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Percepção ambiental sobre os espaços naturais de um hospital de Natal: affordances de restauração

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA (PPGPSI/UFRN) NÍVEL MESTRADO. EMERSON GADELHA LACERDA. PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE OS ESPAÇOS NATURAIS DE UM HOSPITAL DE NATAL: AFFORDANCES DE RESTAURAÇÃO?. Natal 2017.

(2) 2. Emerson Gadelha Lacerda. PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE OS ESPAÇOS NATURAIS DE UM HOSPITAL DE NATAL: AFFORDANCES DE RESTAURAÇÃO?. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Psicologia.. Orientador: Prof. Dr. José Q. Pinheiro. Natal 2017.

(3) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Lacerda, Emerson Gadelha. Percepção ambiental sobre os espaços naturais de um hospital de Natal: affordances de restauração / Emerson Gadelha Lacerda. 2017. 77f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Orientador: Prof. Dr. José Q. Pinheiro. 1. Percepção Ambiental. 2. Ambientes Restauradores. 3. Affordances. 4. Hospitais. 5. Espaços Naturais. I. Pinheiro, José Q. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA. CDU 159.922.24.

(4) Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Programa de Pós-Graduação em Psicologia. A dissertação “Percepção ambiental sobre os espaços naturais de um hospital de natal: affordances de restauração?”, elaborada por Emerson Gadelha Lacerda, foi considerada aprovada por todos os membros da Banca Examinadora e aceita pelo Programa de Pósgraduação em Psicologia, como requisito parcial à obtenção do título de MESTRE EM PSICOLOGIA.. BANCA EXAMINADORA. ___________________________________________________________________ Prof. Dr. José de Queiroz Pinheiro (Presidente). ___________________________________________________________________ Profa. Dra. Maíra Longhinotti Felippe (Universidade Federal de Santa Catarina). ___________________________________________________________________ Profa. Dra. Fernanda Fernandes Gurgel (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

(5) 5. (...) a nova visão da realidade, baseia-se na consciência do estado de inter-relação e interdependência essencial de todos os fenômenos - físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Essa visão transcende as atuais fronteiras disciplinares e conceituais e será explorada no âmbito de novas instituições. Não existe, no presente momento uma estrutura bem estabelecida, conceitual ou institucional, que acomode a formulação do novo paradigma, mas as linhas mestras de tal estrutura já estão sendo formuladas por muitos indivíduos, comunidades e organizações que estão desenvolvendo novas formas de pensamentos e que se estabelecem de acordo com novos princípios. Fritjof Capra - O ponto de mutação.

(6) 6. A Lucas, meu filho, que ilumina minha existência; do latim, luz..

(7) 7. Agradecimentos. Ninguém consegue coisa alguma sozinho, ainda que isso escape à percepção. Cada um e cada conquista é fruto de uma construção em conjunto; uma gestalt, cujos integrantes e coautores, às vezes, fogem aos sentidos. Portanto, conquistas são necessariamente homenagens e intimações a agradecimentos. “Obrigados" não são à toa. Aqui-e-agora, tento compensar falhas de percepção ao longo do caminho, homenagear e agradecer: A Deus, pela origem de tudo (Lamento a ausência de referências; escopo indefinido). A espiritualidade amiga, pela assistência (Idem). Aos meus pais, por viabilizarem minha passagem por este planeta, fornecerem os alicerces materiais e espirituais, ensinarem a simplicidade e o prazer pela leitura. Ao meu filho, Lucas, por existir, ser quem é e me inspirar. Aos mestres de ontem, dos quais lembro com carinho, em ricas cenas mentais de falas, lições e atitudes, mesmo diante do cansaço. Aos mestres de hoje, mesmo que sejam doutores... ...Zé, cujo apelido pode confundir algum desavisado, traduz a simplicidade e a solicitude de um psicólogo clínico escondido na academia. Obrigado pela paciência silenciosamente superada, a cada suspiro, pela compreensão dos contextos, pela confiança depositada, pelas conversas e cafés, pelas resenhas, no sentido amplo (até 15 páginas); enfim, pela chance! ... Fernanda, com quem tive a primeira aula em Psicologia, a primeira dinâmica de grupo na graduação e quem sutilmente enxertou a Psicologia Ambiental na grade daquele curso. Obrigado por se fazer ponte!.

(8) 8. ... Gleice, pelas agradáveis aulas no Aviário Galináceo Hi-Tech, pelo carinho e bom humor de cada encontro, e, claro, pelo valioso olhar cirúrgico. ... Raquel, pela generosidade em compartilhar saberes e momentos, por integrar pessoas, pela confiança, pelo zelo dentro e fora da sala de aula. Ao bando de amigos transgênicos e orgânicos, acelerados e deboistas, focados e dispersos, sóbrios e ébrios, e tudo isso junto e misturado: Alexandra. Dandara. Lorena Paim. Tadeu Léo. Hellen Pedro. Cláudia. Raul Giselli. Acreditem, a caminhada foi muito melhor com vocês! Obrigado pela amizade, pela simplicidade, pelo acolhimento, pelos textos, pelos cereais fermentados, pelas melancias, pelos brownies, pelas disciplinas degustativas extracurriculares em ambientes restauradores, e por fazerem restaurador o ecossistema gepiano. Enfim, por serem do jeito que são, gratidão!.

(9) 9. Sumário Lista de figuras..........................................................................................................................11 Resumo......................................................................................................................................12 Abstract..................................................................................................................................... 13 1 Introdução.............................................................................................................................. 14 2 Affordances e percepção ambiental....................................................................................... 17 2.1 Os estudos tradicionais de percepção.............................................................................. 17 2.2 A relevância do ambiente ao indivíduo........................................................................... 19 2.3 Outra percepção: ambiental.............................................................................................21 3 Ambientes restauradores........................................................................................................ 24 3.1 Teoria da redução do estresse (psicofisiológico).............................................................24 3.2 Teoria da restauração da atenção.....................................................................................26 4 Hospital: ambiente de saúde?.................................................................................................29 4.1 O des-envolvimento da hospitalidade: um breve histórico............................................. 29 4.2 E nessa história, como a saúde se desenvolveu?............................................................. 30 4.3 Ambiência: onde a natureza pode ambientar-se..............................................................31 4.4 O ambiente hospitalar precisa de restauração................................................................. 32 5 Proposta de estudo................................................................................................................. 35 6 Método................................................................................................................................... 37 6.1 Participantes.................................................................................................................... 37 6.2 Técnicas e instrumentos.................................................................................................. 38 6.2.1 Observação assistemática......................................................................................... 38 6.2.2 Mapeamento Comportamental Centrado do Ambiente (MCCA).............................39 6.2.3 Entrevista.................................................................................................................. 41 6.3 Procedimentos................................................................................................................. 42 6.4 Análise dos dados............................................................................................................44 7 Achados e discussão...............................................................................................................46 7.1 A utilização dos espaços naturais: o que as observações mostraram.............................. 46 7.2 A percepção ambiental dos usuários: o que as falas revelaram.......................................52 7.2.1 Tema 1: Descanso.....................................................................................................52 7.2.2 Tema 2: Distração.....................................................................................................56 7.2.3 Tema 3: Socialização................................................................................................ 59.

(10) 10. 7.2.4 Tema 4: Lembranças.................................................................................................62 8 Considerações finais.............................................................................................................. 67 9 Referências.............................................................................................................................70 Apêndice A............................................................................................................................... 76 Apêndice B................................................................................................................................77 Apêndice C................................................................................................................................78.

(11) 11. Lista de figuras Figura 1. Toca do Matias ao lado do setor de administração................................................... 40 Figura 2. Toca do Matias ao lado do setor de nutrição.............................................................40 Figura 3. Entrada principal (gramado)......................................................................................40 Figura 4. Entrada principal (estacionamento)...........................................................................40 Figura 5. Jardim do Grupo Despertar (muro vazado).............................................................. 46 Figura 6. Jardim do Grupo Despertar (salão)............................................................................46 Figura 7. Jardim do Grupo Despertar (aberto ao salão)............................................................46 Figura 8. Toca do Matias..........................................................................................................47 Figura 9. Toca do Matias..........................................................................................................47 Figura 10. Entrada principal.....................................................................................................47 Figura 11. Entrada principal.....................................................................................................47 Figura 12. Entrada principal.....................................................................................................47 Figura 13. Entrada principal.....................................................................................................47 Figura 14. Distribuição de ocorrências de comportamentos pelos horários de observação na Toca do Matias..........................................................................................................................48 Figura 15. Distribuição de ocorrências de comportamentos pelos horários de observação na entrada principal........................................................................................................................48 Figura 16. Distribuição de ocorrências do comportamento de contemplação pelos horários de observação nos espaços mapeados............................................................................................49 Figura 17. Distribuição de ocorrências do comportamento de socialização pelos horários de observação nos espaços mapeados............................................................................................49 Figura 18. Distribuição de ocorrências do comportamento de repouso deitado pelos horários de observação nos espaços mapeados.......................................................................................49 Figura 19. Comportamento por setor de trabalho na Toca do Matias.......................................50.

(12) 12. Resumo Os efeitos terapêuticos das paisagens naturais são reconhecidos há milênios por diferentes culturas, e diversas pesquisas destacaram os benefícios do contato com a natureza à saúde humana. Os elementos naturais reduzem estresse e fadiga mental, distraem, favorecem pensamentos e sentimentos positivos, à medida que mitigam os efeitos deletérios da vida moderna e as emoções negativas por eles disparadas. Estudos demonstraram que áreas verdes em unidades hospitalares contribuíram para a recuperação de pacientes, reduzindo estresse, ansiedade e depressão, além de diminuir a quantidade de analgésicos. Na contramão dos achados científicos, os hospitais, focados em tecnologia e eficiência, oferecem escassos espaços naturais aos seus usuários. Tais instituições tornaram-se ambientes frios, pouco hospitaleiros, aos pacientes e à equipe. Diante desse cenário contraditório, o objetivo desta dissertação é investigar como os espaços naturais de um hospital de Natal são percebidos pelos seus usuários. Adotei uma abordagem multimetodológica, combinando mapeamento comportamental centrado no ambiente e entrevistas semi-estruturadas. Com base no mapeamento, elaborei o roteiro de entrevistas e escolhi os potenciais candidatos. Entrevistei 11 usuários, maiores de 18 anos, incluindo funcionários, pacientes e acompanhantes, no Centro Avançado de Oncologia da Liga Norte-Riograndense Contra o Câncer. Os achados ratificaram a literatura: os espaços naturais da unidade hospitalar são ambientes restauradores às pessoas que os utilizam. O conhecimento alcançado com este estudo pode ser uma contribuição valiosa à gestão e ao projeto de ampliação da instituição. Palavras-chave: Affordances, percepção ambiental, ambientes restauradores, hospital, saúde..

(13) 13. Abstract The therapeutic effects of natural landscapes have been recognized by different cultures for millennia, and many studies have highlighted the health benefits of being in touch with nature. It reduces stress and mental fatigue, distracts, promotes positive thoughts and feelings, as it mitigates deleterious effects of modern life and, consequently, associated negative emotions. Other studies have shown that green areas in healthcare facilities promoted patient recovery as such spaces reduced stress, anxiety and depression, moreover decreased the need for pain killers. Contradicting scientific findings, hospitals, while focusing on technology and efficiency, offer scarce green areas to their users. These institutions have become cold environments, not hospitable to either its patients or its staff. Facing this contradiction, the present master’s thesis aims to investigate how green spaces are perceived by users of a hospital in Natal. I adopted a multi-method approach for this study, combining place-centered behavioral mapping and semi-structured interviews. Based on the mapping, I composed the interview script and chose potential candidates. I interviewed 11 users, aging 18 or more, among employees, patients and caregivers, at the Advanced Oncology Center, a facility of the League against cancer of Rio Grande do Norte state. The findings confirmed the literature ones: the green spaces of such facility are restorative environments to the individuals using them. This knowledge can be an invaluable contribution to both the management and the expansion project of the institution. Keywords: Affordances, environmental perception, restorative environments, hospital, health..

(14) 14. 1. Introdução Os benefícios dos espaços naturais à saúde humana são reconhecidos há milênios. No. Oriente, chineses taoistas cultivavam jardins acreditando que estes eram salutares; no Ocidente, luz solar, ventilação e vegetação eram elementos essenciais nas instituições de internação da Idade Média (Louv, 2005; Marcus & Sachs, 2014). Nos Estados Unidos, os primeiros defensores dos parques urbanos acreditavam que estes ofereciam tranquilidade; uma possibilidade de fuga do turbulento, consumista e degradado ambiente cosmopolita (Knopf, 1987). E atualmente, diante da abundância de fontes estressoras, tenta-se consumir ou vender refúgios naturais, promessas de qualidade de vida, (que foi perdida, na busca incessante pela qualidade de vida). Assim, em diferentes épocas e sociedades, a natureza esteve associada à saúde. Por sua vez, o conceito de saúde tornou-se ou finalmente foi enxergado como multidimensional, biopsicossocial (Cruz, 2011). Coerente com essa nova concepção, a Política Nacional de Humanização (PNH) direcionou estratégias e métodos de articulação entre saberes, práticas e indivíduos, objetivando a garantia de atenção integral, efetiva e humanizada. Nesse contexto, sob o conceito de ambiência, foi previsto o tratamento aos espaços físicos, enquanto espaços sociais, profissionais e interpessoais do Serviço Único de Saúde (SUS), devidamente reconhecidos como importantes ao serviço (Ministério da Saúde [MS], 2015). Nesse sentido, à medida que busca compreender as Relações Pessoa-Ambiente (RPA), a Psicologia Ambiental (PsiAmb) contribuiu com estudos científicos abordando os efeitos positivos dos ambientes naturais à saúde humana (Kaplan & Kaplan, 1989; Ulrich, 1984; Mayer, Frantz, Bruehlman-Senecal & Dolliver, 2009). Na mesma direção, um estudo realizado por Vasconcelos (2004) destacou a influência positiva do contato com ambientes.

(15) 15. externos, incluindo espaços naturais, sobre a recuperação do paciente, auxiliando o processo de cura e a redução de custos hospitalares. Os resultados mostraram aumento da sensação de bem-estar e conforto psicológico dos pacientes e a preferência da equipe por ambientes com cores, vegetação, iluminação e ventilação naturais, o que corroborou estudos anteriores (Kaplan, 1992, 1993; Ulrich, 1984, 1986, 1992, 1999; Ulrich et al.,1991). Contudo, meu interesse por ambientes naturais e a seus efeitos positivos antecede o contato com a literatura. Sinto-me melhor ao desempenhar atividades ou descansar em espaços que oferecem alguma vegetação ou próximos a algum cenário natural, e, quando possível, opto pela iluminação e ventilação naturais. Por essa inclinação pessoal, acabo percebendo mais nitidamente o contraste entre tais espaços e aqueles com pouca vegetação, por exemplo, como ocorre nos hospitais de Natal. Seja como acompanhante ou paciente, consegui perceber a redução ou quase inexistência de espaços verdes, sempre causando a sensação de “frieza”, em vez de acolhimento ou hospitalidade, que deveria inspirar um hospital. E, durante o estágio da graduação, realizado em uma unidade hospitalar, atentei para o fato de algumas pessoas utilizarem “espaços com algum verde”, mesmo eles não sendo planejados para acomodá-las; assim como chamavam minha atenção as queixas ou a variação de humor de funcionários trabalhando em certos espaços, desconectados do exterior. Assim, minhas percepções, como usuário dos ambientes hospitalares, somadas ao conhecimento construído no contato com a literatura provocaram perguntas: por que a relação entre natureza e saúde não é enfatizada no ambiente hospitalar? Por que os espaços naturais são poucos? Alguém já ouviu quem os utiliza? Talvez, a visão de eficiência do modelo biomédico, traduzida no imediatismo hospitalar, tenha desintegrado a saúde. Em busca de respostas, entrei em contato com os conceitos de affordances e percepção ambiental, os quais são apresentados no segundo capítulo. Já o terceiro capítulo aborda os.

(16) 16. benefícios do contato com ambientes naturais à saúde humana, introduzindo o conceito de ambientes restauradores e apresentando os resultados de estudos realizados em diferentes contextos. O quarto capítulo discute o ambiente hospitalar enquanto ambiente de saúde, destacando a importância dos espaços naturais aos usuários e ao serviço. O quinto capítulo apresenta a proposta de estudo, incluindo a justificativa e o objetivo deste. O sexto é dedicado ao método, descrevendo os participantes, técnicas e instrumentos, procedimentos e análise dos dados. O sétimo discute os achados da pesquisa. Finalmente, o oitavo compartilha as considerações finais..

(17) 17. 2. Affordances e percepção ambiental Antes de abordar propriamente os conceitos que dão nome a este capítulo, acredito que. seja interessante oferecer ao leitor uma noção geral sobre “percepção”, sem a mínima pretensão de esgotar o tema, mas por acreditar que ela é intrínseca às nossas atividades, inclusive na escrita e na leitura desta dissertação. Esta, como tantos outros trabalhos, é um convite a perceber algo, pela primeira vez ou de outra maneira. A partir disso, visito algumas perspectivas ligadas à PsiAmb, que contribuíram tanto ao surgimento dos dois conceitos em questão. 2.1 Os estudos tradicionais de percepção O termo percepção abarca muitas definições e teorias, resultado das contribuições oriundas de diferentes áreas do conhecimento, já evidenciando seu caráter inter e, por vezes, transdisciplinar. É possível encontrar a percepção amplamente definida como: recepção de um estímulo; combinação dos sentidos no reconhecimento de um objeto; faculdade de conhecer além dos sentidos; sensação; intuição; ideia; imagem; representação; processo de reconhecimento, organização e interpretação de informação sensorial; processo que corresponde à recepção de sinais e à interpretação destes de maneira significativa; processo pelo qual o indivíduo interpreta o ambiente em sua volta. Todavia, os resultados gerados, ou perceptos1, não são isomórficos em relação ao meio, mas sujeitos a diferenças ou erros (Galotti, 2013; Marin, 2008; Ribeiro, Lobato, Liberato, 2009; Ward, Grinstein, Keim, 2015). A percepção não foge a si mesma, é percebida de diferentes maneiras, a depender do observador. E falando em observar, embora a percepção possa ser categorizada em visual, auditiva, olfativa, tátil e gustativa, ela geralmente nos remete ao sentido da visão. Algo aceito com 1 Percepto: interpretação significativa da informação de entrada.

(18) 18. naturalidade, uma vez que tal aparato sensorial acaba sendo o mais explorado para captarmos as informações ao nosso redor, e um dos sentidos mais estudados2 pelos psicólogos (Galotti, 2013; Ittelson, 1978; Veitch & Arkkelin, 1995). Isso explica porque alguns vocábulos remetem à visão, como “observador” e “ver”, em textos sobre o tema, algo que o leitor também poderá perceber ao longo deste trabalho. Dentre as várias definições e teorias, pode-se destacar a descrição da percepção segundo dois modelos de processamento, bottom-up e top-down, adotados por alguns estudiosos do tema (Galotti, 2013; Goldstein, 2013; McAndrew, 1993; Schiffman, 2005). O modelo bottom-up (ou orientado a dados) é baseado nos estímulos que alcançam os receptores, já que sem a ativação destes a percepção não ocorre. O observador recebe elementos simples do ambiente, dados sensoriais, e os combina para formar o percepto. Já o modelo top-down (ou orientado a conhecimento) baseia-se na informação adquirida pelo observador, sejam expectativas derivadas do contexto ou aprendizagens anteriores, ou ambas. Portanto, experiências, expectativas, teorias, significados ou conceitos do observador influenciam a seleção e a combinação da informação no processo perceptual, que por sua vez facilita a detecção de mais informação (Galotti, 2013; Goldstein, 2013; Schiffman, 2005). Assim, enquanto o processamento bottom-up predomina em situações novas ou envolvendo estímulos muito simples, o top-down torna-se mais relevante diante de estímulos mais complexos ou em situações já familiares, mesmo que, ironicamente, o observador não esteja ciente. Como Pinheiro (2004) exemplificou, é possível desligar um despertador sem abrir os olhos, apenas alcançando-o com a mão. Logo, “quanto mais vivência de um local a pessoa tem, mais os elementos subjetivos serão decisivos para a ação final do usuário” (Elali & Pinheiro, 2013, p. 21).. 2 A audição é o outro sentido mais estudado..

(19) 19. Dito isto, é importante ressaltar que ambos os processos, bottom-up e top-down, são ativos, complementares e interagem entre si. Então, pode-se afirmar que a percepção é resultado de atividade, seja física ou mental, na qual os indivíduos captam informação e realizam alguma integração ou interpretação, enquanto exploram o ambiente. (Galotti, 2013; Goldstein, 2013, Schiffman, 2005). Nesta perspectiva, as pessoas são seletivas, integradoras e construtoras ativas da informação; aqui, a percepção é diferente da soma de dados sensoriais captados3, que comporiam duplicatas mentais, pois admite ver o que não está nítido, ou ajustar o que está. 2.2 A relevância do ambiente ao indivíduo A seção anterior apresentou a percepção enquanto um processo de integração de informações, internas (mentais) e externas (ambientais), perspectiva esta que acaba valorizando a dicotomia “indivíduo versus ambiente”: o primeiro, geralmente chamado de “observador”, reconhece ou interpreta aquilo que está “lá”, no segundo. Contudo, contribuindo para diminuir o “distanciamento teórico” entre o organismo e o meio, o qual marcou a Psicologia até a década 1960, autores ligados à PsiAmb desenvolveram estudos sobre a relação entre ambos, em vez de focarem apenas no primeiro (Bonnes & Secchiaroli, 1995). Dentre as contribuições, vale destacar o trabalho de James J. Gibson (1979/1986) e seu conceito de affordances. Segundo o autor, diferentes organismos têm diferentes experiências perceptuais porque tanto os ambientes quanto as relações com estes variam. Além de perceber objetos, os organismos também percebem diretamente o que cada objeto viabiliza, oferece ou permite; em inglês, afford (E. J. Gibson, 1982; Galotti, 2013; Goldstein, 2013; J. J. Gibson, 1979/1986). A partir do verbo, Gibson cunhou o conceito de affordance: qualidade ou 3 Paráfrase de “O todo é diferente da soma de suas partes”, credo da Gestalt (Pomerantz & Portillo, 2011)..

(20) 20. propriedade que diz respeito às ações ou aos comportamentos viabilizados por objetos ou ambientes ao organismo. O teórico propôs que o comportamento é modificado a partir da(s) affordance(s) percebidas pelo organismo enquanto este atua no meio. Sob tal teoria, percepção e ação são faces da mesma moeda (Adolph & Kretch, 2015; E. J. Gibson, 1982; Galotti, 2013; Goldstein, 2013; J. J. Gibson, 1979/1986; Oxford, 2017). Nessa mesma direção, Eleanor J. Gibson destacou que os organismos percebem e ajustam suas ações em relação ao ambiente, e este fornece oportunidades e recursos à ação do primeiro, constituindo um sistema de contínua reciprocidade; esta, por sua vez, se traduz em reciprocidade entre percepção e ação. Mais que isso, de acordo com a autora, os organismos aprendem a perceber affordances de ação. Em última análise, o sistema indivíduo-ambiente se dá no tríplice aspecto affordance-percepção-ação: 1) a affordance é percebida; 2) a percepção guia a ação; 3) esta é viabilizada pela affordance. Em outras palavras: affordance é elo; da percepção à ação, do indivíduo ao ambiente (Adolph & Kretch, 2015; E. J. Gibson, 1982, 1988; Pick, 1992). As teorias gibsonianas corroboraram as ideias de Ittelson (1973), o qual defendeu que o indivíduo e o ambiente estão integrados, pois o ambiente envolve os objetos e os organismos, de maneira que não há como algo ser isolado ou retirado dele. O ambiente é complexo, não possui limites fixos ou estabelecidos e fornece informação por todos os sentidos; muito mais do que possa ser adequadamente manipulado (Ittelson et al., 1974). Sob tal ótica, as pessoas são imersas ou inundadas pelo ambiente, e só podem experienciá-lo e percebê-lo de dentro dele, como de fato ocorre, pois o indivíduo é parte atuante do ambiente, enquanto busca atingir seus objetivos (Ittelson, 1978). Acrescenta-se a isso o fato de muitas experiências possuírem uma dimensão afetiva, envolvendo emoções e crenças, humor, intuição, expectativas, sentimentos e sensibilidades, atitudes, julgamentos,.

(21) 21. valores e contextos. Portanto, a maneira de explorar e as contingências desenvolvidas pelo indivíduo influenciarão suas próprias ações, direta ou indiretamente. Estas, por sua vez, alterarão outros elementos (Ittelson, 1978; Lee, 1977; Tuan, 1974/2012). Tem-se um processo retroalimentado, cujos componentes, a rigor, são inseparáveis. Diante disso e baseando-se na ideia de que ambientes físicos, sociais e culturais se sobrepõem, Ittelson (1978) defendeu o “sistema pessoa-ambiente” como uma unidade de análise que abrange, além de toda a biosfera, aspectos individuais, sociais e culturais. Logo, segundo o autor, tanto não há saída do sistema quanto não há fonte de informação sobre ele que não seja pela participação nele. Mas isso não impossibilita que qualquer elemento do sistema seja figura (objeto) para um dado observador, inclusive ele mesmo, deixando os demais como fundo (ambiente), estabelecendo uma relação figura-fundo4 contínua, a depender das circunstâncias. Dados a relevância do ambiente e o fato de que percebê-lo não se restringe a um fenômeno fisiológico, mas constitui um processo influenciado por experiências e fatores socioculturais (Kaymaz, 2012; Knox & Marston, 2003), faz-se necessária uma percepção que contemple a integração do ambiente com o indivíduo, em vez de valorizar a dicotomia mencionada no início desta seção. Nesse sentido, um conceito diferente de percepção será apresentado ao leitor a seguir. 2.3 Outra percepção: ambiental Reforçando a visão sistêmica, apresentada na seção anterior, Ittelson (1978) propôs o conceito de Percepção Ambiental: a maneira de uma pessoa vivenciar os aspectos ambientais do seu meio, considerando, além dos aspectos físicos, os psicossociais, socioculturais e. 4 Relação figura-fundo, conforme a Escola da Gestalt (Schiffman, 2005; Schultz & Schultz, 2009)..

(22) 22. históricos. Ou, segundo o mesmo autor: o significado experienciado do sistema pessoaambiente; referindo-se à experiência do ambiente segundo a pessoa que o experimenta, incluindo todas as partes daquele sistema e as relações entre elas (Ittelson, 1978). Os estudos de percepção ambiental são qualitativamente diferentes dos estudos mais tradicionais da psicologia, pois englobaram aspectos que não são tradicionalmente tratados como percepção. Assim, tal processo psicológico básico foi diferenciado pela PsiAmb, passando a abarcar a vivência da pessoa na sua relação com o ambiente, compreendendo todos os aspectos ambientais que se apresentam, sejam físicos, sociais, culturais ou históricos, inclusive componentes cognitivos, afetivos, de significado, valoração, preferência e estética ambiental (Ittelson, 1978; Veitch & Arkkenin, 1995; Kuhnen & Higuchi, 2011). Por seu caráter sistêmico, que não descarta mas abarca os conceitos tradicionais, doravante, peço que o leitor tenha em mente o conceito de percepção “ambiental” sempre que eu me referir à percepção neste trabalho, a menos que eu adjetive ou destaque diferentemente. Na verdade, tal proposta, além de contribuir para a tendência contemporânea da psicologia, evitando compartimentalizações e buscando a compreensão do indivíduo enquanto ser complexo (Ittelson, 1978), está em consonância ou é resultado do caráter holístico da PsiAmb. Esta admite a “pessoa-no-ambiente” como um sistema, e unidade de análise, caracterizado por transações entre a pessoa e seu meio, incluindo diferentes dimensões, como: características físicas do ambiente, processos psicológicos, relações e papéis sociais, espaçotempo, atividades desenvolvidas e uso do ambiente. Dessa maneira, pode-se compreender a experiência humana nos variados contextos, com o nível de complexidade necessário (Bonnes & Bonaiuto, 2002; Pinheiro, 1997; Wapner & Demick, 2002). E, falando em experiência e complexidade, os estudos de percepção demonstraram que indivíduos ou grupos acessam diferentes realidades e avaliam o ambiente de maneira diversa (Tuan, 1974/2012), fazendo da percepção algo individual e seletivo. Por outro lado, devido à.

(23) 23. mesma complexidade humana e sua diversidade de experiências, Okamoto (2002) e Tuan (1974/2012) admitiram que há a possibilidade de vários indivíduos compartilharem percepções comuns por viverem em um mesmo contexto sociocultural ou simplesmente por possuírem órgãos sensoriais comuns. Diante do exposto, os conceitos de percepção ambiental e affordances são importantes a uma melhor compreensão sobre como a relação pessoa-ambiente se configura, investigando as influências mútuas do referido sistema, nos diferentes contextos socioculturais..

(24) 24. 3. Ambientes restauradores Diante das exigências da vida moderna, ambientes que promovam restauração tornam-. se cada vez mais relevantes ao equilíbrio (Hartig & Staats, 2003). Na PsiAmb, o construto restauração refere-se ao processo de recuperação ou restabelecimento psicofisiológico e social do indivíduo ante o estresse ou esforço (intenso ou continuado). No campo de pesquisa sobre tal processo, duas correntes teóricas predominam: a da redução do estresse psicofisiológico e a da restauração da atenção (Gressler & Günther, 2013; Kaplan, 1995; Kaplan & Kaplan, 1989; Roe, 2008; Ulrich, 1983, 1984; Ulrich et al., 1991). Embora distintas, elas se complementam e forneceram as bases ao conceito homônimo a este capítulo, cujas teorias são apresentadas a seguir. 3.1 Teoria da redução do estresse (psicofisiológico) Segundo este modelo teórico, proposto por Ulrich (1983), a sobrecarga causada por excessivas tomadas de decisão e ação, frente a situações percebidas como ameaçadoras ou desgastantes, mobilizam recursos fisiológicos e afetivos e podem estresssar o indivíduo a um nível insalubre. Nesta abordagem, a redução psicofisiológica do estresse está baseada em respostas afetivas rápidas a ambientes esteticamente agradáveis, os quais podem propiciar distração, ideias e emoções positivas, e atenuar a excitação fisiológica para níveis menos danosos. Em um cenário suficientemente interessante, o indivíduo tende a ser atraído pelo ambiente, reduzindo a pressão psicofisiológica. Assim, é capaz de manifestar respostas positivas, as quais promovem a experiência restauradora (Joye & van den Berg, 2012; van den Berg & Custers, 2011). Ulrich (1983) defendeu que alguns elementos naturais são capazes de promover a recuperação perante o estresse, como vegetação, especialmente gramado e árvores, e água. Um dos estudos do autor (1984) demonstrou que pacientes submetidos a procedimentos.

(25) 25. cirúrgicos e com quadros clínicos semelhantes, quando acomodados em leitos com janelas para a paisagem natural, necessitaram de menor tempo de internação pós-cirúrgica. Além disso, esses pacientes obtiveram avaliações melhores da enfermagem e necessitaram de menores doses de analgésicos, em relação a pacientes acomodados onde as janelas só mostravam a parede do prédio vizinho. Tais resultados indicaram que a contemplação da natureza favoreceu a recuperação do estresse. O mesmo autor reforçou esses resultados em estudos posteriores, cujos resultados demostraram que jardins ou áreas verdes no ambiente hospitalar proporcionaram distrações positivas aos pacientes, pois os elementos naturais inspiraram pensamentos e sentimentos bons à medida que despertaram a atenção involuntária e minimizaram ideias negativas. Além disso, as áreas naturais motivaram as pessoas a realizarem atividades e interagirem socialmente (Ulrich, 1999). Na mesma direção, Ulrich et al. (1991) destacaram que os elementos naturais provocam sentimentos positivos, despertam interesse e atraem a atenção, reduzindo assim o estresse. Os autores realizaram um experimento com estudantes universitários, os quais foram expostos a estímulos estressores e, em seguida, a dois tipos de cenários: naturais e urbanos. Sinais fisiológicos de estresse dos participantes foram verificados, como pulso e contração muscular, e os resultados indicaram que a recuperação foi mais rápida e completa quando os estudantes foram expostos a cenas naturais que quando a urbanas. Outros estudos evidenciaram que a recuperação do estresse ocorreu mais rapidamente e de maneira plena quando as pessoas foram expostas a cenários naturais do que quando a construídos (Berto, 2014; Hartig, Evans, Jamner, Davis, Gärling, 2003; van den Berg, Koole, van der Wulp, 2003; Wanga, Rodiek, Wu, Chen, & Li, 2016)..

(26) 26. 3.2 Teoria da restauração da atenção Esta teoria, proposta por Rachel e Stephen Kaplan (1989), foi resultado de uma longa pesquisa sobre a relação das pessoas com a natureza, a qual abrangeu, além das experiências restauradoras, percepções e preferências visuais. O cerne da teoria reside no fato de as pessoas disporem de capacidade limitada para direcionarem sua atenção para algo, especialmente se este algo não é interessante por si. No mundo moderno, essa limitação é agravada pela constante demanda por decisões entre o que é interessante e o que é importante; ao contrário, em épocas remotas da humanidade, o que era importante à sobrevivência e à evolução humanas era também fascinante, dispensando, portanto, a atenção dirigida (Kaplan, 1995). Diante das exigências cognitivas cotidianas, o mecanismo necessário à inibição de estímulos concorrentes, denominado centro executivo, torna-se rebaixado após engajamento intenso ou demorado em tarefas que envolvem concentração. Tal enfraquecimento pode resultar em fadiga por atenção direcionada, cujos efeitos negativos incluem emoções negativas, irritabilidade e menores percepção, empatia, sociabilidade, capacidade de planejamento, foco e controle; estas três últimas favorecendo acidentes (Joey & van den Berg, 2012; Kaplan & Berman, 2010). Já Kaplan (1995) afirmou que a mera distração positiva ensejada pela exposição à paisagem natural permite que o organismo descanse e reponha as reservas energéticas. Conforme esse modelo teórico, a restauração é proporcionada por situações que não envolvam atenção direcionada, mas que provoquem fascinação. Certos ambientes podem surtir efeitos para contrabalancear a fadiga mental quando o relacionamento humanoambiental apresenta quatro qualidades (Alves, 2011; Gressler & Günther, 2013; Kaplan & Kaplan, 1989; Kaplan, Kaplan, & Ryan, 1998): 1) Fascinação: se o estímulo é fascinante ao indivíduo, não requer dele esforço cognitivo, pois a atenção é involuntária, provocada por estímulos agradáveis, os quais.

(27) 27. propiciam a reflexão, descansam a mente e promovem a restauração da capacidade de atenção dirigida. Contudo, segundo Kaplan e Kaplan (1989) a fascinação apenas não garante restauração da atenção, sendo necessária uma segunda qualidade, a seguir; 2) Afastamento: se o ambiente possibilita ao indivíduo um distanciamento físico ou mental do cotidiano, há chance de mudança de foco. Porém, estudos sugerem que a distância conceitual é mais crucial ao processo de restauração, visto que um novo local não garante restauração. Esta é promovida pelo distanciamento de pensamentos, das demandas habituais; 3) Extensão: associada à qualidade anterior, ela possibilita a imersão cognitiva do indivíduo no ambiente, sendo este suficientemente rico e vasto, física ou conceitualmente, para ensejar interação, exploração e interpretação. Vale destacar, contudo, que tais ações são viabilizadas se o indivíduo percebe coerência entre os elementos ambientais. Todos esses aspectos acabam promovendo uma conexão ou sentimento de pertença da pessoa em relação ao ambiente; 4) Compatibilidade: diz respeito ao grau de correspondência entre a expectativa do indivíduo e o que o ambiente oferece, conforme a percepção daquele. Quanto maior a congruência na relação pessoa-ambiente, maior a chance de restauração, dada a diminuição de esforço cognitivo para navegação no ambiente. Peço desculpas ao leitor pelo trocadilho, mas esta qualidade é compatível com o conceito de affordances (Gressler & Günther, 2013). Como a combinação das quatro qualidades ocorre mais facilmente nas interações com a natureza, os ambientes naturais tendem a ser mais efetivos em contrabalancear a fadiga que os construídos (Kaplan, 1995; Roe, 2008). Contudo, vale salientar que outros tipos também podem proporcionar experiências restauradoras, como demonstraram as pesquisas de Kaplan, Bardwell e Slakter (1993), e Ouellette, Kaplan e Kaplan (2005). Mesmo nestes, as qualidades supracitadas estiveram presentes..

(28) 28. Como adiantado no início deste capítulo, as duas perspectivas teóricas sobre ambientes restauradores então apresentadas se complementam, podendo haver concomitância de processos (Gressler & Günther, 2013). Mais que isso, as teorias convergem quanto às capacidades restauradoras dos ambientes naturais, os quais sobressaem em relação aos contruídos nesse quesito (Hartig, Evans, Jamner, Davis, & Gärling, 2003; Velarde, Fry, & Tveit, 2007). A despeito da predominância das correntes teóricas até aqui apresentadas, outras abordagens teóricas e empíricas evidenciaram a exposição à natureza como base do processo de restauração. Por serem pertinentes ao presente estudo, menciono algumas abaixo, sem a menor pretensão de ser abrangente; mesmo assim, confesso que percebo as abordagens abaixo como desdobramentos ou adjacências das teorias majoritárias já descritas neste capítulo. . Abordagem da conexão com a natureza: sugere que a sensação de conexão com a natureza está na base dos benefícios que os elementos naturais exercem sobre o ser humano, como emoções positivas, capacidade de reflexão sobre questões de vida e aumento da capacidade de atenção (Joey & van den Berg, 2012; Mayer et al., 2009);. . Abordagem das experiências micro-restauradoras: propõe a restauração como resultado de breves contatos com a natureza, acumulados ao longo do tempo, mesmo que através de uma janela, pela televisão ou em uma pintura. Estudos evidenciaram que tais estímulos promoveram a capacidade de reflexão, mudanças positivas de humor e a disposição (Gulwadi, 2006; Joey & van den Berg, 2012; Kaplan, 2001; Mayer et al., 2009; Ryan et al., 2010);. . Abordagem da autorregulação: sugere que certos ambientes são utilizados como recursos de autorregulação do indivíduo, o qual os procura justamente por propiciarem a restauração (Korpela, 1989, 1992; Korpela, Hartig, Kaiser, & Fuhrer, 2001; Korpela, Kytt & Hartig, 2002)..

(29) 29. 4. Hospital: ambiente de saúde? O hospital é uma instituição tão padronizada que pensar nele significa imaginar um. edifício com longos corredores e pessoas de branco, no qual se cuida de saúde. Tal padronização visa facilitar as atividades da equipe de saúde, elevar ao máximo sua eficiência como meio de garantir a satisfação e o bem-estar dos que utilizam o serviço. A lógica é simples: equipe médica satisfeita, paciente satisfeito (Heimstra & McFarling, 1978). Mas, esse modelo é suficiente à saúde? Para tentar responder a tal questão, este capítulo apresenta um breve histórico sobre os hospitais, o conceito atual de saúde e a relevância da natureza no contexto hospitalar. 4.1 O des-envolvimento da hospitalidade: um breve histórico Locais destinados à assistência remontam à Antiguidade. Na Grécia Antiga, alguns templos tinham a função de abrigar doentes e pessoas necessitadas, oferecendo-lhes, assim, alguma “hospitalidade”. Entretanto, os primeiros hospitais, nos moldes que conhecemos hoje, surgiram na Roma Antiga e já apresentavam cômodos com ventilação natural para evitar infecções. Durante a Idade Média, monastérios e hospícios administrados por religiosos já valorizavam o contato com elementos naturais em suas práticas medicinais. Como havia espaços com vegetação e acesso ao ambiente externo, os pacientes podiam ver os jardins ou passear por eles (Marcus & Sachs, 2014). Os séculos XIV e XV viram a decadência dos monastérios, junto com suas arquiteturas e jardins; porém, nos séculos XVIII e XIX, a psiquiatria promoveu o uso de vegetação e as experiências terapêuticas no contato com a natureza. Enquanto isso, em 1859, Florence Nightingale, enfermeira britânica, publicou recomendações quanto ao cuidado aos pacientes e à arquitetura dos hospitais, que deveriam garantir luz solar, circulação de ar, tetos altos, temperatura adequada e espaços amplos aos leitos..

(30) 30. Apesar do valioso trabalho de Nightingale (1859), os avanços tecnológicos “desnaturalizaram” os hospitais, que passaram, por exemplo, a controlar artificialmente a temperatura e a luminosidade. Em consequência, os pacientes foram distanciados dos elementos naturais, benéficos à recuperação. Embora importante, a modernização dos hospitais priorizou a tecnologia em detrimento das necessidades emocionais e psicológicas das pessoas (Ulrich, 1992, 1999). Assim, o século XX trouxe um novo declínio dos ambientes naturais nos estabelecimentos de saúde, os quais ganharam um aspecto hoteleiro e deixaram o “verde” restrito à decoração (Marcus & Barnes, 1995; Marcus & Sachs, 2014). Lançando um olhar crítico sobre esse cenário, Ulrich (1992, 1999) afirmou que esse tipo de ambiente hospitalar é pouco promissor: não é atrativo, mas estressante a pacientes, visitantes e funcionários; e, logo, pouco competitivo. O autor destacou ainda que uma arquitetura desprovida de estímulos restauradores causaram as mesmas consequências negativas que a ansiedade, o delírio e a pressão alta. Então, por si, o hospital tornou-se um fator estressor; ao longo de sua história, literalmente o hospital des-envolveu-se da hospitalidade. 4.2 E nessa história, como a saúde se desenvolveu? O conceito de saúde foi atualizado em 1948 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), passando a significar estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não mais estado de ausência de doenças. Logo, uma perspectiva mais ampla surgiu em alternativa à dicotomia “saúde x doença”, propondo que ambos são integrados e dinâmicos, pois cada contexto (individual ou coletivo) é o resultado de um conjunto de determinantes históricos, sociais, econômicos, culturais e biológicos (Cruz, 2011).. Por seu turno, Remen (1993). defendeu que saúde é o equilíbrio das dimensões mente-corpo-sentimento, cuja ruptura ocasiona a doença..

(31) 31. Do ponto de vista conceitual, a redefinição representou um avanço, uma transição em direção à visão sistêmica do ser humano (Cruz, 2011). Todavia, ainda sob o efeito colateral de um outro avanço, o tecnológico, mencionado na seção anterior, a saúde, enquanto área de conhecimento e atuação, ainda sofre com a fragmentação cartesiana, traduzida no modelo biomédico. Neste, o indivíduo é tratado como máquina, recurso do capitalismo, cujo mecânico é o médico (Capra, 1986, 1996). Diante do contraste entre as visões mecanicista e sistêmica sobre o ser humano e a saúde, vale salientar que cada concepção traz implicações ao cuidado nos serviços de saúde. Nesse sentido, promover saúde, à luz do conceito da OMS, implica a inclusão dos indivíduos, de modo a identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o ambiente (Cruz, 2011). 4.3 Ambiência: onde a natureza pode ambientar-se No Brasil, essa visão mais ampla e humanizada de saúde se reflete na Política Nacional de Humanização (PNH), a qual incluiu o conceito de ambiência. Este, na Saúde, refere-se ao tratamento dado ao espaço físico, o qual é também social, profissional e interpessoal, devendo propiciar uma atenção acolhedora e humanizada. Além disso, tal conceito busca superar a visão técnica e formal dos ambientes, passando a considerar as situações construídas nos espaços, e no tempo, as quais são vivenciadas por pessoas que trazem seus valores culturais e relações sociais próprios (MS, 2015). A cartilha sobre ambiência descreveu o espaço como facilitador da produção de subjetividades, do encontro de sujeitos, da ação e reflexão sobre os processos de trabalho. Previu ainda a existência de componentes que atuam como modificadores e qualificadores do espaço, estimulando a percepção ambiental. Tais elementos, quando utilizados com equilíbrio e harmonia, criam ambiências acolhedoras, propiciando contribuições significativas no.

(32) 32. processo de produção de saúde. O documento incluiu também o tratamento das áreas externas, que muitas vezes funcionam como lugares de espera, de descanso; ambientes de ‘estar’. E mais, destacou que jardins e áreas com bancos podem se tornar lugares de relaxamento, importantes para encontros, integração e momentos de trocas, que auxiliam a produção de saúde (MS, 2015) . Nessa direção, o documento recomendou a criação de espaços externos multifuncionais, confortáveis tanto para a espera quanto para as práticas de convívio, seja aos funcionários ou aos clientes, tais como: escuta, recepção e atividades físicas de relaxamento e alongamento. Ao mesmo tempo, ressaltou que os ambientes de cuidado em saúde podem provocar perdas de vínculos. Assim, é necessário promover espaços de cuidado e atenção à saúde nos quais os indivíduos identifiquem suas referências junto ao processo de produção de saúde. Tudo isso remete a outro fator importante à ambiência, o acolhimento, o qual se dá também pela sensação de conforto proporcionada pela introdução de vegetação, iluminação e ventilação naturais. Com isso, busca-se apagar o estigma de que os serviços de saúde são frios e hostis (MS, 2015). 4.4 O ambiente hospitalar precisa de restauração As recomendações apresentadas na seção anterior remetem aos hospitais hospitaleiros de outrora, como nas observações de Nightingale (1859). A enfermeira já enfatizava a importância de elementos naturais nos hospitais, como ar livre e luz solar. Segundo a autora, o primeiro requisito de um hospital deveria ser: não fazer mal aos pacientes. Corroborando Nightingale, Ulrich (1992) afirmou que as instituições de saúde deveriam promover o bemestar ou, ao menos, não deveriam dificultar o enfrentamento do estresse, nem serem elas mesmas fatores estressores. Entretanto, o autor destacou que visitantes e funcionários também estão sujeitos aos efeitos negativos da rotina hospitalar. Neste contexto, estresse e fadiga.

(33) 33. mental são críticos, por dificultarem o desenvolvimento ou a cura dos pacientes, ou mesmo o funcionamento do serviço (Joey & van den Berg, 2012). Em congruência com o conceito de ambiência, os estudos sobre a influência do ambiente hospitalar nas pessoas, além de permitir o aprofundamento das relações pessoaambiente, revelam ideias de melhorias para espaços tediosos ou sombrios, ao passo que o estudo sobre efeitos restauradores do ambiente destacam a importância do planejamento de espaços verdes, que visem o bem-estar e motivem as pessoas acessá-los (Lee, 1977; Kaplan, Kaplan, & Ryan, 1998; Ulrich, 1999). Nessa perspectiva, os elementos naturais podem auxiliar a promover três fatores importantes à redução de estresse e à promoção de bem-estar nos ambientes hospitalares (Ulrich, 1992, 1999): . Autonomia ou senso de controle: jardins acessíveis aos usuários;. . Suporte social: jardins externos e áreas de espera, com bancos que favoreçam a interação social;. . Distrações positivas: elementos naturais, como árvores e outras plantas, água, animais dóceis e outras pessoas. Quanto a este terceiro fator, Ulrich (1992) se referiu a faces, feições amigáveis, sorrisos e. afins. Embora eu entenda que o autor enfatizou os elementos positivos, preferi sintetizar em “pessoas”, pois: 1) elas são as autoras de tais comportamentos; 2) os seres humanos são parte da natureza, embora, às vezes, não se percebam assim – novamente, a importância da percepção. Segundo Ulrich (1992), além dos efeitos restauradores, as instituições que promovem tais fatores também se tornam competitivas, pois passam a atrair mais clientes, diminuem os custos com rotatividade de funcionários e com medicamentos, pois os benefícios à saúde repercutem em todos os envolvidos. Isso foi reforçado por estudos mais recentes, os quais demonstraram que os pacientes podem fazer juízos mais positivos sobre a atenção, conforto e.

(34) 34. qualidade de atendimento dependendo das peculiaridades do ambiente físico, organizacional e social dos hospitais. Consequentemente, a qualidade do serviço tende a ser reforçada (CorralVerdugo et at., 2015). Diante de tudo isso, torna-se incoerente que hospitais prescindam de ambiente naturais, enquanto buscam eficiência e funcionalidade (Rechel, Buchan, & McKee, 2009; R. S. Ulrich, artigo de conferência, Plants for people International Exhibition Floriade, 2002). Como destacado por Ulrich et al. (2008), o contato com a natureza pode reduzir dor, estresse, depressão, tempo de permanência no serviço de saúde, enquanto aumenta a satisfação de seus usuários. Já Kaplan e Kaplan (1989) propuseram que a simples possibilidade de contemplar um jardim, ainda que não possa se deslocar até ele, exerce efeitos terapêuticos sobre o paciente, pois auxilia na sua recuperação. Portanto, o conhecimento sobre os efeitos restauradores da natureza se tornaram fundamentais, especialmente em serviços de saúde (Ulrich, 1992; Ulrich et al. 2008)..

(35) 35. 5. Proposta de estudo Os estudos empíricos evidenciaram o que diferentes culturas observaram em diferentes. épocas: o contato com a natureza é benéfico à saúde; acalma, distrai, reduz o estresse psicofisiológico, a fadiga mental e promove qualidade de vida. Ironicamente, os hospitais, enquanto serviços de saúde, antes dotados de áreas verdes e ventilação natural, transformaram-se em centros especializados, focados em funcionalidade, otimização de processos, controle de custos e tratamento de doenças, em vez de pessoas. Geralmente equipados com tecnologia de alta complexidade e climatizados artificialmente, os “ambientes de saúde” ignoram a complexidade humana e tornam-se duplamente frios. Entretanto, a ilusória visão fragmentada, que distancia a saúde da natureza, e o ser humano do ambiente, tem sido desiludida. Em diferentes sociedades, tem se difundido uma crescente conscientização quanto à necessidade de ambientes funcionalmente eficientes, mas que sejam centrados na pessoa; portanto, psicologicamente adequados, ajudando os pacientes a lidarem com o estresse associado à doença (Ulrich, 1992, 1999). Ao mesmo tempo, ao trazer a pessoa para o foco, devemos lembrar que os responsáveis pelo funcionamento do serviço também são seres humanos. Logo, seria superficial e insustentável adotar um novo discurso, aparentemente mais humanizado, apenas como vitrine ou estratégia de mercado, e ignorar que a equipe também sofre o estresse, cuja continuidade debilita o sistema imunológico e propicia o surgimento de infecções e outras enfermidades (Capra, 1986, 1996). Assim, com o intuito de somar aos estudos sobre as relações pessoa-ambiente no contexto hospitalar e os efeitos positivos da natureza sobre a saúde humana, este estudo tem como objetivo: investigar como os espaços naturais de um hospital de Natal são percebidos pelos seus usuários..

(36) 36. A pesquisa foi realizada no Centro Avançado de Oncologia (CECAN) da Liga NorteRiograndense Contra o Câncer (LNRCC), em Natal/RN, onde tive a chance de realizar as primeiras observações, as quais motivaram este estudo, durante o estágio da graduação. Naquele momento, percebi que os usuários buscavam os espaços naturais, ainda que estes não fossem equipados para receber pessoas ou não tivessem sido planejados para tal. Espero que o estudo contribua para a compreensão da influência dos espaços naturais sobre as pessoas envolvidas no referido serviço de saúde. Ademais, o trabalho enfatiza a importância da interdisciplinaridade na construção do conhecimento, algo inerente à PsiAmb..

(37) 37. 6. Método O ambiente hospitalar possui uma dinâmica de funcionamento complexa, que. demanda ao mesmo tempo pragmatismo e sensibilidade, imediatismo e resignação, rotinas burocráticas e eventos inesperados. São paradoxos característicos dos serviços de saúde, os quais lidam com e refletem a vida humana. Diante de singular metabolismo de múltiplas facetas, optar por apenas um método seria cultivar limitações antes mesmo de ir a campo, o qual já imporia as suas próprias. Assim, optei pela abordagem multimetodológica (Günther, Elali & Pinheiro, 2008; Sommer & Sommer, 1997), uma das marcas dos estudos em PsiAmb, pois acredito ser mais apropriada à multiplicidade de elementos envolvidos nas relações humano-ambientais, especialmente em contexto de saúde. Buscando manter um olhar, além de curioso, cuidadoso, que precedesse e sensibilizasse minhas ações junto aos participantes, decidi combinar observação e entrevista: a primeira me forneceria um panorama amplo e as percepções iniciais, importantes na abordagem dos entrevistados; a segunda me permitiria um aprofundamento no estudo. Dessa maneira, à luz dos conceitos apresentados nos capítulos anteriores, interessoume investigar se os espaços naturais observados são restauradores aos usuários que os acessam. 6.1 Participantes Embora seja planejado com foco na saúde ou recuperação da qualidade de vida, o ambiente hospitalar é por si um fator estressor, pois está associado a adoecimento e sofrimento, em meio a um fluxo intenso e constante de pessoas; as que fazem funcionar o serviço e as que precisam dele; as que cuidam e as que são cuidadas. Ciente deste cenário, convidei apenas pessoas maiores de 18 anos, sem recidiva, sem demonstrar estado alterado de.

(38) 38. consciência, que utilizam os espaços naturais e, obviamente, que se considerassem aptas a participar da entrevista. Optei por não entrevistar pessoas com câncer recidivado, com rebaixamento do nível de consciência, apresentando algum comprometimento cognitivo ou fragilidade emocional. Não faria sentido. Seria desrespeitoso e contraditório: eu seria mais um fator estressor, além do próprio contexto; e ainda me atreveria a perguntar sobre a percepção dessas pessoas, sequer acessível. Diante da dinâmica de funcionamento e peculiaridades do ambiente hospitalar, consegui entrevistar 11 usuários, sendo: quatro funcionários e um voluntário, quatro pacientes e dois acompanhantes. Aproveito para destacar que, em alguns momentos, empreguei o termo “colaboradores” como equivalente a funcionários e voluntários (pessoas que trabalham na unidade), e “clientes” em referência a pacientes e acompanhantes (pessoas buscam o serviço). Dados de sexo e idade, embora coletados, não foram diretamente relevantes ao objeto de estudo. 6.2 Técnicas e instrumentos Visando perceber e abordar diferentes aspectos do fenômeno estudado, utilizei dois métodos: 1) Mapeamento Comportamental Centrado no Ambiente (MCCA), com levantamento da ocupação dos espaços naturais e das suas características físicas; e então 2) as entrevistas dos usuários, visando compreender a experiência subjetiva dos mesmos ao acessar os espaços naturais. Contudo, além desses dois métodos, enfatizo que a observação assistemática não apenas motivou o estudo, como também ocorreu ao longo deste. 6.2.1 Observação assistemática Como afimaram Sommer e Sommer (1997), a observação é um método de pesquisa ideal para quem gosta de assistir pessoas. Felizmente, este é o meu caso. Talvez, seja uma das causas de eu ser psicólogo; mas, certamente, é o que provocou este estudo, como relatei no.

(39) 39. capítulo de introdução. Refiro-me aqui à observação assistemática (ou casual), que após ajudar o trabalho a nascer, o ajudou a se desenvolver. Realizando observações casuais enquanto estagiei no CECAN, consegui conhecer os espaços naturais existentes na unidade hospitalar e ter uma noção sobre a utilização deles. Já no presente estudo, novas observações permitiram: a) conhecer o jardim do Grupo Despertar, formado por voluntárias que estão ou já estiveram em tratamento contra câncer de mama; b) a escolha dos espaços a serem mapeados; e c) o levantamento das principais categorias comportamentais, relevantes ao estudo, como recomendado por Pinheiro, Elali e Fernandes (2008) para a ficha de observação do MCCA. Tanto o jardim do Grupo Despertar quanto os espaços mapeados estão contornados em vermelho na planta baixa esquemática (apêndice A). Mesmo após a conclusão do mapeamento comportamental, as observações assistemáticas foram úteis para verificar a dinâmica do serviço a cada dia, assim como o estado físico e emocional dos potenciais entrevistados, a fim de avaliar cada abordagem. Mais que familiarização, tais observações representaram cuidado e sensibilidade, especialmente importantes no contexto hospitalar. Dessa maneira, respeitei o espaço-tempo das pessoas, como recomendou Günther (2008). 6.2.2 Mapeamento Comportamental Centrado do Ambiente (MCCA) Este tipo de mapeamento, enquanto observação sistemática, permite a representação visual do comportamento humano com ênfase na ocupação ou utilização de determinado espaço, em dado tempo (Pinheiro, Elali, Fernandes, 2008; Sommer & Sommer, 1997). Com este método, observei a utilização de dois espaços naturais do CECAN: I) Toca do Matias: duas áreas de sombra arbórea (figuras 1 e 2), com bancos de madeira, habitadas por pássaros e saguis, próximas aos setores de administração e nutrição, onde fica o refeitório. O acesso a este espaço é restrito aos colaboradores;.

(40) 40. Figura 1. Toca do Matias ao lado do setor de administração. Figura 2. Toca do Matias ao lado do setor de nutrição. II) Entrada principal: gramado com jardim (figura 3) e estacionamento arborizado (figura 4) situados na entrada principal no CECAN.. Figura 3. Entrada principal (gramado). Figura 4. Entrada principal (estacionamento). Para realizar o mapeamento comportamental, elaborei a ficha de observação (apêndice B) com os campos abaixo, baseados nas observações assistemáticas previamente realizadas na referida unidade hospitalar: . MCCA do espaço: identificação do espaço natural observado;. . Dia: dia da semana;. . Data: dia, mês e ano;. . Temp: temperatura aproximada, via aplicativo de celular;. . Sombra: sim (S) ou não (N);. . Cobertura: artificial (A) ou natural (N);. . Vento: ausente (A), brisa (B) ou forte (F);.

(41) 41. . Céu: ensolarado (S), nublado (N) ou fechado (F);. . Categorias comportamentais (colunas) e horas (linhas);. . Comentários.. Três categorias comportamentais foram levantadas na observação assistemática e incluídas na ficha de observação, as quais convencionei como: 1) contemplação: quando a pessoa está apenas observando o ambiente, não está interagindo com outros usuários e nem está deitada; 2) socialização: quando a pessoa está interagindo com outra(s), mas não está deitada; 3) repouso deitado: quando a pessoa está deitada (mesmo que esteja observando o ambiente ou interagindo com outros indivíduos). Aproveito para destacar que foi desnecessário mapear o jardim do Grupo Despertar, pois a observação assistemática foi suficiente para verificar como ele é acessado e motivar a entrevista de uma das voluntárias. As fotos do jardim podem ser vistas no próximo capítulo. 6.2.3 Entrevista As observações assistemáticas e sistemáticas ofereceram um panorama das relações dos usuários com os espaços naturais e auxiliou a escolha dos participantes e a formulação das perguntas da entrevista. Segundo Günther (2008), a entrevista é importante aos estudos das relações pessoaambiente por ser capaz de destacar o ambiente como integrante de experiências e ações humanas, tanto nos níveis intra e interpessoal como nos grupal e intergrupal. Por sua vez, Duarte (2004) destacou que a entrevista auxilia a compreensão sobre a realidade do indivíduo, como este a percebe e lhe atribui significado, algo dificilmente acessado com outros instrumentos. Nesse sentido, a entrevista se apresenta como um instrumento adequado, trazendo detalhamento à visão ampla do mapeamento comportamental, necessária à compreensão dos.

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