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O contributo da intervenção psicomotora em meio aquático na qualidade de vida de adultos com dificuldade intelectual e desenvolvimental

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Academic year: 2021

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Faculdade de Motricidade Humana

O contributo da Intervenção Psicomotora em Meio Aquático na

Qualidade de Vida de Adultos com Dificuldade Intelectual e

Desenvolvimental

Dissertação elaborada com vista à obtenção do Grau de Mestre em Reabilitação Psicomotora

Orientadora: Professora Doutora Ana Sofia Pedrosa Gomes dos Santos

Júri:

Presidente

Professora Doutora Ana Sofia Pedrosa Gomes dos Santos

Vogais

Professora Doutora Ana Maria Peixoto Naia Professor Doutor Pedro Vieira Trouillet Pessoa

Nádia Jardim 2015

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Agradecimentos

O meu mais sincero e profundo agradecimento…

… à Professora Doutora Sofia Santos, por todos os desafios lançados, pelo apoio, orientação, disponibilidade, troca de ideias, incentivo e paciência demonstradas ao longo destes dois anos de mestrado, mas sobretudo ao longo da realização de todo este trabalho.

… à Doutora Ana Rita Matias, pela sua disponibilidade na concretização da Ficha de Avaliação de Comportamento em Meio Aquático, especialmente criada para a população deste estudo e por todo o apoio disponibilizado para a concretização do mesmo.

… à Doutora Ana Sousa, Diretora Técnica do Serviço Técnico de Atividades Ocupacionais da Região Autónoma da Madeira, pela sua disponibilidade e por todo o apoio disponibilizado para a concretização deste estudo.

… aos Centros de Atividades Ocupacionais da Região Autónoma da Madeira, em especial aos Centros do Funchal, de Machico e de Santa Cruz e a todos os seus coordenadores, técnicos, terapeutas e professores de Educação Física por todo o apoio, disponibilidade e colaboração ao longo deste estudo.

… aos utentes a quem foram aplicados os instrumentos e aos seus pais/tutores, pela confiança depositada neste estudo.

… aos meus pais (Crisóstomo e Teresa) e aos meus irmãos (Ricardo e Humberto) por serem os meus pilares, por me incentivarem e pela paciência demonstrada ao longo de todo o meu percurso académico.

… a todos os amigos e colegas que de alguma forma motivaram e apoiaram ao longo do meu percurso académico, nomeadamente nesta fase final.

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Índice

Agradecimentos ... i

Enquadramento ... 1

Artigo 1: A Qualidade de Vida na Dificuldade Intelectual e Desenvolvimental ... 5

Resumo ... 5

Abstract ... 6

Introdução ... 7

Psicomotricidade e Intervenção Psicomotora ... 17

Intervenção Psicomotora em Meio Aquático ... 20

Conclusões ... 24

Referências ... 26

Artigo 2: A Intervenção Psicomotora em Meio Aquático na Qualidade de Vida de Pessoas com DID ... 33

Resumo ... 33 Abstract ... 34 Introdução ... 35 Metodologia ... 39 Amostra ... 39 Instrumentos ... 40 Procedimentos ... 45

Programa de Intervenção Psicomotora em Meio Aquático ... 46

Apresentação Resultados ... 53

Discussão dos Resultados ... 58

Conclusão Geral ... 63

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Índice de Tabelas

Tabela 1: Sessão-tipo de Programa de Intervenção Psicomotora em Meio Aquático. . 49 Tabela 2: Sessão-tipo de Programa de Intervenção Psicomotora em Meio Aquático. . 50 Tabela 3: Sessão-tipo de Programa de Intervenção Psicomotora em Meio Aquático.. 51 Tabela 4: Sessão de Atividades de Meio Aquático (grupo 3). ... 52 Tabela 5: Valores da Estatística Descritiva obtidos pelos diferentes CAO nos três momentos de Avaliação pela EPR e pela Escala de Meio Aquático: Baseline (AvB), Final (AvF) e Retenção (AvR). ... 54 Tabela 6: Valores do teste post-hoc Scheffé para a comparação da QV e das competências em meio aquático dos 3 CAO nos diferentes momentos. ... 56 Tabela 7: Valores ANOVA Medidas Repetidas para a comparação da QV e das competências em meio aquático intra-CAO nos diferentes momentos de avaliação. .. 56

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Enquadramento

O presente trabalho insere-se no âmbito da dissertação do Mestrado em Reabilitação Psicomotora da Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa e tem como objetivo principal verificar qual o contributo da Intervenção Psicomotora em Meio Aquático na Qualidade de Vida dos indivíduos com Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais.

A escolha do tema surge devido à vontade de poder juntar, de alguma forma, os conhecimentos adquiridos na formação inicial (Educação Física e Desporto) com os conhecimentos adquiridos ao longo do primeiro ano de Mestrado em Reabilitação Psicomotora intervindo junto das populações com Necessidades Educativas Especiais num meio que se espera que trará benefícios, a curto e a longo prazo, para esses mesmos indivíduos.

O termo de “deficiência mental” é um conceito que atualmente carece de rigor científico, não sendo bem aceite devido aos diferentes “rótulos estigmatizantes” a ele associados, razão pela qual o conceito evoluiu com o propósito de haver uma conceção mais ajustada, sendo advogada uma nova terminologia: Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais (DID) como a mais adequada no que respeita às implicações nas áreas da saúde, educação e nas áreas sociais (Morato & Santos, 2007; Santos & Morato, 2012). A nova conceção de DID à luz de três critérios concomitantes (limitações ao nível do funcionamento intelectual e conduta adaptativa até aos 18 anos – APA, 2013; Schalock et al., 2007a; Schalock, et al., 2010) conduziu à adoção de uma nova terminologia, menos estigmatizante e mais funcional (Morato & Santos, 2007; Santos & Morato, 2012), implicando uma maior dignificação da sua qualidade de vida (Simões & Santos, 2014).

O sujeito é, agora, perspetivado considerando o seu contexto e os valores socioculturais típicos expectáveis para o escalão etário, com toda a diversidade ao nível de aspetos práticos diários (linguagem e comunicação, motricidade, comportamento adaptativo), com a ideia que as limitações coexistem com áreas fortes e que a descrição de ambas objetiva o desenvolvimento de um perfil dos apoios que se adequados e personalizados terão um impacto significativo e positivo na vida das pessoas com DID (Luckasson & Schalock, 2013).

Para poder diagnosticar a DID é necessário a complementaridade da avaliação cognitiva e adaptativa, com a aprendizagem e o desempenho de habilidades, necessárias para enfrentar com sucesso as expectativas da sociedade, de acordo com

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o seu escalão etário (Santos & Morato, 2012). No entanto, a informação dos testes de QI e da avaliação adaptativa não são suficientes para a compreensão ecológica dos sujeitos com DID, carecendo-se de recolha de mais informação ao nível da saúde, da participação e dos contextos (Buntinx & Schalock, 2010).

A responsabilidade profissional no campo das DID exige a compreensão e a aplicação das melhores práticas baseadas em modelos e enquadramentos concetuais relativos ao funcionamento humano vs. dificuldades, à qualidade de vida e à provisão de apoios individualizados e adequados a cada caso (Buntinx & Schalock, 2010; Schalock, Verdugo, Bonham, Fantova & van Loon, 2008). Estes modelos detêm implicações práticas e imediatas nas intervenções diárias ao nível das organizações, fundamentando-se num modelo ecológico da DID e na relevância de se focar na avaliação da qualidade de vida pelo próprio indivíduo com (e sem) DID na sua perceção subjetiva da satisfação e hierarquização pessoal dos domínios e dos objetivos que pretende no seu dia-a-dia (Buntinx & Schalock, 2010; Schalock et al., 2008).

Ainda de acordo com os mesmos autores, o conceito emergente de qualidade de vida reflete a dinâmica das condições de vida objetivas e subjetivas (pessoais) de cada sujeito, assumindo-se como elo de ligação entre os valores generalizados ao nível dos direitos sociais e da perspetiva pessoal de cada indivíduo. O modelo de QV capta as dimensões essenciais da vida individual e operacionaliza-as para a aquisição e consolidação da avaliação dos resultados pessoais.

Neste contexto, advoga-se a implementação de um sistema de apoios adequado às necessidades dos indivíduos com DID (intermitentes, limitados, extensivos e permanentes – Thompson, et al., 2009) em detrimento dos modelos centrados na “severidade dos défices”, redirecionando a prática para um novo sistema de provisão de apoios (Buntinx & Schalock, 2010; Luckasson & Schalock, 2013; Schalock, Bonham et al., 2008; Schalock et al., 2008), que assume agora, um dos papéis principais, com impacto significativo nas práticas com as populações com DID, como base dos programas educativos e de intervenção, e do planeamento das organizações, alocação de recursos e avaliação da sua eficácia (Buntinx & Schalock, 2010) numa perspetiva centrada na qualidade de interação entre pessoa e contexto ecológico (Santos, 2014).

Apesar de heterogeneidade das condutas e da sua expressão na relação com o envolvimento (Fegan, 2011), a literatura aponta um conjunto de comportamentos adaptativos e desajustados comuns ao próprio diagnóstico de DID, destacando-se as

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áreas: psicomotora (e.g.: tonicidade, equilíbrio, praxias, noção corporal), cognitiva e de comunicação (e.g.: défice de atenção e concentração, dificuldades ao nível da linguagem expressiva e recetiva), prática (e.g.: autonomia nas atividades de vida diária) e social (e.g.: comportamentos desajustados). Neste sentido, infere-se que a intervenção psicomotora possa erguer-se como um dos possíveis apoios, presentes nas organizações e instituições com responsabilidades junto das pessoas com DID (Valente, Santos & Morato, 2012), em variados âmbitos como a prevenção, educação e reeducação (Fonseca & Martins, 2001).

Boscaini (2004) afirma que a psicomotricidade tem como base a área da medicina e da psicologia no qual verifica-se que os sintomas psicomotores relacionam o físico e o psíquico, no sentido em que o corpo expressa não apenas uma lesão neurológica mas sim a dificuldade em ser. Para o autor o corpo psicomotor a observar é o objeto de conhecimento, de desejo, de comunicação e de ação.

Apesar de no meio terrestre ser possível apurar o desenvolvimento dos comportamentos motores que ocorrem desde o movimento reflexo ao movimento mais organizado, também no meio aquático é possível verificar as capacidades posturais e cinéticas e as suas formas de manifestação (Moreno & De Paula, 2006). As propriedades físicas da água permitem que a intervenção em meio aquático seja uma prática comum, apesar de ser uma das mais antigas e não é muito conhecida atualmente, apesar de existir técnicas originais ou inovadoras (Potel, 2009).

Durante a realização do processo de Intervenção em Meio Aquático, é importante que o terapeuta tenha noção dos itens a avaliar assim como os objetivos pretendidos, Carregaro & Toledo (2008) destacam a importância dos exercícios em meio aquático, dados os seus efeitos fisiológicos, proporcionando maiores movimentos articulares, melhoria na circulação sanguínea e aptidão motora (Tovin, Wolf, Greenfield, Crouse, & Woodfin, 1994).

Neste sentido, o presente documento, e com o propósito de perceber qual o contributo da intervenção psicomotora em meio aquático nas competências aquáticas e na qualidade de vida de adultos com DID, foi organizado da seguinte forma:

 num primeiro artigo, de cariz mais teórico, procurou-se enquadrar através de uma revisão da literatura, o possível impacto que a intervenção psicomotora pode deter na qualidade de vida de pessoas com DID, abordando-se os principais conceitos inerentes à temática: qualidade de vida e modelo concetual no âmbito da população com DID, intervenção psicomotora e suas vertentes de atuação

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destacando-se, o meio aquático, para uma melhor fundamentação do trabalho que se pretende desenvolver;

 em seguida, e já no segundo artigo (de índole prática), procurar-se-á proceder à avaliação dos efeitos de um programa psicomotor em meio aquático para indivíduos com DID na melhoria da sua Qualidade de Vida, através de um estudo comparativo entre 3 grupos de adultos com DID (2 grupos experimentais para os quais a intervenção psicomotora estava planeada como um dos apoios a providenciar e um grupo sem intervenção como grupo de controlo), onde se procurará analisar a existência (ou não) de diferenças significativas ao nível do índice de qualidade de vida e das competências em meio aquático e dos respetivos domínios em três momentos diferentes (avaliação antes da intervenção, no final da intervenção e um mês após a intervenção para efeitos de medida da retenção).

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Artigo 1: A Qualidade de Vida na Dificuldade Intelectual e

Desenvolvimental

Resumo

A Dificuldade Intelectual e Desenvolvimental na sua mais recente definição relaciona os serviços e os apoios adequados que permitem aos indivíduos ser mais autónomos e independentes. O constructo da Qualidade de Vida com base nos paradigmas atuais, associa as necessidades pessoais e profissionais tendo em conta os objetivos e o contexto em que estes indivíduos com dificuldades intelectuais e desenvolvimentais estão inseridos. A Intervenção Psicomotora é fundamental pois permite um desenvolvimento total e harmonioso a nível motor, emocional, social e cognitivo. O Meio Aquático é um contexto onde, também, é possível organizar atividades lúdicas e pedagógicas, com resultados provenientes de investigações apontando para benefícios ao nível da autoestima, motivação, autoconceito, capacidades cognitivas e controlo postural, que por sua vez, irão contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos com DID. Neste âmbito, o presente artigo procura analisar, sob o ponto de vista teórico, o possível contributo que a intervenção psicomotora em meio aquático poderá deter na melhoria quer das competências do meio aquático, quer da qualidade de vida, de adultos com dificuldades intelectuais e desenvolvimentais.

Palavras – Chave: Dificuldade Intelectual e Desenvolvimental, Qualidade de Vida, Intervenção Psicomotora, Meio Aquático.

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Abstract

The most recent definition of Intellectual and Developmental Disabilities aligns the concept and organization for services and supports aiming the independence of each person with intellectual disability. The multidimensional construct of Quality of Life is transforming and changing the organizational, systems and community levels to enhance person’s well-being and reduce their exclusion from the social mainstream. The Psychomotor Intervention allows a total and harmonic development in different levels, such as motor, emotional, social and cognitive. The Aquatic Intervention is a context that makes possible the pedagogic and recreational activities organization with benefits at different levels, such as self-esteem, motivation, self-concept, cognitive abilities and postural control. Consequently, Quality of Life of the individuals with IDD through a psychomotor intervention should improve. Due to the inexistence of research in the area, this first article, based on a literature review, aims to analyze and understand the possible contribution of Psychomotor Intervention, in water, in aquatic competences and quality of life of adults with intellectual disability.

Key-words: Intellectual and Developmental Disability, Quality of Life, Psychomotor Intervention, Aquatic Intervention.

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Introdução

O momento atual de vida é caracterizado por ser uma era de transformação focada na mudança e na criação de valor pela inovação, na reestruturação das organizações e no seu desempenho ao nível das funções-chave, sendo esta tranformação também visível no campo das dificuldades intelectuais e desenvolvimentais (DID – Schalock, Bonham & Verdugo, 2008; Schalock & Verdugo, 2013; Schalock, Verdugo, Bonham, Fantova & van Loon, 2008).

Os autores continuam, enumerando os desafios emergentes que envolvem a diminuição de recursos apesar do aumento da necessidade de apoios, as alterações estruturais das hierarquias das organizações para responder às novas necessidades com que se vão deparando, e o aumento das expectativas societais e políticas face às organizações de apoio às pessoas com deficiência que se responsabilizam por demonstrar resultados significativos, assegurando a utilização eficiente dos recursos existentes, mantendo um nível elevado de boas práticas (e.g.: desenvolvimento de sistemas de informação robustos utilizados para inúmeros propósitos) e aumentando os resultados pessoais (Schalock et al., 2008).

O desenvolvimento político e as alterações dos sistemas baseiam-se nas premissas de que todos os envolvidos têm uma clara compreensão do sistema de serviços a prestar e como os seus componentes contribuem para a eficácia do sistema sob o ponto de vista dos resultados pessoais e dos outputs da organização (Schalock & Verdugo, 2012; Schalock et al., 2008).

Ao longo da última década, é visível o crescimento da investigação no campo das DID (Verdugo, Navas, Gómez, & Schalock, 2012), com o foco na relação existente entre os serviços e os apoios necessários para a participação social, i.e., aprendizagens funcionais com impacto na vida diária (Roque & Santos, 2010). O modelo centrado na relação pessoa-contexto para um desempenho superior e uma liderança participativa erguem-se como elementos-chave, reconhecendo-se a importância dos resultados pessoais e a sua evidência através da investigação (Schalock & Verdugo, 2013).

Qualidade de Vida

Inserido nestes paradigmas mais atuais, surge o constructo de Qualidade de Vida (QV) que tem conhecido, igualmente, um considerável aumento da investigação, com especial destaque nas populações com DID, dado não só o seu papel de

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sensibilização social (Schalock, Gardner & Bradley, 2007), como pela importância que representa como indicador de eficácia nas estratégias de intervenção ao nível da saúde (Schalock, Gardner & Bradley, 2007; Valdés, Soares & Frota, 2010), tornando-se útil quanto ao detornando-senvolvimento pessoal e à atribuição de apoios adequados e individualizados (Brown, Hatton, & Emerson, 2013).

O constructo de qualidade de vida pretende orientar as políticas, os serviços e as práticas, bem como avaliar os resultados pessoais (Thownsend-White, Pham, & Vassos, 2012; Verdugo et al., 2012), os seus preditores (e.g.: QI, comportamento adaptativo, autodeterminação, direitos, entre outros) e os indicadores de desempenho (Schalock, Bonham et al., 2008). É um conceito inclusivo, na medida em que não preconiza condições de vida especiais para as pessoas com deficiência, mas advoga que todos devem ter os mesmos direitos que se refletem em diversas áreas de vida de todos os cidadãos – assegurando-se as propriedades éticas e émicas (relativos à cultura) do constructo (Jenaro et al., 2005; Schalock et al., 2008).

O pressuposto da Qualidade de Vida é estabelecido através de um conjunto de requisitos: subjetividade, multidimensionalidade, mudança constante do contexto, da cultura e da pessoa que engloba vários fatores (Seidl & Zannon, 2004; Claes, Hove, Loon, Vandevelde, & Schalock, 2010). As questões de saúde e bem-estar, o relacionamento com os pares e o meio envolvente são fatores determinantes para que os níveis de perceção da QV tenham resultados mais ou menos favoráveis, independentemente das limitações físicas e intelectuais de cada indivíduo (Pereira, 2009).

De uma forma resumida, a qualidade de vida na população com DID passa pelos objetivos a estabelecer e pela avaliação da intervenção/serviços, visando a capacidade de decisão e autonomia individual, identificando as barreiras e facilitadores como estratégia de promoção da saúde e êxito (Brown et al., 2013), pelo que se encontra associado às necessidades pessoais e profissionais, considerando os seus objetivos, o contexto em que os indivíduos estão inseridos e aos fatores que, direta ou indiretamente, vão influenciar a autoperceção (Verdugo et al., 2012).

A introdução do constructo de QV e a sua avaliação vem desafiar as formas de gestão e organização tradicionais que devem, agora, distanciar-se da padronização, uniformidade e predictabilidade, assumindo um modelo de programas e serviços de apoios e oportunidades individualizados, diferentes e únicos (adaptados a cada sujeito) inseridos em plena vida comunitária numa dinâmica social de participação (Schalock, Gardner & Bradley, 2007).

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Existem inúmeros quadros concetuais e/ou modelos explicativos do constructo de QV, cujo principal objetivo se relaciona com a avaliação dos indicadores. Um destes modelos, com impacto significativo e direcionado para a intervenção com as populações com DID é o Modelo de Schalock (Buntinx & Schalock, 2010). Este modelo, correlacionado com o modelo do funcionamento humano (Luckasson & Schalock, 2013) integra o indivíduo, com DID, como um ser multidimensional e que representa a manifestação que envolve a pessoa com DID quanto ao ajuste dinâmico entre os domínios e os apoios individualizados, face aos desafios impostos pelas exigências do envolvimento (Buntinx & Schalock, 2010).

O modelo em questão (Schalock, Bonham, & Verdugo, 2008) multidimensional e unificado, inclui a perspetiva subjetiva sobre as próprias condições de vida, definindo Qualidade de Vida como "um conjunto de fatores que compõem o bem estar-pessoal". Esta ideia também já tinha sido expressa pela OMS (1997, p. 1) que definiu qualidade de vida como “a perceção do indivíduo relativamente à sua posição na vida, no contexto cultural e no sistema de valores em que vive, e em relação aos seus objetivos, aspirações e interesses”. A definição adotada ao longo deste documento envolverá então estas questões, relevando-se a importância da opinião subjetiva de cada sujeito, com e sem DID, que deve participar ativamente na definição do seu plano de vida, decidindo e escolhendo o que desejar e preferir, conferindo a satisfação com a sua própria vida.

Este quadro concetual compreende 3 fatores de ordem mais elevada (independência, participação social e estar), baseados em 8 domínios: bem-estar emocional, relações interpessoais, bem-bem-estar material, desenvolvimento pessoal, bem-estar físico, autodeterminação, inclusão social e direitos (Claes et al., 2010; van Loon, van Hove, Schalock & Claes, 2009; Jenaro et al., 2005; Schalock, Gardner & Bradley, 2007; Schalock et al., 2008; Verdugo, Schalock, Keith & Stancliffe, 2005; Verdugo et al., 2012), e os seus respetivos indicadores (Jenaro et al., 2005; Schalock et al., 2008).

Os domínios centrais de qualidade de vida incluem os aspetos comuns a todas as pessoas embora possam variar quanto ao valor relativo e à importância que cada indivíduo atribui (Schalock, Gardner, & Bradley, 2007). Deste modo, a medição de resultados promove uma política baseada em evidências que suportam a qualidade dos serviços e da sua planificação (Thownsend-White et al., 2012; Verdugo et al., 2012). Os indicadores (e.g.: estatuto financeiro, competências pessoais e adaptativas, poder de decisão...) são perceções relacionadas com a QV, comportamentos e

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condições que dão informação/indicações sobre o bem-estar da pessoa e é a sua avaliação que origina os resultados pessoais, que por sua vez se agregam para efeitos de análise e relatório, por domínios (Jenaro et al., 2005; Schalock et al., 2008). Os indicadores, selecionados por refletir o que de forma geral, todas as pessoas querem nas suas vidas, são utilizados para avaliar quer a perceção da pessoa do seu próprio bem-estar (autorrelato), quer uma condição objetiva das experiências de vida (resposta por terceiros - Jenaro et al., 2005; Schalock et al., 2008).

Wang, Schalock, Verdugo, & Jenaro (2010) analisaram os 8 fatores estruturais e hierárquicos do modelo de Qualidade de Vida. No estudo participaram cerca de 769 indivíduos com DID leve e moderada (M=460; H=307) com idades entre os 18 e os 60 anos, aos quais foram aplicados o Cross-Cultural Survey of Quality of Life Indicator (Schalock & Verdugo, 2002). Os resultados concluíram que a Qualidade de Vida é um construto multidimensional que deve ser utilizado como forma de sensibilização, construção social, mediação e aplicação.

Lucas-Carrasco & Salvador-Carrula (2012) estudaram as propriedades psicométricas do Satisfaction With Life Scale (SWLS – Diener et. al., 1985) em 99 indivíduos com DID (H=59; M=40), entre os 18 e os 65 anos (M=38,84; sd=12,39) e que viviam em contexto de instituição e em comunidade (casa própria/familiares). Os resultados permitiram concluir que todos os participantes se mostram satisfeitos com a sua vida (em geral) e que os indivíduos institucionalizados apresentam valores mais baixos do que os que vivem na comunidade.

Verdugo, Gómez, Arias, Navas, & Schalock (2014) procuraram validar a escala de San Martín, com o objetivo de avaliar a QV de indivíduos com DID (tendo em conta que não existia nenhum instumento adequado para a população), em Espanha. O instrumento em questão é composto por 95 itens de resposta (em escala de Lickert) em que uma parte do instrumento é respondido por terceiros. Participaram neste estudo cerca de 1770 indivíduos (H=993; M=777), com idades entre os 16 e os 77 anos (M=37,78; sd=12,32) e cujos resultados apontam um baixo nível de funcionalidade trazendo por isso consequências na QV desses mesmos indivíduos.

Gomez, Verdugo, & Arias (2015), documentam a validação de uma escala para avaliar a Qualidade de Vida – a INICO-FEAPS, de indivíduos com DID e o desenvolvimento de apoios por parte de organizações sociais, também aplicando as duas partes da escala: autorrelato e resposta de terceiros. A escala foi aplicada a 1627 participantes (56,1% são mulheres) com idades entre 16 e 72 anos (M=38,16; sd=11,99) e os autores concluiram que a mesma ajuda a orientar as organizações a

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funcionar como pontes para a comunidade, desenvolvendo o planeamento centrado na pessoa e o apoio individualizado, e implementando práticas baseadas em evidências para a melhoria da Qualidade de Vida.

A QV reflete, assim, a dinâmica da personalidade (subjetiva) com as condições objetivas de vida, ajudando a operacionalizar as dimensões individuais visando a potencialização dos resultados pessoais (Buntinx & Schalock, 2010). Os seus indicadores estão relacionados com os comportamentos, perceções e condições que posteriormente definirão cada dominio e que indiciam o bem-estar do sujeito num determinado contexto e em momentos específicos da vida de cada um, influenciados pelo interesses e preferências, vivências e valores sócio-culturais entre outros (Schalock, Keith & Verdugo, 2010).

A avaliação da qualidade de vida possibilita, ainda, uma monitorização de todo e qualquer processo de intervenção, objetivando o sucesso (Lana, et al., 2007), assumindo um papel basilar em diversos campos, nomeadamente ao nível das políticas e práticas sociais (Brown et al., 2013). Este interesse crescente tem também sido considerado a nível nacional, sendo visível nas alterações normativas e legisladoras (e.g.: Decreto-Lei nº 3/2008), na melhoria das infraestruturas e na criação de organizações/instituições que têm como objetivo dar uma resposta mais completa e adequada às necessidades dos indivíduos com DID (Moniz, 2007), percebendo-se, claramente, a necessidade de transformar a visão atual sobre a vida da pessoa com DID incluindo a sua própria perceção à luz dos seus valores e princípios de vida (Schalock, Gardner & Bradley, 2007; Verdugo et al., 2012).

Esta ideia assume ainda um papel fundamental no seio desta população, porque, e tal como referenciado por Santos (2003) e Schwartz & Rabinovitz (2003), existe uma descredibilização da perspetiva destas pessoas, dadas as limitações cognitivas associadas (dificuldades ao nível da linguagem recetiva e expressiva, problemas de compreensão e da memorização - Bonham et al., 2004; Hartley & MacLean, 2006; Schwartz & Rabinovitz, 2003) pelo que tendencialmente os próprios não participam na decisão diária das suas vidas, sendo as mesmas tomadas por terceiros (e.g.: prestadores de cuidados, técnicos...).

No entanto, e tal como relembram Schalock & Verdugo (2013), os consumidores (entenda-se, as pessoas com DID) já não são mais considerados como passivos, devendo contribuir ao longo de todo o seu plano de vida, destacando-se assim, a filosofia da participação, empoderamento, autodeterminação e equidade. Esta centralidade no indivíduo, que deve ser uma prioridade (Lucas-Carrasco &

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Salvador-Carulla, 2012) reflete-se em duas estratégias: a avaliação e utilização dos resultados pessoais, e a implementação de um sistema de apoios.

Existindo um conhecimento prévio sobre aquilo que os indivíduos com DID entendem sobre os conceitos de qualidade de vida e tudo o que está relacionado, permite aos técnicos uma intervenção mais adequada e, por sua vez, uma melhoria no processo de intervenção (Brown et al., 2013). Neste contexto, Schalock (2002c) afirma que a QV não se restringe apenas à mera satisfação das necessidades básicas, mas inclui também a satisfação em relação aos interesses e desejos de cada sujeito. Schalock, Gardner & Bradley (2007) enfatizam, igualmente, a relevância em avaliar os resultados pessoais dado incluir o próprio indivíduo (com DID) dando oportunidades de se tornar um elemento-chave e ativo na construção do seu próprio plano de vida (Lucas-Carrasco & Salvador-Carulla, 2012).

Os resultados pessoais atuam, desta forma, como feedback individual sobre os domínios de uma vida com qualidade e como quadro de referência no planeamento dos apoios. A nível organizativo os resultados pessoais agregados assumem-se como referência para um planeamento estratégico e do ponto de vista do sistema podem ser utilizados como medidas de outputs das mudanças ocorridas (Schalock & Verdugo, 2013). No contexto da investigação estes resultados pessoais podem ser utilizados como variáveis dependentes em estudos multivariados, para identificar as relações entre os resultados pessoais, as características individuais, os apoios específicos e outras variáveis contextuais (Claes et al., 2012; Schalock, Gardner & Bradley, 2007) ou na determinação da eficácia, das práticas, baseada na evidência (Schalock, Gardner & Bradley, 2007), situação essa que será utilizada no presente estudo.

Os resultados pessoais constituem-se, pois, como medidas importantes nos mais variados campos de atuação (saúde, educação, serviços sociais, entre outros) para potenciar o bem-estar (Claes, van Hove, Vandevelde, van Loon & Schalock, 2012; van Loon et al., 2013; Schalock & Verdugo, 2013), e para proceder à avaliação da eficácia dos programas de intervenção (Gómez, Verdugo, Arias & Navas & Schalock, 2013). O bem-estar subjetivo envolve duas componentes: a expressão individual das emoções positivas/negativas e a satisfação geral da pessoa com os diferentes aspetos da sua vida (Lucas-Carrasco & Salvador-Carulla, 2012; OMS, 1997).

A adoção desta dupla avaliação (autorrelato e respostas por terceiros) reside no facto da literatura reportar alguma reticência na validade e fiabilidade dos autorrelatos (Petry, Maes & Vlaskamp, 2007; Verdugo et al., 2012) decorrentes das

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limitações cognitivas associadas à presença da DID, situação essa que tem gerado um debate científico, tendo sido alvo de inúmeros estudos na área (Claes et al., 2012; Hartley & MacLean, 2006; Janssen, Schuengel & Stolk, 2005; Li, Tsoi, Zhang, Chen & Wang, 2013; Schmidt et al., 2010; Schwartz & Rabinovitz, 2003; Simões & Santos, in press; Stancliffe, 1999). Mas com a necessidade de introdução da perceção subjetiva a consideração das respostas pelos próprios tem conhecido um aumento marcado com o desenvolvimento de variados instrumentos de avaliação específicos e validados para alguns subgrupos (e.g.: DID, demência, paralisia cerebral, doença mental, entre outros - Schmidt et al., 2010), levando em conta as especifidades inerentes a cada diagnóstico. Os autores continuam, salientando, de uma forma geral, a tendência para uma sobreestimação da QV pelos sujeitos com DID quando comparados com os seus pares típicos.

Neste âmbito, a literatura apresenta variados estudos sobre a satisfação da pessoa com DID com a sua qualidade de vida e comparação com a opinião dos seus prestadores de cuidados (e.g.: técnicos e pais – Simões & Santos, 2014). Schwartz & Rabinovitz (2003) constataram que adultos com DID, avaliados pela Lifestyle Satisfaction Scale (Heal & Chadsey-Rusch, 1986), reportam menor satisfação, quando comparados com as respostas dos respetivos prestadores de cuidados (pais ou técnicos).

Janssen, Schuengel & Stolk (2005) encontraram associações baixas a moderadas entre 539 pessoas com DID e respetivos prestadores de cuidados, verificando-se uma discrepância nas respostas, explicada pelos autores pela forma (apenas) satisfatória como os prestadores avaliam a QV dos clientes com DID quando comparada com o grau de elevada satisfação pelos próprios. Por outro lado, 15% dos clientes com DID tinham “o nível profundo”, 21% com “DID severa”, 58% com DID moderada e apenas 6% com menores necessidades de apoios o que também pode ter condicionado as diferenças, dado os questionários nos primeiros casos terem sido preenchidos por terceiros. Os diferentes níveis de funcionamento cognitivo e independente podem ser, igualmente, outra das explicações para a discrepância de respostas entre os 2 grupos. Os autores do estudo alertam para a possibilidade dos técnicos terem “pontos-cegos” para alguns dos domínios (e.g.: liberdade e segurança física) que são, no entanto, considerados como importantes pelos clientes com DID. Os autores reforçam a ideia da importância de se considerarem as duas perspetivas.

Por seu lado, e com a aplicação da Personal Wellbeing Index Intellectual Disability Scale, McGillivray, Lau, Cummins, & Davey (2009) observaram que o nível

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de satisfação com a vida, de adultos com DID, se encontra no mesmo padrão normativo dos seus pares, sendo similares aos da população em geral, resultados que foram corroborados por Lucas-Carrasco & Salvador-Carulla (2012). Estes autores avaliaram a satisfação com a vida de 99 adultos espanhóis com DID institucionalizados e obtiveram valores mais baixos quando comparados com as pessoas a viver na comunidade ou em casa própria/famiiar, apesar de não serem estatisticamente significativas. Um dos pontos a considerar foi que os participantes que estavam insatisfeitos com o emprego e com as relações sociais foram os que se mostraram menos satisfeitos.

Resultados idênticos foram obtidos por Emerson & Hatton (2008) que ao investigarem a associação entre cinco indicadores do bem-estar subjetivo com características pessoais, estatuto socioeconómico e relações sociais de 1273 adultos ingleses com DID, encontraram valores ligeiramente inferiores nesta população, sendo esta diferença explicada pela relação significativa com o (baixo) estatuto socioeconómico e com as (fracas) relações sociais.

Schmidt et al., (2010) ao aplicarem vários instrumentos (WHOQOL-Bref, WHOQOL-DIS: novo módulo associado à Bref para avaliar a QV de pessoas com DID ou deficiência motora, a WHODAS 2 e a Bakas Caregiving Outcomes Scale) a 614 adultos com DID institucionalizados e a 874 prestadores de cuidados, encontraram que os resultados obtidos com o módulo específicamente elaborado para pessoas com dificuldades intelectuais e motoras apontaram para a inexistência de diferenças entre os dois grupos participantes no estudo. As associações encontradas variaram entre moderadas e fortes (coeficientes de Pearson e intraclasses) na sua maioria, entre as pessoas com DID e os prestadores de cuidados, apesar das médias das pessoas com DID serem superiores. Os investigadores concluem que o facto de se observar o mesmo efeito direcional nas duas subamostras reforça a validade da avaliação subjetiva, pelo que os mesmos advogam a utilização de ambas as medidas: o autorrelato e a avaliação por terceiros.

Balboni, Coscarelli, Giunti, & Schalock (2013) procuraram verificar a fiabilidade dos instrumentos de avaliação da Qualidade de Vida sob o ponto de vista do próprio (self-report) e de terceiros/prestadores de cuidados (report of others). Cerca de 176 adultos com DID (H=61%; M=39%), entre os 18 e os 70 anos participaram no estudo: 85 indivíduos apresentavam DID “ ligeira” a “moderada” e os restantes 91 DID “severa”. O instrumento utilizado foi a Personal Outcomes Scale (Loon et al., 2009). Nos dominios de Participação Social e Bem-estar os indivíduos com DID apresentam

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valores mais elevados, não correspondendo às respostas de terceiros, constatando-se a existência de diferenças significativas entre os dois grupos.

Em Portugal, os prestadores de cuidados tendem ainda a confiar exclusivamente nas respostas de terceiros, que respondem pela pessoa com DID e, frequentemente, sem a participação destes ou das suas famílias (Simões, Santos & Claes, 2015a). Estes mecanismos discriminatórios têm atuado como barreiras à aceitação e aplicação dos princípios inerentes à concetualização, avaliação e aplicação da QV. No entanto, e face aos novos paradigmas ecológicos, o nosso país tem vindo a fazer um esforço neste sentido, enfatizando a necessidade de envolver diretamente as pessoas com DID na avaliação da sua própria QV (Santos, 2014; Simões, Santos & Claes, 2015b), possibilitando-lhe um papel ativo na sua própria vida, sendo mais uma informação útil a incluir nos programas de reabilitação (Bonham et al., 2004; Camfield & Skevington, 2008; Claes et al., 2010; Claes et al., 2012; Hartley & MacLean, 2006; Li et al., 2013; Schalock et al., 2007; Simões et al., 2015a; van Loon et al., 2009; Verdugo et al., 2005).

A inclusão da perceção do prestador de cuidados tem sido justificada pela necessidade de ultrapassar as dificuldades do autorrelato (Balboni et al., 2013; Buntinx & Schalock, 2010; Claes et al., 2012; Li et al., 2013; Schwartz & Rabinovitz, 2003), para determinar a sua exatidão (Schwartz & Rabinovitz, 2003), e para promover a melhor medida do desempenho (Federici & Meloni, 2010), ganhando-se mais uma perspetiva a considerar ao nível do planeamento. Simões & Santos (in press) advogam a utilização de um método de multiperceção com a participação de todos os intervenientes.

No seu estudo de correlação entre as respostas de 69 adultos com DID, 69 pais e 69 técnicos, os resultados encontrados pelas autoras apontam para a consistência entre as duas partes da Escala Pessoal de Resultados (Simões & Santos, 2014; Simões & Santos, in press) com valores adequados do alpha de Cronbach (pessoas com DID: α = .88; técnicos: α = .90 e pais: α = .88).) e com correlações moderadas (r = .47) a excelentes (r = .88), entre todos os participantes, exceto no domínio físico na comparação dos sujeitos com DID e os seus pais (r = .39). A QV denotou resultados superiores nos participantes com DID ao nível dos domínios de independência, participação social e domínios de bem-estar, realçando-se que na comparação dos técnicos com os pais, estes tendem a subestimar a independência e a participação social dos seus filhos com DID, acontecendo situação inversa ao nível do bem-estar. As explicações avançadas passam pela perceção positiva e otimista

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das pessoas com DID sobre a sua própria vida (Hartley & MacLean, 2006; Camfield & Skevington, 2008), estando satisfeitos (McGillivray et al., 2009) e talvez sendo menos críticos com os fatores envolvimentais ou comparando-se não com a população em geral, mas com os seus pares com DID com quem partilham o dia (Stancliffe, 1999).

Ainda no mesmo estudo (Simões & Santos, in press) e no que concerne às médias houve diferenças significativas entre os participantes com DID e os técnicos nos domínios do desenvolvimento pessoal (d=.80), estar emocional (d=.85), bem-estar físico (d=.95), e bem-bem-estar material (d=.78), tal como esperado (Balboni et al., 2013; Claes et al., 2012; Janssen et al., 2005; Schmidt et al., 2010). Na comparação com os pais, acrescenta-se ainda o domínio das relações interpessoais (d=.55). Entre os técnicos e as famílias houve diferenças significativas nos domínios da autodeterminação (d=.58) e relações interpessoais (d=.61). Estes resultados indicam respostas mais concordantes entre os adultos com DID e os técnicos do que com as suas famílias.

Pereira (2009), procurou avaliar a Qualidade de Vida dos indivíduos com DID relacionando-a com o seu bem-estar e inclusão. O estudo tinha uma amostra de 15 participantes (5 do género masculino, 10 do género feminino) com DID e com mais de 18 anos de idade (MH=23,4 e MM=28,3). Os instrumentos utilizados foram o Teste de

Matrizes Progressivas de Raven (escala geral – Raven, s/d) e o Questionário de Qualidade de Vida de Schalock. Os resultados obtidos concluem que os indivíduos apresentam valores mais baixos no dominio Independência, ao contrário do dominio Satisfação cujos resultados são elevados. Esta perceção positiva pode estar relacionada com a limitação cognitiva dos inquiridos e/ou a falta de estimulação dos mesmos. Dada a amostra reduzida e a não validação do instrumento não foi possível a generalização dos resultados.

Marcheschi, Laike, Brunt, & Hanson (2015) avaliaram em que medida o meio social e físico influenciam a perceção da Qualidade de Vida dos indivíduos com DID “severa”. Foram selecionados cerca de 72 indivíduos com DID severa, de uma amostra total de 160 participantes com idades entre os 25 e os 83 anos (M=52,5), onde o género feminino representava 40% da amostra total, aos quais foram aplicados dois instrumentos, o Post Occupancy Evaluation (POE – Johansson & Brunt, 2012) e o Community Oriented Programs Environmental Scale (COPES – Moos, 1987). Os autores concluiram que existe relações positivas entre o meio social e físico com a Qualidade de Vida dos indivíduos com DID.

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O princípio que as componentes da QV são iguais para todos os indivíduos, poderá contribuir para um aumento da atenção da sociedade em permitir, proporcionar e aumentar as oportunidades de acesso e sucesso para a participação das populações com DID (Schalock, 2002c), através da provisão de serviços e apoios especializados, para a promoção dos interesses de qualquer indivíduo, como o caso da intervenção psicomotora e da importância que a sua inclusão na matriz de apoios prestados pelas organizações (Leitão, Lombo & Ferreira, 2008), pode deter ao nível da otimização da autonomia e funcionamento independente, responsabilidade pessoal e social, autodeterminação, produtividade e participação social das pessoas com DID.

Psicomotricidade e Intervenção Psicomotora

Desde o início do séc. XX que a Psicomotricidade tem vindo a afirmar-se como conceito, disciplina, e profissão, baseando-se no conceito corpo-mente, ativando em cada indivíduo uma coerência e coesão psicocorporal, dado o corpo não ser apenas visto como um dado biológico, mas também como um espaço psíquico (Boscaini, 2003).

Este mesmo autor define Psicomotricidade como a ciência que valoriza o movimento integrando a inteligência, a linguagem e a afetividade assumindo que o movimento é um instrumento funcional, devido às competências neuromotoras e neuropsicológicas cognitivas, sendo, também, expressivo, dado permitir mostrar estados emotivos e mensagens involuntárias, e comunicativo, quando o movimento se assume como uma forma de linguagem.

Para Fonseca (2010) a psicomotricidade pode ser entendida como um campo que analisa e investiga as relações recíprocas entre o psiquismo e a motricidade. É através da mediação corporal que se otimiza a funcionalidade e o desenvolvimento dos indivíduos, de acordo com as expectativas associadas ao escalão etário e aos valores socioculturais vigentes (Fonseca & Martins, 2001).

A intervenção psicomotora é vista como o instrumento que permite ao indivíduo relacionar-se com o que o rodeia (Fonseca, 2010). Envolve uma metodologia que foca o corpo como mediador, aproximando o indivíduo, como um todo, na sua organização psicocorporal e procura integrar o movimento como elemento de manifestação mental e de condução à organização das estruturas cerebrais, ou seja, é um campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências entre o psiquismo e a motricidade do ser humano. A motricidade e o corpo são o meio de comunicação entre o ser e o mundo que o rodeia (Fonseca, 2010), i.e., à experiência adquirida no

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processo de ensino-aprendizagem no meio em que a pessoa está inserida (Kamila, Maciel, Mello, & Alves-Souza, 2010). Nesta visão holística e sistémica do sujeito como um todo (Fonseca & Martins, 2001), a intervenção psicomotora vai ao encontro da perspetiva advogada pelo modelo do funcionamento humano, anteriormente mencionado.

Na intervenção psicomotora beneficia-se a função tónica, considerando-a não só como um elemento de suporte e guia do movimento neurofuncional, mas também como fundamento e manifestação das emoções, pensamento e linguagem, tornando-se uma forma de ligação primária com o mundo (Boscaini, 2003).

De acordo com Zanoti (2013), a intervenção psicomotora é benéfica para o desenvolvimento global do ser humano visto que as suas contribuições ocorrem a diferentes níveis (e.g.: processo de ensino-aprendizagem). Fonseca (2010) afirma que a intervenção psicomotora utiliza o movimento como um meio terapêutico, mas apenas se este for orientado para um fim, quando existe uma intenção bem delineada e programada, para que se possa criar reações e adaptações facilitando a organização do pensamento.

A intervenção psicomotora engloba uma dimensão afetiva importante no que respeita às implicações tónicas e emocionais, reforçando o diálogo tónico na construção da personalidade e aquisições evolutivas presentes ao longo do desenvolvimento do ser humano (Fonseca, 2004). A intervenção psicomotora surge como instrumento para corrigir aspetos do comportamento e da aprendizagem da criança. De acordo com a APP (2012), a intervenção psicomotora pode ser de âmbito terapêutico mas também reeducativo, direcionada para o desenvolvimento e aprendizagem comprometidos, devido aos problemas psicoafetivos que põem em causa a “adaptabilidade do indivíduo”. A intervenção deve acontecer num ambiente físico agradável e onde seja possível recorrer a materiais diversos que permitam desenvolver habilidades através dos jogos (Kamilla et al., 2010).

Negrine (1995 cit in Filho, 2003) refere a importância de “fazer” para que haja a possibilidade de experimentar, de forma diferenciada, as vivências e os seus respetivos significados. De acordo com Blahus (2004) a intervenção psicomotora deve ocorrer em três grandes áreas: construção de uma rede interdisciplinar como base para a prática de métodos clinico-educativos, sistematização e padronização dos métodos de diagnóstico presentes numa base de dados, e utilização de métodos multivariados.

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Inserido no modelo do funcionamento humano (Buntinx & Schalock, 2010) o processo de intervenção psicomotora torna-se mais adaptado a cada caso, sendo mais contextualizado na sua elaboração e aplicação, tendo sempre em conta os objetivos pessoais. Por outro lado, o construto de QV abarca toda uma complementaridade de conceitos e medidas, que coadjuvando-se mutuamente, poderão fazer toda a diferença na independência e funcionalidade dos indivíduos com DID (Reinders & Schalock, 2014). Desta forma, a estimulação de comportamentos adaptativos e a minimização (e mesmo eliminação) de comportamentos desajustados podem ser estimulados e trabalhados, não só numa análise da qualidade de interação com o envolvimento, mas considerando a implementação e a provisão de apoios específicos que potenciam a participação social (Santos, 2014).

Nesta conjuntura, os apoios são entendidos como recursos e estratégias que visam promover o desenvolvimento, a educação, os interesses e o bem-estar pessoal melhorando o funcionamento individual (Luckasson & Schalock, 2013; Thompson, et al., 2009). O sistema de apoios facilita a comunicação e não permite generalizações sobre o indivíduo ou grupo, pois este deve ser consistente com objetivos pessoais do indivíduo com DID (Shogren & Turnbull, 2010).

É neste contexto que a intervenção psicomotora surge como um dos possíveis apoios a providenciar aos sujeitos com DID, no sentido da promoção de um desenvolvimento psicomotor e socioemocional (Valente, Santos, & Morato, 2012), atravês de planeamentos de programas adaptado a cada caso, focando-se na organização psicomotora numa visão abrangendo também, as condutas cognitivas, afetivo-emocionais e sociais (Martins, 2001), para a organização psíquica e intencionalidade do indivíduo em relação ao envolvimento (Fonseca & Oliveira, 2009), desenvolvendo a capacidade de autorregulação, potenciando comportamentos adaptativos e minimizando os desajustamentos (Martins & Rosa, 2005).

Para além de todo um trabalho de melhoria e otimização dos fatores psicomotores (tonicidade, equilíbrio, lateralidade, noção do corpo, estruturação no espaço e no tempo, praxias global e fina), requeridos nas atividades diárias de qualquer sujeito (com e sem DID), a intervenção psicomotora objetiva a adaptação às mudanças psicossociais, através do desenvolvimento de estratégias inovadoras, concretas e funcionais para ultrapassar as dificuldades sentidas (Valente, Santos & Morato, 2012), visando uma maior Qualidade de Vida (Fonseca, 2001).

A intervenção psicomotora pode concretizar-se numa diversidade de contextos de ação diferenciados, investindo-se no sujeito e seu envolvimento, num espaço

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contentor e de exploração. A intervenção psicomotora em meio aquático e inclusive numa fase de adaptação a este meio, possibilita uma educação e reabilitação psicomotora (Freitas & Silva, 2010).

Antes de se passar à caracterização da intervenção psicomotora como apoio para a promoção da qualidade de vida, importa ainda referir algumas propriedades físicas da água, e que estão subjacentes a toda e qualquer intervenção (psicomotora) em meio aquático, dadas as propriedades físicas da água (flutuação, densidade, pressão hidrostática e viscosidade) que produzem efeitos fisiológicos e terapêuticos benéficos que atuam sobre o organismo do ser humano (Ruoti, Morris, & Cole, 2000).

Intervenção Psicomotora em Meio Aquático

Segundo Velasco (1994, cit. in Freitas & Silva, 2010) e Lepore (2011) a água produz uma redução dos efeitos da força da gravidade do corpo (princípio de Arquimedes – força de flutuação) suportando-o e permitindo um menor esforço ao nível dos sistemas articulares e esquelético, melhorando a tonicidade, o controlo da postura, o equilíbrio e a noção corporal. Lepore (2011) refere que as atividades aquáticas para populações com necessidades especiais podem promover a aptidão física e o desenvolvimento de habilidades motoras, verificando-se benefícios psicossociais, tais como a autoestima e autoconceito, ou seja, as propriedades motivacionais e terapêuticas da água fornecem um ambiente de aprendizagem estimulante. No entanto, é importante considerar, ao longo de qualquer intervenção, os fatores psicológicos e fisiológicos dos indivíduos com necessidades especiais pois poderá influenciar no processo de ensino-aprendizagem.

O meio aquático deve ser visto como um “ambiente facilitador”, onde é possivel criar atividades no qual o indivíduo possa exteriorizar o seu pensamento, ser espontâneo e, acima de tudo, poder expressar-se de diversas formas, promovendo o seu desenvolvimento motor e cognitivo. Se este meio for rico em estímulos que permitam transmitir confiança e segurança ao indivíduo, este irá sentir-se desafiado para partir em busca de novas aprendizagens e, consequentemente, conquistar autonomia e independência (Filho, 2003).

A adaptação ao meio aquático implica uma série de adaptações dada a necessidade de reorganização motora aquática: deslocação em posição horizontal e alteração da posição da cabeça, do olhar e das sensações equilibradoras (Matias, 2010). A autora refere ainda a importância que a dimensão grupal assume neste contexto e com as populações com necessidades educativas especiais, implicando,

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entre outros, os fatores da comunicação e socialização, bem-estar físico e emocional, socioemocionais, competências motoras e de partilha e reciprocidade que poderão influenciar a qualidade de vida dos indivíduos (e.g.: inclusão social e relações interpessoais).

Filho (2003) refere que a intervenção psicomotora em meio aquático deve criar condições para que os sujeitos com DID possam expressar-se através do jogo simbólico ou dos exercícios, cuja finalidade passa por contribuir para a autonomia e independência dentro e fora de água, sendo esta ideia corroborada por Matias (2010). A comunicação, exploração corporal e vivência simbólica, devem ser sentidas e vividas dentro e fora de água, quer de forma individualizada ou em interação com os outros, proporcionando segurança, afetividade, comunicação, liberdade de expressão e autonomia. Filho (2003) dá um exemplo, sugerindo que para os indivíduos com Trissomia 21, as atividades em meio aquático devem ser maioritariamente coletivas pois promovem a cooperação e a própria interação, dada a tendência para repetir a mesma ação.

Para Freitas & Silva (2010) existem diversos benefícios da intervenção em meio aquático para as pessoas como DID, destacando as questões sociais (autonomia e inclusão social), fisiológicas e psicomotoras (promoção da autoconfiança, comunicação e capacidades de aprendizagem). Desta mesma opinião é Matias (2010) para quem a intervenção psicomotora em Meio Aquático poderá deter impacto em diferentes áreas:

 Motora: é possível verificar o desenvolvimento ao nível do esquema corporal, do equilíbrio muscular melhorando o programa motor e, por sua vez, o movimento, bem como o desenvolvimento da coordenação motora global e fina;

 Sócio-Emocional, procura-se trabalhar a confiança do indivíduo em si próprio, na comunicação com os outros e na regulação das emoções, com repercussões no processo de socialização, autonomia (exploração ativa) e independência;

 Cognitiva, o trabalho incide sobre a estimulação e desenvolvimento das capacidades de aprendizagem e concentração que nem sempre são possíveis no meio terrestre, desafiando o indivíduo na resolução de problemas; finalmente, a  Visuo-Auditiva está relacionada com o desenvolvimento das capacidades de

perceção da noção de profundidade, distância, cores contrastes e sons para identificar objetos.

A mesma autora refere, ainda, que a intervenção psicomotora em meio aquático resulta da ligação entre os objetivos principais de intervenção em meio aquático com

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os fatores psicomotores. Desta forma, os objetivos da intervenção psicomotora estão relacionados com 1) a tomada de consciência do esquema corporal, 2) o desenvolvimento da lateralização e equilíbrio, 3) o desenvolvimento do sentido de orientação, 4) o reforço da atenção como forma de trabalhar a memória, 5) a consciência individual, 6) a estruturação espaço-temporal, 7) o desenvolvimento da criatividade e 8) o desenvolvimento da socialização inter e intrapessoal.

As possibilidades de exploração de um espaço diferente pode também contribuir para a otimização da estruturação espacio-temporal, conseguida pela estimulação da noção e consciencialização corporal, baseada num maior controlo da tonicidade (e.g.: redução da espasticidade e rigidez muscular) e na aquisição de um equilíbrio mais estável para uma melhoria progressiva das habilidades práxicas (quer ao nível da praixa global como fina – Matias, 2005; Matias, 2010; Teixeira-Arroyo & Oliveira, 2007).

Pode-se ainda referir, e para uma melhor compreensão da atuação da intervenção psicomotora, outros benefícios: Esquema Corporal (aspetos funcionais e organizacionais), Controlo Postural (atitudes posturais – emoção e afetividade), Equilibrio (base da autonomia motora), Controlo Respiratório (determinante na segurança no meio aquático), Lateralidade (perceção interna da diferença entre esquerda e direita), Espaço (onde nos situamos e para onde nos movemos), Informações Visuais e Auditivas (aquilo que vemos e ouvimos vai influenciar na interpretação) e, por último, Informações Tatéis e Quinestésicas (toque e experiências motoras – Matias, 2005 e 2010).

Todos estes benefícios detém uma influência positiva no funcionamento do organismo humano (e.g.: sistema termorregulador, cardorrespiratório, renal, nervoso, imunológico e musculo-esquelético – Biasoli & Machado, 2006).

Em meio aquático e no âmbito da intervenção dos sujeitos com DID, existe uma série de técnicas onde se trabalham os fatores acima referidos. O método Halliwick (The Halliwick Concept, 2010) promove a independência dos indivíduos relacionando-se com o controlo postural no meio aquático e o ensino da modalidade de natação. Através deste método é possível proporcionar aos indivíduos, com necessidades especiais, o desenvolvimento das suas capacidades intelectuais, sociais, sensoriais e motoras, tendo por base um programa de 10 (dez) pontos estruturado e organizado para que os indivíduos adquiram competências, tais como o controlo da respiração e dos movimentos corporais (The Halliwick Concept, 2010).

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A intervenção (psicomotora) mais adequada para pessoas com DID deve englobar um conjunto de objetivos gerais potenciando o desenvolvimento das capacidades individuais, a estimulação de adoção de comportamentos adaptativos no contexto onde se insere visando uma funcionalidade diária de sucesso e a aquisição de uma vida independente e autónoma, bem como uma real participação social assumindo, de forma ativa e positiva, o seu papel de cidadão (Schalock, et al., 2010).

Por outras palavras, a intervenção (psicomotora) deve contribuir para o aumento do nível do bem-estar e da qualidade de vida, i.e., criando oportunidades de maximização de capacidades e dando oportunidade para todos os indivíduos com DID participarem, independentemente das suas limitações e dificuldades (Ojeda, 2005). Esta ideia vem bem explícita nas premissas inerentes ao diagnóstico e identificação da DID (Luckasson et al., 2002; Luckasson & Schalock, 2013; Schalock et al., 2007; Schalock et al., 2010).

A adequação das estratégias a implementar às necessidades reais dos sujeitos, de acordo com o escalão etário e os valores socioculturais específicos, numa planificação estruturada de atividades pertinentes e significantes na vida diária individual, que vão ao encontro dos interesses e preferências de cada um, bem como o “aproveitamento” do lúdico nas propostas a desenvolver visando o transfer para as atividades de vida diária para a obtenção do sucesso pessoal, constituem algumas das propostas no âmbito da intervenção psicomotora (Coelho, Rodrigues, & Santos, 2003). A intervenção psicomotora, com o seu trabalho contínuo de desenvolvimento e estimulação das funções executivas (e.g.: capacidade de atenção e concentração, memória…) e dos fatores psicomotores (e.g.: noção corporal, estruturação espácio-temporal, praxias) maioritariamente afetados nas populações com DID, poderá então ser um recurso ao nível da melhoria da qualidade de vida destas populações.

De acordo com Varela, Duarte, Sereno, Dias, & Pereira (2000) a intervenção psicomotora em meio aquático destaca-se pela possibilidade que oferece ao nível da exploração, interação e adaptação a novas situações, com a promoção da capacidade de resolução de problemas, com resultados ao nível do comportamento adaptativo e da qualidade de vida. Neste âmbito, há que relembrar toda a dinâmica social com a promoção da tomada de decisão e autodeterminação, emocional e psicológica inerente a uma intervenção desta natureza (Biasoli & Machado, 2006).

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Conclusões

A prevenção da DID tem um impacto significativo a nível social, motor e cognitivo, devendo-se, assim, desenvolver programas adequados a cada indivíduo (Silverman, 2009). A melhoria da QV está relacionada com estratégias de formação de valores, recolha de informação para as equipas de intervenção e relação com o paradigma dos apoios (Schalock, 2009; Schalock, 2002a). São notórias as alterações significativas ao nível das políticas mais recentes com repercussões que se pretendem imediatas para a prática e que refletem movimentos de vida independente com qualidade de vida baseado num sistema de provisão de apoios, como a intervenção psicomotora, com uma gestão participativa e ativa de todos os intervenientes, coadjuvado pelo desenvolvimento e operacionalização de sistemas de avaliação específicos, pela utilização de metodologias de qualidade visando os resultados pessoais (Schalock et al., 2008).

A QV define-se por ser um constructo multidimensional (influenciado pela interação de fatores pessoais e ambientais), todos os seus componentes (objetivos e subjetivos) estão ajustados a cada indivíduo e é reforçada pela autodeterminação, recursos, sentimento de pertença e objetivos de vida (Cummins, 2005). O conceito de QV tem importância para a educação, saúde e serviços sociais e por esse motivo não pode ser separado do contexto em que os indivíduos (com ou sem dificuldades) estão inseridos (Schalock, 2002b). Os indivíduos com DID apresentam alguma dependência pois nem sempre conseguem comunicar de forma clara o que pretendem, pelo que os apoios para estes indivíduos detêm impacto na sua QV, permitindo um maior nível de independência (Petry et al., 2007). Desta mesma opinião são Schalock et al. (2008) que estabelecem que os apoios são um veículo para a otimização da qualidade de vida e que a comunidade é o contexto de uma vida com qualidade.

Baseados na premissa (Luckasson et al., 2002; Luckasson & Schalock, 2013; Schalock et al., 2007; Schalock et al., 2010) de que com os apoios adequados, os indivíduos com DID melhorarão o seu perfil funcional-adaptativo e a sua qualidade de vida (Simões, Santos, Biscais & Thompson, in press), e na ideia que a aquisição de novas competências funcionais e com significado na vida individual, se expressam no funcionamento global sucedido, é possível inferir que ao estimular as competências e fatores psicomotores, a intervenção psicomotora possa contribuir para uma aquisição mais ampla e abrangente de requisitos envolvidos no dia-a-dia de cada um.

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A intervenção psicomotora na perspetiva sistémica e holística do ser humano intenta no desenvolvimento global da pessoa, aliando o comportamento motor às condições cognitivas, com as características afetivo-emocionais decorrentes de toda uma experiência anterior, e com as habilidades de comunicação podendo assumir um papel preponderante entre as técnicas e apoios passíveis de serem providenciados a populações onde a adaptação possa estar mais comprometida (Fonseca, 2009).

Probst, Knapen, Poot, & Vancampfort (2010), afirmam que um dos propósitos da intervenção psicomotora está relacionada com a interação entre a saúde mental e movimento, através de atividades orientadas para o corpo (e.g.: relaxação e perçeção sensorial).

Por seu lado, a intervenção psicomotora em meio aquático oferece aos indivíduos com DID novas experiências e diversas vivências que promovem a perceção sensorial e habilidades motoras, desenvolvendo, dessa forma, as capacidades psicomotoras (esquema corporal, orientação espácio-temporal, equilíbrio, coordenação motora e lateralidade - Teixeira-Arroyo & Oliveira, 2007).

Segundo a Associação Portuguesa de Terapeutas Ocupacionais (2013) a intervenção em meio aquático com população adulta, ocorre sobretudo para promover um aumento das capacidades motoras, consciência corporal, motivação, capacidade de resolução de problemas (melhoria da autoestima) e motivação para participar em atividades de recreação.

Uma boa adaptação no meio aquático ocorre quando os indivíduos adquirem as habilidades aquáticas básicas (e.g.: controlo da respiração e postural, flutuação…) permitindo alguma autonomia dentro de água (Bôscolo, Santos, & Oliveira, 2011). O meio aquático permite explorar o espaço em que o indivíduo se encontra e, por isso, são desenvolvidas situações pedagógicas que estimulem a aprendizagem, as relações sociais e afetivas. As atividades neste meio são benéficas para os indivíduos com DID pois melhoram as capacidades ao nível da motricidade e das relações e interações sócio-afetivas (Chicon, Sá, & Fontes, 2013).

O sistema de provisão de serviços e apoios tem-se modificado consideravelmente em todo o mundo, com especial destaque para as populações com DID, focando-se na avaliação dos resultados pessoais e caracterizando-se pela complexificação progressiva e pela descentralização, tornando-se menos formal (Schalock et al., 2008). A possibilidade de decisão e escolha pelos indivíduos com DID implica a variabilidade e qualidade dos desempenhos interventivos, onde a intervenção psicomotora pode assumir o papel de um dos veículos, definindo o seu

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Tabela 1: Sessão-tipo de Programa de Intervenção Psicomotora em Meio Aquático.
Tabela 2: Sessão-tipo de Programa de Intervenção Psicomotora em Meio Aquático.
Tabela 3: Sessão-tipo de Programa de Intervenção Psicomotora em Meio Aquático  Programa de Intervenção Psicomotora em Meio Aquático
Tabela 4: Sessão de Atividades de Meio Aquático (grupo 3).
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Referências

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