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A Ficha de Avaliação do Comportamento em Meio Aquático, versão para adolescentes e adultos, tem como base a ficha elaborada pela equipa de Atividades Aquáticas da APPC – NRS (2001-2004) sob a coordenação e adaptação da Dr.ª Ana Rita Matias, apresentando como objetivo a avaliação das capacidades e dificuldades dos sujeitos em meio aquático, permitindo estabelecer um plano de intervenção mais adequado (Matias & Vieira, in press). As adaptações realizadas na versão para adolescentes e adultos verificam-se nomeadamente no domínio das Mobilizações Articulares – C – (anteriormente denominava-se por Movimentos na água dirigidos pelo Terapeuta e continha apenas 4 itens de avaliação) e quanto aos restantes itens presentes em cada domínio, houve uma alteração ao nível das tarefas pretendidas, visto que a população alvo para este estudo eram adultos. Na presente Ficha de Avaliação do Comportamento em Meio Aquático (versão para adolescentes e adultos, verificam-se 86 itens divididos em sete domínios (Matias & Vieira, (in press)):

A. Desinibição Inicial em Meio Aquático: cujo objetivo é observar as primeiras reações do indivíduo à água (e.g.: na cara), bem como o seu à vontade na mesma (forma de deslocação); este domínio subdivide-se em 8 itens de avaliação: item A1 refere-se à capacidade do indivíduo permanecer sentado na borda da piscina com os pés dentro de água (sendo irrelevante a forma de deslocação até à posição); o item A2 avalia a entrada do indivíduo na água; o item A3 avalia a forma como o indivíduo tolera os salpicos da água, assim como o próprio chapinhar de água; o item A4 refere-se ao facto do indivíduo consentir a água na cara/cabeça; o item A5 está relacionado com a movimentação dentro de água, mas sempre no mesmo plano; o item A6 vai ao encontro do item anterior, mas a movimentação dentro de água deve ser realizada em diferentes planos; o item A7 pretende avaliar a forma como o indivíduo coloca o queixo/orelhas/nariz e testa na água; e o item A8 procura avaliar a forma como o indivíduo brinca com os objetos que se encontram na água;

B. Entradas e Saídas da Piscina: procura verificar o nível de independência de um indivíduo ao nível das entradas e saídas; sempre que possível é o indivíduo que escolhe a forma como quer entrar/sair na água o que nos dá a ideia que o indivíduo tem das suas capacidades; este domínio subdivide-se em 7 itens: o item B1 avalia a entrada na piscina pela rampa/escadas; o item B2 refere-se à entrada na piscina partindo da posição horizontal (deitado); o item B3 avalia a entrada na piscina partindo da posição de sentado; o item B4 está relacionado com a avaliação da entrada na piscina partindo da posição de joelhos; o item B5 refere-se à entrada na piscina partindo da posição vertical (de pé); o item B6 avalia a saída pela borda da piscina; e o item B7 avalia a saída da piscina pelas escadas/rampa;

C. Movimentos Articulares: neste domínio procura-se avaliar a técnica de mobilização articular passiva cujo objetivo é observar a amplitude das articulações, que definirá a potencialidade da amplitude dos movimentos, e também a distribuição do tónus pelos diferentes segmentos corporais, ou seja, verificar como estes se comportam aquando dos movimentos passivos e que tipos de resistência oferecem ao estiramento passivo (Bobath, 1974 cit. in Matias & Vieira, in press). As diferentes mobilizações são adaptadas consoante as características e necessidades dos avaliados. Este domínio subdivide-se em 2 grupos: Mobilizações Articulares Ativas (C1), com 6 itens de avaliação: o item C1.1 refere-se à mobilização ativa do ombro; o item C1.2 avalia a mobilização ativa do cotovelo; o item C1.3 avalia a mobilização ativa da mão; o item C1.4 refere-se à mobilização ativa da anca; o item C1.5 avalia a mobilização ativa do joelho; e o item C1.6 avalia a mobilização ativa do tornozelo; e Mobilizações Articulares Passivas (C2),igualmente com 6 itens de avaliação: em que o item C2.1

avalia a mobilização passiva do ombro; o item C2.2 refere-se à avaliação da mobilização passiva do cotovelo; o item C2.3 avalia a mobilização passiva da mão; o item C2.4 avalia a mobilização passiva da anca; o item C2.5 refere-se à mobilização passiva do joelho; e o item C2.6 refere-se à avaliação da mobilização passiva do tornozelo;

D. Equilíbrio e Flutuação: estes itens avaliam de que forma os indivíduos se comportam dentro de água. Este domínio é composto por 14 itens de avaliação: item D1 avalia se o indivíduo mantém a posição de decúbito dorsal/ventral sobre prancha/colchão; item D2 avalia se o indivíduo eleva o tronco e cabeça na posição de decúbito ventral sobre prancha/colchão; item D3 e D4 avaliam se o indivíduo mantém o equilíbrio na posição de decúbito ventral e dorsal, respetivamente; itens D5 e D6 referem-se ao facto do indivíduo manter o equilíbrio vertical com e sem apoio plantar; itens D7 e D8 relacionam-se com a mudança de posição de decúbito dorsal para decúbito ventral e vice-versa; item D9 está relacionado com a mudança de posição de decúbito dorsal/ventral para a posição vertical; item D10 avalia se o indivíduo consegue efetuar rotações verticais completas; item D11 avalia se o indivíduo consegue efetuar rotações completas; item D12 refere-se ao facto do indivíduo conseguir flutuar em posição de cogumelo; item D13 avalia se o indivíduo é capaz de flutuar em posição de decúbito dorsal; e o item D14 avalia a capacidade do indivíduo flutuar com turbulência;

E. Função Respiratória: após a avaliação do domínio A, este domínio procura verificar se o sujeito já adquiriu o novo esquema motor que a respiração no meio aquático exige. É composto por 11 itens de avaliação que irão determinar o nível em que o indivíduo se encontra no meio aquático, nomeadamente no que respeita ao à vontade que tem em colocar a água na cara. O item E1 avalia a capacidade que o indivíduo apresenta em realizar bolhas à superfície da água; item E2 refere-se ao facto do indivíduo consegui fazer bolhas na mão do terapeuta; item E3 avalia a capacidade do indivíduo soprar um objeto que esteja a flutuar na água; item E4 refere-se ao facto do indivíduo fechar os lábios quando coloca a cara na água; item E5 avalia de que forma o indivíduo coloca a cara na água; itens E6 e E7 estão relacionados com o facto de o indivíduo imergir na água em apneia e expirando o ar pela boca; item E8 refere-se à capacidade que o indivíduo tem de imergir expirando o ar pelo nariz; o item E9 avalia se o indivíduo abre os olhos quando imerge; item E10 avalia se o indivíduo abre os olhos quando mergulha sozinho; e o item E11 refere-se à capacidade que o indivíduo tem em apanhar objetos no fundo da piscina e/ou escadas;

F. Movimentos Ativos dentro de Água: estes itens implicam a análise do programa motor do indivíduo no meio aquático e a sua coordenação neuromotora. Para que

essa mesma análise seja possível é importante ter em conta os seus itens de avaliação: o item F1 avalia se o indivíduo anda dentro de água; o item F2 avalia se o indivíduo corre dentro de água; o item F3 está relacionado com a forma como movimenta os braços debaixo de água; o item F4 procura avaliar os deslizes em posição de decúbito dorsal com impulso na parede; o item F5 tem por objetivo avaliar os deslizes em posição de decúbito dorsal sem impulso na parede; os itens F6 e F7avaliam os deslizes em posição de decúbito ventral com e sem impulso na parede; os itens F8 e F9 referem-se à realização de pontapés à superfície da água, alternando os dois pés, em decúbito dorsal e ventral; os itens F10 e F11 refere se o indivíduo coordena, de forma rudimentar, os movimentos dos membros superiores com os movimentos dos membros inferiores, em decúbito dorsal e ventral; os itens F12 e F13 estão relacionados com o facto de o indivíduo executar um movimento propulsivo coordenado, em decúbito dorsal e ventral; e o item F14 refere-se ao facto do indivíduo deslocar-se debaixo de água;

G. Grau de Interação: refere-se ao relacionamento que o indivíduo tem com o técnico, com os pares e com os objetos. Este domínio subdivide-se em 3 itens (G1 – com o técnico; G2 – com os pares; e G3 – com os objetos), aos quais é possível avaliar cada um desses itens tendo em conta as tarefas propostas. No caso do item G1, é avaliado o facto de o indivíduo reconhecer, saber o nome, aceitar as sugestões/críticas/correções do Técnico, tal como partilhar conversas e opiniões com o Técnico. No item G2, o objetivo passa por avaliar se o indivíduo distingue bem as pessoas estranhas das que lhe são familiares; se demonstra consideração pelos sentimentos dos outros; se interage, partilha conversas e opiniões, participa em atividades com os pares; se espera pela sua vez e se apresenta um comportamento adequado nas diversas situações. No item G3 é possível avaliar o comportamento do indivíduo relativamente aos objetos em diversas situações de jogos (sejam eles exploratório, relacional, funcional/construtivo, simbólico, de regras, de competição e de equipa/cooperação).

No geral a cotação da escala é efetuada tendo em conta 3 fatores: Realização (composta pelo Sucesso e Insucesso), Nível de Ajuda (que se subdividem em 8 tipos de ajuda) e a Cotação (valores nominais que rondam os 4 pontos e o valor negativo de -1 ponto). No fator Sucesso encontram-se seis tipos de ajuda (Matias & Vieira, in press):

 Espontaneamente (ES) quando a tarefa é realizada de livre vontade por parte do indivíduo, sem qualquer instrução prévia; o indivíduo é considerado autónomo (vale 4

 Independentemente (IN) após a instrução relativa à tarefa, o indivíduo é capaz de a concretizar sem qualquer ajuda de outrem (vale 4 pontos);

 Ajuda Verbal (AV): para além de instrução inicial, há um reforço verbal em cada uma das fases da tarefa (vale 3 pontos);

 Ajuda Verbal com Demonstração (AV+) onde deve-se recorrer não só a um reforço verbal como ao reforço visual (demonstração - subentendendo-se a imitação – vale 2 pontos);

 Ajuda de Flutuadores (AFL) que são colocados no indivíduo para permitir maior liberdade de movimentos (vale 1 ponto); e

 Ajuda Física (AJ) recorrendo-se a uma modelação do movimento que pressupõe uma consciência corporal individual durante a realização do movimento (só possível com a interpretação e integração das várias informações tátiloquinestésicas – vale 1 ponto).

Relativamente ao fator Insucesso, podemos verificar que é composto por dois tipos (Matias & Vieira, in press):

 Passividade (PA) quando o indivíduo não consegue realizar a tarefa, devido a limitações funcionais ou intelectuais, parecendo não entender o que lhe é pedido (0 pontos); e

 Oposição (OP) quando o indivíduo recusa realizar a tarefa, mesmo com ajuda física (no grupo C, é importante ter em conta que esta oposição pode dever-se a razões funcionais limitativas e não tanto com a vontade – vale -1 ponto).

Por fim, no grupo G no fator Sucesso, 1 valor e no fator Insucesso, 0 (zero) valores. A cotação total corresponde ao somatório de cada grupo (A até G), colocando os resultados dos mesmos num gráfico para que seja possível verificar a evolução (ou não) dos indivíduos.

Até à data não se reportaram dados psicométricos sobre a escala.

Procedimentos

Ao longo de toda a investigação foram considerados os requisitos éticos inerentes a um estudo desta natureza. Inicialmente e para a aplicação das escalas, foi efetuado um primeiro contacto via correio eletrónico para a Diretora Técnica do Serviço Técnico de Atividades Ocupacionais da Região Autónoma da Madeira (RAM), para após a sua autorização se proceder ao contacto com o Diretor Regional de Educação da RAM para posterior aprovação. A todos os participantes e seus familiares foi entregue um consentimento informado onde se procedia à descrição dos objetivos do estudo e dos

procedimentos a aplicar (aplicação dos instrumentos, implementação de um programa de intervenção psicomotora, observação e recolha de imagens), clarificando que a qualquer momento do estudo poderiam desistir, garantindo-se a confidencialidade dos dados, bem como o anonimato dos mesmos.

Após obtida a autorização, e tendo-se recolhido os consentimentos informados assinados por todos os participantes, a aplicação das escalas decorreu da seguinte forma:

 a EPR (nos vários momentos de avaliação inicial/baseline, no início de janeiro, final em abril e final de maio) foi aplicada aos participantes com DID sob a forma de uma entrevista, onde o avaliador (i.e.: a investigadora) lia em voz alta as questões e cotava as respostas de acordo com o que cada participante dizia;  a parte da EPR relativa à resposta de terceiros (também nos vários momentos

contemplados para a avaliação) foi igualmente sob a forma de uma entrevista, onde o avaliador lia em voz alta as questões e cotava as respostas do técnico, de acordo com as suas referências e com o conhecimento que detinha do avaliado – é de se realçar que cada respondente já conhecia o participante há mais de 2 anos;

 a Ficha de Avaliação do Comportamento em Meio Aquático cujo objetivo passa por avaliar as competências dos participantes com DID em meio aquático, foi aplicada pelo responsável deste estudo nos mesmos três momentos anteriores;

 cada questionário demora aproximadamente cerca de 30 min para ser totalmente aplicado e respondido.

Todas as escalas foram aplicadas na Instituição, durante o horário em que havia disponibilidade por parte dos utentes, tal como havia sido acordado no contacto anterior. Após a aplicação das escalas e com base nos resultados obtidos procedeu- se ao planeamento do programa de intervenção psicomotora em meio aquático.