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(1)

FACULDADE

DE

CIÊNCIAS

SOCIAIS

E

HUMANAS

Departamento

de Estudos

Portugueses

Dissertação

de

Mestrado

em Literatura e

Cultura

dos Países

Africanos

de

Expressão

Portuguesa

O

universo

oral

na

obra

de

ilha

Gouto

Maria Teresa

Damásio

Bento

dos Sanfos

(2)

FACULDADE

DF.

CIÊNCIAS

SOCIAIS

E

HUMANAS

DEPARTAMENTO

DE

ESTUDOS

PORTUGUESES

O

UMVLRSO

ORAL NA OBRA

DE

MIA

COITO

Maria Teresa Damásio Bento dos Santos

■( -X,■:■•-•*"*■'

Dissertação

de Mestrado em Literatura

e Cultura dos Países Africanos de

Expressão

Portuguesa.

apresentada

na Faculdadede

Ciências

Sociaise Humanas

da Universidade Nova de

Lisboa,

sob a

orientação

do Professor Doutor

Lourenço

do Rosário

1996

(3)

Introdução

4

I

Enquadramento

Sócio-cultural

da

Sociedade

Moçambicana

8

1.Valores Culturais

na

sociedade

moçambicana

8

1.1.

A

diversidade

8

1.1.1.

Os substratos

9

1.2.

A

oralidade

e

aesctita

12

1.2.1. A

cristianização

-

13

1.2.2.

As

línguas

africanas

e o

português

16

1

.3.

Emergência

e

breve Panorama do Fenómeno

Literário

Moçambicano

17

II

Atradição

oral

na

Literatura escrita

28

I.A

tradição

oral

na

narrativa escrita

28

2.

As formas

literárias da

tradição

oral

40

2.1.

O

conto

oral

na

narrativa

escrita

42

(4)

III A

tradição

oral

nas

obras de Mia Couto

53

1.

Analise temática das obras

53

1.1.

Ciclo iniciático

54

1.1.1

O

nascimento

de

gémeos

54

1.1.2. O

crescimento

56

1.1.3. A morte 57

1.1.3.1.

\

morte-transfonnaçào

60

1.1.3.2. A

velhice

61

1.1.3.3. Os

antepassados-dcuscs,

senhores

da

chuva

63

1.1.3.4.

Animais

mágicos

67

1.1.4.

O

togo

75

1.1.4.1. A

árvore-suicida

78

1.2.

Ciclo

mítico

82

1.2.1.

O

simbólico

82

1.2.2.

As

lendas

85

1.3. Ciclo

Etnográfico

87

1.3.1. Olobolo 91

1.4.

Práticas

tnágico-religiosas

92

1.4.1. As

Cerimonias

92

1.4.1. ,-\s

mulheres

e o

feitiço

96

(5)

INTRODUÇÃO

Surgidas

num contexto

de

fragmentação

cultural,

c

ainda condicionadas por

sistemas

éticos e

estéticos

alienígenos1,

as

literaturas africanas de

expressão

portuguesa

começaram

por

investir

em elementos

que

sustentassem a sua

diferença,

ou

seja.

se

por

um

lado

se

afirmaram

como

nacionais,

desempenhando

um

papel

messiânico

e

profético

na

construção

da

realidade nacional,

por

outro

lado. interessava-

lhes

realçar

a

identidade africana.

É

no

âmbito

dessa

procura

de identidade

cultural,

em

que

a

literatura

desempenha

um

papel

fulcral,

que

surgem conceitos

como

africanidade

e

afins,

no caso que nos

interessa

o de

moçambicanidade.

Na

jovem

literatura

moçambicana,

fruto

de

uma

realidade

sócio-cultural

e

socio

linguística complexa

e

que procura

os

caminhos

da

sua

definição,

existe,

nas obras de

alguns

escritores,

a

procura

de «um

efeito

de

moçambicanidade».

Nesse processo

de

«construção

de

uma

imagem

de

moçambicanidade»(

Gilberto

Matusse).

vários são os

modelos literários

presentes.

Contudo, existe

.

sobretudo.

a

opção

de

contornar a

tradição

europeia

e

assumir

ideias e

valores

da

tradição

oral

africana.

Neste contexto, o

presente

estudo tem como

finalidade

a

pesquisa

de

elementos

da

tradição

oral

africana

na

obra de Mia

Couto. A escolha

deste

autor

prende-se

ao

facto

de se tratar

de

um

exemplo representativo

dessa atitude

presente

na

fiecção

de

uma nova

geração

pós-independência,

que

procura

a síntese

criativa

entre os

modelos

africano e europeu

(entre

outros), refundindo formas

tradicionais

numa

escrita

adaptada

às novas

condições

de

comunicação.

1

(6)

Embora saibamos

da

existência

de outros

modelos literários que

subjazem

às

estratégias

textuais

adoptadas

por

este autor,

por

razões

metodológicas

apenas

nos

deteremos

naquelas

que se

enquadram

no

contributo da

tradição

oral africana.

Restringiremos

ainda

o

objecto

deste

trabalho

ao

âmbito

temático-estilístico

e

ideológico,

na

busca

dos elementos que assim

concorrem

para

a

definição

de

um

nacionalismo literário.

Tentaremos

demonstrar,

através

da

análise

do

conteúdo temático

das obras

a

sedução

que o

imaginário

do conto oral exerce

sobre

o autor textual e o seu

discurso latente,

e como num

discurso de

superfície

ele assume uma

perspectiva

de

distanciação,

num

compromisso

de

modernidade.

Assim é que

o

presente

trabalho está estruturado

em

três

capítulos

principais.

A

primeira

parte

dedicamo-la a um breve

enquadramento

sócio-cultural

da

sociedade

moçambicana;

tentaremos

abordar

a

diversidade

dos seus

elementos

componentes, demonstrando

a

variedade

de

origens

culturais,

e como a

tradição

oral

tem um

peso

decisivo constituindo-se

como

matriz cultural

dessa

mesma

sociedade.

Debateremos ainda

a esse

propósito, algumas

questões

relacionadas

com a

oralidade

e a

escrita,

e de como esta se

constitui

um veículo

capaz

de

incorporar

a

tradição

oral,

tornando-se um

instrumento de

marcada

identidade nacional.

Ao

longo

dessa

parte,

faremos a análise de

alguns

conceitos

que irão

servir-nos

como

instrumentos

terminológicos

no resto do nosso

trabalho,

tais como o de

africanidade

e

moçambicanidade

.

(7)

literárias do

oral,

trabalhando dois

géneros,

o conto e o

provérbio.

Faremos

também

a

contextualização

dc tal

problemática

na

literatura

moçambicana.

No

terceiro

capítulo,

dedicado

ao

estudo

das

obras,

ocupar-nos-emos

essencialmente

da

análise

de

conteúdo

das obras,

efectuando

um

levantamento

de

elementos textuais

das

obras

cm

análise, que coincidam

com temas

da

tradição

oral. Interessa r-nos-á saber

o

modo

como

foram

transfigurados,

ou não.

pelo

trabalho

criativo

estético

do

escritor

e

quais

as

estratégias

de

distanciação/harmonização

que o autor textual assume no seu

discurso

de

superfície

para

obter

um

compromisso

de

modernidade.

Para

ser

possível

a

comparação

entre os

valores

da

tradição

oral e os

elementos

textuais

que neles se

inspiraram,

foi

nossa

intenção

estudar

algumas

das

características

da

tradição

oral

de

povos de

norte a

sul de

Moçambique.

Esses

elementos,

citados ao

longo

do

trabalho

referem-se

sobretudo

aos

povos

Maconde,

Tonga,

Ronga

e Sena.

Partindo

assim da

teorização

de

diversos

aspectos

da

cultura tradicional

moçambicana,

faremos sempre que

possível

a

análise

comparativa

entre esses

valores

e a

abordagem

ficcional

que

deles faz Mia Couto.

Casos há

em

que apenas

apresentamos

os excertos

retirados das obras por

verificarmos que existe uma total coincidência entre o que nos surge como

documento

etno-histórico

e a

transposição

que

o

escritor faz para

o seu

discurso

ficcional.

Não

ignoraremos,

contudo,

que o texto

literário

não está

constrangido

à

figuração

realista,

antes,

retira

o seu

significado

da

relação

com o

referente literário

e as

palavras

remetem,

sobretudo,

para o contexto cultural.

A

metodologia

que

adoptámos

para o

estudo

destas obras

procura

ser

pragmática

e

(8)

do que

uma

análise

de texto.

Faremos,

assim,

uma

leitura

predominantemente

de

tipo

sócio-cultural. Recorreremos,

no entanto, aos

processos,

clássicos,

da

análise

estrutural

e da

semiótica,

sem os

quais

os

métodos temáticos

como a

sóciocrítica

ou a

psicanálise

não

teriam

fundamento

epistemológico.

Julgamos

fundamental para

o nosso

trabalho

a

noção

de

transtextualidade(Genette)

na

procura de

marcas

da

oralidade,

em

que

se cruzam

dialogismos

vários,

quer a

relação

texto

escrito

e

tradição

oral,

quer

em outro

tipo

de

intertextualidade

aflorada,

a

relação

texto-

real idade.

Os textos que iremos

analisar,

são os

dois

primeiros

livros

de contos e o

romance

publicados pelo

autor,

respectivamente,

Vozes Anoitecidas

(VA)

que é

composto

por

doze

estórias;

Cada Homem é

uma raça

(CHR)

que contém

onze

estórias.

No caso do romance. Terra

Sonâmbula

(TS),

estrutura-se em vinte

capítulos.

nove dos

quais

possuem

essa

designação,

sendo intercalados por onze a

que

o autor chama de cadernos

(Cadernos

de

KindzuL Possuindo

uma certa

autonomia.

(9)

I

ENQUADRAMENTO

SÓCIO-C

l LTURAL DA SOCIEDADE

MOÇAMBICANA

1. ValoresCulturais na Sociedade

Moçambicana

1.1 A diversidade

A realidade sócio-cultural

moçambicana

é bastante

complexa.

Os seus elementos

componentes apresentam

origens

distintas, emboradifíceisde localizar, dado o processo de

eimalgamento

que sc

foi

produzindo

ao

longo

do tempo, que lhe incutem a marca da diversidade. Na

origem

desta diversidade, estáo

complexo

de contactos

gerado

nopercurso

histórico,

desdea

época pré-colonial

. até ã

independência.

Assim,

interessa-nos analisar

alguns

dados históricose

sócio-culturais,

para sabermos da razãoda diversidade acima

apontada:

quais

as

componentes

quea constituem e. ainda,

qual

a

importância

da

colonização

no processoevolutivo, deste modo delineado.

Na verdade, embora mais adiante nos situemos no

plano

literário, torna-se

importante

analisar,

nas suas

componentes,

essa

diversidade

que constitui a

origem

matricial

da sociedade

moçambicana.

Existe em

Moçambique

uma dicotomia cultural que

representa

dois mundos diferentes. sendo um deles o universo cultural dos vários grupos étnicos, e outro que

representa

o estilo de vida nacidade,onde a presençaportuguesa sc fez sentir."

Segundo

a

tipologia

de

Heimer/

trata-se da sociedade central, que inclui os sectores modernos da sociedade e do mundo

tradicional,

representado

pelos

grupos étnicos a que

poderiamos

chamar o sector das sociedades tributárias. Esta

proposta

que.

segundo

J. Venâncio,

desprezaria

a

especificidade

do

tipo

de

colonização

portuguesa, não sc

aplicando

ao casode

Angola

. talvez se

aplicasse

ao casodc

Moçambique.

Ora. como diz Ana Mafalda I cite : «Anteriormente e durante a

época

de

colonização

houve contactos demorados e

permanência

de várias culturas, para alem da

europeia

(de

"'

Venâncio, J.C.. «Tradição, criou lismo e lnoratura nacional. Repensando a modernidade em Angola» in Literaturaversussociedade.Ed. Vega, Lisboa. 1992.p.83

1

(10)

manifestação

predominantemente

portuguesa,

mas também

britânica):

outros mundos culturais como o islâmico, e o oriental introduziram

rupturas

na

primitiva

estrutura tradicional e clânica de

Moçambique.

Houve,

pois.

desde muito cedo uma manifesta

diversidade

e cruzamento, quase nunca resolvidos de maneira

harmónica,

de fenómenos culturais de

origem

vária»'.

Factos a ter em conta para uma

compreensão

dei

heterogeneidade

quedefine a literatura

moçambicana.

1.1.1. Os substratos

Conforme nos diz A. Rita- ferreira . na

origem

dos

chamados

«grupos étnicos » há a considerar que

parte

deles «estiveram claramente relacionados com unidades

politicas

de maior ou menor dimensão, directa ou indirectamente afectadas

pelo

secular comércio ultramarino com os

navegadores

asiáticos e europeus (...) »

'

Este comércio com os Asiáticos vai intcnsificar-se. cerca do ano 1000 d.C'.. assim como vai aumentar a mobilidade

demográfica,

outro dos lactores

apontado

por Rita-Ferre ira. na

estruturação

cultural e

linguística

dos vários grupos étnicos. Até ao século XVI, destaca-se a presença dos

navegadores

e comerciantes

árabes,

persas e indianos que vão exercer a sua influência quer a nível

político,

quera nível económicoe social.

Até ao século XIX. marcado

pelas

invasões

Angunes.

vários são os reinos que se

desenvolvem,

gerando-se

guerras, fenómenos

migratórios

e

transformações

várias,

a nível económico e social. Produto de diferentes

experiências

históricas

distinguem-se

assim vários povos com característicasculturais distintas.

4

Leite. Ana Mafalda.

«Aproximação

áMoçambicanidade» in.

Tempo,

26-5-1985.

p.45

*

Rita-Ferreira. A..

«Grupos

e História Pré-Colonialde

Moçambique»

in:

MuçambOjuc.

-/./vetos Jacultura material. Instituio de

Antropologia.

Universidade de Coimbra. 1986. pp. 15-16.

Segundo

este auior. « o advento dos primeirosclãs falando linguas

proto-bantas»,

noactualterritório moçambicano, dá-seno inicio daeracristã. Segundoasescavações,noâmbito da modernaarqueologia,

pode

saber-se queas

populações

da IdadeAntiga do Ferro. c.de 770d.C,«nomeadamenteasquesedispersavam entreoZambeze eo Savc (...) dominando as rotas até -\antiga Sotala, mantinham contactos com navegadores

provenientes

da Pérsia, ArábiaeIndia»

''

Rita-Ferreira. op. cit. p 16 Foi duranteesse

periodo

que surgiram três

grandes

Estados, dominantes no

planoeconómicoecultural que teriam ramificações periféricas: o listado do

grande

Zimbabué que

atingiu

o auge entre 1300e 1450. situadonoplanaltoenlre oAlio

Limpopo

e oZambeze: o Estado de Butua-[.irua,a ocidentee o Estado dos Mutapas. Todoseles

podem

considerar-se sucessoresdo Grande Zimbabué que em

(11)

A.

Rita-Ferreira

ao lazera

descrição

dacultura tradicional das várias

etnias,

destacaa zona do vale do Zambeze, habitada por Senas e Podzos,

que esta

região,

desde sempre, foi

frequentada

por povos exóticos como os Indonésios . os Persas, os Árabes e os

Portugueses.

Nesta

região

se estabeleceu o

regime

dos Prazos da Coroa que também teve

responsabilideide

no

surgimento

de

alguns

grupos.

Desde cedo que scestabeleceram rotascomerciais entre o

Golfo

Pérsico, ei Africa Oriental,

a

índia

. a Indonésia, e a

China.1*

Navegadores

e

comerciantes

árabes, persas, indianos e

chineses mantiveram uma

importante

actividade

comercial, em contacto com as

populações

do litoral e também do interior. Rita-Perreira faz a

distinção

entre dois movimentos

politico-culturais.

vindos do Médio Oriente, sendo que «com o decorrer do

tempo, o de

origem

persa \eio a ser assimilado

pelo

dc

origem

árabe». Embora

sejam

muitos os

vestígios

deixados por esses povos, foram, contudo, os Persas e os Árabes que deixaram marcas mais

profundas,

nomeadamente, a

islamização

dos povos do litoral Norte.

Os

primeiros

navegantes

portugueses

a

chegar

a

Moçambique

encontraram a costa leste africana

ocupada

por uma cadeia de estabelecimentos

swahili-árabes.

africanizados, mas bem

orgulhosos

dasua

origem

islâmica .

Os

esforços

dos portugueses para

monopolizar

ocomércio local,

expulsando

os mercadores

svvahili,

revelaram-se sempre ditkcis de

conseguir,

devido à secular

implantação daqueles

na costa africana. Além da sua melhor

integração,

eram em

grande

número, o que contrastava com os poucos efectivos

portugueses.

Tornavam-se. desde

logo. perigosos

concorrentescomerciais, mantendo um intercâmbio secular com a Arábia, Golfo Pérsico e

Índia.

7

Rita-Ferreira, A.. Povos dcMoçambique História_•('ultttra, \2d. Afrontamento. Porto. 1985. Considera-as

em grandesgrupos: aosul do Save.Tsonga. Chope e I.i-longa: a norte do Zambeze,o grupo Marave. o

grupo Makua-Lomwe,ogrupoAjauae«grupo Maconde. Idem. p. 25

Idem, p. .ro 10

Cf. Boxer.C, Relações Raciais na Império Colonial l>t>rtit£tu's, Ed. Afrontamento. Porto, 1988. pp.

45-46. De acordo com este autor, as instruções do rei D Manuel para o vice-rei da índia, era que fossem

aprisionados

todos os comerciantes maometanos de Sofala. Coniinuava-se assim a cruzada portuguesa

(12)

No que

respeita

às

relações

sociais entre as duas comunidades, a cristã e a

muçulmana,

variaram de

região

para

região,

sendo mais ou menos

amigáveis

consoanteas necessidades. De referir queo clero católico sempre tentou

impedir

que os dois grupos se

aproximassem

e

quando

detectava indícios dessa realidade, intervinha

energicamente.

Por outro lado. a

concorrência

muçulmana

intrometeu-se no

espírito

de missão inicial dos

portugueses.

Basta lembrar que a morte do missionário único da

primeira

expedição

missionária se deu devido às

insinuações

dos

muçulmanos

de que ele seria um feiticeiro com

intenções

malévolas.

No século XVII

(1670).

os

Árabes

chegaram

aatacar

Moçambique

c anlesdo fim do século

expulsaram

os

Portugueses

de

Mombaça.

Desde cedooutra

importante

comunidade foi a indiana. Já noséculo XVII. os comerciantes indianos se revelavam mais

preocupantes

do que os comerciantes swahilis. Embora fossem criticados por

alguns

, outros afirmavam, entre os seus defensores encontravam-se os

jesuítas,

serem eles o

suporte

económico da colónia e uma comunidade trabalhadora e inofensiva.

A

importância

das comunidades referidas manteve-se ao

longo

do

tempo,

e no início do século XX

(

1915-1918)

os Asiáticos

(incluindo

os

chineses)

deviam somar 5000 a 6000 indivíduos,

quando

o número de brancos poressaalturaerade 10 500. '

Assim,

pode

afirmar-se que o espaço cultural

moçambicano

é marcado por uma lorte componente árabe e oriental,

que embora a actividade comercial fosse a dominante, a presença, sobretudo no litoral ao

longo

de séculos, «nunca deixariade influir nos

aspectos

linguísticos,

religiosos

c civilizacionaisem

geral»11

11

Dados retirados de Silva. A.. Mentalidade Mtssitilóf-ifti das Jesuitas em

Moçambique,

_.'-'.ol.. J.I Lisboa. 1967. p. 293

'"'

Cf. Pélissier. R.. História dc-Moçambique, vol I. Ed Estampa. Lisboa. 1987. p. 195

(13)

1.2 A oralidade e a escrita

Partindo da ideia de que é na oralidade que está a identidade matricial da cultura

moçambicana,

importa

verificar de que modo a

introdução

da escrita, com o colonialismo.

vem alterarounão a autenticidade africana,ou

seja.

se. no confronto entre estes doismeios de

veiculação

e/ou

perpetuação

da

tradição,

a escrita se substitui ao modo oral.

incorporando

em si os valores que anteriormente circulavam . de uma forma

intemporal.

Trata-se. no fundo, de saber se a

língua

de

importação,

no caso o

português,

poderá

constituir-se como veículo dos valores culturais

acoplados

às

linguas

tradicionais,

que.

consequentemente,

aos sistemas

linguísticos

diferenciados

correspondem,

afinal, «dois

sistemasculturais e civilizacionais diferentes, duas

cosmogonias

distintas».

Coloca-se o

problema

da

introdução

da

escrita,

como «um

golpe

de

força»

numa sociedade de

tradição

oral. em que o momento dessa

introdução

não é o

produto

de uma

evolução

históricae a sua necessidade é

exógena,

havendoassim uma

«.aceleração

daHistória»

Para além do factode a escrita ser introduzida através de uma outra

língua

que nãoa local. o

aparecimento

da escrita tem

implicações

sociais bastante

profundas,

reorganizando

a

sociedade.

Apesar

de não irmos dar demasiada incidência ao elemento

linguístico,

interessa neste

caso. tentar avaliar da realidade da

implantação

das

línguas

de que falamos . para assim

confirmar, ou não. a

pertinência

da nossa

questão

inicial. O advento da escrita nas

línguas

nacionais, de

origem

bantu. é bastante recente, datando de há mais ou menos um século.

logo

são

línguas

maioritariamente orais,

cujo

desenvolvimento foi travado

pelo período

colonial.

O colonialismo

português

praticou

uma

politica

culturalmenteassimilacionista, masapesar desse

projecto

de

nação

multi-racial, e das

consequências

que eie trouxe a nível do

'''

Calvet. Louis-Jean.La iradition Orale. PUF. Paris. 1984. p. 105

|lA

escrita nào é um fenómeno anormal e extraordinário numa sociedade

cujos principais

meios de comunicação

podem

ser oraiseque secaracteriza pelo desenvolvimento do oral mais do que da escrita..No caso de Moçambique verificamos que os Árabes já possuíam escrita). Cf. Ruth I

•'innegan.C---./

Poeuy: its nature,stgnifianceand socialc.»«.t*.v_,University Press,Cambridge. 1979, p. 161 etambém Calvet. J.ob.cit..

(14)

universo tradicional, é evidente que as

populações

foram sempre

guardiãs

da sua

própria

história e cultura.

Encarando a

questão

globalmente,

sabemos que o meio tradicional de

comunicação

em

África

foi sobretudo a oralidade, quer consideremos a

questão

sob o

ponto

de vista

funcional

ou estético, lodo o saber veiculado, era-o através da

palavra.

lambem nas

sociedades ocidentais,

que possuem uma

longa

tradição

de

escrita,

houve a

precedência

de

uma

longa tradição

oral. No caso africano coloca-se outra

questão,

a de que se a cultura oral c

produzida

essencialmente com base em

línguas

africanas, com o processo de

colonização,

foi

imposta

uma

segunda

língua,

o

português,

impedindo

o natural desenvolvimento das

línguas

nacionais. Ora. o

problema

é que se a cultura oral é essencialmente

produzida

em

línguas

nacionais estas não possuem

tradição

de escrita e verificamos então que a

língua

que se

sobrepõe

como

língua

de

tradição

escrita e de

dominação

éo

português.

1.2.1 A

cristianização

Os missionários vão

deparar

com formas sociais diferentes e, desde

logo.

vão demonstrar uma certaestranheza e

incompreensão,

perante

certos usos e costumes, por isso os relatos da

época

são bastante

pessimistas,

face ao

objectivo

principal

de conversão

religiosa.

Para eles. o estilo oral é sinal de barbarismo e

liga-se

com isso a falta de culto e 1"*

reconhecimento de Deus.

Além disso, é de referir que tiveram de enfrentar a hostilidade dos

muçulmanos, já

integrados.

Os árabes

possuíam

um grau de cultura

superior

aos restantes habitantes,

pois

conheciam aescritae

possuíam

mestresque ensinavam a ler e a escrever. Assim, muito do trabalho missionário inicial constava em evitar que houvesse contacto, entre eles e as

povoações

autóctones, por motivos

religiosos.

São duas comunidades

religiosas

que se defrontam, e no final do século XVI. os portugueses tinham

diminuído o

poder

muçulmano.

"'

Joflo dos Santos.Etiuopia Oriental,ap. Silva. A., op. cit.. l"vol.. p. 386 l?

(15)

Embora tivesse havido

leigos

e outras

congregações

que desenvolveram a sua

acção,

é

sobre os dominicanose os

jesuítas

que se possuem mais elementos. Paraestes últimos,que

foram

expulsos

de

Moçambique

em 1759. como para os

primeiros,

a

preocupação

principal

era a

evangelização,

masdesde sempre a base dasua actividadeé a escola.

A

estratégia

principal

era a de

praticar

conversões de influência,

começando

pelos

chefese

parentes, para

alcançar

o resto da comunidade, mas também lhes interessava o início dc

formação.

Os

objectivos

imediatos dos

jesuitas

« centram-se na

cristianização

das estruturas sociais

existentes,

partindo

dos chefes naturais.» Prestavam também

atenção

à

formação

cristã da

juventude,

«não só com

doutrinação

religiosa,

mas com

iniciação

técnica e cultural, cm

colégios

ondea par de elementos europeus se formassem elementos de todas as raças, mas

com

preferenciei pelos

filhos dos

régulos.»

Outros missionários, como os dominicanos . nàotinham aseu encargo

colégios

ou escolas .

dedicavam-se sobretudo à

educação

dos

príncipes,

enviando

alguns

dos seus

pupilos

ao

conventode Goa.«onde vários se fizeram

religiosos

daordem »"

Sobre a

formação

do clero, embora fosse demonstrada a necessidade de fundar um

seminário na

região

. essa decisão foi adiada por muito tempo. Pode pensar-se. no entanto.

que os

colégios

eescolasexistentes nos

principais povoados,

tivessem também a

função

de

prepararo clero,como era aliás uso desse

tempo."

Nos

primeiros

contactos a

comunicação

nào seria nada fácil, estabelecendo-sc por vezes graves confiitos, dc que são provaas

acusações

contra missionários tidos porfeiticeiros.

19

Idem,pp 224-225 Idem. p 239 ■''

Idem, p. 242

"

Idem. p.240. t) escritor sul-africano MaCall Theal escreve que para o fim do séc.XM -os

jesuítas

estabeleceram* ..) um seminário em Sena para a educação dos filhos dos ponuguesesw moradorese filhos dos chefes nativos». Subsidiada pelo Estado ecomerciantese donos de prazos . só mais tarde Im admitido naordemconsiderável númerode «africanoseasiáticos sob a ideia deque exerceriam maior influêncianos

(16)

países-Pxiste a

preocupação,

por

parte

destes

primeiros

missionários,de

aprender

as

línguas

locais

e utilizá-las como

linguas

de ensino. Assim, traduziam a doutrina nessas

línguas,

e só

partia

gente

que as soubesse.

Nestecontexto, seguem a

prática

da

oralidade.""'1

Para fazer aceitara

religião

cristã,

aceitam

algumas expressões

tradicionais africanas, como costumes comuns a todos na

igreja.

O

método de cantar a doutrina, estabelece-se como coisa natural e comum, o que faz os

■ ■ 24

missionários afirmarem ter «muitoproveito em pouco tempo».

Regista-se

deste modo que a entrada dos

jesuítas

no século XVI

«aproveitou

a linha de contacto entre a influência portuguesa e as sociedades tradicionais africanas». A atitude

missionária é de

simpatia

e de estudo por um lado e de franco

optimismo

quanto as

possibilidades

de

evangelização

por

outro."'

A

apresentação

do cristianismo, numa

segunda

fase,

após

a

simpatia

inicial era colocada ao nível das crenças tradicionais da terra e cm

conflitocom elas.

Do século XVIII. embora

haja

menos elementos, sabe-se que «cm todas as localidades

portuguesas de

Ásia

e

África

se prega em

português,

devido à dificuldade em

aprender

as

muitas

línguas

locais. As cartas ânuas são omissas sobre

Moçambique

durante todo o

século XVIII.

Houve, no século XVI. duas tentativas falhadas de missão, que não passaram de trabalhos

de

informação.

No século

seguinte

os

jesuítas

voltam e desta vez a sua

acção

transforma-sede rural em urbana,

apoiam-se

em bases situadasem território

português,

ao contrário do

que se passara com o trabalho dos anteriores

pioneiros

. no sertão

principalmente.

Destes

centros, tentam a

expansão,

dai saindo em «excursões

apostólicas

»

pelos

distritos

limítrofes onde

erguerão

igrejas

sucursais.

;i

Idem, pp. 272-284. Houve variadas tentativas manuscritas de

gramáticas

que se não chegaram a

imprimir.

Em 1623. um

padre,

por ordem

superior,

«trata dereduzir alinguaa forma de

gramática,

coisa mui

dificultosaassim porestagentenão ter letrasnem escrituraalguma,como porsermui vária, e acadacanto achar-se diversidades de línguas». As autoridades eclesiásticas locais procuram que o trabalho feito pelos

paderes

mais antigossenãoperca, equeos «vocábulosecartilhadedoutrina»escritas«na

lingua

natural dos cafres»

sejam impressas.

:j

Idem,p. 257 "

(17)

Contudo, desde o último

quartel

do século XVII. o contacto e fusão de culturas toi

comprometido

por dificuldades

especiais

vindas do Norte

(pressão

dos árabes ) e do centro do continente. Na fase final da

acção

dos

jesuítas,

há um desânimocrescente que

pode

ser

atribuído a várias causas,

seja

ao elemento

leigo

da

região

e aos

governantes,

como aos

próprios

missionáriose seus métodos de

acção.

1.2.2 As

linguas

africanas c o

português

Após

estabreve resenha histórica, sobreos

primórdios

do contactodas duas culturas. Uca a ideia tle que o

português

se constitui como

língua

de ensino, e a

utilização

das

línguas

nacionais apenas serve de elemento de

comunicação.

No interior, a cultura é

produzida

essencialmente em

línguas

africanas, havendo uma retirada

progressiva

do

português

para

o litoral epara asescolas dos

principais

centros.

No tempo da

colonização,

a

situação

não irá modificar-se

grandemente,

pelo

contrário,

havendo a

imposição

do

português.

A esse

respeito.

Fátima

Mendonça

afirma que « não é de subestimar a

estratégia

do

colonialismo

português,

através de uma

política

deliberada dc

assimilação,

ler travado o

processo natural de desenvolvimento das

línguas

africanas de

Moçambique

que - veículo

de umadiversificada cultura de oralidade - se

poderiam

ter transformado, num processo de

desenvolvimento

comparado

ao das

nações

europeias,

no suporte inevitável de diversas

literaturas escritas. Tal não aconteceu e a

língua

portuguesa tornou-se o elemento

privilegiado

dc acesso à escrita, ao saber, à cultura

europeia,

de uma camada social

produzida

pelo

Fstado colonial (...). Ie. dessa camada socialmente híbrida que emerge uma

produção

literária que se demarca, em muitos

eispectos.

do

conjunto

de outra

produção

que

comela

coexiste»""

Nesta

longa

citação,

estão contidas as

principais

linhas da

problemática

que nos ocupa: a

situação

de

privilégio

da

língua

portuguesa

face às

línguas

africanas.

De facto, a

potência

colonial portuguesavotou essas

línguas

ao ostracismo, o que faz com

que ainda actualmente,

quanto

à

situaçào

dc uso no domínio

público,

elas tenham uma

aplicação

limitada, se excluirmos os falantes que eis possuem como

língua

materna ou

língua

segunda,

continuando assima serem essencialmentede

tradição

oral.

''

(18)

A

política

assimilacionista

seguida pelas

autoridade

portuguesas

apenas se modifica nos

finais da

época

de

colonização,

havendo de facto um

esforço

dc

investigação linguistica.

no entanto,com o

objectivo

de facilitar oensino do

português.

Porém, essestrabalhos estão

longe

de serem rigorosos ou dc

representarem

qualquer

esforço

de

padronização

das referidas

línguas.

Irem suma. diríamos que houve «uma recusa de

África,

recusa que passa

pelo

apagamento

da

tradição

oral. poruma

negação

doscontributos culturais africanos»" .

Se os

portugueses

chegam

a

Moçambique

no século XVI

(Porto

de Sotala.

150:.).

esse

tacto nào

significa,

no entanto, que desde

logo

se tenha dado a difusão da

língua

e da

escrita.

Apenas

a

partir

da

segunda

metade do século XIX. sc

pode

falar de uma influência

europeia relevante.

No entanto,

podemos

pensar, como afirma Salvato

Trigo"''

que a

língua

. ainda que pouco

expandida

nesse tempo, se acaba por amoldar «à

situação

de

língua

veicular

mestiçada

e

permitindo

mesmo, no séc. XIX a

criação poética

e literária

bilingue»,

no caso

angolano.Vejamos

o caso de

Moçambique,

ou

seja.

o caso

daquela

«literatura aculturada».

aque

nos referimos.

1.3

F.mergência

e breve panorama do fenómeno literário

moçambicano

(existem vários factores que contribuem «para que o idêntico se instale no seio de uma

comunidade» fazendo com que os povos concebam uma

imagem

de si

próprios."

Jacinto

do Prado Coelho

aponta

dois

tipos

de factores actuantes nessa

individualização:

os físicos

(solo. clima,

situação

geográfica,

substrato

étnico)

e os históricos

(estáticos

e de

renovação),

sendo estes os de

principal

interesse para o estudoda literatura."' E também a

;';

«On y constate un refusd'Alrique, refusqui passepar le gommage de la tradilion orale,par une

négation

|

des apports culturels africams.» in: Bidault. M.-F., «La recherche de 1'identilé individuelle et de 1'identité

nacional dans les manuels scolaires.

[.'exemple

de

Mozambique»in:

Les Littiratures Afrieaines dc Langue

(

portugai.se: Alarecherchede lldentitè individuelleetnanonale(Actesdu Colloque International Nov -Dec.

1984)Fondation Calouste Gulbenkian. Paris. 1989. p. 35 1

*

A este

propósilo

Cf. Junod. i\.-.\..Canins e Contos dos Hongas.Instituio

Investigação

Cientifica de

Moçambique. 1975. p. 9

■"'

Trigo.

Salvato. Ensaiasde Literatural

'amparada

-Ifro-Luso-Brasileira.

Ed Vega. Lisboa.sd. p. 14' "

Venâncio. J. C.« Aquestãoda identidade cultural angoiana: umaaproximação

antropológica*

in: op.cit..

pp.'' 95-102

(19)

estesúltimos que José

Carlos

Venâncioatribui maior

importância .já

que incluem o factor

cultural e é «no âmbito da cultura que se faz a leitura do

passado

e se apuram as

grandes

linhas orientadoras do

presente

e do futuro» " ■

Existe uma

relação

necessária entre a cultura c a identidade de um povo. A este

respeito.

JoséCama considera, noentanto, que «a cultura humana não existeem abstracto, é sempre

observada e analisada em actos culturais concretos», ao mesmo

tempo

que. de

algum

modo, é exteriorizada a

capacidade

de

simbolização

específica

do ser humano. Para este

autor, « o homem dá-se a conhecer e conhece-sc a si mesmo na medida da sua

própria

expressão

cultural,

pois

o

conhecimento

que

adquire

de si mesmo só se efectiva através de uma

expressão

cultural,

seja

qual

for o modo dc

expressefo

utilizada, oral. escrita,

plástica.

ritual...»''

Assim, abandonando a via tradicional da

elaboração

de uma filosofia nacional, esta

emergiria

da

investigação

do

conjunto

de

produção

cultural

própria

de uma

nação,

contendo as características que

integram

a

personalidade

dessa

nação

e determinam a sua identidade.

Segundo

esta visão «a identidade nacional ou

regional

defme-se

prioritariamente pela

cultura,

pois

é a cultura que veicula ideias e transmite modos de

comportamento

com os seus valorese ideais e ao mesmo

tempo

é a cultura que assimila e

conserva novas ideias c novos comportamentos-). Resta assim a ideia de haver uma

correspondência

quase absoluta entre a identidade cultural, reflectindo os

principais

elementos de uma

personalidade

colecti.a. e uma filosofia da cultura nacional, ou

seja,

a identidade nacional.

A literatura, enquanto

produto

cultural de um povo.

apresenta-se

como

objecto preferencial

na

investigação

das características que contribuem para a

definição

da identidade cultural.

Embora não possamosesquecer, como lembra Prado

Coelho,

que a

individualidade

cultural

de uma

nação

é

algo

dinâmico, mutável e.resultante dela. a individualidade nacional é um

constante fei/er-see não uma coisa inalterável.

'■

Venâncio, op. cit .p. 96

!'

Gama. Jose. «Culturaeidentidade nacional»in: Brotcna. n° 5 6, vol.138. Maio Junho. 1994. pp. 539-545 14

(20)

A este nivel. colocam-se sempre

questões complexas

a que é difícil

responder,

como a dc

saber até que

ponto

a literatura reflecte a realidade nacional ou será apenas seu

produto.

Põe-se ainda a

questão

da

originalidade

e dos critérios a

seguir

para a definir, e se existem

possibilidades

de uma

metodologia

nâo-impressionista,

fica o

problema

dos

objectos

a

seleccionar.

De

qualquer

modo. nocampodaliteratura desde semprese tem colocadoa

problemática

da

identidade

individual

e colectiva, o chamado «nacionalismo

literário»,

fenómeno a que

chamaríamos tambémde

«volição

de

construção

de uma

ficção

da

pátria».

Esta

expressão

é utilizada por Cclina da Silva que considera haver neste facto «umacrença no

poder

da

palavra

e uma

actuação

efectivaatravés dela»

Decorrente do que temos vindo a afirmar, falar em identidade cultural de

Moçambique

é.

em

grande

medida, falar da identidade nacional de

Moçambique.

Nessa

perspectiva

hei a

salientar o

esforço

desenvolvido

pelo poder

político

constituído, no sentido de

alcançar

uma maior

unificação

ou

harmonização

cultural do

país.

'

No caso da literatura,

pode desempenhar

um

papel importante

na

construção

da

nacionalidade No caso

específico

das literaturas africanas dc

língua

portuguesa,

é também

verdade que

anteciparam

as

nações,

tornando-se «verdadeiramente

proféticas

e

messiânicas»'7

Assim, em

primeiro lugar,

coloca-se

geralmente

o

problema

da

independência

literária que

precede

a

independência

política:

tal fenómeno passa-se em

Moçambique,

segundo

Pires

Laranjeira.

A este

propósito.

Ana Mafalda Leite, referindo-se ao contexto de rasura cultural na

sociedade colonial, em que um dos lactores seria a inacessibilidade editorial indica, no

entanto, que existe uma «contínua demandei de alteridade (...) no tecido cultural

dominante». Essa seria uma das fases de busca de identidade, em que José Craveirinha é

um dos

exemplos

de quem reclama «ser

moçambicano,

e além disso ser escritor

moçambicano»

*3Q

tornando-se a sua escrita ,,um aclo <je

legitimação

e de

conquista

do

15

Silva. Celina. «O literárioenquanto catalizadordaconstruçãodapátria» in: Revista dal-tisu/nrua. n"35-40.

Pontcvedra-Braga. p 41

'"

Venâncio. JoseC,op. cit..p. 96

11

Laranjeira. Pires. De letraemriste.Eô. Afrontamento. Porto. 1902. p. 24

Idem. p. 39

''*

(21)

poder

simbólico,

estélico-linguístico.

na medida em queentraemdesacordocom os valores literáriosdominantes e

consagrados

dasociedade colonial emquese insere».

Mário de Andrade considera que no panorama da moderna

poesia

africana de

língua

portuguesa se

podem

considerar várias fases nomeadamente a fase

negritudiana.

e uma

outra fase em que «a

criação

literária vai ritmando o

desenvolvimento

da consciência

nacional,

quando

se

esboça

a estrutura dos movimentos

políticos.

'"' Na

poesia

de Noémia

de Sousa é

perceptível

também «o processo de

identificação,

ou de

filtragem

por

similaridade. dos temas literários relacionados com a

Negritude

e com o Renascimento

Negro

americano » ■

Temos então que acomponente

profética

da escrita,

empenhada

na

construção

da realidade

nacional se

aplica

aos

poetas

moçambicanos.

Ao conceito dc africanidade. afim do de

moçambicanidade.

foi Janheinz Jahn. quem

primeiro

se referiu dc forma

implícita.

Procurava então individualizar

conjuntos

de características, os

topoi,

que

permitissem

identificar

aquilo

que era africano. As literaturas

alirmaram-se, por um ladocomo nacionais

(o

caso do Mshaoem

Moçambique)

c poroutro

lado. na busca de uma mais fácil

afirmação

da identidade africana que interessava

realçar

perante

a

negação

levadaaefeito

pelo

colonizador. "

A

moçambicanidade.

conceito afim de

angolanidade

c cabo-verdianidade.

exprime

uma

realidade que tem muito a ver com a

especificidade

do colonialismo

português. Segundo

José Carlos Venâncio,

qualquer

destesconceitosnão deve serconfundido com a identidade

nacional desses

paises,

embora se revele um conceito

abrangente

a todas as

manifestações

culturais da realidade

moçamhicana.

Quanto

a este autor, em

Moçambique,

a

exemplo

do caso de

Angola,

não existe uma

sociedade crioula que tenha servido de «fced-back» as

primeiras

manifestações

de

moçambicanidade.

às

primeiras interpretações

que visavam acentuar a

diferença

entre a

*"Máriode

Andrade ap. Ana MLeite, op. cit..p. 35.

Idem. p 37 J"

Venâncio. J. C, op cit. p. 22

'

(22)

angolanidade

praticamente

Moçambique,

disso prova literatura

moçambicana,

nomeadamente aobra de Mia Couto.

A esse

propósito

o escritor

rejeita

o conceito, «que dá como

consequência

que a literatura

africana

fique

sempre

separada

na

prateleira

do lado. bicho raro para

curiosos»,

parece-lhe

sobretudo

importante

avaliar da

qualidade

literária das obras, caminhando para uma

universalidade.

É

assim que se afirma um pouco

«estrangeiro»

cm muitos dos

aspectos

culturais

moçambicanos:

«se estivesse por dentro de todos os

códigos,

de todos os mitos.

se calhar não

conseguiria

tratá-los literariamente.»

"

Segundo

ele o conceito de

moçambicanidade

forjou-se

na

«mestiçagem»

" de que a

utilização

da

língua

do

colonizador nãoé factorde somenos

importância.

Qualquer

um dos conceitos de que temos vindo a falar,

surgiram

porque havia ;i necessidade deacentuara

especificidade,

da realidade e culturados

países

africanos, tendo

por isso umcarácter

operativo

que têm

perdido

com o passardo

tempo.

Há quem considere

mesmo que se em

relação

ao

passado,

cumpriram

o seu

papel

actualmente servem apenas

para a

formação

da

nação

e

consolidação

da sociedade civil. Nessa

perspectiva

Pires

Laranjeira

vai mais

longe

achando que. no campo literário onde se verifica a maior

operacionalidade

desses conceitos,

não é necessário afirmar

qualquer moçambicanidade

(no caso que nos

interessa)

pois

«os escritores africanos estão em vias de assumir a

nacionalidade literária por

inteiro»'1'

• sendo disso

exemplo

o caso de Mia Couto e as suas

obras em que «o fascínio nacional tende a substituir-se ao brasileiro,

português

ou

pan-africano.

Ninguém

tem dúvidas dasua

independência

literária" . havendo

ultrapassado

a

fase dasimilitude e assumidode formasegura aalteridade.

"

A este

propósito

Manuel Ferreira sublinhava que esta expressão nunca existiu como existiu a

angolanidade.Cf. Literaturas AfricanasdeExpressar.-

Portuguesa

II. Biblioteca Breve. Í.C.P.. Lisboa. 1986, p. 78

'•Entrevista

aoDi. 10-5-11990

4,1

EntrevistaaoPúblico. «Leituras». 17 de Julho de 1990

4?Idem.

p 21

"

Laranjeira.

Pires. op. cit.. p.48

'''

(23)

Desse

ponto

de vista parece-nos útil analisar, ainda que de uma forma sumária o percurso

da literatura

moçambicana

e o seu

papel

nessa

construção

da identidadecultural.

Rctêrimo-nosà literatura

escrita,

sendo óbvio que a

afirmação

de ai

feridade

c

individualização

de tal

literaturaterá que passar

pela

assunção

de ideiase valores que são veiculados

pela

tradição

oral.

A

questão

que fica

subjacente

é a de saber de que modo os escritores resolveram essa dualidade cultural, mas a esse

respeito

referir-nos-emos noutra parte do nosso trabalho. nomeadamente,ao analisaroscontosde Mia Couto.

Breve Panorama ela Fenómeno Literária

Muçeunbicano

Não tentaremos ser exaustivos, mas tão só relembrar que a

emergência

da literatura escrita em

português

traz

em si o germe da resistência para de uma forma evolutiva reivindicar o selo da autenticidade

regional.

A literatura teve um

papel preponderante,

na

reclamação

dc um estatuto cultural e

político

diferente, como

referimos noutra

parte

do nosso

trabalho. Globalmente diríamos que a literatura

regista,

através das obras, o assumir de

uma

diferença,

que se transforma emresistência, até à revolta que culminacom as lutas de

libertação.

É

evidente que nesse processo evolutivo, a literatura

adquire

funções

diferenciadas, assim como o leitorvisadose

adequará

ao

periodo

histórico.

Período

pré

-independência

- O

papel

da literatura na identidade cultural e

política,

e

consequentemente

da identidade nacional, é uma

questão

que não se

pode

desligar

das

«origens

da literatura

moçambicana».

lim

Moçambique

não havia

«nações»

embora existissem grupos étnicos, raciais ou outros,

com uma

língua

c cultura reconhecíveis, anles do estabelecimento das colónias que se

transformaram nos actuais

cstados-nação.

Verifica-se assim que existem

aspectos

históricos fundamentais para a

génese

da literatura

moçambicana,

nomeadamente

aquelas

apontadas

por Chabal.

específicos

à ex-colónia

portuguesa:

I )

integração

colonial fraca; 2)

o

impacto

social e cultural do I.stado-Novo:

3)

a dinâmica do nacionalismo; 4) a

proximidade

com ;i

África

de

língua inglesa

(Africa

do Sul) .

(24)

No contexto colonial, verificamos que as

manifestações

literárias reflectem o debate que

está na

origem

e

evolução

dos movimentos

independentistas

modernos. Assim, são de

realçar

osanos 50e

60.

constituindo « a fase emque a literatura

moçambicana

viveu a sua

maior

animação»

e em que «se

alarga

o universo ledor»

constituindo

também uma tase de

... • ~ 51

«reatncanizaçao».

Em 1950. o

poeta

José Craveirinha fala «nas

fronteiras

de

água

do Rovuma ao Incomali»

tomando o espaço territorial como metáfora da

nação

a

surgir,

embrião,

segundo

Diogo

Aurélio, do

primeiro

esboço

concreto dc unidade nacional,

quando

se iniciam as guerrasde

libertação.

Na verdade, desde essesmomentos que a literatura

cumpriu

um

papel

bastante

importante.

Ii. esta realidade

prende-se

directamente com a

segunda

estratégia

nacionalista que

apontámos

acima : a maior

parte

dos intelectuais esteve

ligada

aos movimentos da

Independência,

assumindo mais tarde um

papel político importante.

Nas

palavras

de G. Hamilton, até à década de 60. em

Moçambique,

não existia um mesmo

grau de solidariedade

ideológica

entre «os segmentos da

inteligentsia

multi-racial» que

predominava

na altura, o que não

impediu

que as

forças

do nacionalismo

conseguissem

despertar

nos inícios dessa década. Refere-se ao Núcleo de I studos Secundários sob a

responsabilidade

do Dr. Eduardo Mondlanc que

desempenhou

um

importante

papel

de

reivindicação

cultural. "

Quanto

a Hamilton, faltava «um movimento mais ou menos coordenado na colónia

oriental» o que tem como

consequência

que « a cena na Ueira e

Lourenço

Marques

apresentava

umas

feições

peculiares

com

respeito

à

questão

duma literatura em e de

Moçambique

(...).

Devido a factores vários, as

condições

existentes «acabaram por

restringir

odesenvolvimento livre de modos de

expressão

cultural autóctones ».""

É

assim

quea cena literária

moçambicana

dos anos 50e 60 é caracterizadocomo «um meiocultural

amorfo», onde

pontuavam

alguns

escritores

curo-moçambicanos

» que

ajudaram

a

estabelecera base deuma literatura aculturada" ■

M

llonvvana. LuisBernardo.«Papel, lugare função do Escritor» in. Tempo. 22-11-1981

%1

Hamilton, G.. LiteraturaAfricana, literaturaXecessária.ildições 70. Lisboa. I'>84. p. 12 "'

(25)

Nestecontexto. Noémia de Sousa

apresenta-se

como uma voz

poética

em que «atemática e

a

estilística

convencionais da

reivindicação

cultural caracterizam quase a totalidade dos

(seus )

poemas. Rui

Nogar.

poeta

declamador.

apresenta-se

como

aquele

que

reintegrava

a oralidade

africana,

na

expressão

cultural

reivindicatória

e

protestatória.

bem como José

Craveirinha

que no dizer dc Hamilton

«sobrecarrega

os seus poemas de

«moçambicanismos».

No que à

narrativa

diz

respeito,

o

prof.

Manuel Ferreira considera Joào Dias como ei que

escreveu a

primeira

página

da história da

ficção moçambicana,

com

Godiílo

e outros

comos. Mas.

quanto

a ele. apenas em 1964 « se retoma a estrada real da narrativa

moçambicana

dentro da

proposta

de João Dias ».' ' Trata-se de AV..v matámos o cão

Tinhoso, de Luís Bernardo Honwana que « faz do universo

moçambicano

o centro de

análise dassuas narrativas».'

Na

época

em que o livro foi

divulgado,

cm 1964. era uma obra

subversiva

que.

após

a

independência,

ganhou

o « status» de uma obra nacional e. por

conseguinte,

uma obra

padrão

daliteratura

moçambicana.

Parece não haver .

logo

nesses

tempos

iniciais, nenhum outro livro que se lhecompare, ou que se constitua como sucessor. Para isso. parei retomar

a tal «estrada real da narrativa

moçambicana

» há que esperar

pelos

primeiros

anos da

décadade 80.

Período

pess-indcpenclència

- « As elites

políticas

e culturais africanas confrontadas com a inautenticidade cultural que herdaram do colonialismo, procuram eliminai a

diferença

cultural existente entre o mundo citadino, o mundo moderno, onde elas

próprias

gravitam.

e o mundo das sociedades tradicionais

periféricas

». Citamos J. C. Venâncio que afirma

ainda que é no eimbito da cultura que se « apuram as

grandes

linhas orientadoras do

presente

e do futuro » e isto é tanto mais verdade para

países

construídos a

partir

de um mosaico de pequenas «

nações

culturais ». Essa

opção

remonta,como

vimos etos tempos

Idem. p. 37.

''

Ferreira. Manuel Ferreira, op.cit..p. 102 11

Idem, ibidem. Manuel Ferreira refere ainda Orlando Mendes como um dos três autores «que deram a

(26)

antes da

independência,

com o nascimento dos movimentos

políticos

e das zonas

libertadas/*

Devido a

factores,

sobretudo de cariz

político,

as autoridades

moçambicanas

optaram

por

situar o

«surgimento»

da

moçambicanidade,

nas zonas

libertadas,

durante o movimento de

libertação.

As

bases

do

nacionalismo

situam-se assim numa

época

imediatamente anterior.

sem recuar ao mundo

pré-colonial.

muito mais

difícil

de

organizar.

Dadas as

circunstâncias,

«o recurso a um

passado

longínquo

e a uma

comunidade

de

tradições

e costumes, instrumento

privilegiado

da

construção

nacional,

torna-se

além

disso, uma arma

um tanto ou

quanto

ambígua

».LIma das

prioridades

do

novo Estado era nâo ver

«questionadas

as fronteiras e a coesão

desejada»'

do que se

depreende

que as

línguas

e.

consequentemente,

as culturas

regionais

se tornem secundárias.

Diogo

Pires Aurélio

aponta,

entre

algumas

das «linhas

estratégicas»

que seevidenciam no

passado

mais recente , dc

Angola

e

Moçambique,

para a

afirmação

ác uma identidade nacional - A

divulgação

da

lingua

portuguesa

e o relevo dado à literatura como campo

privilegiado

da

elaboração

da

ideologia

nacional.

Relativamente ao

primeiro

aspecto,

tem sobretudo a ver com

questões

pragmáticas

e que se

baseiam em decisões tomadas no âmbito do Movimento de

Libertação. Quanto

ao outro

aspecto,

que se relaciona obviamente com o

primeiro,

a ideia

subjacente

é a de que a

literatura

pode

assumiruma

função

de coesão nacional, na

relação

concreta que se instaura

entre oescritor e seus leitores.

'8

«Nas zonas libertadas moçambicanos de várias

regiões

construíram em conjunto um novo tipo de vida, criaram novos

padrões

de valores morais, normas de conduta e relacionamento, atitudes que os definiam pouco a pouco como seres característicos, identificáveis numa nova

qualidade

nascida com a guerra, a

moçambicanidade.

Eeram homens que falavam línguasdiferentes, que tinham hábitos alimentaresdíspares, que tinham variadas manifestaçõesculturais, mas que se irmanavame sentiam realizadoscomocidadãosda mesma

pátria.*...)

Da nova vida

surgiu

uma cullura nacional sentida e aceite como sua por todos os militantes. Nas centenas de canções, esculturas, repassava o mesmo fervor patriótico, exaltavam-se as mesmas

qualidades,

as mesmas virtudes, reigiam-secomo heróicosos feitosda luta comum.» Comunicação de Fernando Ganhãoao IV Congressoda Frelimo. Abrilde 1983. sobreasorigensda unidadenacional.

''

Exactamente pelas mesmas ra/ões que haviam ditado as decisões da Acta de Berlim

prevendo

a constituiçãodos estados modernosemAfrica.

""

Aurélio,DiogoPires.«Aquestão nacionalem

Angola

e

Moçambique».

IEEI, Univ. Novade Lisboa. 1989. p. 85.

"'

Outrasestratégias apontadassãoa«sohredeterminaçãoda cullurapela políticae areavaliaçãoda História)). obviamente relacionadoscom osaspectosapontados.

(27)

Após

a

independência,

os escritores

publicam,

sobretudo

aquilo

que tinham

escrito

ainda

no

período

anterior,

ou versando esse

período.

E a

chamada

fase de

panflctar

ização,

que se

alarga

durante

alguns

anos.

Contudo,

durante um certo

período

pós-idependência

a literatura

moçambicana

«como

hibernou»

porque

devido

a

condicionalismos vários

não se editou. O nascimento da Charrua

(ll>84)

constitui

um momento literário

importante

que veio

quebrar

um pouco ;i

letargia.

Houve

depois

uma intensa actividade editorial no ano de 1986 - 87 em

que

surgiram

e

fornias

inéditas de

abordagem

temática""

e novos autores de quem sc

pode

afirmarquecontribuem paraa

definição

de um nacionalismo literário.

Esses novos escritores

(Luís

Carlos

Patraquim.

Ungulani

Ba Ka khosa. Mia

Couto)

tentam levar o leitor a uma leitura

«ginasticeida»

dos textos, devido à sua

elaboração

literária,

o que na altura

origina

um

debate,

nomeadamente nas

páginas

da

Tempe),

e em

que secolocao

problema

dacomunicabilidade '

, dadooanterior panorama literário.

Essa nova vagade literatura

moçambicana

começaa

ganhar

forma nos finais dadécada dc 70e

princípios

da de 80. Até ai apenas a

poesia

é rainha, com poucas

excepções.

Eugénio

Lisboa lala «da

gente

nova para quem o acto de

criação

é efectivamente

importante,

(...)

quetem umavisão do mundo

que(...)

não lhes foi mandatada por

ninguém»

".

São autores, dos

quais

destacamos Mia Couto, que incluem nas suas obras «enredos

preponderantemente

com cenasdavidaemundi vidênciadas sociedades tradicionais». José C. Venâncio considera-os como «os

pioneiros

da

construção

de uma sociedade crioula» .

realidade inexistenteem

Moçambique

como

tivemos

oportunidade

de afirmar.

Para muitos desses escritores, o tacto de escreverem em

língua

portuguesa nào constitui uma

traição

à

tradição

cultural

africana,

que paraeles «está-se a falaro

moçambicano»

e osqueencaram outraalternativa são poucos, dadaa

situaçào

sócio-cultural que herdaram.

'"

Marcelo Panguana,in: Tempode 16-4-1989 M Cf.

Tempo. (,-12-1987: 13- 12-19X7 e 24-10-1982.

respectivamente

sobre «!■rai;mentos de um diário» de Khosaesobreoconto « Isaura»

M

in: Tempo. 13-8-1989

""

Venâncio.. J

Cop.

cit.. . pp. 22-23

"

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