REVISTA DE
REVISTA DE
ESTUDOS
ESTUDOS
ESTRATÉGICOS
ESTRATÉGICOS
NúmeroNúmero 03 03 - - Ano Ano 01 01 Fevereiro/Março Fevereiro/Março de de 20122012
Escatologia Revolucionária
Escatologia Revolucionária
O V
O V
erdade
erdade
iro Ha
iro Ha
vel
vel
Desinformação e Tradução:
Desinformação e Tradução:
Orelhada Ideológica
Orelhada Ideológica
O Nazismo e Igreja Católica
O Nazismo e Igreja Católica
na Alemanha: Colaboração
na Alemanha: Colaboração
ou Resistência?
ou Resistência?
A R
Escatologia e a
Escatologia e a Obsessão RevolucionáriaObsessão Revolucionária
O movimento revoluci
O movimento revolucionário e a onário e a incapacidade para o incapacidade para o transcendenttranscendentee
Tiago Venson
Tiago Venson
O Verdadeiro Havel
O Verdadeiro Havel
Petr Cibulka, um real dissidente do regime comunista
Petr Cibulka, um real dissidente do regime comunista
Alex Pereir
Alex Pereiraa
Desinformação e Tradução: A Orelhada Ideológica
Desinformação e Tradução: A Orelhada Ideológica
Um novo estilo literário de falsiicação
Um novo estilo literário de falsiicação
Hélio Angotti Neto
Hélio Angotti Neto
O Nazismo e Igreja Católica na Alemanha:
O Nazismo e Igreja Católica na Alemanha: ColaboraçãoColaboração
ou Resistência?
ou Resistência?
Parte1: A ascenção do Nazismo e a Igreja alemã
Parte1: A ascenção do Nazismo e a Igreja alemã
Henrique de Albuquerque
Henrique de Albuquerque
A Religião global
A Religião global da URIda URI
A United Religions Iniciative, a religião biônica da ONU
A United Religions Iniciative, a religião biônica da ONU
Cristian Derosa Cristian Derosa 1 1 14 14 23 23 27 27 44 44 Resenhas Literárias Resenhas Literárias Vidas Secas Vidas Secas
O brasileiro continua Fabiano
O brasileiro continua Fabiano
Hélio Angotti Neto
Hélio Angotti Neto
A Tr
A Tragédia da Redenção Inatagédia da Redenção Inatingíveingívell
Hélio Angotti Neto
Hélio Angotti Neto
A
A 1984: A Profecia Moderna de George Orwell1984: A Profecia Moderna de George Orwell
Hélio Angotti Neto
Hélio Angotti Neto
Seção de Livros Seção de Livros 37 37 40 40 42 42 60 60
Artigos
Artigos
Literatura
Literatura
Índice ÍndiceRetirados de cena a alma e o Absoluto, resta
apenas o combate de Leviatã e Beemoth: o
espírito de rebelião autolátrica que comanda
a História, o espírito de submissão cega e
mecânica à natureza exterior
A
nova edição da Revista do Núcleo de Estudos Estratégicos doSeminário de Filosoa vem com uma nova disposição do nome, atendendo agora como somente Revista de Estudos Estratégicos, o que procura melhor lembrar o tema de seus estudos. Da mesma forma, a imagem que ilustra a capa, Man of war between two galleys, de Pieter
Bruegel, representando os mares como a grande metáfora inaugural que, trazida da inspiração do mestre Olavo de Carvalho, nos reconstrói o espírito a cada edição, a cada ímpeto de investigação dispendido em sua forma, nas ondas dos mares mais bravos. Não por acaso, iniciamos as páginas com a imagem da serpente, essa eterna inimiga do homem e de Deus, monstro que pode representar tanto a furtividade que engana a percepção humana quanto
os monstros marinhos colossais obstáculos à toda navegação.
Esta edição traz, em mais um ótimo texto losóco de Tiago Venson, uma importante reexão sobre o tempo, a Eternidade na escatologia cristã, no
contexto da perversão revolucionária de nossos dias. A edição conta também com os artigos de Hélio Angotti Neto, que traz a literatura como um dos grandes interesses do NEE em importantes meditações de certo modo essenciais para o suporte imaginativo e também reexivo dos que pretendem compreender a intrincada trama que o real nos oculta, seja no pantanoso universo brasileiro ou na caótica e por vezes incompreensível estrutura da realidade a qual nos dedicamos a decifrar.
O artigo Desinformação e tradução: a orelhada ideológica, também de
Hélio, demonstra como é exercido o poder deformador dos intelectuais de esquerda na cultura brasileira, o que nos sugere uma realidade ainda mais acabrunhante quando pensamos na legitimidade que intelectuais como Emir Sader gozam no meio editorial e acadêmico do país. Um dos frutos desse tipo de desinformação acarretou erros de interpretação tais como o que é aqui demonstrado por Alex Pereira no artigo, O verdadeiro Havel , que
para tanto conta com as informações preciosas do dissidente tcheco Petr Cibulka, desmontando a farsa da Revolução de Veludo por meio da Carta 77, o que deu oportunidade para ascensão de intelectuais e políticos como Mikhail Gorbachev, George Soros, Fernando Henrique Cardoso, entre outros comunistas apresentados ao mundo como grandes democratas e libertadores. Somente em uma cultura lentamente anestesiada para qualquer preocupação com a análise cuidadosa de qualquer assunto, tais técnicas primárias de falsicação intelectual poderiam alcançar tamanho êxito. Juízos superciais tornaram-se, aliás, a especialidade não só do brasileiro. Em uma época em que cristãos são massacrados sicamente no Oriente Médio e África e
Cartograa da desinformação
Edição dos Textos: Cristian Derosa , Edson Camargo e Tiago Venson
Edição Gráfca: Alex Pereira Artigos: Tiago Venson, Alex Pereira, Hélio Angotti , Henrique Albuquerque e Cristian Derosa
Revisão Geral: Bruno Machado Coordenação do Núcleo: Jayme Neto
E-mail: contato@neesf.org
REVISTA DE
ESTUDOS
ESTRATÉGICOS
Número 03 - Ano 01 - Fevereiro/Março de 2012
Publicação do Núcleo de Estudos Estratégicos do Seminário de Filosofa
moralmente em todo o Ocidente, a Igreja Católica ainda sofre com velhas lendas e associações históricas bizarras. Henrique Albuquerque, na primeira parte da
série O nazismo e Igreja Católica na Alemanha: colaboração ou resistência?,
demonstra com ampla referência bibliográca a forte atuação do papa Pio XI e do cardeal Pacelli, desmisticando a lenda falaciosa do “Papa de Hitler”. Toda a imprensa e órgãos ociais governamentais engajaram-se na destruição e marginalização da Igreja Católica, mas não só dela. A Cristandade corre perigo grave com a inltração comunista e gnóstica, dos quais grande parte
da mesma imprensa segue ordens expressas.
Os movimentos Nova Era, carregados por entidades como a United Religions Initiative, fecham a edição e fazem parte de uma série de artigos, resultado das pesquisas que se iniciaram com a leitura do livro False Dawn, de Lee Penn, levados a cabo por Cristian Derosa e Alex Pereira, dentro do que convencionou-se chamar Grupo de Estudos dos Movimentos Gnósticos. Assim como este grupo, outros grupos surgirão e têm surgido, fruto do interesse e do sentido de vida de cada membro, o que deve orientá-lo na busca da verdade. E fruto igualmente do esforço no enfrentamento de todos os obstáculos prossionais, emocionais e de isolamento, de períodos de tempestades e calmarias, dúvidas e incertezas, o que certamente deve nos instigar ainda mais a juntar a força necessária para que alcancemos os propostos objetivos, se Deus assim o quiser.
Santo Agostinho empreendeu esforços enormes para entender a Santíssima Trindade. Diz a lenda que seu empenho foi tamanho que o próprio Cristo, em forma de menino, veio mostrar-lhe que sua empreitada era tão impossível quanto transferir toda a água
do mar para um buraco na areia usando uma concha1. A despeito
do recado, o Santo não desistiu, mas entendeu que, tomando o estudo da Divindade como manifestação de seu amor por Deus, a inviabilidade de concluir a missão não era um empecilho, mas, ao invés, era a garantia de
que a prova de amor se estenderia por toda sua vida. Ou seja, a
irresignação agostiniana perante o impossível mostrou-se atestado de sabedoria e meio santiicação.
Talvez como prêmio por sua valentia, o Doutor foi iluminado com a seguinte conclusão: A onipotência divina torna viável que os próprios conhecimentos e pensamentos de Deus façam-se realidade. Sendo Deus
onisciente, seria imperativo que tivesse ciência de si próprio. Tal conhecimento de sua própria natureza é o seu logos, ou verbo no sentido do entendimento de si
Escatologia e a obsessão
revolucionária
Tiago Venson Movimento Revolucionário
próprio. Por fruto da onipotência, o logos manifesta-se como
realidade da substância divina, compondo uma pessoa, Deus Filho. Deus Pai, olhando para seu entendimento de si mesmo, reconhece-se e vê que é bom, e o ama. O verbo, reconhecendo em si o Pai, e percebendo seu amor, o devolve, formando-se um enlace amoroso entre Pai e Filho, uma relação recíproca que, também por fruto da onipotência, consubstancia-se na terceira
pessoa, o Espírito Santo2.
Uma vez que a Santíssima Trindade tem sua existência no plano do eterno, a relação entre as três pessoas é imutável, ou seja, existe desde sempre e para sempre. A estrutura da eternidade pode ser condensada conforme
ig. 1.
Mas Deus expande essa
estrutura por meio da criação, formando uma segunda camada conforme narrado no Gênesis. Lá, as coisas são feitas e Ele vê que o que Ele criou é bom. Importante notar, partindo das conclusões de Santo Agostinho, e tendo em vista os atributos divinos da bondade, beleza e verdade, que se Deus Pai gera Deus Filho ao reconhecer-se, então na criação Deus Filho está
presente em tudo que é bom, belo e verdadeiro, e incide sobre tais coisas o Espírito Santo.
Por outro lado, a criação não estava mais na eternidade, pois o eterno não tem começo. Portanto, com o advento do mundo,
iniciou-se uma nova estrutura da realidade, dessa vez com começo, mas sem im, denominada evo. A eviternidade caracteriza-se pela ausência de antes e depois, embora lhe sejam aplicáveis3.
Pode-se imaginar o evo como tendo alguma semelhança com os pensamentos, que embora não estejam presos pelos
limites temporais podemos nos lembrar de situações passadas ou planejar atos futuros podem seguir voluntariamente uma linha seqüencial, como quando pensamos em um diálogo. O evo é um intermédio entre o eterno e o tempo, aquele marcado
pela absoluta imobilidade e simultaneidade, este, pela mutabilidade constante e transcurso progressivo de
momentos. Eric Voegelin anota que:
“A estória da busca
como o relato de um
evento participativo
Pai Espírito Santo Filho Amor ig. 1[Criação] não se origina
nem se desenrola na
dimensão temporal dos
objetos externos nem
na dimensão de uma
eternidade, de um tempo
divino fora do tempo,
mas em algum lugar no
Intermediário de ambos,
isto é, na dimensão
simbolizada por Platão
como a metaxy. A partir
desse fator, abre-se no
paradoxo a visão sobre
os problemas dos vários
modos do tempo. O
fator é uma das razões
experienciais que levaram
Platão a simbolizar o
tempo como o eikon
móvel da eternidade.”
4No evo é que aparece a dúvida de alguns anjos sobre a bondade de Deus e suas transmudações em demônios.5 Ali ocorre a guerra
entre os anjos, a luta entre Miguel e o Dragão, narrada em Apocalipse: 12, 7 . Portanto, a batalha está fora
do tempo, caracterizando uma tensão entre vontades obedientes e rebeladas a Deus, tensão essa que tem relexos no nosso mundo.
Também no evo se cria o
primeiro casal, então em corpos gloriosos, à imagem e semelhança de Deus. Mas, para garantir a
liberdade da inteligência, Deus impôs a proibição de que Adão e
Eva comessem do fruto da árvore do conhecimento. No primeiro efeito, na história, da revolta dos anjos sobre os homens, nossos pais ancestrais desobedeceram a proibição e o mal entrou no mundo.
Com a manifestação do mal,
vêm ao ser os efeitos do mal, entre eles, a corrupção. A maldição de Deus pelo Pecado Original culmina na sentença: Pois tu és pó e ao
pó retornarás, ou seja, a partir de então, o homem não era mais imortal, mas sujeito à corrupção e desgaste até sua aniquilação com a morte.6
Ora, a corrupção é um fenômeno temporal, pois se caracteriza por uma corrosão que, depois, é maior do que imediatamente antes. Ou seja, a sucessão de momentos torna-se uma propriedade
necessária da realidade onde o mal se manifesta, de modo que surge uma terceira camada do ser, o tempo.
Note-se que o tempo não
decorre diretamente dos planos de Deus, mas do mal, e é permitido por Deus apenas por respeito
ao livre arbítrio. A amplitude do evo, desse modo, é reduzida a uma sucessão de momentos de constantes e ininitas decadências.
Em suas Conissões, Santo
Agostinho explicita a pequenez da extensão do tempo:
De modo que existem
aqueles dois tempos o
passado e o futuro se o
passado já não existe e o
futuro ainda não veio?
Quanto ao presente, se
fosse sempre presente
e não passasse para o
pretérito, já não seria
tempo, mas eternidade.
Mas se o presente,
para ser tempo, tem
necessariamente de
passar para o pretérito,
como podemos armar
que ele existe, se a causa
da sua existência é a
mesma pela qual deixará
de existir? Para que
digamos que o tempo
verdadeiramente só existe
porque tende a não ser?
(...)
O que agora claramente
transparece é que nem
há tempos futuros nem
pretéritos. É impróprio
armar que os tempos são
três: pretérito, presente
e futuro. Mas talvez
fosse próprio dizer que os
tempos são três: presente
das coisas passadas,
presente das presentes
e presente das futuras.
Existem, pois, estes três
tempos na minha mente
que não vejo em outra
parte: lembrança presente
das coisas passadas,
visão presente das coisas
presentes e esperança
presente das coisas
futuras. Se me é lícito
empregar tais expressões,
vejo então três tempos e
confesso que são três.
7Ou seja, o tempo é um iapo de realidade atual que se mantém em constante e absoluta mutação. O tempo é, portanto, a antítese da eternidade.
Ademais, o tempo, ao contrário da eternidade e do evo, tem
princípio e im. O princípio do tempo ocorre com o pecado e o surgimento do mal. Seu im
ocorrerá com o juízo inal, quando o mal será lançado em um lago de fogo, para ali sofrer a segunda morte, cessando seu efeito
corruptor. A estrutura do ser, então, ica conigurada conforme a ig. 2.
O Pecado Original, tendo provocado a queda de Adão e Eva para a dimensão temporal evento simbolizado pela expulsão do primeiro casal do Jardim
do Éden tem por conseqüência que toda a geração humana nasce na dimensão temporal, tornando impossível seu retorno à eviternidade, dada sua natureza maculada pelo mal. Para abrir novamente essa possibilidade e resgatar o cosmos ao plano de
logos divino se encarne no ventre de uma virgem imaculada para que exista, no mundo, um novo Adão absolutamente bom, imune à corrupção e, portanto, apto a ingressar novamente no evo.8
Mas não bastava isso, pois todos os homens sendo já atingidos pelo mal, estariam condenados à degradação até a morte. Por isso, Cristo abre o caminho para o evo por meio de um mecanismo que acontece após a consumação da corrupção, com a reversão da morte via
ressurreição gloriosa da carne. Os detalhes desse mecanismo, a visita à mansão dos mortos, a paixão e outros elementos, ainda que interessantes, não têm relação direta com o assunto deste artigo.
Há, entretanto, que se enfatizar a impossibilidade de retorno do homem ao evo a princípio apenas como alma, e depois como corpo glorioso antes da purgação de todo o seu mal. Ou seja, se apenas o que é bom, belo e verdadeiro
pode adentrar o evo, e se o que é bom, belo e verdadeiro consiste em manifestação de Deus Filho sob o amor do Espírito Santo, somente quando os homens abandonam sua natureza
pecaminosa e se tornam como Cristo é que podem ser admitidos nos Reinos dos Céus. Em outras palavras, para que o homem seja aceito nas proximidades do plano eterno, é necessário que ele diga, como São Paulo “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gálatas: 2, 20). Neste sentido, airmou o então Cardeal Ratzinger:
9
One is in heaven
when, and to the degree,
that one is in Christ. It is
by being with Christ that
we nd the true location
of our existence as human
beings in God.
Aqueles que se apegam à sua natureza temporal com a morte
Pai
Espírito Santo
Filho
Criação
Guerra entre os anjos Pecado Original
Amor
Eviternidade
Tempo
continuam no tempo e, assim, mantêm-se a degradar-se e corroer-se, até o dia do juízo. É possível imaginar o sofrimento de uma alma que, apegando-se durante a vida unicamente ao que é mutável e sensível, encontra-se após a morte carente do corpo, exatamente o fornecedor de todo estímulo sensorial. Nos vivos, a privação completa de estímulos provoca a insanidade em curto prazo. Nas almas, literalmente é o inferno.
Outros, em sua vida não se
moldam totalmente aos atributos eternos da bondade, beleza e
verdade, mas mantém-se em um estado híbrido. Nesses casos, há um pouco de imutável, de Cristo, em seus seres, mas também há algum mal. Ora, o mal se corrói e se extingue a si mesmo se não for alimentado. Com a morte, tais homens permanecem no tempo até que sua parte não cristã se esgote e eles, no que resta de
bondade, possam ascender ao evo. Esse tempo em que permanecem no tempo é a puriicação, ou o purgatório. A respeito, o Cardeal Ratzinger ensina:
However, Clement does
not fall into the trap of
the idea of timelessness
(considered above).
He lights upon a
pro- found anthropological
concept of time which
allows him to say that,
when the one who is
“ascending”reaches
the highest level of
pneumatic bodiliness,
the pleröma, then at
that moment he enters
sunteleia, perfection,p
and therewith the
eschatological “Day of
God”, the eternal Today.
(…)
The essential Christian
understanding of
Purgatory has now
become clear. Purgatory
is not, as Tertullian
thought, some kind
of supra worldly
concentration camp
where man is forced to
undergo punishment in
a more or less arbitrary
fashion. Rather is it
the inwardly necessary
process of transformation
in which a person
becomes capable of
Christ, capable of God
and thus capable of
unity with the whole
communion of saints.
10Finalmente, aqueles que se desprendem do que é carnal,
mundano e diabólico e se dedicam plenamente ao que é de natureza
divina, eterna e imutável, são
admitidos imediatamente no evo. Essa explicação do destino das almas mostra-se necessária para deixar evidente que a essência da salvação é o abandono do que é temporal/mutável, por meio de uma escolha consciente de amor a Deus e busca por algo que está no plano da eternidade/ imutabilidade. Essa constatação é bastante antiga. No diálogo Fedon - posto que contenha
alguns raciocínios primitivos ou excessivamente simbólicos - vê-se que Sócrates já capta que o amor da alma pelo imutável é condição para sua felicidade após a morte. Diz-nos o ilósofo:
- Não dizíamos, ainda
há pouco, que a alma
utiliza às vezes o corpo
para observar alguma
coisa por intermédio da
vista, ou do ouvido, ou de
outro sentido? Assim o
corpo é um instrumento,
quando é por intermédio
de algum sentido que
se faz o exame da coisa.
Então a alma, dizíamos,
é arrastada pelo corpo
na direção daquilo que
jamais guarda e mesma
forma; ela mesma se torna
inconstante, agitada, e
titubeia como se estivesse
embriagada: isso, por
estar em contato com
coisas desse gênero.
- Realmente.
- Mas quando, pelo
contrário nota bem! ela
examina as coisas por si
mesmo, quando se lança
na direção do que é puro,
do que sempre existe,
do que nunca morre, do
que se comporta sempre
do mesmo modo - em
virtude de seu parentesco
com esses seres puros - é
sempre junto deles que
a alma vem ocupar o
lugar a que lhe dá direito
toda realização de sua
existência em si mesma
e por si mesma. Por isso,
ela cessa de vaguear e,
na vizinhança dos seres
de que falamos, passa
ela também a conservar
sempre sua identidade e
seu mesmo modo de ser: é
que está em contato com
coisas daquele gênero.
Ora, este estado da alma,
não é o que chamamos
pensamento?
(...)
- Suponhamos que seja
pura a alma que se separa
do corpo: deste ela nada
leva consigo, pela simples
razão que, longe de ter
mantido com ele durante
a vida um contato
voluntário, ela conseguiu,
evitando-o,
concentrar-se em si mesma e sobre
si mesma, e também pela
razão de que foi para
esse resultado que ela
tendeu. O que equivale
exatamente a dizer que
ela se ocupa, no bom
sentido, com a losoa,
e que, de fato, sem
diculdade se prepara
para morrer. Poder-se-á
dizer, pois, de uma tal
conduta, que ela não
é um exercício para a
morte?
- Sim, realmente é isso.
- Ora, se tal é seu
estado, é para o que se
lhe assemelha que ela
se dirige, para o que é
invisível, para o que é
divino, imortal e sábio;
é para o lugar onde sua
chegada importa para ela
na posse da felicidade,
onde divagação,
irracionalidade, terrores,
amores tirânicos e todos
os outros males da
condição humana cessam
de lhe estar ligados, e
onde, como se diz dos que
receberam a iniciação,
ela passa na companhia
dos Deuses o resto do
tempo. É deste modo,
Cebes, que devemos falar,
ou cumpre-nos procurar
outro?
- Esse mesmo, por
Zeus!
- Segundo me parece,
pode-se também supor
o contrário: que esteja
poluída, e não puricada,
a alma que se separa
do corpo. Do corpo,
cuja existência ela
compartilhava; do corpo,
que ela cuidava e amava,
e que a trazia tão bem
enfeitiçada por seus
desejos e prazeres, que ela
só considerava real o que
é corpóreo, o que se pode
tocar, ver, beber, comer e
o que serve para o amor;
ao passo que se habituou
a odiar, a encarar com
receio e a evitar tudo
quanto aos nossos olhos
é tenebroso e invisível,
inteligível, pelo contrário,
pela losoa e só por ela
apreendido!
11De fato, se para a ascensão ao evo é necessário que o homem seja como Cristo, e sendo Deus imutável, o evo é uma dimensão caracterizada pela constância de beleza, bondade e verdade.
Começa a se desenhar a
natureza maléica e diabólica da mente revolucionária, na qual um dos elementos constante é a aversão e quase terror a
qualquer imobilidade, harmonia duradoura, ixidez. Descrever a um revolucionário a felicidade de um casamento monogâmico que dure até o im da vida, ou a alegria de uma vida de estudos cujo im não é a transformação social, mas a simples contemplação da realidade, é semelhante a uma recitação fervorosa do hino da
Segunda Carta aos Filipenses a um possesso: esgares e convulsões.12
Também se vê que o amor pela mutabilidade é
predominantemente revestido de soberba, de um sentimento de superioridade que leva
a conclusão de que ele, o
revolucionário, é capaz de mudar a própria estrutura da realidade. Coincidentemente, o orgulho foi justamente o pecado do primeiro anjo caído.
Ainda, o revolucionário não admite a alteração sutil do mundo, com modiicações naturais mediante acúmulo de conhecimentos e técnicas contra
as quais nenhum conservador se oporia -, mas busca a ruptura do estado anterior por meio da completa inversão do objeto de sua ação. A revolta demoníaca,
semelhantemente, não se contenta com a simples criação de símbolos e rituais próprios, mas prefere a inversão do que é sagrado, como a cruz, os nomes ou a missa.
Mas o aspecto mais
evidentemente demoníaco da mente revolucionária é sua característica de revolta que adquire ininitas facetas, todas elas tendo em comum buscarem se afastar da divindade. A imagem ica clara pelo simbolismo das
catedrais, nas quais as iguras
horrendas esculpidas nas gárgulas estão voltadas para fora, de costas para o altar (Deus), como que
evitando contemplá-lo. Daí sua deformidade. Porém, enquanto o altar é único e localizado no centro, as gárgulas são inúmeras e cada uma delas voltada para uma direção.13 Do mesmo modo,
as manifestações revolucionárias tentam voltar as costas para as esferas superiores da realidade, ou negando-as, ou airmando que os atributos da eternidade e do evo estão, na verdade, no tempo. Eric Voegelin descreve o fato do seguinte modo:
Neste ponto, quando
a resistência à desordem
se transforma numa
revolta contra o próprio
processo da realidade e
sua estrutura, a tensão
da existência formativa
no movimento e no
contramovimento
divino-humano da metaxy pode
ruir; a presença do Além,
sua Parusia, não é mais
experimentada como uma
força ordenadora ecaz,
e, conseqüentemente, o
inquiridor da verdade
não pode mais contar
uma estória que fala
parte da estória contada
pela realidade-Isso. No
extremo da revolta da
consciência, a realidade
e o Além se tornam duas
entidades separadas, duas
coisasc a ser magicamente
manipuladas pelo
homem sofredor com
o propósito de abolir
inteiramente a realidader
e refugiar-se no Além,
ou com o propósito
de impor a ordem do
,AlémA à realidader. A
primeira das alternativas
mágicas é preferida
pelos gnósticos da
Antiguidade; a segunda,
pelos pensadores
gnósticos modernos.
14 Realmente, observando os principais movimentosrevolucionários, percebe-se que todos se concentram no plano temporal ao mesmo tempo em que negam tudo que estiver
acima. Vejamos alguns exemplos. Para formar uma descrição mais esquemática de cada grupo,
descrever-se-á a estrutura da
eternidade como Deus, o evo como paraíso, e o tempo como mundo:
1
O pensamento iluminista da tradição intelectual de Espinosa a Diderot se caracteriza pela rejeição às esferas superiores e airmação de todo o cosmosapenas no tempo, substituindo a divindade, os milagres e as revelações pela idéia de um bem maior atualizável por meio de leis que incorporam o bem comum. Segundo Jonathan I. Israel, “o que estava em jogo eram duas visões de mundo opostas, uma baseada na Revelação, religião e milagres e a outra rejeitando essa visão em favor de um
determinismo ilosóico e um materialismo enraizado na idéia
de que não havia um governo
divino do mundo e nem existência após a morte”15. Ou seja, para o
iluminismo, não há Deus e não há paraíso, há apenas mundo.
2
O gnosticismo de Helena Petrovna Blavatsky, Alice Bailey e Rudolf Steiner não nega os atributos superiores, mas os trás para o plano temporal, seja enxertando nos homens os aspectos divinos, seja promovendo uma apologia ao plano temporal de existência, a im de convencer seus adeptos de que o paraíso ica neste patamar de realidade. São comuns citações como:Esoteric philosophy
shows that man is truly
the manifested deity in
both its aspects – good
and evil.
16We are all Gods, all
the children of the One
Father, as the latest of the
Avatars, the Christ, has
told us.
17No one will ever
dissuade me from
thinking that the real
divide, de real human
conict today, is not
between democrats,
fascists, communists,
and Christians, but
between those who do
and do not believe that
there is a Humanity to
be constructed over and
above man (to save and
complete Man, to be
precise). It is a struggle
between Stability and
Movement.
18Vê-se então que para essa vertente da gnose, há Deus, mas está no homem, e há paraíso, mas está no mundo.
3
O comunismo marxista segue uma linhasemelhante, porém nega a existência da divindade e põe ênfase na construção de um paraíso terrestre. Como resume Eric Voegelin, “Na raiz da ideia marxiana está uma doença
espiritual, a revolta gnóstica de quem se fecha à realidade transcendente” .19 Há acentuada
apologia ao movimento, aversão à imobilidade e necessidade da revolução como um im em si mesmo: “O que vulgarmente se chama a inalidade derradeira do socialismo nada representa para mim; o movimento é tudo.” 20
Em resumo, o comunismo considera que não há Deus, mas que há paraíso, o qual é realizável no mundo por meio da revolução socialista.
4
Em um último exemplo, vê-se a tentativa docientiicismo moderno de
que permitam a exata previsão e total controle da realidade
temporal, afastando os caracteres qualitativos dos objetos e
airmando a existência pura das quantidades. Nega-se Deus, nega-se o paraíso, e busca-nega-se atualizar a eternidade no mundo.
O que resta claro é que há uma constante em todo
movimento revolucionário, que é a incapacidade de vislumbrar a transcendência. Porém, como todo homem tem no coração uma consciência mais ou menos tênue da eternidade, resta aos
revolucionários tentar trazer para seu alcance teórico - que se limita ao mundo - tais atributos.
É necessário ressaltar que esse procedimento não é exclusivo da mentalidade revolucionária, não sendo, portanto, um critério distintivo. Os denominados
libertarians, por exemplo, também não conseguem vislumbrar as
esferas superiores e as negam.
Entretanto, a negação dos estratos superiores, ou a tentativa de
trazer seus caracteres para o
mundo, é presente em toda mente revolucionária.
Por im, é de se pensar: se a presença das esferas superiores do ser é perceptível em toda alma humana, e a atualização de seus caracteres no tempo é obstada pela própria estrutura da realidade, por que a mentalidade revolucionária continua a buscar novos meios para fugir de tais
constatações? A pergunta é tão irrespondível quanto a questão dos motivos que levaram o maior e mais belo dos anjos a topar uma briga cuja vitória é impossível. Nesses casos, apenas se pode responder que a irresignação perante o impossível mostra-se nada mais que um atestado profano de estupidez.
NOTAS
1 http://www.vatican.va/
holy_father/benedict_xvi/elezione/ stemma-benedict-xvi_po.html
2 AGOSTINHO, Santo. A trindade.
Tradução: Frei Agustino Belmonte, O. A. R. São Paulo: Ed. Paulus, 1995, Livro VI, Cap. 5, p. 224.
3 AQUINO, Tomas de. Suma teológica. Tradução: José Martorell
Capó. Madri: Biblioteca de Autores Cristianos, 2001. p. 158.
4 VOEGELIN, Eric. Ordem e
História. Tradução: Luciana Pudenzi.
São Paulo: Loyola, 2010. Vol. V. p. 50 5 Para uma descrição detalhada, ver: FORTEA, José Antônio. Summa Daemoniaca. Editorial Dos Latidos,
2004. p. 13-18.
6 O mal parece agir como uma espécie de bloqueio à ação criadora de Deus, de modo que aquilo que foi criado, diante desse obstáculo, começa a perecer, em um movimento de “descriação”. De fato, os santos que se afastaram radicalmente do mal deixam a incorruptibilidade de seus corpos como prova, a contrario sensu, dos seus efeitos corrosivos.
7 AGOSTINHO, Santo. Conissões.
Tradução: J. Oliveira Santos e A.
Ambrósio de Pina. Petrópolis: Vozes, 1990. 10 ed. P. 278 e 284.
Virgem Maria por ação do Espírito Santo. Se o Espírito Santo é o amor entre Deus Pai que se reconhece no Deus Filho, conclui-se que Deus Pai vislumbrou-se tão intensamente naquele homem que iria nascer que a constituição de seu corpo e alma conformou-se totalmente com os atributos divinos - beleza, verdade e bondade - de modo que aquele homem, todo homem, foi inundado com o Espírito Santo sendo, portanto, hipostaticamente também todo
Deus Filho. É de se notar também que a Santíssima Virgem, imaculada e concebida sem pecados, é quase totalmente composta de beleza,
bondade e verdade, tendo como único defeitod ter nascido de uma relação entre pecadores, e não por meio da geração pelo Espírito Santo em um corpo imaculado.
9 RATZINGER, Joseph; AUER, Johann.Eschatology: Death and Eternal Life. Catholic
University of America Press:
1988. O capítulo 7 pode ser obtido em: http://www.google.com.br/ url?sa=t&rct=j&q=ratzinger%20 eschatology%20ch%207&source= web&cd=2&ved=0CCkQFjAB&url= http%3A%2F%2Fwww.ldysinger. com%2F%40magist%2F2005_ Ben16%2FEschatology-Ch_7.doc&ei= GEP9TrSlI9Gctwfa2N3PBg&usg=AFQj CNE-w6IqLwblha2zZyebiUd7FjCfzA 10 Idem.
11 PLATÃO. Diálogos: O Banquete - Fédon - Soista - Político. Tradução:
José Cavalcante de Souza, Jorge
Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Abril, 1972. P. 89-92.
12 A diferença é que o demônio, mais sincero, dobra o joelho ante a verdade, conforme relata o Pe. Gabrielle Amorth, em habla un
exorcista, na tradução de Juan Carlos Gentile Vitale, Ed. Planeta, 1997, p. 13.
13 Esse símbolo aparece também nos exorcismos. Nos exemplos
contidos na summa daemoniaca,
vê-se que, quando um demônio se apresenta como tristeza, o exorcista o expulsa confrontando-o com a felicidade que está em Deus. Se o demônio aparece como soberba, o exorcista lhe prega sobre a humildade de Deus que se fez homem. É como se o padre girasse a gárgula a força, compelindo a escultura a encarar o altar, de modo que o demônio, não suportando a visão, fosse obrigado a abandonar o ediício.
14 VOEGELIN, Eric. Ordem e História. Tradução: Luciana Pudenzi.
São Paulo: Loyola, 2010. Vol. V. p. 58-59.
15 ISRAEL, Jonathan I. Iluminismo Radical . Tradução: Cláudio Blanc. São
Paulo: Madras, 2009, p. 113-114. 16 H. P. Blavatsky, apud PENN, Lee. False Dawn. Sophia Perennis,
2005, p. 249.
17 A. Bailey, apud PENN, Lee.
False Dawn. Sophia Perennis, 2005, p.
262.
18 Pierre Teilhard de Chardin, apud PENN, Lee. False Dawn. Sophia
Perennis, 2005, p. 292.
19 VOEGELIN, Eric. Karl Marx, em Estudos de Idéias Políticas - de Erasmo a Nietzsche, Lisboa: Ática, 1996.
20 BERNSTEIN, Eduard, apud VOEGELIN, Eric. Karl Marx, em
Estudos de Idéias Políticas - de Erasmo a Nietzsche, Lisboa: Ática, 1996.
O dissidente possui o maior arquivo particular, com
ichas dos agentes e colaboradores do serviço secreto
comunista da antiga Tchecoslováquia, e desmascara
a maior operação de desinformação do século XX
Petr Cibulka em uma reunião com o governo de transição, em 1989
O Verdadeiro Havel
Em agosto de 1968, quando os exércitos do Pacto de Varsóvia invadiram a Tchecoslováquia e seus tanques massacraram a população nas ruas de Praga esmagando os protestos, o país virou um símbolo da luta contra o totalitarismo comunista no mundo. Jan Palach, estudante de 20 anos, em um ato de desespero, imolou-se pelo fogo e foi imortalizado como mártir da luta pela liberdade do país. Os anos se passaram, mas o regime pós 68 acabou colocando o país sob total inluência da URSS. Após 20 anos, houve a queda do comunismo, na chamada Revolução de Veludo, e o então prisioneiro e dissidente Václav Havel assume a presidência em um conto de fábulas repleto de
mentiras.
Petr Cibulka, jornalista e dissidente político tcheco, nasceu em 1950, na cidade de Brno, na província da Morávia. Foi preso cinco vezes pelo regime comunista, do período de 1979 a 1989, chegando a fazer uma greve de fome de 31 dias. Participou do movimento Carta 77, sendo um dos primeiros a assinar o manifesto. Libertado da prisão em 17 de novembro de 1989, em plena Revolução de Veludo, acreditou que com o im do comunismo, aconteceriam mudanças democráticas no país. Bastaram algumas semanas após a queda do regime, para perceber que tudo era um teatro armado Desinformação Alex Pereira
pelos comunistas, e que o poder e o dinheiro continuariam nas mesmas mãos.
A privatização ocorrida da noite para o dia seguiu os preceitos russos de passar todo o
estado para os membros da KGB, StB e do partido comunista. Sua história de perseguido político, sofrendo prisões
e interrogatórios, não havia terminado com o im do regime, mas continuou no governo de seu ex-amigo, o então presidente Václav Havel, o qual Cibulka chamou de “porco” e traidor, e que, segundo ele, trabalhava para os comunistas.
Após ser o único a divulgar uma lista com mais de 160 mil nomes de oiciais e informantes do serviço secreto tchecoslovaco, a Státní bezpečnost, ou StB, através do seu website (www.cibulka.com), sofreu perseguições e numerosos processos judiciais.
Atualmente é uma das poucas vozes que denuncia a continuidade dos comunistas no controle da República Tcheca.
Segundo Cibulka, os últimos dois presidentes, Václav Havel e o atual Václav Klaus, são agentes de Moscou.
Ele lembra que as conexões do governo tchecoslovaco com os comunistas vêm de antes da Segunda Guerra Mundial, quando o então presidente Edvard Beneš já lertava com Stálin, na esperança de criar uma alternativa ao
Ocidente.
Depois da anexação nazista em 1939, Beneš montou um governo de exílio em Londres, junto com iguras como Jan Masaryk, Josef Korbel (pai da ex-secretaria de estado norte-americana Madeleine Albright) e Pavel Kavan (pai do ex-secretário da Assembleia Geral da Onu, Jan Kavan), todos membros do Comintern (Internacional Comunista).
Em 1943, o presidente Beneš e representantes do governo foram até Moscou assinar um tratado de cooperação e amizade com a URSS, sob os termos unilaterais de Stálin. Winston Churchill desaprovou a atitude de Beneš, já prevendo os resultados catastróicos do acordo.
Cibulka explica que o plano de dissolução do comunismo na União Soviética e no Leste Europeu foi um grande embuste, planejado nos mínimos detalhes. Tudo isso era parte de uma estratégia maior, que tem como objetivo a derrota dos países livres do Ocidente, principalmente o maior inimigo do comunismo, os Estados Unidos.
A iniltração maciça de agentes e espiões nos altos escalões dos governos, instituições de ensino e pesquisa, e organizações das mais variadas, possibilitou corroer o sistema de dentro para fora. Os comunistas criaram uma série de partidos, com denominações variadas, como forma de manter o
“ Václav,
você é um
controle político oculto da vista da população.
Cibulka criou um partido conservador tcheco, chamado Bloco de Direita, mas vem conseguindo pouco espaço no cenário político, boa parte pela censura da mídia do país, e também pela total apatia dos tchecos após décadas sob o regime ditatorial socialista.
A infiltração comunista
no Ocidente
Quando Cibulka cita o caso de Josef Korbel, percebemos a rede global de agentes e colaboradores comunistas, atuando iniltrados nos países democráticos. Ele não entende porque o governo americano aceitou Korbel, um agente do serviço secreto de Moscou, membro do Komintern, nos postos mais altos da faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Denver.
A ilha de Korbel, Madeleine Albright, seguiu a carreira do pai, sendo pesquisadora ‘sênior’
de institutos de pesquisas dos Estados Unidos, especialista em Estudos Soviéticos. Trabalhou como analista para o governo norte-americano, e o ponto alto de sua carreira foi ter sido escolhida no governo Clinton, como a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretária de Estado. Ele diz que as decisões do país foram profundamente comprometidas com a escolha de Albright.
Também lembra da sobrinha de Korbel, Dagmar Simova-Deimlova, que morou com o tio em Londres na Segunda Guerra Mundial. Dagmar trabalhou durante 42 anos na agência de notícias do governo tchecoslovaco, a ČTK, no setor de notícias internacionais, um cargo de coniança. O fato de seu tio ser um professor universitário de renome na América, sua prima ter uma ascendente carreira política nos EUA, e Dagmar não sofrer nenhuma discriminação no país, seria algo impossível de acontecer sob circunstâncias normais.
Korbel também foi o mentor da Secretária de Estado do governo George W. Bush, Condoleezza Rice. Ela pretendia estudar música na Universidade de Denver, mas foi incentivada por Korbel a ingressar na faculdade de Ciências Políticas. Cibulka diz que isso comprometeu todas as decisões
Os arquivos que Cibulka tem da STB contam com mais de 160.000 nomes
da política externa e militar do governo Bush, principalmente em relação a Rússia.
Tanto Madeleine como Condoleezza, segundo Cibulka, provam o alto grau de iniltração do serviço secreto comunista no governo norte-americano.
A Rússia, segundo ele, inge atualmente ser uma parceira estratégica dos EUA em troca da ajuda econômica. Mas ela continua cumprir o seu velho papel de organizadora da frente mundial para destruição da América.
A Carta 77, Soros e Moscou Em 1976, a prisão de membros do grupo de rock Plastic People of the Universe, serviu para o início do movimento cívico contra a repressão no país, chamado Carta 77. Entre os seus fundadores estavam o dramaturgo Václav Havel, intelectuais, personalidades entre outros. Das 217 pessoas que assinaram a declaração da Carta 77, 156 eram ex-membros do partido comunista.
Durante os seus 13 anos de existência (1976-1992), o movimento nunca teve nenhuma inluência política na Tchecoslováquia. Em 1989, nas vésperas da Revolução de Veludo, o movimento chegou a ter 1.900 membros, a maioria sem saber os reais objetivos da organização.
Contava com colaborações milionárias, coordenadas pela ONG sueca Fundação Carta 77. Um terço da organização era
inanciada por George Soros, que também colaborava na mesma época com o movimento polonês Solidarność. Documentos suecos entregues ao dissidente Miroslav Dolejsi indicam que a ONG era parte de uma operação controlada pela KGB e a GRU.
A Carta 77 foi um fantoche nas mãos dos comunistas, que possibilitaram uma transição política pacíica do país, sem levantar suspeitas, com seus mártires fabricados, prontos para seguir a cartilha de Moscou.
Após a queda do comunismo, Soros se tornou um dos maiores investidores no país, e instalou na capital várias organizações de sua Open Society, como o Project Syndicate, uma associação de 439 jornais de mais de 150 países, com um total de tiragens de 50 milhões de cópias, sendo a maior organização para comentaristas de mídia no mundo. Entre seus colaboradores estão Jimmy Carter, Mikhail Gorbachev, Fernando Henrique Cardoso, Václav Havel e diversos intelectuais e personalidades, homogeneizando a chamada opinião pública global. Václav Havel
O famoso dramaturgo foi o símbolo dos dissidentes no regime comunista. Filho de uma das famílias mais ricas de Praga, proprietária dos estúdios cinematográicos Barrandov, que colaboraram com a Gestapo na Segunda Guerra Mundial. Após
a guerra, sua família não foi acusada de colaboracionismo com os nazistas. Automaticamente passaram de lado, e começaram a trabalhar com a GRU e a KGB, sob proteção dos comunistas.
Václav Havel cursou a faculdade de Economia em Praga de 1955 até 1957, e de 1962 até 1966 cursou dramaturgia na Academia de Teatro (DAMU).
Em 1964, Havel encontrou em sua caixa de correspondências um panleto anticomunista, e como um bom cidadão socialista, denunciou, entregando a propaganda para o representante do governo no seu bairro, que repassou para a StB. Logo após isso, foi contatado por um oicial da StB que fez uma visita de cortesia. Durante a conversa, o oicial perguntou para Havel quais de seus amigos poderiam escrever o panleto, e ele entregou uma lista de vários conhecidos capazes disso.
Václav Havel ingressou nos quadros da StB, sendo considerado um agente de grande credibilidade. Viajou em 1968 para a Europa Ocidental e para os Estados Unidos. Em 1969, escreveu um protesto
enviado ao Partido Comunista Tchecoslovaco. Foi o começo da criação do seu mito de dissidente. Em 1975, escreveu uma carta aberta para o Presidente Gustáv Husák, analisando a situação da sociedade e da política do país, e em 1º de janeiro de 1977, assinou a Carta 77, tornando-se o principal porta-voz do movimento. Isso provocou a sua prisão durante quase cinco meses nesse mesmo ano, e outras duas em 1978, sendo libertado em maio de 1983, por razões de saúde. Foi preso mais duas vezes em 1988, e em janeiro de 1989, foi condenado a nove anos de reclusão, saindo e voltando a cumprir alguns dias de prisão no inal de 89, em plena Revolução de Veludo. No inal de dezembro do mesmo ano, foi nomeado Presidente da Tchecoslováquia, com grande aclamação pública.
As regalias de Havel na prisão são fortes indícios de suas conexões com o regime comunista. Pôde escrever seus livros no cárcere, como o best-seller Cartas para Olga, algo impensável para os prisioneiros do regime.
Havel era aclamado nas
ruas como um santo libertador, incorporando a mística de São Venceslau (Svatý Václav), padroeiro do país. A imagem de Havel criada pelo serviço secreto comunista foi a de um mártir, símbolo da luta pela liberdade da nação. Menos para seus conhecidos mais próximos.
Descrito por amigos íntimos como uma pessoa ingênua e inluenciável, com personalidade não combativa, extremamente individualista, incapaz de assumir responsabilidades e de nunca ajudou ninguém na vida. Um peril totalmente oposto do que se espera de um líder.
Houve relatos como o do cineasta Stanislav Milota e o ativista político John Bok, que participaram das reuniões de Havel com agentes da KGB em 1989, deinindo o seu futuro e o do país. Ele foi conscientemente manipulado, sempre sob as ordens da inteligência comunista, que o colocou como líder do movimento dissidente.
Negociou toda a transição política do país, garantindo a total anistia aos comunistas, bem como continuidade do seus poderes políticos e econômicos. O repasse na privatização das propriedades, bens e empresas do governo para
as mãos dos comunistas e russos criou um mal estar entre os seus antigos companheiros dissidentes, provando tudo o que Petr Cibulka havia dito.
Václav Klaus
O atual presidente da República Tcheca é o ex-primeiro ministro do governo Havel, Václav Klaus. Segundo Cibulka, existem rumores de que seu verdadeiro nome seja Václav Pruzhinskiy (de origem russa), sendo que isso nunca foi desmentido por Klaus.
É conhecido no Ocidente como um político conservador (ex-aluno da Cornell University -1969), e crítico do aquecimento global e da União Europeia, mas sempre serviu os interesses de Moscou.
Iniciou sua carreira como agente da StB em 1962, aos 21 anos, quando era estudante de Economia em Praga. Seu codinome era “Vodichka”, e espionava as atividades políticas de seus colegas de classe.
Em 1970, Klaus participou da
Putin condecorou Klaus com a Medalha Pushkin, por serviços prestados a cultura russa
Operação Ratoeira, feita pela StB em conjunto com a KGB. Ele foi apontado como um anti-socialista descontente, sendo expulso do Instituto de Economia de Praga. O objetivo era colocar Klaus como um dissidente vítima do regime, para poder penetrar em círculos anticomunistas e espionar suas atividades. A operação foi bem sucedida, e Klaus monitorou as atividades da oposição. Nessa época, estabeleceu um contato secreto com o líder dissidente Václav Havel.
Durante 15 anos, Klaus teve uma carreira no Banco do Estado (algo incomum para os dissidentes e críticos do regime comunista) e gozava do privilégio de poder viajar.
Klaus foi oicialmente reabilitado pelo governo em 1987, quando ingressou no Instituto de Prognósticos Econômicos da Academia de Ciências, uma cópia da instituição com o mesmo nome em Moscou, fundado pelo general da KGB Michail Ljubimov, sob as ordens de Yuri Andropov. Klaus espionou as atividades dos membros para o serviço secreto, mantendo a reputação de subversivo.
Em 1989, Klaus entrou na política como membro do Partido do Fórum Cívico, o futuro ODS (Partido Democrático Cívico), e foi nomeado ministro das Finanças. Três anos mais tarde ele se tornou primeiro-ministro do país.
Amigo particular de Vladimir
Putin, presente no dia de sua posse na Presidência da República, foi condecorado com a Medalha Pushkin, pelos seus serviços prestados na divulgação da cultura russa.
A opinião de Klaus contra o aquecimento global segue os interesses da gigante energética russa Gazprom, que inanciou a edição em russo do seu livro Planeta Azul e Algemas Verdes, uma crítica contra o movimento ambientalista e a tese do aquecimento global. No seu novo livro, Europa?, ele ataca a União Europeia, agradando a opinião do seu amigo Putin, da União Eurasiana.
Klaus saiu em defesa da Rússia na guerra da Ossétia do Sul, e é pessoalmente contra o sistema de defesa antimísseis europeu proposto pelos Estados Unidos, contra futuras ameaças de mísseis intercontinentais vindos do Oriente.
Bill Clinton
Cibulka acredita nos rumores de que Bill Clinton seja um agente comunista, recrutado pelo serviço secreto tchecoslovaco após sua viagem para URSS, em 1970.
Também acredita no envolvimento do ex-vice-presidente Al Gore com a espionagem comunista. O fato de eles terem rejeitado a extradição de Osama Bin Laden do Sudão para os EUA, nos anos 90, demonstra, para Cibulka, o interesse russo em usar Bin Laden nos seus
planos, que culminaram no 11 de setembro.
Cibulka cita a viagem para Praga feita pelo senador republicano Alfonse D’Amato (NY) em 1992, investigando a passagem de Clinton nos países do bloco comunista em 1970. A investigação acabou não produzindo resultados positivos, por causa do então governo tchecoslovaco, que ocultou todas as informações sobre a passagem de Clinton pelo país. Segundo Cibulka, Moscou não icaria muito feliz se alguma informação vazasse.
Vladimir Putin e o objetivo comunista
Putin é um coronel da KGB treinado para a manipulação e o engano, e tem a missão de destruir os Estado Unidos. É essa a visão de Cibulka, que estudou por mais de 30 anos o modus operandi
dos serviços secretos comunistas. Para Putin e a KGB, não importam os meios necessários para alcançar esse objetivo, mesmo às custas da autodestruição da Rússia. O movimento comunista internacional domina o crime organizado. De acordo com alguns analistas, um quinto do dinheiro do mundo é propriedade de grupos criminosos sob controle de Moscou. Isso inclui
o mercado de drogas, de armas, a lavagem de dinheiro, prostituição, entre outras contravenções. São armas revolucionárias. Cibulka diz que milhares de prostitutas russas foram enviadas para os EUA, com o objetivo de prejudicar o espírito e a moral norte-americana. Esses são os velhos truques tomados emprestados de Sun Tzu. Eles trabalham para destruir seus inimigos por dentro, a partir dos seus valores, ideais e símbolos. Depois que o inimigo está enfraquecido, ele pode ser subjugado facilmente.
Ele cita o livro de Victor Suvorov, Spetsnaz: A História Interna das Forças Especiais Soviéticas, sobre as operações de membros das Spetsnaz já operando nos Estados Unidos, e se preparando para uma guerra. Para a Rússia, se torna muito mais vantajoso lutar em território norte-americano, do que em solo russo. Cibulka diz que para se compreender esses fatos, você precisa ver através dos olhos do inimigo. A Rússia sabe que a China é um risco futuro, mas os EUA são um risco presente. Por isso, eles sabem da importância de superar essa ameaça, fortalecendo o pólo estratégico asiático, através da Eurásia, criando um cenário global multipolarizado e assegurando os interesses de russos.
Cibulka pensa que os EUA terão motivo para se sentirem culpados por terem subestimado a ameaça do comunismo e abandonado aqueles que estão lutando contra a ideologia em todo mundo. Para ele, no inal, os EUA terão que pagar um preço muito alto pela sua negligência, e infelizmente, isso já está acontecendo.
NOTAS
-Spetsnaz: A História Interna das Forças Especiais Soviéticas de Victor Suvorov -http://www.jrnyquist.com/ cibulka_2005_0417.htm -http://www.tldm.org/news4/ cibulka.htm -http://www.freerepublic.com/ focus/f-news/1594744/posts
-And Reality Be Damned... Undoing America: What Media Didn’t Tell
You About the End of the Cold War and the Fall of Communism in
Europe
-http://pdfcast.org/ paid/9781609111663 -The Velvet Philosophical Revolution
http://frontpagemag.
com/2010/02/15/the-velvet-philosophical-revolution/ Historical Deceptions: Fall of Communism. From the World Affairs Brief
http://www.worldaffairsbrief. com/keytopics/Communism. shtml
-Dark secret of new EU president Vaclav Klaus Robert Eringer http://cryptome.org/0001/ vaclav-klaus.htm -Václav Klaus a KGB… http://smrk.blog.idnes. cz/c/106155/Vaclav-Klaus-a-KGB. html
-Pavel Žáček: CELOSTÁTNÍ PROJEKT RUSKO-ČESKÉHO KOMUNISTICKÉHO GESTAPA StB “KLÍN” NA INFILTRACI A
ROZVRÁCENÍ OPOZICE!!! DODNES AKTUÁLNÍ!
http://www.cibulka.net/ wp/?p=3066
-KGB Yesterday, Today, and Tomorrow
http://frontpagemag.
com/2010/07/06/kgb-yesterday-today-and-tomorrow-2/
-The Case Of George Soros http://www.rense.com/
general61/thecaseofgeorgesoros. htm
-In Eastern Europe Things Are Not What They Seem
-An interview with Petr Cibulka http://www.cibulka.
net/petr0/view.
php?cisloclanku=2005070204 -Prague Declaration on European Conscience and Communism
http://www.sinagl.cz/phpbb2/ viewtopic.php?p=12287&sid= 36a6a59b9b12580a1925962d 6c126995
-Clash Of The Dissidents Posted: December 22, 1993 By Hider, James
-http://www.praguepost.com/ archivescontent/11804-clash-of-the-dissidents.html
Não é à toa que qualquer um dedicado à vida intelectual precisa recorrer aos originais.
Deparei-me recentemente com um livro que despertou instantaneamente minha atenção. Escrito por Alain Besançon, a pequena obra intitulada “Infelicidade do Século” expunha os crimes e as razões de ser do nazismo e do comunismo, ressaltando o sofrimento judeu e um fato curioso, senão imoral: o excesso de atenção dada ao nazismo na mídia e nas discussões políticas, e o descaso absurdo com o comunismo e seus resultados ainda mais aterradores que os resultados do partido de Hitler. Besançon, num poder de síntese louvável, explica bem o caráter messiânico do comunismo, e como o mesmo se autoriza a praticar os maiores males com as melhores promessas, utópicas, certamente.
“Le Malheur du siècle”, um livro que critica o esquecimento dos crimes comunistas, e mostra como a
carapuça de santidade pode promover na
prática males muito maiores do que o nazismo.
Mas não quero falar do livro em si. Basta o que foi dito como incentivo à leitura. O que me surpreendeu foram alguns detalhes editoriais e de tradução para o português. Estranhando os detalhes, descobri que o tradutor era ninguém mais, ninguém menos, que Emir Sader. Ele mesmo, o do Getúlio com “LH”.
Desinformação e Tradução:
A Orelhada Ideológica
Um novo estilo literário se aproxima: é a
orelhada, uma falsiicação do conteúdo real
do livro em sua própria orelha, e a técnica já
possui representantes no Brasil. Em suma: mais
uma forma gerada pela pior parte da esquerda
brasileira (ou melhor?) para enganar tapados.
Emir Sader, ele mesmo, aquele do Getúlio com LH! Agora fazendo
mágica com etimologia de fundo de quintal.
No original, Alain Besançon descreve que ocorreu uma amnésia em relação ao comunismo (l’amnésie du communisme) e
uma hipermnésia em relação ao nazismo (l’hypermnésie du nazisme). Hipermnésia, para
qualquer brasileiro alfabetizado de forma razoável, e que teve algumas poucas aulas de etimologia, remete à “hiper” (muito) e “mnésia” (lembrança, recordação). O nazismo está na mídia, está em Holywood, está nas discussões políticas e nos exemplos dados
pelos professores de história por todo nosso país. Basta falar do século XX e o bigode de Hitler aparece. Os gritos histéricos e a gesticulação exagerada dos dicursos de Hitler despertam sem dúvida nenhuma muito mais repúdio do que o sorriso maroto escondido pelo bigode de um Stálin tão bem retratado pela propaganda comunista.
Na memória das massas o nazismo permanece como um grande mal enquanto
o comunismo muitas vezes é exaltado como utopia adequada e
Aí está o grande mal. Ideologias que pregam ins um
pouco diferentes (o comunismo tem um cunho mais
universalista), mas que empregam métodos semelhantes. Só que a ideologia travestida de boas intenções tem um potencial de destruição incrivelmente maior justamente pela
camulagem que usa. E eis que Emir Sader, num passe de mágica, traduz hipermnésia como... Hiper-amnésia! Claro que qualquer leitor atento compreende logo o sentido proposto por Besançon, aliás, muito claro em sua exposição, mesmo após o prejuízo imposto pela má tradução. Mas ouso dizer que ler hiper-amnésia é tão contraditório que às vezes a concentração parece falhar. Ainal de contas, Sader transformou um excesso de recordação em um super-esquecimento!
Ainda mais absurdo é o que se encontra na orelha do livro. Emir Sader comenta casualmente que o tema do livro é justamente não permitir que o nazismo seja esquecido. Isso mesmo! Não estou brincando, e nem li no local errado.
Na tortura mental que é a leitura das palavras do Emir, a explicação se inverte. Mas como o tradutor é um cara muito legal, ele concede um pouco de crédito à sua vítima, digo, ao autor do livro. Emir escreve que apesar de Besançon ser conservador, sem dúvida nenhuma uma qualidade que impede a racionalidade na maioria dos seres humanos, sua obra permanece como um libelo contra a opressão, ou alguma porcaria do tipo. Que bom que Sader gasta um pouco de sua misericórdia para com Besançon, não? Mas não é que o danado do Emir consegue jogar até mesmo um pouco de veneno contra os judeus na questão da Palestina no pouco espaço das orelhas do livro? É um prodígio!
Nas orelhas do livro,
Emir dá suas orelhadas. Ele fala de imperialismo, capitalismo, busca de poder, um excesso de
atenção aos crimes do comunismo, uma neutralização da memória dos crimes nazistas por causa das maldades que os judeus fazem contra os palestinos... Mas de que
livro Sader está falando ainal?
As conclusões desse iasco ao qual alguns imbecis deram o nome de tradução só podem estar incluídas entre as seguintes hipóteses:
1
Emir Sader é uma pessoa honestíssima, mas além de não saber interpretar textos, incluídos os que ele acaba de traduzir, também não compareceu às aulas de etimologia. Resumindo: Emir Sader pode até ser honesto, se for escandalosamente burro ou mal preparado.2
Emir Sader errou de forma consciente num ato de má-fé evidente e inegável. Distorceu as idéias e palavras de Alain Besançon e dele fez pouco caso. Já que não conseguiu, ou não consegue, evitar a tradução de uma obra literária de um conservador, o que resta a ser feito é sabotar o mesmo, distorcendo e deturpando sua obra, tentando usá-la para o im contrário desejado pelo autor.3
Se Emir Sader cometeu tais atos movido por má-fé, considera que seus alunos e seus leitores são incrivelmente estúpidos, ou até mesmo portadores de grave retardo mental ou de uma preguiça irresistível. Esperar obter algum resultado ideológico prático operando erros grosseiros de tradução e interpretação (como os que foram feitos) utilizando as orelhas do livro e mudandoalgumas palavras é o mesmo que não contar com a leitura atenta do livro, ou contar com sua não compreensão. Resumindo Emir Sader só teria crédito em meio a alunos imbecilizados, preguiçosos e incapazes de ler e/ou apreender o conteúdo de uma leitura relativamente clara e fácil.
4
Na verdade Emir Sader é honesto e traduziu correto. O culpado é o responsável pela edição, um perigoso ideólogo que tentou destruir a carreira de Emir Sader esculhambando com sua obra na tradução do livro de Besançon.Considerando esse excelente trabalho auto-difamatório realizado pelo Emir Sader, seria necessário dizer pouco mais, mas ica a discussão da contra-capa como um exemplo do nível baixo de desinformação à qual a juventude brasileira está submetida.
Buscando mais informações sobre a porcaria feita na tradução brasileira, respirei aliviado ao ver que outros já haviam testemunhado sobre o absurdo. Abaixo, alguns links onde críticas excelentes e de maior mérito podem ser encontradas:
www.olavodecarvalho.org/ convidados/0098.htm www.olavodecarvalho.org/ semana/05272002globo.htm www.olavodecarvalho.org/ semana/080925dce.html
A situação política e econômica da Alemanha no começo da década de 1930 era de uma gravidade crescente. As sucessivas crises econômicas da década de 1920, agravadas pela Grande Depressão de 1929, izeram cessar o luxo de investimentos inanceiros americanos. Embora o mundo inteiro sofresse com a crise, esta se apresentou particularmente grave na Alemanha, mais grave do que em qualquer outro país europeu.
disso –, o sistema democrático parlamentar alemão passava por uma crise sem precedentes: o povo faminto e desempregado, sem nenhuma perspectiva de vida, questionava-se sobre a utilidade de um sistema que não conseguiu, em pouco mais de uma década, tirar a Alemanha do buraco em que se achava desde o im da Guerra. Foi nesse ambiente social desgastado, terreno fértil para as aventuras totalitárias, no qual a pobreza
O Nazismo e Igreja Católica
na Alemanha: Colaboração ou
Resistência?
Henrique de Albuquerque Religião
instituições eram corroídas pela crise e pelas disputas políticas, que o Partido Nacional-Socialista de Adolf Hitler foi paulatinamente crescendo na preferência popular. “Nacionalistas, banqueiros, industriais e o eleitor comum estavam todos convencidos, durante os anos de 1931 e 1932, que o partido nazista era o único que poderia impor ordem às coisas do estado e resolver o problema dos desempregados, que somavam já mais ou menos 3 milhões, por volta de 1930. Este número aumentaria para 8 milhões em 1932, muitos deles ingressando nas ileiras das SA1, para ter algo que fazer”2.
Nas eleições de 14 de setembro de 1930, os nazistas conseguiram seis milhões e meio de votos, um total de 107 cadeiras no Reichstag, o parlamento alemão, contra as doze que tinham adquirido nas eleições de 1928. Nas eleições presidenciais de 1932, Hitler obteve onze milhões de votos contra dezoito milhões do presidente eleito Paul Von Hindenburg, mas sua posição se tornou bem confortável para o futuro. Nas eleições de julho de 1932, os nazistas conseguiram 230 cadeiras. Em novembro, perderam 37 dessas vagas, mas através de manobras e conchavos políticos, Hitler conseguiu ser nomeado chanceler em 30 de janeiro de 1933. Acusando os comunistas de conspirarem contra o novo governo, e dando como prova o incêndio do prédio do Reichstag, atribuído a eles, Hitler assinou,
em 23 de março, a Lei de Exceção que concedia ao governo o poder de governar por decretos, Lei que o parlamento acatou por meio de ameaças e pressões. Todo o processo estaria completo com a supressão do cargo de presidente, quando Von Hindenburg falecesse, o que ocorreu em agosto de 1934. Nascia, assim, a ditadura hitleriana. Foi nesse ambiente que os acertos inais para uma Concordata do Reich com a Igreja foram tomados3.
A necessidade da Concordata tornou-se ainda mais premente diante do novo governo que, se não promovia abertamente uma perseguição contra os católicos, permitia sub-repticiamente que tal acontecesse a nível local pela ação dos grupos paramilitares nazistas. A Concordata foi assinada em 20 de julho de 1933, em Roma, pelo Cardeal Secretário de Estado Eugenio Pacelli, representando a Santa Sé, e pelo vice-chanceler do Reich, Franz Von Papen, representando a Alemanha. Pelo acordo, icavam reconhecidas as Concordatas anteriores assinadas com os estados alemães (Baviera, Prússia, Baden), a Igreja Católica gozaria de plena liberdade religiosa no Reich, as faculdades de teologia seriam mantidas nas universidades estatais, assegurava-se a educação religiosa nas escolas, mesmo as não-confessionais, possibilitava-se a ação pastoral nos hospitais e no Exército e prometia-se a proteção das associações católicas com inalidades religiosas, culturais,