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Acordam no Tribunal da Relação do Porto

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Academic year: 2022

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PN 749.03-51; Ap.: T.Com. VN Gaia, 2º J. ( Ap.e2:

Ap.o: .

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Acordam no Tribunal da Relação do Porto

O recorrente interpõe a presente Apelação da sentença de graduação de créditos

proferida no âmbito da falência da Ap.a, com a qual se não conforma por terem sido graduados à frente dos credores hipotecários, os credores com privilégio imobiliário geral, garantia de dívidas emergentes de contrato de trabalho, e de dívidas à Segurança Social constituídas durante o curso de processo de recuperação de empresa ou falência.

Impugna também o rateio.

Concluiu:

(a) A interpretação que a decisão reco rrida deu aos arts. 12, Lei 17/86, 14.06, e 10, 11, DL 103/80 e Lei 96/01, 20.08, traduzida na preferência concedida ao privilégio imobiliário geral sobre a hipoteca anteriormente registada, nos termos previstos no art. 751 CC, viola os princípios da protecção, segurança jurídica e confiança, próprias do Estado de direito;

(b) Efectivamente tal privilégio é geral, não conexionado sobre o imóvel sobre que incide, sendo os cr edores hipotecários confrontados com uma realidade que desconheciam e não podiam conhecer, vendo depois os seus créditos completamente prejudicados;

(c) E assim, apesar de o crédito ter sido condição da garantia que foi devidamente publicitada através de obrigatório registo, ficando convencidos assim de uma certeza e segurança jurídicas essenciais ao tráfego comercial, vêem frustradas estas previsões;

1 Vistos: Des ).

2 Av.: Dr.

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(d) Entretanto, a consagração constitucional dos direitos dos trabalhadores não pode vir a anular, sem mais, outros valimentos, atento o princípio da unidade da o rdem jurídica da Constituição, donde resulta a ideia de harmonia e proporcionalidade;

(e) Com efeito, não podem ser apenas alguns particulares a suportar

encargos sociais que p ertencem em primeiro lugar à competência do Estad o de direito;

(f) Por outro lado, mesmo que assim não seja superiormente entendido, a verdade é que o processamento da ordem de pagamento dos credor es pelas verbas do activo da massa falida, tal como praticada na sentença/saneador recorrida, ao invés de beneficiar o credor hipotecário, benefício inerente a este instituto, prejudica-o de forma violenta;

(g) Termos pelos quais deverão ser julgadas inconstitucionais, por violação do art. 2 CRP, as normas constantes do art. 12, Lei 17/86, 14.06, bem como os

arts. 10 e 11, DL 103/80 e Lei 96/01, 20.08, entendidas no sentido de que os privilégios imobiliários gerais nelas previstos preferem à hipoteca;

(h) Caso assim se não entenda, deverá ser alterada a ordem de graduação dos créditos a pagar pela liquidação dos bens apreendidos de molde a que o produto da venda do imóvel hipotecado (verba nº1), seja considerado, após a total execução dos restantes bens da massa, sob pena de flagrante violação do estatuto civil das garantias especiais das obrigações, concretamente da

hipoteca, arts. 686 ss CC;

(i) Por conseguinte, a decisão recorrida deve ser revogada e substituída por outra em consonân cia com o juízo de constitucionalidade ou com o citados arts. da Lei Civil.

Não houve contra-alegações.

Depois de elencados os créditos a considerar, segundo a lista3 que aqui se dá por

reproduzida, a decisão recorrida considerou o seguinte:

3 A verba nº 1 diz respeito ao montante de Pte 40 582 257$00, sendo Pte 40 000 000$00 provenientes de

empréstimo e Pte 582 257$00 de juros, devido pela falida ao recorrente; as verbas 2, 4/14, 17/20 e 20/28

(3)

(a) Atento o disposto no art. 152 CPEREF (red. DL 315/98, 20.10), com a declaração de falência extinguem-se imediatamente, passando os respectivos

créditos a ser exigidos como créditos comuns, os privilégios creditórios do Estado, das Autarquias Locais e das Instituições de Segurança So cial, excepto os que se constituírem no decurso do processo de recuperação d e empresa ou de falência;

(b) Ora, atento o disposto no referido preceito, são privilegiados, gozando de privilégio imobiliário geral e imobiliário, arts. 10 e 11, DL 103/80... as contribuições e respectivos juros de mora resp eitantes aos meses de 11.99, 01/05 e 08/10.00, no total de Pte 12 884 537$00, reclamados pelo CRSS Norte;

(c) Por sua vez, dispõe o art. 12a.b., Lei 17/86, 14.06, que os créditos emergentes do contrato individual de trabalho regulados pela Lei dos Salários em Atraso gozam de privilégio mobiliário geral e privilégio imobiliário geral...

onde se englobam o salário propriamente dito e a indemnização por rescisão unilateral com justa causa;

(d) Todavia, o art. 4/1a.b. da Lei 96/01, 20.08, veio estipular que os créditos emergentes do contrato de trabalho ou da sua violação não abrangida pela Lei

17/86, 14.06, gozam também d e privilégio mobiliário geral e de privilégio imobiliário geral;

(e) Assim sendo, os referidos créditos na parte referente à indemnização, também gozam actualmente de privilégio imobiliário geral, sem prejuízo

contudo dos créditos emerg entes da Lei 17/86, 14.06, e dos privilégios anteriormente constituídos com direito a ser graduados antes da entrada em vigor da mesma Lei 96/01;

(f) A regra assim enunciada é a de que os créditos emergentes dos contratos individuais de trabalho gozam de preferên cia genérica, mobiliária e imobiliária, sobre todos os demais privilégios, maxime os consignados nos arts. 747/1a e 748/1a CC, mesmo que tais créditos laborais resultam de créditos vencidos antes da entrada em vigor da dita Lei;

(g) Por sua vez, os referidos créditos, inclusive na parte atinente à indemnização, gozam de privilégio mobiliário geral, nos termos do disposto no

art. 12/1a.b.3, Lei 17/86 de 14.06 e dos arts. 737/1d CC, art. 25 DL 49408, 69.11.24 (LCT);

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(h) Assim sendo, os créditos indicados sob os nºs 2, 4/14, 17/20 e 22/28, gozam de privilégio mobiliário e imobiliário geral;

(i) Por sua vez, o crédito indicado sob o nº 1, do Ap.e, goza de garantia real

(hipoteca), devidamente registada sobre o bem imóvel apreendido sob o nº1, conferindo a este reclamante a ser pago pelo valor do referido imóvel, com preferência sobre os demais credores, art. 686/1 CC, no tocante à parte do crédito que se encontra garantido pela mesma hipoteca: capital máximo

garantido Pte 127 300 000$00; juro anual: 6%, acrescido de 4% na mora, a título de cláusula penal; despesas: Pte 3 800 000$00;

(j) Acresce que o crédito reclamado pelo CRSS Norte, no montante de Pte 72 573 700$00 goza de garantia real (hipoteca) devidamente registada, sobre

o bem imóvel apreendido sobre o nº1, conferindo a este reclamante o direito de ser pago pelo valor do referido imóvel, com preferência sobre os demais credores, art. 686/1 CC, no tocante à parte do crédito que se encontra garantido pela mesma hipoteca (Pte 77 283 208$00, montante relativo a contribuições e juros discriminados);

(k) Ora, a graduação é geral para os bens da massa falida e especial para os bens a que respeitem direitos reais de g arantia, art. 200/2, DL 132/93, 23.04;

(l) Por sua vez, havendo créditos igualmente p rivilegiados, dar-se-á rateio entre eles na proporção dos respectivos montantes, art. 745/2 CC;

(m) Proceder-se-á então ao pagamento dos créditos através do produto da massa pela seguinte ordem:

Através do produto da venda do bem imóvel indicado sob o nº1

1º ...custas da falência, despesas da administração e custas contada que saem percípuas;

2º...pagamento aos créditos indicados sob os nºs 2, 4/14, 17/20 e 20/28, com excepção da parte referente à indemnização;

3º ...pagamento do crédito do CRSS Norte, no montante de Pte 12 884 537$00;

4º ...pagamento dos créditos indicados sob os nºs 2, 4/14, 17/20 e 20/28, na parte referente à indemnização;

5º ...pagamento ao crédito hipotecário do Ap.e;

(5)

7º ...do remanescente, se remanescente houver, dar-se-á pagamento, em pé de igualdade e em rateio, aos restantes créditos.

Através do produto da venda do bem imóvel indicado como verba única

1º ...custas da falência, despesas da administração e custas contada que saem percípuas;

2º...pagamento aos créditos indicados sob os nºs 2, 4/14, 17/20 e 20/28, com excepção da parte referente à indemnização;

3º ...pagamento do crédito do CRSS Norte, no montante de Pte 12 884 537$00;

4º ...pagamento dos créditos indicados sob os nºs 2, 4/14, 17/20 e 20/28, na parte referente à indemnização;

5º ...do remanescente, se remanescente houver, dar-se-á pagamento, em pé de igualdade e em rateio, aos restantes créditos.

Através do dinheiro apreendido e do produto da venda dos bens móveis

1º ...custas da falência, despesas da administração e custas contada que saem percípuas;

2º...pagamento aos créditos indicados sob os nºs 2, 4/14, 17/20 e 20/28, com excepção da parte referente à indemnização;

3º ...pagamento do crédito do CRSS Norte, e do Estado, nos montantes de Pte 12 884 537$00 e d e Pte 43 771 842$00, respectivamente, em pé de igualdade e em rateio;

4º ...do remanescente, se remanescente houver, dar-se-á pagamento, em pé de igualdade e em rateio, aos restantes créditos.

O recurso foi apreciado e decidido nos termos do disposto no art. 705 CPC.

A interpretação que a sentença dá das normas postas em crise pelo recorrente é habitual e, dentro de uma perspectiva de constitucionalidade afirmada, é de aceitar. Veremos se o recorrente tem razão quando as argui, antes, de

(6)

desconformidade co m o ordenamento constitucional, caso em que seria proibido aos tribunais aplicá-las, justamente na interpretação que lhes foi consignada.

Em síntese diz o Ap.e: o princípio da protecção d a confiança estrutura o Estado de direito democrático proposto e defendido na Constituição, e a prevalência sobre a hipoteca das garantias ex lege atribuídas aos créditos dos trabalhadores

e a certos créditos da Segurança Social, para pagamento através da massa falida, derribam aquele mesmo propósito na arquitectura do sistema, pois os particulares se vêem desfavorecidos e surpreendidos, quando agiram no domínio da liberdade contratual mediante certo tipo de referências, as quais lhe acabam por ser escamoteadas afinal.

Contudo, não se vê como é que possa haver prejuízo do princípio da protecção da confiança quando aqui se trata somente da definição de um quadro legal das garantias do pagamento das dívidas, nada havendo na lógica do sistema da Constituição que proíba o legislador comum de hierarquizá-las a seu bel prazer.

Afinal como fez ou aceitou em relação à hipoteca: quando contratou, o Banco já

tinha delimitado e conhecia em geral justamente este quadro de referências, tendo presente pois a possibilidade de certas dívidas obterem uma garantia mais

forte que a hipoteca, nomeadamente as dívidas provenientes das relações de trabalho, ou contraídas em circunstâncias peculia res de risco comunitário.

Por outro lado, nada obsta, também segundo o sistema constitucional, que a legislação comum estabeleça discriminações positivas, ou seja, protecções da parte mais fraca, hoje também uma das linhas de força dos ordenamentos civilísticos: não admirará que os trabalhadores sem salário ou com direito a indemnização por rompimento do vínculo laboral sejam considerados parte mais fraca e obtenham prioridades de p agamento contra credores argentários.

A desproporção é limitada e está dentro da sustentabilidade, como refere a doutrina: trata-se, no comum, de montantes de uma débil expressividade. As dívidas de contribuições à Segurança Social emergentes durante o processo de recuperação de empresa ou de falência, para além dessa mesma

inexpressividade, serão protegidas com base no risco de, se assim não acontecesse, poderem d ar azo a uma sistemática não cobrança, acompanhada de uma perturbação indesejável dos ingressos para fins de previdência laboral.

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Por conseguinte, consideramos que não há aqui as alegadas inconstitucionalidades.

Depois, insurge-se o recorrente, dado concorrer como credor comum ao pagamento advindo da liquidação dos outros bens sobre os quais não constituiu garantia, quando a verba correspondente à liquidação do prédio hipotecado logo se esgota antes de lhe começar a ser paga a dívida, porque os credores com privilégio imobiliário a ela acorrem pela totalidade dos seus créditos, podendo no entanto muito bem ser pagos, pelo menos em parte, pelo produto dos bens mó veis (gozam ainda assim de privilégio mobiliário), e pelo produto dos outros imóveis (sobre os quais não foi constituída hipoteca pelo Banco), sobre os quais esses gozam concomitantemente de privilégio imobiliário.

Não parece no entanto que seja esta a orientação da sentença que, em boa verdade se limita a fixar a ordem dos pagamentos verba a verba: não exclui que

o pagamento de créditos concorrentes em simultâneo a várias verbas não hajam de ser satisfeitos pelo produto conjugado de todas elas, proporcionalmente. E é esta a interpretação na realidade mais favorável ao recorrente, a qual não se vê

não dever ser tomada como firme. Neste ponto em todo o caso o recurso vale como simples aclaração.

Tudo visto, e os arts. citados na sentença recorrida, foi ela confirmada inteiramente.

Vem reclamar para a Conferência, nos termos do art. 700/3 CPC:

(a) A inconstitucionalidade alegada, referente ao art. 11 do DL 103/80, na interpretação segundo a qual o privilégio imobiliário geral conferido à Segurança Social prefere à

hipoteca, está hoje declarada já com força obrigatória geral (vd. Ac. TC 363/2002, 16.10, proferido na sequência dos acórdãos 109 e 160/2000, citados nas alegações da recorrente, e entretanto publicado);

(b) Depois, e no que ao crédito dos trabalhadores diz respeito h á divergências jurisprudenciais, sendo desta cir cunstância representativos os Ac.s RP, 01.09.20, PN

0130997, e os referidos nas alegações do recorrente: Ac., STJ 01.04.02, Ac. RP, 02.02.18, PN 2078/01, 3ª Sec.

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Não foi apresentada Resposta.

Cumpre apreciar e decidir.

Em face da declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral do

segmento do art. 11 do DL 103/80, na interpretação desta norma segundo a qual o privilégio imobiliário geral nela conferido à Segurança Social prefere à hipoteca, há razão para, apen as nesta parte alterar a decisão tirada ao abrigo do art. 705 CPC: assim se faz. Quanto ao mais não se vêem argumentos fortes no sentido de fazer inflectir a orientação já tomada.

Por conseguinte, é mantida a última parte da decisão singular, dita de aclaração, e a primeira no que diz respeito à graduação pr eferencial dos créditos dos trabalhadores. O crédito da Segurança Social, que goza de privilégio imobiliário e mobiliário, ficará graduado depois da hipoteca.

Custas: pelo Ap.e sucumbente, na proporção, e pela massa no remanescente.

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