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Com a fala o professor : as representações e a produção de sentido sobre o turismo no currículo escolar

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE EXCELÊNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

DÉA VILELA JULIÃO

COM A FALA O PROFESSOR: AS REPRESENTAÇÕES E A PRODUÇÃO DE SENTIDO SOBRE O TURISMO NO CURRÍCULO ESCOLAR

BRASÍLIA/DF

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE EXCELÊNCIA EM TURISMO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM TURISMO

DÉA VILELA JULIÃO

COM A FALA O PROFESSOR: AS REPRESENTAÇÕES E A PRODUÇÃO DE SENTIDO SOBRE O TURISMO NO CURRÍCULO ESCOLAR

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Turismo do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestra em Turismo.

Orientadora: Profa. Dra. Marutschka Martini Moesch

BRASÍL/DF 2018

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Espaço reservado para a ficha catalográfica]

Ficha catalográfica elaborada automaticamente, com os dados fornecidos pela (a) autora

Julião, Déa Vilela

JJ94a Com a fala o professor: as representações e a produção de sentido sobre o turismo no currículo escolar / Déa Vilela Julião; orientador Marutschka Martini Moesch. -- Brasília, 2018.

108 p.

- - Dissertação (Mestrado - Mestrado Profissional em Turismo) Universidade de Brasília, 2018.

1. Turismo pedagógico. 2. Representações. 3. Currículo.4. Distrito Federal. I. Moesch, Marutschka Martini, orient. II. Título.

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DÉA VILELA JULIÃO

COM A FALA O PROFESSOR: AS REPRESENTAÇÕES E A PRODUÇÃO DE SENTIDO SOBRE O TURISMO NO CURRÍCULO ESCOLAR

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Turismo do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestra em Turismo.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________ Profa. Dra. Marutschka Martini Moesch (CET/UnB)

(Presidente)

_____________________________________________________________ Profa. Dra. Mirelle Barcos Nunes (IFRS)

(Membro efetivo externo)

______________________________________________________________ Prof. Dr. Biagio Maurício Avena (CET/UnB)

(Membro efetivo interno)

______________________________________________________________ Profa. Dr. Lana Magaly Pires (CET/UnB)

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Agradecimentos

Agradeço a Deus e os Orixás por me dar este presente, o Mestrado. Como também agradeço, aos meus pais, que já não se encontram nesse mundo, Jorge Anselmo Julião e Marlene Vilela Julião, por tudo que fizeram por mim, nesta vida, me apoiando e vibrando sempre pela minha vitória.

Gratidão aos meus amigos que estiveram ao meu lado, me apoiando em diferentes momentos, tanto na alegria ou na angústia. Pessoas queridas; Babalorixá Carlinhos da Oxum, Tatiana Modesto, Tatiana Tannús, Mariana, Alexandra, Camila Freitas, Amneres, Amara, Renata Lima, Rubens, Cíndia, Professora Neuza, Deínha, Dora, Adriano, Gorete, Jorge Luiz, Roberta Callaça, Filipe, Juliana.... Sou grata ao Clerismar pelo excelente trabalho que você faz com carinho e dedicação. Direta ou indiretamente vocês e outros fizeram parte desse momento e sou muito grata a todos (as).

Me sinto feliz por ter conhecido, na minha turma de mestrado, pessoas muito especiais.

Sou grata imensamente a Professora Doutora Marutschka por me aceitar, na reta final, como sua orientanda. Só agradecimento!!!!!

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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

DF – Distrito Federal

LDB - Diretrizes e Bases da Educação Brasileira OMT – Organização Mundial de Turismo

ONU – Organização das Nações Unidas PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais

SEEDF – Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal UnB – Universidade de Brasília

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RESUMO

O presente estudo buscou compreender quais são as representações sobre o Turismo do professor do ensino médio da Rede Pública do Distrito Federal, e como se constituem nas práticas pedagógicas do currículo escolar. Tendo em vista que os professores têm fundamental importância na mediação dos conhecimentos e na construção de novas metodologias, faz-se necessário que eles busquem em suas reflexões o que o turismo ensina, dentro dessa relação interdisciplinar entre turismo e educação. O que nos leva a questionar se o Turismo pode se apresentar como sendo uma nova alternativa para que, na aprendizagem, ocorra um elo entre teoria e prática curricular. Diante do exposto, esta pesquisa tem como questão norteadora: o turismo possibilita a aplicabilidade e a verificação dos conceitos trabalhados em sala, uma vez que são os componentes do ambiente da aprendizagem que dão origem à estimulação para o aluno? Para a compreensão de como o docente constrói suas representações acerca do turismo, faz-se necessário investigar como este se coloca e atua no espaço da sala de aula. Na busca de um caminho metodológico, alçou-se da teoria das representações sociais segundo Moscovici (1984). No percurso metodológico da pesquisa, a necessidade de entender as representações postas nos discursos dos professores nos levou a optarmos pela História Oral. A História Oral pode ser entendida como um método de pesquisa (histórico, antropológico, sociológico, dentre outros), que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram ou testemunharam acontecimentos, conjunturas, visões de mundo. As experiências de docência relatadas permitiram elencar as conquistas e dificuldades presentes no ensino dos conteúdos que são possíveis de ser acessados pelas práticas turísticas, que, por sua vez destacam-se pela interdisciplinaridade em construção. Assim, com a formação conectada a outros saberes, é possível que Turismo e Educação contribuam com a construção de uma cidadania.

Palavras-chave: turismo, turismo e educação, representação social, praticas

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ABSTRACT

The present study sought to understand which are the representations about Tourism of the high school teacher of the Public Network of the Federal District, and how they constitute the pedagogical practices of the school curriculum. Given that teachers have fundamental importance in the mediation of knowledge and in the construction of new methodologies, it is necessary that they seek in their reflections what tourism teaches, within this interdisciplinary relationship between tourism and education. This leads us to question whether Tourism can present itself as a new alternative so that, in learning, there is a link between theory and curricular practice. In view of the above, this research has as a guiding question: does tourism allow the applicability and verification of the concepts worked in the classroom, since the components of the learning environment are the ones that give rise to stimulation for the student? In order to understand how the teacher constructs his representations about tourism, it is necessary to investigate how this one places itself and acts in the space of the classroom. In the search for a methodological path, the theory of social representations according to Moscovici (1984) was the base. In the methodological course of the research, the need to understand the representations put in the teachers' discourses led us to opt for oral history. The Oral History can be understood as a research method (historical, anthropological, sociological, among others), that privileges the accomplishment of interviews with people who participated or witnessed events, conjunctures, visions of the world. The teaching experiences reported allowed us to highlight the achievements and difficulties present in the teaching of contents that are possible to be accessed by the tourist practices, which, in turn, stand out by the interdisciplinarity in construction. Thus, with the formation connected to other knowledge, it is possible that Tourism and Education contribute to the construction of a citizenship.

Keywords: tourism, tourism and education, social representation, tourism practices in the curriculum

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO I – TURISMO, CULTURA E IDENTIDADE: O ENCONTRO DE DESLOCAMENTOS EM CONSTRUÇÃO ... 15

1.1. Concepção de Turismo: história e perspectivas ... 15

1.2. Identidade e Cultura na perspectiva do turismo pedagógico falta definir o que é turismo pedagógico ... 22

1.3. Educação, Currículo e Turismo ... 30

1.4. As representações sociais entre cidadania e imaginário inspiradas no turismo ... 35

CAPÍTULO II – A TEORIA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL COMO METODOLOGIA NA CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ... 54

2.1.Trilha Metodológica: a construção do percurso ... 54

2.2. Representações sociais ... 59

2.3. Categorias interpretativas ... 67

2.3.1. Turismo Cidadão ... 68

2.3.2. Turismo Pedagógico: teoria e prática ... 69

2.2.3. Identidade ... 73

2.3.4. Cidadania... 74

2.3.5. Currículo e Educação... 75

2.3.6. Cultura ... 77

2.3.7. Imaginário ... 78

CAPÍTULO III – TURISMO, EDUCAÇÃO E CIDADANIA: A PRÁTICA NA SALA DE AULA ... 80

3.1. A educação para além da sala de aula ... 81

3.2. Práticas turísticas como concepção interdisciplinar do currículo no Ensino Médio ... 88

EVIDÊNCIAS FINAIS ... 95

REFERÊNCIAS ... 96

ANEXOS ...104

INTRODUÇÃO

A presente dissertação apresenta uma análise das representações do professor sobre o Turismo e práticas pedagógicas em Brasília/DF, com o fito de entender a produção de sentidos sobre esse fenômeno no currículo escolar. Buscou-se compreender de que maneira essas representações do professor

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sobre o Turismo podem contribuir para a construção do conhecimento. Diante disso, foi analisada a relação entre Turismo e Educação enquanto um espaço dialógico de ensino-aprendizagem para a cidadania.

Para tanto, esta análise teve como base os relatos de professores do Ensino Médio das escolas públicas de Brasília/DF, que vivenciam o processo de ensino-aprendizagem no cotidiano da sala de aula. Como esses mestres são os intercessores no espaço escolar, suas experiências de docência permitiram elencar as conquistas e dificuldades no ensino dos conteúdos que são possíveis de serem acessados pelas práticas turísticas.

Ao fazer essa investigação do trabalho do professor, que envolveu o que ele pensa sobre o Turismo e a educação, evidenciou-se a relação existente entre práticas pedagógicas e Turismo, sendo este um campo de conhecimento interdisciplinar em construção. Isso implica em dizer que é necessário o diálogo do Turismo com outras áreas de conhecimento, dentre elas: pedagogia, história, arte, geografia, sociologia, antropologia, ecologia, a depender do foco do ensino e do que o professor queira evidenciar em seu trabalho pedagógico. Uma visita guiada de alunos de uma escola a determinados espaços de Brasília – Catedral Metropolitana de Brasília ou a Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, por exemplo – requer do professor e dos educandos um mínimo de conhecimento sobre história, arte, cultura (no sentido antropológico); do professor, em específico, requer conhecimento que interlace práticas pedagógicas e turismo, de modo que ele possa trabalhar os sentidos e significados do patrimônio da cidade enquanto algo que fale da história, cultura, identidade, tradição de um povo, ou seja, de sua memória presente e materializada nos espaços turísticos. Por esse viés, a prática turística é apresentada aqui como um campo educativo, em especial, de educação para a cidadania.

Com esse propósito, por meio da pesquisa empírica, foi possível perceber como, na prática pedagógica, os professores trabalham a relação entre essas duas áreas, Turismo e Educação, como também apontar, a partir das narrativas dos professores, as principais causas que podem impossibilitar essa construção interdisciplinar.

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A motivação para a escolha desse tema de pesquisa está relacionada ao meu campo de atuação profissional, e também de minha própria história de vida. Cheguei em Brasília em 1980 e, desde então, adotei a capital como minha cidade natal. Amo o Planalto Central. Suas tesourinhas, pistas largas, sua arquitetura, cerrado, e, sobretudo, o céu. Agradeço imensamente aos meus pais (in memoriam), a oportunidade de termos vindo morar aqui.

Estudei toda minha vida em escolas públicas. Minhas melhores lembranças são delas. Foi na escola pública que tomei gosto pela leitura. A partir da atuação dos professores, com suas aulas criativas, pautadas em uma didática interessante, fui me construindo como leitora. Esses professores me deram a certeza de que eu seria professora algum dia.

Iniciei meu percurso na educação no ano de 1986, na Educação Infantil, em uma escola particular muito peculiar. O foco de todo o trabalho pedagógico era voltado para as artes. Sua filosofia de trabalho estava centrada na valorização do sujeito, com base na ação criativa e na liberdade de expressão. A pedagogia construída e reconstruída, por meio de pesquisas, baseada no Construtivismo de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999), era o que guiava o projeto político pedagógico da escola, à época. Os preceitos dessa teoria se apresentavam como uma nova possibilidade de perspectiva pedagógica a ser implementada no Brasil. A proposta era um currículo flexível que ia ao encontro das necessidades dos educandos.

A ideia era proporcionar uma interação ampla, uma linha pedagógica que fosse além da escrita, da leitura, das exatas. A perspectiva de ensino era baseada em uma abordagem que permitisse o sujeito entrar em contato com diversas manifestações culturais para além dos muros da escola. Desde 1986, na concepção de estudo do meio, já havíamos nos apropriado do turismo em nossas práticas pedagógicas, apesar de não usarmos essa denominação. Esta era uma ação intencional com a finalidade de ampliar distintas habilidades e seu leque de possibilidades de expressões nas diferentes manifestações das artes, do lúdico, do fazer, da descoberta e incríveis experiências. Essas práticas foram fundamentais no meu percurso, como educadora, possibilitando hoje, um recorte na perspectiva do professor do ensino médio e suas representações a respeito do Turismo e a Educação.

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Em 1994, ingressei na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), onde permaneço até os dias de hoje. Durante esses anos, atuei como professora e, algumas vezes, como coordenadora, assistente de direção e supervisora pedagógica. Trabalhei na Educação Infantil, do Ensino Fundamental – Séries Iniciais e na Alfabetização de Jovens e Adultos. Fui coordenadora do projeto do governo Escola Candanga. Participei, durante três anos, como professora do projeto e aluna em formação. O Projeto Filosofia na Escola foi uma parceria firmada entre os departamentos de Filosofia e Educação da UnB, coordenado pelo Prof. Dr. Walter Omar Kohan, entre 1997 a 2001. Este trabalho foi e continua sendo de grande importância na minha prática pedagógica.

Tais experiências me possibilitaram construir um percurso inovador, como também sistematizar minha prática docente, por meio dos conhecimentos adquiridos dentro e fora da Universidade de Brasília, no curso de Pedagogia.

A educação e cultura sempre fizeram parte da minha vida. Descobri que a minha experiência seria fundamental na construção do meu objeto de pesquisa. Assim, pensar essa relação entre turismo e educação delineou meu percurso na construção do estudo em tela. Ao entender que o turismo poderia ser trabalhado de forma interdisciplinar com a educação, busquei então delimitar o espaço onde a pesquisa de campo aconteceria. A primeira certeza era de que seria na escola pública, depois veio a intenção de trabalhar com professores do Ensino Médio, afinal este é um segmento no qual ainda não atuei, embora tenha trabalhado em escolas que atendiam esta fase da educação. A escolha em analisar as representações desses professores é para tentar compreender como eles ressignificam suas experiências na docência quando realizam o processo de ensinar pautado em passeios pedagógicos.

A visão aqui defendida parte do pressuposto de que esse professor, em alguns momentos, em seu percurso profissional, vivenciou práticas turísticas em espaços diversos. Essas vivências podem representar uma possibilidade para a reflexão que esse docente faz sobre a importância ou não da prática do turismo com intenção pedagógica. Nessas reflexões, é possível extrair suas representações sobre a prática turística e sua importância na construção do conhecimento no espaço da escola. Para fundamentar essa análise foram

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utilizados pensadores como Freire (1996,1979,1980), Gadotti (2008), Ferreira Junior (2006) e Saviani (1983), que respaldaram as teorias educacionais e concepção de currículo. Acerca da categoria Turismo, fez-se uso de Moesch (2000, 2004, 2015), Beni (1998), Molina (2000), Fuster (1974). E, para discutir cidadania, utilizou-se Demo (1992,1995), Gastal e Moesch (2007), Pinski (2005). No que se refere à noção de cultura, procurou-se embasamento teórico em Geertz (1978), Hall (1999), Manzini-Crovre (1996), Coelho (1997) Ianni (2000), Burns (2002). Na discussão sobre imagens e imaginários, o apoio teórico foi em Gastal (2005), Santana (2009), Maffesoli (2001,1988), e sobre identidades, usou-se Silva (2014, 2005), além de Hall, que já foi mencionado.

Tendo em vista que os professores têm fundamental importância na mediação dos conhecimentos e na construção de novas metodologias, a pesquisa incentivou, por meio de entrevistas, que eles buscassem em suas reflexões o que o turismo ensina, dentro dessa relação interdisciplinar entre turismo e educação. Tudo isso dentro do contexto da prática pedagógica, na apreensão das representações que os professores produzem sobre esse fenômeno que é o turismo no âmbito do ensino escolar. Por esse viés, problematiza-se se o Turismo pode se apresentar como sendo uma nova alternativa para que, na aprendizagem, ocorra um elo entre teoria e prática curricular.

Diante do exposto, esta pesquisa tem como questão norteadora: o turismo possibilita a aplicabilidade e a verificação dos conceitos trabalhados em sala, uma vez que são os componentes do ambiente da aprendizagem que dão origem à estimulação para o aluno?

Entende-se que o papel do professor, enquanto mediador do conhecimento, é de fundamental importância no processo de constituição do saber. Para a compreensão de como o docente constrói suas representações acerca do turismo, faz-se necessário investigar como o docente se coloca e atua no espaço da sala de aula. Na busca de um caminho metodológico, alçou-se da teoria das reprealçou-sentações sociais alçou-segundo Durkheim (1963), Alvaro e Garrido (2006) e Moscovici (1984).

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postas nos discursos dos professores nos levou a optarmos pela História Oral. A História Oral pode ser entendida como um método de pesquisa (histórico, antropológico, sociológico, dentre outros) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram ou testemunharam acontecimentos, conjunturas, visões de mundo.

Os resultados dessa trajetória investigativa estão registrados no

Capitulo I: Turismo, cultura e identidade: o encontro de deslocamentos em construção, que apresenta a discussão teórica sobre Turismo, Educação,

Cultura e transversalidades possíveis no currículo escolar.

O Capítulo II: A teoria da representação social como metodologia na

construção do objeto de estudo descreve o percurso metodológico e discute

as categorias que foram utilizadas para analisar o corpus empírico.

No Capítulo III: Turismo, Educação e Cidadania: a prática na sala de

aula, apresentam-se as análises das falas dos educadores entrevistados e suas representações sociais sobre o Turismo como prática educativa.

A pesquisa, em suas Evidências Finais, traz os resultados alcançados, bem como pontua as percepções observadas a partir do encontro entre as falas dos professores com todos os aspectos por eles abordados e a teoria que percorre toda dissertação. Esse diálogo permitiu algumas reflexões pessoais, que também são reveladas nesse momento.

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CAPITULO I

– TURISMO, CULTURA E IDENTIDADE: O

ENCONTRO DE DESLOCAMENTOS EM CONSTRUÇÃO

1.1. Concepção de Turismo: história e perspectivas

Ao longo do tempo, desde o seu surgimento, o turismo vem sendo interpretado sob diferentes concepções teóricas. Segundo Moesch (2002), o primeiro registro da palavra turismo remonta-se a 1800, conforme consta no Pequeno Dicionário de Inglês Oxford: “Turismo: A teoria e a prática de viajar, deslocar-se por prazer. Uso, depredação”.

A Sociedade das Nações1, em 1937, determina um critério estatístico para definir a categoria turista: “Toda a pessoa que viaja durante 24 horas ou mais por qualquer outro país distinto da sua residência habitual” (LESCZYCH, 1974, p. 17). Além dessas conceituações, foram elaboradas outras pela chamada “Escola Polonesa”, como a de Lesczych (1974, p. 25): “O movimento turístico é aquele no qual participam os que durante um certo tempo residem num certo lugar, como estrangeiros ou forasteiros e sem caráter lucrativo, oficial (de serviços) ou militar".

Mais tarde, outros estudos fora da Escola Berlinesa deram origem a outras conceituações, algumas “pobres”, outras com maior visão, mas todas enfatizam o sentido turístico.

Ressalta-se, nessas noções, os significados econômicos nos núcleos receptores, e não o interesse teórico de conhecimento do fenômeno, ou então a sua apreensão metodológica enquanto um objeto de conhecimento.

Para Fuster (1974, p. 27), depois da Segunda Guerra Mundial, com a proliferação das monografias sobre a temática, há uma qualificação em suas novas conceituações, como as dos suíços Hunziker e Krapf (apud Fuster,1974, p. 18), os quais, em 1942, abordavam que

1 “A Liga das Nações, ou Sociedade das Nações, criada ao término da Primeira Guerra

Mundial (1914-1918), com sede em Genebra, na Suíça, foi a primeira organização internacional de escopo universal em bases permanentes, voluntariamente integrada por Estados soberanos com o objetivo principal de instituir um sistema de segurança coletiva, promover a cooperação e assegurar a paz futura.” (CPDOC, [s. d.], f. 1).

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Turismo é o conjunto das relações e dos fenômenos produzidos pelo deslocamento e permanência de pessoas fora de seu local de domicílio, sempre que ditos deslocamentos e permanência não estejam motivados por uma atividade lucrativa.

Para Burkart e Medlik (apud Fuster,1974, p. 29), o Turismo é uma amálgama de fenômenos e relações, fenômenos estes que surgem por causa do movimento de pessoas e sua permanência em vários destinos. Há um elemento dinâmico – a viagem – e um elemento estático – a estada. A viagem e a estada acontecem fora do lugar de residência, percurso no qual as pessoas desenvolvem atividades diferentes de seu cotidiano. O movimento de pessoas também é particular, por ser temporário – o turista sempre pensa em voltar para casa em pouco tempo. A visita ao local não visa ao lucro, portanto, as motivações devem obedecer a razões espirituais ou vitais, mais próprias e íntimas, como o lazer.

Os autores mais contemporâneos, influenciados pelo crescimento vertiginoso do Turismo e suas manifestações multifacetadas, ampliam suas conceituações, a partir de suas concepções empiristas. Dentre eles, Fuster (1974, p. 29), para quem o:

Turismo é, de um lado, conjunto de turistas; de outro, os fenômenos e as relações que esta massa produz em consequências de suas viagens. Turismo é todo o equipamento receptivo de hotéis, agências de viagens, transportes, espetáculos, guias-intérpretes que o núcleo deve habilitar, para atender as correntes (…). Turismo é o conjunto das organizações privadas ou públicas que surgem, para fomentar a infra-estrutura e a expansão do núcleo, as campanhas de propaganda (…). Também são os efeitos negativos ou positivos que se produzem nas populações receptoras.

A noção de Turismo aceita internacionalmente é a da Organização Mundial de Turismo (OMT, 1992, p. 19), que a conceitua enquanto uma “Soma de relações e de serviços resultantes de um câmbio de residência temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou profissionais”, que sinaliza uma conceituação simplificada, enfatizando o volume aparente de um fenômeno de dimensões qualitativas e quantitativas muito complexas. Embora ainda alguns círculos, principalmente leigos, vejam o Turismo apenas como “a

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indústria de viagens e prazer”, trata-se de um fenômeno bem mais complexo do que um simples negócio ou comércio.

No campo idealista, temos a conceituação de De La Torre (1994,19), o qual pondera que:

O Turismo é um fenômeno social, que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural.

Para Moesch (2000), o Turismo só surgiu a partir do século XX, posteriormente à Segunda Guerra Mundial, quando ele se torna uma prática de lazer massiva. Nesse sentido, esse fenômeno nasceu e cresceu no contexto do desenvolvimento industrial, seguindo o ritmo do pensamento ocidental capitalista, que dividiu a vida útil do ser humano entre tempo de trabalho e tempo de lazer. Sendo assim, muitas pessoas começaram a buscar nos destinos turísticos uma fonte de lazer e de prazer, e até mesmo de descanso, tendo suas férias, muitas vezes, reservadas para esse fim. Dada a oferta e a procura, os destinos turísticos tornaram-se produtos do mercado, campo para o qual muitas empresas lançaram e lançam investimentos, devido a concepção positivista de progresso e de ciência que coaduna com a perspectiva capitalista de sociedade, cuja motivação maior das empresas é a de lucro. Sendo assim, o turismo foi desenvolvido e expandido com a globalização e facilitado enquanto produto de lazer com a expansão das tecnologias de mercado, com a abertura de empresas turísticas, empresas de viagens, rede de hotéis e similares.

A cada avanço desse sistema produtivo, paralelamente há um avanço do turismo, principalmente pela transferência de tecnologias como na área dos transportes e no consumo de bens como entretenimento e lazer. Nos anos 50 do século XX, a viagem internacional foi ficando cada vez mais acessível a uma porcentagem maior da população devido a diferentes fatores, como o aparecimento do avião de passageiros depois da Segunda Guerra Mundial, o baixo preço do petróleo, a maior renda das famílias, a aparição das férias

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pagas e o aumento do tempo livre de que dispõe a população dos países industrializados, segundo a OMT (1992).

O turismo é um fenômeno que cresce anualmente em todo o mundo. Ainda, em alguns círculos, principalmente entre leigos, o Turismo é considerado apenas uma “indústria de viagens de prazer”. Esta concepção simplificadora ocorre devido à expansão do capitalismo concorrencial, num mercado globalizado, favorecendo a oferta estandardizada, baseada em pacotes turísticos, que permitem atender a uma demanda crescente de viagens de forma massificada. Porém, o turismo é bem mais complexo, nele estão contidas redes diversas que extrapolam uma definição simplificadora das suas complexidades situadas nos campos da economia, da política, da cultura e do social. O turismo, além de movimentar capital e alimentar o lucro de inúmeras empresas – sejam elas redes de hotéis, empresas de viagens, rede de restaurantes, dentre várias outras –, movimenta pessoas, colocando-as em contato com outras culturas e, simultaneamente a isso, com outros saberes, tradições, ambientes naturais, o que pode proporcionar a circulação de conhecimento, se o turismo tiver uma orientação de aprendizado no sentido do crescimento humano.

Enquanto um produto do capitalismo, os destinos turísticos têm sido explorados pelas grandes empresas que, na busca somente do lucro, não têm se preocupado com os impactos ambientais, sociais, econômicos e culturais que isso tem acarretado. Por conta dessas demandas, outros olhares, a exemplo das ciências humanas e sociais, têm sido lançados sobre o turismo, cuja preocupação é a de investigar esses impactos e humanizar esse campo, para que haja respeito à diversidade cultural e ambiental nos espaços visitados e explorados pelos turistas e pelas empresas de turismo. Visto que muitos dos destinos turísticos são espaços compostos pelo patrimônio histórico e cultural, paisagens naturais, lugares exóticos, museus, dentre outros, que preservam a identidade e memória de grupos e comunidades, o que exige tanto do turista quanto das empresas consciência cidadã, e não somente a busca do consumo e do lucro.

O turismo não constitui um mundo separado que obedece a leis próprias. Ele é o desdobramento e, simultaneamente, um componente do

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sistema social, do capitalismo, ele compõe a vida de grande parte dos seres humanos, sendo uma prática social da civilização moderna, dos sistemas culturais. Além de ser influenciado pelas culturas, ele também as influencia.

Nos dias de hoje, a necessidade de viajar é sobretudo motivada pela rotina do cotidiano e a má qualidade de vida existente nas cidades. As pessoas partem porque não se sentem à vontade onde trabalham e onde moram. Elas sentem uma necessidade urgente de se desfazer temporariamente do fardo das condições habituais de trabalho e de moradia, a fim de poderem estar recuperadas para retomá-las mais tarde. Cada vez mais, o seu trabalho é mecanizado, funcionalizado e determinado fora de suas vontades. Elas ressentem no seu ser a monotonia do cotidiano, a racionalidade fria das usinas, dos escritórios, dos prédios de habitação e da infraestrutura rodoviária, o empobrecimento das relações humanas, o recalque dos sentimentos, a degradação da natureza e a perda do natural. Para um grande número de pessoas, essas realidades constituem as maiores deficiências do cotidiano, em que a existência parece reduzida na sua mais simples expressão. Elas provocam o estresse, o esgotamento físico e psíquico, o vazio interior e o tédio. Como compensação a tudo isso, as pessoas procuram no turismo uma possibilidade de lazer, de descanso, para muitos, uma possibilidade de aprendizado no contato com outras culturas ou com as próprias produções culturais que foram deixadas pelos antepassados e que estão presentes ainda hoje nos museus e nos lugares tombados como patrimônio histórico e cultural. O turismo, nesse sentido, coloca diferentes culturas em contato, possibilitando ao turista conhecer o outro, construindo alteridade.

Se o turismo é essa possibilidade de intercâmbio de culturas e espaço de novas aprendizagens, é necessário que o turismo seja pensado para além do viés econômico. Assim, alinhá-lo a uma prática pedagógica humanista e humanizadora se torna mister para que as diferentes culturas possam estabelecer relações de respeito e diálogos de saberes. Extrapolar os limites do turismo enquanto um empreendimento capitalista no qual se visa apenas ganhos econômicos, para um turismo cujo objetivo seja instituir experiências de base comunitária é pressupor um fenômeno como possibilitador do empoderamento dos sujeitos que habitam os destinos. Portanto, é estabelecer

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um turismo que tem como princípio o crescimento humano e o aprendizado por meio do intercâmbio de experiências desdobrado pelo contato entre as diferenças.

O turismo visto com um olhar mais humano auxilia na compreensão de que nem sempre o desenvolvimento humano implica em equidade social, em justiça social. Isso porque o turismo pressupõe relações sociais em seu bojo que, por mais que tenham um viés de consumo, também contempla realizações humanas.

Atentar-se e praticar, de certo modo, um turismo cidadão possibilita o que Moesch (2002) narra como a necessidade de intervir, de conferir novas relações e códigos segundo suas identidades, deixando para trás códigos produzidos e distribuídos, tais como: nativo/visitante, dominador/dominado. Tais códigos pré-determinados reforçam a suposta superioridade de um povo em detrimento de outros. Trata-se, assim, não apenas de considerar a beleza do território visitado, mas a identidade cultural construída naquela comunidade, suas tradições, seu modo de viver e ver o mundo (MOESCH, 2002, p. 14).

Segundo Molina (2000), o esforço por conceituar o turismo não é recente, pois já há um entendimento construído do turismo a partir de um modelo conceitual. Quando se tem mais evidente as possibilidades desse campo conceitual, cria-se uma capacidade maior e mais profunda para desenhar e operar instrumentos metodológicos para pesquisa, planejamento e projetos geradores de receitas. Nessa ordem de pensamento, ao se instrumentalizar o turismo como uma área de conhecimento, isso permite políticas de desenvolvimento de práticas turísticas que podem beneficiar financeiramente ou não os indivíduos e as comunidades.

O turismo, por ser um fenômeno de caráter humano, pois são os homens que se deslocam e não as mercadorias, implica no esforço de uma argumentação sistemática dessa realidade. Basta que se pense na série importante de inter-relações humanas que derivam do comportamento consumidor-turista com os grupos de habitantes do local de férias, enfim, todo o complicado processo de identificação do turista com o grupo ideal ou efetivo que determina a escolha da localidade de destino (BENI,1983, p. 28). Para

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tanto, há toda uma indústria de marketing que produz significados sobre os destinos turísticos, colocando-os como um produto desejado pelas massas. As empresas, cujo objetivo é o lucro, trabalham nesse sentido, de transformar os bens turísticos em produtos desejados pelos turistas. Sendo assim, os destinos turísticos, como ambientes naturais, bens tombados como patrimônio histórico e cultural, museus, comunidades exóticas acabam sendo objetificados e explorados pelo mercado como um produto. À contrapelo dessa perspectiva objetificadora, muitos intelectuais têm se preocupado com o aspecto humanizador e cidadão que pode proporcionar o turismo.

Para além do entretenimento, esse fenômeno pode também trazer, conhecimento, experiência, crescimento humano, aprendizado, quando trabalhado como um campo educativo, no desenvolvimento da cidadania, do respeito às diferenças, na promoção dos direitos humanos de comunidades que têm seu patrimônio visitado pelos turistas. Para tanto, o passeio pedagógico é uma excelente ferramenta nesse processo, especialmente quando trabalhado numa perspectiva multidisciplinar. Para que haja impacto social positivo, a visita a um museu, a uma cidade tombada como patrimônio, requer um mínimo de conhecimento de história, arte, patrimônio e outros dos atores envolvidos com o turismo, visto que tais locais guardam a memória, a história e a identidade de comunidades e grupos sociais. As ressonâncias da experiência pretérita estão presentes ali naqueles espaços e locais visitados, são fragmentos que podem ser usados no ensino aprendizagem da história e cultura dos povos.

Para esta pesquisa, adotou-se a perspectiva de turismo em seu sentido mais humano, conforme ponderado por Moesch:

(...) o turismo é uma prática social, ou melhor, um campo de práticas histórico-sociais, que pressupõem o deslocamento dos sujeitos, em tempos e espaços, produzidos de forma objetiva, possibilitador de afastamentos simbólicos do cotidiano, coberto de subjetividades, portanto explicitadores de uma nova estética diante da busca do prazer (2004, p. 465).

Este trabalho tenta alcançar essa dimensão maior do turismo, tendo em vista que enxerga sua extensão para além da característica de geração de

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empregos, aumento de divisas, impacto em lucros e volume industrial, conseguindo jogar luz na fisionomia social desse turismo, na vontade e relação do sujeito com o fenômeno, dentre outras questões humanas que o envolvem.

No livro Planejamento Integral do Turismo – um enfoque para América Latina, Molina e Rodriguez (2001) evidenciam que as explicações de ordem econômica foram importantes na teoria do Turismo, porém elas não dão mais conta da pluralidade do fenômeno e, portanto, as avaliações de caráter cultural são as mais abarcantes e completas.

(...) o turismo atual deve ser considerado basicamente como produto da cultura, no sentido amplo deste termo. Por isso, as explicações de caráter econômico que são utilizadas para compreender a transcendência do turismo são, evidentemente, insuficientes, ainda que significativas, porque não contemplam e tampouco consideram a diversidade de dimensões do fenômeno (MOLINA e RODRIGUEZ, 2001, p. 9).

Dissertar a respeito do turismo sob o olhar cultural é trabalho que vai além da preocupação em se efetivar o seu entendimento, mas também de dialogar com outras áreas tradicionais do conhecimento, tais como a História, Geografia, Artes, Ciências, Biologia, dentre outras. Nessa perspectiva, foi elencado o Turismo como fonte para um olhar ampliado na percepção de mundo do professor e seus educandos, na tentativa de construir novos conhecimentos a serem agregados em sua formação básica.

O turismo se constitui em um fenômeno sociocultural de profundo valor simbólico para sujeitos que o praticam. Simbólico porque as práticas realizadas, os produtos e serviços envolvidos significariam menos pelo seu valor venal ou valor de troca, e mais pelo seu valor de uso e pelo seu valor afetivo.

1.2. Identidade e Cultura na perspectiva do turismo pedagógico

Neste trabalho, o turismo e sua interface com a educação, na perspectiva do passeio pedagógico, serão compreendidos dentro da dimensão da cultura proposta por Geertz (1978). Para ele, a cultura é uma teia de significados dotada de sentidos, construída e constantemente reconstruída pelo

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ser humano, e este encontra-se amarrado por ela. Percebe-se, portanto, que para o autor, o conceito de cultura não é estático, está sempre em movimento. Não existe um mesmo olhar sob um mesmo objeto e as análises nunca são completas, por mais que sejam profundas, tendo em vista que a interpretação é um processo sempre em construção. E, por isso, nem sempre o que serve para descrever uma cultura vai servir para descrever outra cultura.

O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise: portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, á procura do significado. É justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície (GEERTZ, 1978, p.15).

Deve-se considerar, portanto, para o conceito de cultura as tradições, a história, o patrimônio, os saberes e fazeres repassados pelas gerações, os conhecimentos produzidos no campo da ciência, a literatura, a arte, as representações, dentre outros.

A cultura é, nesse sentido, um sistema simbólico de inscrição de sentidos sobre a realidade. Portanto, por esse viés, os próprios significados que o ser humano constrói sobre a natureza, os bens materiais e imateriais, enfim, sobre a realidade que o cerca, é cultural. Os sentidos construídos sobre o turismo enquanto prática é também, nessa perspectiva, produzido nessa teia de significados.

Por esse viés, podemos afirmar que tudo aquilo que é socialmente construído pelo ser humano e dotado de significados é cultura, incluindo a experiência socialmente apreendida, instituições sociais, ciências, arte, os processos de fluxos percorridos pelos turistas. Cultura é todo o complexo que inclui conhecimento, crença, arte, lei moral, costumes e quaisquer outras capacidades e habilidades adquiridas pelos membros de uma sociedade (TYLOR, 1924). Para nós, o fato de a cultura poder ser apreendida e adquirida pela aprendizagem indica um processo de interação entre pessoas e como essas aprendem umas com as outras.

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Ela promove a ideia de que a aprendizagem pode ser acumulada, assimilada e passada adiante por uma gama de tradições orais e escritas. A inferência a ser extraída aqui é que cultura é observada tanto através das relações sociais quanto dos artefatos materiais. Ela consiste em padrões de comportamento, conhecimento e valores que foram adquiridos e transmitidos entre gerações (BURNS, 2002, p. 75).

Trabalhar a relação entre turismo e educação requer do professor e dos demais atores envolvidos com o turismo pedagógico conhecimento sobre cultura, visto que os destinos turísticos, quando apropriados pelo educador em sua prática pedagógica, são campos de ensino aprendizagem, pois propicia o contato com a história, a arte, a natureza, as tradições presentes nos espaços citadinos, nos espaços rurais e no patrimônio ecológico, dando a conhecer as diferentes identidades do passado e do presente.

Acerca do turismo pedagógico ou turismo educacional, é preciso dizer que ele atua no contexto das experiências pedagógicas, na expectativa, no intuito de que tais vivências tenham um impacto positivo no aprendizado, não só para o aluno como também para o professor. De acordo com Scremin e Junqueira (2012), é importante que haja prazer nesse processo do conhecimento. Os autores analisam o “Aprendizado diferenciado: Turismo pedagógico no âmbito escolar”. Para eles

O ensino não deve ser aplicado por partes, mas sim desenvolvendo uma sequência. Desta forma, surgiu o turismo educacional ou pedagógico, como uma metodologia inovadora interligando a teoria à prática, dando a oportunidade dos indivíduos conhecerem e explorarem o espaço, com uma integração multidisciplinar. O mesmo poderá ser trabalhado com projetos adaptando os níveis de escolaridade dos discentes. Este envolve diferentes profissionais (o turismólogo e o pedagogo) que trabalham em conjunto buscando que novo método seja desenvolvido como conhecimentos diferenciados. (página 25)

Esse sentido do turismo e as demais questões centrais da discussão que permeia seu encontro com a cultura dizem respeito ao percurso e aos modos complexos pelos quais o turismo ingressa e se torna parte de um processo de significação e apropriação simbólica: “compreender as relações entre os sistemas turísticos e a cultura pode ajudar a evitar ou minimizar impactos negativos sobre a cultura anfitriã, que ocorrem como consequência

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da recepção de turistas” (BURNS, 2002, p. 78). Significação simbólica aqui é uma referência à forma como os objetos e ações dentro de qualquer sociedade podem receber um significado mais profundo. Nesse contexto, é possível perceber que o turismo pedagógico influencia e é influenciado pela cultura, ambos estão interligados.

A cultura é sempre dinâmica, porque produzida por meio do intercâmbio de experiências socialmente compartilhadas, onde as identidades são construídas e significadas. Segundo Stuart Hall (2006), as identidades são construídas por meio de processos de identificação e de pertencimento que se dá em determinadas culturas, na relação que estabelecem com os aspectos étnicos, raciais, linguísticos, religiosos, nacionais, dentre outros, dos quais os grupos e sociedades se sentem parte.

O autor entende que as condições atuais da sociedade estão “fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais” (HALL, 2006, p. 9). Tais transformações alteram as identidades pessoais e influenciam a ideia de sujeito integrado que temos de nós próprios: “Esta perda de sentido de si estável é chamada, algumas vezes, de duplo deslocamento ou descentração do sujeito” (HALL, 2006, p. 9).

Esse duplo deslocamento, que corresponde à descentração dos indivíduos, tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos, é o que resulta em “crise de identidade”. Hall cita o crítico cultural Kobena Mercer, para quem “a identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza” (MERCER, 1990, p. 43).

Segundo Hall (2006), há três diferentes concepções de identidade que se relacionam às visões de sujeito ao longo da história.

A primeira é denominada identidade do sujeito do Iluminismo, que expressa uma visão individualista de sujeito, caracterizado pela centralidade e unificação, em que prevalece a capacidade de razão e de consciência. Assim, entende-se o sujeito como portador de um núcleo interior que emerge no

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nascimento e prevalece ao longo de todo seu desenvolvimento, de forma contínua e idêntica.

De acordo com a segunda visão apontada pelo autor, que é a identidade do sujeito sociológico, considera a complexidade do mundo moderno e reconhece que esse núcleo interior do sujeito é constituído na relação com outras pessoas, cujo papel é de mediação da cultura. Nessa visão, que se transformou na concepção clássica de sujeito na Sociologia, o sujeito se constitui na interação com a sociedade, em um diálogo contínuo com os mundos interno e externo. Ainda, permanece o núcleo interior, mas este é constituído pelo social, ao mesmo tempo em que o constitui. Assim, o sujeito é, a um só tempo, individual e social; é parte e é todo.

Por último, na concepção de identidade do sujeito pós-moderno, o que não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente, Hall (2006) afirma que é formada e transformada continuamente, pois sofre a influência das formas como é representada ou interpretada nos e pelos diferentes sistemas culturais de que toma parte.

A visão de sujeito assume contornos históricos e não biológicos, e o sujeito adere a identidades diversas em diferentes contextos, que são, via de regra, contraditórias, impulsionando suas ações em inúmeras direções, de modo que suas identificações são continuamente deslocadas. Frente a multiplicidade de significações e representações sobre o que é o homem na pós-modernidade, o sujeito se confronta com inúmeras e cambiantes identidades possíveis de se identificar, mas sempre de forma temporária. Logo, o sujeito pós-moderno se caracteriza pela mudança, pela diferença, pela inconstância, e as identidades permanecem abertas.

Apesar dessa visão de sujeito soar como perturbadora visto seu caráter de incerteza e imprevisibilidade resultante do deslocamento constante, segundo Hall (2006), ela tem características positivas, pois se, de um lado, desestabiliza identidades estáveis do passado, de outro, abre-se a possibilidade de desenvolvimento de novos sujeitos.

Foram muitos os fatores e aspectos que influenciaram essa mudança de entendimento do sujeito ao longo da história e que continuam a provocar

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transformações no momento atual, em que adventos como a globalização imprimem uma nova dimensão temporal e espacial na vida dos sujeitos.

Para Hall (2006), identidades correspondentes a um determinado mundo social estão em declínio, visto que a sociedade não pode mais ser vista como determinada, mas em contínua mutação e movimento, fazendo com que novas identidades surjam continuamente, em um processo de fragmentação do indivíduo moderno. Assim, assinala que ocorreria uma mudança no conceito de identidade e de sujeito, já que as identidades modernas estão sendo “descentradas”, ou seja, deslocadas e fragmentadas e, como consequência, não é possível oferecer afirmações conclusivas sobre que é identidade, visto tratar-se de um aspecto complexo, que envolve múltiplos fatores.

O autor também destaca que as sociedades modernas têm como característica a mudança constante, rápida e permanente, o que se constitui como principal diferença das sociedades tradicionais. Assim, a modernidade tardia não se define somente como experiência de convivência com a mudança rápida, abrangente e contínua, mas como uma forma altamente reflexiva de vida, em que as informações promovem uma constante avaliação e transformação das práticas sociais e alteram constitutivamente suas características e, por conseguinte, as identidades em relação. Em síntese, para esse autor, identidade, sociedade e cultura não se separam.

O turismo, enquanto prática, vem sendo constituído nesse contexto da sociedade pós-moderna, e tem como desdobramento a mudança subjetiva do sujeito turista que, quando em contato com o lugar de destino, vivencia novas experiências capazes de ressignificar sua vida e a realidade à sua volta. Para Gastal e Moesch (2007),

(...) o turismo envolveria processos de estranhamento, ou seja, o turista, em seus deslocamentos, ao se defrontar com o novo e o inesperado, vivenciaria processos de mobilização subjetiva que o levariam a parar e a re-olhar, a repensar, a reavaliar, a ressignificar não só a situação, o ambiente, as práticas vivenciadas naquele momento e naquele lugar, mas muitas das suas experiências passadas.

Nessa perspectiva, o olhar construído pelo turista é um olhar de produção de sentidos, tecido nessa teia de significados que é a cultura. Ao

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visitar o lugar de origem, constrói imagens, representações sobre as paisagens, os grupos sociais, a diversidade étnica, a depender do espaço visitado. O turismo é, nesse sentido, um espaço de construção de conhecimento, de saberes, que pode ser apropriado pelo professor por meio de práticas pedagógicas, orientadas para o desenvolvimento da cidadania junto aos seus alunos.

O professor se constitui e é constituído nesse contexto, tendo em vista que abriga esse tripé apontado pelo sociólogo. A docência objeto desta pesquisa atua de forma a congregar aspectos de sua própria identidade, não reprimindo as questões culturais e sociais imbricadas nessa constante construção de sua identidade. A fragmentação, no caso do professor, também atua nos três referenciais, ou seja, há cultura, sociedade e, consequentemente, identidade fragmentadas.

Segundo Gastal & Moesch (2007), vivenciar e testemunhar significariam estar em espaços e tempos perpassados pela experiência sensorial direta nos seus cheiros, sabores, cores e texturas, mas também o entregar-se a experiências simbólicas que envolvam a carga de entrega pessoal e a subjetividade afetiva com que cada um mergulha nessas vivências. Experiências simbólicas construídas pelos signos e significados da cultura a qual os sujeitos estão imersos seja em seu cotidiano ou nos momentos da experimentação turística.

O sujeito que educa está interpretando o mundo a partir de seu contexto sociocultural, portanto não está dissociado do que é, como participante de um grupo, classe, sociedade as quais estão constituídas pela cultura que tece sua identidade. Educar é um ato cultural, portanto educar pelas práticas culturais é uma forma de possibilitar significados aos educandos com seu meio. Portanto, ressignificar a concepção de cultura em nossa investigação é fundamental.

Cuche (1999), sociólogo e antropólogo francês, define a cultura nos seguintes termos:

(...) a noção de cultura é inerente à reflexão das ciências sociais. Ela é necessária, de certa maneira, para pensar a unidade da humanidade na diversidade além dos termos biológicos. Ela parece fornecer a resposta mais satisfatória à questão da diferença entre os

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povos (CUCHE, 1999, p. 09).

Assim, para o autor, a cultura refere-se à capacidade de o homem adaptar-se ao seu meio, mas também adaptar esse meio ao próprio homem; em suma, "a cultura torna possível a transformação da natureza" (CUCHE, 1999, p. 10), tornando-se um instrumento contra as explicações naturalizantes dos comportamentos humanos. E o turismo, atuando conjuntamente nesse contexto e inserido no âmbito da educação, pode provocar algumas rupturas no sujeito que a pratica como registrou-se nas falas dos entrevistados.

Desse modo, pode-se dizer que "nada é puramente natural no homem" (CUCHE, 1999, p. 11), já que mesmo as funções humanas ligadas às suas necessidades fisiológicas são informadas pela cultura. Na busca por reconstituir a gênese da noção de cultura, o autor se reporta ao século XVIII francês, época em que a palavra cultura adquire seu sentido moderno, referindo-se, naquele contexto, tanto à "educação do espírito" quanto à "civilização". Vale ressaltar que o aspecto cultural está engendrado no processo turístico, bem como no seu encadeamento com a educação. As pessoas, quando se deslocam, levam consigo uma “bagagem” cultural própria, singular e subjetiva.

É na mobilidade, no deslocamento das pessoas, que os contatos culturais são constantes e dos mais diversos, sendo isso a essência do fenômeno turístico. “Cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não é estanque ou estável. É mutável e se vale das mais variadas formas de expressão humana” (TRIGO, 2000, p. 50).

Porém, é preciso salientar que não é um privilégio do turismo a promoção positiva dos encontros, em que pese a importância desse contexto para a pesquisa. Há alguns contrapontos nesse sentido, como ,por exemplo, o que aponta a Organização Mundial do Turismo (OMT), ao dizer que o fenômeno tem sido criticado pelos problemas socioculturais que provoca, especialmente nas comunidades menores e tradicionais. Entretanto, apesar de o turismo gerar transformações irreversíveis, há que se reconhecer que todos os novos tipos de atividades trazem consequências, o que inclui a exposição a influências externas, tais como os meios de comunicação modernos, jornais,

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revistas, televisão, rádio e internet (OMT, 1993).

A relação entre o turismo e a identidade cultural das comunidades receptoras tem sido um tema bastante controverso na academia. Alguns autores defendem a ideia de que o turismo como a “atividade turística” contribui para a “perda” da identidade local, outros revelam que o turismo, como fenômeno social, contribui para o fortalecimento das referências identitárias. Essa pesquisa soma-se a segunda concepção, qual seja, de que o turismo, em seu aspecto social, auxilia no protagonismo identitário, dentre outros motivos por permitir a inter-relação com a educação ao mesmo tempo em que ambos interagem com a cultura.

Portanto, na contemporaneidade, a mobilidade e o dinamismo fazem parte do processo cultural. Tendo em vista que a identidade é um processo contínuo, que está sempre em construção, sugere-se a abolição do termo “perda de identidade cultural”. As referências identitárias são construídas e desconstruídas num processo dialético, que faz com que não ocorra uma perda, mas sim, uma transformação de identificações no rotineiro contato com o outro e com as mais diversas influências externas. Essa ressignificação pode ser percebida, inclusive, no ambiente escolar.

Do ponto de vista dos núcleos receptores, sem dúvida, as culturas não são estáticas, e a identidade dos povos e das pessoas muda ao longo do tempo. Há que se concordar que manter a identidade local é tentar impedir o processo normal pelo qual pessoas e sociedades evoluem (BARRETTO, 2001, p. 48). A proteção obstinada de determinados traços culturais que afetam o conjunto dos grupos, cujos membros compartilham subculturas ou atributos culturais específicos, produz-se a partir do momento em que esta é apropriada por instituições, transformando-a em “sua”, autorreproduzindo e normatizando a mesma, estabelecendo campanhas mais ou menos claras, mais ou menos encobertas, com um único objetivo de defesa diante da mudança, da manutenção das semelhanças e diferenças estabelecidas” (SANTANA, 2009, p.72).

Já a convivência se colocaria porque o sujeito turístico consome o turismo através de um processo tribal, de comunhão, de re-ligação com o outro que é diferente de si. O valor simbólico deste fenômeno reproduz-se cada vez

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que os turistas comungam destes sentimentos, reproduzidos pela carga cultural. (GASTAL e MOESCH, 2007)

1.3. Educação, Currículo e Turismo

O Turismo Pedagógico, como prática turística proposta pelo professor, em uma abordagem sociocultural deve privilegiar nos processos de deslocamentos dos alunos o momento do encontro cultural e das relações sociais existentes nesse contato. Na medida em que a prática turística provoca um impacto, uma transformação, um estranhamento, onde diferentes culturas se relacionam, turistas e residentes vivenciam a alteridade, visto que ambos têm, nessa relação, contato com o desconhecido. No espaço da escola essa prática também é este lugar da alteridade, pois o encontro se torna uma ação cotidiana no ato de ensinar e aprender.

O turismo pedagógico surgiu com o Grand Tour (viagem de estudos) na Inglaterra, no século XVI. Para que os jovens aristocratas britânicos ingressassem em uma carreira na política, no governo ou no serviço diplomático, eles aperfeiçoavam seus estudos realizando viagens com média duração de três anos pelo continente europeu, acompanhados de seus tutores. O Grand Tour europeu tinha o seguinte roteiro:

Iniciava pela Holanda, passando depois a Bélgica e Paris de onde os turistas passavam ao sudeste francês e daí a Sevilha, via Madri e Lisboa. A etapa seguinte se caracterizava pelos deslocamentos por pontos importantes da França não contemplados na etapa anterior, pela Suíça pela Itália e pela velha Grécia. Conhecidos os pontos remanescentes da riqueza da civilização helênica, os nobres cultos subiam o Danúbio, desde Viena, atingido Munique e, passando através da Alemanha, ao longo do Reno. Depois, exaustos de tanto vagar, estudar e divertir-se, discípulos e mestres retornavam à Inglaterra, via Bremen e Hamburgo. Quando o roteiro europeu passou a ser familiar à nobreza e à aristocracia, as atenções dos cidadãos da alta sociedade passaram-se a voltar-se aos que chegavam de viagem ás Américas, às Índias Orientais, ao Extremo Oriente, ao Egito e às áreas portuárias da África do Norte. Os mais esnobes, no entanto, eram os poucos que haviam estado no Rio de Janeiro ou Colônia do Cabo (ANDRADE, 2004, p. 9).

As viagens eram de um valor intenso para esses povos que as realizavam. Como eram principalmente representadas pela nobreza masculina

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e pelo clero, significava status social. Os passeios eram de qualidade e os atrativos prazerosos. Antecedendo o turismo de lazer, o turismo pedagógico se oficializou de forma organizada a partir da metade do século XIX.

Para as escolas que utilizam do turismo pedagógico como ferramenta de ensino e aprendizagem, o objetivo maior se torna gerar conhecimento e, dessa forma, estas podem estar contribuindo para ampliar a curiosidade e construir pontes entre o currículo e o mundo concreto. Portanto, acredita-se que praticas turísticas no currículo venham a incrementar a valorização do ensino, a preservação, a conservação e a promoção da cultura das localidades, a dessacralização da arte pelo acesso a exposições, por exemplo, dinamizando, dando vida, alma, cor, sabor e alegria aos fatos relatados de forma abstrata nas disciplinas em sala de aula.

O turismo pedagógico entendido como uma prática de estranhamento dos locais e patrimônios muitas vezes cotidianos proporciona motivação e encantamento para o ato de apreender, pois possibilita relacionar os conhecimentos adquiridos em sala de aula com a vida vivida pelas comunidades visitadas. Além disso, possibilita interação, lazer e desperta a curiosidade dos alunos de maneira mais significativa.

Peccatiello ressalta o turismo pedagógico e sua promoção de interdisciplinaridade:

Sendo uma estratégia de ensino-aprendizagem que utiliza o ambiente como material didático, o turismo pedagógico tem a capacidade de promover a abordagem de conteúdos de diversificadas disciplinas simultaneamente, ou seja, promove a interdisciplinaridade. Esta característica compreende a inter-relação entre as disciplinas e também a interação entre ciência e ser humano, confluindo para a formação de pessoas mais críticas, com condições para, ao invés de reproduzir, produzir conhecimento e, por conseguinte, capazes de desenvolver a ciência e não, simplesmente, absorvê-la. (PECCATIELLO, 2005, p. 6).

Bonfim (2010, p.122-123) apresenta algumas características do turismo pedagógico como algo que “compartilha com a ideia de uma educação diferenciada, voltada principalmente aos interesses de um mundo melhor, da busca pela qualidade de vida e da conservação de bens e recursos naturais, culturais e ambientais”.

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No caso específico das viagens escolares, não representam uma ruptura com as atividades realizadas em classe, mas sim um aprofundamento das mesmas. Dessa forma, constituem uma ferramenta do conhecimento e da educação e não um simples passeio, pois permitem a obtenção de resultados em diversos aspectos. Elas possibilitam o reforço de conhecimentos anteriormente adquiridos e são excelentes ferramentas para se trabalhar a interdisciplinaridade. Além disso, permitem uma maior percepção da realidade e uma ampliação na maneira de pensar, bem como possibilitam ao educando maior flexibilidade e autonomia para lidar com as mais variadas situações. As viagens escolares também podem permitir o aprendizado de si mesmo em situações diferentes das do cotidiano e o contato com o patrimônio cultural, ambiental, mesmo com os problemas que possam cercá-los, favorece a conscientização de sua realidade. Por fim, tais viagens podem estimular a preocupação com a preservação e proteção das riquezas naturais e culturais, além de ensinar o respeito às diferenças.

A história da Pedagogia nos informa sobre várias iniciativas nas quais os deslocamentos, os passeios e a “observação in loco” eram as metodologias utilizadas para a integração da teoria à realidade, como é o caso do pedagogo francês Célestin Freinet que, nos anos de 1920, passou a promover as chamadas “aulas das coisas”, onde eram feitos passeios com crianças de escolas primárias. A metodologia utilizada por Freinet parece-nos uma importante ferramenta no desenvolvimento cultural de jovens e crianças, pois possibilita maior socialização entre alunos e professores, além de ampliar as formas de pensar do indivíduo preparando-o para lidar com diversas situações ao longo da vida.

Célestin Freinet foi um dos primeiros educadores a defender a ampliação de olhares dos alunos para fora do ambiente escolar. Ao combater a proposta pedagógica baseada em manuais escolares, pois esta distancia os alunos da realidade, pelo fato dos alunos não verem sentido no que é ensinado nas escolas, Freneit (apud Moares,2014) propôs as denominadas aulas-passeio, isto é, um estudo do meio, onde os alunos transportados para diferentes locais com a finalidade de estudos ampliariam seus círculos de relações sociais, econômicas e culturais interligadas.

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Moraes (2014) enfatiza que “nos passeios de Freinet, os alunos recolhiam e observavam as plantas, as pedras, os animais e, quando voltavam, escreviam no quadro um resumo do que aconteceu” Freinet tinha a firme convicção de que a aula passeio “não era tempo perdido pois todas as disciplinas escolares tiravam proveito disso” (1976, apud Moraes, p. 24). Eram feitos comentários sobre o texto pelas crianças e esse sofria acréscimos e transformações. Ao final, as crianças copiavam-no nos seus cadernos com as modificações. Resultava em uma aula viva em que os alunos estudavam e conheciam mais profundamente seu meio pela construção coletiva do conhecimento. As aulas-passeio dinamizavam a interdisciplinaridade. Outro aspecto relevante quando se pensa na metodologia de Freinet é a questão do lazer. Marcellino (2004) afirma que o lazer pode ser usado como instrumento para a educação popular e como ferramenta de democratização. Apesar de o senso comum ver o lazer apenas como fonte de divertimento ou descanso, muitos o entendem como veículo eficaz de aprendizagem e desenvolvimento humano. O referido autor acrescenta que “quanto maior a frequência de atividades lúdicas, maior o grau de ‘prontidão’ atingido”.

Com relação a questão, legal, tomamos por base a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB, que apresenta o delineamento geral que se quer alcançar no âmbito da educação efetiva dos cidadãos no Brasil, nos diversos níveis de escolarização. A referida Lei, em seu art. 3°, apresenta os princípios que devem servir de base para ministrar o ensino e, no inciso X, há o destaque para a “valorização da experiência extraescolar”.

De acordo com Moraes (2014) na atual Constituição a

escola representa o espaço onde se criam condições para promover, de maneira organizada, as aquisições consideradas fundamentais para o normal desenvolvimento da criançap.90)

Há uma concordância nessa autoria a respeito de que toda viagem implica em algum tipo de aprendizagem e que o intercâmbio entre turismo e educação proporciona a assimilação de conhecimentos resultantes de experiências de deslocamentos a espaços não formais de aprendizagem. Marcados por forte interdisciplinaridade, turismo e educação mantêm uma

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