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C a p í , u l ° 3 i L z J b t p : f\ íu 7 ~ .

O sistema eleitoral brasileiro

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J A I R O N I C O L A U

Sistema eleitoral é o conjunto de regras que define como, em uma determinada elei­ ção, os eleitores podem fazer as suas esco­ lhas e como os votos são somados para se­ rem transformados em mandatos (cadeiras no Legislativo ou chefia do Executivo). Os governantes brasileiros são eleitos pelo sis­ tema proporcional c por variantes da repre­ sentação majoritária. O propósito deste tex­ to e apresentar uma descrição do funciona­ mento do sistema eleitoral no Brasil, f

1. O s is te m a p ro p o rc io n a l

t) Brasil elege representantes para a C â­ mara dos Deputados desde 1824. Durante o Im pério os deputados eram escolhidos por intermédio de diferentes modelos de repre sentação majoritária. Até 1880, o sistema de votação era feito em dois níveis: os votantes elegiam os eleitores (primeiro nível), que, por sua vez, escolhiam os representantes para a Câm ara dos Deputados (segundo nível). Em 1881, as eleições para a Câm ara dos Deputados passaram a ser diretas. N a Pri­ meira República (1889-19.30), trés sistemas eleitorais foram utilizados; todos eles varia­ ções do modelo majoritário. O mais dura­ douro (1904-1930) dividia os estados em distritos eleitorais de emeo representantes; o eleitor podia votar em até quatro candida­ tos e ainda podia votar no mesmo candidato

mais de uma vez. Nesse período, as eleições para presidente e para a Câm ara dos D epu­ tados eram marcadas por fraudes cm larga escala e por reduzida participação eleitoral. Em 1 9 32, foi adotado um novo código elei­ toral que modernizou o processo de votação no país, sendo o primeiro passo para a con­ solidação de uma democracia eleitoral: as mulheres passaram a ter o direito do voto; foi criada a Justiça Eleitoral - que ficou com a responsabilidade de orgam/.ar o alistamen­ to, as eleições, a apuração dos votos e a p ro­ clamação dos eleitos; foram tomadas m edi­ das para garantir o sigilo do voto. /

Até a década de 19 30, nenhum partido ou movimento político com alguma expres­ são defendeu a introdução da representação proporcional no país. Tal tarefa deveu-se basicamente ao trabalho de alguns poucos intelectuais, dois deles (Assis Brasil e Jo ão Cabral) participavam da redação do C ó dig o Eleitoral de 1932. Na realidade, o C ó d ig o adotou, para a eleição para C âm ara dos D e ­ putados, um sistema misto (com parte dos representantes eleita pelo sistema proporcio­ nal), cuja Operação era bastante complexa,

lal sistema foi utilizado em apenas duas elei­ ções (1933 e 1934), pois o G olpe de Estado, liderado por G e tú lio Vargas em 19 37, sus­ pendeu as eleições, fechou os partidos e o Congresso. As eleições voltariam em 1945, com o processo de dem ocratização do país.

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0 sistema e le ito ra l b ra s ile ir o

Naquele ano, o sistema proporcional foi in­ tegralmente adotado nas eleições para C â­ mara dos Deputados. Desde então, poucas mudanças foram feitas na forma como de­ putados são eleitos no Brasil.1 Atualmente, a representação proporcional é usada nas eleições para a Câmara dos Deputados, As­ sembléias Legislativas e Câmara dos Verea­ dores. A escolha do eleitor é simples: ele deve digitar o número do candidato, ou alternati­ vamente, do seu partido na urna eletrônica. A seguir, são discutidos quatro aspectos fundamentais do sistema usado nas eleições para a Câmara dos Deputados: ^

as regras para distribuição das cadeiras, as coligações,

a lista aberta,

a distorção na representação dos estados na Câm ara dos Deputados, y

1 .1 A s r e g r a s p a ra d is trib u iç ã o r ia s c a d e ir a s

Para ilustrar com o é feita a distribuição de cadeiras entre os partidos (e coligações) n o Brasil, utilizarei os resultados das elei­ ções para C âm ara dos Deputados realizadas n o Estado de São Paulo cm 1986. Com pare­ ceram para votar 15.452.508 eleitores. Des­ tes, 3 .5 4 5 .9 1 4 anularam ou deixaram a cé­ d ula em bran co.2 Assim o total de votos vá­ lidos (com parecim ento - brancos e nulos) foi de 1 1 .9 06.594 . O núm ero de cadeiras dis­ putadas era de 60. /

Passo 1: C á lc u lo d o q u o c ie n te 4 ) O quociente eleitoral é o resultado ^ divisão do total de votos válidos pelo núm t.

ro de cadeiras em disputa: x \

1 1 . 9 0 6 . 5 9 4 / 6 0 = 1 9 8 .4 4 3

Passo 2: D ivisão d o s v o to s d e cad a p a rtid o pelo q u o c ie n te e le ito ra l

Os votos de cada partido são divididos pelo quociente eleitoral. O núm ero inteiro derivado da divisão e o num ero dc cadeiras que cada partido obterá. Por exemplo, no caso do P M D B , a d iv is ã o d os votos (5.274.397) pelo quociente ( 198.443) é igual a 26,578; por essa conta, o partido recebe 26 cadeiras. /

Os partidos que não conseguem atingir o quociente eleitoral são excluídos da distri­ buição das cadeiras. Na Tabela 1, do PCB para baixo, todos os partidos são excluídos. Assim, o quociente eleitoral funciona com o uma cláusula de barreira nos estados (C â­ m ara dos D e p u ta d o s e A sse m b lé ia s Legislativas) e municípios (C âm ara dos Ve­ readores). /

P a s s o 3: D is tr ib u iç ã o d a s c a d e ir a s n ã o p r e e n c h id a s (s o b r a s )

Observe-se que, após a distribuição pelo quociente eleitoral, nem todas as cadeiras são ocupadas. Foram preenchidas 54, faltando, assim, seis. Essas cadeiras são preenchidas pelo m étodo de maiores médias: o total de votos de cada partido é dividido pelo núm ero de

1. não ocupadas cm primeira alocação (1950); e a da exclusão dos votos em branco do cálculo do quocienteDc li p a n cá, apenas duas mudanças significativas foram feitas: a do critério para distribuição dc cadeiras

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T A B E L A 1.

D is trib u iç ã o d e vo to s peto q u o c ie n te e le ito ra l. E le iç ã o p a ra C â m a ra

a o s D e p u ta d o s , S ã o P au lo , 1 9 8 6 1 Ü E PMDB 5.274.397 26,578 26 PTB-PSC-PL 2.024.412 10,201 10 PDS-PDC-PFL 2.011.250 10,135 10 PT 1.581.237 7,968 07 PDT 389.520 1,96 01 PCB 121.231 PSB 120.364 PH 94 093 PCdoB 91.189 PMC-PCN 68.954 PMB 68.354 PPB 50.525 PND 11.068 Total 11.906 594 54

cadeiras obtidas pelo quociente eleitoral na divisão anterior, acrescido de um. Por exem­ plo, o PMDB obteve 5.274.397 votos que são divididos pelas cadeiras obtidas pelo quociente (26) + 1 = 27; o resultado é a maior média do partido: 195.348. ^

Essa média é cotejada corti a dos demais partidos, levando a cadeira o que tiver a maior dessas médias (no exemplo, o PT ob­ tém a primeira cadeira). Procede-se, então, a uma outra rodada de distribuição das ca­ deiras restantes. Hm cada rodada, o partido que conquistou a cadeira nela distribuída tem seu total de votos divididos novamente, ago­ ra pela soma de uma unidade ao número de cadeiras que já obteve. O procedimento é repetido até que todas as cadeiras sejam pre­ enchidas. Observe-se que o PM DB obteve

uma cadeira a mais (na segunda rodada), pois sua segunda maior média foi superior à ob­ tida na primeira rodada por alguns partidos.

O total de cadeiras obtidas pelos parti­ dos (ou coligações) é o somatório das cadei­ ras distribuídas nos passos 2 e 3. A distribui ção final de cadeiras ficaria assim: PM DB (26); PTB-PSC-PL (11); PDS-PDC-PFL (11); PT 48); PDT (2).

1 .2 A lista ab e rta

Após a distribuição de cadeiras entre os partidos (e coligações), é preciso saber quais nomes da lista de candidatos apresentados serão eleitos. N o Brasil, os nomes mais vo­ tados de cada lista ocupam as cadeiras. No exemplo acima, o PDT elegeu três cadeiras;

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0 si st em a ele it o ra l b rasileiro T A B E L A 2. D is tr ib u iç ã o das cad eiras n ã o p re e n c h id a s (s o b ra s ).

ír- r ,yV' I '? ... it votação final .'Votação final _

í ■ & j s f è * w i O +1 PMDB PTB PSC-PL PDS-PDC-PFL PT PDT Total 195.348 (B) 184.037 |E} 182.840 (F) 197.654 (A) 194.750 <C) +2 188.371 (D) +3 • ■ 181-875 ,-ài B' * - • 2 1 1 1 6

N o ta : A s letra s e n tro p a rê n te s e s in d ic a m a o rd e m na qu al as c a d e ira s da s s o b ra s fo ra m p r e e n c h id a s .

assim, os três candidatos mais votados são eleitos (independentemente dos votos dos nomes que concorreram por outros parti­ dos). Este modelo é conhecido como de lista aberta. Em alguns países (como Portugal, Espanha, Argentina e África do Sul), a lista de candidatos é ordenada antes da eleição e os eleitores votam apenas na legenda (lista fechada). Em outros países (Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia), os partidos ordenam a lista de candidato, mas os eleito­ res, caso discordem do ordenamento, podem ainda votar especificamente para um dos nomes da lista - em cada país há uma pon­ deração que determina ein que condições um candidato, que obteve muitos votos nomi­ nais e está mal posicionado, pode se eleger. /

A lista aberta está em vigor no Brasil desde 1945. Já nos anos 50, alguns políti­ cos, tais como Carlos Lacerda c Milton Cam­ pos, chamaram a atenção para o fato de a lista aberta incentivar a competição entre os candidatos de uma mesma legenda, o que

enfraqueceria os partidos. Este foi o princi­ pal argumento apresentado pelos críticos da lista aberta até recentemente, quando outros pontos passaram a ser salientados. O princi­ pal deles refere-se à transferência de votos entre os candidatos de um mesmo partido ou coligação. A eleição de Eneas Carneiro (2002) e Clodovil Hernandez (2006), am ­ bos como deputados federais por São Paulo, é apresentada como casos exemplares dessa tendência. Os dois concorreram por micro- partidos, obtiveram mais votos do que o quociente eleitoral e ajudaram os seus parti­ dos a eleger deputados com reduzido núme­ ro de votos. Na realidade, o espanto frente a casos como esses deriva do desconhecimen­ to de como é feita a conta para distribuir as cadeiras na disputa para deputado federal. Os eleitores, em geral, votam em um nome de sua predileção, mas não sabem'que, no processo de apuração, os votos desse candi­ dato serão somados aos de outros (lembre- se de que a distribuição das cadeiras é feita a

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^ d l do0uS c T St0,aÍSOb' ÍdOSp0r

uraal-m aísvotos d o SC °

que o quociente eleitoral, ele OUtrm nHmcs <l» lista a se elegerem- se t.vcr mcnos, s c ri 1|udado votQs ^ outros candidatos. ~

1 3 Colig a ç ó e s

( omo vimos anteriormente, um partido pode concorrer sozinho ou coligado nas elei­ ções proporcionais. Para efeitos de distribui­ ção de cadeiras, os votos dos partidos coli­ gados são somados e as cadeiras são conquis­ tadas pela coligação como se ela fosse um único partido (não existe um segundo movi­ mento de distribuição das cadeiras da coli­ gação proporcionalmente à votação de cada legenda em seu interior). Assim, importa para cada partido tentar fazer com que os seus candidatos ocupem os primeiros nomes da lista da coligação. Um pequeno partido, por exemplo, pode receber um número reduzi­ do de votos, mas pode conseguir garantir que um (ou mais) dos seus candidatos esteja(m) entre os primeiros e se eleja(m). /

Essa característica tem produzido algu­ mas distorções na representação dos parti­ dos. A Tabela 3 ilustra os resultados da dis­ puta para a Câmara dos Deputados no lista­ do de Minas Gerais, em 1998. /

Um partido (PSDB) c quatro coligações conseguiram ultrapassar o quociente eleito­ ral de l ,84% dos votos. Quando o percentual de votos de cada partido/coligação é compa­ rado com o percentual de cadeiras, observa- se unia distribuição bastante equilibrada. Os problemas aparecem quando se analisa o desempenho de cada partido. O PSB e o PPS, com mais votos do que o PCdoB, não elege­ ram deputados, enquanto este elegeu um re­ presentante. O PL, apesar de ter tido menos

votos do que o PTB, conquistou mais cadeiras do que este, enquanto o PPB, com votação um pouco superior ao mesmo PTB, ficou com um número mais de três vezes maior de cadeiras (sete contra duas). Dois parti­ dos, o PCdoB (0,6%) e o PST (1,6%) elege­ ram representantes mesmo recebendo me­ nos votos do que o quociente eleitoral. O PDT (4,0%) e o PC do B (0,6%), com vota­ ções bem diferenciadas, ficaram cada um com uma cadeira. ^

O tamanho da bancada dos partidos na Câmarados Deputados é influenciado pelos diversos mecanismos do sistema eleitoral. Um partido que se apresenta sozinho nas elei­ ções em um determinado estado necessita atingir o quociente eleitoral para eleger um deputado. Já um partido coligado pode ga­ rantir a eleição de um candidato, mesmo que tenha individualmente votação inferior ao quociente. A fórmula usada no Brasil favo­ rece o maior partido no estado (o PM DB no exemplo apresentado); portanto, um parti­ do que é o mais votado em um número ex­ pressivo de estados, acaba ficando com uma bancada sobre-representada no âmbito nacio­ nal. Também ficam sobre-representados no âmbito nacional os partidos com votação concentrada nos pequenos estados da Região Norte. Em contraste, ficam com bancadas sub-representadas nacionalmente as legendas com votação concentrada em São Paulo, s

2 . O s is te m a m a jo r itá r io

Os chefes do Executivo no Brasil são elei­ tos por intermédio de duas regras diferentes. O presidente, os governadores e os prefeitos de municípios com inais de 200 mil eleitores são escolhidos pelo sistema de dois turnos. O candidato necessita obter a metade dos votos válidos mais um no primeiro turno. Se este

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0 si st em a e le it o ra l b ra s il e ir o _ --- t d o s 0 c o h g a ç ô e S '

T A B E L A 3 . D is trib u iç ã o d e v o to s e c a d e ir a s ^ OSíi^ ar^ p r a jS 1 9 9 8

E le iç õ e s p a r a a C â m a r a d o s D e p u t a d o s , M . n a s G e r a .s . ):%■de Cadeiras ÍPartidos/ coligações-iààiíu àS m * ■ ai PSDB PFL PPB PTB % de Votos 24,4 14,9 8.5 6.5 26,4 15.1 13.2 3,8 14 8 7 2 Total 29.9 32,1 17 PMDB 16,6 17,0 9 PST 1,6 1,9 1 Total 18,2 18,9 10 PT 11,5 13,2 7 PDT 4,0 1.9 1 PC do B 0,6 1,9 1 PSB 0,8 0,0 0 PCB 0.1 0,0 0 PV 0,2 0,0 0 Total 17,2 17,0 10 PL 5,2 5,7 3 PPS 0,9 0,0 0 PSL 0,0 0,0 0 Total 6,1 5.7 3 O utros Partidos 4,2 - _ Total 100,0 100,0 54

quociente eleitoral: 1,84% dos votos.

patam ar não é atingido, u m segundo turno c realizado entre os dois mais votados. Esse processo garante que o eleito sempre rece­ berá o apoio de mais de 5 0 % dos eleitores que com pareceram para votar. Os prefeitos dos m unicípios com menos de 200 m il

elei-- tores são eleitos pelo sistema de m aioria sim­ ples: o mais votado na disputa elege-se, sem que seja realizada um a nova disputa. —

A prim eira C o n stitu ição da República (1891) estabelecia que o presidente e o vice- presidente seriam escolhidos diretam ente

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pela população, em pleitos independentes e deveriam ter maioria absoluta dos votos. Caso isso não acontecesse, o Congresso de- \ eria escolher entre os dois mais votados nas urnas - fato que não ocorreu uma vez se­ quer, pois todos os presidentes foram elei­ tos com larga margem de votos, em eleições pouco competitivas. Os mandatos do presi­ dente e do vice duravam quatro anos, sem a possibilidade de reeleição para o mandato seguinte. Entre 1X91 c 19.Í0 foram eleitos onze presidentes. As eleições presidenciais só voltariam com a redemocratização do país em 1945. S

N o período 1945-1964, o sistema ado­ tado nas eleições para presidente foi o de maioria simples. O mandato durava cinco anos. As eleições para o cargo de vice-presi­ dente continuaram a ser realizadas separa­ damente da do presidente. Graças a esta re­ gra, era possível, por exemplo, eleger um candidato situacionista para presidente e um oposicionista para vice-presidente. Hm três das quatro eleições presidenciais disputadas, o eleito recebeu menos de 50% dos votos válidos: Getúlio Vargas (PTB) foi eleito com 4 7 % em 1950; Juscelino Kubitschek obteve apenas 34% em 1955 e Jânio Quadros (PDC/ U DN ) recebeu 45% dos votos em 1960. A única exceção foi Eurico Dutra (PSD) que obteve 52% dos votos em 1945. Em que pese o sistema adotado pela Constituição de 1946 ser o de maioria simples, esses resultados produziram críticas freqüentes quanto a sua legitimidade. Em 1950 c 1955, a U DN (par­ tido de centro-direita) fez campanha contra a posse de presidentes eleitos por outros partidos com o argumento de que estes não atingiram maioria absoluta nas urnas.

Quando o Brasil retomou a democracia em 1985 - após vinte e um anos de regime autoritário (1964-1985) a decisão a res­ peito de quais regras seriam adotadas para

as eleições presidenciais entrou na agenda política. A Constituição de 1988 optou pela regra dos dois turnos na disputa presidencial. A Carta proibiu a reeleição e definiu que o mandato do presidente duraria cinco anos. As críticas ao sistema de maioria simples durante a sua vigência no período 1946-1964 (a possibilidade de presidentes eleitos por uma parcela minoritária do eleitorado) cons­ tituíram uma forte razão para que os consti­ tuintes optassem pelo sistema de dois turnos. ^

Houve necessidade de realização de se­ gundo turno em três das cinco eleições presi­ denciais realizadas desde a redemocratização. Em 1989, Fernando C ollor (PRN) obteve 31% e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 17%. No segundo turno, C ollor foi eleito com 53% dos votos. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso venceu no pri­ meiro turno, respectivamente, com 54% e 53% dos votos. Nas eleições de 2002, o can­ didato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rece­ beu 46% dos votos no primeiro turno, e 62% no segundo. Em 2006, os percentuais o bti­ dos por Lula foram semelhantes: 48% dos votos no primeiro turno e 62 % no segundo.

Duas emendas à Constituição de 1988, aprovadas na década de 1990, m odificaram as regras do presidencialismo brasileiro. A primeira, sancionada em junho de 1994, re­ duziu o mandato presidencial para quatro anos. Com essa medida, procurava-se aumen­ tar a conexão entre a votação obtida pelo partido (ou coligação) do presidente e a re­ presentação dos partidos na Câm ara dos Deputados. A experiência de eleição de dois presidentes com fraca vinculação a partidos p o lític o s (J â n io Q u a d r o s em 1960 e Fernando Collor em 1989) em eleições “sol­ teiras”, com bases parlamentares frágeis, foi um lorte estímulo para que os legisladores reduzissem o m andato presidencial. A partir de então, as eleições presidenciais passaram

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0 si st em a el ei to ra l br as ile ir

o a ocorrer simultaneamente às eleições para o Congresso Nacional, governos estaduais e Assembléias Legislativas. Uma segunda emenda constitucional, sancionada em junho de 1997, permitiu que o chefe do Executivo (presidente, governadores e prefeitos) con­ corresse por mais um mandato consecutivo. Com isso, foi aberta a possibilidade de o então presidente Fernando Henrique Cardo­ so e dos governadores eleitos em 1994 se recandidatarem nas eleições de 1998. /

Os 81 senadores (três representantes por Unidade da Federação) têm mandatos de oito anos e são eleitos alternativamente: em uma eleição é eleito um senador, na seguinte, dois. A eleição é realizada segundo a regra de maio­ ria simples: no ano em que apenas um can­ didato concorre o mais votado é eleito, na eleição seguinte, os dois mais votados são eleitos, y

3. Os cam inhos da reforma eleitoral Desde o começo da década de 1990, a reforma política aparece como uin tema im­ portante na agenda política brasileira. Entre outros tópicos, a reforma do sistema eleito­ ral ocupa um lugar privilegiado no debate. Várias propostas têm sido apresentadas, par­ ticularmente para aperfeiçoar ou substituir a representação proporcional. Todos os as­ pectos analisados neste artigo já foram alvo de projetos e discussões. Abaixo segue uma lista breve de algumas propostas de reforma eleitoral que têm sido apresentadas: /

fórmula eleitoral: adoção de um novo sistema eleitoral (majoritário, conhecido no Brasil como distrital; ou de um siste­ ma misto, conhecido como distrital-mis- to); introdução de uma cláusula de bar­ reira nacional (um percentual de votos abaixo do qual um partido não pode

ele-% ger deputados para Câmara dos l\‘pUu dos); fim da cláusula de barreira nos esta? dos e adoção de uma nova fórmula mate. ^ <$• mática para distribuição das cadeiras. ^

C a * lista aberta: introdução do sistema de lista fechada.

• coligação: proibição das coligações; dis­ tribuição das cadeiras obtidas pela coli­ gação proporcionalmente aos votos de cada partido coligado. /

representação dos estados: correção in­ tegral (ou parcial) da distorção da repre­ sentação dos estados na Câmara dos De­ putados. /

Discutir essas propostas está além dos objetivos deste artigo. O intuito aqui foi sim­ plesmente o de apresentar as principais ca­ racterísticas do sistema eleitoral em vigor no Brasil, chamando a atenção para alguns de seus efeitos. O leitor interessado no tema da reforma deve se preocupar com três ques­ tões: o que não está funcionando a contento em nosso sistema eleitoral? Que alternati­ vas temos para aperfeiçoá-lo? Que efeitos negativos essas mudanças podem introduzir?

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0 s is te m a e le it o ra l b ra s il e ir

o a ocorrer simultaneamente às eleições para

o Congresso Nacional, governos estaduais e Assembléias Legislativas. U m a segunda emenda constitucional, sancionada em junho de 1997, permitiu que o chefe do Executivo (presidente, governadores e prefeitos) con­ corresse por mais um m andato consecutivo. Com isso, foi aberta a possibilidade de o então presidente Fernando Henrique Cardo­ so e dos governadores eleitos em 1994 se recandidatarem nas eleições de 1998./

Os 81 senadores (três representantes por Unidade da Federação) têm mandatos de oito anos e são eleitos alternativamente: em uma eleição é eleito um senador, na seguinte, dois. A eleição é realizada segundo a regra de maio­ ria simples: no ano em que apenas um can­ didato concorre o mais votado é eleito, na eleição seguinte, os dois mais votados são eleitos. /

3 . O s c a m in h o s d a reform a eleitoral Desde o começo da década de 1990, a reforma política aparece como um tema im ­ portante na agenda política brasileira. Entre outros tópicos, a reforma do sistema eleito­ ral ocupa um lugar privilegiado no debate. Várias propostas têm sido apresentadas, par­ ticularmente para aperfeiçoar ou substituir a representação proporcional. Todos os as­ pectos analisados neste artigo já foram alvo de projetos e discussões. Abaixo segue uma lista breve de algumas propostas de reforma eleitoral que têm sido apresentadas: /

fórmula eleitoral: adoção de um novo sistema eleitoral (majoritário, conhecido no Brasil como distrital; ou de um siste­ ma misto, conhecido como distrital-mis- to); introdução de uma cláusula de bar­ reira nacional (um percentual de votos abaixo do qual um partido não pode ele­

ger deputados para Câm ara dos Deputa- \ <í dos); fim da cláusula de barreira nos esta- ^ dos e adoção de uma nova fórmula mate­ mática para distribuição das cadeiras, lista aberta: introdução do sistema de lista fechada.

coligação: proibição das coligações; dis­ tribuição das cadeiras obtidas pela coli­ gação proporcionalm ente aos votos de cada partido coligado. /

representação dos estados: correção in­ tegral (ou parcial) da distorção ila repre­ sentação dos estados na Câmara dos De­ putados. /

Discutir essas propostas está além dos objetivos deste artigo. O iutuito aqui foi sim­ plesmente o de apresentar as principais ca­ racterísticas do sistema eleitoral em vigor no Brasil, chamando a atenção para alguns de seus efeitos. O leitor interessado no tema da reforma deve se preocupar com três ques­ tões: o que não está funcionando a contento em nosso sistema eleitoral? Que alternati­ vas temos para aperfeiçoá-lo? Que efeitos negativos essas mudanças podem introduzir?

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Sugestões de leitura

Escrevi dois p e quenos livros que podem ser consultados para a p ro fu n d ar as info rm ações apresentadas neste artigo. Sistem as E leitorais (FGV, 2004) discute os principais sistemas elei­ torais em vigo r (p ro p o rc io n a l, m ajoritário e misto). H is tó ria d o vo to n o B rasil (Jo r8e Z a h ar, 2 002 ) m ostra a e vo lu ção d o processo de votação e das regras utilizadas para eleger repre­ sentantes n o Brasil. Para quem se interessa pela discussão sobre a reform a política, três coletâ­ neas são ótim as fontes:

BENEVIDES, Maria Victoria, VANNUCHI, Paulo, KERCHE, Fábio (Eds.)- Reforma Política e cidadania. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2003. /

AVRITZER, Leonardo, ANASTASLA, Fátima (Eds.). Reforma Política tio Brasil Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2006.

SOARES, Gláucio Ary Dillon, RENNÓ, Lúcio (Eds.). Reforma Política: limões da história recente. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2006.

A lguns trabalhos que escrevi sobre o sistema eleitoral brasileiro estão d isp o n ív e is em : h ttp://jairo n ico lau .iu perj.b r /

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