2.4 A Agenda 21 Local
2.4.3 Metodologias para Implementação
Há inúmeras Agendas 21 Locais em processo de construção e gestão no Brasil, como também outras iniciativas locais de desenvolvimento sustentável. Segundo Kranz (2009), a Agenda 21 Local é um processo de desenvolvimento de políticas para a sustentabilidade e de construção de parcerias entre autoridades locais e outros setores para implementá-las. Dessa forma, pode ajudar governos locais e comunidades a desenvolverem meios apropriados para se encaminharem para o futuro desejado. Pois,
um de seus objetivos é criar metodologias de implementação de políticas públicas que produzam planos de ação local, visando ao desenvolvimento sustentável. A sua base é a criação de sistemas de gerenciamento que levem o futuro em consideração. É um processo contínuo e não um único acontecimento, documento ou atividade. Não existe uma “lista” de coisas a serem feitas, mas uma metodologia que envolve uma série de atividades, ferramentas e abordagens que podem ser escolhidas pelas autoridades locais e seus parceiros de acordo com as circunstâncias e prioridades locais. Grande parte do que é proposto, aliás, é o que os bons governos locais já vêm fazendo há algum tempo.
Dessa forma são diversos os caminhos metodológicos percorridos à luz da realidade de cada localidade. Entretanto, segundo o IADH (2004), as experiências nos permitem refletir em torno da necessidade de se aperfeiçoar e sistematizar detalhadamente alguns elementos, estes, chaves do processo metodológico de construção e gestão, pois, segundo Silveira (2001), Zapata (2000) e Buarque (1999), existem várias metodologias (Quadro 6) e ferramentas que trabalham planejamento participativo, com diferentes nomes.
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Quadro 6 – Metodologias para Implementação de Agenda 21
Técnica de Cenário Uma técnica voltada para re- sumir em imagens abran- gentes (cenários) diferentes idéias sobre mudanças posi- tivas e negativas de dife- rentes fatores de desenvol- vimento futuro, mostrando as conseqüências das ações. Problemas considerados ur- gentes e, em princípio, solu- cionáveis, cuja situação atual pode ser bem descrita e que podem ser acompanhados no futuro em diferentes varian- tes.
Preparação a longo prazo, acordo com participantes ou promotores da ação, coleta de vasto material.
3 a 5 dias.
Idéias conectadas através da inclusão de todas as informa- ções relevantes.
Diversos moderadores.
20 a 30 participantes.
Fonte:(KÖDELPETER, 2007)
Discurso Socrático A criação de uma postura mo- ral no diálogo teórico conduz a uma nova cultura comunica- tiva. Objetivo: o desenvolvi- mento de competências reflex- ivas e morais.
Situações sociais em que inte- resses conflitantes de organi- zações sociais e indivíduos se reconhecem reciprocamente como equânimes e aceitam pro- cessos democráticos de nego- ciação.
Criação de um diálogo em que os participantes se reconhecem reciprocamente em suas dife- rentes maneiras de apreciar uma situação dada.
Cursos de férias, seminário de uma semana ou fim de semana. Diferentes pessoas têm sócia- lização e histórias próprias e inconfundíveis.
Coordenador do discurso com formação filosófica.
Pequenos grupos. Células de Planejamento
(Parecer Popular) Cidadãos escolhidos aleatória- mente levam suas próprias expe- riências e conhecimentos para um processo moderado externa- mente e desenvolvem propostas de desenvolvimento para proble- mas complexos.
Problemas em que o grau de en- volvimento pessoal não pode ser detectado diretamente ou apenas a longo prazo e abstratamente, p.ex. em estimativas dos efeitos de tecnologias.
Destinatário concreto para reco- mendações do Parecer Popular; transparência na execução; gran- de ônus organizacional.
1 semana a 1 ano.
Pequenos grupos de trabalho com pequenas equipes mutantes.
Moderação com palestrantes comvidados.
Aprox. 25 participantes acima de 18 anos.
Organização comunitária Através da criação de uma cultura de relações e de suas ações, os ci- dadãos contribuem para a solução de problemas gerais ao seu redor. Objetivo: provocar transformações positivas.
Em todo lugar em que uma parte concreta de um problema possa ser transformada em um contexto de ação.
Durabilidade, independência, te- mas mutáveis com êxito, ampla base de organização.
Processo de longo prazo. Através de conversas individuais, “pessoas-chave” são transforma- das em organizadores.
Organizadores qualificados.
Quase ilimitado. Open Space
Uma metodologia com o intuito de oferecer espaço para as ener- gias produtivas de todos os par- ticipantes. Objetivo: um avanço na cultura organizacional sus tentada por todo o sistema. O mínimo de diretrizes estruturas com o máximo de auto-organi- zação.
Em todas as situações de mudan- ças, em que as antigas estruturas se tornaram muito complexas e os membros do sistema estão abertos a novas soluções.
Tema básico que é de importân- cia central para a organização em questão. Participação voluntária. O convite é extensivo a todos os membros da organização. 1 a 3 dias.
Cada um pode co-deliberar no to- cante a forma e conteúdo.
Um ou mais facilitadores que criem espaço e cronograma. 5 a 750 ou mais participantes. Conferência do Futuro
Levar todo o sistema aberto, p.ex. de um Município, para uma sala. Objetivo: visões criativas, metas e medidas para a organização do fu- turo. Estratégia de planeja- mento ideal e sem limites para problemas ainda não claros (M. Weisbord). Em situações de crise, se a atuação e a inteligência de muitos forem necessárias para superar a crise.
Seleção representativa dos participantes a partir de di- ferentes grupos de interesse; equipe de planejamento aceita por todos os partici- pantes; resultado aberto. 3 dias (16 a 18 horas). Conteúdos / cronogramas / papéis estabelecidos; os gru- pos se autocomandam; mis- tura de equipes.
Moderador de Conferências do Futuro e uma equipe de planejamento. 30 a 72 participantes acima de 18 anos. Breve descrição Áreas de uso Condições Prévias Cronograma Peculiaridade Metodológica Coordenação Número de participantes
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Quadro 6 – Metodologias para Implementação de Agenda 21
Oficinas do futuro
Oficinas do Futuro são processos dialógicos com resultado aberto, processos para o desenvolvimen- to e a experimentação de novas idéias, projetos e propostas de soluções.
Iniciação de processos de Agenda 21, concepção de ideais, desen- volvimento de estruturas para a Agenda 21 e projetos.
Representantes de todos os gru- pos sociais; decisão da Câmara de Vereadores, postura positiva da Câmara e do Prefeito. Preparação anterior e posterior (documenta- ção da oficina).
Oficina de curta duração (1 dia ou 1 dia e meio)
Modelo de fases: fase de inven- tário crítico, desenvolvimento de idéias e projetos sustentáveis, es- tratégias de execução.
Moderação e co-moderação de acordo com o número de parti- cipantes.
12 a 200 participantes.
Fonte: (KÖDELPETER, 2007)
Mesas redondas
Mesas redondas caracterizam- se pelo fato de representantes de grupos organizados ou não- organizados, que estão sendo afetados por um problema, reunirem suas forças.
Amplo campo de aplicação: trânsito, segurança pública, sa- neamento municipal, energia, reforma local, desenvolvimen- to sustentável.
Seleção específica de pessoas dispostas a agir, compromisso político por parte do Municí- pio ou do Estado. 6 a 9 meses. Moderação profissional e acompanhamento do processo. 20 a 25 participantes. Fórum especializado “Moradia / Assentamento / Mobilidade”
Modelo representativo com 20 representantes de “interesses” sociais, elaborado em um pro- cesso estruturado, (esboços de) projetos na área temática de moradia, assentamento e mobi- lidade. Objetivo: desenvolver esboços de projetos através do diálogo.
Grupos de trabalho baseados em cronograma limitado e bem estruturados (fóruns especializa- dos de Agenda 21 ou círculos de trabalho) com uma coordenação técnica profissional, gerência, assessoramento e moderação. Apoio do governo local, partici- pação obrigatória, acordos acerca de objetivos, tarefas e regras para o decurso, participação voluntária, princípio consensual.
9 meses de duração.
Círculo interno (atores dos inte- resses), círculo externo (função de assessoramento e transferência), alternância entre reuniões ple- nárias e grupos de trabalho pre- paratórios, alternância de meto- dologias, estabelecimento de es- truturas através dos participantes. Moderador, coordenador técnico e gerência (3 pessoas).
20 participantes (círculo interno).
Mediação
Um processo voluntário, independente de competên- cias legais / jurídicas, atra- vés do qual os participantes chegam a uma harmonia de interesses e a um consenso através de negociações com a ajuda de um mediador neutro.
Situação com necessidades e ações políticas e econômi- cas, p.ex. diretrizes concre- tas de planejamento em que existem conflitos.
Vontade para a negociação e para a uniformidade, espaço para consensos, par- ceiros de negociação com poder e competências, cará- ter vinculativo e necessi- dade de ação.
6 meses ou mais. Participantes selecionados comprovadamente envolvi- dos no problema, competên- cia e interesse legitimado.
Mediadores metodológica- mente qualificados.
Fóruns de Trânsito
Sob a coordenação de um moderador neutro, desenvol- ve-se uma nova cultura de conflitos. Resultados: ideais e propostas de soluções con- juntas como ajudas nas deci- sões políticas e administrati- vas, modelo representativo de participação cidadã. Situações de conflito, tais como planejamentos con- flitantes de engenharia de trânsito.
Verdadeira disposição para o diálogo, decisão da Câmara de Vereadores e fiscalização séria dos resultados obtidos, grupos preparatórios do pro- jeto e moderador externo.
12 meses (a cada 3 ou 4 se- manas, uma reunião). Participação obrigatória, acordo quanto ao procedi- mento relativo a objetivos, regras e modo de trabalho, representantes organizados de grupos de interesses, consenso através do diálogo, voto minoritário.
Moderação e assessores téc- nicos (como palestrantes). Aprox. 30 participantes. Moderação no desenvolvimento local e regional Desenvolvimento holístico de municípios e regiões através de moderação pro- fissional, abrangendo as di- mensões cultural, social, econômica e ecológica.
Desenvolvimento local e re- gional e problemas especí- ficos, tais como o desenvol- vimento de planos para o turismo regional.
Disposição para enfrentar um processo aberto; consen- timento das instâncias polí- ticas deliberativas (prefeito e Câmara de Vereadores) e um moderador neutro
Aprox. 12 meses. Análise e estruturação por parte do moderador; assem- bléia de moradores e cír- culos de trabalho; eventos informativos e excursões, bem como trabalho conti- nuadode publicidade; docu- mentação dos resultados. Moderador profissional.
Pequenos grupos até gran- des assembléias de mode- radores.
Moderação
A técnica de Moderação objetiva uma equiparação estrutural entre os participantes, bem como o tra- balho de grupo ideal, voltado para os resultados. Em processos de Agenda 21, os próprios membros dos círculos de trabalho assumem a moderação (automoderação).
Todas as formas de acordos em que se reúnem interesses e ex- pectativas eqüitativos, bem como disposição para agir, e em que são elaboradas soluções coletivas em um procedimento estrutu- rado.
Disposição para transferir a ta- refa de moderação a uma pessoa de fora ou a alguém “neutro” do próprio grupo. Estruturação dos trabalhos com metas, tarefas, fases, regras e planejamento do decurso.
Evento com duração de aprox. 2 a 3 horas.
Imparcialidade, sensibilidade pa- ra atender diferentes desejos e potenciais dos membros do gru- po, segurança e experiência em situações pedagógicas.
Pessoas com experiência na mo- deração de grupos. A partir de 3 pessoas. Breve descrição Áreas de uso Condições Prévias Cronograma Peculiaridade Metodológica Coordenação Número de participantes
51 Para o IADH (2004), a maioria das metodologias, anteriormente mostradas, organiza suas atividades numa seqüência lógica operacional, em torno das seguintes macroatividades, formando o grande processo de planejamento e gestão da Agenda 21 Local. Devemos atentar que, estas macroatividades não são interdependentes nem estanques e sim intercomplementares, devendo funcionar muito mais como subprocessos que se reiniciam do que etapas mecanicamente executadas. São elas:
Sensibilização e mobilização: preocupa-se constantemente com a aproximação de novos atores e segmentos ao processo da gestão do território, mobilizando-os para que se façam representar aportando informação e recursos ao processo.
Visão do Futuro: estabelece os rumos do processo de desenvolvimento, sendo a concepção básica de desenvolvimento do território. Ao ser definida participativamente, torna-se um instrumento importante na construção do senso compartilhado de propósito e no sentimento de apropriação do território como espaço de identidade e gestão.
Diagnóstico: amplia o senso compartilhado de propósito e apropriação do território, pelo fato de ampliar a compreensão da realidade local – suas causas e processos históricos.
Planificação: momento privilegiado de tomada de decisões estratégicas que define, a partir das capacidades e dos recursos – materiais, humanos, tecnológicos e financeiros – mobilizados, quais são as prioridades de intervenção no território, resultando em eixos aglutinadores, planos e projetos.
Organização para execução dos planos: representa todos os processos que buscam definir papéis, atribuições e tarefas articuladamente com todas as macroatividades. O Fórum da Agenda 21, por exemplo, e a sua consolidação em uma institucionalidade mais complexa e duradoura com estatuto e regimento.
Direção/gerenciamento para execução dos planos: significa a coordenação do processo considerando todas as macroatividades.
Articulação de parcerias: trata-se de parcerias e fortalecimento de redes e alianças estratégicas entre atores locais e a articulação de políticas públicas em torno dos eixos aglutinadores e projetos.
Monitoramento e Avaliação: enquanto o primeiro acompanha o desenrolar das ações, redirecionando-as em intervalos de curto prazo, o segundo refere-se a momentos de aprofundamento sobre os rumos e impactos do processo de desenvolvimento e a necessidade de redirecioná-lo.
52 Estes subprocessos devem ter uma formação cíclica, graficamente representada na Figura 3, de forma que o processo seja reiniciado ao final de cada ciclo, apurando e abastecendo o diagnóstico com mais informações, definindo e elaborando novos objetivos e projetos, consolidando articulações e parcerias, fortalecendo o sistema organizacional e gerencial. Este ciclo sempre se reinicia sucessivamente por intermédio do processo de monitoramento e avaliação, deixado em segundo plano, pois, realiza-se geralmente de forma burocrática e mecânica para fins de prestação de contas.
Fonte: (IADH, 2004)
Figura 3 – A Formação Cíclica dos Subprocessos na Agenda 21
Segundo, Kranz (2009), para dar continuidade a este ciclo temos que compreender que “a Agenda 21 Local é um processo contínuo e não um único acontecimento, documento ou atividade”. A autora ressalta que não existe uma “lista” de coisas a serem feitas, mas “uma metodologia que envolve uma série de atividades, ferramentas e abordagens que podem ser escolhidas pelas autoridades locais e seus parceiros, de acordo com as circunstâncias e prioridades locais”.
Tomando apoio neste fato, o IADH, esquematiza de forma simples e objetiva, uma dinâmica, conforme a Figura 4, que pode dar continuidade ao processo de gestão da Agenda, para que a cada ciclo torne-se cada vez mais participativo e integrado, contribuindo a cada ciclo para a obtenção dos resultados de sustentabilidade local já mencionados anteriormente no Quadro 5.
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Fonte: (IADH, 2004)
Figura 4 – A Dinâmica do Processo da Gestão Social
A figura demonstra que todo o sucesso do processo está estruturado em vários ciclos sucessivos de aprendizados contínuos, realimentando o sistema com novas idéias capazes de ampliar a visão de futuro, redefinir objetivos, revisar e elaborar projetos, aperfeiçoando a cada ciclo a gestão social. Sua forma em espiral, condiz com os limites e possibilidades do desenvolvimento local, estes, sempre em movimento crescente, horizontal e verticalmente, e sempre reforçando a idéia que todo o êxito do processo, não acontece no curto prazo, nem apenas em um ciclo.