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A escassez de investigação na área é evidente, não existindo ainda evidências neste sentido, apesar de a literatura ter vindo a apontar que a avaliação o mais cedo possível e a intervenção individualizada e adequada às necessidades dos sujeitos são fundamentais (Schalock, Gardner & Bradley, 2007; Thowsend-White, Pham & Vassos, 2012) para a identificação das necessidades, dificuldades e capacidades individuais e, consequente, melhoria do seu desenvolvimento (cognitivo-motor, socioemocional...) e da saúde (Parsons et al., 2011), com repercussões ao nível da QV (Brown, Hatton & Emerson, 2013; Buntinx & Schalock, 2010; Pereira, 2009; Schalock et al., 2008; Verdugo et al., 2012).

Outra ideia que advém da revisão da literatura é que ainda existe insuficiente evidência científica para promover um tipo específico de intervenção/abordagem para as pessoas com DID e suas famílias, sendo emergente uma aposta na investigação nesta área. A grande potencialidade do presente estudo, pioneiro na área, passa pela análise da contribuição da intervenção psicomotora em meio aquático na QV das pessoas com DID, bem como na aprendizagem de competências de meio aquático, i.e., análise da eficácia da intervenção psicomotora (Lana et al., 2007). Além disso, outro dos princípios inovadores e coerentes com os novos modelos concetuais (Buntinx & Schalock, 2010; Claes et al., 2010; Claes et al., 2012; Jenaro et al., 2005; Wang, Schalock, Verdugo & Jenaro, 2010) do estudo foi o papel ativo do próprio sujeito com DID (Lucas-Carrasco & Salvador-Carulla, 2012; Schalock & Verdugo, 2013) na avaliação da sua qualidade de vida.

Desta forma, e com base nos resultados obtidos podemos perspetivar que se verificaram melhorias ao nível dos índices de QV após a implementação do programa psicomotor em todos os CAO, o que parece indiciar que a intervenção psicomotora poderá atuar como um dos apoios a oferecer a adultos com DID neste contexto. Esta questão é visível nos 2 índices, i.e., autorrelato (quando é o próprio a responder) e por observação direta (quando as respostas são dadas por terceiros), observando-se o aumento dos valores médios da avaliação baseline para a avaliação final, feita no fim do programa.

As melhorias ao nível dos domínios da QV também foram visíveis na sua maioria, parecendo corroborar a ideia que as pessoas com DID conseguem ganhos funcionais através da estimulação de inúmeras competências (comunicação,

psicomotoras, entre outras) para uma validação social, através de intervenções multi- componenciais (Parsons, et al., 2013).

Análise dos Valores Médios de cada CAO

Estes ganhos ao nível da qualidade de vida parecem vir corroborar outros estudos na área (Blick, Saad, Goreczny, Roman & Soresen, 2015), apesar das diferenças de intervenção nos CAO Santa Cruz e Funchal, no âmbito do Programa de Intervenção em Meio Aquático. Na parte do autorrelato, e numa análise domínio a domínio, é possível constatar que no CAO de St. Cruz apenas o domínio da Inclusão Social se manteve inalterado (nos vários momentos de avaliação) podendo ser explicado pelo foco que a instituição centra ao nível da participação na comunidade, enquanto nos CAO Funchal e Machico se verificou uma ligeira diminuição da cotação da Auto- Determinação, sendo esta ainda uma competência pouco trabalhada ao nível dos sujeitos com DID (Belva & Matson, 2013; Santos, 2003; Santos, 2010; Santos, 2014; Schwartz & Rabinovitz, 2003; Wagner et al., 2005; Wehmeyer, Martin & Sands, 2008), acontecendo situação idêntica no CAO Machico ao nível do Bem-estar Material.

No âmbito da Inclusão Social, parece não ter havido trabalho inovador, mantendo-se as mesmas rotinas, pelo que os valores obtidos foram muito idênticos em todos os momentos de avaliação. Nos outros dois domínios supra-mencionados pode-se afirmar que apesar de trabalhadas as competências em meio aquático para que os indivíduos pudessem melhorar as capacidades de decisão (e.g.: formação de equipas e escolha da atividade a realizar), as habilidades de autodeterminação inerentes aos outros dois domínios, denotaram resultados inferiores na avaliação da retenção, com repercussões ao nível da autorregulação (e.g.: formulação de objetivos e o reforço dos resultados desejados - Agran, Wehmeyer, Cavin & Palmer, 2010; Lee, Wehmeyer, Soukup & Palmer, 2010) e da funcionalidade diária.

A diminuição dos valores dos itens constituintes do domínio do Bem-estar Material pode também ser explicada pela maior dificuldade ao nível da capacidade de decisão, parecendo estar diretamente “correlacionada” com o domínio da Auto- Determinação, bem como com a desresponsabilização e superproteção por parte dos prestadores de cuidados, corroborando estudos existentes em áreas afins (Santos, 2014; Santos & Morato, 2012; Wagner et al., 2005).

É ainda de se referir, que de uma forma geral, todos os valores médios diminuíram aquando do momento de Avaliação da Retenção, situação que parece vir corroborar o estudo de Oliveira & Morato, (2009), que também verificaram uma diminuição dos valores do comportamento adaptativo após o mês de férias, sem

qualquer intervenção. Uma das inferências que se pode fazer é a necessidade da estimulação contínua de competências de vida diárias para a manutenção da funcionalidade quotidiana destes indivíduos, onde lhes é exigido a autonomia pessoal assumindo o seu papel de protagonista em todas as decisões relativas à sua vida (Wehmeyer, 2009). Esta descredibilização (Santos, 2010), associada à pouca estimulação deste tipo de competências (Santos, 2014; Wehmeyer et al., 2007) podem explicar a diminuição de alguns valores.

No que concerne à avaliação dos resultados pessoais, na perspetiva dos prestadores de cuidados (por observação direta) é possível constatar algumas diminuições dos valores obtidos na avaliação de retenção, observando-se a manutenção de valores ao nível dos Direitos, da Autodeterminação e do Bem-Estar Material, podendo este facto ser explicado pela correlação direta entre os mesmos: a autodeterminação e a possibilidade de gerir o seu próprio dinheiro entendida como um direito (Nações Unidas, 2007; Turnbull, Turnbull, Erwin, Soodak & Shogren 2010), situação ainda pouco estimulada com adultos com DID (e.g.: superproteção e discriminação – Santos & Morato, 2012; Simões, Santos & Claes, 2015). É de se realçar que apenas o CAO Funchal denota valores superiores ao nível da retenção.

Também ao nível do meio aquático se verificou a mesma tendência do que na EPR dado se ter observado um aumento dos valores médios na avaliação imediata ao programa, com um ligeiro decréscimo um mês sem qualquer intervenção. Estes resultados parecem corroborar o estudo de Pôrto & Ibiapina (2010) onde verificaram a eficácia das atividades terapêuticas realizadas em meio aquático para o desenvolvimento do esquema corporal da criança. Freitas & Silva (2010) apresentam no seu estudo projetos em meio aquático onde referem que os resultados da intervenção foram benéficos na melhoria das competências psicomotoras. Os autores referem que o meio aquático parece ser um recurso rico a nivel sensorial onde os clientes experienciam momentos de prazer e alegria, sendo corroborados por vários autores (Filho, 2003; Lepore, 2011; Matias, 2005; Matias, 2010). Também Blick, Saad, Goreczny, Roman & Soresen, 2015) encontraram valores superiores de QV após a aplicação de um programa de atividade física.

Análise das diferenças entre CAO nos três momentos de avaliação

No que concerne à comparação dos CAO entre si foi também possível observar a existência de diferenças entre os 3, tal como esperado, nalguns domínios da QV, quer ao nível da aquisição e melhorias das competências em meio aquático. Tal como reportado por variados autores (Carmeli, Kessel, Colman & Ayalon, 2002;

Tsimaras & Fotiadou, 2004; Uyanik, Bumin & Kayilhan, 2003), programas de intervenção motora podem melhorar a qualidade de vida de indivíduos com DID.

As diferenças mais significativas, do ponto de vista estatístico, e no âmbito da qualidade de vida encontradas entre os 3 CAO situaram-se entre os CAO de St Cruz/Funchal e o de Machico ao nível do domínio dos Direitos na primeira avaliação e do Bem-Estar Emocional, na avaliação concretizada imediatamente após o programa, de acordo com a perspetiva do próprio (autorrelato). Na perspetiva do prestador de cuidados o domínio do Bem-Estar Físico denota diferenças, com repercussões ao nível do índice de QV, no âmbito da comparação dos três CAO, realçando-se mais uma vez os valores médios superiores dos clientes do CAO Machico. Esta situação pode ter ser explicada pelo facto destes clientes parecerem ter uma maior noção dos seus direitos (do que os seus pares nos outros CAO) e pela sua menor necessidade de apoio ao nível das competências de vida diária.

Na comparação das competências aquáticas entre os 3 CAO houve poucas diferenças, o que seria esperado dado todos terem usufruído de uma intervenção em meio aquático, registando-se apenas diferenças significativas na AvB vs. AvF ao nível da Equilibração e Flutuação, onde mais uma vez se constatam os valores superiores dos clientes do CAO Machico. Esta melhoria evidente apresentada quer ao nível dos valores de QV, quer das competências em meio aquático podem resultar da menor necessidade de apoios por parte dos clientes do CAO Machico, que demonstram diagnósticos de DID “ligeira” vs. o diagnóstico “moderado” dos restantes CAO, com a consequente melhoria de autonomia e funcionamento independente.

Pôrto & Ibiapina (2010) recordam as propriedades físicas da água e o seu efeito benéfico para indivíduos com necessidades especiais nomeadamente ao nível do sistema músculo-esquelético, das articulações, do sistema renal e do sistema cardiovascular, com repercussões positivas na (melhor) qualidade de vida. Esta ideia é advogada também por Tsimaras & Fotiadou (2004) que encontraram um aumento significativo da força e da massa muscular dos membros inferiores de sujeitos com DID e por Shields, Taylor & Dodd (2008) que constaram ganhos de força superior nas extremidades dos músculos, depois da aplicação de um programa de atividade motora, indo ao encontro do estudo de Gupta et al. (2011). Cardeal, Pereira, Silva & França (2013) através de um programa psicomotora e após a avaliação final concluíram que crianças com alterações no desenvolvimento apresentavam melhorias significativas a nível cognitivo e motor. Ainda no âmbito da avaliação dos efeitos de um programa psicomotor ao nível das competências psicomotoras de 2 crianças entre os

6 e os 8 anos com DID, Esmeraldo e Araújo (2010) constataram ganhos significativos ao nível do desempenho psicomotor, acontecendo situações idênticas em diferentes estudos (Bianconi e Munster, 2011; Maes, Lambrechts, Hostyn & Petry, 2007; Mattos e Bellani; 2010; Santos, Weiss e Almeida, 2010; Weinert, Santos e Bueno, 2011). É de se referir a escassez deste tipo de estudos com populações adultas.

Análise das diferenças intra-CAO nos três momentos de avaliação

Finalmente, foi ainda concretizado um estudo comparativo das mesmas competências aquáticas e da QV intra-CAO, i.e., avaliando os mesmos participantes dentro de cada grupo ao longo do tempo e depois da aplicação de um programa de intervenção psicomotora, numa tentativa de se analisar a sua eficácia (ou não). De acordo com os resultados obtidos parece haver diferenças significativas no momento da segunda avaliação, ou seja, a avaliação imediata pós-intervenção o que parece corroborar a ideia que as populações com DID detêm ganhos com a implementação de intervenções adequadas e direcionadas para as suas necessidades (Bianconi e Munster, 2011; Cardeal, Pereira, Silva & França, 2013; Carmeli, Kessel, Colman & Ayalon, 2002; Gupta et al., 2011; Maes, Lambrechts, Hostyn & Petry, 2007; Mattos e Bellani; 2010; Santos, Weiss e Almeida, 2010; Shields, Taylor & Dodd, 2008; Tsimaras & Fotiadou, 2004; Uyanik, Bumin & Kayilhan, 2003; Weinert, Santos e Bueno, 2011). Zanoti (2013) defende que a intervenção psicomotora na T21 deve ter em conta as dificuldades tipicas, no entanto educar e fortalecer as capacidades cognitivas, motoras/físicas e emocionais é um objetivo primordial do psicomotricista.

Por outro lado, as diferenças significativas, e apesar de em todos os CAO os valores obtidos nas duas avaliações da QV serem ligeiramente inferiores, aquando do momento de avaliação de retenção apenas se fazem sentir mais no CAO que não foi submetido à intervenção psicomotora, verificando-se decréscimos maiores e apenas significativos nos seguintes domínios: Desenvolvimento Pessoal e Bem-estar Material (autorrelato – AvB vs. AvF) e Bem-estar Físico (autorrelato – AvF vs. AvR; EPR-QP – nos três momentos de avaliação). Esta diminuição dos valores pode ser explicada pela falta de estimulação das competências inerentes, aquando do término da intervenção psicomotora em meio aquático, corroborando os resultados de Oliveira & Morato (2009). Verificou-se que no CAO Santa Cruz no momento da avaliação AvB vs. AvF os domínios onde os resultados mais significativos da EPR-AR foram: Relações Interpessoais, Bem-estar Emocional e Índice QV. No que se refere à EPR-QP o único domínio com resultados significativos foi o dos Direitos nos três momentos de

avaliação. No caso do CAO Funchal apenas o domínio dos Direitos (autorrelato) apresenta um resultado significativo.

Ao nível das competências aquáticas verificaram-se diferenças em todos os CAO na AvB vs. AvF no item de Equilíbrio e Flutuação, como é possível confirmar nas conclusões de Romão & Caetano (2009) onde referem que a intervenção adequada permite melhorias ao nível do equilíbrio, sistema sensorial e esquema corporal. Perante o mesmo momento de avaliação no item de Grau de Interação com o Técnico, no CAO Santa Cruz observaram-se efeitos significativos que pode ser explicado pelo facto de na avaliação baseline os clientes não conhecerem o técnico (autora deste estudo) e por isso haver um certo nível de confiança por parte dos clientes, aquando das avaliações seguintes. Relativamente aos restantes itens de avaliação não se averiguaram quaisquer variações nos diferentes momentos de avaliação tendo em conta que os clientes demonstraram alguma competência nas habilidades básicas em meio aquático, tais como: Desinibição Inicial, Entradas e Saídas da piscina, Função Respiratória e Movimentos Ativos dentro de água. No que se refere ao item das Mobilizações Articulares depreende-se que também não houve alterações nos resultados em cada momento de avaliação pelo facto do programa ter ocorrido em pouco tempo para verificar melhorias significativas.