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A sufosão como processo morfogenético do domínio actual nas montanhas ocidentais do centro-norte litoral de Portugal: nota preliminar

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Academic year: 2021

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A sufosão como processo morfogenético do domínio actual nas montanhas

ocidentais do centro-norte litoral de Portugal: nota preliminar

Autor(es):

Cordeiro, A. M. Rochette

Publicado por:

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

URL

persistente:

http://hdl.handle.net/10316.2/40560

Accessed :

15-Mar-2021 21:20:48

digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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CADERNOS DE GEOGRAFIA Coimbra, I E G. 1987 - n.0 6

A SUFOSAO COMO PROCESSO MORFOGENETICO

DO DOM1NIO ACI'UAL NAS MONTANHAS OCIDENTAIS DO CENTRO-NORTE LITORAL DE PORTUGAL

-NOTA PRELlMINAR

A. M. RocHETTE CoRDEIRO

A participar;;ao num recente coloquio 1 implicou a necessidade de um

estudo minucioso de formas e formar;;oes cuja genese se encontra ligada a condic;oes climaticas de relativa proximidade temporal (A. M. Rochette Cordeiro, 1985 e I 986-A). A interligar;;ao entre essas formas e formar;;oes periglaciares e outras geradas sob condir;;oes morfoclimaticas que as antece-deram au lhes sucederam, acarretou a obrigatoriedade de um estudo de todas elas.

Verificou-se, assim, que o estudo do modelado do Quaternario recente, ate ha pouco considerado como urn estudo de somenos importfmcia, a ponto de as estudos geomorfologicos apresentarem globalmente como «depositos actuais ou subactuais» ou mesmo como «depositos de vertente recentes» as formar;;oes pos-wurmianas, era muito mais do que isso. Alias, com com F. Rebelo em 1976 desencadeia-se e desenvolve-se toda uma serie de estudos, sobre os processos, formas e formar;;oes que se verificam neste periodo, e aos quais em trabalho recente sabre a evolur;;ao das vertentes da serra da Freita demos importancia significativa.

A presente nota nao e, assim, mais do que uma primeira analise individual, tanto do ponto de vista morfologico como genetico de um dos processos morfo-geneticos actuais (ou subactuais) menos referido na bibliografia geomorfolo-gica portuguesa a qual existe na grande maioria dos vales e valeiros mais

1 I Reuniao do Quatermlrio Iberica, Lisboa, 1985.

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elevados das serras do centro-none e nucte de Portugal, embora os exemplo! citados se situem somente nas superficies culminantes das sen·as de Monte· muro, Freita e Caramulo (Fig. 1).

A existencia de formas aplanadas, com origem provavel em tempos ter -ciarios (A. B. FERREIRA, 1978), aliada a processos morfogeneticos mais recen·

Flo. 1 - Mapas de localizac;ao.

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tes, motivou provavelmente no ultimo tardiglaciario, 0 aparecimento de condi~oes favoraveis para a forma~ao de solos tipo turfeira.

Os vales das superficies aplanadas culminantes, devido ao seu declive pouco pronunciado (2 a 5°), seriam no tardiglaciario wurmiano optimos corredores de escoamento dos depositos solifiuxivos concentrados de fundo de vale (A. M. RoCHETTE CORDEIRO, 1986-B). Assim, apos o tardiglaciario. com declives ainda mais atenuados, com dificuldades de drenagem acrescidas devido as caracteristicas dos depositos e

a

sua acumula~ao nos valeiros e nas vertentes e com clima propicio (temperado a frio hUmido?) formaram-se solos tipo turfeira.

Nestes vales, com cobertura de materiais turfosos e com revestimento vegetal constitu.ido quase exclusivamente por gramineas, estao criadas con -di~oes para uma diminuta movimenta~ao das particulas

a

superficie. Pode-se dizer que unicamente por escorrencia difusa (e esta com eficacia geomorfolo -gica reduzida) ou pelos pequenos cursos de agua inseridos na turfeira, e que acontece movimenta~ao dos materiais dos depositos de cobertura sendo,

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(5)

do mesmo modo, pouco significativa a ac<;ao do «splach» 1 e da escorrencia concentrada e laminar.

Mas, outro tipo de movimenta<;ao das particulas se vai verificar nestes vales. Trata-se da existencia de fen6menos de escoamento hipodermico, tanto sob a forma laminar como concentrada entre a turfeira e os materiais do deposito solifl.uxivo tardiglaciario, ou mesmo em situa<;oes pontuais entre a turfeira e o substrato rochoso alterado. E o processo morfogenetico que

nos foi apresentado por J. TRICART (1977) como sufosao.

Porem terao de haver em nossa opiniao, condi<;oes bern definidas, para que essas mesmas movimenta<;oes se verifiquem. Em primeiro lugar, a exis-tencia de uma esta<;ao quente e seca, bem marcada, e onde o valor da evapo-ra9lio seja nitidamente superior ao da precipita<;lio (nas serras em estudo esta esta<;lio varia em termos medios entre os 2 e os 3 meses). Depois, o aparecimento de elevadas quantidades de precipita<;lio no periodo seguinte

a

esta<;ao seca (o que nas montanhas ocidentais se come<;a a verificar em

Setembro e Outubro).

No pequeno periodo quente vai verificar-se uma forte desseca<;lio das camadas superiores da turfeira, a qual provoca por um lado o aparecimento de solos fendidos, mas principalmente o endurecimento dessas mesmas cama-das (FoTO I). Originam-se assim condi9oes preferenciais para a ocorrencia de erosao diferencial entre as camadas superiores e as inferiores (sendo este endu-recimento refor<;ado pela forte densidade de raizes de gramineas). Para atem desta componente vertical de desseca<;ao, pode, a partir das margens dos peque-nos cursos de agua aparecer uma componente horizontal, aumentando por isso a quantidade de turfeira endurecida (Fig. 2).

Flo. 2- Sufosao em buraco.

1 Designa~o de terminologia anglo-sax6nica sem traduc;:ao adequada em portugues, significando 0 impacto da gota de agua pluvial no solo.

(6)

3

-2

FoTO 1 - Aspecto do solo turfoso ap6s urn periodo de forte dessecat;ilo. Vale de Alber-garia da Serra.

1 - Deposito solifluxivo tardiglaciar de vertente 2 - Camada nilo dessecada da turfeira

3 - Camada dessecada da turfeira (vai agir como camada dura)

Ap6s este periodo seco, aparecem as chuvadas do inicio do Outono.

A superficie da turfeira funciona como «camada dura». As aguas pluviais

circulam entre essa camada e o deposito solifluxivo, provocando por isso a

evacua~ao dos materiais mais finos, da camada inferior, logo nao endurecida da turfeira.

Nas montanhas em estudo, parecem existir duas formas ligadas

a

sufosllo.

0 desencadeamento do processo que as origina tem a ver com situa<;oes

posicionais distintas em rela<;ao

a

linha de incisao dos pequenos cursos

de agua.

A primeira dessas formas segue urn pouco toda a sequencia atnis descrita

(e ilustrada pela fig. 2), com a evacua<;ao dos materiais finos a verificar-se junto aos cursos de agua ou mesmo inclusivamente sob esse mesmo curso

de agua dependendo necessariamente do «paleo-declive» existente

a

superficie

no deposito solifluxivo tardiglaciar. A evolu<;ao faz-se de baixo para cima

210

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parecendo-nos que por abatimentos sucessivos (FOTO 2) J (muitas vezes estes estes abatimentos aguentam-se pelas raizes das)ramineas e solo envolvente,

FoTo ::?. - Evolu~ao por abatimentos sucessivos (observam-se tres abatimentos). Yale de Albergaria da Serra.

aparecendo na fase final do processo, grandes buracos (com max1mo de urn

metro e meio) no meio da turfeira.

E

a sufosao em buraco (Foro 3).

1 No nosso ultimo trabalho sobre a serra de Freita (A.M. RocHETTE CORDEIRO, 1986-B),

consideramos que a forma final se devia a diversas fases. Uma dessas fases era a passagem por momentos de buracos de lama. Pensamos actualmente que essas ratoeiras de lama se devem

a

fase posterior da sufoslio em buraco, onde, por ac~ao antr6pica, se verifica o enchi

-mento com diferentes materiais (argila, silte, areias, ou mesmo blocos). 0 aparecimento das chuvas, leva a que estes materiais se tornem autenticas ratoeiras tanto para homens como para animais.

Existem mesmo locais onde a mistura de agua e argila vai provocar condi~oes favoraveis ao aparecimento de pequenos deslizamentos de solo endurecido existindo a partir dai dois locais propicios para a evacua~iio dos materiais mais finos da camada niio endurecida dos materiais turfosos.

(8)

FoTO 3 - Sufosao em buraco. Vale de Tebilhao.

A evoluc;:ao final do escoamento hipodermico dos materiais mais finos nao dessecados leva ao aparecimento de grandes buracos na turfeira.

A-Turfeira dessecada (camada dura)

8- » nao rlessecada (camada branda)

c

.

Deposito solifluxivo tardiglaciar

1 · · Evacua~ao dos materia is

2

-

Abatimento

3

-

sufosao em bur a co

(9)

A segunda situar;:ao acontece nas vertentes, com declives entre os 18 e os 25o, cobertas por um deposito de materiais identicos aos da turfeira ou mesmo

pelo deposito solifiuxivo sub-actual (A. M. RocHETTE CoRDEIRO 1986-A). Em relar;:iio

a

dessecar;:iio estes funcionam do mesmo modo que a turfeira no caso anterior, aparecendo, assim, uma camada mais dura, refon;ada pelo

mesmo tipo de revestimento vegetal. Assim, o material nao dessecado

c

evacuado pelas aguas pluviais concentradas que circulam entre a rocha

alte-rada (ou o deposito solifiuxivo tardiglaciar na sua componente de vertente)

e a camada endurecida I. Nesta situar;:ao, alem de parecer circular, do mesmo

modo, subaereamente em funr;:ao do «paleo-declive» da vertente anterior ao solo

turfoso a agua circulara, tambem sob a forma de escoamento hipodermico.

Foram as formas por nos designadas de sufosao em terracetes 2. (Foto 2

e Fig. 4)

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metre

A Cobertura vegeta~ao (essencialmente gramineas) fl Materia is de carateristicas turfosas endurecidas

c

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» )) nao endurecidas

D t.lovimenta~ao das aguas entre OS dais tipos l!e material, pro•tocando a evacuasao dos materiais ~lis finos.

FIG. 4 - Sufosao em terracetes (corte longitudinal).

da figura

4:

2 A designa~ii.o «sufosiio em terracetes» aparece por analogia com os solos em terra-cetes das regioes periglaciares, ja que as formas tern com estas semelhan~as. Em alguns casos,

deixam mesmo duvidas, se parte da genese nii.o ten! side por acumula9iio de neve em degraus,

nas vertentes de exposi~iio norte seguida da ac~ii.o do gelo na destrui~iio da vegeta9ii.o nos

espac;os nii.o cobertos pela neve.

No que refere

a

evoluc;ao, a conjuga~iio de processos ligados

a

sufosiio e

a

decapagem

parece ser evidente se bern que, s6 ap6s urn estudo mais profundo. esta revela9ao possa ser

perfeitamente definida.

(10)

Apes o estudo de turfeiras em areas adjacentes

a

da area em estudo

(Galiza, Serra da Estrela e Serras da Peneda-Geres) e consideradas como de

provavel :-. ·· ··~'~o entre o Pre-Boreal e tempos hist6ricos (NoNN, 1966:

JANSSE?-! e HOLDRINGH, 1981 e G. COUDE-GAUSSEN, 1981), alias, hip6tese por

- ---.. - -1 I

Foro 4- Sufosao em «terracetes». Yale de Albergaria da Serra.

A ac~ao conjunta do gelo e da agua (atraves da decapagem do solo e da sufosao) leva ao aparecimento destas formas.

n6s defendida para a turfeira da serra da Freita, embora nao totalmentc

provada (A. M. RocHETE CoRDEIRO, 1985). Destacando parece-nos que

para a genese de formas por ac<;:ao da sufosao tern de se verificar condi<;:oes

climaticas em que ap6s o aparecimento de urn periodo quente e seco (Veriio)

existam chuvadas intensas (condi<;:oes verificadas na actualidade nestas serras), somes levadas a colocar a hip6tese de que as formas ligadas f1

sufosao sao notoriamente holocenicas e muito provave1mente nossas con -temporaneas.

Manuscrito em Abril de 1987

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BIBLIOGRAFIA

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Referências

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