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Aula 01. Fato Típico e seus Elementos. Direito Penal para Soldado da PM BA. Prof. Leonardo dos Santos Arpini. Direito Penal para Soldado da PM BA

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(1)

Aula 01

Fato Típico e seus Elementos

Direito Penal para Soldado da PM BA

(2)

Sumário

TEORIA GERAL DO DELITO. 3

INTRODUÇÃO. 3

Conceito de crime. 3

FATO TÍPICO 7

Conduta e seus elementos. 7

Omissão penalmente relevante. 10

Resultado. 13

Nexo de causalidade. 14

Tipicidade. 16

Crime doloso e crime culposo. 17

Consumação e tentativa. 24

Espécies de tentativa. 27

Arrependimento posterior e crime impossível. 30

Erro de tipo e erro de proibição. 33

ILICITUDE/ANTIJURIDICIDADE. 40

Estado de necessidade. 40

Legitima defesa. 42

Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito. 46

CULPABILIDADE 48

Imputabilidade: 48

Potencial consciência da ilicitude. 50

Exigibilidade de conduta diversa. 51

DAS PENAS. 55

Penas alternativas 58

CONCURSO DE PESSOAS. 68

CONCURSO DE CRIMES. 74

SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. 79

LIVRAMENTO CONDICIONAL. 84

EFEITOS DA CONDENAÇÃO. 88

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. 92

DA GRAÇA, ANISTIA E INDULTO. 95

QUESTÕES COMENTADAS PELO PROFESSOR 97

LISTA DE QUESTÕES. 115

GABARITO. 125

RESUMO DIRECIONADO. 126

(3)

TEORIA GERAL DO DELITO.

INTRODUÇÃO.

Olá, meu amigo(a), dando início ao nosso encontro, hoje trataremos alguns dos pontos mais importantes do direito penal dentro da ‘Parte Geral’ do código. É, a partir da teoria geral do delito e seus desdobramentos, que podemos entender toda a estrutura do crime.

Para tanto, uma das principais características do Direito Penal é a sua fragmentariedade.

Em que pese tenhamos inúmeros atos ilícitos existentes no mundo fenomênico (acontecimentos da vida), apenas uma parcela de todos os atos interessa ao Direito Penal, sendo principalmente aqueles que atentam contra os bens jurídicos mais importantes para o convívio social. Dessa forma, podemos afirmar que o Direito Penal se ocupa apenas de uma fração dos inúmeros atos ilícitos existentes.

Portanto, o caráter fragmentário desenvolve-se a partir do conceito de ultima ratio (última razão) do Direito Penal. Em outras palavras, meu(a) caro(a) estudante, o Direito Penal será chamado a atuar quando nenhum outro ramo jurídico (Administrativo, Civil, Tributário, Ambiental, Difusos e coletivos e etc...) abarcar uma solução ao ilícito do mundo fenomênico.

Feita essa breve e necessária introdução, é chegado o momento de mergulharmos definitivamente no campo do estudo do crime.

Venha comigo!

Conceito de crime.

Antes de adentramos no conteúdo propriamente dito, é necessário que façamos uma pequena distinção entre crime e contravenção penal.

Conforme o artigo 1º da LICP (Lei de introdução do Código Penal – Decreto-Lei n. 3.914/41), constitui crime a infração penal apenada com reclusão ou detenção, acompanhada ou não de multa, e a contravenção aquela punida com prisão simples (juntamente com multa) ou somente pena de multa.

Em resumo:

CRIME CONTRAVENÇÃO PENAL

Apenado com reclusão ou detenção, acompanhada ou não de multa

Apenada com prisão simples (juntamente com multa) ou somente multa.

Avante!

Antigamente, meu amigo(a), no tempo em que vigorava no Brasil o Código Criminal do Império (1830) e, logo em seguida, em 1890 o Código Penal Republicano, a própria legislação se encarregava de trazer-nos o conceito de crime.

O art. 2º, §1º, do Código Criminal do Império assim conceituava o crime:

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§1º Toda acção ou omissão voluntaria ás leis penaes (redação original).

Já, o Código Penal Republicano de 1890, assim dizia:

Art. 2º. A violação da lei penal consiste em acção ou omissão; constitue crime ou contravenção (redação original).

Entretanto, nos dias atuais, a partir do Código Penal de 1940 e suas posteriores alterações, nosso legislador infraconstitucional não mais se preocupou em trazer um conceito de crime, deixando assim, a tarefa para àqueles que se dedicam ao estudo do Direito Penal.

A partir de então, inúmeros doutrinadores iniciaram a difícil tarefa de classificação do conceito de crime.

Passado um longo período de tempo, a partir dos ensinamentos da doutrina clássica e, também, da doutrina moderna, os estudiosos do direito penal nos presentaram com, pelo menos, três conceitos que ensejam outros desdobramentos no estudo do crime:

Certo, caríssimo! Passemos, então, ao estudo de cada um dos conceitos:

Conceito Material É baseado na essência de um comportamento penalmente relevante.

Conceito Formal Crime é a conduta vedada por lei, com ameaça de pena criminal.

Conceito Analítico Crime é toda a ação ou omissão, consciente e voluntária, estando previamente definida em lei,

Conceito de Crime

Conceito Analítico

Conceito Formal Conceito

Material

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que cria um risco juridicamente proibido e relevante.

Ocorre que, dentro do conceito analítico de crime (o mais aceito pelo ordenamento jurídico brasileiro), há outra divisão, vejamos:

Assim, caríssimo, essas duas são as teorias mais aceitas no Brasil para explicar a estrutura do crime e, entre as duas, a teoria tripartida é a que tem mais força, sendo adotada pela maioria dos estudiosos do Direito Penal e, também, pelas Cortes Superiores.

“Certo, Arpini! Mas e agora, o que é o crime? Afinal, ele é fato típico e antijurídico ou fato típico, antijurídico e culpável?”

Certo, meu(a) jovem! Vamos por partes!

Inicialmente você deve saber que o conceito analítico de crime (que se divide nas teorias bipartida e tripartida) busca identificar os elementos que compõem o crime. Para tanto, conforme mencionei a você anteriormente, a definição de crime mais aceita no direito brasileiro é a de que o crime é fato típico + antijurídico + culpável. E é com essa teoria que trabalharemos, pois certamente será a cobrada de você nos concursos.

Por outro lado, há aqueles que reconhecem ser o crime apenas fato típico + antijurídico, tratando a culpabilidade como pressuposto de aplicação da penal.

Então, dessa forma a estrutura do crime é a seguinte:

CRIME

FATO TÍPICO ANTIJURÍDICO CULPAVÁVEL

Ocorre que, a partir da estrutura do crime, precisamos verificar quais são os elementos que a compõem, para Conceito Análitico

Teoria Tripartida/Tricotômica Crime = Fato Típico + Ilícito

(antijurídico) + Culpável.

Teoria Bipartida/Dicotômica Crime = Fato Típico + Ilícito

(antijurídico)

(6)

Força, guerreiro (a)! Vamos adiante.

Verifiquemos, então, quais são os elementos:

CRIME

FATO TÍPICO ANTIJURÍDICO CULPAVÁVEL

• Dolosa/Culposa Conduta

• Comissiva/Omissiva Resultado

Nexo de causalidade Tipicidade

Obs.: Quando o agente não age em:

• Estado de necessidade

• Legítima Defesa

• Estrito cumprimento do dever legal

• Exercício regular de um direito

Quando não houver o consentimento do ofendido como causa supralegal de exclusão da ilicitude

Imputabilidade

Potencial consciência da ilicitude

Exigibilidade de conduta diversa

“IMPOEX”

Agora que apresentei a você todos os elementos que compõe a estrutura do crime, quero dar-lhes outra dica valiosa!

Imprima esse quadro-resumo da estrutura do crime e cole em um local que você possa visualizá-lo diariamente. Garanto que mais cedo ou mais tarde você irá memorizar toda essa estrutura e terá uma base sólida para resolver qualquer questão que envolva o tema.

Dessa forma, chegou o momento de analisarmos cada um dos elementos de forma separada!

Vamos adiante, guerreiro(a)!

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FATO TÍPICO

Conduta e seus elementos.

Veja, caríssimo(a), a conduta é o primeiro dos elementos que compõe o fato típico (formador da estrutura do crime).

Para tanto, a conduta é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária dirigida a uma finalidade.

Então, de qualquer modo, sua existência está condicionada a um comportamento humano.

Ainda, a partir do conceito que acabamos de construir, é possível verificarmos as formas pelas quais se dá a conduta humana, quais sejam: ação e omissão.

Vejamos:

AÇÃO OMISSÃO

É toda conduta positiva, que nasce a partir de um movimento corpóreo.

A grande maioria das figuras típicas do ordenamento jurídico descreve uma conduta positiva, p.ex. “matar;

subtrair; apropriar-se; ameaçar”.

É a conduta negativa, consubstanciada na indevida abstenção de um movimento obrigatório.

Então, caríssimo(a), somente haverá conduta quando houver uma exteriorização do pensamento, através de um movimento corpóreo ou uma abstenção indevida. Assim, vale dizer, o direito penal não pune nenhum pensamento, por mais criminoso que ele possa ser.

Desse modo, enquanto a empreitada criminosa não irradiar para fora do pensamento do agente, por pior que esse seja, não poderá haver reprimenda criminal sob o ato.

Imaginemos uma situação do cotidiano: Austin, indignado depois de ver seu time de futebol perder para o maior rival, imbuído de raiva, trama em sua mente, a morte de um torcedor rival da forma mais cruel possível. Entretanto, digerida a derrota e mais calmo após a partida, Austin esquece o plano e segue adiante sua vida.

Veja, caríssimo(a), desse modo, por mais que o pensamento seja moralmente reprovável, para o Direito Penal ele é irrelevante, pois encontra-se no claustro psíquico de Austin, que não exteriorizou nenhum ato com a finalidade de matar o desafeto.

Sendo assim, somente entram no campo da ilicitude os atos conscientes. Então, podemos concluir que os atos praticados involuntariamente são penalmente atípicos, ou seja, não interessam para o Direito Penal.

“Professor, mas ato involuntário, como assim?”

Suponhamos que o agente pratique um ato sob o efeito de hipnose ou sonambulismo. Sendo o ato praticado nessas condições, estamos diante de uma conduta involuntária do agente, razão pela qual, o ato é penalmente irrelevante.

Agora que já dissertamos bastante acerca do tema, vamos testar nosso conhecimento?

Vejamos como os concursos estão questionando acerca do tema:

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Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: PC-RO Prova: FUNCAB - 2014 - PC-RO - Escrivão de Polícia Civil De acordo com o conceito analítico de crime, é um dos elementos do fato típico:

A) imputabilidade.

B) conduta.

C) exigibilidade de conduta diversa.

D) exercício regular de um direito.

E) potencial consciência da ilicitude.

Resolução: veja, meu(a) caro(a) estudante, a partir da tabela que formulamos anteriormente, é perfeitamente possível respondermos o que a banca nos indaga.

a) a imputabilidade é um dos elementos da culpabilidade;

b) a conduta é um dos elementos que compõe o fato típico;

c) a exigibilidade de conduta diversa é um dos elementos da culpabilidade;

d) exercício regular de um direito é uma excludente de antijuridicidade;

e) a potencial consciência da ilicitude compõe a culpabilidade.

Gabarito: Letra B.

Conhecimento adquirido, vamos a mais uma questão!

Avante, guerreiro(a)!

Ano: 2010 Banca: PC-SP Órgão: PC-SP Prova: PC-SP - 2010 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil

Assinale o conceito de crime lecionado pelos penalistas que adotam a corrente doutrinária finalística, que tem em Welzel seu maior expoente.

A) Ação típica, antijurídica e culpável.

B) Ação típica, antijurídica e voluntária.

C) Ação típica e juridicamente relevante.

D) Ação típica, antijurídica e dolosa.

E) Ação típica e culpável.

Resolução: de acordo com o nosso estudo até o momento, verificamos que a maioria dos penalistas e, também, os Tribunais Superiores, utilizam a definição da teoria tripartida para a qualificação do conceito analítico do crime, ou seja, caríssimo, o crime é fato típico + antijurídico/ilícito + culpável.

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“Mas professor, a questão fez menção a Welzel. Qual foi a contribuição dele para a teoria finalista?”

Welzel foi o idealizador da teoria finalista da ação. Ademais, trago a lição do Professor André Estefam1 acerca da teoria finalista da ação.

“Teoria finalista da ação: ação é a conduta humana consciente e voluntária dirigida a uma finalidade (Welzel). Ação e finalidade são conceitos inseparáveis. Esta é a espinha dorsal daquela. Isso porque o homem, sendo conhecedor dos diversos processos causais que pode desencadear, dirige seus comportamentos buscando atingir algum objetivo” (ESTEFAM, André. p. 214).

Quero que você fixe muito bem essa matéria, então, antes de avançarmos, fecharemos com mais uma questão.

Ano: 2013 Banca: FUNCAB Órgão: PC-ES Prova: FUNCAB - 2013 - PC-ES - Escrivão de Polícia Infração penal significa:

A) Quando um caso não previsto em lei é regulado por um preceito legal, que rege um semelhante.

B) Ofensa real ou potencial a um bem jurídico, levando-se em consideração os elementos subjetivos do tipo, a ilicitude e a culpabilidade.

C) Todos os valores ético-sociais que estejam a exigir uma proteção especial, no âmbito do direito penal, por se revelarem insuficientes à proteção dos outros ramos do direito.

D) Quando o princípio para o caso omitido se deduz do espírito e do sistema do ordenamento jurídico, considerado em seu conjunto.

E) Que o delito é sinônimo de contravenção penal no Brasil.

Resolução: faremos um comentário geral que servirá para a resolução como um todo da referida questão. A primeira informação que precisamos ter em mente, meu(a) jovem, é que infração penal é gênero, enquanto crime e contravenção penal são espécies desse gênero. Desse modo, a infração penal, que se transfigura em crime ou contravenção penal, é todo comportamento que causa lesão ou risco de lesão a um bem jurídico, levando em conta o elemento subjetivo do tipo (dolo ou culpa), a ilicitude (contrariedade ao direito) e a culpabilidade (imputabilidade; potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa).

Gabarito: Letra B.

Assim, fechamos essa primeira parte do nosso estudo!

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Dessa forma, a partir do que analisamos anteriormente, conseguimos verificar que a conduta que descreve uma ação é praticamente dominante dentro do ordenamento jurídico. Então, cabe-nos analisar com um pouco mais de profundidade as condutas omissivas.

Preparado?

Avante, guerreiro(a)!

Omissão penalmente relevante.

Dentro do conceito de omissão penalmente relevante, há duas teorias que explicam o objeto do nosso estudo.

São elas: a teoria naturalística e a teoria normativa.

TEORIA NATURALÍSTICA/CAUSAL TEORIA NORMATIVA/JURÍDICA A partir dessa teoria, a omissão (abstenção) produziria

um resultado que estaria intimamente ligado (nexo causal) ao fato do agente se abster de realizar um determinado comportamento.

Para essa corrente, a omissão é um nada, logo, não pode causar coisa alguma. Quem se omite nada faz, razão pela qual, nada causa. Dessa forma, a possibilidade de se atribuir ao agente criminoso (omitente) o resultado de sua abstenção, dar-se-á a partir de uma obrigação jurídica anterior à omissão (“dever jurídico de agir”). Impondo ao agente o dever de evitar o resultado.

Meu amigo(a), eu sei que os conceitos não são fáceis, por isso, peço encarecidamente que, se for necessário, leia novamente o quadro acima.

Para tanto, o direito penal adotou a teoria normativa/jurídica para tratar dos crimes omissivos, e isso vem exposto pelo artigo 13, §2º, do Código Penal.

Façamos uma leitura atenciosa!

Relação de causalidade

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.

Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado.

O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado

Feita nossa leitura, caríssimo(a), preste bem atenção na redação do §2º - “a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”.

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Dessa forma, a conduta omissiva só terá relevância (será de interesse do direito penal) quando o omitente (o agente que se omite) devia e podia agir para evitar o resultado. Ainda, logo em seguida, o §2º nos diz: “o dever de agir incumbe a quem:” e nos traz um rol daqueles que possuem o dever de evitar o resultado.

“Professor, pode nos dar um exemplo?”

Com certeza, meu amigo(a).

Imaginemos a seguinte situação: Austin é exímio nadador e convida seu amigo Caracas, com poucas habilidades de nado, a juntos fazerem uma travessia nadando de uma praia a outra. Iniciada a travessia, Caracas começa a se afogar. Iniciado o afogamento, teremos duas situações:

a) na primeira delas Austin retorna até Caracas e consegue salvá-lo de um afogamento.

b) na segunda, Austin não salva seu amigo Caracas e este vem a falecer.

Perceba que, em ambas as situações Austin tem o dever legal de evitar o resultado, pois foi ele que, com seu comportamento anterior (convite para fazer uma travessia de uma praia a outra a nado) criou o risco da ocorrência do resultado (afogamento de Caracas), pois sabia que seu amigo não era um nadador habilidoso.

Sendo assim, quando Austin salva Caracas, ele cumpre seu dever legal e não responderá por crime algum. Já na segunda situação, ao não salvar o amigo, responderá pelo crime de homicídio (não por ter praticado diretamente a conduta de matar) mas por sua omissão ser penalmente relevante em não ter evitado o resultado (afogamento-morte) por um risco criado através do convite da travessia. Essa é a situação que vem disciplinada na alínea “c” do art. 13, §2º, do CP.

Agora, imaginemos outro exemplo: Austin e toda a sua família estão na praia com os filhos e a babá. Passado um tempo, Austin e sua esposa saem a caminhar pela areia da praia e, desse modo, pedem para que a babá tome conta das crianças para que não entrem no mar. A babá, de plano, responde positivamente ao casal para o cuidado das crianças. Então, nesse caso, se eventualmente as crianças vierem a se afogar por descuido da babá, que assumiu a responsabilidade de impedir o resultado, é pacífico que poderemos imputar o homicídio culposo do artigo 121, §3º, a babá. Essa é a que situação está disciplinada na alínea “b” do art. 13, §2º, do CP.

Quanto à alínea “a”, podemos usar o mesmo exemplo das crianças na praia, basta apenas trocarmos a babá pelos próprios pais. Suponha que Austin e sua esposa vejam seus filhos se afogando e nada fazem, serão responsabilizados pelo homicídio dos filhos, pois tem por lei o dever de cuidado e vigilância dos filhos e, ao se omitirem para com o afogamento, é perfeitamente possível imputarmos a eles a figura do homicídio do art. 121, do CP. Essa é a situação que está disciplinada na alínea “a” do art. 13, §2º, do CP.

Então, para fecharmos esse tópico, todas as situações hipotéticas que narrei a você são mais conhecidas no âmbito do direito penal como crimes comissivos por omissão.

Quer ver como isso vem caindo em provas?

Olha só, meu amigo(a):

Ano: 2018 Banca: NUCEPE Órgão: PC-PI Prova: NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil

JOÃO e JOSÉ estão na praia e resolveram entrar no mar. Em determinado momento eles começam a se afogar.

Havia naquele local um salva-vidas que, ao avistar apenas JOÃO, notou que ele era seu desafeto e se recusou a salvá-lo; próximo a eles havia também um surfista, este avistou apenas JOSÉ pedindo socorro, mas, por ser seu

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inimigo, não atendeu aos pedidos dele, resolvendo sair do local. As duas pessoas acabam se afogando e morrendo.

Em relação ao caso, qual das alternativas abaixo está CORRETA?

A) O salva-vidas responde por homicídio doloso por omissão.

B) O salva-vidas responde por omissão de socorro.

C) O surfista responde por homicídio doloso por omissão.

D) A conduta do surfista é atípica.

E) O surfista responde por homicídio culposo.

Resolução: assim como em questões anteriores, nesse questionamento, faremos um comentário geral que abarcará toda a resolução da questão. Então, atente-se aos seguintes fatos: I – o salva-vidas assumiu a responsabilidade de impedir o resultado, ao assumir a profissão. Desse modo, no caso que nos é apresentado o salva-vidas, ao se omitir e causar a morte do seu desafeto, responderá por homicídio doloso. II – quanto ao surfista, poderíamos imputar a ele o crime do art. 135 do CP, que trata da omissão de socorro, mas em nenhuma hipótese será responsabilizado por homicídio (tanto doloso como culposo), pois ele não ostenta nenhuma das condições necessárias que estão dispostas nas alíneas “a” a “c” do art. 13, §2º, CP.

Gabarito: Letra A.

Tudo entendido?! Certo!

Ano: 2010 Banca: ACAFE Órgão: PC-SC Prova: ACAFE - 2010 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil

Segundo o Código Penal brasileiro, “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.”

Assinale a alternativa correta que completa o enunciado a seguir:

A omissão é penalmente relevante (...)

A) quando o omitente, independentemente da preexistência de qualquer dever de sua parte, podia agir para evitar o resultado.

B) somente nos crimes omissivos próprios.

C) quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado.

D) sempre que o omitente tiver o dever jurídico de evitar o resultado.

Resolução: veja que o CP ao tratar da omissão penalmente relevante, imputa o resultado criminoso a quem devia e podia agir para evitar o resultado e, o §2º do art.13, elenca quem são as pessoas que possuem o dever de agir.

Gabarito: Letra C.

(13)

Agora que fechamos mais uma parte do nosso estudo, passemos ao estudo de mais um dos elementos do fato típico.

Resultado.

No tocante ao resultado, meu(a) jovem, assim como na omissão penalmente relevante, há duas teorias norteadoras do resultado.

Vejamos cada uma delas:

TEORIA NATURALÍSTICA TEORIA JURÍDICA

Para a teoria naturalística, considera-se resultado toda a modificação no mundo fenomênico provocado

pela ação ou omissão (p.ex. a perda patrimonial no furto, a morte no homicídio, a conjunção carnal no

estupro e etc.)

Para a teoria jurídica, considera-se resultado toda a lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pelo direito penal. Todo crime tem resultado jurídico

porque sempre agride um bem jurídico tutelado.

(p.ex. o homicídio atinge o bem da vida, o furto e o roubo atingem o patrimônio).

Desse modo, nos resta analisarmos a classificação dos crimes quanto ao seu resultado naturalístico.

Quanto ao resultado os crimes podem ser divididos em resultado naturalístico e resultado jurídico.

Preste atenção na tabela abaixo:

CRIMES QUANTO AO RESULTADO NATURALÍSTICO

CRIMES QUANTO O RESULTADO JURÍDICO

CRIME MATERIAL – aqui, meu amigo(a), o tipo penal descreve a conduta e o resultado material, razão pela qual, para a existência do crime é necessária a produção do resultado. P.ex. para que ocorra o homicídio, é necessário a morte da vítima; para que ocorra o furto, é necessária a perda patrimonial da vítima.

CRIME DE DANO OU DE LESÃO aqui, a consumação exige que o bem jurídico seja lesionado pela conduta do agente, p.ex. o crime de homicídio

CRIME FORMAL – já nessa classificação, o crime descreve conduta e resultado. Entretanto, o crime é de consumação antecipada, perfazendo-se apenas com a conduta, sem que o resultado ocorra. P.ex. o crime de ameaça. O simples fato de ameaçar a vítima já é suficiente para o crime se consumar, não necessitando que as ameaças venham a se concretizar.

CRIME DE PERIGO – a consumação ocorre quando o bem jurídico é exposto à risco, p.ex. o crime de contágio venéreo do art. 130 do CP; posse (art. 12) ou porte (art. 14 o 16) de arma de fogo (Estatuto do Desarmamento).

CRIME DE MERA CONDUTA – aqui, caríssimo(a), o tipo penal prevê apenas a conduta, sem fazer menção

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a nenhum resultado no mundo exterior. P.ex. o crime de omissão de socorro (art. 135, do CP).

CRIMES MATERIAIS CRIMES FORMAIS E DE MERA CONDUTA Os crimes materiais se compõem de:

Conduta + Tipicidade + Nexo Causal + Resultado.

Os crimes formais e de mera conduta são compostos de: Conduta + Tipicidade.

Guarde bem esses conceitos, pois eles serão de suma importância para continuarmos avançando em nosso estudo.

Passemos ao estudo do próximo elemento do fato típico.

Nexo de causalidade.

Inicialmente, é necessário que façamos a leitura atenta do artigo 13, caput, do Código Penal.

Relação de causalidade

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.

Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

A partir da leitura concentrada que acabamos de realizar, quero que você saiba que o direito penal brasileiro adotou a teoria da conditio sine qua non (condição sem a qual) para explicar a relação de causalidade entre conduta e resultado.

Em outra palavras, meu amigo(a), haverá relação de causalidade em qualquer fator que possa anteceder o resultado e nele tiver alguma relação. É o elo de ligação que une a conduta praticada pelo agente ao resultado produzido.

Desse modo, se não houver o vínculo que liga o resultado à conduta perpetrada pelo agente, não poderemos falar de relação de causalidade e, assim, o referido resultado não poderá ser atribuído ao agente, tendo em vista não ter sido ele o seu causador.

Entretanto, faz-se uma crítica no tocante a teoria da equivalência dos antecedentes, no sentido de que, havendo a necessidade de regressar ao passado em busca de todas as causas que contribuíram para o resultado, chegaríamos a uma regressão ao infinito.

Preste atenção nesse exemplo do professor Damásio de Jesus:

“Suponhamos que A tenha causado a morte de B. A conduta típica do homicídio possui uma série de fatos, alguns antecedentes, dentre os quais poderíamos sugerir os seguintes: 1º) produção do revólver pela indústria; 2º) aquisição da arma pelo comerciante; 3º compra do revólver pelo agente; 4º) refeição tomada pelo homicida; 5º) emboscada; 6º) disparo dos projéteis na vítima; 7º resultado morte. Dentro dessa cadeia, excluindo-se os atos sob os números 1 a 3, 5 e 6, o resultado não teria

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ocorrido. Logo, dele são considerados causa. Excluindo-se o fato sob o nº 4 (refeição), ainda assim o evento teria acontecido. Portanto, sob a refeição tomada pelo sujeito não é considerada como sendo causa do resultado. (JESUS, Damásio, vol I., p.218).

Perceba que, partindo dessa premissa, no homicídio ora descrito poderíamos imputar o crime até mesmo para o proprietário da empresa encarregada da produção das armas e das munições e, também aos seus pais por terem o colocado no mundo e, assim sucessivamente.

Então, para frear o regresso ao infinito surge o juízo de eliminação hipotética.

“Certo, professor! Mas como funciona o juízo de eliminação hipotética?”

Presta atenção na lição do colega André Estefam:

“Sob o enfoque da conditio sine qua non, haverá relação de causalidade entre todo e qualquer fator que anteceder o resultado e nele tiver alguma interferência. O método utilizado para se aferir o nexo de causalidade é o da eliminação hipotética, vale dizer, quando se pretender examinar a relação causal entre uma conduta e um resultado, basta eliminá-la hipoteticamente e verificar, após, se o resultado teria ou não ocorrido exatamente como se dera. Assim, se depois de retirado mentalmente determinado fator, notar que o resultado não se teria produzido (ou não teria ocorrido exatamente do mesmo modo), poder-se-á dizer que ente a conduta (mentalmente eliminada) e o resultado houve nexo causal. Por outro lado, se a conclusão for a de que, com ou sem a conduta (hipoteticamente retirada) o resultado teria se produzido do mesmo modo como se deu, então ficará afastada a relação de causalidade” (ESTEFAM, André, p. 219/220).

Tudo entendido, meu amigo(a)? Certo! Então, antes de avançarmos, vejamos, pelo menos, uma questão sobre a matéria.

Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: PC-CE Prova: VUNESP - 2015 - PC-CE - Inspetor de Polícia Civil de 1a Classe Nos termos do Código Penal considera-se causa do crime

A) a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

B) a ação ou omissão praticada pelo autor, independentemente da sua relação com o resultado.

C) exclusivamente a ação ou omissão que mais se relaciona com a intenção do autor.

D) a ação ou omissão praticada pelo autor, independentemente de qualquer causa superveniente.

E) exclusivamente a ação ou omissão que mais contribui para o resultado.

Resolução: a questão nos indaga acerca do texto legal expresso no artigo 13 do Código Penal, que retrata a figura da teoria da conditio sine qua non (condição sem a qual), que considera como causa, toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Gabarito: Letra A.

Vamos avançando, caríssimo!

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Tipicidade.

Seja muito bem-vindo, meu amigo(a), a mais um tópico da nossa aula 03.

Nesse momento, trataremos da tipicidade, o último elemento que compõe o fato típico.

Dessa forma, a tipicidade é conceituada com o a relação de encaixe/enquadramento entre um fato concreto (ocorrido no mundo fenomênico) e um tipo penal previsto de forma abstrata (aspecto formal), em conjunto com a lesão ou perigo de lesão ao bem penalmente tutelado (aspecto material).

“Professor, um exemplo, por favor!”

Mas é claro, meu(a) jovem!

Suponha que Austin dirija-se até o estacionamento de um supermercado e lá subtraia, para si, uma Ferrari que se encontrava no pátio de estacionamento. Veja que, desse modo, a conduta perpetrada por Austin no mundo exterior se encaixa (formalmente) ao tipo penal do art. 155 do Código Penal, que trata do crime de furto. Perceba também que, materialmente há o encaixe da conduta ao tipo penal do furto, tendo em vista que para a configuração do crime de furto somente poderá ocorrer de forma dolosa, pois não existe furto culposo.

Fácil, não é mesmo?!

Essa é a definição de tipicidade.

Um sinônimo que você poderá encontrar durante sua caminhada de estudos é a expressão “adequação típica”.

Para tanto, a adequação típica se divide em direta e indireta.

DIRETA INDIRETA

Nesse caso, a conduta praticada pelo agente criminoso se amolda perfeitamente ao tipo penal descrito abstratamente pela lei, sem depender de uma norma de extensão. Lembre-se do furto de Austin, pois se trata de uma adequação típica direta.

Já na adequação típica indireta, a conduta do agente criminoso precisa de uma norma de extensão para se amoldar a lei penal. Retornemos ao exemplo do furto.

Suponha que Austin, ao tentar arrombar a porta da Ferrari, é surpreendido pelo segurança do supermercado e empreende fuga do local sem conseguir subtrair o automóvel. Veja, meu caro, nesse caso, estamos diante de um furto tentado, pois não se consumou por circunstâncias alheias à vontade de Austin. Assim, para que possamos amoldar a conduta de Austin a norma penal incriminadora, é necessário conjugarmos o artigo 155, do Código Penal com o artigo 14, inciso II, que trata da figura da tentativa.

Assim, caríssimo, com a informação que acabamos de verificar acerca das circunstâncias alheias à vontade do agente, é possível resolvermos à seguinte questão:

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Polícia Classifica-se como crime tentado quando, iniciada a execução, não se consuma

(17)

A) por circunstâncias alheias à vontade do agente.

B) por inabilidade do agente.

C) por desistência do agente.

D) pela deterioração do objeto.

E) em razão da atipicidade da conduta.

Resolução: veja, caríssimo(a), várias são as modalidades de crime tentado, a qual analisaremos pormenorizadamente ao longo do nosso estudo. Entretanto, perceba que, conforme mencionei a você anteriormente, ocorrerá a tentativa, segundo o art. 14, inciso II, do CP, quando o agente não conseguir consuma- lo por circunstâncias alheias à sua vontade.

Gabarito: Letra A.

Dessa forma, fechamos mais um tópico do nosso estudo!

Vamos adiante!

Crime doloso e crime culposo.

Salve salve, meu(a) caro(a) estudante!

A partir desse momento, vamos iniciar o estudo do dolo e da culpa, elemento subjetivo que está integrado a conduta do agente, compondo o fato típico do conceito analítico de crime.

Para isso, vamos ver como o Código Penal tratou do dolo e da culpa.

Art. 18 - Diz-se o crime:

Crime doloso

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

Crime culposo

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente

Agora que já lemos atentamente o artigo 18, vamos para a nossa análise detalhada.

O primeiro ponto que quero deixar como curiosidade para você, é que para classificar o dolo existem várias espécies. Entretanto, a que nos interessa para o estudo do concurso e que certamente é a mais cobrada, é o dolo direto e o dolo eventual.

Dolo Direto (art. 18, inciso I, primeira parte). Dolo Eventual (art. 18, inciso I, segunda parte).

“Quando o agente quis o resultado”. “Quando o agente assumiu o risco de produzi-lo”.

(18)

DOLO DIRETO (ART. 18, INCISO I, PRIMEIRA PARTE).

DOLO DIRETO DE 1º GRAU DOLO DIRETO DE 2º GRAU.

O dolo direto de 1º grau consiste na vontade de produzir as consequências primárias do crime, ou

seja, meu amigo(a), é a busca na produção do resultado típico visado.

O dolo direto de 2º grau é aquele que abrange os efeitos colaterais da prática delituosa, ou seja, as suas

consequências secundárias, que originariamente não são desejadas pelo agente. Aqui, o autor não pretende produzir o resultado, mas percebe que não

pode chegar ao resultado pretendido sem causar os referidos efeitos acessórios.

Veja esse exemplo do professor Fernando Capez2:

Querendo obter fraudulentamente o prêmio do seguro (dolo de primeiro grau), o sujeito dinamita um barco em alto-mar, entretanto, acaba por tirar a vida de todos os seus tripulantes, resultado pretendido apenas

porque inevitável para o desiderato criminosos (dolo de segundo grau). (CAPEZ, 2013, p.229).

DOLO INDIRETO OU INDETERMINADO

Nesse caso, o agente não quer diretamente o resultado, porém, aceita a possibilidade de produzi-lo (dolo eventual) ou não se importa em produzir este ou aquele resultado (dolo alternativo).

Veja esse exemplo do professor Magalhães Noronha3:

“A namorada ciumenta surpreende seu amado conversando com a outra e, revoltada, joga uma granada no casal, querendo matá-los ou feri-los. Ela quer produzir um resultado e não ‘o’ resultado. No dolo eventual, conforme já dissemos, o sujeito prevê o resultado e, embora não o queira propriamente atingi-lo, pouco se importa com a sua ocorrência (‘eu não quero, mas se acontecer, parar mim tudo bem, não é por causa deste rico que vou parar de praticar minha conduta – não quero, mas também não me importo com a sua ocorrência’).

(NORONHA, p.135)

Perceba, caríssimo(a), que a previsão do dolo alternativo se encontra no fato de querer “matá-los ou feri-los”.

2 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1, parte geral : (arts. 1º a 120) – 17. ed. – São Paulo : Saraiva, 2013

3 NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal. 30. ed. São Paulo, Saraiva v.1.

(19)

A partir dessa definição é necessário, também, que você saiba que várias são as teorias que se desenvolveram ao longo da história para a explicar o que é o dolo. Porém, saber cada uma delas fica à título de curiosidade, caso você queira, fazer um estudo mais aprofundando quando tiver tomado posse, combinado?!

As que nos interessam, para nosso estudo para concurso é que, o Código Penal adotou uma teoria para o dolo direto e uma para o dolo eventual.

Para o dolo direto (art. 18, inciso I, primeira parte), o CP adotou a teoria da vontade, que diz ser o dolo a vontade dirigida ao resultado. Dessa forma, age dolosamente a pessoa que, tendo consciência do resultado, pratica sua conduta com a intenção de produzi-lo.

Para o dolo eventual (art. 18, inciso I, segunda parte), o CP adotou a teoria do consentimento/assentimento, ou seja, aquele que, prevendo o resultado, assume o risco de produzi-lo, age dolosamente.

“Professor, poderia me dar um exemplo de dolo direto e dolo eventual?”

Mas é claro, preste atenção nos seguintes exemplos: Suponhamos que Austin quer matar seu desafeto Caracas. Para tanto, adquire uma arma de fogo (meio tido como necessário e suficiente para a empreitada criminosa). Quando Caracas passa pelo local onde Austin havia se colocado de tocaia, este efetua o disparo que causa a morte da vítima. Assim, é possível concluirmos que o dolo de Austin era direto, pois dirigido a produzir o resultado morte, elencado no art. 121 do Código Penal.

Quanto ao dolo eventual, podemos nos utilizar do mesmo exemplo: imagine que Austin, munido da arma de fogo, efetua disparados contra Caracas, querendo feri-lo ou matá-lo. Desse modo, quando Austin direciona sua conduta a fim de causar lesões ou a morte de Caracas, não se importa com a ocorrência de um ou de outro resultado, e se o resultado mais grave vier a acontecer este ser-lhe-á imputado a título de dolo eventual.

Desse modo, encerramos o estudo do crime doloso, porém, ainda nos resta analisarmos o crime culposo, previsto no artigo 18, inciso II, do CP.

A partir de tudo que estudamos até o momento, já formamos a base que nos permite tirarmos a seguinte conclusão: a conduta humana que interessa para o direito penal é aquela que ocorre de duas formas, quais sejam, quando o agente atua dolosamente, querendo ou assumindo o risco de produzir o resultado, ou, de outro lado, o agente age culposamente, dando causa a um resultado através de imprudência, negligência ou imperícia.

Outra informação importante acerca dos crimes culposos, é que saibamos quais são os elementos que o compõe:

1. Conduta voluntária 2. Resultado involuntário 3. Nexo causal

4. Tipicidade

5. Quebra do dever de cuidado objetivo por imprudência, negligência ou imperícia

6. Previsibilidade objetiva do resultado 7. Relação de imputação objetiva.

(20)

A partir dessas informações que acabamos de visualizar, já conseguimos resolver algumas questões sobre o tema.

Vamos conferir?!

Ano: 2018 Banca: FUMARC Órgão: PC-MG Prova: FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto NÃO é um elemento do tipo culposo de crime:

A) Conduta involuntária.

B) Inobservância de dever objetivo de cuidado.

C) Previsibilidade objetiva.

D) Tipicidade.

Resolução: perceba, caríssimo(a) que, a partir do elementos acima expostos, que compõe o crime culposo, o único que não faz parte do rol é a conduta involuntária. Ademais, você deve lembrar que, conforme estudamos no início da nossa aula, condutas involuntárias ou atos reflexos não são aptos a caracterizar uma conduta e, por isso, está ausente um dos elementos do fato típico, fazendo com que o fato não seja considerado crime (atípico).

Gabarito: Letra A.

Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: PC-PA Prova: FUNCAB - 2016 - PC-PA - Escrivão de Polícia Civil Sobre o crime culposo, é correto afirmar que:

A) sua caracterização independe da previsibilidade objetiva do resultado.

B) é dispensável a verificação do nexo de causalidade entre conduta e resultado.

C) encontra seu fundamento legal no artigo 18, I, de Código Penal.

D) se alguém ateia fogo a um navio para receber o valor de contrato de seguro, embora saiba que com isso provocará a morte dos tripulantes, essas mortes serão reputadas culposas.

E) há culpa quando o sujeito ativo, voluntariamente, descumpre um dever de cuidado, provocando resultado criminoso por ele não desejado.

Resolução:

a) um dos elementos que compõe o crime culposo é justamente a previsibilidade objetiva do resultado.

b) é indispensável a verificação do nexo de causalidade, pois o nexo é inerente ao fato típico.

c) o art. 18, inciso I, trata da figura do crime doloso

d) essas mortes ocorrerão à título de dolo, e não à título de culpa.

e) haverá culpa quando houver a quebra do dever de cuidado objetivo.

(21)

Gabarito: Letra E.

Agora que já analisamos quais são os elementos que compõe o tipo penal culposo, é necessário debruçarmos sobre as modalidades de culpa.

Vejamos:

IMPRUDÊNCIA NEGLIGÊNCIA IMPERÍCIA

Ocorre concomitantemente com a ação, se manifestando de forma ativa. Assim, consiste em agir sem

precaução, precipitadamente.

P.ex. o indivíduo que durante sua pilotagem, ultrapassa veículo em

local proibido.

Essa ocorre quando o sujeito se porta sem a devida cautela, se manifestando de forma omissa e, ocorrendo antes da conduta. P.ex.

o indivíduo que, verificando que os pneus do seu automóvel estão gastos, inicia uma viagem longa

com os pneus nessa condição e vem a causar um acidente.

Trata-se da falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão.

Assim, a imperícia deriva da prática de uma atividade, seja comissiva (ação) ou omissiva, por

indivíduo incapacitado ao ofício, por falta de conhecimento acerca do ato ou por inexperiência. P.ex.

um engenheiro que projeta um imóvel sem base suficiente e acaba

provocando a morte do futuro morador.

Vejamos uma questão sobre o tema:

Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: PC-ES Prova: INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Escrivão de Polícia Considera-se crime culposo quando

A) o agente atinge o resultado delitivo requerido.

B) o agente impede que resultado delitivo se conclua.

C) o agente não quer o resultado delitivo, mas assume o risco de se realizar.

D) o agente pratica a conduta por imperícia, imprudência ou negligência.

E) o delito se agrava por resultado diverso do pretendido.

Resolução: perceba, meu(a) caro(a) colega, que a questão nos exige ter conhecimento acerca das três modalidades de culpa que acabamos de estudar, que vêm elencadas no artigo 18, inciso II, do Código Penal. Não esqueça do que sempre digo a você: se familiarize com a letra seca da lei!

a) é a definição do crime consumado;

b) é o instituto do arrependimento eficaz (art. 15, segunda parte, do CP);

c) é a definição de dolo eventual;

d) traz as modalidades de crime culposo;

e) é a definição do crime pretrodoloso, aquele que é agravado pelo resultado (art. 19, CP).

(22)

Gabarito: Letra D.

Agora que estudamos as modalidades de culpa e as exemplificamos, você precisa ter em mente, meu amigo(a), que no crime culposo há uma quebra do dever de cuidado objetivo, ou seja, o fundamental não é mera provocação do resultado, mas a maneira como ele ocorreu, isto é, se o resultado derivou de alguma das modalidades que acabamos de analisar.

O dever de cuidado objetivo é completado com a noção de previsibilidade objetiva (um elemento do fato típico do crime culposo). Para saber qual a postura esperar do agente, devemos ter em mente o critério do

“homem-médio”. Sendo assim, é preciso verificar, antes, se o resultado, dentro daquelas condições, era objetivamente previsível (segundo o que normalmente acontece).

Sendo assim, caríssimo(a), não havendo previsão, ou seja, imprevisibilidade do resultado, o agente que age culposamente é isento de responsabilidade, tornando o fato atípico.

Agora, para fecharmos o estudo do crime culposo, você deve saber que o crime culposo é um dos que não admite a tentativa, salvo na culpa imprópria.

“Certo, professor! Mas o que é a culpa imprópria?”

A culpa imprópria é também conhecida por “culpa por equiparação”. Nesse caso, a culpa surge através de um erro de tipo inescusável (logo mais estudaremos pormenorizadamente) e, também no excesso culposo nas causas excludentes de ilicitude. A culpa imprópria tem essa denominação pelo fato de o agente criminoso praticar uma conduta dolosa, mas, por decorrência da lei, responde pelo resultado à título de culpa.

Outra diferenciação importantíssima que não podemos nos confundir é sobre a linha tênue entre culpa consciente e dolo eventual. Essa diferenciação é muito cobrada em provas, então, vejamos o que às diferencia.

CULPA CONSCIENTE DOLO EVENTUAL

Há previsão do resultado Há previsão do resultado

O agente, prevendo o resultado e, confiando levianamente em suas habilidades, acha que será

capaz de evitar o resultado.

O agente, prevendo o resultado, mostra-se indiferente com a sua ocorrência, assumindo o risco

de produzi-lo.

Há, também, a chamada culpa inconsciente, que é a modalidade de culpa na qual o agente não prevê o que era previsível.

Por fim, para fecharmos o presente tópico e avançarmos com nosso estudo, outra informação importantíssima diz respeito ao princípio da excepcionalidade do crime culposo.

Por este princípio, um crime só pode ser punido como culposo quando houver expressa previsão legal (art.

18, p.ú, do CP). No silêncio da legislação, a infração penal somente será punida à título de dolo.

Veja essa questão acerca do tema:

Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia

(23)

“Existe_________ quando o agente prevê o resultado, mas espera, sinceramente, que não ocorrerá; configura- se _________ quando a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado, pois ele quer algo diverso, mas, prevendo que o evento possa ocorrer, assume assim mesmo a possibilidade de sua produção.”

Assinale a alternativa que correta e respectivamente completa as lacunas.

A) dolo indireto ... dolo alternativo B) dolo eventual ... culpa consciente C) culpa inconsciente ... culpa consciente D) culpa consciente ... dolo eventual E) culpa inconsciente ... dolo eventual

Resolução: ao lermos atentamente o enunciado da questão, podemos perceber que, quando o agente prevê o resultado, mas espera, sinceramente que não ocorrerá, é o retrato da culpa consciente. Por outro lado, quando o agente, prevê que o resultado possa ocorrer, assume a possibilidade de sua produção, é o retrato do dolo eventual.

Gabarito: Letra D.

Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2014 - PC-SP - Atendente de Necrotério Policial Aquele que antes de praticar o fato até hipotetiza que ele pode ocorrer, mas acredita, sinceramente, que o resultado não se verificará e, portanto, não admite previamente a possibilidade de o resultado advir, comete crime A) premeditado.

B) doloso.

C) tentado.

D) intencional.

E) culposo.

Resolução: perceba, meu amigo(a), que o enunciado da questão nos traz a seguinte informação: “... ele pode ocorrer, mas acredita, sinceramente que o resultado não se verificará”. Ao nos depararmos com essa frase, podemos afirmar, sem nenhum medo de errar, que estamos diante de um crime culposo.

Gabarito: Letra E.

Então, fechamos assim o estudo do dolo e da culpa.

Vamos adiante!

(24)

Consumação e tentativa.

Chegou o momento de tratarmos de um tema de suma importância para o Direito Penal.

Assim, como já é conhecido por você aqui no nosso curso, iniciaremos esse tópico a partir da leitura do art.

14 do Código Penal.

Art. 14 - Diz-se o crime:

Crime consumado

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Pena de tentativa

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

Realizada nossa leitura atenta, gostaria que você se lembre do exemplo do furto de Austin.

No momento em que Austin consegue subtrair a Ferrari e empreender fuga do estacionamento do supermercado, o crime de furto (art. 155, caput, do CP), está consumado.

“Professor, como assim? Ainda não entendi...”

Veja, caríssimo, o inciso I do art. 14 do Código Penal está assim redigido: “consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição”.

Agora, preste atenção da redação do artigo 155, caput, do CP: “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”.

Desse modo, quando Austin, subtrai, para si, a Ferrari (coisa alheia móvel) que estava no estacionamento, o agente criminoso reuniu todos os elementos da definição legal do crime de furto, razão pela qual, o crime está automaticamente consumado!

Fácil, não é mesmo?! Vejamos, então, a figura da tentativa!

Perceba que anteriormente, narrei a você a hipótese em que Austin, ao iniciar o arrombamento da porta da Ferrari, foi surpreendido pelo segurança do supermercado, que fez com que o agente criminoso empreendesse fuga do local.

Então, no momento em que Austin empreende fuga do local, ele não consegue consumar o furto por circunstâncias alheias à sua vontade, razão pela qual, o furto ficará na esfera da tentativa.

Ficando o crime de furto na esfera da tentativa, Austin terá direito a um redutor de pena que, conforme o parágrafo único do artigo 14, do CP, varia de um a dois terços.

“Mas professor, como faço para saber a fração que deverá ser utilizada como redutor?”

É ótimo ver que você está completamente concentrado em nossa aula!

(25)

Para sabermos qual a fração utilizar como critério do redutor, precisamos analisar, no caso concreto, o quão perto o agente criminoso chegou da consumação do crime. Em outra palavras, meu amigo(a), quanto mais distante o criminoso ficar da consumação, o redutor será maior, quanto mais perto o criminoso ficar da consumação do crime, menor será o redutor.

Preste atenção nessa questão:

Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2014 - PC-SP - Atendente de Necrotério Policial Dispõe o parágrafo único do art. 14 do CP que o crime tentado é punido, salvo exceção, com a pena

A) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um a dois terços.

B) igual à do crime consumado.

C) correspondente à metade da prevista para o crime consumado.

D) livremente estabelecida pelo Juiz, mas em patamar obrigatoriamente inferior à correspondente à prevista para o crime consumado.

E) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um ano.

Resolução: conforme visualizamos anteriormente, a pena do crime tentado equivale a do crime consumado, aplicando-se o redutor do parágrafo único do art. 14, do CP, que fará com que ela seja diminuída de 1 a 2/3.

Gabarito: Letra A.

Uma informação que é de extrema relevância para toda a sua trajetória no ramo dos concursos, é ter o conhecimento acercadas infrações penais que não admite a tentativa.

Para isso, vou elaborar uma tabela para que possa ficar mais fácil a sua memorização!

Preste atenção:

CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA

Crime culposo – Salvo na culpa imprópria (art. 20, §1º e 23, do CP)

Crimes unissubssistente – são aqueles em que a conduta praticada pelo agente não admite fracionamento.

Ou o agente realiza o verbo nuclear e o crime está automaticamente consumado, ou não realiza o verbo e não há crime. P.ex. o crime de injúria do art. 140 do CP. Ou o agente emprega a injúria e o crime está consumado,

ou não há injúria, e consequentemente, não há crime.

Crimes omissivos puros – aqueles em que a lei penal descreve um não fazer, como, p.ex. a omissão de socorro do art. 135, do CP. A impossibilidade de tentativa decorre do fato de que tais crimes são considerados

unissubssistente e de mera conduta.

(26)

Contravenções penais – o famoso “crime anão”, conforme o art. 4º da LCP não é punível. Entretanto, é possível, em tese, no mundo fenomênico a tentativa de contravenção penal, p.ex. uma tentativa de vias de fato (art. 21, da LCP). Porém, a própria LCP resolver não ser objeto de punição as tentativas de contravenção.

Crimes habituais – são as infrações penais em que, para se chegar a consumação, é necessário que o agente criminoso pratique a conduta de forma reiterada/habitual. Ou o agente comete uma série de condutas e o

crime está consumado, ou ele não pratica e não há crime, como, p.ex. o crime do art. 284, do CP (curandeirismo).

Crimes preterdolosos – art. 19, CP – é quando o agente atua com dolo na sua conduta e o resultado agravador advém de culpa.

Crimes de atentado/empreendimento – exemplo dessa modalidade de crime, é o artigo 352, do CP, não importando se o agente consiga evadir-se ou somente tenha tentado evadir-se, pois a lei penal, para as duas

situações, equipara a tentativa com a consumação.

Então, vejamos a seguinte questão:

Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-BA Prova: VUNESP - 2018 - PC-BA - Escrivão de Polícia Dentro do tema do crime consumado e tentado, é correto afirmar que

A) os crimes unissubsistentes admitem tentativa.

B) os crimes omissivos impróprios consumam-se com a ação ou omissão prevista e punida na norma penal incriminadora.

C) só haverá consumação do crime quando ocorre resultado naturalístico ou material.

D) há tentativa cruenta quando o objeto material não é atingido, ou seja, o bem jurídico não é lesionado.

E) não admitem tentativa os crimes de atentado ou de empreendimento.

Resolução:

a) os crimes unissubsistentes são aqueles em que a conduta do agente não comporta fracionamento, razão pela qual, crimes dessa natureza não comportam a tentativa.

b) os crimes omissivos impróprios só se consumam quando, quem devia e podia agir, deixa de fazer alguma coisa para evitar o resultado (conduta comissiva por omissão).

c) não necessariamente, tendo em vista as classificações de crime que visualizamos anteriormente, o crime formal (consumação antecipada) não necessita da produção do resultado naturalístico, basta apenas que haja a conduta do agente no mundo fenomênico.

d) a tentativa cruenta/vermelha é quando o objeto material é atingido. Quando o objeto material não for atingido, a tentativa será chamada de branca/incruenta.

e) perceba como é importante a memorização da tabela que analisamos anteriormente. Desse modo, podemos verificar que os crimes de empreendimento ou de atentado, a exemplo do art. 352, do CP, não admitem a tentativa.

(27)

Gabarito: Letra E.

Dessa forma, fechamos mais um tópico do nosso estudo.

Avançando no conteúdo, passaremos a estudar as espécies de tentativa mais cobradas em concursos.

Vamos adiante!

Espécies de tentativa.

Salve, meu amigo(a).

Dando seguimento a nossa caminhada, é preciso que você saiba que dentro do ordenamento jurídico-penal há várias espécies de tentativa. Entretanto, nosso objetivo é otimizar seu estudo e direcioná-lo para sua prova.

A partir desse momento, passaremos a analisar, então o art. 15, do Código Penal.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados

Agora que analisamos o dispositivo legal, para que adentremos nas figuras da desistência voluntária e arrependimento eficaz, é necessário que, primeiro, vejamos o iter criminis.

“Iter criminis, professor?”

Isso mesmo, meu amigo(a)! Vamos estudar o caminho do crime.

Dessa forma, vejamos a tabela que preparei para você:

ITER CRIMINIS – CAMINHO DO CRIME.

COGITAÇÃO – é a elaboração mental do crime. Quando o agente inicia, na sua mentalidade, a formulação da empreitada criminosa. Nesse momento, o pensamento criminoso do agente não possui relevância para o Direito Penal.

PREPARAÇÃO – quando o agente começa a desenvolver o plano. Nesse momento, em regra, não há que se falar em punição. Os atos preparatórios só são puníveis, de forma excepcional, quando o legislador resolve antecipar a tutela penal, como ocorre através da Lei Antiterrorismo (que pune os atos preparatórios para o terrorismo) e, também, o crime do artigo 34 da Lei 11.343/06 (petrechos para o tráfico).

EXECUÇÃO – é quando o agente põe em prática o crime que havia planejado. Por exemplo, efetua os disparos de arma de fogo contra a vítima.

CONSUMAÇÃO – ocorre com a reunião de todos os elementos da definição legal do crime, p.ex. a morte da vítima.

Desse modo, saiba que a esfera da tentativa se encontra entre a execução e a não consumação do crime.

(28)

Punibilidade.

A punibilidade, meu amigo(a), nada mais é do que a possibilidade jurídica de imposição da sanção penal (leia-se, pena privativa de liberdade ou medida de segurança)!

Desse modo, a punibilidade nasce com a prática da infração penal, porém, nós temos algumas exceções no ordenamento jurídico:

• Há crimes, porém, cuja punibilidade fica condicionada a um evento futuro. É o caso, por exemplo, dos crimes falimentares, cuja punibilidade somente se dá com a prolação da sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou homologa a recuperação extrajudicial (art. 180 da 11.101/05). Ela é uma condição objetiva de punibilidade.

• Existem, ainda, delitos que, mesmo quando praticados, não são puníveis, por força de regras excepcionais. É o que se dá com determinados crimes patrimoniais, quando presente a escusa absolutória (art. 181, do CP4).

“Professor, qual a diferença entre escusa absolutória, condição objetiva de punibilidade e causa extintiva da punibilidade?”

Ótima pergunta, caríssimo(a)!

A escusa absolutória impede a punibilidade.

A condição objetiva de punibilidade funciona como um termo inicial, ou seja, o momento que o fato passa a ser punível para o ordenamento jurídico.

A causa extintiva atua como um termo final, deixando o fato de ser punível, encontrando-se estas, em especial (mas não somente) no artigo 1075 do CP.

4Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)

I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

5 Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente;

II - pela anistia, graça ou indulto;

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;

VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

(29)

Agora que verificamos o caminho desenvolvido pelo crime, é necessário desmembrarmos o artigo 15 do CP em duas partes, vejamos:

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA ARREPENDIMENTO EFICAZ

“O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução”.

“O agente que impede que o resultado se produza”.

“Só responde pelos atos já praticados”.

Para a ocorrência da desistência voluntária, é necessário que o agente tenha adentrado, ao menos, na execução do crime.

Preste atenção nesse exemplo, meu jovem: imagine que Austin resolve matar o seu desafeto Caracas. Para isso, munido de uma arma de fogo, dispara duas vezes contra o ofendido, acertando regiões não vitais do corpo.

Logo após disparar duas vezes contra Caracas, o criminoso Austin, ainda podendo efetuar mais 6 disparos com sua arma de fogo, voluntariamente desiste de prosseguir com os disparos. Dessa forma, ao poder prosseguir com a execução e voluntariamente desistir de dar continuidade, Austin não responderá pelo crime de homicídio, mas tão somente pelos até então praticado (lesão corporal por conta dos disparos), devendo ser averiguada a extensão das lesões, para tipificá-las como grave, gravíssima.

Portanto, esse é o instituto da desistência voluntária.

Já quanto ao arrependimento eficaz, a situação apresentada deve ser visualizada por uma ótica diferente.

Peguemos o mesmo exemplo em que Austin quer matar seu desafeto Caracas. Imagine que Austin tenha efetuado os outros 6 disparos que ainda eram possíveis de serem realizados. Dessa forma, Austin, ao descarregar sua arma de fogo em Caracas, encerra todos os atos de execução do crime. Entretanto, após efetuar todos os disparos, Austin, arrependido pelo ato, resolve socorrer Caracas levando-o até o hospital mais próximo. Por conta do arrependimento eficaz de Austin, Caracas é salvo. Nesse caso, Austin encerrou todos os atos de execução, entretanto, ao socorrer Caracas e levá-lo até o hospital, impediu que o resultado morte se produzisse, razão pela qual, assim como na desistência voluntária, responderá somente pelos atos até então praticados, e não pelo crime de homicídio. Será necessário, então, assim como no exemplo anterior, verificarmos a extensão das lesões corporais para podermos tipificar corretamente a conduta de Austin.

Vamos colocar em prática nosso conhecimento?

Venha comigo!

Ano: 2018 Banca: NUCEPE Órgão: PC-PI Prova: NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil

Caio tem um desafeto a quem sempre faz ameaças de morte. O último encontro foi num bar. Caio observou que havia um revólver com seis munições sobre uma mesa e aproveitou para concretizar o desejo de matar seu oponente. Anunciou que iria matar seu desafeto PEDRO, efetuando um disparo na sua perna. Neste momento PEDRO suplica por sua vida. Caio, sensível ao apelo da vítima, desiste de continuar disparando, afirma que não iria mais matar o rival e deixa a arma em cima da mesa. Em seguida, se retira do local. Com relação aos fatos descritos indique a alternativa CORRETA.

A) Caio deve ser condenado por tentativa de homicídio.

Referências

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