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1 Boas Práticas no Respeito pelos Recursos Hídricos

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Boas Práticas… no Respeito pelos Recursos Hídricos

1. Considerações gerais

A sociedade em geral, e em particular cada um de nós, deve promover e utilizar os recursos hídricos — nomeadamente as águas superficiais — de forma a contribuir para o desagravamento das consequências das inundações provenientes das cheias, evitando contribuir para piorar as condições de escoamento nas linhas de água. A filosofia de ocupação do território tem de ser alterada de “os de jusante pagam os desvarios de montante” para “sendo parte do problema, tem de ser parte da solução”. Face às questões relacionadas com a actividade de licenciamento de utilização do domínio hídrico, pretende-se, com esta publicação, promover a aplicação de medidas

As inundações resultam de

processos naturais. A ocupação dos solos altera no entanto estes processos.

A construção e o uso progressivo do solo, quer pela sua impermea-bilização, quer pela sua esterili-zação, agravam as condições naturais de escoamento, dimi-nuindo a segurança de pessoas e de bens.

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que perspectivem a visibilidade e a eficácia de uma nova cultura e novas atitudes em relação ao ambiente no território que ocupamos, necessárias para minimização de problemas de qualidade da água e de degradação dos meios hídricos.

Lembremos que o sector dos seguros ainda não está adequado para cobrir os danos de inundação provocados por causas naturais (por exemplo, subida do nível da água dos cursos de água), pelo que compete a todos e a cada um de nós assegurar que da nossa actividade não resultem tais efeitos nem o seu agravamento, e que as nossas habitações e construções estejam a salvo das cheias.

1.1. As razões desta publicação

A utilidade de uma publicação reside na sua capacidade de servir de veículo de transmissão de informação básica relativa a certa e determinada matéria. Neste caso, a utilidade assentou nas seguintes razões:

• A água é um elemento indispensável à vida, devendo ser factor de enriquecimento da qualidade de vida;

• Existe uma grande pressão para ocupação do território, nomeadamente das zonas ribeirinhas, associada à construção desordenada, e à ocupação de linhas de água e zonas de inundação, inibindo os mecanismos naturais de mitigação dos efeitos;

• Assiste-se a um aumento da percentagem do território com ocupação por construções e infra-estruturas com elevada percentagem de solos

A alteração da morfologia de leitos e zonas de inundação e a

remoção de vegetação ripícola têm gerado redes hidrográficas

desequilibradas e desordenadas no contexto do uso e ocupação do território.

Tal tem sido responsável por grandes inundações mesmo em zonas já relativamente afastadas dos leitos normais das linhas de água.

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impermeabilizados, responsáveis por acréscimos de caudal em relação às condições naturais de escoamento;

• É necessário promover a coesão entre a legislação, e a justificação e os princípios de decisão que estão na base dos pressupostos de decisão das entidades responsáveis da gestão do território, de forma a permitir a definição das melhores soluções em termos ambientais, e a garantir o bom funcionamento dos ecossistemas;

• É necessário esclarecer e ajudar todos os cidadãos, incluindo promotores, empreiteiros, engenheiros e arquitectos, para a melhor compreensão da necessidade de garantir o funcionamento e equilíbrio dos ecossistemas, através do uso de medidas e práticas que garantam a gestão integrada e planeada dos recursos hídricos;

• É necessário sensibilizar a sociedade para a compreensão e para a participação activa no desenvolvimento sustentável do país;

• É necessário utilizar os recursos naturais sem comprometer a sua disponibilidade, usufruir a natureza sem a degradar, buscando a melhoria da qualidade de vida;

• Ao longo do tempo, e por via da ocupação do território, tem havido um aumento do volume de escoamento e maior frequência de inundações;

• O desrespeito pela faixa de protecção às linhas de água e outras medidas reguladoras pode assumir proporções aflitivas e consequentemente colocar

Fazer uso do recurso natural “Água” sem comprometer a sua

utilização futura, e usufruto da natureza sem a devastar, é um desafio que se coloca em busca da melhoria da qualidade de vida.

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em causa as condições anteriormente existentes e o desenvolvimento sustentável dos nossos recursos;

• O crescimento da população tem provocado o agravamento da degradação da qualidade da água, por se relacionar directamente com descargas ilegais de efluentes;

• Quer a alteração da morfologia de leitos e zonas de inundação, quer a remoção de vegetação ripícola, têm gerado novas e desordenadas redes hidrográficas, constituindo agravamento das inundações, mesmo em zonas mais distantes das linhas de água.

1.2. Oportunidade face à nova Lei da Água

A Lei n.º 58/2005 de 29 de Dezembro (Lei da Água) e a Lei n.º 54/2005 de 15 de Novembro (Lei da Titularidade dos Recursos Hídricos), introduziram novos conceitos de gestão de recursos hídricos e sintetizam, englobam e eliminam conteúdos de vários diplomas até então dispersos.

A Lei n.º 58/2005 aprova a Lei da Água, transpondo para a Ordem Jurídica Nacional a Directiva n.º 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outubro, estabelecendo as bases e o quadro institucional para a gestão sustentável das águas.

Com a publicação destas leis, voltou a colocar-se o ênfase na temática da água, face à escassez cada vez mais notória deste bem, no seu estado natural.

A nova legislação relativa aos recursos hídricos, de 15 de

Novembro e 29 de Dezembro de 2005, vem responder, por um lado, à necessidade de transposição da Directiva-Quadro da Água e, por outro lado, à necessidade de harmonizar e juntar, num só corpo legislativo, vários diplomas

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A Lei n.º 58/2005 apresenta como restrições de utilidade pública e outras condicionantes relativas às zonas adjacentes, ou a proibição da ocupação edificada, ou a edificação condicionada, definindo regras de ocupação. Nestas zonas, é interdita a destruição do coberto vegetal ou a alteração do relevo natural (com excepção da prática de culturas tradicionalmente integradas em explorações agrícolas), a instalação de depósitos de materiais, a realização de construções de edifícios ou quaisquer outras obras que possam constituir obstrução à livre passagem da água.

A Lei n.º 58/2005 estabelece ainda o enquadramento para a gestão das águas superficiais (águas interiores, de transição e costeiras) e das águas subterrâneas, assegurando a transposição da Directiva n.º 2000/60/CE, de forma a evitar a continuação da degradação dos ecossistemas aquáticos, terrestres e zonas húmidas. Procura-se promover uma utilização sustentável da água, através da protecção reforçada e melhoramento do ambiente aquático e de mitigação dos efeitos das inundações e das secas.

Pretende-se que o ordenamento do território, em articulação com os recursos hídricos, possa compatibilizar a utilização sustentável desses recursos, com a sua protecção e valorização, bem como com a protecção de pessoas e bens contra fenómenos extremos associados às águas, através de planos e medidas de protecção e valorização dos recursos hídricos.

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“Todos os rios entram no mar, e o mar não transborda. Vão desaguar no lugar donde saíram, para tornarem a correr.”

Eclesiastes, Prólogo, 7 1.3. Sistematização e Regulamentação

As utilizações dos solos podem alterar o ciclo natural da água. Essas alterações resultam de mudanças nos diversos sistemas que compõem o ciclo. A redução da infiltração superficial leva ao incremento do escoamento superficial da água proveniente das chuvas e à diminuição da recarga subterrânea e, consequentemente, à diminuição do escoamento de base dos cursos de água.

É necessário pois o estabelecimento de medidas de planeamento e gestão da drenagem das águas superficiais, protegendo-as dos impactes adversos e do escoamento descontrolado. E isso resulta tanto da promoção do ordenamento adequado como da sistematização das águas superficiais.

Antes de passarmos ao tema da regulamentação de medidas, urge compreender alguns conceitos, especificamente o do escoamento superficial torrencial (stormwater), que resulta do desenvolvimento extensivo das zonas urbanizadas, e também a questão dos impactes resultantes na hidrologia das bacias, e na qualidade da água e dos sistemas ecológicos.

As cheias são um acontecimento natural ou provocado pela alteração humana nas bacias hidrográficas, modificando as condições de escoamento, e podendo provocar inundações. Ocorrem como resultado de chuvadas intensas e concentradas que contribuem para caudais superiores aos caudais que as linhas de água e/ou estruturas têm capacidade de escoar. As águas transbordam dos seus leitos convergindo e concentrando-se nas zonas baixas e/ou mais planas e pondo em risco

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pessoas e bens. As cheias estão associadas à ocorrência de escoamento superficial directo, intenso, que pode, em certas circunstâncias e por ocorrência repentina, provocar a inundação de terrenos contíguos aos leitos de linhas de água.

Para diminuir ou para obstar aos efeitos das cheias, podem aplicar-se medidas que conduzem, particularmente, à retenção e detenção dos escoamentos, limitando os volumes de cheia, e reduzindo os caudais e a velocidade de escoamento, e por essa via aumentar, consequentemente, os tempos de concentração das cheias.

1.4. Conceitos Básicos de Hidrologia

Em termos muito genéricos, o ciclo hidrológico pode ser descrito, começando pela precipitação que se forma nas nuvens e atinge a superfície terrestre. Da chuva que ocorre sobre os terrenos, uma parte infiltra-se e é armazenada superficialmente no solo sendo aí utilizada pelas plantas, que mais tarde a devolvem ao ciclo sob a forma gasosa, processo este designado por evapotranspiração. A água infiltrada, e que não é utilizada pelas plantas, caminha sub sub-superficialmente e em profundidade, dando origem respectivamente, aos escoamentos sub-superficiais e aos escoamentos, em grandes mantos e aquíferos de águas subterrâneas. Uma parte desse escoamento subterrâneo fica detido nos aquíferos por mais ou menos tempo, consoante as suas características geológicas, ressurgindo mais tarde nos leitos fluviais, sob a forma de escoamento base.

A parte da precipitação que não dá origem à infiltração escoa-se superficialmente no espaço interfluvial e deste passa para a rede de drenagem, podendo desaguar em

“A b de dr qu se um O Ciclo Hidrológico

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lagos, lagoas, ou no mar. Alguma desta água evapora-se, juntando-se à evapotranspiração e contribuindo para a formação das nuvens que mais tarde darão de novo origem à precipitação e à renovação do ciclo.

A descrição sumária atrás efectuada contempla unicamente a parte natural do ciclo em zonas não artificializadas, como se pode observar na figura seguinte.

Ciclo da água que ocorre sobre

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Ora o que acontece na realidade, e em face da ocupação humana, é que, consoante o maior ou menor grau de urbanização da zona, o ciclo hidrológico sofre algumas alterações, em várias escalas.

A precipitação, quando ocorre em zonas de cabeceira e terrenos cujas condições naturais foram adulteradas com acréscimo de percentagem de área impermeabilizada, vai originar maior quantidade de escoamentos superficiais e menores infiltrações.

Com a diminuição do escoamento subterrâneo, em detrimento do escoamento superficial, as redes hidrográficas vão drenar para os meios receptores, essencialmente sob a forma de escoamento superficial. Com esses caudais elevados, os níveis da superfície livre tendem a exceder os das margens dos rios, invadindo as zonas adjacentes de menor cota. Frequentemente, as zonas baixas adjacentes aos rios são muito férteis e populosas, pelo o aumento do volume e da velocidade do escoamento, face à vulnerabilidade das populações locais, podem causar danos elevados.

O aumento da quantidade do escoamento superficial, e a diminuição do tempo de concentração, diminui o tempo de resposta da bacia. As velocidades elevadas do escoamento provocam erosão e ravinamentos a montante, e provocam o arrastamento rápido de materiais até às zonas ribeirinhas a jusante

A Impermeabilização promove

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Se se continuar a alterar o normal funcionamento do ciclo da água, pela crescente ocupação urbana e impermeabilização dos terrenos nas zonas ribeirinhas e de cabeceira, a situação será crescentemente agravada.

A artificialização do uso do solo reside na construção de casas e edifícios de modo geral, incluindo também os centros comerciais, os loteamentos, os empreendimentos turísticos, os arruamentos e parques de estacionamento, entre outros, com a utilização de materiais impermeáveis como os betões, argamassas e asfalto.

Ciclo da água que ocorre sobre

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O resultado da relação entre a impermeabilização, a evapotranspiração, a infiltração e o escoamento, em percentagem da precipitação, está patente na figura seguinte (resultante de estudos realizados pela Unesco nos EUA e na Austrália).

A evolução do desenvolvimento da paisagem, tem sido uma constante do desenvolvimento humano, com a alteração da superfície terrestre, com o estabelecimento de superfícies impermeáveis em edifícios, estradas, parques de

Esquema representativo das

condições de escoamento e infiltração face à percentagem de área impermeabilizada

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estacionamento e construção de sistemas de drenagem pluvial. Essa transformação/substituição incrementa o volume de escoamento superficial dos locais, alterando as condições de drenagem.

Adicionalmente, perdem-se os mecanismos naturais para a eliminação de poluentes provenientes da vegetação e solos.

Durante as operações de construção, os terrenos ficam expostos à chuva, o que faz aumentar o potencial para a erosão e transporte de sedimentos.

O desenvolvimento pode também introduzir novas fontes de poluição pelas actividades associadas à ocupação residencial, comercial e industrial do território. Este processo de desenvolvimento pode ser designado de “Urbanização”.

O conceito de “Urbanização” surge pois como atributo que permite quantificar o estado de alteração de uma bacia hidrográfica, tendo já numerosos estudos apresentado e documentado os efeitos cumulativos da “Urbanização” nas bacias hidrográficas e na sua ecologia.

A alteração do relevo existente, assim como a alteração da vegetação na envolvente das zonas urbanizadas tem impactes importantes no ciclo hidrológico.

Particularmente, as superfícies ocupadas por pavimentos, e os arruamentos, fazendo comportam-se como verdadeiros leitos de escoamentos. Esse efeito é ainda

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agravado, quando essa ocupação se faz muito próximo das linhas de água, e nos respectivos leitos de inundação.

1.5. Objectivos desta publicação e das Boas Práticas em Recursos Hídricos Como objectivos e princípios básicos das boas práticas a adoptar, enumeram-se:

• Minimizar os efeitos que contribuem para o acréscimo de escoamento gerado pela ocupação do solo e impermeabilização associada;

• Proporcionar aos utilizadores e decisores as ferramentas que possam contribuir para o planeamento e desenvolvimento de novas soluções, primando pela manutenção e integridade de meios hídricos, incluindo os cursos de água, as zonas húmidas e os aquíferos, assegurando as trocas da água no ciclo hidrológico;

• Reduzir a poluição dos escoamentos superficiais;

• Promover boas práticas, não só como apoio para planos municipais de ordenamento do território e novas obras/construções, como também para adopção em zonas já edificadas que careçam de reabilitação;

• Melhorar a qualidade de vida de zonas urbanizadas e dos sistemas de drenagem do escoamento superficial da água das chuvas;

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• Permitir a articulação entre as questões relativas à utilização do domínio hídrico e o correcto ordenamento do território;

• Preservar a topografia existente e as condições naturais dos cursos de água e das zonas ribeirinhas;

• Proteger os recursos hídricos superficiais e subterrâneos;

• Integrar as linhas de água em corredores verdes, promovendo secções dimensionadas para escoamentos torrenciais, mas optimizando o uso de tais corredores como espaços verdes públicos, mediante a criação de parques urbanos passíveis de ser usados em actividades recreativas e de lazer;

• Estabelecer bases para a concepção de projectos de intervenção no sentido da garantia de melhoria da qualidade da água;

• Definir conceitos de controlo estrutural e não estrutural;

• Indicar aspectos da avaliação preliminar para o estabelecimento de métodos a promover pelas entidades licenciadoras, com vista ao dimensionamento de obras e intervenções em domínio hídrico;

• Minimizar as áreas impermeabilizadas;

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• Promover a infiltração (onde apropriado);

• Proteger a vegetação existente, particularmente a ripícola;

• Manter as linhas de água a céu aberto, sempre que possível, no seu estado natural.

Referências

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