de princípios e 41 recomendações

(30)

30

2.2.2 Estratégias de Atividades

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), no âmbito do Programa Agenda 21, as principais atividades realizadas em 2003 e 2004 refletem a abrangência e a capilaridade que a Agenda 21 está conquistando no Brasil. Desenvolvidas de forma descentralizada, buscam o fortalecimento da sociedade e do poder local, reforçando que a Agenda 21 só se realiza quando há participação das pessoas, avançando, dessa forma, na construção de uma democracia participativa no Brasil. São destacadas as seguintes atividades:

Ampliação da CPDS: Criada no âmbito da Câmara de Políticas dos Recursos Naturais, do Conselho de Governo, a nova constituição da CPDS se deu por meio de Decreto Presidencial de 03 de fevereiro de 2004. Os novos membros que incluem 15 ministérios, a ANAMMA e a ABEMA e 17 da sociedade civil tomaram posse no dia 1º. de junho de 2004. A primeira reunião da nova composição aconteceu no dia 1º de julho, e a segunda em 15 de setembro de 2004.

Realização do primeiro Encontro Nacional das Agendas 21 Locais, nos dias 07 e 08 de novembro de 2003, em Belo Horizonte, com a participação de cerca de 2.000 pessoas de todas as regiões brasileiras. O II Encontro das Agendas 21 Locais será realizado em janeiro de 2005, durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre-RS.

Programa de Formação em Agenda 21, voltado para a formação de cerca de 10.000 professores das escolas públicas do País que, através de cinco programas de TV, discutiram a importância de se implementar a Agenda 21 nos municípios, nas comunidades e na escola. Esse programa, veiculado pela TVE em outubro de 2003, envolveu, além dos professores, autoridades governamentais e não governamentais, e participantes dos Fóruns Locais da Agenda 21, da sociedade civil e de governos.

Participação na consolidação da Frente Parlamentar Mista para o Desenvolvimento Sustentável e Apoio às Agendas 21 Locais. Esta frente, composta de 107 Deputados Federais e 26 Senadores, tem como principal objetivo articular o Poder Legislativo brasileiro, nos níveis federal, estadual e municipal, para permitir uma maior fluência na discussão dos temas ambientais, disseminação de informações relacionadas a eles e mecanismos de comunicação com a sociedade civil.

Elaboração e monitoramento, em conjunto com o FNMA, do Edital 02/2003 - Construção de Agendas 21 Locais, que incluiu a participação ativa no processo de capacitação de gestores municipais e de ONGs, em todos os estados brasileiros, para a confecção de projetos para o edital. Ao todo foram cerca de 920 pessoas capacitadas em 25 eventos. No final do processo, em dezembro de 2003, foram aprovados, com financiamento, 64 projetos de todas as regiões brasileiras.

Publicação da Série Cadernos de Debate Agenda 21 e Sustentabilidade com o objetivo de contribuir para a discussão sobre os caminhos do desenvolvimento sustentável no País. São seis os Cadernos publicados até o presente: Agenda 21 e a Sustentabilidade das Cidades; Agenda 21: Um Novo Modelo de Civilização; Uma Nova Agenda para a Amazônia; Mata Atlântica o Futuro é Agora; Agenda 21 e o Setor Mineral; Agenda 21, o Semi-Árido e a Luta contra a Desertificação.

(31)

31

Consta no site do MMA4, que várias parcerias e convênios foram efetivados com o Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Ministério das Cidades, Ministério da Cultura, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério da Integração Nacional, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ministério de Minas e Energia; Fórum Brasileiro das ONGs para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento; CONFEA/CREA, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco do Nordeste e prefeituras brasileiras.

Desenvolver capacidades de mobilização, transformar conflitos de interesse em cooperação, integrar governo e sociedade civil, seriam os primeiros passos na marcha à este desenvolvimento, pois, “a Agenda 21, que tem provado ser um guia eficiente para processos de união da sociedade, compreensão dos conceitos de cidadania e de sua aplicação, é hoje um dos grandes instrumentos de formação de políticas públicas no Brasil”. (MMA, 2007)

2.2.3 As Novas Diretrizes

A Coordenação da Agenda 21 Brasileira passou a integrar a Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, com intuito de melhor articular a transversalidade das políticas ambientais, bem como, internalizar a Agenda 21 Brasileira nas políticas públicas, ressaltando a articulação das suas 21 ações, com os programas prioritários do Governo Federal.

Prioriza a construção das Agendas 21 Locais, já que de 1997 a 2002, a diretriz central foi formular a Agenda 21 Nacional. Isso vem fortalecer a comunidade local, pois, a partir deste espaço social, é possível pensar em planejamento estratégico, adotar processos de construção do desenvolvimento local sustentável, avançando nas resoluções dos graves problemas sócio-ambientais que afetam nossa sociedade. (BATISTA, 2003)

O autor ainda ressalta que para garantir o êxito do programa, é fundamental o fortalecimento do processo de participação da sociedade civil, por um lado e de entidades governamentais, por outro, efetuando-se uma formação continuada para membros do governo e sociedade civil.

(32)

32

2.3 O Âmbito Local: Cidade, Desenvolvimento e Sustentabilidade

A partir do debate gerado em torno do “conceito” de Desenvolvimento Sustentável,

conforme expresso no Relatório Brundtland, iremos procurar entender o processo de sua

contínua transmutação/ampliação, apontando para a formulação de “novas sustentabilidades”.

Se de um lado, determinadas forças sociais tentam aprisionar a idéia de sustentabilidade dentro de uma ótica mais conservadora, observamos que, em contraposição, forças críticas ao atual processo de desenvolvimento incorporam e ampliam o ideário da sustentabilidade. Neste contexto, assistimos a emergência dos conceitos “Sociedades Sustentáveis” e

“Sustentabilidade Ampliada”, terminologias estas que apontam para concepções

potencialmente mais progressistas e críticas. (NOVAIS, 2007)

Segundo Magalhães (1998), Há décadas, em todo o mundo, as cidades parecem experimentar uma variedade de tendências insustentáveis que comprometem o equilíbrio entre população e o consumo de recursos, com conseqüências desastrosas na qualidade de vida e do ambiente nas cidades. A existência de ligações cruciais entre urbanização, transformações econômicas e condições sócio-ambientais fazem com que, diferentes tipos de problemas ambientais sejam criados nas cidades, distribuindo-se de modo desigual dentro e em torno delas, pois,

O crescimento demográfico e a expansão urbana são acompanhados freqüentemente por um descaso pelas questões urbanísticas e ambientais, com conseqüências profundas nas cidades, pois nem sempre os municípios dão prioridade nas suas administrações a ações urbanísticas. Isso é especialmente grave em países em desenvolvimento, aonde a ausência de serviços básicos, deficiências graves em infra-estrutura e carências habitacionais, tem empurrado grande parte da população para ocupações ilegais, muitas vezes instaladas em sítios naturais como encostas, mangues, margens de rios e alagados. (MAGALHÃES, 2008)

Na análise de Novais (2007), Temos assistido a um acúmulo de reflexões teóricas e de intervenções concretas as quais têm apostado na esfera local como o “locus” privilegiado para a realização desta sustentabilidade ampliada. Ao mesmo tempo, conforme veremos, a dimensão local, é também valorizada como espaço de intervenção por forças não inovadoras que se pautam no discurso do desenvolvimento sustentável. Percebemos aí o processo de

construção das matrizes discursivas dos projetos voltados à “Sustentabilidade Local”. De fato,

(33)

33

Segundo Castro (2007), a intrínseca necessidade de viver em comunidade fez com que os primeiros grupamentos humanos surgissem, constituindo o marco inicial da existência dos densamente populosos núcleos urbanos contemporâneos, sendo as famílias, enquanto necessidade da natureza humana, a origem pré-histórica das cidades. Isso é constatado por Wonsovicz (2001), ressaltando que “o homem é um ser que necessita viver com outros. Por

sua natureza vive com os semelhantes e sente prazer nisso. Uma das grandes punições que pode ser colocada para um homem é a de isolá-lo dos demais durante longo período”.

Demarcar o conceito de cidade não é uma tarefa fácil. Diante disso, temos que, vários autores em épocas diversas tentaram formular uma concepção do termo, e as cidades, por sua complexidade, admitem algumas concepções diferentes, mas sua configuração não se resume a apenas um aglomerado habitacional constituindo um espaço urbano. Essa concepção demográfica, amplamente difundida, considera o aspecto quantitativo de um aglomerado urbano, estabelecendo um determinado número de habitantes, que varia de acordo com o país e a época. Pode-se tomar também a questão da circulação de riquezas, dentro da concepção econômica, que se farta no simples efeito de que é no espaço urbano que as atividades, mercados, produtos e pessoas interagem. (SILVA, 2000)

Segundo o autor, para um núcleo habitacional receber o título de urbano, seria necessário preencher os seguintes requisitos: densidade demográfica específica; profissões urbanas como comércio e manufaturas, com suficiente diversificação; economia urbana permanente, com relações especiais com o meio rural; existência de camada urbana com produção, consumo e direitos próprios.

O problema urbano assume atualmente grande importância para os governos e para a sociedade em geral em muitos países, devido ao crescimento expressivo do número de pessoas vivendo nas cidades e à conseqüente degradação da qualidade de vida das mesmas. Como conseqüência de todo este quadro faz-se necessária a criação de métodos para a orientação e monitoramento das alterações ambientais, de tal forma que os órgãos de planejamento possam tomar medidas no sentido de amenizar problemas decorrentes das atividades humanas. (SOUZA; RAMOS; SILVA; MENDES, 2008)

Para Novais (2007), “a idéia de sustentabilidade, dentro desta ótica ampliada, passa a

estar referenciada a outros conceitos, entre os quais os de democracia, participação, equidade, eficiência, cidadania, autonomia, descentralização, e pertencimento”. Pois, “a formulação

destas “novas sustentabilidades” introduz no debate elementos vitais para o enfrentamento dos

dilemas sócio-ambientais no contexto da modernidade, frente à globalização da economia e da

(34)

34

Ao se implantar uma Agenda 21, é preciso dar especialatenção ao estabelecimento de um diálogo, visando a um consenso sobre o desenvolvimento posterior do processo, incluindo-se, aí, todos os grupos afetados pela questão, e levando-se igualmente em consideração os aspectos econômicos, ecológicos e sociais de todos os envolvidos. A sustentabilidade se formará na base de discussão da união desses três aspectos em questão (Figura 1).

Fonte: (HÜNEKE, 2007)

Figura 1 –Aspectos Econômicos, Ecológicos e Sociais na formação da Sustentabilidade

Eis os requisitos e as chances especiais rumo à Agenda 21 local: desenvolver a sustentabilidade através do diálogo e visar ao consenso, considerando-se, de maneira sistêmica, as realidades econômicas, ecológicas e sociais.Não adianta nada elaborar um bom texto sobre a sustentabilidade de um Município, que normalmente acabará sendo esquecido em alguma gaveta. Uma Agenda 21 local só poderá desenvolver sua eficácia, se todos os grupos relevantes(responsáveis pelas ações ou pacientes das ações) se identificarem com as metas da Agenda local. Paratanto, faz-se necessário iniciar um amplo processo. (HÜNEKE, 2007)

(35)

35

Agora se pergunta com que metodologias isso pode ser alcançado. Hüneke (2007), afirma que há uma diversidade de abordagens e procedimentos quase infinita, não existindo nenhuma metodologia que possa ser reconhecida como a única e verdadeira. As condições relativas aos indivíduos e àsituação local também são multifacetadas: tamanho e estrutura do município, apoio através da Prefeitura, cultura de contato entre os diversos atores sociais, estruturasocial, aspectos culturais, trabalhos preliminares e grau de conscientização acerca de meio ambiente e dedesenvolvimento. O desenvolvimento sustentável constitui, portanto, um verdadeiro desafiopara uma civilização que é cada vez mais urbana e massificada, pois,

O relatório do Fundo das Nações Unidas para a população5 revela que em1975 a espécie humana havia produzido 5 megalópoles (cidades com mais de 10milhões de habitantes); em 2000 elas já são 19 e as previsões convergem para 23 megalópoles até o ano de 2015, fenômeno que se destaca no hemisfério sul do planeta. Esse mesmo relatório demonstra que a metade dos seres humanos vivesomente com 2 dólares por dia; que o crescimento urbano na África, o qual ainda é o mais elevado do mundo, beira os 4% ao ano; que as zonas urbanas abrigampraticamente a metade da população do planeta e representam também cerca de 80% das emissões de carbono, 75% do consumo de madeira e 60% da utilização das reservas de água doce, notadamente pela agricultura. (DROBENKO, 2008)

Em termos de Brasil, o modelo de planejamento racional-tecnocrático-autoritário, adotado durante o período ditatorial, não só não resolveu os graves problemas urbanos que existiam na época, como também permitiu o agravamento daquilo que deve ser preservado e promovido como essencial à qualidade de vida do cidadão em todos os seus aspectos como: saúde, educação, habitação, transporte coletivo e lazer. Ainda hoje, a idéia de progresso justifica graves formas de degradação ambiental provocada pela exploração dos recursos naturais não renováveis, pois referencia somente uma noção quantitativa do crescimento, sem priorizar uma real melhoria na qualidade de vida da população. Neste âmbito, surge uma nova concepção em contraposição a essa idéia, que propõe soluções que sirvam à democracia e à descentralização do poder, significando autonomia, autogestão e fortalecimento do local e regional em vez da centralização estatal. (ROSA; VELLOSO; SCHENINI, 2008)

Segundo Sachs (1986), a questão central seria encontrar modalidades de crescimento que tornem compatíveis o progresso social e o gerenciamento sadio dos recursos e do meio, onde o desenvolvimento considere a autonomia de decisões e a pesquisa de modelos endógenos, próprios a cada contexto histórico, cultural e ecológico, bem como a prudência ecológica, ou seja, a busca de um desenvolvimento em harmonia com a natureza.

(36)

36

2.1.1 O Estatuto da Cidade

Atualmente, o poder municipal assume um papel inédito, em diversos aspectos, sobretudo na ampliação de seu âmbito de atuação na estrutura federativa nacional. A promulgação da Constituição de 1988 alçou o Município a uma posição de destaque dentro do federalismo brasileiro. Consagra, definitivamente, a autonomia municipal que vem contida, basicamente, nos artigos 29 e 30.

Para atender a exigência constitucional e regulamentar o capítulo da Política Urbana da Constituição Federal, foi finalmente editada a Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade. Estabelece que os Municípios deverão implementar uma política urbana voltada ao pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, prevendo, em seu artigo 2º (ANEXO B), os objetivos da política urbana municipal. Dentre eles encontra-se: a “gestão democrática por meio da participação da

população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade, na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de

desenvolvimento urbano” e, audiências do Poder Público Municipal com a população

interessada. (ALMEIDA; DUARTE, 2008)

(37)

37

Quadro 4 – Instrumentos contidos no Estatuto da Cidade

Fonte: (PRIETO, 2006)

O Estatuto da Cidade tem 58 (cinqüenta e oito) artigos, divididos em cinco capítulos: Diretrizes Gerais, Instrumentos da Política Urbana, Plano Diretor, Gestão Democrática da Cidade e Disposições Gerais. Cumpre-nos a tarefa da reler os dispositivos à luz das questões relativas ao meio ambiente, apresentando as diretrizes e instrumentos da política urbana que também buscam assegurar a proteção do meio ambiente.

O Plano Diretor (ANEXO C) é obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes, situadas em regiões metropolitanas, integrantes de aglomerações urbanas, integrantes de áreas de especial interesse turístico, integrantes de áreas de influência de empreendimentos com significativo impacto ambiental.

2.3.2 Cidades Sustentáveis

Mas o que é uma cidade sustentável? Segundo o Arquiteto Francisco Angel Cipolla

(2002) “é a cidade que permite à comunidade alcançar o menor índice de diferenças

econômicas e sociais e que garante que as gerações futuras possam desfrutar dos recursos

naturais gerados por ela”, pois, quando não se pensa a cidade hoje, amanhã ela enfrentará

Referências

Documentos relacionados

(2008), o cuidado está intimamente ligado ao conforto e este não está apenas ligado ao ambiente externo, mas também ao interior das pessoas envolvidas, seus

A Rhodotorula mucilaginosa também esteve presente durante todo o ensaio, à excepção das águas drenadas do substrato 1 nos meses de novembro, fevereiro e março, mas como

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

No universo infantil, os conhecimentos prévios podem ser considerados como o resultado das concepções de mundo das crianças, estruturado a partir das interações sensoriais, afetivas e

Considerando que a criminalização do aborto voluntário no primeiro trimestre da gravidez é uma grave intervenção em diversos direitos fundamentais da mulher e que essa

Bom, eu penso que no contexto do livro ele traz muito do que é viver essa vida no sertão, e ele traz isso com muitos detalhes, que tanto as pessoas se juntam ao grupo para

Crisóstomo (2001) apresenta elementos que devem ser considerados em relação a esta decisão. Ao adquirir soluções externas, usualmente, a equipe da empresa ainda tem um árduo

Da mesma forma que podemos verificar quais são as despesas associadas diretamente às receitas, e as despesas associadas indiretamente às receitas, podemos verificar as