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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato

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Academic year: 2021

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Relatório do 12º Encontro Nacional de Congregações e Movimentos Juvenis

Belo Horizonte,13 a 16 de setembro de 2007

De todos os cantos vamos chegando, trazendo nossas experiências, nossas expectativas, nossas alegrias, nossas cores e nossos sabores. Encontramo-nos no Belo Horizonte, das belas Minas Gerais, na Casa de Retiros Santíssima Trindade, para o 12º Encontro Nacional de Congregações de Movimentos Juvenis - ECMJ.

O encontro inicia-se com o almoço, seguido de descanso para os que chegam de viagem, ou momento de colocar a conversa em dia, para os que se reencontram e querem matar a saudade dos/as amigos/as.

Às 15h, um lanche, acompanhado do som do violão e das belas vozes de Zé Wilson e Ceila. Já na sala, surpreende-nos o silêncio provocado por um barulho que se assemelha a um riacho embalado pelo vento. Em seguida, entoa-se: “ Mudarei o sertão em açude, terra seca em olho d água. Assim falou o Senhor das andanças, para dar ao seu povo esperança” .

Três jovens caminham pelo centro, trazendo nas mãos cântaros de água. Saúdam aos presentes: Aqui viemos de tantas águas! E de que águas viemos afinal? Cada um/a diz os estados de onde vêm: RS, SP, GO, MG, BA, SC, PI, RJ, DF, ES, PE, PA, MT, AL.

E continuam nossos animadores: Se viemos de tantos lugares, temos nossas sedes diversificadas. Que sede temos? Sede de uma Igreja que saiba ouvir e acolher os jovens, mais compromisso com as causas sociais; discernimento de propostas para a juventude; de forma concreta; justiça; punição para os corruptos de nosso país; esperança de que a juventude tenha espaço para viver e crescer; da dimensão missionária, sem fronteiras; de opção efetiva pela juventude; de consciência política juvenil; de Políticas Públicas para a juventude; de chuva, em tempos de queimadas e destruição; de uma Igreja profética; de uma espiritualidade encarnada; de uma Igreja ecumênica.

Ainda uma outra pergunta vai fazendo com que o grupo se torne mais próximo: - Que águas trazemos em nossos cântaros? A água da diversidade, da igualdade, da mística e da profecia, da resistência e da indignação, das tribos juvenis, da partilha, da vida, do comprometimento em estar com a juventude,

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da fidelidade ao projeto de Deus, de um outro mundo possível, construído junto com a juventude; do sentido de vida para a juventude, da parceria e da comunhão de sonhos.

Em seguida, abraçados em um grande círculo. A animadora convida o grupo a abraçar individualmente, o maior número de pessoas, repetindo: “ Senhor, dá-nos sempre desta água, para que tenhamos mais sede” .

Pe. Gisley propõe uma dinâmica de conhecimento, pedindo aos participantes para levar apenas um símbolo de identificação pessoal. Para isso, chama algumas pessoas dentre os participantes, dá-lhes seu crachá e estas, por sua vez, chamam os outros nomes que estão nos crachás que receberam. Desta forma vão se constituindo grupos.

Passos da dinâmica:

1-Cada grupo recebe uma folha de papel grafite, pincéis e as seguintes orientações: no papel deve haver espaço para que cada membro do grupo desenhe quatro figuras geométricas: triângulo, círculo, quadrado e retângulo.

Dentro do triângulo, deve se expressar, em forma de desenho: quem sou eu, o que eu faço e onde estou presente? Dentro do retângulo, um fato marcante da juventude; Dentro do círculo, uma idéia sobre a juventude, dita pelo/a fundador; dentro do quadrado, a experiência de trabalho com as juventudes e os adolescentes.

2-Concluída esta etapa, cada um deve colocar, dentro do triângulo, um símbolo pessoal e depois traçar linhas entre uma figura e outra, até ligar todas elas.

3-Feito isso, descobrir no grupo, a pessoa mais nova e a mais velha, e seguir este procedimento: A mais nova joga o dado, a mais velha anda com seu símbolo pelas figuras geométricas conforme a quantidade de casas correspondente ao jogo de dados; na figura que parar o símbolo, a pessoa que fez o desenho conta a história correspondente. Após contar a história, joga o dado e anda com seu símbolo o número de casas do jogo de dados. E assim sucessivamente até que todos os participantes do grupo tenham a possibilidade de partilhar suas histórias de vida.

Para esta atividade deu-se um tempo de 40 minutos.

Encerrada a partilha, Pe. Gisley chamou o grupo para pegar as pastas com o material do encontro, de forma animada, em um grande círculo, dançando ao som de um pout-pourri.Com o material em mãos, cada participante disse o nome, cidade de onde veio, Congregação, Instituto ou Diocese que representa. As apresentações foram encerradas com uma ciranda.

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Pe. Gisley dá as Boas Vindas, em nome do Setor Juventude da CNBB e prossegue com a leitura da programação do encontro. Recorda os objetivos gerais e específicos, mencionados na carta convite; em seguida, dá algumas orientações sobre a organização da casa e apresenta a equipe de coordenação: Silvano, Secretário da PJB, José Wilson (Jesuíta), Edna (Casa da Juventude), Edgar (Secretário das PJs Leste 2), bem como as pessoas que acolheram o convite para prestação de serviços como secretaria: Ir. Janete Silva e Ir. Raquel Cassini (Irs. Da Imaculada Conceição de Castres e confraternização Ir. Lúcia Araújo (Sagrado Coração de Maria). A liturgia fica ao encargo do Pe. Mirim (Estigmatinos) e Edna (CAJU).

Fez-se pausa para o jantar, e às 20h encontramo-nos para dar continuidade à programação.

Num ambiente de silêncio, um cenário com muitas luzes e cântaros cheios de água, favoreceram uma Leitura Orante da Bíblia. Fomos convidados a rezar as marcas da juventude em nós e em nossa missão. Após a leitura de Ap 22,1-2, refletimos sobre as questões:

-O que este texto me diz no trabalho com juventude?

-Quando me descobri vocacionado/a ao trabalho com jovens? -O que Deus me diz através da juventude?

-Em que a juventude alimenta minha vocação?

-Que pessoas e projetos inspiram a minha dedicação à juventude?

Houve partilha em pequenos grupos e em seguida, ao redor do grande cântaro, cada um/a, com uma cuia de água, recordava nomes de pessoas e projetos que o inspiram no trabalho com as juventudes. Encerramos o dia com uma bênção proferida pelo Pe.Mirim.

14 de setembro

Tema: Realidade Juvenil

Assessoria: Carmem Lúcia Teixeira Coordenação: Edna e Silvano

Inicia-se o dia com o Ofício Divino da Juventude, celebrando a festa da Exaltação da Santa Cruz, recordando as realidades de cruzes e as chagas da juventude. Lembrou-se também um ano da passagem de nosso saudoso Dom José Mauro, que faleceu quando ia assessorar o 11º ENCMJ, vítima de um acidente rodoviário na violência das estradas.

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Apresenta também a assessora Carmem Lúcia Teixeira, que deverá permanecer até o final do encontro, dando alguns elementos metodológicos para planejamento, no trabalho com a juventude. A assessora inicia sua auto-apresentação lembrando que a ação de apresentar-se não exerce apenas a função de fazer as pessoas saberem por onde andamos, ou que tipo de capacitação temos, mas quem somos e a partir de onde falamos.

Fala sobre a importância da memória, para o exercício que se fará durante esses dias.

Propõe como primeiro instrumento de trabalho, fazer memória do dia anterior, destacando, na metade de uma folha branca distribuída entre os participantes: que qualidades eu tenho e gostaria de colocar a serviço da juventude? Que causas me mobilizam? Este exercício é um meio de ajudar a descobrir a pessoa que está a serviço da Evangelização da Juventude na Igreja do Brasil?

O segundo exercício proposto segue a pedagogia de Jesus: tirar as traves do olho. Na outra metade da folha, responder que idéias vêm à mente quando nos perguntam: o que é juventude, o que é adolescência? Estes exercícios ajudam a conhecer os conceitos e os pré-conceitos. Um conceito é uma ferramenta que ajuda no trabalho, que nos aproxima ou não da realidade da juventude. Um conceito não é algo apreendido só na universidade, mas algo que aprendemos a transmitir, a partir de nossas experiências.

Recordou que como profissional das Ciências Sociais, falaria da Juventude a partir deste olhar. Convidou o grupo a ler alguns conceitos acerca da juventude e deu espaço para ressonâncias do grupo.

Ressonâncias:

Os conceitos que temos hoje, e que repetimos, não raras vezes, são datados de tempos remotos, como idéias de Sócrates, no século V a.C.; conceitos são idéias parcialmente verdadeiras; a temática da juventude sempre causou preocupação, a juventude sempre provocou algum tipo de medo na sociedade; quem elaborou conceitos acerca da juventude, no decorrer da história, também o fez a partir de um lugar, de um ponto de vista.

A assessora prossegue - todos nós nos achamos especialistas em juventude porque já passamos por esta fase. O grande risco está em ver apenas a partir de nossa experiência. Prova disso é o insistente: “ no meu tempo se fazia assim” .

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Só sabe o que é ser jovem, quem está vivendo a juventude hoje. Deste modo, a melhor maneira de conhecer os conceitos acerca da juventude é perguntar a eles como vivem.

A título de conteúdos:

-Conceitos acerca da juventude: passagem, geração, categoria social.

-Paradigmas: período preparatório, etapa problemática, ator estratégico do desenvolvimento potencial, sujeito de direitos que caminha para a autonomia.

-Elementos para o conhecimento da realidade dos jovens: conhecimento como condição para educar, transformações culturais, subjetividade, centralidade das emoções.

A assessora apresentou uma pesquisa de Regina Novaes sobre o perfil da Juventude brasileira, resumida em três marcas: medo de sobrar, por causa do desemprego; medo de morrer precocemente, pela violência; vida em um mundo conectado por causa da internet.

Fez-se pausa para lanche e depois da animação, a assessora prosseguiu com os trabalhos. Pediu ao grupo para retomar o instrumento de trabalho 1- “ conceitos pessoais sobre a juventude” , fazer um paralelo com os conceitos dados durante a assessoria e perguntar-se sobre as conseqüências deles na prática de evangelização da juventude.

Ouviu-se o relato de alguns grupos. Notou-se, em grande proporção, que os conceitos mais comuns são: Juventude Cidadã e Atores Estratégicos. Esses conceitos, introjetados em nós, determinam o nosso modo de olhar a juventude. Somente a aproximação do mundo juvenil nos permite um olhar mais livre e nos leva à desconstrução de nossos pré-conceitos.

A Assessora faz uma observação: Por detrás de cada conceito, há sempre uma idéia de presença junto aos/às jovens e isso tem conseqüências em nossa missão.

E prosseguiu: o lugar, de onde se pensa a juventude, tem conseqüências na relação entre o jovem, diferentes gerações e a hierarquia. A novidade e o questionamento são sempre vistos como ameaça para quem não consegue estabelecer diálogo.

Cantou-se “ Como nossos pais” , de Belchior.

O passo seguinte foi dividir o grupo em dois – um composto por pessoas com mais de 30 anos e o outro, por pessoas com menos de 30 anos. Cada grupo deveria responder às questões: 1- Que coisas

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marcaram a vida no tempo da juventude? 2- Que coisas não trazem boas lembranças? Para os de idade inferior a 30 anos, colocar a mesma pergunta no tempo presente.

Socialização

Com mais de 30 anos: liberdade de ir e vir, sair à noite, sem medo da violência; festas, curiosidade de experimentar a novidade (bebida alcoólica, por exemplo), valorização da tradição; forte repressão sobre o tema da afetividade e sexualidade; proibições, desconfiança.

Com menos de 30 anos: dificuldade de conseguir emprego; inúmeras opções e dificuldade de discernir; amizades; busca de ideais; faculdade; ser tema de debate; informática; movimentos; ser alvo de críticas; libertinagem; excesso de informação; uso exagerado da tecnologia; perda das referências. Cobrança da perfeição; muitas cobranças e medo dos questionamentos, principalmente nas Congregações Religiosas, enfatizando: acentuação dos erros, em detrimento dos acertos; adotar posturas de instituições que não deixam fluir a identidade da juventude; infantilização – tudo é dado nas mãos, não se permite pensar, decidir.

Terminada a socialização, a assessora propôs um trabalho em grupos, com a seguinte orientação: 1-Olhar para a condição juvenil para discutir e elencar as necessidades, os interesses e preocupações dos jovens com quem estamos.

2-A partir da discussão de grupos elencar, por ordem de urgência, as necessidades. • Ter uma família e uma boa relação familiar / referência familiar (8);

• Trabalho, primeiro emprego (6);

• Falar e ser ouvido, atendido, amado, valorizado (6); • Oportunidade (4);

• Lazer (3);

• Educação superior gratuita / Educação de qualidade (2); • Segurança (2);

• Cultura (2);

• Busca de sentido para a vida (2); • Autonomia / Ser protagonista (2);

• Assessoria contínua;

• Acolhida da história pessoal; • Referenciais;

• Projeto de vida “ possível de se viver” ; • Necessidade da mística, do transcendente;

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• Presença, proximidade;

• Ser aceito no grupo - ter amigos; • Busca do sagrado;

• Participação nos meios de comunicação; • Expressar seus sentimentos e emoções; • Amizades;

• Necessidade de ser reconhecido, de direitos humanos respeitados em sua identidade, de esclarecimento e formação;

• Afeto verdadeiro; • Perspectiva de futuro; • Capacidade de concretude; • Ter espaço de ação; • Estabilidade;

• Políticas Públicas; • Grupo de identificação; • Inclusão.

Fez-se pausa para almoço e à tarde, antes de proceder à continuidade dos trabalhos, a equipe de liturgia fez um momento de capacitação para uso do Ofício Divino da Juventude.

Tema: Teologia Juvenil Assessoria: Hilário Dick

O assessor inicia com uma brincadeira para descontrair o grupo e prossegue com um release dos textos de apoio para esta temática: “ Os jovens no documento de Aparecida” e “ Uma Boa notícia para os jovens” .

Segundo ele, a grande novidade do Documento 85 da CNBB é reconhecer o jovem como uma realidade teológica. Há outras leituras acerca da juventude, uma delas foi feita pela manhã, a do ponto de vista sociológico.

Apresenta alguns dados estatísticos da realidade mundial da juventude e, em seguida, passa à apresentação do tema: O divino no Jovem – Paradigmas de avaliação e estudo da juventude.

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Recordou a celebração da ressurreição de Dom José Mauro, e sua fala aos bispos, em certa ocasião: “ é necessário que a Igreja, sociedade e Congregações Religiosas se re-encantem pela juventude” . E acrescentou: dizer que os jovens não precisam de acompanhamento, de assessoria é uma mentira! Isso é uma forma afirmar o desamor pela juventude. E não amar a juventude é não amar a si mesmo. Falar de juventude é falar de Deus, semente que está dentro dela. O jovem necessita não somente de que falemos de um Deus que vem de fora dele, mas de um Deus que é real dentro dele, no seu modo juvenil de ser, deixando irromper de seu ser um grito silenciado. O jovem é uma realidade teológica que é preciso aprender a ler e a desvelar. O grande desafio é aprender a revelar ao jovem a riqueza infinita que mora nele.

Apresentou, em seguida, alguns pressupostos para o trabalho de evangelização da juventude. E ressaltou o valor da pesquisa sobre grupos de jovens feitos por Carmem Lúcia. Disse que dentre as causas de desarticulação da PJB, no trabalho de evangelização da juventude foi o abandono, a falta de recursos, a ausência de assessores; sim, mas acima de tudo a tendência da Igreja em falar de protagonismo juvenil, como sinônimo de “ vacas de presépio” e não sujeitos autônomos, líderes. Ser evangelizador/a de jovens pressupõe acreditar neles. Protagonismo é atitude pedagógica e na vivência deste protagonismo está a teologia do Êxodo – saída do mundo de dependência para o mundo de liberdade.

Os jovens não querem que sejamos eles ou como eles, querem que sejamos adultos e eles jovens – isso é pressuposto de liberdade.

Passou-se então à abordagem de algumas dimensões da teologia juvenil:

• Amizade – vivência mais terna que brota de nossas entranhas; é prazerosa, apaixonante, gratuita;

• Festa – a vida é uma festa, o jovem é festa – e festa é valorização de determinados acontecimentos; expressão significativa, bonita, bem preparada, que exige ritos, inter-comunhão solidária; é diferente de ostentação, de afirmação de poder;

• Grupo – realidade teológica, lugar da felicidade do jovem; a noite é a grande acolhedora do espírito grupal do jovem, não somente momento do dia dado às banalidades, como nos acostumamos a pensar;

• Fidelidade – ser infiel é ser corrupto; a maior dor da juventude é a infidelidade – aliança é uma das realidades mais divinas que o ser humano pode viver;

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• Descoberta – o jovem vive a descoberta, alucinadamente, porque a descoberta é a irrupção do dom; o Deus da juventude é, de forma muito especial, o Espírito Santo. Além de ser paixão, dinamismo e afeto, o Espírito faz ver, desvela e manifesta;

• Doação – não se ama de verdade, se a gente não se perde no outro - a doação mora no coração do jovem e tem aí seu lugar de honra; a juventude aprecia a Eucaristia porque quer doar-se;

Finalizando a primeira etapa de sua assessoria Pe. Hilário apresentou um quadro com dados sobre grupos de jovens da Igreja Católica, no Brasil, conforme pesquisa realizada em 2005 e 2006 pela Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude.

Fez-se pausa para o lanche e, ao retornar à sala, Carmem Lúcia Teixeira deu continuidade aos trabalhos, propondo uma atividade pessoal – sintetizar, em frases curtas ou palavras, idéias e fundamentos que não se podem perder, a partir do que se apreendeu da assessoria de Hilário Dick. O passo seguinte foi orientar a construção do mural de experiências sobre as juventudes (realidade, protagonismo, acompanhamento – instrumento de trabalho 3). Antes, porém, registrou-se a presença de Dom Eduardo Pinheiro, Bispo responsável pelo Setor Juventude da CNBB.

Em seguida, tendo em mãos o instrumento de trabalho 4, o grupo fez uma visita aos murais, registrando os enfoques político, espiritual, vocacional, psicológico, social, religioso e técnico, buscando perceber como o seguimento de Jesus aparece neles. Encerradas as visitas, reuniu-se nos grupos de trabalhos para partilhar impressões sobre as experiências colhidas nos murais.

Sínteses dos trabalhos 1- Enfoques:

• Espiritual, religioso – que aparece na vivência grupal e sacramental; • Propagandas vocacionais;

• Psicológico – valorização da dimensão pessoal – nota-se a alegria de estar junto, amizade; • Menos enfoque dado aos aspectos político e técnico, apesar de diversas atividades de cunho

político;

• Capacitação de lideranças (dimensão política e cidadania);

• O aspecto social aparece como destaque, mas na maioria das vezes, como exercício assistencial;

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2- Como o seguimento de Jesus se revela nas experiências?

• Na solidariedade, no serviço social aos pobres, nos apelos vocacionais das Congregações e ordens;

• De forma dinâmica, porém Jesus não aparece e o seguimento é acrescentado de forma alegre e organizado. Questiona-se: será que o seguimento se dá sempre na forma alegre como foi apresentado?

• Todas as experiências conduzem para o seguimento de Jesus Cristo, destacando o convívio e o lazer, compromisso com o outro e com a vida, na promoção humana e na dedicação ao próximo;

• Nota-se ausência de protagonismo e do trabalho em rede, nos painéis;

• Nas celebrações, memória que alimenta a esperança – Jesus presente hoje – comunhão forte entre as pessoas;

• No engajamento; • No voluntariado;

• Na missão – encontrar o outro, visitar como Jesus; • No aspecto comunitário – interatividade;

• Nas relações, formação de grupos; • Nas Festas;

• Os vários painéis apresentados são frutos de uma vivência concreta e real, bastante significativa; fazem crer na presença de Jesus Cristo em cada um/a, como condutor da história; isso se expressa no cotidiano e nas celebrações;

• Jesus é o fio condutor que suscita na juventude o protagonismo; está presente no rosto dos jovens;

• Um seguimento alegre, comprometido, inserido na realidade popular brasileira; Sugestão: socializar as experiências dos murais em revistas, jornais ou sites.

Assumir um trabalho comum, intercongregacional, envolvendo leigos/as, religiosos/as e padres; Hilário Dick comentou brevemente, a pedido de Carmem Lúcia, sobre uma análise feita do instrumento de trabalho preparatório a este encontro – Protagonismo e Acompanhamento. Considerou que o tema acompanhamento aparece como uma ação mais desenvolvida que o protagonismo. Percebeu uma dificuldade das Congregações, Institutos e Movimentos em dizer como é trabalhado o protagonismo.

Destacou verbos muito utilizados: orientar, capacitar, acolher, compreender, animar, favorecer, caminhar junto, apoiar, rezar, auxiliar na formação, despertar, cultivar valores, ajudar a clarear, dando ênfase a dois deles: orientar e acompanhar.

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Questionou a compreensão que se tem de protagonismo, uma vez que ele foi traduzido nos verbos - animar, oferecer propostas, dar condições, acompanhar e gerenciar atividades. E alertou: estes verbos refletem ações que não possibilitam o protagonismo juvenil.

Discursos mais fortes: ajudar o jovem a descobrir-se como instrumento de formação – a palavra instrumento parece inadequada – jovem é instrumento? O que se entende por isso?

Notou que existem dificuldades pedagógicas e teológicas na concepção do que seja protagonismo, e questionou o grupo uma vez mais: “ como é que vocês encaram o protagonismo” ?

Carmem finalizou – os conceitos revelam nossa prática de missão junto à juventude.

Fez-se pausa para o jantar e às 20h, uma Celebração Eucarística, rica em símbolos e gestos, recordou um Ano da ressurreição de Dom José Mauro. Muitos testemunhos foram dados sobre a vida daquele Bispo da juventude, tão cedo tirado de nosso meio, mas que deixou um legado que hoje é alento para a Igreja e para todos aqueles/as que amam os jovens “ ’ É preciso reencantarmo-nos pela juventude” .

Sábado, dia 15 de setembro.

Tema: Linhas de Ação do Documento de Evangelização da Juventude Assessoria: Dom Eduardo Pinheiro da Silva

Coordenação: Pe. Gisley e José Wilson

Após o café, o Ofício Divino da Juventude celebrado em honra de Maria, recordou a dor das mães Marias de hoje pela perda de seus filhos, vítimas da violência.

Já na sala de encontro, Pe. Gisley dá alguns avisos de ordem prática e apresenta D. Eduardo, bispo responsável pelo Setor Juventude da CNBB.

Dom Eduardo falou um pouco de sua trajetória como Religioso, sempre a serviço da juventude. Falou de sua paixão pelos grupos de jovens, lugar onde iniciou sua formação na Pastoral de Juventude e de sua pouca, mas valiosa convivência com Dom José Mauro, em 2006.

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Para iniciar, recordou o processo feito para se chegar ao Documento de Evangelização da Juventude, a começar por Jesus Cristo e o Projeto de Deus. Para garantir que o projeto fosse continuado, Jesus contou com um grupo de pessoas que, tornaram-se seus discípulos e levaram o Evangelho aos quatro cantos da terra.

A Igreja nasce desta missão dos discípulos e deve ser continuadora do projeto de Jesus Cristo. Nesta missão fundamental, procura desenvolver atividades, projetos e organizações que atendam a todos os grupos e necessidades. Vão se formando, assim, as pastorais. Aos poucos vão surgindo, os carismas, por ação do Espírito Santo, e a Igreja os acolhe na missão de evangelização.

A Igreja precisa dos carismas e os carismas precisam da Igreja. Isso se dá num processo de integração e sintonia. A diversidade de Carismas constitui-se em uma riqueza que deve convergir para a unidade, caso contrário, não será riqueza e sim empobrecimento.

Existem algumas questões sempre presentes na vida de quem participa de comunidades: os carismas, os jovens, de quem devemos ser próximos, entender sua vida, seus conflitos, acolher; a missão de fazer Jesus Cristo conhecido e amado; ajudar a juventude a conhecê-lo e, assim, abrir-se a uma vida de participação comunitária, eclesial e social.

A Igreja é o espaço de ajuda para compreensão da realidade. Uma das maneiras de compreender a juventude é o Documento 85. Ele é o primeiro documento que faz referência a todas as juventudes, não somente à PJ. Deste modo, todos os que trabalham com a juventude: pastorais, movimentos, associações, podem tê-lo como instrumento de orientação. É dizer: somar forças, reconhecendo valores diferentes, experiências diversas no trabalho com os jovens, para uma missão conjunta, dando-lhes o direito de ter, um referencial de ajuda às suas indagações.

“ A juventude mora no coração da Igreja” . O verbo morar deve ter a conotação de permanência, presença constante, predileção. Fazendo memória de alguns documentos do Episcopado LA e Caribenho, Dom Eduardo recordou que a opção pelos jovens foi posta como uma prioridade da Igreja, mas no Documento de Santo Domingo acentuou esta como um compromisso efetivo e afetivo, este idéia está presente também no documento de Evangelização da Juventude.

Além de ter no Documento 85 um referencial para a missão da Igreja, deve-se também ter a consciência de que ele nos lança a uma juventude diversa. Lembrou que as 8 Linhas de Ação

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traçadas no Documento têm como ponto de partida os elementos para o conhecimento da realidade dos jovens, presentes no capítulo 1 do documento.

Após intervalo para o lanche, passou-se às Linhas de Ação do Documento. Dom Eduardo lembrou que elas não são um projeto de pastoral ou uma fórmula para resolução de problemas, mas um instrumento fundamentado na tradição do trabalho com a juventude do Brasil. Estas Linhas podem ser organizadas em três grandes blocos: formação, estrutura e profecia.

Algumas colocações foram feitas pelo grupo, durante a apresentação das linhas:

Nota-se rejeição da juventude ao Documento 85, assim como acontece com outros documentos da Igreja. Isso é indício da falta de funcionalidade dos documentos, em geral; falta ressaltar a dimensão trinitária de nossa espiritualidade - falar das três pessoas da Santíssima Trindade e sua relação com o mundo, com o ser humano, com a natureza, com a ecologia; há um estado de desconfiança instaurado no jovem, em relação aos adultos e à Igreja, talvez pelas atitudes autoritárias - isso causa grande repercussão e estado de desânimo; a Igreja corre o risco de ter os documentos esvaziados por conta da relação do mundo adulto e eclesial com a juventude; há necessidade de uma formação de lideranças adultas, com relação à juventude; percebe-se muita preocupação com a formação dos jovens, ao passo que a realidade de adultos preparados continua sendo uma lacuna na Evangelização.

Após ouvir atentamente a essas colocações, Dom Eduardo fez questão de dizer que Documento 85 não tem a pretensão de acabar com a Pastoral da Juventude do Brasil, preocupação que é notável em muitas regiões. O que está posto na quinta Linha de Ação diz respeito à unidade, à participação comum em algumas atividades de massa, pertença a uma mesma Igreja, mas respeito e valorização da diversidade.

Terminada a explanação de Dom Eduardo, as Jovens Silvia (Secretária Nacional da Pastoral da Juventude Estudantil - PJE), Ana Paula, (da PJE de São Paulo) e Pe.Toninho (Salesiano – Assessor da PJE no regional Sul 1) apresentaram a missão e a identidade desta Pastoral Específica.

Antes da pausa para o almoço, Carmem orientou o trabalho a ser realizado no período da tarde. Com base na síntese elaborada a partir dos trabalhos realizados pelos grupos no dia anterior (necessidades, os interesses e preocupações da condição dos jovens com quem estamos). Foram organizados em cinco temas: Projeto de Vida, Vida e Comunidade, Mística e Espiritualidade, Defesa

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de Direitos e Políticas Públicas, Assessoria e Acompanhamento, a serem trabalhados em oficinas (elaboração de projetos).

Tema: Planejamento

Assessoria: Carmem Lúcia Teixeira Passos:

1. Confrontar a experiência e as linhas de ação, no intuito de perceber quais delas estamos respondendo.

2. Quais precisam ser fortalecidas, a partir das necessidades apresentadas?

3. Que linhas de ação estão ausentes no Documento 85 e que deveriam constar para responder às necessidades?

O Grupo teve um tempo curto para revisão individual ou em duplas.

Terminado o tempo de revisão, Carmem relembrou o caminho feito durante esses dias de encontro: Registro1 - a importância do papel do/a educador/a da juventude. A assessoria convidou cada participante a colocar, com simplicidade, os dons pessoais a serviço da construção de um planejamento, em segundo lugar, olhamos para o sujeito – o lugar juvenil o olhar para a juventude, mas não qualquer olhar;

Registro 2 – Necessidades; Registro 3 - mural de experiências;

Em seguida, deu alguns elementos metodológicos para o planejamento, de acordo com instrumento de trabalho “ desvendando os caminhos do planejamento” .

Reforçou algumas idéias presentes no texto, dentre elas a de que não se inicia um planejamento a partir do ideal que se quer alcançar. O ponto de partida deve ser sempre a realidade, as necessidades concretas. Neste caso: as necessidades dos jovens. O planejamento é, em primeiro lugar, uma atitude interna. Dessa atitude interna é que nascem as ações efetivas e afetivas da missão de evangelização da juventude.

Feitos os esclarecimentos, os grupos se reuniram por temáticas para a elaboração de um pré-projeto. Esta atividade se estendeu ao longo da tarde.

A noite nos acolheu com um jantar organizado pela equipe de festa. Na sala de reuniões aliviamos as tensões do dia dando muitas gargalhadas com um espetáculo apresentado por um grupo teatral da

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periferia de Belo Horizonte. Houve ainda revelação de talentos dos participantes do encontro. A noite seguiu com muita música, sorteio, piada, poesia, e como não poderia faltar, “ comes e bebes” . Domingo - 16/09/07

Coordenação: Pe. Mirim e Edina Iniciamos com a missa na capela.

No salão, representantes dos grupos de trabalho do dia anterior fizeram apresentação dos pré-projetos, indicando duas pessoas que serão referenciais para encaminhamento dos mesmos.

Carmem faz algumas considerações sobre os trabalhos apresentados, levando em conta o pouco tempo que não permitiu delinear melhor o que se desejava e reforçou a importância de cada pessoa como responsável primeira, para que o que foi intuído pelos grupos chegue ao chão da missão junto às juventudes.

Proposta final:

Qual foi o caminho que fizemos e como será o repasse desse encontro? Foi entregue uma folha com oito passos para o planejamento da ação evangelizadora da juventude.

1. Olhar para a pessoa;

2. Olhar para o sujeito da pessoa do jovem (conversar com os jovens e perceber sua realidade, perceber os gritos da juventude);

3. Buscar as referências;

4. Rever as estruturas propostas para que o projeto seja encaminhado; 5. Atentar-se às ações necessárias;

6. Organizar os projetos – possíveis respostas, a partir do lugar onde se está – com ponto de partida e de chegada muito claros;

7. Apontar as linhas de ação.

Em cada projeto ter como meta a formação integral.

Passou-se a palavra ao Pe.Mirim, que orientou a metodologia de avaliação do encontro, a começar pela retomada do tema e objetivo do encontro, contidos na carta-convite.

Foi dado um momento pessoa para refletir sobre as seguintes questões: a) A metodologia e o objetivo do encontro foram alcançados?

b) O que contribuiu e o que faltou para alcançá-los?

c) Pensar tema, local e assessoria para o próximo encontro, que acontecerá de 11 a 14 de setembro de 2008.

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Terminado o momento de avaliação pessoal, passou-se a pequenos grupos, nos quais se fez, sínteses que foram registradas, socializadas com o grupo grande e entregues à secretaria.

Pe. Gisley encerrou esse momento falando da importância de continuidade do trabalho com a juventude em nossas realidades. O que se espera dos participantes é que cada um leve esse dinamismo para as diversas congregações, paróquias e dioceses do Brasil, e que os projetos apresentados sejam concluídos e articulados. Lembrou que o ECMJ é um processo construído individual e grupalmente e que a continuidade dele nas realidades de missão é, da mesma forma, uma tarefa de cada Congregação e cada Movimento presentes.

Foi dada a sugestão de que o 13º ECMJ seja preparado pelas pessoas indicadas como referenciais dos pré-projetos. A sugestão foi aceita.

Encerrou-se o encontro com uma dança circular e almoço de despedida.

De todos os cantos viemos e para nossos cantos voltamos, levando a nossa alegria de sede saciada, mas, paradoxalmente, levando nossa ânsia de saciar outras sedes em cântaros que encontraremos em nosso caminhar com as culturas juvenis e com aqueles/as que amam os/as jovens.

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ANEXOS

Anexo 1: Instrumentos de preparação para o 12º ENCMJ INTRUMENTO DE PREPARAÇÃO 1:

Leitura do documento 85 da CNBB: Evangelização da Juventude, desafios e perspectivas pastorais, conforme chave de leitura abaixo:

a) Ponto de partida (Convicção):

- parágrafos 80-81: juventude como realidade teológica. b) Ponto fundamental (atitude: Convocar a juventude):

- parágrafos 53-66: O seguimento de Jesus Cristo. c) Reforços importantes (atitude: Anunciar à juventude):

- parágrafos 86-92: Pronunciamentos do Magistério sobre a juventude. - parágrafos 230-246: Direito à vida.

d) Perfil indispensável a destacar (atitude: Ouvir a juventude): - parágrafos 82-85: Construção de uma sociedade solidária. - parágrafos 96-115: formação integral do discípulo(a). e) Necessidade urgente (atitude: Desafiar a igreja):

- parágrafos 203-217: Ministério da assessoria. f) Elo do documento (atitude: Definir projetos):

- parágrafos 116-141: Espiritualidade.

- parágrafos 175-182: Discípulos e discípulas para a missão. INSTRUMENTO DE PREPARAÇÃO 2:

MURAL DAS EXPERIÊNCIAS DE PROTAGONISMO JUVENIL

No caminho proposto para o encontro nacional de congregações e movimentos que trabalham com jovens, optamos pela partilha quanto ao acompanhamento do protagonismo juvenil a partir de iniciativas concretas e experiências realizadas nas congregações e nos movimentos. Estas serão apresentadas no encontro e, a partir delas, montaremos um mural e refletiremos sobre o protagonismo juvenil. Propomos, então, este instrumento de trabalho para ajudar na reflexão e sistematização das experiências.

Cada congregação poderá contemplar uma ou mais iniciativas, desde que o foco seja o protagonismo juvenil.

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I – Conceitos

A partir de nossa caminhada na congregação/ no movimento, o que entendemos por: a)acompanhamento: b) protagonismo juvenil:

II – Descrição da experiência 1. Nome da experiência:

2. Público-alvo: Quem são os jovens envolvidos na experiência? Quantidade, faixa etária, perfil sócio-econômico-religioso...

3. Qual o âmbito principal da experiência:

( ) pastoral ( ) social ( ) político ( ) cultural ( ) educacional ( ) vocacional ( ) Outro. Qual?

4. Como nasceu a experiência? De quem foi a iniciativa? Houve planejamento?

5.Duração: Início: Término:

6. Atividades desenvolvidas:

7. Espaços onde foram realizadas as atividades

( ) Centro/Instituto ( ) Igreja ( ) Escola ( ) Comunidade religiosa ( ) Outro. Qual? 8. Parcerias e/ou outras organizações envolvidas

( ) Pastorais da Juventude ( ) Outros grupos eclesiais juvenis. Quais? ( ) Escola ( ) ONG’ s. Qual(is)? ( ) Outras pastorais. Qual(is)? ( ) Outra. Qual(is)? 9. Metodologia utilizada:

10. Resultados alcançados: 11. Desafios encontrados: 12. Limites percebidos:

13. Como se deu o acompanhamento à experiência?

14. Qual o perfil dos acompanhantes? Quantidade, formação, faixa etária, experiência... III – Análise da experiência

15. Como se deu a participação dos jovens no processo?

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17. O que esse caminho de acompanhamento tem de comunhão com as organizações jovens do Brasil?

18. O tema dos direitos da juventude é tratado nesta experiência? De que modo? Congregação/ movimento:

Pessoal responsável pelo preenchimento deste Instrumento: Email para contato:

Este Instrumento deverá ser preenchido pelas equipes de juventude de cada congregação e movimento e entregue na chegada do 12º Encontro Nacional de Congregações e Movimentos Juvenis (em cópia impressa para a secretaria e em forma de painel (com fotos, projeto, materiais utilizados, etc) para exposição “ no mural das experiências de protagonismo juvenil” , que será montado no encontro).

Anexo 2: UMA BOA NOTÍCIA PARA A JUVENTUDE?

Conversa sobre “ Evangelização da Juventude: Desafios e Perspectivas Pastorais” , da CNBB Hilário Dick Na 45ª Assembléia Geral da CNBB, realizada em Itaici (SP), em maio de 2007, foi aprovado o documento “ Evangelização da Juventude”

1. Um documento oficial, de cor azul, votado dentro dos rigores dos documentos oficiais da Conferência. O que é esse documento? Qual o seu objetivo? Qual o seu conteúdo? Que importância tem o documento para a Igreja no seu todo? Ele tem algo a dizer para a juventude, mesmo fora do espaço eclesial? Qual o significado dele para quem trabalha na evangelização da juventude ou está interessado em dizer algo para a juventude? É sobre essas perguntas e outras que vai a presente reflexão.

1. Como se deu a gestação de Evangelização da Juventude” ?

Em todas as Assembléias da CNBB há vários temas previstos (ou não) a serem discutidos, estudados e encaminhados, mas sempre com algum tema “ central” . A CNBB, em sua história, já é autora de vários “ documentos” significativos tratando de diversos assuntos, de conotação mais “ interna” (liturgia, catequese, formação de presbíteros etc.) ou de conotação mais “ externa” (questão da terra, questões sociais como da Amazônia, orientação política etc.). Evangelização da Juventude” é o número 95. Os temas giram em torno de preocupações da Igreja do Brasil, no

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momento, aprovados por um grupo representativo (delegado) da entidade. Este grupo, em 2005, decidiu que um assunto importante para a Igreja e a sociedade, considerado como “ tema central” para Assembléia de maio de 2006, deveria ser a evangelização da juventude. Aprovado, o tema é encaminhado, visando a elaboração de um “ instrumento de trabalho” que sirva como ponto de partida das reflexões do tema, resultando num pronunciamento mais ou menos “ solene” , mais ou menos “ orientativo” (doutrinário) para a Igreja do Brasil a partir do corpo episcopal no seu todo. Ajuda nisso – como norma geral - um “ grupo de trabalho” escolhido pelos responsáveis da Assembléia, atentos ao interesse do todo, e que seja capaz de “ fundamentar” a reflexão sobre o assunto escolhido e seus possíveis resultados. É o que se deu, também, com o tema “ evangelização da juventude” .

Antes de maio de 2006 todos os bispos receberam o resultado deste “ grupo de trabalho” , antecedido por suas normais “ idas e vindas” . Este “ resultado” entrou na Assembléia de 2006 com suas devidas apresentações, seguido de debates de aprofundamento, acréscimos, rejeições etc. O resultado, em cima dos debates, foi a decisão – em maio de 2006 - de que - após ser melhorado com as emendas – voltasse pa a a base” para um maio aprofundamento e que, na Assembléia de 2007, o documento refeito – com a contribuição vinda de todo o povo de Deus, especialmente da juventude e dos que trabalham com jovens – a Assembléia decidiria o que seria o “ resultado” de todas as intervenções. É o que aconteceu, de fato, em maio de 2007. A decisão foi o encaminhamento para a aprovação (ou não) como sendo um pronunciamento (ou não) do corpo episcopal brasileiro. O que sucedeu é que o “ documento” foi considerado “ maduro” para ser lançado à Igreja do Brasil como diretriz pastoral para todo o povo de Deus.

2. Esse “ documento” pode ser considerado importante?

“ Evangelização da Juventude” é significativo por várias razões: a) pela importância que vai tendo na Igreja, no Brasil e no mundo, o segmento juvenil. Fala-se da “ onda juvenil” , encarada nas suas diferentes manifestações, sob o ponto de vista econômico, político, cultural, social e religioso. A tudo isso estavam atentos, também, os bispos do Brasil. O tema, por isso, enfrenta diversas preocupações; b) embora o corpo episcopal tivesse presente o aspecto citado, o que incomodava, de modo especial, eram os diferentes trabalhos que se realizam na própria Igreja, nem sempre coincidindo na sua pedagogia e na sua teologia, havendo práticas cuja convivência nem sempre era pacífica. A tudo se acrescentava, ainda, a ausência de um pronunciamento “ oficial” do corpo episcopal sobre o que é, para ela, a evangelização da juventude, indo além de pronunciamentos particulares e de orientações sintéticas, possibilitando, dentro da colegialidade e da

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responsabilidade eclesial, um trabalho evangelizador orgânico como, por exemplo, na catequese para crianças e adultos2. A juventude do Brasil teve que esperar 500 anos... Ela, aliás, sempre amada pela

Igreja no seu todo, na sua história concreta, teve expressões específicas e protagônicas, somente a partir da Ação Católica – especialmente a “ Especializada” – a partir de 1930. O “ documento” , por isso, significa, ou pode significar, um “ kairós” para a juventude e, também, para a Igreja no seu todo. c) estamos frente a um documento carregado de novidade porque é raro encontrar algum documento, de qualquer instituição, que diga clara e conscientemente, como encara a construção da felicidade do jovem. A comparação que surge é com os “ Institutos Nacionais de Juventude” olhando a juventude no seu todo através de iniciativas cujas fundamentações nem sempre ficam evidentes ou que dependem das leituras que se fazem do “ fenômeno juvenil” com seus diversos paradigmas. Pode-se dizer, por isso, que “ Evangelização da Juventude” , na perspectiva dos diversos cenários reais de Igreja, numa vivência de fé, constitui uma prova de que quem manda na Igreja é o Espírito Santo.

3. O que é esse documento?

É um documento de 120 páginas, com 311 parágrafos enumerados, organizado – além da apresentação, da introdução, da conclusão e dos anexos - em três capítulos: 1) Elementos para o conhecimento da realidade dos jovens (ver); 2) Um olhar da fé a partir da palavra de Deus e do magistério (julgar); 3) Linhas de ação (julgar). A surpresa é o método como tal, aceito e usado.

Para quem trabalha com jovens há mais tempo vai-se dar conta que muitas visões e propostas pedagógicas do “ documento” não são novidade ou, então, pelo contrário, que exige uma guinada no trabalho que se vem fazendo. A grande novidade – sem menosprezar formas mais maduras de expressão - é o reconhecimento, pelo corpo episcopal, de maneira solene, de uma “ tradição” já existente, vinda da base (jovens, lideranças e assessores/as), mas talvez um tanto esquecida, considerada superada, ignorada ou tornada puro “ discurso” . A proposta, neste momento, não é uma proposta de um segmento, de uma parte, mas uma proposta para toda e qualquer iniciativa que deseja inscrever-se no anúncio da boa nova para a juventude. Neste sentido as diferentes experiências existentes de evangelização contam, de agora em diante, de uma referência comum. O documento respeita os diferentes carismas, mas pede, também, fidelidade a uma proposta concreta de igreja.

4. Qual o objetivo do documento? Ele não é interesseiro?

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Seria pequenez (ou realidade?) afirmar que o documento dos bispos do Brasil tivesse como pano de fundo uma simples vontade de “ controlar” o trabalho com a juventude ou, então, de apresentar uma reflexão preocupada, prioritariamente, com a “ perda” dos jovens por parte das igrejas. Lendo o documento fica claro que ele não é “ interesseiro” . Pelo contrário, há afirmações, na apresentação e na introdução, que dizem outra coisa. Na conclusão do documento, aliás, os bispos dizem claramente que “ reconhecendo a juventude como um lugar teológico, o nosso amor a ela é gratuito, independente do que possa nos oferecer” (nº. 248). O documento deseja, primeiramente, ser um instrumento dinamizador da evangelização” e uma eferência pa a todos que, na Igreja, têm se colocado na evangelização” da juventude, considerada um segmento importante da sociedade. Diz-se, até, que o documento é um direito dos jovens e que “ a busca de unidade” encontra nele suas linhas gerais e motivações porque o valor da unidade na diversidade só pode ser um benefício para a juventude. Além disso, os bispos do Brasil, através desse documento, querem – de modo especial:

a) renovar a opção afetiva e efetiva de toda a Igreja pela juventude (nº. 4);

b) colaborar com a pluralidade de pastorais, grupos, movimentos e serviços que existem nas diversas igrejas, visando colaborar para que os jovens sejam reconhecidos como sujeitos e protagonistas (nº. 5);

c) abrir caminhos para que os jovens se insiram nos diferentes setores da vida social (nº6). O documento reconhece as “ muitas ações positivas que acontecem no meio da juventude” e diz que a evangelização exige testemunho de vida, anúncio de Jesus Cristo, adesão a Ele, à comunidade, participação na missão da Igreja e na transformação da sociedade.

5. A descrição da realidade juvenil toca no nó da questão?

Num documento como esse, de orientação essencialmente pastoral, não se pode esperar uma apresentação científica detalhada. O documento é decididamente “ pastoral” , não outra coisa. O que se poderia esperar, talvez, fosse uma indicação bibliográfica, fundamental, sobre o assunto, mas não uma análise científica “ completa” . Isso não é obrigação de um “ pronunciamento” desse tipo. É evidente que ficam ausentes temas importantes, mas são raras as questões “ vitais” que não apareçam, mesmo de forma ligeira. Os aspectos privilegiados pelo documento são amplos e mordentes:

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1 as transformações culturais, destacando a questão da pós-modernidade e modernidade, recordando de forma incisiva, uma frase de Paulo VI dizendo que “ uma evangelização que não dialoga com os sistemas culturais é uma evangelização de verniz” (nº. 14). Dentro do campo das transformações culturais o documento destaca:

a) a subjetividade. Não vale mais, hoje em dia, o “ ideal coletivo” (nº. 17) dos anos 70-80, fazendo-se necessário encontrar o equilíbrio entre o projeto individual e o projeto coletivo (nº. 18);

b) as novas expressões da vivência do sagrado onde a busca do religioso não significa necessariamente uma aceitação das religiões organizadas (nº. 20). A religiosidade existente na juventude facilita, por isso, em parte, trabalhar a espiritualidade em todas as suas dimensões;

c) a centralidade das emoções, levando a um esvaziamento intelectual, à ausência do compromisso transformador e da consciência crítica, podendo conduzir ao fundamentalismo, sendo importante a atenção à formação integral.

2) um perfil da juventude brasileira, considerando a juventude (dos 15 aos 29 anos) com suas potencialidades e sua diversidade (nº. 27). De forma um tanto sintética, o documento ressalta, nesta juventude, três realidades:

a) o perfil sócio econômico de um total de 47 milhões de pessoas com suas diferenciações (nº. 30) formando um dos grupos mais vulneráveis da sociedade brasileira (nº. 31) onde são citados dez problemas principais (nº. 32). A sacralização do consumo e a relativização dos valores tocam de perto a juventude. O documento fala, também, de três marcas da juventude: o medo de morrer, o medo de sobrar e o medo de ficar desconectado (nº. 34), tudo isso exigindo uma reorientação de investimentos que garantam os direitos básicos da população;

b) a juventude como protagonista (modelo e problema) e pa ticipante. Há muita inverdade em considerar a juventude, de modo simplório, como individualista, consumista e politicamente desinteressada (nº. 36-37). Há novas formas de participação juvenil. A juventude quer participar mas não encontra espaços adequados (nº. 38 e 39);

c) o perfil religioso. Com a maior parte dos jovens vivendo alguma experiência religiosa, coloca-se em xeque, contudo, a herança recebida, tendo vontade de comprometer-se. O documento fala dos adolescentes em busca de espaços grupais (nº. 45), da vivência comunitária e religiosa significativa e da busca de propostas vocacionais exigentes no campo da contemplação e ação.

3) valor da experiência acumulada da Igreja. De forma sintética, nesta parte do “ ver” o documento recorda o caminho histórico percorrido pela Igreja neste segmento (especialmente no

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Brasil), dizendo que a Igreja Católica é uma das organizações que tem mais experiência acumulada e sistematizada no trabalho com a juventude (nº. 49). Maiores pormenores encontram-se nos anexos 3 e 4. Entre as forças pastorais o documento destaca as Pastorais de Juventude, os Movimentos Eclesiais, o Serviço Pastoral das Congregações e as Novas Comunidades.

6. O “ julgar” do documento tem alguma novidade?

A segunda parte do documento dos bispos, intitulada de “ Um olhar de fé a partir da palavra de Deus e do magistério” não é o melhor que pode haver, mas carrega algumas novidades. Acentuam-se quatro eixos temáticos: o seguimento de Jesus Cristo, a Igreja comunidade dos seguidores de Jesus, a construção de uma sociedade solidária e os pronunciamentos do magistério sobre a juventude. Não é o melhor que se poderia imaginar, havendo omissões, perspectivas limitadas, mas é bom. É nessa parte que se encontra uma das grandes novidades sobre a forma de olhar a juventude. Vamos por partes:

a) o seguimento de Jesus Cristo é colocado, de modo muito feliz, na perspectiva da busca juvenil de “ modelos” e “ referências” . Insiste-se na apresentação criativa e no testemunho de Jesus no contexto em que o jovem vive (nº. 54), em mostrar Jesus como o ponto culminante da ação de Deus na história, no círculo de discípulos/as que seguem a Jesus, no convite pessoal ao seguimento e em Maria como modelo de seguimento (nº. 56-58). O desafio para o jovem é escutar a voz de Cristo e, por isso, a importância da oração, da formação na vida de comunidade e em tornar-se portador da mensagem de Jesus considerando o jovem como evangelizador privilegiado de outros jovens (nº. 63). Para haver um encontro com Jesus é necessário caminhar com os jovens e fazer com eles a experiência de Deus. O anúncio da Boa Nova aos jovens deve ter muito presente a formação ética e o cultivo da sensibilidade dos jovens para as situações de pobreza e desigualdade social porque, como diz o documento, “ o pobre é alguém que não nos deixa dormir em paz” (nº. 66). Lendo essa “ Cristologia” para os jovens e lendo o que diz “ Civilização do Amor – Tarefa e Espe ança” 3 podemos dizer que estamos ante um pronunciamento relativamente pobre porque a Cristologia que aparece é boa, mas é pobre porque, por exemplo, não mostra um Jesus que apresenta um estilo de vida aos jovens nem se atém ao convite que Jesus faz a eles.

b) Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus. O documento inicia falando das dificuldades dos jovens em entenderem o que seja a Igreja e da falta de acolhida aos jovens por parte da

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comunidade. Em vez de falar das faces da Igreja que os jovens aceitam e desejam o documento fala somente da necessidade que há de isso ser feito. Leia-se a eclesiologia que se encontra em Civilização do Amor” 4 para ver como a questão poderia ter sido colocada, na perspectiva juvenil, de outra forma. Claro que faltam “ experiências autênticas de Igreja” (nº. 68), claro que é notória a ausência da Igreja na grande maioria (nº. 70), claro que o jovem resiste às estruturas (não só da Igreja), claro que a experiência das primeiras comunidades é um caminho importante (nº. 72), claro que é preciso desenvolver, na Igreja, mais canais de participação (nº. 76). Contudo, é na seqüência destas realidades pouco agradáveis que aparece uma das grandes novidades do documento: a afirmação de que é preciso aprender a ler, na juventude, as sementes ocultas do Verbo (nº. 80), aprendendo a ver um Deus que é real dentro do jovem no seu modo juvenil de ser, isto é, considerar o jovem como lugar teológico, considerando que Deus nos fala pelo jovem (nº. 81). Mesmo que não seja, talvez, o melhor lugar de dizer isso, essa postura constitui uma das grandes novidades do documento.

c) Construção de uma Igreja solidá ia. Mesmo que o documento não fale da “ devoção” ao Espírito Santo, neste ângulo ele insiste em que a evangelização da juventude deve ir além das relações mais próximas e precisa visar a animação e a capacitação de jovens para o exercício da cidadania, dimensão importante do discipulado (nº. 83), afirmando a formação do cristão identificado com o bom samaritano, com tudo o que isso significa. É a afirmação da dimensão social da fé.

d) Pronunciamentos do magistério sobre a juventude. Embora o documento remeta essa retomada histórica para a parte dos anexos, onde aparecem os jovens sendo igreja e onde há as posturas mais significativas com relação à evangelização da juventude (Medellín, Puebla e Santo Domingo), aqui o documento fica especialmente nalgumas afirmações de João Paulo II sobre o assunto, não deixando de dizer que, assim como o jovem tem muito a aprender da Igreja, a Igreja tem muito a aprender dos jovens (nº. 87), tendo ela a obrigação de torná-los protagonistas da evangelização (nº. 92).

7. As pistas de ação são mordentes?

O terceiro capítulo trata do “ agir” . É a parte mais extensa do documento (nº. 93 a 246), isto é, 49,1% do documento5, quase a metade dele. Os bispos acharam necessário apontar 8 linhas de 4

Idem, p. 131 a 144.

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Considerando os números de parágrafos do documento o 1º capítulo (ver) corresponde a 12,8%, o julgar corresponde a 13,1%, o agir a 49,1% e os anexos a 19,2%.

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ação. Com mais pistas concretas estão, neste caso, a espiritualidade e a pedagogia de formação, seguidos do diálogo fé e razão e o direito à vida. Menos linhas de ação mereceram “ discípulos/as para a missão” , “ estruturas de acompanhamento” e o ministério da assessoria. É um capítulo bonito, em geral preocupado em dar, realmente, pistas e nada mais.

8. Novidade na “ formação integral” ?

Uma síntese bem feita sobre as dimensões da formação integral encontra-se na 1ª linha, dando nome às dimensões e aos processos que estão em jogo, tendo merecido um gráfico (nos anexos) sobre o assunto. Reconhece a formação integral como uma das opções pedagógicas necessárias para a evangelização da juventude6. Na dimensão sócio-política o documento acrescenta,

na dimensão, a ecologia. Nas pistas de ação o documento insiste que haja, periodicamente, uma avaliação se estas dimensões são trabalhadas, fala da conscientização vocacional. O documento também sugere que as dimensões sejam trabalhadas na Catequese Crismal, nas escolas, no envolvimento das famílias, na elaboração de subsídios e na educação para a prática de novas maneiras de relacionamento.

9. Como se coloca, no documento, a questão da “ Espiritualidade ?

Já vimos que a “ Espi itualidade é a pista que foi contemplada com mais “ sugestões” e, ao mesmo tempo, com bastantes reflexões introdutórias falando da importância dessa pista, da vocação à santidade, da espiritualidade que precisa ser transmitida e dos instrumentos mais importantes que não podem ser esquecidos: oração pessoal, oração comunitária, participação na comunidade, leitura orante da Bíblia, vivência dos sacramentos, devoção a Nossa Senhora, diversos encontros espirituais, leituras e reflexões. Nas 13 pistas destacaríamos a referência a uma liturgia inculturada, a referência ao Ofício Divino da Juventude (nº. 132), aos cursos sobre a Bíblia e a espiritualidade mariana. No geral, sem muita novidade.

10. A “ Pedagogia de formação” toca em assuntos importantes?

A pista Pedagogia de fo mação é a pista que mais se atém aos desafios e princípios norteadores. Chama a atenção para quatro princípios: 1) para a prioridade da experiência sobre a teoria, baseado na pedagogia de Jesus. É aqui que o documento fala, pela primeira vez, do método Ver-Julgar-Agir-Revisar-Celebrar (nº. 147), não só do Ver-Julgar e Agir. Fala, também, da integração

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do racional com o simbólico (nº. 148), remetendo ao documento “ Catequese Renovada” ; 2) para a pedagogia de pequenos grupos e dos eventos massivos, exemplificando com as Jornadas Mundiais da Juventude e citando o Dia Nacional da Juventude e outras iniciativas de alguns movimentos. Os eventos massivos exigem acompanhamento (nº. 154); 3) para os cinco níveis de evolução do processo de acompanhamento dos jovens; organizar eventos para os jovens, organizar grupos de jovens, organizar os diversos grupos em rede, conscientizar os jovens sobre o projeto pastoral para a juventude e levar em conta que o crescimento na fé se dá por etapas. Nas 13 pistas de ação, além de cursos, avaliações, incentivo à leitura é de se destacar a sugestão de capacitação de assessores e coordenadores, o encaminhamento de uma Pastoral de Adolescentes e a organização de Eventos de Massa. Mais novidadeira, para quem trata desse assunto segundo as diretrizes do CELAM, é a maneira como o documento trata do níveis de evolução do processo de acompanhamento dos jovens. A terminologia é diferente, talvez não a melhor.

11. Como o documento encara a questão da missionariedade juvenil?

Discípulos e discípulas para a missão é a pista mais curta, falando do estímulo ao espírito missionário do jovem numa perspectiva que valoriza a dimensão social da fé (nº. 177), a luta pela justiça e a participação na construção de uma sociedade justa e solidária e a crença num projeto coletivo. Entre as 4 pistas (poucas, mas muito significativas) a mais evidente é o fomento da “ Missão Jovem” e a mais nova é a insistência na presença juvenil nos diferentes ambientes (nº. 180). O documento incentiva, com isso, para a necessidade de outra opção pedagógica relacionada ao trabalho com as diferentes juventudes.

12. E a questão do “ Setor Juventude ?

O “ Setor Juventude” é tratado na pista intitulada Estruturas de acompanhamento. O documento inicia falando da importância, para a evangelização da juventude, das estruturas organizativas que apresentam dois desafios: seu fortalecimento e sua ampliação (nº. 183-186). Há, primeiramente, uma crise de estruturas causada por diversos fatores (nova cultura, ausência de assessores, pouco investimento). Contudo, a organização é que garante a eficácia dos projetos de formação (nº. 188) nos diferentes níveis. Além disso, um projeto mais amplo motiva os jovens, desenvolvendo neles habilidades de liderança (nº. 191), como fala muito bem “ Civilização do Amor – tarefa e esperança” , citado duas vezes, levando o jovem a formar-se na prática. Em segundo lugar, o documento fala da necessidade de uma instância mais ampla que é chamado de “ Setor Juventude” que tome em conta a mística, a metodologia, a identidade e a organização das diversas

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experiências de trabalho com jovens, sendo nomeadas as Pastorais de Juventude, os Movimentos Eclesiais, as Congregações Religiosas e outras organizações eclesiais, na convicção de que “ o pluralismo de carismas e metodologias, vivido na unidade, fortalece a ação evangelizadora” (nº. 194), mas capazes de estabelecer algumas linhas pastorais comuns (nº. 195). Para isso, diz o documento, não existe um modelo pronto.

Esta pista de ação é a parte mais delicada e a mais visada de todo o documento, tanto por parte dos pastores como das lideranças. “ Delicada” porque está em jogo a organização, instrumento privilegiado para colaborarmos na construção do protagonismo juvenil; “ visada” porque pode levar a esquecer o resto da proposta evangelizadora do documento. É estranha a não referência ao Setor Juventude que já funciona na CNBB, em nível nacional, desde a década de 70. Este não merece nenhuma atenção, parecendo que se visa, somente, a implantação do Setor nas dioceses. É a afirmação da Igreja Particular e o esquecimento da colegialidade episcopal. Nos Setores dos “ Regionais” também não se fala. Não marca presença a preocupação com uma “ pastoral orgânica” . Outro fato que chama a atenção é que se fala somente de “ ampliação” e não da “ eficácia” dessa novidade sendo esta, no fundo, a preocupação dos pastores. As cinco pistas de ação falam da organização do Setor em cada Igreja Particular (sem nenhuma orientação), na capacitação técnica de assessores, no investimento de recursos humanos e financeiros para as estruturas de formação e acompanhamento e no investimento na comunicação através da “ internet” . Não se nega a problemática; o que se pergunta é se esta solução é solução ou motivo de intervenções em estruturas organizativas já existentes em nível diocesano e regional.

13. Como o documento coloca a questão da assesso ia?

A pista Ministério da assessoria é outro ponto alto do documento, especialmente pelo reconhecimento desse serviço como “ ministério” . A primeira vez que se falou dessa forma da assessoria foi num encontro latino-americano de responsáveis da Pastoral da Juventude, em Zipaquirá (Colômbia), em 1995. Este ministério deve ser uma “ preocupação cuidadosa” (nº. 203) por parte da Igreja. “ Não há processo de educação na fé sem acompanhamento” , diz o documento (nº. 203). Mais adiante se afirma, ainda, que “ a dificuldade principal para evangelizar as novas gerações é a falta de pessoas com perfil adequado para este ministério” (nº. 205). Este ministério não é só uma função, mas vocação (nº. 206). Enfim, um “ capítulo” muito rico em sua densidade. As seis pistas falam de estratégias de envolvimento de assessores, no investimento na formação deles/as, na clareza e realismo na escolha dessas pessoas, na organização de equipes de assessores, na liberação deles e na formação de novos assessores/as.

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“ 14. Como o documento encara a questão dos universitários?

Os universitários são contemplados na pista Diálogo fé e azão. O documento fala desse relacionamento pensando no ingresso dos jovens na Universidade – o que é certo, mas a questão é mais ampla. “ A imagem que a Igreja projeta na sociedade é muito importante para a evangelização de uma juventude cada vez mais escolarizada” , diz o documento (nº. 220). Fala e lamenta, também, a “ instrumentalização das pesquisas” (nº. 221). O que transparece, nesta pista, é uma postura um tanto apologética, isto é, de “ defesa” ante os abusos da ciência (nº. 221) e do crescimento do senso crítico. Nesta linha vão, igualmente, em grande parte, as oito pistas, embora fale de modo ligeiro, de uma “ universidade em pastoral” . É a pista que trai certa distância entre o “ objeto” e os “ instrumentos” propostos, sintoma que não há, nesse campo, experiências mordentes.

15. Como ficam, no documento, a luta dos jovens pelos seus direitos?

A última pista de ação intitula-se Direito à vida e fala desse assunto. Face à vulnerabilidade e mortandade de jovens e à agressão à vida, em geral, vivida pelos jovens, esta pista de ação afirma, de imediato, de “ uma firme atuação de todos os segmentos da Igreja no sentido de garantir o direito dos jovens à vida digna e ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades” (nº. 230). Por isso a importância de mecanismos como as “ políticas públicas” (nº. 233), a garantia de acesso aos direitos fundamentais, não pensando somente na “ juventude católica” (nº. 235) e a utilização ética dos meios de comunicação (nº. 237). São densas e sugestivas as oito pistas concretas de ação relacionadas com possíveis promoções, com a formação dentro da Doutrina Social da Igreja, com debates com problemas que afetam a vida dos jovens em sua sacralidade e inviolabilidade e com o amadurecimento da família como primeiro espaço de direito à vida (nº. 246). Muito mais do que dentro de uma postura “ moral” , os bispos tomam, claramente, uma postura “ social” da questão da vida. Enfim, uma pista rica, mordente e abrangente.

Conclusão

Em poucas palavras, este é o documento Evangelização da Juventude – Desafios e Perspectivas Pastorais” . Com todos os questionamentos que podem ser feitos, para a evangelização da juventude o documento pode significar um “ kairós” , isto é, um momento oportuno de – como Igreja e como sociedade – nos reencantarmos pela juventude, como dizia Dom José Mauro Pereira Bastos, de feliz memória e bispo referencial da CNBB para a evangelização da juventude, no

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momento em que se davam os primeiros passos para esta reflexão sobre a evangelização da juventude. Uma sociedade e uma Igreja que não ama a juventude não ama a si mesma. É urgente este reencantamento por parte de todos. O documento terá repercussão se houver amor real à juventude. Antes de olhar possíveis vazios é preciso saber ler as luzes que o documento lança. Elas são muitas. Por isso que podemos dizer que – na conjuntura social e eclesial em que ele apareceu – o documento é uma prova clara de que o Espírito Santo é que governa a Igreja. “ Evangelização da Juventude” é, provavelmente, o discurso mais completo do magistério com relação a esse assunto. Passou o tempo em que se podia dizer que não há “ pronunciamento” sobre a matéria. Mesmo que se imponham aggiornamentos” , existe um ponto de partida amplo, integrado, realista e que diz palavras de felicidade para a juventude e toda a sociedade. Cabe a todos a tarefa de melhorar esta sinfonia. Um verdadeiro pluralismo no serviço do anúncio da Boa Nova em nossa pátria só será possível com o respeito às diretrizes lançadas, com alegria, pelo corpo episcopal da Igreja do Brasil.

Anexo 3: QUANDO A JUVENTUDE COMEÇOU A SER “ ALGUÉM” NA HISTÓRIA DA IGREJA? Hilário Dick É uma pergunta que incomoda, ainda mais quando se lê e se afirma que a Igreja se considera e é tida como uma das grandes instituições que entendem de juventude. Em “ Evangelização da Juventude – Desafios e Perspectivas Pastorais” 7 lê-se que “ a Igreja Católica é uma das

organizações que tem mais experiência acumulada e sistematizada no trabalho com a juventude” . Que peso tem essa afirmação? Baseada em que argumentos essa afirmação não vai além de ser uma frase de efeito? No trabalho que ela desenvolveu no campo da educação formal dos colégios? No incentivo que deu a articulações juvenis que pudessem dizer que eram organizações juvenis?

Olhando para a História, também para a História da Igreja, parece que não adianta pensar que, antes de 1930, houvesse alguma articulação tipicamente juvenil na Igreja, comprovando – pelo que se sabe - que, também na Igreja, os jovens foram um segmento silenciado. Ou isso seria uma afirmação ligeira, sem sentido?

Olhando para a História, uma das primeiras realidades que merecem destaque são as Filhas de Maria que surgiram em 1846, um pouco antes do “ Manifesto Comunista” , de Karl Marx. Eram chamadas de “ Filhas de Maria Imaculada” e viraram Congregação, com membros oriundos, em grande parte, das Congregações Marianas. De articulação juvenil, muito pouco. Fala-se, também, das Congregações Marianas, fundadas pelo P. Jean Leunis em 1564, num dos muitos colégios dos

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