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86 Os dados sócio-econômicos, provenientes do EVA realizado pela PROEMA, revelam o perfil da comunidade caracterizada pela carência de serviços de saneamento básico e infra- estrutura urbana. Com uma ocupação desordenada, esta situação foi agravada e nenhuma estrutura básica e acesso viário foi encontrado. Num aspecto geral, a região se caracteriza como uma conurbação urbana periférica, de condições precárias de tráfego e sobrevivência.

Essa realidade não difere da situação de muitas outras áreas de risco encontradas Fortaleza, que segundo matéria do Jornal Diário do Nordeste (2008), é a segunda pior capital em saneamento do país, com base nos percentuais ligados ao saneamento básico e à habitação, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, conhecida como Pnad 2007. A capital ocupa os penúltimos lugares nas listas de acesso adequado à água, com 88,5%, e ao esgoto, com 71,1%. Em relação a coleta de lixo, apresentou o pior índice de cobertura, com 96,4%, sendo a média brasileira de 99% nas capitais.

Estes dados reforçam ainda mais a emergência para a viabilidade da obra de construção do Conjunto Habitacional da Rosalina, sendo o projeto elaborado de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano e o Estatuto da Cidade, que tem como premissa o atendimento a população urbana de baixa renda, objetivando melhorias na qualidade de vida dos moradores.

O Estatuto da Cidade estabelece que os Municípios deverão implementar uma política urbana voltada ao pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, e reza em seu artigo 2º, os objetivos da política urbana municipal. Dentre eles encontra-se: a “gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade, na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano” e, audiências do Poder Público Municipal com a população interessada.

Partindo dessa premissa, o Diagnóstico Participativo promovido pelo Processo de Implementação da Agenda 21 Local, foi determinante para a promoção do diálogo necessário entre a população e poder público, pois, a participação cidadã, configura-se como uma das principais referências para a validação da democracia participativa. Dessa forma, as discussões da Agenda 21 na comunidade começaram com a construção do Conjunto Habitacional Rosalina, pela Prefeitura.

Este foi o momento correto para se promover uma abordagem democrática e participativa, que mobilizou as lideranças locais e conscientizou a população para sua organização. A comunidade encontrava-se totalmente desestruturada, desmotivada, e sem consciência comunitária, devido a uma longa luta para que suas reivindicações fossem

87 atendidas. Deste modo, a Agenda 21 pôde ser entendida como uma proposta de reflexão sobre atuais condições de vida, visando um alcance futuro de esperanças para um maior número de pessoas.

No processo democrático a conquista das metas depende da atuação e ampla participação dos vários segmentos da sociedade, requerendo vontade política para o exercício do mesmo, para ser verdadeiro e criativo. Torna-se genuíno com a manifestação de todos os atores envolvidos, principalmente daqueles menos favorecidos dentro do grupo, avaliando as dificuldades, perspectivas e possibilidades.

Neste contexto, outro ponto positivo foi a participação da Prefeitura Municipal de Fortaleza seguindo o regimento estabelecido pelo Estatuto da Cidade, tendo como objetivo, proporcionar à população beneficiada, além do direito à moradia digna e adequada, a possibilidade da organização social do local. Este processo foi conduzido pela Associação Civil Alternativa Terrazul que teve papel de estimular para a construção da Agenda 21, propondo a reestruturação da nova comunidade.

Para a Terrazul, o objetivo dessa ampla reestruturação seria construir a sustentabilidade social, ambiental e econômica num amplo conceito que incluia a questão da saúde, saneamento e educação ambiental como princípios de desenvolvimento sustentável. Analisando este horizonte, um processo educativo de formação de consciência crítica, que questione práticas e hábitos apresenta-se como primordial.

Essa perspectiva educacional ensina a entender o mundo, fazer julgamentos, tomar decisões e compartilhar suas descobertas coletivamente. Educação essa, necessária não apenas para aqueles segmentos menos favorecidos, mas também para todas as classes sociais, rompendo com barreiras apoiadas em equívocos e preconceitos.

Não podemos esquecer que a base para se formular um processo de Agenda 21 está num planejamento estruturado na educação em seu amplo espaço de atuação. Com sujeitos instruídos e capacitados o sucesso poderá ser alcançado de forma consciente e ativa por parte dos envolvidos, com troca de opiniões e diálogos sólidos, rumo a soluções de conflitos existentes e execução dos projetos propostos.

Estes projetos foram instaurados em cinco eixos temáticos diferentes distribuídos no Plano de Ação, com benefícios expandidos a todos os participantes envolvidos na comunidade, de forma participativa e democrática, seguindo uma metodologia clara e objetiva das “Oficinas do Futuro” 16. Estas oficinas são processos dialógicos com resultado aberto,

88 processos para o desenvolvimento e a experimentação de novas idéias, projetos e propostas de soluções.

Quanto aos eixos temáticos, o Plano de Ação do Grupo Idosos, está vinculado a duas prioridades diretamente dependentes da estruturação do conjunto habitacional: construção do Posto de Saúde Local e do Salão do Idoso. Obras com previsão de entrega em Janeiro de 2008, dependentes do andamento das construções e com ações comunitárias posteriores, e nenhum projeto social de acompanhamento ao idoso foi colocado como prioridade.

No Plano de Ação do Grupo Educação Ambiental, a escolha dos dois tópicos prioritários foi satisfatória. Novamente uma ação vinculada à construção do conjunto habitacional, com o prédio da Cooperativa de Catadores, e outra, vinculada a campanhas educativas, instalando-se um Núcleo de Educação Ambiental da Rosalina. O acompanhamento das políticas públicas ligadas ao saneamento básico era um dos objetivos da formação do núcleo. Evidenciava-se uma preocupação comunitária quanto à questão.

Com o Plano de Ação Emprego e Renda, um fato foi importante dentro dos debates. Maior número de empregos com carteira assinada para garantir os direitos da aposentadoria, FGTS e os benefícios para a família, tornou-se questão principal. Dessa maneira se instituiu um debate sobre noções de cooperativismo e ações para beneficiar a instrução dos moradores, empregando cursos profissionalizantes. A prefeitura em acordo com a construtora, se comprometeu a utilizar mão-de-obra local da comunidade, no período de construção da obra, inclusive com a inclusão do seguimento feminino, em apoio ao projeto de mulheres pedreiras.

Esta inclusão foi reforçada no Plano de Ação do Grupo Gênero, que veio promover uma capacitação profissional para as mulheres juntamente com a construção de uma instituição de apoio e defesa das mesmas.

Pode-se notar com isso a intrínseca relação entre os objetivos das ações anteriores como formação e geração de emprego e renda. A oficina realizada também contribuiu para o processo de reeducação acerca da questão de gênero, com o objetivo de isentar a comunidade de relações desiguais entre homens e mulheres. Vale ressaltar que os estudos socioeconômicos locais revelam que a grande maioria das famílias são chefiadas por mulheres, representando 86%, tornando-se presença expressiva e integrante no orçamento familiar.

Finalmente, o Plano de Ação do Grupo Juventude que promove uma maior participação política e cursos com base na consciência ambiental, com uso de garrafas PET. A divulgação e informação sobre o andamento da Agenda 21 e da construção do Conjunto Habitacional ficaram a cargo de publicações do grupo, em formato jovem. A iniciativa busca

89 estimular a participação dessa parcela ociosa da população, bem como a sua representatividade, atuando, produzindo conhecimento e promovendo uma reflexão acerca dos conceitos de futuro.

O Seminário para a construção do Plano de Desenvolvimento Local e Sustentável da Agenda 21 da Rosalina seguiu uma metodologia adequada, referente principalmente à abordagem e mobilização da população. A Oficina do Futuro é uma técnica que ajuda a conduzir os passos de preparação da Agenda 21 e de qualquer outro projeto coletivo, e contou com o envolvimento de representantes do governo, movimentos sociais e, principalmente, 600 moradores da Comunidade mobilizados nas reuniões de rua. Uma representação legítima de democracia no diagnóstico participativo.

Assim, uma das principais relevâncias deste programa foi a criação dos Grupos de Ação Local, responsáveis pela animação do processo de mobilização comunitária para o planejamento a médio e longo prazo, e atuam com alto grau de independência, o que permite que novas formas de sensibilização da comunidade sejam criadas e implantadas. Abramovay e Beduschi Filho (2003) ressaltam que “a participação dos atores locais faz com que seja possível imaginar um novo “futuro” para os territórios”.

Dessa maneira, reforça ainda o autor, que, em muitos casos, esforços estão sendo feitos para reestruturar atividades já existentes, mas em outros casos, quando a situação já está muito deteriorada, são necessários novos projetos, completamente diferentes e capazes de forjar novas identidades e imagens em determinadas áreas. Estas são as maiores necessidades no caso da Comunidade Rosalina, que conviveu com o descaso durante mais de uma década de luta e agora tem um novo horizonte com apoio dos programas que serão desenvolvidos com a implementação de sua agenda local e a construção da Comunidade Nova Rosalina.

Os alicerces dessa nova comunidade estão estruturados na união entre a proposta de habitação digna, prometida pela Prefeitura Municipal, e o Plano de Ações da Agenda 21 Local, realizados com um planejamento integrado e participativo com a população beneficiada, lembrando que o processo esta baseado em três níveis: elaboração de uma plataforma, com os programas de ações em longo prazo; viabilização de uma cultura política consensual, promovida com a comunicação entre todos os grupos envolvidos; e o caminho do planejamento, traçado no dia-a-dia, introduzindo os primeiros passos.

Nesta interação, segundo Apel (2007), cada nível esta sujeito a conflitos. Sem uma cultura política de debate, não se consegue um consenso estável. Sem um consenso, também não será possível efetuar ações. A realização de primeiras ações ajuda a propagar entre os indivíduos envolvidos tanto a viabilidade dos programas quanto a confiança a ser depositada

90 neles. Tudo isso contribui para as futuras ofensivas de planejamento e para as metas posteriores.

Vale ressaltar que em toda metodologia que leve a um processo de negociações visando a determinação de metas e estratégias, é preciso operar com uma garantia de resultados realistas. Não importa se em um encontro participativo serão discutidas metas da Agenda ou se deverá ser concebido um projeto para um bairro através de uma Oficina do Futuro, em qualquer um dos casos, os moderadores deverão ter consciência de que uma cultura de comunicação sobre um objeto tão complexo quanto a Agenda 21 somente poderá ter continuidade, caso tenha como base resultados alcançados ao longo de pequenos passos a serem dados.

Se não houver uma meta, também não haverá um caminho. Existe uma necessidade de um plano orientador. No caso da comunidade estudada, se o plano de ações for desenvolvido por um fórum não representativo, ninguém deverá admirar-se com o fato de suas metas não poderem ser introduzidas na execução do planejamento da obra do Conjunto Habitacional. A formulação de metas deverá ser realizada de modo consensual com os verdadeiros responsáveis pela tomada de decisões do Município, as autoridades públicas legalmente responsáveis pelo desenvolvimento do projeto, intensivamente envolvidas no processo.

Além disso, Apel (2007) também recomenda buscar a consecução de medidas que, em curto prazo, possam ser apresentadas a comunidade como êxitos parciais. Um movimento em torno da Agenda 21 que não apresente resultados exemplares estará fadado ao fracasso. Aponta-se um caminho estratégico para soluções, buscar uma coordenação entre as diversas Secretarias Municipais, promovendo uma harmonia entre os interesses dessas diferentes pastas.

Um outro caso a ser observado remete ao desenvolvimento e estruturação do projeto do Conjunto Habitacional da Rosalina em acordo a Agenda 21 implementada. A infra- estrutura necessária ao pleno funcionamento e continuidade dos projetos do Plano de Ação de desenvolvimento Local e Sustentável da Agenda 21 da Rosalina, foi garantida, com a contemplação em projeto das obras: Centro comunitário, Posto Policial, Salão do Idoso, Creche e Escola.

Demonstra-se que o projeto da viabilização do conjunto, esta compactuado com a implementação da Agenda Local, sendo ouvida as reivindicações da comunidade, distribuídas no Plano de Ações em seus cinco eixos principais. Além da habitação e saneamento, a criação de um ECOPONTO com galpão de triagem e reciclagem, foi mais uma proposta de desenvolvimento local sustentável. Estimula-se uma geração local de emprego e renda para

91 muito catadores que residem na comunidade e desenvolvimento de vários outros projetos na área de eco-educação e meio ambiente.

Veremos agora o acompanhamento do desenvolvimento destes planos. Num universo temporal que se estende até a provável conclusão do projeto. Observa-se um propósito de desenvolvimento local sustentável no âmbito da promoção de melhor qualidade de vida, com saneamento e moradia digna à comunidade.

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