PLANOS MUNICIPAIS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO
ESTADO DE SÃO PAULO: JAGUARIÚNA E VALINHOS
Isabela de Melo Berberian
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo CEATEC
isaberberian@hotmail.com
Tomás Antonio Moreira
Programa de Pós Graduação em Urbanismo CEATEC
tomas.moreira@puc-campinas.edu.br
Resumo: O objetivo da pesquisa é investigar o que tem sido produzido em relação aos Planos Municipais de Habitação de Interesse Social no Estado de São Paulo, tendo como exemplo dois planos: Jaguariúna e Valinhos. O escopo do trabalho na busca pela in-vestigação da produção de planos municipais de ha-bitação de interesse social, diz respeito à sua com-preensão, caracterização e avaliação, de modo a compreender seu papel, identificar sua estruturação bem como os principais objetivos e as principais dire-trizes propostas pelos planos, as propostas com rela-ção às ações estratégicas e a investigarela-ção sobre os
processos participativos empreendidos.
Palavras-chave: Gestão Urbana, Política habitacio-nal, Planos Municipais de Habitação de Interesse Social.
Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas - Arquitetura e Urbanismo – Estudos da Habitação - FAPESP.
1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que hoje um dos principais problemas soci-ais nos municípios brasileiros está relacionado à ha-bitação. Por esse motivo, cada vez mais se faz pre-sente a importância de bons Planos Municipais que apresentem soluções para esta problemática.
Este plano de trabalho de Iniciação Cientifica tem como objetivo estudar a formação de Planos Munici-pais de Habitação no Estado de São Paulo, compre-endendo os problemas habitacionais dos municípios, entendendo o papel dos planos na política urbana, caracterizando e comparando dois Planos Municipais de Habitação: o Plano Municipal de Habitação de Jaguariúna e o Plano Local de Habitação de Interes-se Social de Valinhos.
2. CONTEXTUALIZACAO
A contextualização do setor habitacional, nos seus diferentes aspectos é fundamental para se compre-ender os desafios de se elaborar Planos Habitacio-nais no Brasil, fornecendo as bases para a elabora-ção dos cenários e das estratégias que foram formu-lados para enfrentar as enormes necessidades habi-tacionais do país. Um breve histórico da questão ha-bitacional a partir do ano de 1964 foi estudado para compreender o cenário habitacional.
Quando em 21 de agosto de 1964 foi criado o BNH – Banco Nacional de Habitação, voltado para o financi-amento e para a produção de empreendimentos imobiliários, tendo como objetivo ostensivo à cons-trução de moradias para a população de baixa renda, houve um enorme "boom" na construção civil do pa-ís. Contou com recursos do FGTS – Fundo de Ga-rantia por Tempo de Serviço, bem como dos recur-sos voluntários provenientes das cadernetas de pou-pança. Contudo, os recursos foram, sobretudo, des-tinados às classes mais elevadas da sociedade e, também, as obras de infraestrutura e saneamento, não resolvendo o problema do déficit habitacional para a classe mais baixa da população.
Durante o período de vigência do BNH e SFH - Sis-tema Financeiro de Habitação promoveu-se o finan-ciamento de aproximadamente 4,5 milhões de mora-dias, de 1964 a 1985. Contudo, isso representa ape-nas um terço do total da produção de habitações construídas no país neste período, sejam elas mora-dias produzidas tanto pelo mercado legal quanto pelo ilegal.
Fe-deral. A recessão econômica praticamente paralisou o setor, sendo fechadas, por resolução do Banco Central, todas as possibilidades de novos financia-mentos para setores populares.
Após o termino do BNH, podemos fazer um balanço da sua atuação: o desempenho social foi muito fraco, apenas 33,6% das unidades habitacionais foram des-tinadas aos setores populares, sendo que a popula-ção com rendimento entre 1 e 3 salários mínimos foi contemplada com menos de 6% dos totais de unida-des habitacionais. Com a transferência da gestão do FGTS pela Caixa Econômica Federal, não apareceu no país nenhum novo projeto consistente e duradou-ro de política habitacional.
Durante o período subsequente ao regime militar, de 1986 a 1998, foram produzidas pelo SFH, pratica-mente 2 milhões de moradias. Esse número foi im-portante, porém pequeno, se comparado as milhões de moradias urbanas produzidas no mesmo período [1, 2].
Desde então, o país ficou mergulhado num processo de desarticulação institucional para reger a política habitacional. Assiste-se, portanto nos períodos sub-sequentes a uma política habitacional defasada. Nas décadas de 80 e 90, em função da ascendente demanda por habitação, o poder público procurou montar programas estratégicos de curto prazo, pois era fundamental dar respostas imediatas às necessi-dades vigentes. Assim, apesar de não existir uma política nacional consistente e duradoura, houve ex-periências em níveis municipais nesta linha, de pro-gramas isolados que sofriam mudanças constantes. A crescente elevação negativa dos índices habitacio-nais continua a ser um dos principais problemas das cidades brasileiras no início dos anos 2000. Acirra-se o aprofundamento da desigualdade e da exclusão social no país, gerado por um modelo de política econômica que tem levado a um desemprego maciço e crescente nas cidades. A consequência deste pro-blema é o abandono à formação das cidades às re-gras da exclusão social, dos interesses especulati-vos, da informalidade e ilegalidade da ocupação do solo, predominantes nas últimas cinco décadas, quando o país presencia elevado crescimento urbano demográfico [3, 4].
As novas perspectivas de políticas habitacionais es-tavam agora destinadas a encarar, sobretudo que as políticas sociais que foram, até então, desenvolvidas pelos poderes públicos e particularmente a de habi-tação popular, demonstraram-se muito frágeis para reverter os mecanismos de exclusão social e segre-gação espacial. Com efeito, ao mesmo tempo em
que se desenvolvia uma política habitacional para legitimar os governos, o Estado ainda contribuiu a diferentes problemas: primeiro com fortalecimento dos mecanismos de exclusão com sua política eco-nômica, que leva a uma estrutura de renda desigual ao extremo; segundo com a prioridade do incremento da indústria da construção civil, financiando a habita-ção das classes médias e altas em detrimento da habitação social; e, por último, à tolerância a especu-lação fundiária.
Em 2000 e 2002 praticamente 60% dos recursos sob gestão federal foram destinados ‘as famílias que ga-nhavam mais de 5 salários mínimos que represen-tam apenas 8% do déficit habitacional. Para reverter essa tendência e dar prioridade as faixas mais baixas de renda na aplicação dos recursos sob gestão fede-ral seria necessário ampliar o mercado privado de modo a atender a classe média.
O governo federal tomou duas medidas principais para ampliar o mercado: enviou ao Congresso Naci-onal um Projeto de Lei com a finalidade de dar segu-rança jurídica e econômica ao mercado privado bas-tante frágil em função da alta inadimplência. A lei nº 10.391, aprovada em 2004, foi iniciativa do Ministério das Cidades, do Ministério da Fazenda e de empre-sários ligados ao financiamento, construção e co-mercialização da moradia de mercado. A segunda medida tomada para ampliar o mercado privado foi a resolução nº 3.259 aprovada pelo Conselho Monetá-rio Nacional que tornou desvantajosa para os ban-cos, a retenção de recursos da poupança privada, no Banco Central. Contrariando a absurda condição vi-gente nos últimos anos, parte dos recursos de pou-pança passou a ser investido em atividade produtiva, obrigatoriamente. Como pode ser constatado, o de-sempenho do mercado imobiliário começava a cres-cer continuamente com a implementação dessas medidas. As entidades do mercado precisavam ago-ra de uma estago-ratégia de simplificação do produto que está sendo oferecido para que ele cumpra um papel mais eficaz no atendimento às faixas de renda situa-das entre 5 e 10 salários mínimos.
Diversas municipalidades brasileiras, estruturadas sobre estes, passaram a desenvolver seus Planos.
3. METODOLOGIA
As atividades foram divididas em três etapas de tra-balho:
Etapa I: Conhecimento do Tema
Levantar referências bibliográficas sobre o tema. Elaborar plano de leitura. Realizar leitura e fichamen-to de títulos selecionados.
Etapa II: Definição de Amostra
Delimitar os municípios que elaboraram os Planos Municipais de Habitação no Estado de São Paulo. Organizar material levantado e definir uma amostra de dois municípios para a pesquisa, no caso foram os municípios de Valinhos e Jaguariúna da Região Metropolitana de Campinas.
Etapa III: Estudo de Caso e Análise Comparativa Identificar os principais objetivos e propostas dos Planos selecionados. Analisar os dados e elaborar síntese teórica.
4. ANÁLISE DE PLANOS
Para dar início a pesquisa, foram criados diversos quadros para análise como principal meio de extrair informações e organiza-las de maneira a priorizar as informações mais relevantes dos Planos, bem como investigar como se deu a elaboração de cada um deles [5, 6, 7, 8, 9].
Cada Plano seguiu o mesmo modelo de tabela. Ne-las, as informações constam de acordo com os sub-temas: Dados Gerais / Informações Básicas do PLHIS / Terra para Habitação PLHIS / Estratégias de Ação Fundiária / Marcos Legais Regulatórios. Segue abaixo o formato dos quadros seguidos:
MINISTÉRIO DAS CIDADES. Guia de Adesão ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse So-cial. 2008
MINISTÉRIO DAS CIDADES. Plano Nacional de Habitação. 2010.
MINISTÉRIO DAS CIDADES. Política Nacional de Habitação. Cadernos MCidades, n.4, reimp. 2006.
SANTA ROSA, J.; DENALDI, R. Curso à distân-cia_ Plano Local de Habitação de Interesse Soci-al. 2009.
SECRETARIA DE ESTADO DA HABITAÇÃO. Plano Estadual de Habitação de São Paulo.
SECRETARIA DE ESTADO DE ECONOMIA E PLANEJAMENTO. Plano Metropolitano de Habi-tação da Região Metropolitana de Campinas.
Plano Nacional de Habitação PlanHab - Estudos Técnicos - Caracterização dos Tipos de Municí-pios.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se pode concluir é que os planos existentes ainda têm uma função de grande impacto perante a extrema importância à temática habitacional.
Para a elaboração de bons planos para os municí-pios em que ele ainda está em elaboração, e para os municípios em que seus planos já estão elaborados, porém precisam de melhorias, ou revisões, é neces-sário que se faça uma grande pesquisa detalhada de cada município e seu entorno, identificando cada problema, para além de propor soluções, executa-las.
AGRADECIMENTOS
Agradeço pelo apoio da FAPESP - Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado de São de Paulo e dos meus colegas de trabalho pelos momentos de aprendizado.
REFERÊNCIAS
[1] AZEVEDO, Sérgio. Desafios da Habitação Po-pular no Brasil: políticas recentes e tendências. Coleção Habitare - Habitação Social nas Me-trópoles Brasileiras - Uma avaliação das políti-cas habitacionais em Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Pau-lo no final do sécuPau-lo XX.
[2] BONDUKI, Nabil. Política Habitacional e inclu-são social no Brasil: reviinclu-são histórica e novas perspectivas no governo Lula.
[3] CARDOSO, A., Silveira, M.C.B. O Plano Diretor e a Política de Habitação. In: Orlando Alves dos Santos Junior e Daniel Todmann Montandon (org.). Os Planos Diretores Municipais Pós-Estatuto da Cidade: balanço crítico e perspecti-vas. Rio de Janeiro: Letra Capital: Observatório das Cidades: IPPUR/UFRJ, p. 99-126. 2011. [4] FREITAS, Eleusina Lavôr Holanda. Como
quali-ficar conjuntos habitacionais populares. 2004. [5] MARICATO, E. T. 2008. Nó na Terra. Revista
Piauí, número 21, p. 34-35.
[6] MARICATO, E. T. 2001. Brasil, cidades: alter-nativas para a crise urbana. Petrópolis: Vozes. [7] MOREIRA, T. A. 2012. Falta o falsa política
ha-bitacional y del suelo. Revista Ciudades, número 95, p. 39-46.
[8] MOREIRA, Tomás Antonio; LEONELLI, Gisela Cunha; NETO, Paulo Nascimento. Respostas Municipais ao Problema de Habitação Social na Região Metropolitana de Curitiba. Oculum Ensaios 15 / Campinas / pág. 42 - 57 / Janei-ro_Junho 2012.