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Aspetos sanitários e patológicos de tilápia-do-nilo cultivada no estado de Santa Catarina: parasitismo, hematologia, histopatologia e elementos-traço

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Academic year: 2021

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Lilian Dordete Steckert

Aspectos sanitários e patológicos de tilápia-do-nilo cultivada no estado de Santa Catarina: parasitismo, hematologia, histopatologia

e elementos-traço

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de mestre em Aquicultura. Orientador: Dr. Maurício Laterça Martins

Florianópolis 2017

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AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus,

A minha família, em especial aos meus pais Dário e Dida, por todo amor e suporte prestado.

A minha irmã Daiane e ao meu cunhado Cleiton, por toda parceria e por me acolherem em seu lar com muito amor e carinho durante esse período.

Ao meu namorado Vinicius, pelo amor demonstrado, paciência infindável e pela grande parceria em mais uma etapa da minha vida, inclusive ajudando nas coletas.

Ao professor e orientador Dr. Maurício Laterça Martins, pela partilha de conhecimentos, confiança depositada e pela oportunidade concedida, a qual serei eternamente grata.

A Dra. Grabriela Tomas Jerônimo, pelo seu exemplo e inspiração. Obrigada por ser amiga e também por ser meu norte nesse período, eterna gratidão à ti Gabi!

A Karen Roberta Tancredo, Gabriela Hashimoto, Natália Marchiori, Maitê Florindo, Eduardo Gonçalves e Monyele Achille, agradeço a amizade, auxílio, parceria, conversas e conselhos. Cada um de vocês é dono de um universo único e especial, que eu tive a alegria de conhecer e compartilhar ao longo desses anos. Obrigada por tudo e principalmente por tornarem meus dias muito mais leves e agradáveis. Ao Lucas Cardoso, pela amizade, pelo tempo despendido, por toda prestatividade e auxílio. Obrigada pelas horas à fio que passaste me ajudando no processamento e análise histológica, foi parte crucial deste trabalho e não seria possível sem você.

Ao Willian Eduardo Furtado, pelo tempo despendido e ajuda na triagem do material. Will, grande parte deste trabalho é fruto dos seus esforços e dedicação e eu serei pra sempre grata por tudo. Obrigada pelo seu tempo, sua disposição, agilidade, piadas e por sua amizade!

A Scheila Anelise Pereira, pelo tempo despendido e pela paciência ao me ensinar e ajudar com a estatística.

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e auxílio, mil vezes obrigada.

A Anita, por gentilmente disponibilizar a casa de sua mãe Dona Angelita, que nos hospedou com muito carinho durante as coletas na região Oeste.

A todos os amigos e colegas do laboratório AQUOS, que durante esse período compartilharam momentos de alegrias, experiências, descobertas, dificuldades, aprendizado, muito trabalho e cafés. Cada um de vocês acrescentou algo de bom em mim e foi crucial nessa jornada. Aos professores e funcionários do CCA e da pós graduação em aquicultura.

A todos que de alguma forma contribuiram no desenvolvimento deste trabalho, muito obrigada!

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RESUMO

A piscicultura representa um mercado cada vez mais desenvolvido, tornando-se uma das atividades mais importantes como fonte de proteína animal para o consumo humano. No entanto, situações de confinamento animal constituem sempre um fator que favorece o surgimento de doenças. Neste sentido, é necessário a avaliação de parâmetros sanitários a fim de se evitar problemas no cultivo. Este estudo objetivou avaliar os aspectos sanitários e patológicos de tilápia-do-nilo cultivada e destinada para consumo humano em Santa Catarina. Foram coletados 240 peixes de 12 propriedades, abrangendo quatro regiões do estado: Norte, Sul, Vale do Itajaí e Oeste, sendo três propriedades por região e 20 espécimes por propriedade. Foram avaliados os parâmetros hematológicos, parasitológicos, histopatológicos e elementos-traço dos animais coletados. Todos os peixes analisados foram oriundos de cultivos isentos de problemas sanitários e apresentaram-se clinicamente saudáveis. A análise parasitológica revelou altas infestações por Ichthyophthririus multifiliis nas brânquias dos peixes das regiões Sul e Oeste. Trichodina magna e T. compacta foram obervadas em baixa intensidade na superfície corporal dos peixes de todas as propriedades. Trichodina spp. foi encontrada com alta intensidade parasitando as brânquias dos peixes das regiões Norte, Vale do Itajaí e Oeste. Ainda nestas regiões, observou-se a presença de Monogenea Cichlidogyrus sclerosus e Cichlidogyrus halli nas brânquias dos animais. Em relação aos parâmetros hematológicos, o número de eritrócitos e percentual de hematócrito apresentaram-se dentro dos valores de referência para a espécie estudada. Observou-se monocitose nos peixes de algumas das propriedades, além de trombocitopenia generalizada. A histopatologia revelou alterações teciduais em brânquias, fígado, baço e coração. Entre elas, a mais recorrente foi a hiperplasia epitelial interlamelar difusa, observada nas brânquias de todos os animais amostrados. Desordens sanguíneas e infiltrados inflamatórios foram comuns a todos os órgãos analisados. A análise de elementos-traço revelou ausência de Mercúrio (Hg) e Cádmio (Cd) em todas as amostras de músculo. O elemento Chumbo (Pb), quando presente, apresentou-se abaixo do limite estipulado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O Arsênio (As) total foi encontrado em quantidades significativas, em todas as amostras de músculo, sedimento dos tanques e também em algumas amostras de água, atentando para uma possível contaminação ambiental e dos peixes por elemento tóxico.

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ABSTRACT

Fish farming represents an increasingly developed market, becoming one of the most important activities as a source of animal protein for human consumption. However, situations of animal confinement are always a factor that favors the emergence of diseases. Therefore, it is necessary to evaluate health parameters in order to avoid problems in the culture. This study aimed to evaluate sanitary and pathological aspects of farmed Nile tilapia destined for human consumption in the state of Santa Catarina, Brazil. A total of 240 fish were collected from 12 properties, covering four regions of the state: North, South, Itajai Valley and West, with three properties per region and 20 specimens per property. Hematological, parasitological, histopathological and trace elements samples were analysed. All examined fish were from an exempt of sanitary problems crops and were clinically healthy. Parasitological analysis revealed high infestations with Ichthyophthririus multifilis in the gills of fish from the South and West regions. Trichodina magna and T. compacta were observed at a low intensity on the fish body surface of all properties. Trichodina sp. was found in high intensity in the gills of fish from the North, Itajai Valley and West regions. Also in these regions, the presence of Monogenea Cichlidogyrus sclerosus and Cichlidogyrus halli were observed in the gills of the animals. Regarding the hematological parameters, the number of erythrocytes and the hematocrit percentage were within the reference values for the studied species. Monocytosis were observed in some of the properties, in addition to generalized thrombocytopenia. Histopathology revealed tissue changes in gills, liver, spleen and heart. Among them, the most frequent was diffuse interlamellar hyperplasia observed in the gills of all the sampled animals. Blood disorders and inflammatory infiltrates were common to all analyzed organs. The trace elements analysis revealed absence of Mercury (Hg) and Cadmium (Cd) in all muscle samples. The element Lead (Pb), when present, was below the limit stipulated by ANVISA (National Health Surveillance Agency). The total Arsenic (As) was found in significant amounts, in all muscle samples, sediment from the tanks and also in some water samples, considering a possible environmental and the fish contamination with the toxic element.

Keywords: Aquaculture, Oreochromis niloticus, sanity, pathology, contamination.

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LISTA DE FIGURAS INTRODUÇÃO GERAL

Figura 1. Pisciculturas 1 e 2 de Braço do Norte – Região Sul... 35

Figura 2. Piscicultura 3 de Braço do Norte – Região Sul e piscicultura 1 de Joinville – Região Norte. ... 35

Figura 3. Pisciculturas 2 e 3 de Joinville – Região Norte. ... 36

Figura 4. Pisciculturas 1 e 2 de Gaspar – Região do Vale do Itajaí. .... 36

Figura 5. Piscicultura 3 de Gaspar – Região do Vale do Itajaí e piscicultura 1 de Pinhalzinho – Região Oeste. ... 36

Figura 6. Pisciculturas 2 e 3 da região Oeste, nos munícipios de Caxambú do Sul e Barra Bonita, respectivamente ... 37

CAPÍTULO 1 Figura 1. Localização dos pontos de coleta no estado de Santa Catarina, sul do Brasil. ... 43

CAPÍTULO 2 Figura 1. Localização dos pontos de coleta no estado de Santa Catarina, sul do Brasil. ... 71

CAPÍTULO 3 Figura 1. Fotomicrográfias do tecido branquial ... 98

Figura 2. Fotomicrográfias do tecido branquial ... 99

Figura 3. Fotomicrográfias do tecido hepático ... 101

Figura 4. Fotomicrográfias do tecido esplênico ... 103

Figura 5. Fotomicrográfias do tecido cardíaco ... 105

APÊNDICE Figura 1. Tricodinídeos coletados da superfície corporal de tilápia-do-nilo ... 135

Figura 2. Monogeneas coletados das brânquias de tilápia-do-nilo ... 135

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LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 1

Tabela 1. Características de manejo nas pisciculturas do estado de Santa Catarina. ... 45 Tabela 2. Parâmetros físico-químicos de qualidade de água nos viveiros das pisciculturas estudadas. ... 47 Tabela 3. Índices biométricos e fator de condição relativo (Kn) de tilápia-do-nilo ... 47 Tabela 4. Índices parasitológicos de Trichodina sp. em tilápia-do-nilo ... 49 Tabela 5. Índices parasitológicos de Ichthyophthririus multifiliis em tilápia-do-nilo ... 50 Tabela 6. Índices parasitológicos de Monogenea em brânquias de tilápia-do-nilo ... 51 Tabela 7. Valores médios e desvio padrão das características hematológicas de tilápia-do-nilo cultivadas nas pisciculturas do estado de Santa Catarina. ... 53

CAPÍTULO 2

Tabela 1. Concentração de elementos-traço em amostras de músculo de tilápia-do-nilo ... 75 Tabela 2. Concentração de elementos-traço em amostras de sedimento dos tanques das pisciculturas ... 77 Tabel 3. Concentração de elementos-traço em amostras de água dos tanques das pisciculturas ... 78 Tabela 4. Análise qualitativa dos componentes químicos contidos nas rações utilizadas nas pisciculturas desse estudo. ... 78 CAPÍTULO 3

Tabela 1. Prevalência e valores médios de alteração (VMA) em brânquias de tilápia-do-nilo ... 100 Tabela 2. Prevalência e valores médios de alteração (VMA) em fígado de tilápia-do-nilo ... 102

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Tabela 4. Prevalência e valores médios de alteração (VMA) em coração de tilápias-do-nilo ... 105

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL ... 17

Panorama da piscicultura mundial, brasileira e catarinense ... 17

Tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus Linnaeus) ... 18

Patologia e sanidade em peixes de cultivo... 19

Doenças causadas por ectoparasitos ... 20

Principais ectoparasitos de interesse econômico na tilapicultura ... 22

Hematologia ... 25

Histopatologia ... 27

Elementos-traço ... 29

Características das pisciculturas do presente estudo ... 32

JUSTIFICATIVA ... 37 OBJETIVOS ... 38 Geral ... 38 Específicos ... 38 CAPÍTULO I ... 39 Introdução ... 41 Material e Métodos ... 42 Resultados ... 45 Discussão ... 54 Conclusão ... 57 Referências... 58 CAPÍTULO II ... 67 Introdução ... 69 Material e Métodos ... 70 Resultados ... 74

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Referências ... 83 CAPÍTULO III ... 91 Introdução ... 93 Material e Métodos ... 94 Resultados ... 97 Discussão ... 106 Referências ... 111 CONCLUSÕES GERAIS ... 117

REFERÊNCIAS DA INTRODUÇÃO GERAL ... 119

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INTRODUÇÃO GERAL

Panorama da piscicultura mundial, brasileira e catarinense

Segundo dados da FAO (2016), a pesca e a aquicultura continuam a ser fontes importantes de alimentos, renda e subsistência para milhões de pessoas em todo o mundo. Um marco para a piscicultura se deu em 2014, quando o abastecimento mundial de peixe per capita atingiu o recorde de 20 kg/habitante/ano, decorrente do eficaz crescimento da aquicultura, que agora fornece metade de todos os peixes para o consumo humano. Este fato demonstra que a população está consumindo mais pescado cultivado quando comparado ao de captura. Essas tendências ilustram uma etapa de mudança histórica na produção de alimentos, o que leva a projetar um crescimento da aquicultura de 33% até 2021 (EPI, 2014).

No Brasil, a participação do pescado sobre o total de proteína animal oferecida é menor do que o observado no âmbito mundial. O consumo per capita brasileiro de proteína animal mostrou o pescado em última posição, entre as quatro principais (bovino, suíno, frango e pescado), com média de 10,31 kg/habitante/ano. Isso é resultado de vários fatores, entre eles o desenvolvimento insuficiente do cultivo de peixes, dada a predominância histórica da pesca em relação à aquicultura (MPA, 2015). Nesse contexo, é de suma importância que aquicultura brasileira seja desenvolvida a fim de acompanhar a tendência mundial.

Segundo dados do IBGE (2015), a aquicultura brasileira continua crescendo e atingiu um valor de produção de R$ 4,39 bilhões em 2015, com aproximadamente 70% oriunda da criação de peixes. Nesse mesmo ano, a produção total da piscicultura brasileira foi de 483,24 mil toneladas, com aumento de 1,5% em relação ao ano anterior. Assim, dentre todas as atividades zootécnicas, a aquicultura apresenta o maior potencial de produção de proteína animal, além do alto valor nutritivo do pescado e da sua importância para a saúde humana (MPA, 2015).

Em Santa Catarina, a piscicultura teve início na década de 70, com o objetivo principal de gerar renda complementar aos produtores rurais do interior do estado. Atualmente, a atividade é praticada em todo o território catarinense, sendo ainda, predominante em pequenas propriedades de cunho familiar. Segundo estatísticas do Instituto CEPA, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), a piscicultura rende bons lucros aos produtores e

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ajuda no crescimento geral do estado, colocando-o entre os principais produtores de peixes de água doce do Brasil (SILVEIRA; SILVA; GRAEFF, 2013).

Segundo Silveira, Silva e Casaca (2014), até o levantamento de 2013, o mercado catarinense destinava metade de sua produção total para os pesque-pagues, sendo o restante negociado entre as indústrias pesqueiras e o mercado local. No entanto, no atual levantamento da Epagri/Cedap (Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca), notou-se a propensão dos produtores em destinar os peixes para as indústrias e os abatedouros ao invés dos pesque-pagues (CEDAP, 2015). Dessa forma, a quantidade de peixes absorvida por cada mercado ficou assim distribuída em 2014: 35% para as indústrias/abatedouros, 45% para os pesque-pagues e 20% para o mercado local, comprovando a tendência de entrega para as indústrias (SILVEIRA et al., 2015).

Diversas regiões se destacam na produção de peixes, mostrando a consolidação da atividade em todo o estado. No entanto, segundo os dados de produção da Epagri/Cedap de 2014, os maiores produtores de peixes no estado de Santa Catarina, são as regiões de Joinville, Tubarão, Blumenau e Rio do Sul. Estas regiões incluem diversos munícipios satélites, que juntos representam aproximadamente 51% da produção total de peixes e 67% da produção total de tilápias, que é a espécie mais produzida no estado (SILVEIRA et al., 2015). Em termos percentuais, a produção de tilápia em Santa Catarina equivale à 67,3% sobre todas as outras espécies somadas em 2014 e possui a cadeia produtiva mais importante devido a grande aceitação pelos consumidores (CEDAP, 2015).

Tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus Linnaeus)

A tilápia-do-nilo, Oreochromis niloticus (Linnaeus) pertencente a família Cichlidae, foi introduzida no Brasil em meados de 1950 e atualmente representa uma das indústrias com maior potencial, visto o vasto recurso hídrico e condições ambientais que o país apresenta (FITZSIMMONS, 2000). Atualmente, segue como a espécie mais produzida no Brasil, com 219,33 mil toneladas despescadas em 2015, representando 45,4% do total da despesca nacional, com um incremento de 9,7% em relação a 2014 (IBGE, 2015). A tilápia nilótica é típica de ambiente tropical, adaptando-se em clima onde a temperatura tenha variação entre 18 e 28 oC. Essa espécie é pouco exigente em relação ao oxigênio dissolvido e suporta ampla faixa de pH. Quanto ao hábito

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alimentar, é onívora, dando preferência ao fitoplâncton (LUND; FIGUEIRA, 1989).

Esse ciclídeo possui diversas características favoráveis ao cultivo, como a rusticidade, rápido crescimento, alta prolificidade e fácil adaptação aos diferentes sistemas de cultivo e alimentos (GALLI; TORLONI, 1986; KUBITZA, 2000). Sendo assim, a tilápia possui importante papel econômico, contribuindo na renda de pequenos produtores e também de grandes empresas em Santa Catarina, que utilizam de tecnologias para a sua produção e a comercializam amplamente no mercado nacional e internacional (FITZSIMMONS et al., 2011).

Entretanto, observa-se que com a intensificação dos modelos de criação, quando aliados a manejos inadequados, culminam em estresse crônico dos peixes cultivados, favorecendo a disseminação de doenças (TAVARES-DIAS, 2009).

Patologia e sanidade em peixes de cultivo

A patologia é fundamental para entender como as várias causas de doenças interagem com os animais e resultam em condições clinicamente identificáveis. Essa ciência produz importantes contribuições sobre os mecanismos das doenças, fornecendo informações cruciais para o controle de surtos na produção animal (MCGAVIN; ZACHARY, 2013).

Os processos bioquímicos, metabólicos e fisiológicos dos peixes, são basicamente os mesmos de mamíferos. Sendo assim, os peixes são susceptíveis aos mesmos tipos de patógenos que afetam animais de sangue quente, incluindo vírus, bactérias, fungos e parasitos (NOGA, 2010). Entretanto, o estresse desempenha um papel importante no aparecimento de doenças em peixes (SCHRECK, 2000).

Com a intensificação da piscicultura, cria-se um ambiente favorável para surtos epizoóticos, devido a diversos fatores que contribuem para o surgimento de doenças. A alta densidade de estocagem aliada ao manejo de rotina inadequado, por exemplo, são fatores causadores de estresse. Além disso, inúmeros organismos que são patogênicos facultativos tornam-se prejudiciais aos seus hospedeiros quando encontram situações propícias para sua proliferação (TAVARES-DIAS, 2009).

Vale ressaltar que a tríade patógeno-hospedeiro-ambiente precisa estar em equilíbrio para que qualquer doença seja evitada. Sendo assim, um ambiente natural ou livre de estressores não será favorável a

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ocorrência de surtos epizoóticos, mesmo estando o patógeno e hospedeiro presentes (PAVANELLI; EIRAS; TAKEMOTO, 2008). Por isso, os cuidados com o manejo e qualidade de água, bem como, com todos os fatores inerentes ao ambiente de cultivo estão intimamente ligados ao sucesso na produção.

A erradicação de doenças na piscicultura trata-se de uma prática inviável, devido às questões técnicas e econômicas. Assim, o gerenciamento de estratégias para o controle de enfermidades na produção de peixes desempenha papel fundamental e são ainda mais importantes no futuro, minimizando impactos ambientais (NOGA, 2010).

Segundo Martins et al. (2010), o êxito da piscicultura resulta da manutenção de um ambiente livre de fatores nocivos que possam causar danos aos animais e comprometer a produção. Neste sentido, estudos têm sido conduzidos no estado de Santa Catarina e no Brasil a fim de se identificar a fauna parasitária associada às principais espécies de peixes cultivados e reconhecer parâmetros que possam fornecer informações sobre o estado de saúde, tais como os estudos hematológicos. Entretanto, pouco tem sido feito com relação a estudos histopatológicos e à análise de elementos-traço.

A fim de atualizar e ampliar os estudos sanitários em peixes cultivados no estado de Santa Catarina, torna-se evidente a necessidade de estudar um maior número de propriedades aquícolas e regiões, e também de desenvolver atividades que possam conscientizar os profissionais que trabalham no setor sobre a importância de estudos sanitários nas diferentes unidades de cultivo. Com o acompanhamento in loco, o técnico e/ou produtor saberá o momento exato de interferir no desenvolvimento do ciclo biológico do parasito, objetivando mitigar sua reprodução, diminuindo a possibilidade de infestações e infecções. Paralelamente a isso, é possível interferir nos fatores bióticos e abióticos que predispõem os peixes às enfermidades.

Doenças causadas por ectoparasitos

As doenças parasitárias são consideradas um entrave na piscicultura mundial, pois estão relacionadas a grandes prejuízos econômicos na produção de peixes, sendo de maior relevância na região tropical, pelas características climáticas pertinentes à região que propiciam a rápida e constante propagação dos parasitos (THATCHER; BRlTES-NETO 1994). As lesões causadas pela fixação dos parasitos servem de portas de entrada para infecções secundárias (TAKEMOTO

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et al., 2013; VALLADÃO et al., 2014), que por sua vez, podem causar mortalidade aguda nos peixes. Além disso, alguns trabalhos sugerem que os parasitos são também vetores de outros patógenos (PILLOUX et al., 2015; XU et al., 2012).

Estudos parasitológicos com a tilápia-do-nilo, vem sendo realizados no Brasil e no mundo, reportando-se a infestação desse cíclideo por parasitos Monogenea e Digenea (Platelminto: Trematoda), Trichodina sp. Ehrenberg, 1830, Ichthyophthirius multifiliis Fouquet, 1876, Piscinoodinium pillulare (Schäperclaus, 1954) Lom, 1981, Chilodonella sp. Strand, 1928, Cryptobia sp. Leidy, 1846, Henneguya sp. Thélohan, 1892, Lernaea cyprinacea Linnaeus, 1758, Lamproglena sp. von Nordmann, 1832 e Argulus sp. Müller, 1785 (AKOLL et al., 2012; AZEVEDO et al., 2006a; BLAHOUA et al., 2016; BRACCINI et al., 2008; GHIRALDELLI et al., 2006; JERÔNIMO et al., 2011a; LEONARDO; PEREIRA; KRAJEVIESKI, 2006; MARTINS et al., 2002; NUNES et al., 2016; RANZANI-PAIVA; FELIZARDO; LUQUE, 2005; TAVARES-DIAS et al., 2001; TAVARES-DIAS; MARCHIORI; MARTINS, 2013; ZAGO et al., 2014).

Em seu trabalho, Azevedo et al. (2006a), observaram que de um total de 360 tilápias analisadas, 17,8% estavam parasitadas com Cichlidogyrus sclerosus Paperna & Thurston, 1969 e Cichlidogyrus sp. (Monogenea), 5,5% com Trichodina sp., (Protozoa: Ciliophora) e 1,1% com Lamproglena sp. (Crustacea: Lernaeidae). Já no estudo de Ghiraldelli et al. (2006), os autores relataram tricodinídeos como os parasitos mais predominantes na superfície do corpo e em brânquias de tilápias oriundas de diferentes sistemas de cultivo no estado de Santa Catarina. Por sua vez, Jerônimo et al. (2011a), ao avaliar a fauna parasitária de tilápias cultivadas no mesmo estado, observaram o protozoário dinoflagelado Piscinoodinium pillulare como o parasito mais abundante, seguido por Trichodina magna Van as & Basson, 1989 e T. compacta Van as & Basson, 1989. Neste mesmo estudo foram encontrados Monogenea das espécies C. sclerosus, Cichlidogyrus halli Price & Kirk, 1967, Cichlidogyrus thurstonae Ergens, 1981, Scutogyrus longicornis Paperna and Thurston, 1969, e copepoditos de Lernaeidae gen. sp. Cobbold, 1879 (Crustacea: copepoda) em menores intensidades que os protozoários. Em um estudo recente, também em Santa Catarina, Nunes et al. (2016) observaram que tilápias cultivadas em sistema consorciado com suínos apresentaram maiores valores de abundância e intensidade média de tricodinídeos, já as oriundas de monocultivo mostraram predominância de helmintos Monogenea.

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A diversidade da fauna parasitária de peixes pode variar e depende do equilíbrio no sistema hospedeiro-parasito-ambiente no local avaliado (AZEVEDO et al., 2006a). No entanto, nos estudos acima citados, realizados no estado de Santa Catarina, não foram observados parasitos que apresentassem potencial zoonótico (AZEVEDO et al., 2006a; GHIRALDELLI et al., 2006; JERÔNIMO et al. 2011a; NUNES et al., 2016). De acordo com Jerônimo et al. (2011a) e Pantoja et al. (2012), os estudos epidemiológicos em fazendas de peixes são importantes para a adaptação das técnicas no gerenciamento da atividade e no fornecimento de orientações sanitárias adequadas. Principais ectoparasitos de interesse econômico na tilapicultura

Os protozoários e os Monogenea estão entre os principais grupos de parasitos que acometem criações comerciais de tilápias-do-nilo (SHOEMAKER; KLESIUS; EVANS, 2000).

Os protozoários possuem grande importância na piscicultura, pois em ambiente favorável, sua reprodução é facilitada, podendo causar consideráveis danos aos hospedeiros. Logo, quando ocorre desequilíbrio na relação parasito-hospedeiro-ambiente, os protozoários comensais tornam-se ligeiramente patogênicos (TAVARES-DIAS, 2009). Um importante Filo que acomete criações comerciais de tilápias são os protozoários Ciliophora, destacando-se o I. multifilis e a Trichodina spp. (ZANOLO; YAMAMURA, 2006).

Parasitos Monogenea pertencem ao grupo dos platelmintos e são responsáveis pela parasitose mais importante da piscicultura brasileira (MARTINS, 1998). Eles constituem um dos principais parasitos da tilápia-do-nilo, embora no Brasil haja poucos casos de mortalidade em massa causada pela intensa infestação desse parasito (MARTINS et al., 2014). No entanto, helmintos Monogenea são responsáveis por perdas econômicas significativas quando presentes simultaneamente com infecções bacterianas (XU et al., 2007).

Prejuízos provocados por esses agentes patogênicos podem tornar a atividade onerosa e pouco lucrativa para os piscicultores, devido à mortalidade durante surtos de infestação.

Ichthyophthirius multifiliis (Fouquet, 1876)

Protozoário ciliado causador da doença dos pontos brancos ou ictioftiríase, é um importante ectoparasito que se localiza principalmente na pele e nas brânquias dos peixes, provocando grandes prejuízos em

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pisciculturas de água doce de todo o mundo (BUCHMANN et al., 2001). Além disso, este parasito favorece a ocorrência de infecções bacterianas oportunistas (XU; SHOEMAKER; KLESIUS, 2012; XU et al., 2012). O aparecimento da doença é facilitado em locais que ocorrem variações bruscas da temperatura e má qualidade de água, resultando em estresse nos peixes, e o sinal clínico mais comum é o surgimento de pontos brancos espalhados pela superfície corporal e brânquias (PAVANELLI et al., 2008).

Este ciliado é o parasito de peixe com mais ampla distribuição geográfica, não possui especificidade parasitária e praticamente qualquer peixe de água doce pode transmitir o parasito (PAVANELLI; TAKEMOTO; EIRAS, 2013). Sua transmissão é facilitada devido ao seu ciclo de vida que é monoxeno, com três estágios: trofonte, tomonte e teronte, e as alterações patológicas associadas ao I. multifilis, estão relacionadas com a invasão do teronte sobre as camadas do epitélio com posterior histofagia na fase de trofonte (MARTINS et al., 2015). Este processo provoca reação inflamatória do hospedeiro com intensa proliferação epitelial. Em casos graves pode ser observada fusão de lamelas secundárias e degeneração e necrose de células epiteliais, formando várias úlceras no epitélio, após a liberação de trofontes maduros (PÁDUA et al., 2014). Caso esse conjunto de alterações não forem tratados a tempo, podem causar um colapso branquial e a morte do hospedeiro por asfixia (PAVANELLI; TAKEMOTO; EIRAS, 2013). No Brasil, seu relato em tilápias cultivadas já foi realizado por Martins et al. (2002), Ranzani-Paiva, Felizardo e Luque (2005), Tavares-Dias et al. (2002) e Zago et al. (2014).

Trichodina sp. Ehrenberg, 1838

Também do grupo dos protozoários ciliados, os tricodinídeos apresentam baixa especificidade parasitária (PAVANELLI; TAKEMOTO; EIRAS, 2013) e são frequentemente encontrados parasitando a superfície corporal e brânquias dos peixes. Assim como observado para I. multifillis, a Trichodina sp. têm ciclo de vida monoxeno e se reproduz principalmente por divisão binária (MARTINS et al., 2015). Suas principais estruturas são o disco adesivo, que fica em contato com o hospedeiro, e é formado por estruturas esqueléticas dispostas em círculo, denominadas dentículos. Estas estruturas possuem ação abrasiva sobre o tecido do hospedeiro, destruindo células epiteliais devido ao movimento rotativo que o parasito realiza (PAVANELLI et al., 2008). Em infestações massivas, observa-se a ação patogênica de

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Trichodina sp. que ao se alimentar de células epiteliais do hospedeiro provoca lesões teciduais e hipersecreção de muco nas regiões afetadas, podendo resultar em consideráveis taxas mortalidades, como descrito por Khan (2004) e Madsen, Buchmann e Mellergaard (2000), respectivamente, em estudos com bacalhau-do-atlântico e enguias cultivados.

Segundo Eiras (1994), agindo como organismos ectocomensais, estes ciliados se alimentam de bactérias, algas e partículas em suspensão na água. No entanto, frente a qualquer desequilíbrio ambiental, podem tornar-se parasitos potencialmente patogênicos, como relatado nos estudos realizados por Moraes e Martins (2004).

Sua proliferação no ambiente geralmente está associada com a má qualidade da água, o número total de bactérias e aspectos ecológicos das espécies de peixes (MARTINS et al., 2015). Desta forma, a utilização de Trichodina spp. como indicador para a eutrofização em ambientes de água doce foi sugerido (JERÔNIMO et al., 2011a). A sua reprodução em viveiros de peixes tem sido relacionada à alta densidade de estocagem, altos teores de matéria orgânica e aumento da temperatura da água (BASSON; VAN AS, 2006; MARTINS et al., 2010).

A doença pode ocorrer em forma aguda principalmente em larvas e alevinos, causando úlceras, edema subepitelial, deslocamento das lamelas secundárias nos filamentos branquiais, hiperplasia e infiltração inflamatória mononuclear (VALLADÃO et al., 2014). Por outro lado, infestações crônicas podem induzir o aumento das células de muco do epitélio e dos filamentos branquiais, hiperplasia discreta com fusão parcial ou total das lamelas secundárias, infiltrado inflamatório e necrose branquial (VALLADÃO et al., 2013). As microlesões causadas pela presença destes parasitos são em seguida colonizadas por bactérias (VALLADÃO et al., 2014), que, por sua vez, são responsáveis por infecções oportunistas e aceleram a progressão da doença, causando assim, surtos de mortalidade.

Trata-se portanto, de um parasito cosmopolita que vem sendo estudado devido seus impactos econômicos em pisciculturas do mundo todo. No estado de Santa Catarina, já foram realizados alguns estudos com peixes cultivados, no qual foram relatadas diferentes espécies de tricodinídeos em tilápia-do-nilo, como a T. magna, T. compacta e Trichodina centrostrigeata Basson, Van As & Paperna, 1983 (GHIRALDELLI et al., 2006; JERÔNIMO et al., 2011a; NUNES et al., 2016).

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Monogenea

Os Monogenea são, na grande maioria, ectoparasitos que se encontram principalmente nas brânquias, narinas e superfície do corpo dos hospedeiros. Possuem ciclo de vida direto e alta especificidade parasitária (EIRAS et al., 2006). Acredita-se que a variação sazonal na temperatura da água seja o fator mais importante na determinação da abundância desse parasito (AGUIRRE-FEY et al., 2015). As características mais utilizadas para identificação a nível de espécie, são as estruturas esclerotizadas do haptor e do complexo copulatório (KRITSKY; THATCHER; BOEGER, 1986). Em pisciculturas, os Monogenea estão entre os parasitos mais significativos, pois podem provocar elevadas taxas de mortalidade (PAVANELLI et al., 2008).

A patogenia desse parasito nas brânquias apresenta-se como hiperplasia celular e hipersecreção de muco, que se agravam com a intensidade parasitária. No tegumento, as lesões normalmente são menos acentuadas, podendo haver necrose celular, destruição de escamas e produção excessiva de muco. Assim como outros parasitos, as lesões causadas pelo helminto Monogenea, podem servir como portas de entrada para infecções secundárias (TAKEMOTO et al., 2013). A sobrecarga de parasitos pode danificar as brânquias e a pele, provocando anemia. Em alguns casos, o peixe infestado torna-se letárgico e/ou morre (OBIEKEZIE, 1991).

Vários estudos mostraram que Cichlidogyrus sp. e Scutogyrus sp. são os Monogenea branquiais mais comumente encontrados em tilápia-do-nilo (AGUIRRE-FEY et al., 2015; AKOLL et al., 2012; TOMBI et al, 2014). Nunes et al. (2016) em seu estudo com tilápias provenientes de Santa Catarina, relatou o parasitismo por C. sclerosus, Cichlidogyrus tilapiae Paperna, 1960 e Scutogyrus sp. Pariselle e Euzet, 1995. São comuns ainda a este hospedeiro, as espécies C. sclerosus e Gyrodactylus sp. observados por Ghiraldelli et al. (2006) em tilápias cultivadas no mesmo estado.

Hematologia

Na piscicultura, tem-se desenvolvido pesquisas e estudos utilizando a hematologia como método diagnóstico, uma vez que é possível identificar respostas dos peixes frente aos desafios de criação de forma eficaz e não onerosa (RANZANI-PAIVA et al., 2013). Entretanto é importante o estabelecimento de valores de referência para

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cada espécie (TAVARES-DIAS et al., 2009) para tê-lo com essa finalidade.

O hemograma pode ser utilizado como método diagnóstico direto ou ainda, como auxíliar no diagnóstico de doenças. É composto por uma série de análises que determinam de forma quantitativa e qualitativa as diferentes células presentes no sangue, que são divididas em três classes: eritrócitos, leucócitos e trombócitos (RANZANI-PAIVA et al., 2013). Diferente dos mamíferos, os eritrócitos dos peixes são nucleados, cuja função reside no transporte de gás carbônico e oxigênio ligados à hemoglobina. O número de eritrócitos e a concentração de hemoglobina refletem diretamente no desempenho fisiológico do organismo, ficando comprometido diante de quadros de anemia. Estes processos podem estar relacionados a diversas causas, como hemorragia, hemólise e até por altas infestações parasitárias (FRANÇA et al., 2007; RANZANI-PAIVA et al., 2000; SERIANI et al., 2010).

A quantidade de leucócitos, por sua vez, pode indicar uma série de fatores que influenciam na homeostase e saúde dos peixes, como infecções e estresse. Em suma, os peixes possuem os mesmos tipos de leucócitos que os demais vertebrados e eles são divididos em dois grupos: os granulócitos que englobam neutrófilos, heterófilos, eosinófilos e basófilos, e os agranulócitos dos quais fazem parte os monócitos e linfócitos. No entanto, alguns peixes possuem células sanguíneas inerentes à espécie, como é o caso do leucócito granular-PAS postivo (LG-granular-PAS) (RANZANI-PAIVA et al., 2013).

Os linfócitos são os menores e os mais abundantes leucócitos encontrados no sangue circulante dos peixes (RANZANI-PAIVA et al., 2013) responsáveis pela imunidade humoral e celular do organismo (PÁDUA et al., 2009). Os monócitos são os principais fagócitos de peixes (SILVA-SOUZA et al., 2002; TAVARES-DIAS; MORAES, 2004) que em casos de processos infecciosos migram dos vasos sanguíneos até o foco inflamatório, sendo então denominados de macrófagos (MARTINS et al., 2009; SANTOS et al., 2009). Os neutrófilos são os principais responsáveis pela defesa contra infecções bacterianas, fagocitando esses microrganismos (RANZANI-PAIVA et al., 2013). Os heterófilos possuem a mesma função dos neutrófilos, mas constituem variedades leucocitárias diferentes (CLAVER; QUAGLIA, 2009), sendo encontrados em apenas algumas espécies de peixes teleósteos. O leucócito PAS-positivo possui a habilidade de migração para o foco inflamatório em processos induzidos experimentalmente, mas sua função nesse sistema ainda não é bem elucidada (MARTINS et

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al., 2009). A função dos eosinófilos ainda é incerta nos peixes, embora existam indícios de sua participação em infecções parasitárias (MARTINS et al., 2004), assim como observado em outros vertebrados. Os basófilos normalmente não são observados no sangue da maioria das espécies de peixes (CLAUSS et al., 2008) e existem evidências de que sua função esteja relacionada ao processo de fagocitose de debris celulares (SATAKE et al., 2009).

Os trombócitos, assim como as plaquetas dos mamíferos, estão envolvidos com a coagulação sanguínea. Não obstante, atuam também na fagocitose, especialmente de debris celulares (MATUSHIMA; MARIANO, 1996; TAVARES-DIAS et al. 2007). Segundo Nagasawa, Sonamoto e Naka (2015), em um estudo realizado com carpas, os trombócitos necessitam de fatores de ativação secretados por outros leucócitos ativados para realizarem a fagocitose. Além disso, possuem habilidade de migração para focos inflamatórios induzidos (RANZANI-PAIVA et al., 2013).

Os estudos hematológicos em peixes possibilitam o conhecimento das condições de equilíbrio normais e patológicas (AZEVEDO et al., 2006b). Assim, os parâmetros sanguíneos podem ser utilizados como indicadores no monitoramento do grau de higidez dos peixes, ou seja, funcionam como ferramenta para identificação do estresse que o ambiente e os patógenos podem submeter os peixes (TAVARES-DIAS et al., 2009), sendo a glicose sanguínea um sensível indicador (IWAMA et al., 1995). Outros fatores que podem influenciar nas variáveis hematológicas são as condições de manejo e a qualidade da água dos cultivos (JERÔNIMO et al., 2011b). Azevedo et al. (2006b) observaram que os peixes avaliados não demonstraram aparentemente, variações hematológicas que pudessem estar relacionadas diretamente com a qualidade da água em dois tipos distintos de cultivo (pesque-pague e consórcio com suínos). Por outro lado, Ghiraldelli et al. (2006), em estudo semelhante, relataram que tilápias mantidas em consorciamento com suínos e alimentadas com sobras de alimentos de restaurante tiveram a saúde prejudicada, representada pela leucocitose observada, o que pode ser indicativo de infecções e ou estresse.

Histopatologia

A histologia é definida pelo estudo dos tecidos e de como eles se organizam para formar os órgãos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008), enquanto a patologia pode ser definida pelo estudo das doenças e suas causas (MCGAVIN; ZACHARY, 2013). Assim, o principal

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objetivo do exame histopatológico é diagnosticar a doença através de alterações patológicas no tecido (TAKASHIMA; HIBIYA, 1995). As alterações histológicas resultam de uma variedade de mudanças bioquímicas e fisiológicas no organismo (HINTON; LAURÉN, 1990). Estas alterações em tecidos de peixes podem ser consequentes aos estressores do meio ambiente (HINTON et al., 1992) ou induzidas por agentes patogênicos (GUERRA-SANTOS et al., 2012; SANTOS et al., 2017).

A lesão deve ser caracterizada morfologicamente e sua relevância está condicionada a sua importância patológica, isto é, à maneira como afeta a função do órgão e a capacidade do peixe de sobreviver (BERNET et al., 1999). As causas de lesões teciduais são inúmeras e incluem fatores intrínsecos e extrínsecos ao organismo, como alterações nutricionais e imunológicas, agentes etiológicos, agentes tóxicos, traumatismos e mutações genéticas, por exemplo. Por outro lado, as respostas às lesões irão variar de acordo com a extensão e duração da lesão e o tipo celular afetado (MCGAVIN; ZACHARY, 2013).

A lesão celular ocorre quando a célula não consegue manter a homeostase, após diferentes estímulos e fatores estressantes (MCGAVIN; ZACHARY, 2013). Desse modo, estados mórbidos são observados, quando os animais não podem manter sua condição normal devido a perturbações na função fisiológica de uma parte ou de todo o corpo (TAKASHIMA; HIBIYA, 1995). De modo geral, as células e tecidos respondem as lesões de três formas: 1) adaptação, 2) degeneração ou acúmulos intra e extracelulares e 3) morte (MCGAVIN; ZACHARY, 2013), existindo assim, lesões reversíveis e irreversíveis.

As lesões reversíveis ou adaptativas são caracterizadas pelo retorno do tecido ao seu estado normal quando cessado o estímulo danoso. Exemplos dessa alteração são hipertrofia (aumento no tamanho de células), hiperplasia (aumento no número de células), atrofia (diminuição no tamanho celular) e degeneração gordurosa. Por outro lado, se o estímulo for persistente ou intenso, pode levar a alterações teciduais irreversíveis, culminando em necrose e morte celular (JONES; HUNT; KING, 2000).

Os órgãos de eleição para estudos histológicos em peixes normalmente são as brânquias, fígado, pâncreas, baço, coração, rim, tegumento, olhos, intestino e bexiga natatória (SARAIVA, 2006), podendo variar com o objetivo do estudo. As brânquias constituem um dos órgãos mais estudados, pois são altamente sensíveis e facilmente danificadas por numerosos poluentes (KARLSSON, 1983). Uma vez

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que as brânquias exercem várias funções vitais e têm uma grande área de superfície em contato com o ambiente externo, são particularmente sensíveis a mudanças químicas e físicas do ambiente aquático, sendo assim o órgão-alvo do peixe para estudos ambientais (CERQUEIRA; FERNANDES, 2002; MALLAT, 1985; MAZON et al., 1999).

Estudos de histopatologia em peixes tem sido realizados no Brasil e no mundo, sendo em sua maior parte para fins experimentais (ALIM; MATTER, 2015; DAVID; KARTHEE, 2015; FIGUEIREDO-FERNANDES et al., 2007; SANTOS et al., 2012), ou ainda como biomarcadores para monitoramentos ambientais (FLORES-LOPES; THOMAZ, 2011; LINS et al., 2010; PEREIRA, et al., 2014; SANTOS-FILHO et al., 2014 ), sendo escassos os estudos com peixes de cultivo. No Brasil, estudos dessa natureza foram realizados por Jerônimo et al. (2014), Rezende et al. (2013) e Videira et al. (2014), entretanto, no estado de Santa Catarina ainda não existem estudos com avaliações histopatológicas realizadas em peixes cultivados para consumo, ficando restrito aos ornamentais (SANTOS et al., 2017).

Elementos-traço

O termo elemento-traço tem sido utilizado para definir metais catiônicos e oxiânions presentes em baixas concentrações, usualmente <1 mg.kg-1 (ESSINGTON, 2004; PIERZYNSKI; SIMS; VANCE., 1994; SPARKS, 1995), sendo esse termo adotado em detrimento da expressão “metal pesado” já que alguns elementos como o arsênio, não se enquadram nessa definição (GUILHERME et al., 2015). Segundo a OMS (1998) eles são classificados em três grupos: 1) essenciais, que desempenham papel importante no metabolismo, mesmo em baixas concentrações, 2) não essenciais, que não possuem função biológica definida, e por fim, 3) tóxicos, que incluem o chumbo, cádmio, mercúrio e arsênio (OMS, 1998).

Do ponto de vista biológico, os últimos elementos supracitados não são essenciais e são considerados muito tóxicos quando estão presentes no meio ambiente, mesmo em baixas concentrações, pois são acumulativos nos organismos dos homens e dos animais (CUNHA; MACHADO, 2004). No entanto, todos os elementos-traço, incluindo os essenciais, podem ser tóxicos quando absorvidos em quantidades excessivas (NASREDDINE et al. 2010). Assim, a concentração do elemento-traço é o principal fator que define se ele exerce funções benéficas ou prejudiciais à saúde humana, sendo através da alimentação, uma das principais maneiras de ingerí-los (MENDIL et al., 2005).

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Os elementos-traço se caracterizam pela capacidade de acumular-se nos componentes do ambiente onde manifestam sua toxicidade, pelo fato de não serem degradáveis. Assim, os solos e sedimentos são os locais de deposição final desses elementos (BAIRD, 2002). Estes elementos estão presentes naturalmente em solos e em sistemas aquáticos superficiais e subsuperficiais mesmo que não haja intervenção antrópica do ambiente, e o aumento em sua concentração pode ocorrer tanto em razão de processos naturais quanto por atividades antropogênicas (GUILHERME et al., 2005). Os processos naturais que contribuem para o aparecimento de elementos-traço nos sistemas aquáticos são o intemperismo de rochas e a lixiviação no perfil do solo, enquanto as fontes antropogênicas estão associadas, principalmente, a atividades de mineração e industriais, além da geração de efluentes municipais (KABATA-PENDIAS; PENDIAS, 2001). Alguns insumos agrícolas ou subprodutos usados na agricultura representam também possível fonte de contaminação por elementos-traço (CAMPOS et al., 2005) no ambiente e consequentemente nos cultivos de peixes.

A bioacumulação desses elementos em peixes pode ocorrer mesmo quando estes contaminantes se encontram em baixas concentrações no ambiente (MACHADO et al., 2002). Neste contexto, os elementos-traço podem ocasionar distúrbios no crescimento e na reprodução além de alterações histopatológicas em peixes (VITEK et al., 2007). Em humanos por sua vez, estão relacionados a efeitos carcinogênicos, doenças cardiovasculares e neurológicas (CALDERON, 2000).

Os peixes absorvem elementos-traço através da pele e brânquias, por duas vias principais, alimento e partículas na água, sendo esta última considerada a mais importante (ALQUEZAR et al., 2008), pois segundo Zheng et al. (2008), mais de 90% da carga de elementos-traço está associada ao material particulado em suspensão e ao sedimento nos ambientes aquáticos. Dessa forma, conhecer a origem do elemento-traço contaminante é de suma importância para toda a cadeia alimentar, uma vez que o peixe, como alimento, pode bioacumular essas substâncias e possibilitar a contaminação do ser humano (MACKAY; CLARK, 1991), já que o consumo de pescado contaminado é uma importante via de exposição humana a elementos tóxicos (FAO, 2010; GAŠPIC et al., 2002).

Ikem et al., (2003) e Carmo et al., (2011), avaliaram a contaminação por elemento traço na musculatura de peixes e também em amostras ambientais (água e sedimento), provenientes respectivamente, do lago Tuskegee, USA e do Estuário de São Vicente,

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Brasil, nos quais os animais estavam inseridos. No Brasil, existem poucos trabalhos relacionados a elemento traços em cultivos de peixes (NUNES et al., 2016), sendo a grande maioria com peixes provenientes de ambientes naturais (CARMO et al., 2011). Nunes et al. (2016) em seu estudo, apresentaram o primeiro registro sobre elementos-traço em tilápia-do-nilo cultivadas no sul de Santa Catarina, no qual observaram Zn, Fe, As e Hg acima dos limites aceitáveis na musculatura dos peixes, atentando para possível contaminação por substâncias tóxicas (As e Hg). Outros estudos com elementos-traço em peixes foram realizados no Brasil (GOMES; SATO, 2011; SOUSA et al., 2015), porém ainda são escassos os estudos em peixes cultivados destinados para o consumo humano.

Contudo, a quantificação das concentrações de elementos-traço em alimentos é de suma importância para a analise de riscos à população humana, visto a possível contaminação ambiental por esses elementos (NIENCHESKI et al., 2001).

Valores de referência

Para avaliar a qualidade nutricional do pescado, e garantir a segurança do consumidor, existem duas resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) vigentes no Brasil. A resolução n° 269/2005, recomenda concentrações diárias de proteínas, vitaminas e minerais para adultos, no qual os valores recomendados para atender às necessidades nutricionais são: Ca = 1000 mg.kg-1; Fe = 14 mg.kg-1; Mg = 260 mg.kg-1; Zn = 7mg.kg-1; I = 0,13 mg.kg-1; Cu = 0,9 mg.kg-1; Se = 0,034 mg.kg-1. Para os elementos Na, Cl e K não há recomendações (ANVISA, 2005). Por sua vez, a resolução n° 42/2013 estipula um limite máximo para contaminantes inorgânicos em alimentos como o pescado, nos quais são considerados de risco o mercúrio, o cádmio, o chumbo e o arsênio, cujas concentrações permitidas no pescado são: As = 1 mg.kg-1; Pb = 0,3 mg.kg-1; Cd= 0,05 mg.kg-1 e Hg = 0,5 mg.kg-1 (ANVISA, 2013), demonstrando a importância da quantificação desses elementos nos peixes, uma das principais fontes de proteína animal para o consumo humano.

Em amostras de água, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) segundo a resolução n° 357/2005, dispõe de uma tabela com padrões para corpos d’água onde haja pesca ou cultura de organismos para fins de consumo intensivo, estabelecendo concentrações máximas para contaminantes. No caso de elementos-traço

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há um limite para o arsênio, onde As total = 0,00014 mg.kg-1 (CONAMA, 2005).

Para o sedimento, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) (Resolução nº 454/2012) estabelece as diretrizes gerais e os procedimentos mínimos para a avaliação do material a ser dragado em águas jurisdicionais brasileiras, e dá outras providências (CONAMA, 2012). Segundo o CONAMA, são definidos critérios de qualidade do sedimento a partir de dois niveis - nível 1: limiar abaixo do qual se prevê baixa probabilidade de efeitos adversos à biota - nível 2: limiar acima do qual se prevê um provável efeito adverso à biota. A resolução CONAMA de 2012 utiliza como valores de referência para materiais dragados de águas doces, os valores estabelecidos anteriormente, pela Enveronment Canadian (EC, 1999), no qual os limites para classificação em níveis 1 e 2 são, respectivamente: Cu = 35,7 mg.kg-1 e 90 mg.kg-1 ; Zn = 123 mg.kg-1 e 315 mg.kg-1 ; As = 5,9 mg.kg-1 e 17 mg.kg-1. Para os elementos Na, Mg, Cl, K, Ca e Fe não há valores estabelecidos.

Características das pisciculturas do presente estudo

Ao longo do ano de 2015 foram realizadas coletas pontuais em 12 pisciculturas do estado de Santa Catarina, sendo três por região. Em maio procedeu-se com as coletas na região Sul, em agosto na região Norte, em outubro no Vale do Itajaí e por fim, em dezembro no Oeste catarinense. As pisciculturas do presente estudo estão localizadas nos municípios de Braço do Norte (28° 16' 30" S 49° 09' 57" O) no Sul do estado, Joinville (26° 18' 14" S 48° 50' 45" O) na região Norte, Gaspar (26° 55' 51" S 48° 57' 32" O) no Vale do Itajaí, e outras três no Oeste catarinense, nos municípios de Caxambú do Sul (27° 09' 39" S 52° 52' 44" O), Pinhalzinho (26° 50' 52" S 52° 59' 31" O) e Barra Bonita (26° 39' 14" S 53° 26' 24" O). Com essa distribuição, buscou-se abranger diversas regiões do estado, marcadas pela alta produtividade e contribuição no setor, sendo assim, um estudo representativo para a comunidade catarinense.

A primeira piscicultura da região Sul (Fig. 1A) trata-se de um pesque-pague, com área total de 24 ha, sendo 2,7 ha de lâmina d’água. Cultiva-se neste local tilápias, carpas, traíras e jundiás, sendo a produção principal de tilápia, com densidade de povoamento de 2 peixes/m³. A alimentação é realizada com ração comercial 32% de proteína bruta, fornecida duas vezes ao dia. Não utiliza-se aerador. Realiza-se desinfecção dos tanques com cal virgem após a despesca. A segunda

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piscicultura de Braço do Norte (Fig. 1B) conta com área total de 14 ha. O cultivo de tilápias era consorciado com suínos no ano anterior a coleta, mas no momento trata-se de um monocultivo de tilápias. A densidade de povoamento no tanque é desconhecida. Os peixes são alimentados com ração comercial 32% de proteína bruta, fornecida três vezes ao dia. O manejo de qualidade de água é realizado mensalmente por técnicos da Epagri. Realiza-se desinfecção dos tanques com cal virgem entre safras e utiliza-se o aerador diariamente. A última piscicultura visitada no munícipio (Fig. 2A) possui área total de 19 ha. A espécie cultivada é a tilápia, com densidade de povoamento de 4 a 5 peixes/m³. A ração é ofertada com auxílio de tratador automático na frequência de quatro a cinco vezes por dia, sendo que no inverno não é ofertada. A única prática de manejo adotada é o uso de aerador.

Na região Norte, a primeira piscicultura visitada (Fig. 2B) possui 20 ha, sendo 8 ha de lâmina d’água. São cultivadas tilápia e carpa-capim, com densidade de povoamento de 4 peixes/m³. A ração comercial é fornecida aos animais duas vezes ao dia. A qualidade de água é acompanhada ao menos uma vez por mês pela Fundação Municipal 25 de julho. Para fertilização dos viveiros utiliza-se uréia e farelo de arroz ou fosfato triplo entre safras. O uso de aerador é uma prática diária e como profilaxia utiliza-se banhos de sal em cada manejo realizado. A segunda piscicultura de Joinville (Fig. 3A) possui área total de aproximadamente 18 ha, sendo 2,8 ha de lâmina d’água. São cultivadas tilápias e traíras, com densidade de povoamento de 2 peixes/m³. O manejo alimentar é realizado uma vez ao dia no inverno e duas vezes ao dia no verão. A qualidade da água é mensurada uma vez por semana pelo proprietário. Segue-se um protocolo para fertilização dos tanques, no qual, são utilizados uma combinação de esterco de galinha, uréia e fosfato triplo. No tanque no qual foram coletados os peixes, é realizado também a desinfecção dos tanques com cal virgem entre safras e utilizado o aerador a noite. Como profilaxia são utilizados banhos de sal em todos os manejos realizados com os alevinos. A terceira piscicultura de Joinville (Fig. 3B), possui área total de 32 ha, sendo 4,7 ha de lâmina d’água. Conta com um total de 70 tanques, e as espécies cultivadas incluem tilápias, carpas e traíras. O tanque em que as tilápias foram coletadas, trata-se de um tanque “depósito” no qual existem várias espécies de peixes, em sua maioria tilápias – sendo impossível saber a densidade de povoamento. O manejo alimentar é realizado uma vez ao dia no inverno. Utiliza-se aerador, e como profilaxia são administrados banhos de sal (3%) por 2 minutos.

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Na região do Vale do Itajaí, a primeira piscicultura visitada (Fig. 4A) possui área total de 7,2 ha, sendo 1 ha de lâmina d’água por viveiro. O cultivo principal de tilápias (linhagem gift) é mantido com carpas para equilíbrio ambiental, cuja densidade de povoamento é de 3 peixes/m³. A ração comercial é fornecida três vezes ao dia e o manejo de qualidade da água é realizado duas vezes por semana. Para fertilização dos tanques segue-se um protocolo utilizando 50 kg de superfosfato triplo por tanque entre safras. Realiza-se a desinfecção dos tanques com cal virgem e ainda, o aerador é ligado a noite e ao meio dia por 30 minutos. Como profilaxia são administrados banhos de sal ao manejar os alevinos. A segunda piscicultura visitada (Fig. 4B), trata-se de um pesque-pague, com área total de 4 ha. O sistema é caracterizado por policultivo com predominância de tilápias, com densidade de estocagem de 8 a 10 peixes/m³. A ração comercial é ofertada uma vez ao dia. Realiza-se a desinfecção dos tanques com cal virgem, e o aerador é ligado das 3:00 às 8:00 da manhã e ao meio dia das 11:45 às 12:45. Como profilaxia utiliza-se sal no tanque de engorda. A terceira e última piscicultura da região (Fig. 5A), possui área total de 42 ha. O sistema é do tipo policultivo com tilápias, traíras, jundiás e carpas, sendo a produção principal de tilápias. A densidade de povoamento conta com 5 peixes/m³. Utiliza-se ração comercial cinco vezes ao dia e a qualidade de água é mensurada mensalmente. Para fertilizar os tanques utiliza-se adubo tríplice (CPK) e uréia. É realizado a desinfecção dos tanques com cal virgem entre safras e o aerador ligado das 22h às 7h e rapidamente ao meio dia. Como profilaxia, é utilizado o sal antes do transporte.

Localizada em Caxambú do Sul, a primeira piscicultura visitada no Oeste catarinense (Fig. 5B) possui área total de 12 ha. O sistema de cultivo empregado é o policultivo que conta com tilápias, traíras, jundiás, cascudos e carpas. O viveiro em que foi coletado os peixes tem área de 0,82 ha e a densidade de povoamento é de 3,6 peixes/m³. No manejo alimentar, utiliza-se ração comercial 32% de proteína bruta, sem um controle de quantidade e frequência fornecida por dia. A qualidade da água é mensurada mensalmente. Quando necessário, utilizam-se como fertilizantes o adubo químico e a uréia. Entre safras realiza-se secagem, desinfecção e adubação, e o uso do aerador é diário. A segunda piscicultura do Oeste (Fig. 6A) está localizada em Pinhalzinho e trata-se de um pesque-pague. A área total da propriedade é de 26 ha. O sistema é o policultivo com densidade de povoamento de 4 peixes/m³. As espécies cultivadas além da tilápia são a carpa-húngara, carpa-capim e carpa-cabeça-grande. São fornecidas rações comerciais duas vezes ao dia. Entre safras é realizado secagem dos tanques, desinfecção e

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adubação. Segue-se esquema definido para fertilizar os tanques, no qual utiliza-se adubo químico. Não utiliza-se aerador. Como profilaxia são administrados banhos de sal e calda com pinus nos tanques de engorda. A última piscicultura (Fig. 6B) está localizada no município de Barra Bonita e conta com uma área total de 17 ha. Trata-se de um policultivo com predominância de tilápias revertidas. As espécies cultivadas além da tilápia são: carpa-cabeçuda, carpa-húngara, carpa-comum, pintado e traíra. A densidade de povoamento é de 2,5 peixes/m³. A ração comercial é ofertada oito vezes ao dia através de tratador automático. A qualidade de água é mensurada mensalmente por técnicos. Entre safras realiza-se secagem, desinfecção e adubação. Segue-se esquema definido para fertilizar os tanques, utilizando adubo químico e orgânico. A aeração é utilizada diariamente.

Figura 1. Pisciculturas 1 (A) e 2 (B) de Braço do Norte – Região Sul.

Figura 2. A. Piscicultura 3 de Braço do Norte – Região Sul; B. Piscicultura 1 de

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Figura 3. Pisciculturas 2 (A) e 3 (B) de Joinville – Região Norte.

Figura 4. Pisciculturas 1 (A) e 2 (B) de Gaspar – Região do Vale do Itajaí.

Figura 5. A. Piscicultura 3 de Gaspar – Região do Vale do Itajaí; B.

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Figura 6. Pisciculturas 2 (A) e 3 (B) da região Oeste, nos munícipios de

Caxambú do Sul e Barra Bonita, respectivamente.

JUSTIFICATIVA

Com a rápida expansão da aquicultura, problemas sanitários são constantes e resultam em grandes perdas econômicas. Doenças parasitárias constituem um dos maiores desafios nas produções animais e são ligeiramente acentuadas na aquicultura visto que a disseminação pelo ambiente aquático é veloz e o tratamento muitas vezes dificultado e ineficaz. Diversos fatores, como manejos inadequados e sistema intensivo culminam em estresse crônico dos peixes cultivados, favorecendo a disseminação de doenças. A identificação dos parâmetros/condições diretamente associados aos surtos epizoóticos de determinados agentes etiológicos merecem atenção. Dessa forma, é necessário um conhecimento minucioso sobre a patogenia de cada agente etiológico, bem como de sua patogenicidade concomitante a outros agentes estressores, para que possa se desenvolver formas eficazes de prevenção e controle, mitigando impactos. Além disso, fatores antrópicos podem inviabilizar o consumo dos peixes, devido a falta de tratamento adequado de efluentes industriais e atividades agropecuárias em torno das pisciculturas. Desta forma, tanto as doenças como a contaminação dos peixes podem comprometer a lucratividade da atividade, inviabilizando o sucesso da produção. Neste contexto, é de fundamental importância o reconhecimento da fauna parasitária, bem como a sua biologia e fatores que predispõem sua proliferação, além de determinar os níveis de elementos-traço nos peixes cultivados. Este estudo se justifica pela necessidade de um acompanhamento sanitário in loco nas pisciculturas do estado, pois até o momento, não existem estudos prévios de histopatologia em peixes cultivados em Santa

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Catarina, e as análises de elementos-traço no músculo e ambiente são escassas.

OBJETIVOS Geral

 Descrever aspectos sanitários e patológicos de tilápia-do-nilo cultivada e destinada para consumo humano em Santa Catarina.

Específicos

 Identificar e caracterizar a fauna parasitária de tilápia-do-nilo cultivada no estado de Santa Catarina;

 Determinar os parâmetros hematológicos de tilápia-do-nilo cultivada no estado de Santa Catarina;

 Analisar as alterações teciduais nos tecidos dos peixes;  Determinar as concentrações de elementos-traço na

musculatura dos peixes, sedimento, água e ração e verificar se está compatível com os valores determinados pelas legislações vigentes no Brasil.

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CAPÍTULO I

Análise hematológica e fator de condição relativo (kn) de Oreochromis niloticus naturalmente parasitadas

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Abstract

The aime of this study was to evaluate the hematological profile and the relative condition factor (Kn) of Nile tilapia naturally parasitized in twelve fish farms in the State of Santa Catarina. Therefore, 240 fish were collected from four regions of the state, covering three tilapia farms per region. After capture, the fish were anesthetized with eugenol 75 mg.L and the blood was collected by puncturing the caudal vein with 10% EDTA-coted syringe. Subsequently, the fish were necropsied for parasitological analysis. The results were compared with the Kruskal-Wallis test and the correlations were verified with the Spearman test (p <0.05). All fish collected appeared to be clinically healthy. Yet, the parasitological analysis revealed high infestations of Ichthyophthririus multifiliis in the fish gills of the South and West regions. The presence of Trichodina magna and T. compacta was observed on a low intensity at the body surface of the fish of all the properties. Trichodina spp. was found in high intensity parasitizing the gills of Northern, Itajaí Valley and Western regions fish, nonetheless in those regions the presence of Monogenea Cichlidogyrus sclerosus and C. halli, in the fish gills was observed. The relative condition factor (Kn) showed that despite the parasitism, the fish presented good health, without growth impairment. Moreover, the hematological profile had altered parameters, featuring monocytosis and thrombocytopenia, possibly associated with high parasitic intensities. The observed correlations suggest that neutrophils and monocytes are directly involved in an organic defense of fish against parasites, thus monocytes are especially targeted in defense against I. multifilis.

Keywords: Nile tilapia, Monogenea, Trichodina, Ichthyophthririus

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Introdução

Atualmente a aquicultura contribui com metade de todos peixes para o consumo humano no mundo, atingindo recorde em 2014, com o consumo per capita de 20 kg/habitante/ano [1]. A preferência pelo pescado se dá por vários fatores como a qualidade nutricional (rico em proteínas e ácidos graxos poliinsaturados), sensorial (sabor agradável e suave), econômica e de conveniência, apresentando potencial para o mercado [2]. Nesse contexto, a tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) apresenta características favoráveis ao cultivo e ao consumo [3], sendo comercializada amplamente em todo o mundo [4]. Não obstante, é a segunda espécie de peixe mais cultivada no mundo e a primeira no Brasil [5].

Com a intensificação da piscicultura, cria-se um ambiente favorável para surtos epizoóticos, devido a diversos fatores que contribuem para o surgimento de doenças [6]. As doenças parasitárias constituem um fator limitante na produção de peixes, pois além das lesões causadas servirem de portas de entrada para infecções secundárias [7, 8], alguns trabalhos sugerem que os parasitos são também vetores de outros patógenos, que podem culminar em mortalidade aguda dos peixes [9, 10]. Ectoparasitos são comuns aos cultivos de tilápias e tem sido relatados por diversos autores [11-14] e segundo Moraes e Martins estão diretamente relacionados a qualidade da água e o manejo dos animais [15].

A hematologia é uma ferramenta diagnóstica, que vem sendo utilizada em estudos com peixes e possibilita o conhecimento das condições de equilíbrio normais e patológicas [16]. Os parâmetros sanguíneos podem ser utilizados como indicadores no monitoramento do grau de higidez dos peixes, identificando de forma eficaz respostas frente aos desafios de criação, como o estresse que o ambiente e os patógenos podem submeter os peixes [6, 17]. Tavares-Dias et al. avaliando tilápias-do-nilo oriundas de uma piscicultura de Franca, estado de São Paulo, observaram que o parasitismo por Ichthyophthririus multifiliis Fouquet, 1876 (Protozoa: Ciliophora) e Saprolegnia sp. provocou anemia e aumento no percentual de neutrófilos e monócitos nos peixes [18]. Por outro lado, Ranzani-Paiva et al. e Ghiraldelli et al. em estudos parasitológicos com tilápias-do-nilo oriundas respectivamente, de represa e cultivos, não observaram alterações significativas nas variáveis hematológicas, fato atribuído a baixa intensidade de parasitos [19, 20]. Os autores concluíram assim, que os peixes apresentavam boas condições de saúde.

Referências

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