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Visando perceber e abordar diferentes aspectos do fenômeno estudado, utilizei dois métodos: 1) Mapeamento Comportamental Centrado no Ambiente (MCCA), com levantamento da ocupação dos espaços naturais e das suas características físicas; e então 2) as entrevistas dos usuários, visando compreender a experiência subjetiva dos mesmos ao acessar os espaços naturais. Contudo, além desses dois métodos, enfatizo que a observação assistemática não apenas motivou o estudo, como também ocorreu ao longo deste.

6.2.1 Observação assistemática

Como afimaram Sommer e Sommer (1997), a observação é um método de pesquisa ideal para quem gosta de assistir pessoas. Felizmente, este é o meu caso. Talvez, seja uma das causas de eu ser psicólogo; mas, certamente, é o que provocou este estudo, como relatei no

capítulo de introdução. Refiro-me aqui à observação assistemática (ou casual), que após ajudar o trabalho a nascer, o ajudou a se desenvolver.

Realizando observações casuais enquanto estagiei no CECAN, consegui conhecer os espaços naturais existentes na unidade hospitalar e ter uma noção sobre a utilização deles. Já no presente estudo, novas observações permitiram: a) conhecer o jardim do Grupo Despertar, formado por voluntárias que estão ou já estiveram em tratamento contra câncer de mama; b) a escolha dos espaços a serem mapeados; e c) o levantamento das principais categorias comportamentais, relevantes ao estudo, como recomendado por Pinheiro, Elali e Fernandes (2008) para a ficha de observação do MCCA. Tanto o jardim do Grupo Despertar quanto os espaços mapeados estão contornados em vermelho na planta baixa esquemática (apêndice A).

Mesmo após a conclusão do mapeamento comportamental, as observações assistemáticas foram úteis para verificar a dinâmica do serviço a cada dia, assim como o estado físico e emocional dos potenciais entrevistados, a fim de avaliar cada abordagem. Mais que familiarização, tais observações representaram cuidado e sensibilidade, especialmente importantes no contexto hospitalar. Dessa maneira, respeitei o espaço-tempo das pessoas, como recomendou Günther (2008).

6.2.2 Mapeamento Comportamental Centrado do Ambiente (MCCA)

Este tipo de mapeamento, enquanto observação sistemática, permite a representação visual do comportamento humano com ênfase na ocupação ou utilização de determinado espaço, em dado tempo (Pinheiro, Elali, Fernandes, 2008; Sommer & Sommer, 1997). Com este método, observei a utilização de dois espaços naturais do CECAN:

I) Toca do Matias: duas áreas de sombra arbórea (figuras 1 e 2), com bancos de madeira, habitadas por pássaros e saguis, próximas aos setores de administração e nutrição, onde fica o refeitório. O acesso a este espaço é restrito aos colaboradores;

Figura 1. Toca do Matias ao lado do setor de

administração Figura 2. Toca do Matias ao lado do setor denutrição

II) Entrada principal: gramado com jardim (figura 3) e estacionamento arborizado (figura 4) situados na entrada principal no CECAN.

Figura 3. Entrada principal (gramado) Figura 4. Entrada principal (estacionamento)

Para realizar o mapeamento comportamental, elaborei a ficha de observação (apêndice B) com os campos abaixo, baseados nas observações assistemáticas previamente realizadas na referida unidade hospitalar:

 MCCA do espaço: identificação do espaço natural observado;  Dia: dia da semana;

 Data: dia, mês e ano;

 Temp: temperatura aproximada, via aplicativo de celular;  Sombra: sim (S) ou não (N);

 Cobertura: artificial (A) ou natural (N);  Vento: ausente (A), brisa (B) ou forte (F);

 Céu: ensolarado (S), nublado (N) ou fechado (F);  Categorias comportamentais (colunas) e horas (linhas);  Comentários.

Três categorias comportamentais foram levantadas na observação assistemática e incluídas na ficha de observação, as quais convencionei como: 1) contemplação: quando a pessoa está apenas observando o ambiente, não está interagindo com outros usuários e nem está deitada; 2) socialização: quando a pessoa está interagindo com outra(s), mas não está deitada; 3) repouso deitado: quando a pessoa está deitada (mesmo que esteja observando o ambiente ou interagindo com outros indivíduos).

Aproveito para destacar que foi desnecessário mapear o jardim do Grupo Despertar, pois a observação assistemática foi suficiente para verificar como ele é acessado e motivar a entrevista de uma das voluntárias. As fotos do jardim podem ser vistas no próximo capítulo.

6.2.3 Entrevista

As observações assistemáticas e sistemáticas ofereceram um panorama das relações dos usuários com os espaços naturais e auxiliou a escolha dos participantes e a formulação das perguntas da entrevista.

Segundo Günther (2008), a entrevista é importante aos estudos das relações pessoa- ambiente por ser capaz de destacar o ambiente como integrante de experiências e ações humanas, tanto nos níveis intra e interpessoal como nos grupal e intergrupal. Por sua vez, Duarte (2004) destacou que a entrevista auxilia a compreensão sobre a realidade do indivíduo, como este a percebe e lhe atribui significado, algo dificilmente acessado com outros instrumentos.

Nesse sentido, a entrevista se apresenta como um instrumento adequado, trazendo detalhamento à visão ampla do mapeamento comportamental, necessária à compreensão dos

aspectos envolvidos na percepção ambiental dos usuários quanto aos espaços naturais que acessam na referida unidade hospitalar.

Entretanto, tal instrumento traz um desafio: conseguir o consentimento do entrevistado, que deve ser esclarecido quanto ao propósito da pesquisa e do encontro, e ao uso dos dados coletados (Duarte, 2004). Somado a isso, o ambiente hospitalar requer diferentes dinâmicas dos usuários, de acordo com seus papéis. Alguns funcionários e voluntários têm horários previstos de intervalo, já outros nem sempre pausam quando desejam. Por sua vez, os pacientes e acompanhantes ficam atentos à ordem na fila de atendimento, aos chamados de “encaixe” de atendimento, aos passos a percorrer dentro do serviço de saúde, ou mesmo à chegada do transporte.

Por outro lado, percebido o sincero interesse do entrevistador, as pessoas revelam muito sobre si mesmas, suas crenças e seus sentimentos; elas contam suas histórias de um jeito particular e são empoderadas enquanto especialistas de suas próprias experiências (Sommer & Sommer, 1997).

Por todos esses aspectos, precisei adotar um roteiro semi-estruturado (apêndice C), pois, se por um lado, eu precisaria nortear o encontro com algumas perguntas; por outro, certa flexibilidade se fez necessária às situações, sem perder informações relevantes ao estudo.

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