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A Tragédia da Redenção Inatingível

Harry segue adiante lertando com uma possível solução libertadora: o suicídio.

O personagem ictício estudara as doutrinas místicas orientais, já o escritor viera de uma família protestante e passara por um seminário teológico para depois se desiludir e buscar o orientalismo. Harry sabe que existe o sublime mas, incapaz de alcançá-lo, sofre a tentação de se rebaixar anestesiado à vida burguesa de aparências vãs. A idéia do suicídio parece trazer uma certa libertação das coisas pequenas que prendem o homem medíocre, e Harry estipula uma data para seu im: 50 anos.

No desile de sua personalidade cada vez mais fragmentada, o protagonista passa da desilusão da redenção que lhe escapa para o hedonismo e a ilusão das drogas. Mergulhado na otimista e boêmia sociedade alemã de sua época, Harry desfruta de todas as experiências que consegue, e aos poucos termina na destruição de sua própria personalidade.

O autor, Hermann Hesse, fala que sua obra é, acima de tudo, a descrição da busca pela redenção, embora mostre os conlitos e os sofrimentos da vida de um homem de meia idade. Mas o que se vê é o desespero de uma redenção inatingível, porém vislumbrada nos dias de juventude. O protagonista mergulha numa fragmentação de sua própria personalidade por meio dos prazeres sensuais e alucinógenos que a sociedade oferece, alienado e afastado cada vez mais do sentido que uma vez pudera contemplar.

O livro é a trágica estrada percorrida pela modernidade que abandonou a fé que lhe dava sentido para cair no iluminismo racionalista e ateísta. Desiludida do mesmo, incapaz de encontrar a unidade na própria alma, partiu para o relativismo, o niilismo e a entrega ao subjetivismo escapista. A história é o trágico retrato do homem que se vê incapaz de reunir sua alma fragmentada e alcançar a sublime redenção na antiga fé, caindo na destruição de seu próprio ser, de sua personalidade. E no desespero inal, ao se entregar ao mundo corruptor, receberá em troca de sua alma uma triste e vazia ilusão anestésica.

A segunda Guerra terminou! E o totalitarismo se expande e é levado até suas últimas consequências. Assim acontece no livro de George Orwell, icção feita como aviso ao futuro sobre os males que o autor identiicara na sua ideologia prévia, no momento de sua desilusão com o comunismo.

Lá no livro está o Partido Socialista Inglês, o super-partido que é a razão última da existência e agente coletivo do poder. Gramsci se sentiria em casa, pois o seu príncipe partidário e maquiavélico é facilmente reconhecível no Grande Irmão Orwelliano. Não se honra o país, a família, a religião; se vive e se honra somente o partido. O partido de 1984 é eterno, onisciente,

onipotente e onipresente numa caricatura porca da Divindade renegada pelos homens. É o fechamento do ser humano à transcendência como Voegelin bem notara em sua época.

Lá está o duplipensar, caracterizado por aceitar contradições óbvias e acabar num emburrecimento completo, tornando-se incapaz de enxergar o óbvio perante o nariz. O Estado laico proíbe cristianismo nas escolas, mas ao mesmo tempo estimula o ensino das religiões africanas. O Estado não permite pena de morte, mas estimula a morte maciça de crianças no abortamento. O Estado prega a igualdade de direitos, mas favorece minorias declaradamente. O Estado prega a distribuição de renda, mas na verdade acumula poder num partido que engloba e afunda a noção de país soberano. O Estado proíbe drogas, mas está aliado a narcotraicantes terroristas de outros países.

Em 1984 encontramos o controle dos pensamentos, um politicamente

1984:

 A Profecia Moderna de George Orwell

Resenha Literária Hélio Angotti Neto

correto de nossos dias levado às últimas consequências. Lá o indivíduo é uma ilusão, e somente o coletivo do partido existe e é eterno.

Lá está a novafala (ou novilíngua), com seus conceitos que proíbem pensamentos. E aqui temos as palavras que são imbuídas de preconceitos paralisantes e dementes. O reacionário, a direita, o católico, o crente, o religioso, o certinho, e tantas outras palavras que são muitas vezes assumidas ou ditas com um pedido encoberto e covarde de desculpas.

Lá está o subjetivismo moderno e a recusa de uma realidade objetiva, subjetivismo este que motiva nossa política e nossa iletrada classe letrada.

O’Brien, o terrível agente da Polícia das Idéias e carrasco do Ministério do Amor (onde se encontram os presos políticos), hoje é visto nos nossos intelectuais subjetivistas e niilistas, que apóiam partidos e desconstroem o passado e a realidade. Como Viktor Frankl dizia, a culpa dos campos de concentração está nos ilósofos niilistas ganhadores de prêmios internacionais.

O passado no 1984 inclemente de Orwell é um brinquedo na mão do partido. Fatos são reescritos e a memória se perde num emaranhado de anseios políticos de dominação. Hoje nossos livros de história são porcamente escritos com propagandas descaradas que elogiam genocidas brutais e desumanos como Stalin e Mao.

Orwell captou bem o objetivo da elite pensante por trás das ideologias de massa: acumulação do poder, da força. Criar uma nova elite brutalmente poderosa. Controlar são só a economia, mas a mente e o coração.

O núcleo do partido deixou de ser composto por guerreiros e nobres, tornando-se uma elite de burocratas intelectuais. O resto do partido se enquadra no que Lênin chamava de inocentes úteis, passíveis de serem eliminados uma vez que se tornassem inconvenientes. O proletário continua proletário, mais pobre e mais oprimido, achando que melhorou, manobrado pelas idéias de seus governantes. Os inocentes úteis são os nossos intelectuais de segunda ordem, os professores e sociólogos que acham fazer um bem ao pregar suas ideologias ultrapassadas.

Ainda bem que Orwell não viveu para ver o Brasil de hoje! Ele morreria muito preocupado, percebendo que suas palavras foram jogadas ao vento.

E no im, o herói morre aprendendo uma severa lição: quando inalmente o ser humano se dobrar de corpo e alma à tirania, seu prêmio irremediavelmente será a aniquilação...

Em outubro de 2010, em Florianópolis, aconteceu o Seminário Internacional de Tecnologia para a Mudança Social, promovido por diversas organizações nacionais e

regionais, entre elas o ICom (Instituto Comunitário Grande Florianópolis), além de grandes empresas como o Grupo RBS, Fundação Social Itaú, Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, UN Volunteers,

entre outras. Sob o slogan “Together is better”, o evento propunha-se a:

“construir uma

 presença digital

relevante e aproveitar

os meios tecnológicos

disponíveis para

 propagar

sua causa

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