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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E GRADUAÇÃO GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO BRUNA GESSICA PEREIRA DE ALMEIDA

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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E GRADUAÇÃO

GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

BRUNA GESSICA PEREIRA DE ALMEIDA

SERRA DO NAVIO: A PROPOSIÇÃO DE UM MUSEU HISTÓRICO

PARA A CIDADE PLANEJADA DE BRATKE

SANTANA – AP

2014

(2)

SERRA DO NAVIO: A PROPOSIÇÃO DE UM MUSEU HISTÓRICO PARA

A CIDADE PLANEJADA DE BRATKE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel.

Orientadora: Profª. Msc. Fátima Maria Andrade Pelaes

SANTANA – AP

2014

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SERRA DO NAVIO: A PROPOSIÇÃO DE UM MUSEU HISTÓRICO PARA

A CIDADE PLANEJADA DE BRATKE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá, aprovado com nota 7,5, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel.

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Msc. Fátima Maria de Andrade Pelaes Orientador (a) _______________________________ Membro _______________________________ Membro

SANTANA – AP

2014

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Aos meus amigos, por terem feito a diferença na minha vida dentro e fora da sala de aula; Aos meus colegas de turma pela trajetória que construímos ao longo do curso e pelas histórias que guardarei como recordações;

Aos professores que, de modo geral, me fizeram enxergar os caminhos que a Arquitetura e o Urbanismo podem nos oferecer;

Á todos que colaboraram direta ou indiretamente para a superação de mais esta fase, muito obrigada.

(5)

Á Deus, por ter me concedido mais esta benção em minha vida,

Á minha família por ser minha pedra de sustentação nos momentos mais difíceis, Ao meu garoto, que com sua humildade e paciência, me fez enxergar que desistir não era a melhor solução para os problemas.

(6)

A história de Serra do Navio instiga muitos estudos Brasil afora, os quais fazem abordagens que dizem respeito ao seu caráter enquanto Company Town inserida no contexto amazônico, sobre as relações sociais existentes durante o período de atuação da ICOMI no local ou sobre o emprego de princípios da arquitetura moderna sabiamente utilizados pelo engenheiro e arquiteto Oswaldo Bratke. Exatamente pela natureza peculiar de seu projeto enquanto espaço urbano planejado para atender a interesses privados, pelos acontecimentos que marcaram a trajetória de seus habitantes durante o período em que constituiu era vila operária, que este trabalho vem apresentar uma proposta museológica que faça a abordagem do caráter histórico deste local, buscando preservá-lo para as futuras gerações.

Palavras-chave: Arquitetura moderna, Museu histórico – Serra do Navio (AP), Company town.

RESUME

L’ histoire de Serra do Navio incite des nombreuses études à travers le Brésil qui se rapportent à votre personnage tout en ville de compagnie entre dans la région amazonique, sur les relations sociales existant au cours de la période de fonctionnement de ICOMI sur la place ou sur l’emploi des principes de l’architecture moderne, judicieusement utilisé par l’ingenieur et architecte Oswaldo Bratke. Juste en nature à l’aise à votre projet comme un espace urbain conçu pour l’entretien des intérêts privés, par les événements qui ont marqué le cours de ses habitants au cours de la période qui a un village de travail que ce travail est de présenter une proposition visant à rendre l’approche muséologique le caractère historique de ce lieu, en cherchant à préserver pour les générations futures.

(7)

Figura 01 - Localização do município de Serra do Navio, Amapá. 14

Figura 02 – Vista da Vila Permanente de Tucuruí, 1978. 20

Figura 03 – Vista aérea do Núcleo Urbano de Serra do Navio (2007) 24

Figura 04 – Mapa de Implantação do Núcleo Urbano de Serra do Navio 28

Figura 05 – Alojamento de solteiros em Serra do Navio 29

Figura 06 – Vista interna da Galeria dos Ofícios 33

Figura 07 – Museu Britânico, Londres. 34

Figura 08 – Museu do Louvre, Paris. 35

Figura 09 – Planta Geral do Museu do Louvre, Paris. 36

Figura 10 – Maquete física do Museu sem Fim, de Le Corbusier. 37

Figura 11 – Museu Guggenheim, Nova Iorque. Projeto de Frank Lloyd Wright 38

Figura 12 – Fundação Maeght, França. 39

Figura 13 – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projeto de Affonso Reidy 40

Figura 14 – Localização do município de Serra do Navio. 54

Figura 15 – Mapa de situação/localização do lote para o museu 55

Figura 16 – Imagem de satélite identificando os acessos ao empreendimento 57 Figura 17 – Mapa de uso do solo proposto para o núcleo urbano de Serra do Navio 58 Figura 18 – Mapa com a identificação da área de influência direta do empreendimento

59

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Quadro 01 – Características gerais do município de Serra do Navio 17

Quadro 02 – Organograma desenvolvido para o museu 49

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IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICOMI Indústria e Comércio de Minérios S.A

CIAM Conselho Internacional de Arquitetura Moderna

CAEMI Companhia Auxiliar de Empresas de Mineração

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INTRODUÇÃO 12 CAPÍTULO 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

14

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOCAL 14

1.1.1 – Aspectos gerais do município 15

1.2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS NO ESTUDO 17

CAPÍTULO 2 – SERRA DO NAVIO: PLANEJAMENTO E INOVAÇÃO NA AMAZÔNIA

19

2.1 – AS COMPANY TOWNS NA AMAZÔNIA 19

2.2 – SERRA DO NAVIO: A REPRESENTAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA NO ESPAÇO AMAZÔNICO

23

CAPÍTULO 3 – OS MUSEUS E SUAS NOVAS ATRIBUIÇÕES NA ERA CONTEMPORÂNEA

30

3.1 – BREVE HISTÓRIA DOS MUSEUS: A EVOLUAÇÃO DE SEUS PAPÉIS PELO MUNDO

31

3.2 – OS MUSEUS CONTEMPORÂNEOS: NOVAS ESTRUTURAS, NOVAS TEMÁTICAS

41

3.3 – MUSEU HISTÓRICO EM SERRA DO NAVIO: RESGATE E PRESERVAÇÃO

43

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DA PROPOSTA PROJETUAL 46

4.1 – JUSTIFICATIVA DA PROPOSTA 47

4.2 – OBJETIVOS 48

4.3 – O PROGRAMA 49

4.4 – O PÚBLICO 50

4.5 – O PARTIDO 51

CAPÍTULO 5 – ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA (EIV) 53

5.1 – OBJETIVOS 53

5.2 – LOCALIZAÇÃO 54

5.3 – SITUAÇÃO 54

5.4 – DESCRIÇÃO DO EMPREENDIMENTO 55

(11)

5.8 – ZONEAMENTO 57

5.9 –ÁREA DE INFLUÊNCIA DIRETA 58

5.10 – ÁREA DE INFLUÊNCIA INDIRETA 59

5.11 – EQUIPAMENTOS URBANOS E DE USO COLETIVO 61

5.12 – SISTEMA VIÁRIO 61

5.12.1 – Tráfego gerado 62

5.12.2 – Acessibilidade 62

5.13 – IMPACTOS GERADOS COM O INÍCIO DAS OBRAS 62

5.13.1 – Impacto de trânsito e infraestrutura viária 62

5.13.2 – Canteiro de obras 63

5.13.3 – Geração, transporte e destino dos resíduos 63

5.13.4 – Consumos de água, energia elétrica e sistema de telefonia 63

5.13.5 – Possibilidade de danos 64

5.13.6 – Interferência sobre as condições de vegetação 64

5.14 –IMPACTOS GERADOS DURANTE O PERÍODO DE OPERAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

64

5.14.1 – Impacto de trânsito e infraestrutura viária 64

5.14.2 – Estacionamento 64

5.14.3 – Adensamento populacional 65

5.14.4 – Ventilação e iluminação 65

5.14.5 – Riscos ambientais 66

5.14.6 – Impactos socioeconômicos 66

5.15 – RELACIONAMENTO COM A COMUNIDADE LOCAL, MUNICIPAL E REGIONAL 66 CONSIDERAÇÕES FINAIS 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 68 APÊNDICE 72 PROGRAMA DE NECESSIDADES 73 ORGANOGRAMA 77 FLUXOGRAMA 78

(12)

INTRODUÇÃO

A história de Serra do Navio instiga muitos estudos Brasil afora, os quais fazem abordagens de seu caráter enquanto Company Town inserida no contexto amazônico, sobre asformas de relações sociais existentes no período de atuação da empresa ICOMI, sobre os princípios da arquitetura moderna aplicados sabiamente pelo engenheiro e arquiteto Oswaldo Arthur Bratke em todo o seu conjunto urbano, enfim, os temas são variados e conteúdos não faltam.

Exatamente pela sua natureza peculiar enquanto espaço urbano planejado e adaptado às condições ambientais da região e aos aspectos culturais de seus moradores, sem, contudo, suprimir as regras estabelecidas pela empresa mineradora, que este trabalho vem apresentar uma proposta museológica que faça a abordagem do caráter histórico deste local.

O objetivo de tal proposição é a de criar um espaço que promova a dinamização cultural e turística do núcleo urbano, atingindo um público diversificado, proporcionando uma estrutura que venha contribuir com a propagação do conhecimento e que possa preservar elementos importantes para a manutenção da identidade do lugar.

Neste sentido, o presente trabalho está organizado da seguinte maneira: o primeiro capítulo faz uma abordagem sobre os aspectos gerais que caracterizam o município de Serra do Navio - tais como a situação geográfica, a sua economia, aspectos ambientais -e também sobre os procedimentos metodológicos que foram utilizados na estruturação deste estudo.

O segundo capítulo faz uma análise sobre a contextualização histórica do referido núcleo urbano, retratando o seu papel enquanto vila operária criada para atender interesses privados, relacionando-a com outro espaço de mesma natureza implantado em Tucuruí, a Vila Permanente da Eletrobrás. Este item ressalta também a questão da natureza de seu projeto urbanístico que empregou princípios da arquitetura moderna e que se tornou referência para outros espaços de mesma natureza que foram implantados posteriormente na Amazônia.

O terceiro capítulo retrata a evolução dos papéis que os museus ao longo do tempo e as atribuições que eles adquiriram em decorrência das transformações ocorridas nas sociedades em foram se instalando, chegando até as tipologias atuais. Também é apresentada

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a temática que será abordada pelo museu em Serra do Navio e qual a contribuição que o museu ali instalado desempenhará dentro da comunidade local.

O quarto capítulo apresenta os elementos que compõem a proposta arquitetônica desenvolvida para o núcleo urbano e os aspectos que a ela estão relacionados, tais como a justificativa da mesma, a sua finalidade, como está estruturado o seu programa de necessidades, bem como a análise conceitual que permeia a proposta.

E por fim, o último capítulo se refere ao Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) elaborado para o empreendimento, o qual visa analisar todos os possíveis impactos, sejam eles positivos ou negativos, que podem ser gerados pela inserção da edificação num determinado contexto urbano e nos dar a real noção de viabilidade e exequibilidade do projeto.

(14)

CAPÍTULO 1

CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO E

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.1

CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOCAL

O município de Serra do Navio corresponde ao perímetro que correspondeu ao antigo núcleo habitacional da ICOMI, quando o estado do Amapá ainda era um território federal, juntamente com a adição de outras localidades que o compõem atualmente, estando situado na região central do estado. A antiga vila operária que fora criada no fim da década de 1950, passou para o domínio do poder público em 1992 (conforme contrato estabelecido com a ICOMI), tendo seu nome oficializado apenas em 22 de junho de 1993 (DRUMMOND; PEREIRA, 2007, p. 391).

Figura 01 – Localização do município de Serra do Navio, Amapá. Fonte: disponível no endereço eletrônico:

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1.1.1 ASPECTOS GERAIS DO MUNICÍPIO

Além da antiga vila, outras comunidades também compõem o atual município, tais como Água Branca, Nova Colina, Munguba, Vila do Cachaço, Manuel Jacinto, Nova Vida e Silvestre (DRUMMOND; PEREIRA, 2007, p. 391-392). O município de Serra do Navio corresponde ao perímetro que correspondeu ao antigo núcleo habitacional da ICOMI, quando o estado do Amapá ainda era um território federal, juntamente com a adição de outras localidades que o compõem atualmente, estando situado na região central do estado.

 Localização e Acessos:

Serra do Navio está localizado na região centro-noroeste do estado do Amapá e sua formação, assim como a do município de Santana, está associada ao desmembramento de Macapá. Limita-se com os seguintes municípios: Porto Grande, Calçoene, Oiapoque, Pedra Branca do Amapari e Ferreira Gomes.

O município conta com uma área de 7.756 km² (IBGE, 2013), que corresponde aproximadamente 5,5% do território amapaense. Apesar da sua área, é considerado um assentamento humano escassamente habitado. Encontra-se a 220 km da capital, Macapá. (DRUMMOND; PEREIRA, 2007, p. 382)

É possível chegar à Serra do Navio por via rodoviária, através da rodovia Perimetral Norte, bem como pela Estrada de Ferro do Amapá, na qual anteriormente a ICOMI realizava o transporte de minérios que saíam da mina e percorriam cerca de 220 km até o porto de Santana.

 Aspectos populacionais

O último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2013 aponta que Serra do Navio possui uma população de 4761 habitantes, uma

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quantidade bem inferior com o de municípios como Macapá (398.204 habitantes), Santana (101.262 habitantes) e Ferreira Gomes - 5802 habitantes - (IBGE, 2013), por exemplo. Em 2010, a população era um pouco menor - 4330 habitantes – (IBGE, 2013). Conforme o que fora abordado anteriormente, mesmo tendo uma área significativa, não era densamente ocupada, pois a densidade apresentada atualmente é de 0,56 hab./m².

 Clima

O clima em Serra do Navio é considerado tropical chuvoso, porém por estar situado em uma região de Serras, suas temperaturas são consideradas amenas e até um pouco parecidas com os da região sul do país. No inverno seus termômetros podem atingir os 15° graus e ainda contar com a formação de neblinas, que acabam dificultando a visibilidade a curta distância. (IBGE, 2013).

 Economia

Atualmente, a economia do município de Serra do Navio se encontra um pouco diversificada, onde existem investimentos no setor primário, com o plantio de grãos e hortaliças e a criação de gado bovino, bubalino e suíno (IBGE, 2013), que abastecem o mercado local. Ainda conta com iniciativas do setor secundário (indústrias) com a exploração de refugo de manganês e outros minerais e no setor terciário, conta-se com atividades comerciais de pequeno e médio porte, serviços de hotel e cartório, por exemplo.

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CARACTERÍSTICAS SERRA DO NAVIO

Nome Oficial Núcleo Urbano de Serra do Navio

Lei de Criação Lei Municipal 078 de 22 de junho de 1993

Limites Limita-se com os seguintes municípios: Porto Grande,

Calçoene, Oiapoque, Pedra Branca do Amapari e Ferreira Gomes.

Área total 7.756 km²

População 4.761 habitantes

Distância da capital 220 km

Distritos e comunidades Água Branca, Nova Colina, Munguba, Vila do Cachaço, Manuel Jacinto, Nova Vida e Silvestre.

Rede de acesso Rodovia AP-210, Rodovia Perimetral Norte e Estrada de

Ferro do Amapá

Clima Tropical chuvoso

Quadro 01 – Características gerais do município de Serra do Navio. Autor: autoria própria.

1.2

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS NO ESTUDO

O presente trabalho consiste num estudo voltado às Ciências sociais aplicadas, no qual o curso de Arquitetura e Urbanismo está inserido e, como uma pesquisa desenvolvida para qualquer área afim, necessita a utilização de procedimentos metodológicos que possam auxiliar na formatação e estruturação do trabalho, o que facilita a compreensão do mesmo.

De acordo com a sua finalidade, o estudo aqui apresentado se caracteriza como pesquisa aplicada, a qual é “voltada à aquisição de conhecimentos com vistas à aplicação numa situação específica” (GIL, 2010, p.27), e, também, de acordo com seus objetivos mais gerais, a mesma tem caráter exploratório, onde o objetivo é buscar a familiarização com o problema existente, buscando torna-lo mais explícito, construindo hipóteses que venham solucioná-lo (GIL, 2010, p.27).

Com relação aos métodos empregados ao longo da pesquisa, foram considerados os seguintes:

 Análise bibliográfica: baseada na coleta de informações em materiais publicados (GIL, 2010, p.29), tais como livros, revistas, periódicos, artigos científicos, teses e dissertações, jornais, internet, etc., com o intuito de estabelecer uma boa fundamentação teórica ao conteúdo a ser explanado. Foram levantadas informações acerca das Company Towns instaladas no cenário amazônico, como se organizavam, de que maneira as relações sociais se desenvolviam em seu interior; o projeto inovador de Bratke com a proposição

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de Vila Serra do Navio e Vila Amazonas, os princípios da arquitetura modernos e, também sobre museus, uma vez que a proposta arquitetônica é voltada para este tipo de edificação;

 Análise documental: tão utilizada quanto a análise bibliográfica, a pesquisa documental também se fez muito importante no delineamento do trabalho, pois tiveram de ser considerados diversos documentos referentes à legislação, notas oficiais, relatórios e boletins que pudessem contribuir para o enriquecimento dos fatos nele apresentados, neste caso, utilizou-se dados de documentos de tombamento, diário oficial da união, etc;

É importante ressaltar que a pesquisa aborda distintos elementos que ora são de natureza qualitativa, ora quantitativa, exatamente por se tratar de um estudo desenvolvido para a área de Ciências Humanas Aplicadas, desse modo:

 Segundo Teixeira (2007, p.137), os elementos qualitativos são utilizados a partir do momento em que “o pesquisador procura reduzir a distância entre a teoria e os dados, entre o contexto e a ação, usando a lógica da análise fenomenológica, isto é, da compreensão dos fenômenos pela sua descrição e interpretação”;

 Já os elementos quantitativos são mais empregados quando utilizamos “a descrição matemática como uma linguagem, ou seja, a linguagem matemática é utilizada para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis etc.” (TEIXEIRA, 2007, p.136), neste caso, podem ser utilizados dados estatísticos, censos demográficos etc.

 Todos os procedimentos mencionados foram utilizados no decorrer do processo de construção do trabalho e contribuíram para a captação e formatação dos dados reunidos, alguns foram mais empregados e outros menos, porém todos auxiliaram no caminhar da pesquisa, objetivando como resultado um texto que esclarece as dúvidas dos leitores acerca da temática abordada.

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CAPÍTULO 2

SERRA DO NAVIO: PLANEJAMENTO E INOVAÇÃO NA AMAZÔNIA

2.1

AS COMPANY TOWNS NA AMAZÔNIA

O caso da antiga vila Serra do Navio é um dos diversos exemplos de cidades-empresas que foram implantadas na região amazônica em virtude do desenvolvimento de grandes projetos. Estas cidades, embora com alguns aspectos divergentes em suas estruturas, refletiam basicamente a mesma finalidade, que consistia em oferecer suporte às atividades desempenhadas pelas empresas e abrigo aos seus trabalhadores no decorrer destas.

Observou-se que a vinda desses grandes projetos para a região acarretou numa série de alterações que afetaram diretamente os locais onde eram inseridos. Tais mudanças não eram exclusivas apenas das áreas afetadas, no caso as Company Towns, mas também nas suas imediações.

Nesse sentido, os grandes projetos econômicos e de infra-estrutura1, especificidade, implicam em profundas transformações no espaço onde foram construídos. Ao alterarem o espaço herdado, provocam bruscas rupturas no padrão de ocupação do espaço local e nas sociabilidades até então definidas (...) (TRINDADE JR.; ROCHA, 2002, p.17).

A criação de Company Towns foram consequências desse processo, pois as companhias necessitavam estabelecer bases operacionais, onde pudessem garantir o apoio à decorrência disso, o espaço urbano era estabelecido de acordo com princípios organizativos e na busca por um lugar autossuficiente no que diz respeito ao oferecimento de serviços. Vale destacar que os estudos referentes à proposição destes núcleos eram extensivos, pois neles considerar-se-iam os mais diversos problemas sociais, visando-os torna-los mínimos nesses novos espaços.

O contexto em que estes núcleos habitacionais surgiram, trouxeram à tona questões ligadas ao urbanismo em que se voltava a alguns aspectos utópicos, em especial no que concerne ao desenvolvimento de cidades meticulosamente planificadas, com destaque para a

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setorização, a hierarquização do espaço de acordo com classes, visto que as cidades são organismos passivos de constantes mudanças.

Dentre os exemplos de cidades-companhia instaladas na Amazônia tivemos o caso da Vila Permanente da Eletronorte construída para oferecer suporte à implantação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, situada a 2.5 quilômetros do canteiro de obras e a 11 km do núcleo urbano de Tucuruí. A Vila Permanente foi concebida para abrigar uma população de 34 mil habitantes, distribuídas entre funcionários qualificados (10.000) e seus dependentes (24.000). (TRINDADE JR.; ROCHA, 2007, p.59).

Figura 02 – Vista da Vila Permanente de Tucuruí (1978). Fonte: disponível no endereço eletrônico

http://4.bp.blogspot.com/_6Wa0G28mqo/Snsqfn78hbI/AAAAAAAABUU/2_pj1KiASaw/s400/VILA+05.jpg.

O projeto urbanístico desenvolvido para tal núcleo urbano teve diversos aspectos semelhantes ao que fora desenvolvido para a Vila Serra do Navio, pois foram feitos diversos tipos de levantamentos que consideraram fatores ambientais e climáticos das áreas em que seriam inseridos:

Optou-se pelo maior aproveitamento possível das condições naturais, para, assim reduzir os custos com o assentamento urbano. O terreno utilizado na construção da Vila corresponde a uma área de 383 ha, com variações de cotas topográficas entre 72 e 205 metros; o que possibilitou o aproveitamento as condições de ventilação natural e a paisagem existente, além de favorecer à instalação de sistemas de abastecimento

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de água, esgotamento sanitário e drenagem da água pluvial por gravidade (TRINDADE JR.; ROCHA, 2002, p.61).

A Vila Permanente já nasceu como um espaço dotado de funções básicas e equipamentos urbanos (TRINDADE JR.; ROCHA, 2002, p.50), fato bastante comum no que se refere à proposição de Company Towns e isso também garantia a manutenção de certa autonomia econômica e política do local, porém o projeto de um espaço dessa natureza também mantinha um caráter “fechado” se comparado às áreas urbanas que os circundavam, o que possibilitava às empresas manterem o controle sobre o desempenho de suas atividades, e de seus trabalhadores.

Conforme afirmado anteriormente, viu-se que os projetos de cidades-empresas visavam otimizar diversos tipos de condicionantes – localização, topografia, problemas sociais, etc. – buscando criar núcleos urbanos autossuficientes, isto é, que oferecessem diversos tipos de serviços, aos seus habitantes , de modo que estes precisassem recorrer às cidades vizinhas, com isso, estes projetos incluíam vários equipamentos urbanos, os quais não raramente se encontravam indisponíveis nas regiões adjacentes. Dentre os equipamentos disponíveis na Vila Permanente, havia escolas primárias e secundárias, hospital, clube recreativo e esportivo, hotel, supermercado, restaurante, cine teatro, estação rodoviária, central telefônica e área de expansão urbana (TRINDADE JR.; ROCHA, 2002, p.50).

Uma estrutura semelhante havia sido desenvolvida para atender as necessidades da ICOMI (Indústria de Comércio de Minérios S.A), empresa responsável pela exploração de jazidas de manganês em Serra do Navio (AP). Para este empreendimento, implantou-se estrutura-base que oferecesse o suporte para o transporte e escoamento dos minérios retirados da mina, culminando com a delimitação do perímetro de exploração, a construção do Porto em Santana e a estrada de ferro ligando a área da mina a este último, como afirma Drummond; Pereira (2007, p.148-160).

No que diz respeito à criação de vilas operárias para complementar o quadro de iniciativas da ICOMI para dar seguimento às suas atividades, mencionamos a proposição de dois núcleos urbanos, a saber, a Vila Serra do Navio situada nas imediações da mina e à 200 quilômetros de Macapá Vila Amazonas, no município de Santana, à 40 quilômetros da capital, onde ambas foram erigidas no período de 1954 a1956 (DRUMMOND; PEREIRA, 2007, p.162).

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É importante ressaltar que o projeto das duas vilas fora incumbido ao arquiteto Oswaldo Arthur Bratke e ao engenheiro Luis de Matos, contratado pelo presidente da companhia mineradora Augusto Trajano de Azevedo Antunes. Em semelhança ao que acontecera no planejamento da Vila Permanente, o projeto das duas vilas atentou para as peculiaridades ambientais dos locais escolhidos e ainda, estudos baseados no estilo de vida dos típicos moradores da região.

Embora Vila Serra do Navio tivesse sido planejada para abrigar os funcionários que teriam relação direta com as atividades de mineração e os moradores da Vila Amazonas estivessem ligados às funções desempenhadas no porto e ferrovia, os dois núcleos deveriam abrigar em seu interior um contingente de 1500 moradores, distribuídos entre funcionários e seus familiares, um valor bem menor do que o apresentado na vila da Eletronorte. Drummond e Pereira (2007) fazem um aparato sobre a estrutura desenvolvida nas vilas operárias da ICOMI:

(...) Havia usinas diesel-elétricas; sistemas completos de abastecimento de água tratada; sistemas de coleta e tratamento de esgotos; oficinas mecânicas e elétricas, para reparo e manutenção de tratores, caminhões, carros, vagões, locomotiva etc.; hospitais; escolas; instalações esportivase de lazer; supermercados; sistemas de telefonia interna; postos de serviços bancários e postais; serviços de inspeção de alimentos, de controle de vetores de doenças, de vacinação de animais, de coleta e disposição de lixo, de limpeza, de iluminação e de manutenção de vias públicas; programas de saúde preventiva; refeitório para empregados solteiros; fazendas e granjas de produção de carne, ovos, frutas e hortaliças (...). (DRUMMOND; PEREIRA, 2007, p.389)

Com base nos dois exemplos mencionados, podemos verificar que a inserção de empreendimentos grande porte geraram impactos significativos nas regiões em que se instalaram. Essas modificações não se restringiram apenas aos aspectos de ordem econômica, mas que se encontraram associadas a alterações que incidiram diretamente sobre os espaços urbanos mais próximos aos grandes projetos.

Vale lembrar que o desenvolvimento destes projetos serviu como polos atrativos para mão de obra, fosse ela direta ou indireta, qualificada ou não; dessa forma, nota-se que houve um aumento no contingente populacional, o que geralmente provocava um inchaço nos núcleos urbanos e que estes espaços não conseguiam absorver, ocasionando problemas sociais de diversas ordens. Sobre a evolução urbana de Tucuruí:

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Ao seu redor, ao norte, a oeste e ao sul, a cidade, de forma “desordenada” reproduzia bairros periféricos “espontâneos” (Santa Mônica, Paraíso etc). Grande parte das habitações e serviços desses “acampamentos”, induzidos pelo crescimento populacional, foi construído obedecendo aos critérios e às condições, geralmente precárias, dos migrantes. Não havia controle sobre a terra e as ocupações se multiplicavam. Isto deu a Tucuruí um traçado urbano irregular, tanto condicionado pelo processo de ocupação como pelas características morfológicas do sítio urbano: declives acentuados intercruzados de vales úmidos que serviam de esgotos a “céu aberto”. (TRINDADE JR.; ROCHA, p.43).

A semelhança do que acontecera a Tucuruí, o entorno de Vila Serra do Navio também convivera com problemas da mesma natureza, onde os migrantes que não conseguiam trabalhar na mina instalavam-se nas vizinhanças e até mesmo a mão de obra dispensada após o término das instalações do núcleo urbano e mesmo após o a cessão das atividades da ICOMI (DRUMMOND; PEREIRA, 2007, p.397). Embora os núcleos amazônicos tenham se transformado em bases operacionais para os grandes projetos, ganhando visibilidade no âmbito nacional e internacional, se tornaram portadores de técnicas e tecnologias que permaneceram enquanto a atividades desenvolvidas por eles ainda continuavam, mas que não se estenderam igualmente para todas as áreas adjacentes a eles, o que deixou em ambos os casos problemas sociais que se agravaram com o tempo.

2.2 SERRA DO NAVIO: A REPRESENTAÇÃO DA ARQUITETURA

MODERNA NO ESPAÇO AMAZÔNICO

O projeto urbanístico desenvolvido para a vila Serra do Navio, desenvolvido em moedas da década de 1950, até os dias atuais constitui uma referência no que diz respeito à proposição de um espaço urbano que procurou atender todas as premissas que devem se fazer presente em projetos dessa natureza, das quais podemos mencionar as questões ambientais, culturais e socioeconômicas do local em que está sendo inserido.

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Figura 03 – Vista aérea do Núcleo Urbano de Serra do Navio (2007). Fonte: Acervo MMX, 2007.

Estes fatores constituem o cerne para o desenvolvimento de uma boa proposta urbanística demandando ao profissional que realize estudos minuciosos e detalhados acerca da área escolhida, da essência do projeto e as características peculiares dos habitantes que dela irão usufruir. Nesse aspecto, a proposta do arquiteto-engenheiro paulista Oswaldo Arthur Bratke constitui um verdadeiro laboratório para a análise de projetos urbanos implantados no espaço amazônico e suas relações com o entorno e com as suas próprias organizações internas.

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A criação de núcleos habitacionais compunha uma das necessidades essenciais da ICOMI para dar suporte às suas atividades de exploração mineral no interior do estado do Amapá (na época ainda Território Federal). A empresa tinha, então de prover um núcleo habitacional para abrigar os funcionários ligados diretamente às atividades desenvolvidas na mina e ainda assim manter o controle sobre estes. Diversas propostas projetuais foram enviadas à companhia, porém o arquiteto Oswaldo Bratke ganhou a concessão para conceber tais projetos, alegando não ter experiência nesse tipo de empreendimento e que para conceber uma boa proposta deveria realizar estudos aprofundados a respeito, os quais seriam feitos apenas após a contratação de seus serviços. (CORREIA, 2012, p.139).

Após a aceitação pela ICOMI, Bratke tinha o desafio de estudar intensificamente o local e suas características físicas e ambientais e as características de seus moradores e ao mesmo tempo adequar a infraestrutura às exigências e objetivos estabelecidos pela companhia:

(...) tal infraestrutura era manifestamente utilizada pela empresa como forma de atrair profissionais graduados e qualificados para uma região tida como selvagem, por outro, esse mesmo aparato pretendia cumpri a função de “ajustar” e normatizar a intensa maioria de trabalhadores locais não-especializados dentro dos padrões de produtividade e ritmos de trabalho da moderna economia capitalista industrial, buscando incutir-lhes ideais “adequados” de comportamento, alimentação, lazer, direitos e obrigações baseados em um modelo de família estável e legalmente constituída, aliado ao sentimento de civismo e pertencimento à comunidade. (PAZ, 2011, p.127).

A questão da criação de vilas operárias não foi um fator exclusivo da ICOMI, pois fez parte do contexto de desenvolvimento de outras company town implantadas na Amazônia. Em geral, a proposição de cidades-empresa era de caráter fundamental, principalmente porque os locais onde os grandes projetos seriam inseridos não dispunham de toda a infraestrutura que as companhias necessitaram, conforme nos confirma Paz (2011, p.128):

Além disso, embora mantivesse estreita afinidade com as intenções patronais de controle que norteavam a criação de vilas operárias, a construção de uma company

town muitas vezes se tornava imperativo aos empresários devido à própria

localização dos seus empreendimentos em regiões de fronteira econômica, onde havia pouca ou nenhuma infraestrutura necessária aos assentamentos dos trabalhadores (...).

(26)

No tocante à apresentação dos princípios que nortearam a criação das company towns, Bratke, que não tinha experiência no desenvolvimento de projetos dessa natureza, adotou métodos de trabalho que consistiam no estudo cuidadoso dos locais designados pela ICOMI, fazendo levantamentos e considerações importantes acerca de seus aspectos físicos e bioclimáticos por exemplo.

Essa particularidade do trabalho de Bratke era bastante reconhecida tanto pelo presidente da ICOMI, o engenheiro Augusto de Azevedo Antunes, que já o havia conhecido alguns anos antes, mas entre os próprios colegas de profissão do arquiteto paulista. Por essa razão, Bratke cogitou a possibilidade de visitar outras vilas operarias para investigá-las e ver de que maneira as observações feitas poderiam contribuir com a sua proposta.

Os resultados das análises de algumas company towns que visitou no Caribe, América do Sul e Europa (CORREIA, 2012, p.139), não foram muito agradáveis do ponto de vista do arquiteto, pois nesses locais encontrou mais aspectos negativos do que elementos que poderiam lhe ser úteis, tais como a organização interna do sistema viário, a rígida hierarquização do espaço, o que refletia nitidamente nos aspectos arquitetônicos das casas dos diretores e funcionários graduados e nas dos operários.

Com base nas informações obtidas nesses espaços, Bratke pretendia atender aos padrões exigidos pela empresa contratante, sem, contudo, deixar de garantir que os funcionários desta, certo padrão de conforto, de acordo com as especificidades das atividades que iriam desenvolver, independentemente do controle que seria exercido pela empresa. (CORREIA, 2012, p.140).

Um dos aspectos-chave dos projetos idealizados por Bratke para as vilas operárias era a criação de um espaço que além das áreas voltadas para residências, pudesse contar com outros dispositivos que lhe pudessem garantir certa autossuficiência, tornando-os menos dependente de agentes externos (DRUMMOND; PEREIRA, 2007, p.162-163).

Para compor as propostas, Bratke levou em consideração princípios amplamente difundidos pelos urbanistas modernos e que foram tema do 4º Congresso dos CIAM, em 1933, quando foi elaborada a Carta de Atenas, documento no qual constavam informações acerca das condições em que se encontravam os espaço urbanos na Europa com o pleno desenvolvimento industrial. Os modernistas primavam pela manutenção de áreas verdes nos núcleos urbanos como um dos requisitos higienizadores, a criação de áreas comuns

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devidamente setorizadas, assim como as residências e comerciais, trazendo a hierarquização do espaço de acordo com as funções que nela seriam desempenhadas. (IPHAN, 1933, p.8).

Os projetos desenvolvidos por Oswaldo Bratke para as duas company towns, Serra do Navio e Villa Amazonas, precisavam, então, serem adaptadas às peculiaridades locais, ser econômicos, porém dotados de qualidade e ainda assim, atentar para os conceitos modernos de ordenação do espaço urbano, sem ferir as diretrizes organizativas da ICOMI. O resultado consistiu na criação de cidades-jardim em uma pequena escala, onde:

O plano das vilas recupera procedimentos do urbanismo dos CIAM’s e do movimento cidade-jardim, como hierarquização do sistema viário e profusão de espaços verdes de uso coletivo. As áreas livres foram gramadas, ajardinada e arborizadas com árvores decorativas ou frutíferas. Foram eliminadas as cercas nos jardins frontais das casas. O sistema viário foi hierarquizado, com vias de distribuição envolvendo superquadras e vielas internas para pedestres e veículos (em situações emergenciais). Seu programa remete ao conceito de unidade de vizinhança. (CORREIA, 2012, p.139).

Embora haja similaridades entre os planos de Vila Amazonas e Serra do Navio, houve particularidades referentes à topografia dos locais, bem como a dimensão dos mesmos; porém a essência do plano urbanístico manteve-se a mesma: zonas habitacionais para diretores, trabalhadores intermediários e operários, áreas verdes, áreas residenciais para funcionários solteiros, área para comércio e outros equipamentos urbanos. (CORREIA, 2012, p.135).

A topografia de Serra do Navio colaborou para implantação de duas áreas distintas para residências e localizar os equipamentos de uso comum no centro. Além das residências para os trabalhadores, Serra do Navio dispunha também de escola, igreja, clube, hotel, clube esportivo, hospital, dentre outros equipamentos ali existentes; toda essa estrutura havia sido criada para garantir certa independência da vila com relação ao seu entorno, uma vez que se tratava de um “núcleo residencial isolado”. (CORREIA, 2012, p.137).

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Figura 04 – Mapa de Implantação do Núcleo Urbano de Serra do Navio. Fonte: disponível no endereço eletrônico http://1.bp.blogspot.com/Rl1ZPFNKZ80/UCkgfeKTIuI/AAAAAAAAFTE/Hc5Kx3AHvb8/s640/02.jpg.

As edificações projetadas por Bratke foram resultantes de estudos aprimorados sobre os costumes dos moradores da região; dessa forma, as casas eram térreas, porém dimensionadas para atender os condicionantes pertinentes ao conforto ambiental. Bratke procurou alternativas que respondessem positivamente às alterações climáticas do local:

(...) A utilização de elementos vazados, venezianas e telas metálicas permitem a ventilação cruzada no interior das edificações que possuem também embasamento recuado e ligeiramente acima do solo, reduzindo o contato direto do pavimento com este, reduzindo a proliferação de fungos e dificultando o acesso de répteis. Interessante que esse recurso de ordem funcional também favorece a percepção de que os edifícios parecem flutuar sobre o solo. (IPHAN, 2007, p.57).

Assim como o espaço urbano do núcleo de Serra do Navio possuía certa hierarquização, as habitações desenvolvidas pelo arquiteto passavam por esse processo, pois dependendo do status de cada trabalhador, ocorriam algumas diferenças em suas residências (CORREIA, 2012, p.139-140). Além da concepção dos equipamentos urbanos, o projeto para a vila incluiu também a fabricação de móveis e alguns utensílios de uso doméstico no próprio núcleo, utilizando para tal, os materiais disponíveis no lugar.

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Figura 05 – Alojamento de solteiros em Serra do Navio. Fonte: disponível no endereço eletrônico

http://www.revistadehistoria.com.br/uploads/docs/images/images/modernismo%20na%20floresta%20-%20vila%20com%20%C3%A1rvore%20na%20frente.JPG

Vemos que diferentemente dos núcleos planejados que havia previamente visitado, Oswaldo Bratke propôs modelos que, apesar de incorporar os interesses da companhia à organização de sua estrutura, na hierarquização de seus espaços e na busca pela autossuficiência, buscava o equilíbrio entre os espaços que estavam sendo criados e meios nos quais estavam sendo inseridos. Tal característica tornou os dois núcleos referências no planejamento urbano, que apesar de terem feito parte de um programa estabelecido por uma empresa privada.

A herança física e histórica de Serra do Navio é muito relembrada e discutida em diversos estudos, ressaltando aqui o interesse que desperta; aliada ao fato de que atualmente compõe o quadro de núcleos urbanos tombados no Brasil, a historicidade deste lugar precisa ir além de suas construções e de seu traçado urbano é preciso estar presente no cotidiano de seus habitantes, de seus visitantes, de seus alunos, visto que tudo isso é resultante de um importante processo para o passado ainda curto do estado do Amapá e como patrimônio cultural, paisagístico e histórico do país.

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CAPÍTULO 3

OS MUSEUS E SUAS NOVAS ATRIBUIÇÕES NA ERA

CONTEMPORÂNEA

Os museus tais como os conhecemos nos presentes dias, remetem à ideia de instituições democráticas que tratam de temáticas diversas, as quais podem ir dos aspectos históricos, culturais, científicos e sociais de um determinado local, ressaltando um aspecto muito importante: a identidade cultural. Essa nova abordagem sobre o papel do museu na sociedade começou em fins do século XX, quando ocorreu o que foi considerada uma expansão democrática, onde houve um maior interesse da sociedade pela instituição inicialmente aristocrática.

O próprio conceito de museu foi sendo modificado ao longo do tempo, pois se fizermos uma análise etimológica da palavra poderemos fazer tal constatação:

“A palavra museu tem origem antiga, provém do grego Museion, e significa ‘santuário dos templos dedicados às musas, que recebem doações, ex-votos, oferendas...” (KIEFER, 2000, p.12).

O Conselho Internacional de Museus (ICOM) apresenta sua definição de museu, datada de 1974, que de modo geral, é a mais aceita:

Um museu é uma instituição permanente e sem fins lucrativos a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, que coleta, conserva, pesquisa e interpreta com propósitos de estudo, educação e recreação, evidência material da população e seu ambiente.2

A visão de museu, segundo o Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa:

museu. [do gr. Mouseîon, ‘templo das musas’, pelo lat. museu.] S. m.

1. Qualquer estabelecimento permanente criado para conservar, estudar, valorizar pelos mais diversos modos, e, sobretudo expor para deleite e educação do público, coleções de interesse artístico, histórico e técnico.

2. Fig. Reunião de coisas várias; miscelânea.3

2

Disponível em: www.icom.org.br em 12 de março de 2014.

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A apresentação de conceitos diferentes, e de épocas diferentes, a respeito desta temática se faz importante para compreendermos que a mudança na visão dos papéis desempenhados pelos museus aconteceu gradativamente de acordo com as novas demandas das sociedades e dos novos valores por eles absorvidos.

A nova forma de conceber museu começou a agregar outros aspectos visando acompanhar as novas dinâmicas sociais; quando se fala sobre essas mudanças na estrutura dessa instituição existente as alterações ocorridas na organização espacial e funcional desse local, mas também na sua formalidade arquitetônica. O espaço que a princípio servia para exposição de obras de arte e artefatos exóticos abria espaço para a abordagem de outras temáticas que em consequência, seriam absorvidas por públicos maiores e distintos.

Com tantas mudanças, os museus adquiriram maior visibilidade social, sendo muitas vezes vistos como guardiões (da memória, da cultura, da tecnologia, das ciências, da arqueologia, etc.), como locais de preservação dos elementos considerados imprescindíveis para a identidade de um povo ou mesmo de um grupo; como portadores de cultura, essas instituições vão perpetuando os feitos das sociedades a outras gerações se reinventando e sendo inventado por novos personagens de nossa história.

A proposta de criação de um museu histórico para a cidade de Serra do Navio tem como finalidade o resgate dos aspectos mais significantes do passado deste lugar e reuni-los em um espaço específico, que seja acessível a todos os interessados pelo assunto. Pretende-se que este museu seja um espaço dinâmico e interativo de acordo com as novas atribuições verificadas nestas instituições visando atrair e conquistar públicos diversos, que vão de estudantes a pesquisadores científicos.

3.1 BREVE HISTÓRIA DOS MUSEUS: A EVOLUÇÃO DE SEUS PAPÉIS

PELO MUNDO

A origem dos museus tem raízes antigas na história da humanidade e estão intimamente relacionadas com o ato de colecionar objetos pelo homem. Porém, é certo afirmar que as funções desempenhadas pelos primeiros museus diferiam bastante dos papéis que eles foram agregando até chegar às conformações atuais.

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Os primeiros registros de que se tem informação, dizem respeito ao Museu de Alexandria, no Egito considerado por muitos historiadores como o primeiro museu da humanidade:

(...) fundado por Ptolomeu Soter por volta de III a.C. na cidade egípcia de mesmo nome, que abrigava biblioteca e objetos artísticos com o propósito de que seus internos recebessem as musas em forma de inspiração; constituía menos um museu do que um centro de altos estudos da cultura helenística, onde os melhores eruditos e sábios da época podiam desfrutar da numerosa coleção de obras clássicas do saber antigo e refletir sobre sua condição de privilegiados por uma sociedade que os permitia viver para pensar, criar e transmitir conhecimento. (FISCHMANN, 2003, p.13).

Na Idade Antiga vamos ter outros relatos de reunião de objetos por algumas civilizações, como é o caso dos romanos, por exemplo, que chegaram a realizar mostras de objetos conseguidos em suas pilhagens, porém nada que realmente chegasse a ser um museu, pois tinham caráter efêmero. (FISCHMANN, 2003, p.13).

A essência do caráter principal de um museu vai sendo mantida, que é o ato de colecionismo. A reunião de objetos e artefatos exóticos e ímpares por indivíduos pertencentes à realeza, conseguidos por exploradores durantes diversas viagens e pilhagens que vão acontecer até a época da Revolução Francesa, em 1793:

(...) as coleções passaram de antiguidades para pinturas, esculturas contemporâneas e gravuras, assim como porcelana,jóias4, cerâmica antiga, armas, instrumentos científicos, artefatos de história natural e curiosidades reunidas em viagens de exploração pelo mundo. (GHIRARDO, 2002, p.81).

Apesar deos museus propriamente ditos surgirem no período do Renascimento quando nobres e membros poderosos da Igreja Católica promovem a exposição das coleções de tais objetos a um grupo muito restrito. Esse fato demonstra a excepcionalidade com que tais amostras eram realizadas, pois de modo geral, esses conjuntos eram mantidos em palácios e levados a público de acordo com a vontade de seu tutor. (GHIRARDO, 2002, p.81).

O Palácio Médici, em Florença, na Itália, pode ser considerado o primeiro museu de caráter particular da Europa pela quantidade de objetos expostos e por sua ornamentação, porém de acordo com Kiefer, a maior referência para o que viria a ser um protótipo de museu, seria a GalleriadegliUffizi ou Galeria dos Ofícios:

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(...) o primeiro espaço dedicado exclusivamente às artes, desvinculado do objetivo decorativo, surge em Florença, no último quartel do século XVI, quando François I resolve aproveitar o último andar de seu edifício de escritórios, que servia de passagem, como um grande corredor a unir diferentes palácios, para reunir toda a sua grande coleção de obras de artes que antes se encontrava espalhada por diversos lugares. (KIEFER, 2000, p.12).

Esse edifício projetado e inicialmente construído por Giorgio Vasari, em 1561 e finalizado em 1574 por Buontalenti, coloca o termo “galeria” em evidência, onde este era relacionado a um espaço dotado de amplos corredores que ficavam entre dois palácios, nos quais as coleções de arte ficavam expostas (FISCHMANN, 2003, p.15). Esse modelo foi bastante utilizado como referência para os projetos de museus-galeria que foram sendo desenvolvidos posteriormente.

Figura 06 – Vista interna da Galeria dos Ofícios. Fonte: disponível no endereço eletrônico

http://d1l3luowul8a0f.cloudfront.net/slir/w700-c1:0.4/sitipiu/ft/3/0/301362732174.jpg.

Vemos então, que diferentemente de outros tipos de edificações, os museus não surgiram com um modelo fixo, com estrutura espacial definida e sim, através de adaptações em prédios já existentes que continham salas diversas, nas quais as coleções de arte e de obras de cunho patrimonial podiam ser colocas à mostra; é importante lembrar que esse modelo de galerias-museu vai perdurar durante o período Barroco (século XVII e meados do século XVIII). (FISCHMANN, 2003, p.16).

Com o desenvolvimento da classe burguesa e dos chamados Estados-Nação na outra metade do século XVIII, as iniciativas referentes ao erguimento de edificações que abrigassem as coleções de arte, anteriormente pertencentes a donos particulares, acabaram ganhando diversos estímulos, especialmente por parte do grupo social que emergia.

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Surgem, neste contexto, os Museus Nacionais, que possuíam uma sistemática diferente, pois tinham como finalidade “colecionar e proteger objetos preciosos ou de interesse de indivíduos ou da coletividade” (KIEFER, 2000, P.14). Conforme o que fora dito anteriormente, tais museus guardavam coleções que outrora eram de natureza privada e as tornaram acessíveis à contemplação de um público maior.

A classe burguesa era a principal mantenedora dessa ideia, por motivos bem óbvios:

(...) Sua função era educar as massas burguesas emergentes na estrutura de gosto considerada apropriada pelas classes mais elevadas e imbuí-las do devido respeito pelas obras de arte, reforçando uma narração histórica imperialista na linguagem e na retórica do classicismo. (GHIRARDO, 2002, p.82).

Dentre os museus que marcam esse período estão o Museu do Louvre (1793), em Paris e o Museu Britânico (1753), em Londres. No caso do Museu do Louvre é considerado “o primeiro Museu Nacional da história ocidental e ganha, como sede, parte do palácio real do Louvre” (KIEFER, 2000, p.16), além disso, o seu acervo adquiriu importância ao longo do tempo, tornando-o referência até os presentes dias.

Figura 07 – Museu Britânico, Londres. Fonte: disponível no endereço eletrônico http://www.reino-unido.net/fotos/museu-britanico.jpg.

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Figura 08 – Museu do Louvre, Paris. Fonte: disponível no endereço eletrônico

http://www.webluxo.com.br/menu/museus/louvre-museum-paris_a.jpg.

Esses primeiros museus, em sua grande maioria, foram instalados em palácios, onde lhes caía muito bem a existência de inúmeras grandes salas que se interligavam, as quais se adequavam perfeitamente aos tipos de exposição que estes museus comportavam, além da estrutura física, essas edificações contavam com sistemas de segurança próprios, o que garantia o “controle dos tesouros que abrigavam” (KIEFER, 2000, p.17). É importante frisar que, por trás da escolha destes edifícios havia também outros fatores:

A questão política e de propaganda também pesou muito. A imagem de edifício importante, já sacramentada na população, respondia com eficiência à necessidade de mostrar que ali estavam guardadas as riquezas da nação e que essas estavam ao alcance de todos. Não deixava de ser uma forma de permitir que a burguesia ávida de poder pudesse, enfim, tomar posse dos palácios, ainda que de forma simbólica. (KIEFER, 2000, p.17).

A tipologia mais empregada nos projetos arquitetônicos de museu desse período seguia a mesma linha das primeiras galerias, ou seja, “espaços retilíneos alongados invariavelmente conectados a um espaço principal” (FISCHMANN, 2003, p.19); de modo geral, as formas utilizadas seguiam um padrão retilíneo, conforme podemos verificar nas imagens a seguir:

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Figura 09 – Planta Geral do Museu do Louvre, Paris. Fonte: disponível no endereço eletrônico

http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2005-1/arq_enterrada/hunder_clip_image008.jpg.

Durante muito tempo a estratégia para ocupação de palácios-museus deu certo basicamente por mais de um século (KIEFER, 2000, p.17). Todavia, essa tipologia começou a apresentar algumas situações problemáticas “como o amontoamento das salas e depósitos e uma dificuldade de comunicação com o público” (KIEFER, 2000, p. 17), e apesar dos inúmeros objetos expostos, muitas vezes faltavam informações referentes a eles.

Passado este período, surgem as vanguardas europeias, onde ocorrem intensas transformações no contexto artístico e arquitetônico que vão influenciar nas novas formatações de museus. Apesar de muito questionarem os museus anteriores, a produção de museus fundamentados em ideias modernistas veio ocorrer tardiamente, em parte devido ao movimento histórico que passavam – duas guerras mundiais, e no pós-guerra, a preocupação maior era a reconstrução dos espaços destroçados pelos conflitos somados às questões habitacionais – o que fez com que as discussões acerca deste assunto fossem retomadas mais adiante. (KIEFER, 2000, p.18).

De acordo com Fischmann (2003, p.35), existem alguns aspectos que vão caracterizar a proposição dos museus modernistas:

Assim, foi possível identificar quatro estratégias projetuais básicas, as quase podem ou não combinar-se para estabelecer a tipologia de cada edifício: duas delas dizem respeito à morfologia exterior e as outras duas relacionam-se com a organização interna dos museus. As duas primeiras são a caixa opaca, cerrada desde o exterior, e

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o espaço diáfano, transparente, que por vezes permite vislumbres do acervo antes mesmo do ingresso no interior do edifício; as outras duas relacionam-se com o museu proposto como planta livre, resolvido por vezes em grandes vãos, ou através do esquema tradicional de salas, ou galerias, resolvidas em sequência interligadas ou não.

Ainda segundo o referido autor, as composições museológicas poderiam levar em consideração a utilização de tais estratégias isoladamente ou fazendo o uso de pelo menos duas ou até três delas. Ora, a produção modernista buscava a ruptura dos elementos que compunham as produções passadas referentes a museus exatamente por considerar que estes como “lugares cansativos, pesados e meramente instrutivos”. (KIEFER, 2000, p. 18).

A produção modernista destacou-se em alguns segmentos, como foi o caso das habitações de interesse social, visto que nos períodos após os conflitos bélicos a necessidade primordial era reduzir os problemas relacionados ao déficit habitacional e infraestrutura, conforme foi explicitado anteriormente. Os primeiros projetos dedicados exclusivamente a museus na arquitetura moderna estão relacionados a Le Corbusier, que propôs edifícios que diferiam completamente dos que haviam sido erguidos outrora.

Um dos projetos mais marcantes de Le Corbusier (apesar de não ter sido executado), para este período, foi a proposição de um museu parisiense, o qual foi dominado “Museu sem Fim” (1931), no qual o arquiteto adotou o formato de espiral e um discurso em que defendia que tal museu poderia se expandir de maneira indefinida (KIEFER, 2000, p.18), isso à medida que houvessem recursos disponíveis para tal (FISCHMANN, 2003, p.44).

Figura 10 – Maquete física do Museu sem Fim de Le Corbusier. Fonte: disponível no endereço eletrônico

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Para compreender a Lógica da proposta de Le Corbusier, Fischmann (2003, p.44) explica a questão da composição formal do projeto e justifica o aspecto morfológico adotado neste:

A forma em espiral era tida por Le Corbusier como algo que ‘segue as Leis naturais do crescimento’, ‘verdadeira forma de crescimento harmoniosa e regular’. Nada que remetesse, porém, a formas orgânicas da natureza, pois o próprio caracol representado por Le Corbusier foi matematicamente decomposto em retângulos de seção áurea. A preocupação com a expansão e a construção em partes antecipava de certa forma problemas que são enfrentados até hoje por museus que não podem expor adequadamente todo o seu acervo.

Apesar de tal proposta ser bastante inédita e de representar a quebra de paradigmas que o movimento moderno trouxe, acabou não sendo executada como já mencionado, porém influenciou outras ideias do próprio Le Corbusier e de outros grandes representantes desse período.

Temos propostas muito interessantes e ousadas como a de Frank Lloyd Wright, que desenvolveu o Museu Guggenheim (Nova York, 1959), que também segue a mesma linha anteriormente proposta por Le Corbusier, adotando a forma de uma “espiral curva e ascendente, girando em torno de um grande vazio banhado pela luz natural” (KIEFER, 2000, p.19).

Figura 11 – Museu Guggenheim, Nova Iorque. Projeto de Frank Lloyd Wright. Fonte: disponível no endereço eletrônico

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Apesar de constituir uma obra de parte grandiosa, o Museu Guggenheim, recebeu inúmeras críticas – como tantas outras obras referentes à arquitetura moderna – especialmente a respeito dos aspectos funcionais que lhe caracterizaram:

Entretanto, apesar de ser pretender funcionalista e a epígrafe ‘a forma segue a função’ ser muito comum nesse período, a arquitetura moderna nunca teve uma relação pacífica com as questões funcionais.

Com o museu Guggenheim não foi diferente: a par da preocupação expressa por seu arquiteto, sua funcionalidade foi severamente criticada desde sua inauguração, tanto pela obrigatória linearidade de qualquer exposição, quanto pela dificuldade de exposição de obras de grande tamanho (KIEFER, 2000, p.19).

Outro exemplo de museu deste período é a Fundação Maeght (1959 – 1964) construída na França e idealizada por Sert; tal edifício é bastante marcado pelo uso do concreto aparente e pela presença bastante comum de sheds, com destaque especial para sua cobertura.

Figura 12 – Fundação Maeght, França. Fonte: disponível no endereço eletrônico http://www.40forever.com.br/wp-content/uploads/2012/05/2832843.jpg.

Ainda dentro do período da arquitetura moderna tivemos outros museus propostos por grandes arquitetos desse movimento que através das formas cada vez mais inovadoras e que, sem dúvidas foram agregando novos valores à concepção projetual dessas instituições como é o casa de Mies van der Rohe, que realizou alguns estudos conceituais para a criação de um

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museu para uma cidade pequena (1942); No Brasil, Lina Bo Bardi projeta o Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1957 e Affonso Reidy concebe o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1954) (Figura 13).

Figura 13 – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projeto de Affonso Reidy. Fonte: disponível no endereço eletrônico

https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS-o1iBoV_VCT8zHk_KJft5a6CcJ8pBE_FpTPOmz7h62lomOX0Vg.

Os projetos concebidos sob os ideais modernistas possibilitaram novas leituras para os museus, de acordo com KIEFER (2000, p.20):

Uma alteração importante na forma do museu modernista vai ser a simplificação de seus espaços internos. As circulações e as salas de exposição se integram num

continuum espacial. A fluidez e transparência que a maior parte das vezes inclui

também os espaços exteriores desses edifícios.

É importante notarmos o quanto a natureza dos museus foi se modificando ao longo do tempo, pois começam como lugares onde eram depositados objetos de grande valor, acessíveis a um grupo muito restrito de indivíduos e vão evoluindo até adquirirem novos status, onde vão absorver as crescentes demandas que surgem nas diversas sociedades, chegando, dessa maneira aos novos museus, que serão abordados no próximo tópico.

(41)

3.2

OS MUSEUS CONTEMPORÂNEOS: NOVAS ESTRUTURAS,

NOVAS TEMÁTICAS

Pudemos ver na abordagem anterior que os museus foram se modificando bastante até chegarem à conformação que possuem nos presentes dias. Tais mudanças constituíram um processo longo, que acompanhou as transformações sociais e que se refletiu tanto na estrutura física de tais espaços, quanto nas suas abordagens. Kiefer nos dá uma ideia dos fatores que foram agregados e que caracterizam os museus contemporâneos:

Os museus agora eram projetados para serem lugares agradáveis de ficar até mesmo independentemente de seus motivos – objetos, o acervo exposto. Para isso foram agregados novos serviços como restaurantes, lojas, parques e jardins, além de outras facilidades e, mais do que tudo, em contraposição ao museu antigo, muita luz natural iluminando amplas circulações e grandes espaços de exposição muito mais integrados e fluidos. (KIEFER, 2000, p.20).

Essa nova concepção museológica (século XX), é considerada por Ghirardo (2002, p.79) como uma “confluência entre o centro comercial e o parque temático em uma vasta gama de outros tipos de prédios, mais notadamente o museu”. Tal afirmação se fundamenta no fato de que outras atividades acabaram sendo incorporadas às instituições museológicas, com destaque para as de caráter comercial:

As estratégias mercadológicas dos museus apagaram as distinções entre comércio e arte através da criação de lojas de museu cada vez mais elaboradas e importantes, novas estratégias de exposição que criam um vínculo entre as obras expostas e a venda de uma ampla gama de itens não mais limitados a pôsteres, cartões – postais ou catálogos... (GHIRARDO, 2002, p. 99).

É exatamente por essa razão que a autora classifica os novos museus como verdadeiros “shoppings centers culturais” (GHIRARDO, 2002, p.99), pois se notou que através do oferecimento destes novos serviços, os museus poderiam angariar recursos financeiros que poderiam ser aplicados em benefícios próprios.

Para exemplificar esse novo padrão de museu, podemos citar o Museu Nacional de Arte Romana, em Merida, Espanha (1980-1985), projeto de Rafael Moneo que conseguiu juntar tradições históricas de diferentes períodos em uma mesma edificação, utilizando como materiais construtivos o “concreto revestido de tijolos deliberadamente como tijolos romanos”

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(GHIRARDO, 2002, p.87). Entretanto, o Centro Pompidou (1972-1977), em Paris, de Renzo Piano e Richard Rogers retrata muito bem a acomodação de diversas atividades em um só local:

O Centro Pompidou é um galpão gigantesco e de plano aberto que contém um museu de arte moderna, cinema, biblioteca, desenho industrial, centro de pesquisa musical e acústica, escritórios e estacionamento. Os arquitetos expressaram suas duas aspirações fundamentais – sofisticação tecnológica e espaço flexível – no exterior sem características modernistas ou clássicas padronizadas. (GHIRARDO, 2002, p.95).

Não foram apenas as tendências organizativas que incidiram sobre os museus, mas também o aparecimento de novas temáticas e ampliação das já existentes. Existem fatores que vão influenciar na popularização dessas instituições, dentre os quais, o interesse ativo dos Estados-nação, que criam programas de financiamento para o desenvolvimento de museus e os avanços tecnológicos, seja nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Ora, por que tal interesse em investir no desenvolvimento destes edifícios?

Diferentemente do caráter privado e aristocrático que possuíam no princípio, os museus agora eram encarados como agentes educativos (RODRIGUES, 2010, p.215), ou seja, poderiam ser importantes ferramentas na disseminação do conhecimento. Sendo assim, estes espaços precisavam adquirir um aspecto mais dinâmico e interativo, pois a questão não era apenas expor coleções, mas criar diálogos coerentes entre o que estava sendo exposto e o público observador:

Sem negar o alto valor das coleções para essa finalidade, não podemos esquecer que o museu que fique nessa única atividade, será um museu que não responderá às necessidades do mundo de hoje. Por mais completas que sejam as séries de objetos conservados e por melhor informados e atualizados que estejam os conservadores e especialistas, a finalidade do museu de nossos dias é divulgar o conhecimento científico ou artístico, educar, permitir a participação do público, responder aos questionamentos e informar sobre as culturas ali representadas. Os museus constituem instituições que devem dar um retorno à comunidade que os visita. (COIROLLO, 1992, p.75).

Neste sentido, não importa qual o tema que o museu aborda, - pode ser ciência natural, tecnológica, humana; linguagem e literatura; história da arte ou história natural; do cinema; da imagem e do som – ele precisa despertar a consciência de seu público, de possibilitar que este faça “uma leitura crítica e questionadora sobre a instituição visitada” (RODRIGUES, 2010,

(43)

p.215), despertando novos olhares. E é justamente este mesmo princípio que deverá se fazer presente na proposta de museu para o núcleo urbano de Serra do Navio.

3.3

MUSEU HISTÓRICO EM SERRA DO NAVIO: RESGATE E

PRESERVAÇÃO

A história de Serra do Navio, como vista anteriormente, retrata um contexto de formação urbana distinto da maioria de nossas cidades, visto que se tratava de uma vila operária desenvolvida para um fim especifico; a apresentação apenas dessa característica poderia refletir a unicidade deste local, porém existem outros aspectos que tornam o passado desse local ainda mais instigante e digno de ser preservado.

A proposição de uma company town no extremo norte do país constitui um verdadeiro desafio a qualquer projetista, fator este que fora muito bem aproveitado por Oswaldo Bratke, que na época (década de 60) soube tirar proveito da excepcionalidade do projeto e desenvolveu uma proposta que mais tarde serviu de referência para o desenvolvimento de projetos de partes similares.

Como um representante da arquitetura e urbanismo modernos, Bratke soube agregar em seu projeto elementos considerados essenciais nesse movimento: o habitar, trabalhar, recrear e circular, os quais estão presentes na Carta de Atenas elaborada pelo CIAM, e que são possíveis de notar nos projetos de implantação geral da vila, mostradas no capítulo anterior.

A rígida hierarquização espacial da vila também chamada atenção dentro desse contexto, pois era uma exigência da empresa, sobretudo para manter a organização e controle da população operária, elemento preponderante no que diz respeito aos projetos de Company Towns (IPHAN, 2007, p.54). Os equipamentos urbanos propostos tinham a função de quebrar a monotonia do lugar, uma vez que não havia atrativos que pudessem ser úteis nas áreas adjacentes.

Além do traçado urbano e da estratificação especial, o que mais chama a atenção no núcleo urbano de Serra do Navio é o seu conjunto arquitetônico, isso se deve às estratégias

Referências

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