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Typosquatting - a concorrência desleal virtual

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Academic year: 2021

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(1)Revista de Ciências Gerenciais Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008. TYPOSQUATTING - A CONCORRÊNCIA DESLEAL VIRTUAL. RESUMO Guilherme Machado Casali Instituto de Ensino Superior de Joinville IESVILLE casali@netvision.com.br. Edmilson Wessling Instituto de Ensino Superior de Joinville IESVILLE almoxarifado.hbjvl@bourbon.com.br. A concorrência, como expressão da livre iniciativa e da livre concorrência, é benéfica e salutar, pois estimula os negócios e desenvolve a atividade produtiva. Entretanto esta deve se dar por meios idôneos. Com o objetivo de evitar práticas contrárias aos usos comerciais a Lei de Propriedade Intelectual reputa como ilegal atos de concorrência desleal que criam confusão entre os fornecedores, desviem a clientela ou sejam contrários à moralidade comercial. Igualmente no comércio eletrônico a proteção à concorrência desleal se faz necessária. Dando-se especial atenção ao site do empresário que possui características tanto de ponto comercial quanto de título do estabelecimento. Nesta proteção a vedação da prática de typosquatting, que é a utilização maliciosa de erros de grafia no acesso aos endereços na internet, tem sido considerada ato de concorrência desleal, sugerindo-se medidas de precaução contra este tipo de prática. Palavras-Chave: Concorrência desleal, comércio eletrônico, typosquatting.. ABSTRACT. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br. The competition, as an expression of free enterprise and free competition, is welcome and healthy, because it stimulates business and develops production. However it must be done by suitable means. In order to avoid of avoiding misconducts the Brazilian law of Intellectual Propriety considers as illegal acts of unfair competition that create confusion among suppliers, mislead customers away from competitors, or are contrary to commercial ethics. Also in the e-commerce the protection of unfair competition is necessary. There’s been given special attention to the site of the entrepreneur which holds both characteristics of being a commercial point and as the title of the establishment. In this protection it’s forbidden he practice of typosquatting, which is the malicious use of the spelling errors in accessing the addresses on the internet. In Brazil this act has been considered as unfair competition. By this reasons it’s suggested measures of precaution against this kind of practice. Keywords: Unfair competition, e-commerce, typosquatting.. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 2/6/2008 Avaliado em: 29/7/2008 Publicação: 19 de dezembro de 2008 77.

(2) 78. Typosquatting - a concorrência desleal virtual. 1.. INTRODUÇÃO As relações comerciais desenvolveram-se de forma muito acelerada nos últimos anos. Aspectos concorrenciais tornaram-se cada vez maiores em um mercado extremamente competitivo. Entretanto a concorrência não pode se dar de forma desregulada. A concorrência desleal é e deve ser coibida de forma a manter a lealdade na vida comercial. Com o escopo de estudar estas relações faz-se, num primeiro momento, um breve resumo sobre o conceito de concorrência, como ela está inserida na sociedade capitalista e sua relação com a liberdade de iniciativa e comercial. Após conceitua-se a concorrência desleal e seus elementos, especialmente a sua caracterização legal. Ao final, destaca-se uma espécie específica de concorrência desleal praticada num âmbito virtual, ou seja, no comércio eletrônico. Trata-se da prática de typosquatting, forma evidente de desvio de clientela. Conclui-se chamando atenção para algumas cautelas que podem ser tomadas para evitar a concorrência desleal virtual através do typosquatting.. 2.. CONCORRÊNCIA A concorrência corresponde a uma competição entre fabricantes, produtores, vendedores, prestadores de serviços, empresários em geral, indicando uma rivalidade, uma disputa econômica entre agentes econômicos no mercado. Marcondes (2001, p. 5) define concorrência como: Um fenômeno complexo e um dos seus pressupostos essenciais é a liberdade, para que os agentes econômicos façam o melhor uso de sua capacidade intelectual e organizem da melhor maneira possível os fatores de produção de bens ou de prestação de serviços, de modo a obter produtos de boa qualidade e a oferecê-los no mercado a preços atraentes.. Observa-se, portanto, que para haver concorrência é necessário a existência de um mercado, portanto sem mercado não há concorrência. Caracteriza-se a concorrência quando há a disputa pelos mesmos clientes de um mercado. Isto ocorre quando estes empresários possuem produtos semelhantes desenvolvidos ou fabricados por empresas distintas e os colocam em posição de concorrência, porque pretendem conquistar os mesmos clientes em potencial para seus produtos ou serviços. A concorrência, por conseguinte, torna-se proveitosa e útil quando instiga a melhoria constante dos bens e serviços ofertados no mercado, possibilitando até mesmo a diminuição do preço final ao consumidor. Esta prática é, portanto salutar ao de-. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89.

(3) Guilherme Machado Casali, Edmilson Wessling. senvolvimento social. Entretanto, como afirma Martins (2005, p. 451), “a competição comercial deve ser leal e sincera, transparente, eis que a boa-fé é o símbolo fundamental mais destacado da relação empresarial”. Desta forma exaltam-se dos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência, previstos respectivamente nos artigos 1º e 170º da Constituição da República Federativa do Brasil. No entanto, o excesso da liberdade de iniciativa e concorrencial podem acarretar abusos. Não raro “empresários industriais inescrupulosos buscam, comumente, utilizar-se, de maneira ilegal, dos elementos que constituem a base do êxito dos concorrentes para auferir vantagens com o uso dos mesmos” (MARTINS, 2005, p. 451). Assim, para salvaguardar a lisura nos meios de concorrência das relações econômicas dos excessos praticados na busca desenfreada por clientes, especialmente através de meios inidôneos, tem-se como necessário coibir a concorrência desleal.. 3.. CONCORRÊNCIA DESLEAL Requião (2003, p. 341) afirma que o conceito de concorrência desleal ainda está em formação, “pois se a expressão concorrência tem sentido exato, o adjetivo desleal é obscuro, dependendo do vago conceito de deslealdade”. Assim, para solucionar esta vagueza de sentido, utilizam-se conceitos legais, especialmente através da caracterização como crime de concorrência desleal os modos relacionados no art. 195º da Lei nº 9.279/96, a chamada Lei de Propriedade Intelectual (LPI). A concorrência desleal criminosa acontece quando esses meios ou métodos empregados são tão perigosos ou graves, que são notados como crimes, produzindo sanções penais. Observa-se a possibilidade de se classificar os atos de concorrência desleal de acordo com critério o interesse protegido. Requião (2003, p. 344-235) divide os atos de concorrência desleal em: a) Atos geradores de confusão que incidem sobre os signos distintivos usados pelo concorrente; b) Atos de desvio de clientela, os quais buscam denegrir o concorrente e seus produtos e serviços (agressão ao competidor); e c) Atos contrários à moralidade comercial que estão situados na violação dos segredos dos concorrentes, por meio de seus empregados ou demais integrantes da empresa e na propaganda falsa.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89. 79.

(4) 80. Typosquatting - a concorrência desleal virtual. Entre os tipos penais descritos no art. 195º da LPI, que ensejam ações que se enquadram na divisão referida por Requião, supracitado, destacam-se: a) Publicar, prestar ou divulgar, afirmação ou informação falsa em detrimento de concorrente; b) Empregar meio fraudulento para desviar clientela do concorrente, usando expressão ou sinal de propaganda do concorrente, ou criando confusão entre os produtos ou estabelecimentos; c) Usar, indevidamente, nome comercial, título de estabelecimento ou insígnia do concorrente; d) Vender, expor ou oferecer à venda ou ter em estoque indevidamente produto do concorrente ou substituir, pelo seu próprio nome ou razão social, em produto de concorrente, o nome ou razão social deste, sem o seu consentimento; e) Vender, expor ou oferecer à venda, em recipiente ou invólucro de outrem, produto adulterado ou falsificado, ou dele se utiliza para negociar com produto da mesma espécie, embora não adulterado ou falsificado, se o fato não constitui crime mais grave; f) Fazer propaganda de mérito, recompensa ou distinção que não obteve; g) Dar ou prometer dinheiro ou outra vantagem a empregado de concorrente, para que o empregado, faltando ao dever do emprego, lhe proporcione vantagem, bem como receber dinheiro ou vantagem para faltar ao dever de empregado e proporcionar vantagem a concorrente do empregador; h) Divulgar, explorar ou utilizar-se, sem autorização, de segredo industrial a que teve acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o término do contrato ou que tenha obtido por meios ilícitos ou fraude; i). Vender, expor ou oferecer à venda produto como patenteado ou registrado sem o ser;. j). Divulgar, explorar ou utilizar-se de resultados de testes ou outros dados não divulgados sem a devida autorização, cuja elaboração envolva esforço considerável e que tenham sido apresentados a entidades governamentais como condição para aprovar a comercialização de produtos.. Além desta deslealdade competitiva considerada no âmbito penal, não se pode esquecer a possibilidade da ocorrência de uma violação contratual. Neste caso tratase de uma conseqüência a violação de pacto de não concorrência. O pacto de não concorrência pode ainda decorrer da imposição legal, como por exemplo, a cláusula de não-restabelecimento, mesmo quando o contrato de compra e venda de estabelecimento comercial seja omisso neste particular. Isto é o que determina o art. 1.147 do Código Civil de 2002 (Lei nº 10.406/2002), “não havendo autoriza-. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89.

(5) Guilherme Machado Casali, Edmilson Wessling. ção expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência”. Assim, na omissão do contrato, o alienante de estabelecimento comercial não pode restabelecer-se na mesma praça, concorrendo com o adquirente, no prazo de cinco anos seguintes ao negócio, sob pena de ser obrigado a cessar suas atividades e indenizar este último pelos danos provenientes de desvio eficaz de clientela sobrevindos durante o período do restabelecimento. Destarte, os atos de concorrência desleal implicam não apenas em condenação criminal, mas também o dever de indenizar o empresário prejudicado. A Lei de Propriedade Intelectual (art. 209º da LPI) não limita quais práticas são consideradas ilícitas, resguardando o direito ao comerciante lesado de ser ressarcido nas perdas e danos que os atos “tendentes a prejudicar a reputação ou os negócios alheios, a criar confusão entre estabelecimentos comerciais, industriais ou prestadores de serviço, ou entre os produtos e serviços postos no comércio” venham a causar, mesmo que não previstos expressamente. A reparação, nestes casos, poderá incluir nos termos do art. 210º da LPI, os lucros cessantes, ou seja, aqueles que o empresário deixou de receber, levando em consideração: a) os benefícios que o prejudicado teria auferido se a violação não tivesse ocorrido; ou, b) os benefícios que foram efetivamente recebidos pelo autor da violação; ou, c) o valor que o autor da violação teria pago ao titular do direito violado pela concessão de uma licença que lhe permitisse legalmente explorar o bem. Observa-se, portanto, que para o reconhecimento e respectiva proteção de atos de concorrência desleal faz-se à análise do fato em concreto, que, com os avanços das relações mercantis, tornam-se cada vez mais sofisticadas. De acordo com Marcondes (2001, p. 15): O que se condena, na repressão da concorrência desleal, é o emprego de certos meios de luta, constituindo ato reprimível criminalmente e gerador de pretensão à abstenção ou indenização, que se praticou no exercício de alguma atividade e ofende a outrem no plano da livre concorrência.. Desta forma percebe-se que a concorrência desleal não possui necessariamente um conceito fixo e pré-determinado, sendo concebido até mesmo como “imprecisa e depende de uma apreciação especial e subjetiva das relações costumeiras entre os comerciantes, não havendo, pois critério geral e objetivo para a caracterização da concorrência desleal não-criminosa” (COELHO, 2003, p. 32).. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89. 81.

(6) 82. Typosquatting - a concorrência desleal virtual. 4.. O SITE COMO DUPLO ELEMENTO DO FUNDO DE COMÉRCIO – COMO PONTO COMERCIAL E TÍTULO DO ESTABELECIMENTO O fundo de comércio é composto de bens corpóreos, tais como mercadorias, instalações, máquinas e utensílios, e bens incorpóreos, a exemplo do ponto comercial e do título do estabelecimento. Tem-se o fundo de comércio como o instrumento da atividade empresarial. “Com ele o empresário comercial aparelha-se para exercer sua atividade. Forma o fundo de comércio a base física da empresa, como um instrumento da atividade empresarial” (REQUIÃO, 2003, p. 270). As mudanças na atividade mercantil acompanharam o desenvolvimento tecnológico, modificando seus instrumentos que ultrapassaram os limites de seus estabelecimentos físicos, tornando-se virtual, realizando transações mercantis através da utilização da internet. Em razão disto, criou-se um novo tipo de estabelecimento, o virtual. Distingue-se do estabelecimento empresarial físico, em razão dos meios de acessibilidade. Aquele o consumidor ou adquire bens ou serviços acessa exclusivamente por transmissão eletrônica de dados, enquanto o estabelecimento físico é acessível pelo deslocamento no espaço. A natureza do bem ou serviço objeto de negociação é irrelevante para a definição da virtualidade do estabelecimento. Se alguém adquire, via internet, um eletrodoméstico, a mercadoria nada tem de virtual, mas como a sua compra decorreu de contrato celebrado com o meio e recepção eletrônicos de dados via rede mundial de computadores, considera-se realizada num estabelecimento virtual. (COELHO, 2003, p. 71).. Caracteriza-se o comércio eletrônico através das relações negociais entabuladas para a circulação de mercadorias, prestação ou intermediação de serviços realizados através de meios eletrônicos. De tal modo, desde a oferta do produto ou serviços até a sua efetiva entrega, toda a relação entre consumidores e fornecedores dá-se fora de um estabelecimento físico. Desta forma abre-se todo um leque de opções aos empresários, que não necessariamente precisam estar estabelecidos em um ambiente físico, isto é, aquele conhecido como ponto comercial. Requião entende por “ponto o lugar do comércio, em determinado espaço, em uma cidade, por exemplo, uma beira de estrada, em que está situado o estabelecimento, e para o qual se dirige a clientela.” (2003, p. 285). Continua o autor afirmando que “o ponto existe desde que o empresário, estabelecido em determinado local, comece a chamar a atenção e atrair clientela” (REQUIÃO, 2003, p. 286). Esta capacidade passa a ganhar novos contornos a partir do desenvolvimento do comércio eletrônico, entretanto continua vinculada ao local da atividade econômica. Neste tipo de relação, ou seja, via internet, também o ponto comercial pode ser considerado como o “endereço” em que o comerciante é encontrado. As páginas na internet. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89.

(7) Guilherme Machado Casali, Edmilson Wessling. representam este endereço. Em inglês o substantivo site, que significa “terreno, sítio, lugar”, ou ainda home page cuja tradução literal seria “página da casa / do lar”, indicam que a utilização destas expressões também significa o lugar onde se encontra o comerciante. Desta forma, para fins de proteção e caracterização deste lugar em que o comerciante exerce sua atividade no ambiente virtual prefere-se a utilização das expressões em língua inglesa, tais como site e home page, pois recorrem ao sentido de lugar. Assim, a expressão “página na internet” como tradução destes termos não parece tão adequada como quanto à utilização do termo “sítio na internet” ou ainda a manutenção das expressões da língua inglesa. Assim, o ambiente virtual de exercício da atividade do empresário deve igualmente ser protegido e reconhecido como ponto comercial, tornando o site um elemento do fundo de comércio como bem incorpóreo. Isto porque o ponto comercial, e, portanto também o site, possui como característica a capacidade de atrair a clientela. “Um bom ponto dá ao empresário a possibilidade de realizar maior número de transações, e, auferir lucro acentuado” (MARTINS, 2005, p. 419). Além de ponto comercial, destaca-se como bem incorpóreo o título do estabelecimento, que segundo Martins (2005, p. 427) “é um dos elementos do fundo de comércio do comerciante e como tal tem valor patrimonial”. No comércio eletrônico também o site possui a função de indicar, na rede mundial de computadores, o próprio título do estabelecimento. O elemento de identificação do estabelecimento empresarial não se confunde com o nome empresarial, que identifica o sujeito de direito empresário, nem com a marca, identidade de produto. Não se confundem estes três elementos de identificação disciplinados no direito comercial, recebendo da lei, cada um deles, uma proteção específica, consistente na prerrogativa de utilização exclusiva. (COELHO, 2003, p. 70).. Coelho (2003, p. 72) destaca que “os estabelecimentos virtuais possuem endereço eletrônico, que é o seu nome de domínio” destacando duas funções: A primeira é técnica: proporciona as interconexões dos equipamentos. Por meio do endereço eletrônico, o computador do comprador põe-se em rede com os equipamentos que geram a página do empresário (vendedor). É esta função similar à do número de telefone. A segunda função tem sentido jurídico: identifica o estabelecimento virtual na rede. Cumpre, assim, em relação à página acessível via internet, igual função à do título do estabelecimento em relação ao ponto. (COELHO, 2003, p. 72).. Desta forma o próprio site, ou melhor, o nome de domínio, possui a mesma proteção de título de estabelecimento.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89. 83.

(8) 84. Typosquatting - a concorrência desleal virtual. Conclui-se, portanto, que o site constitui-se em um bem incorpóreo – e assim não poderia deixar de ser, pois é virtual – indicando tanto o ponto comercial quanto o título do estabelecimento. Ambos os elementos possuem grande capacidade de dar lucro, e a esta possibilidade de um empreendimento dar lucro dá-se o nome de aviamento. Este é o ensinamento de Requião (2003, p. 334), para quem “toda a teoria moderna sustenta ser o aviamento um atributo, uma qualidade da empresa ou da azienda, isto é, sua aptidão, sua capacidade funcional de dar lucros”. Conclui que o “aviamento é a aptidão da empresa produzir lucros, decorrente da qualidade e da melhor perfeição de sua organização” (REQUIÃO, 2003, p. 334). Martins (2005, p. 446) compreende aviamento como “o resultado de um, alguns ou todos os elementos do fundo de comércio”. O autor inclui entre os elementos do aviamento a freguesia e afirma que esta representa [...] o elemento consumidor para o qual constantemente se voltam as atenções do comerciante já que o sucesso do negócio está diretamente ligado à clientela, verifica-se que todos os esforços do comerciante, ao aparelhar seu estabelecimento comercial, se dirigem para esse elemento, razão pela qual se pode dizer que o fundo de comércio é um conjunto de elementos constituídos pelo comerciante no sentido de tornar seu estabelecimento capaz de atrair freguesia. Este será, em resumo, o ponto para que convergem todas as atenções do comerciante. (MARTINS, 2005, p. 447).. Diante de tudo isto se deve dar ao site do empreendimento empresarial a mesma proteção que se dá quer ao ponto comercial como quanto ao título do estabelecimento, pois atualmente este elemento assumiu mais contornos maiores do que meramente um meio de divulgação ou publicidade, trata-se de um elemento do fundo de comércio e, portanto capaz de atrair consumidores.. 5.. TYPOSQUATTING COMO ATO DE CONCORRÊNCIA DESLEAL A proteção da concorrência desleal, pelos atributos conferidos atualmente ao comércio eletrônico, não pode estar limitada ao âmbito do comércio físico, isto é, também nas relações no mundo virtual devem ser observadas as regras das boas práticas comerciais. A proteção da reputação dos negócios e da clientela deve alcançar também cyberespaço. Evidentemente que um estabelecimento comercial é encontrado por seu endereço, aqui se considerando o ponto comercial localizado em uma determinada rua, de um determinado bairro, de uma determinada cidade, e assim por diante, utilizando-se de sinais de propaganda para que seja encontrado.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89.

(9) Guilherme Machado Casali, Edmilson Wessling. Por outro lado, num ambiente virtual este endereço ganha uma importância ainda maior. Até porque não há como se indicar uma referência (ex.: à esquerda do seu mouse você encontrará o site que vende livros). Isto faz com que o endereço virtual ganhe ainda maior importância neste âmbito de relações comerciais. Assim, quanto mais rapidamente e facilmente o consumidor possa encontrar o site desejado, maior valia ou maior potencialidade de lucro este empresário terá. Por tais razões é que empresários buscam tornar cada vez mais simples a busca por seus sites. A fragilidade das práticas de atos correlatos ao comércio eletrônico, e a falta de regulamentação e fiscalização dá margem a diversas formas de concorrências desleais cometidas na internet. Atualmente, através do Decreto nº. 4.829, de 3 de setembro de 2003, compete ao Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGIbr tratar sobre “o registro de Nomes de Domínio, na alocação de Endereço IP (Internet Protocol) e na administração pertinente ao Domínio de Primeiro Nível (ccTLD - country code Top Level Domain), ‘.br’, no interesse do desenvolvimento da Internet no País” (art. 1º, inc. II), bem como “promover estudos e recomendar procedimentos, normas e padrões técnicos e operacionais, para a segurança das redes e serviços de Internet, bem assim para a sua crescente e adequada utilização pela sociedade” (art. 1º, inc. IV). O CGIbr atribuiu ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR NIC.br “a execução do registro de Nomes de Domínio” (art. 1º da Resolução nº. 001/2005 do CGIbr), sendo que “o registro de um domínio disponível será concedido ao primeiro requerente que satisfizer, quando do requerimento, as exigências para o registro do mesmo” (art. 1º da Resolução nº. 002/2005 do CGIbr). Nem mesmo o CGIbr nem mesmo o NIC.br se responsabilizam pelos nomes registrados, transferindo a responsabilidade aos requerentes do registro. Constitui-se em obrigação e responsabilidade exclusivas do requerente a escolha adequada do nome do domínio a que ele se candidata. O requerente declarar-se-á ciente de que não poderá ser escolhido nome que desrespeite a legislação em vigor, que induza terceiros a erro, que viole direitos de terceiros, que represente conceitos predefinidos na rede Internet, que represente palavras de baixo calão ou abusivas, que simbolize siglas de Estados, Ministérios, dentre outras vedações. (art. 1º, §1º, da Resolução nº. 002/2005 do CGIbr).. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89. 85.

(10) 86. Typosquatting - a concorrência desleal virtual. Em que pese existir a proibição de “desrespeitar a legislação vigente” e de não “induzir terceiros a erros”, a ausência de averiguação antes da realização do registro e de fiscalização, possibilitam uma forma de concorrência desleal que é o typosquatting. Considera-se typosquatting como uma forma de cybersquatting que significa a ocupação e um espaço virtual, ou melhor, de uma página na Internet ainda não utilizada. A origem da palavra inglesa typosquatting é derivativa junção do termo “typo”, de erro tipográfico ou erro de impressa, e do termo “squatting” que significa a ocupação de um lugar abandonado, ou vazio. Observa-se que apenas marcas de relevante interesse comercial são vítimas deste tipo de concorrência desleal. Considerando hipoteticamente uma marca de renome como “Exemplo”, e caso o proprietário desta marca demorasse em registrar seu nome de domínio na Internet aquele que primeiro registrasse “www.exemplo.com.br” estaria praticando cybersquatting, pois teria registrado o título de um estabelecimento que não lhe pertence. A prática de cybersquatting por vezes não tem apenas a má intenção de desviar a clientela do concorrente, mas também de cobrar do proprietário da marca pelo uso do site que não tenha sido objeto de registrado em tempo. Por outro lado, ainda que este endereço tenha sido efetivamente registrado por seu verdadeiro proprietário, é possível que, por conta de erros de digitação cometidos pelos usuários da Internet, quando de seus acessos aos endereços pretendidos, estes usuários possam ser remetidos a um local diferente daquele inicialmente pretendido. Neste caso, principalmente quando este local diverso do pretendido explorar o mesmo ramo de atividade do original, fica evidente tentativa de criar confusão entre as empresas e, via de conseqüência, desviar clientela. Esta prática é denominada typosquatting, que é uma forma de concorrência desleal, pois é um ato que cria confusão entre os concorrentes e desvia a clientela. Ressalta-se que o erro de digitação propriamente dito não pode ser considerado como uma prática ilegal, até porque a iniciativa é do próprio usuário. A ilegalidade está em se aproveitar deste deslize e, antevendo-o, o concorrente desleal cria uma nova página na Internet que intencionalmente provoca uma confusão entre as empresas desviando o consumidor de acessar o site do verdadeiro detentor da marca. Verifica-se o typosaquatting através de (1) erros comuns de ortografia, tomando-se como modelo um site oficial como “www.exemplo.com.br” se considera typos-. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89.

(11) Guilherme Machado Casali, Edmilson Wessling. quatting. por. erro. de. ortografia. páginas. como. “www.exempro.com.br”,. “www.ezemplo.com.br”. Em um país como o Brasil, onde se popularizou o uso do computador e o analfabetismo funcional tem chamado a atenção de especialistas, erros como estes não são totalmente descartados. Outra possibilidade é o (2) erro acidental de digitação. Ainda considerando o exemplo acima pode-se citar erros como: “www.exempol.com.br”, ou também “www.exmeplo.com.br”. Não se pode esquecer também da possibilidade de (3) erros de domínios, tais como “www.exemplo.net”, ou ainda “www.exemplo.org.br”. Decisões judiciais têm reconhecido o typosquatting como forma de concorrência desleal, impedindo sua prática. Como por exemplo, a decisão tomada em São Paulo, onde empresas do mesmo ramo de atividade – hospedagem de home page – levaram a litígio o uso de nomes de domínios semelhantes. Extrai-se da decisão que: Efetivamente, a requerida ao fazer uso da expressão “Locaweb” e “Localweb”, tentou confundir o interessado na feitura de prestação de serviço, sob a forma de hospedagem, eis que atua na mesma área da autora, não havendo qualquer possibilidade de estabelecer interface entre domínio e subdomínio. Destarte, a requerente traz longa tradição no mercado e incorpora serviço para hospedagem de um número indeterminado de provedores que utilizam serviços, objetivando a requerida angariar clientela e desviar para seu domínio a consulta formulada pelo interessado. Conseqüentemente, na linguagem do direito eletrônico e na percepção antiga de Túlio Ascarelli, o direito marcário consagra exclusividade e projeta com o registro autonomia e independência, evitando qualquer concorrência que possa desvirtuá-lo. [...] A concorrência desleal submetida à exame diagnostica modo de conduta, procedimento, forma de agir, ingredientes que possibilitam concatenação no desenvolvimento do pensamento, desfavorecendo a transparência e o conhecimento pleno pelo usuário consumidor. (LEONARDI, 2008).. Assim, ainda que na decisão não tenha sido expressamente citada a prática de typosquatting resta evidente que seu objetivo foi proteger o site do autor em detrimento do concorrente desleal que pretendeu utilizar-se do ponto comercial e do título do estabelecimento do concorrente, para dele desviar clientela. Em outra decisão judicial no Estado de São Paulo foi determinado o cancelamento de registros por prática de typosquatting. A Empresa Vírgula, dona do domínio ‘www.baixahits.com.br", ajuizou uma ação na 27ª Vara Cível de São Paulo contra a empresa R & C Informática - detentora dos sites ‘baixahitz’ e ‘baixahites’, dentre outros - alegando que os sites de nomes similares estavam causando desvio de clientes. O juiz entendeu que o caso se tratava de ‘typosquatting’, o que se encaixaria na prática de concorrência desleal. Na sentença, ficou determinada a retirada dos sites da internet, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. (CARVALHO, 2008).. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89. 87.

(12) 88. Typosquatting - a concorrência desleal virtual. Desta forma, para que os empresários não tenham prejuízo e nem precisem enfrentar uma batalha judicial para ver protegido seu nome empresarial também no ambiente virtual pode-se lançar mão de alguns procedimentos. Inicialmente a primeira providência é justamente realizar o quanto antes o registro do Nome de Domínio para proteger o site como elemento do fundo de comércio da empresa, entretanto esta prática evitaria apenas o cybersquatting. Para tentar se prevenir do typosquatting, igualmente no momento do registro deve-se lançar mão do seguinte expediente, registrar além do próprio domínio, outros que poderiam ser utilizados para a prática de concorrência desleal. Assim, na hipótese anteriormente colocada, o detentor da marca “Exemplo” poderia registrar outras variações para não se ver vítima de typosquatting. Entretanto, ainda que não o faça, poderá sempre buscar judicialmente a proteção de seu nome empresarial, mesmo no meio virtual.. 6.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto tem-se que a concorrência, como disputa econômica, ou uma competição entre produtores e vendedores por clientes, é válida dentro dos princípios da livre iniciativa e livre concorrência. A concorrência é inserida na sociedade capitalista atual observando-se o tipo de atividade econômica desenvolvida, sendo caracterizado como concorrência quando empresários disputam o mesmo cliente de um mercado. Entretanto, os meios de obtenção destes clientes devem ser compatíveis com as boas práticas mercantis. Se isto não for observado, os atos praticados podem ser considerados como concorrência desleal. A repressão a esta prática é feita tanto no campo do direito penal e como no direito civil. As atividades mercantis extrapolaram seus limites físicos, conquistando espaços virtuais de abrangência de suas atividades. E pelo fato de não ser tangível não significa que o comércio eletrônico não possa ser protegido contra os abusos cometidos também por meios virtuais. Neste ambiente não físico os sites das empresas acabam desempenhando duas funções essenciais que compõe os bens incorpóreos de um fundo de comércio, isto é, o ponto comercial e o título do estabelecimento. A exploração por terceiros do potencial que o site possui de atrair a clientela de forma ilegal é considerado concorrência desleal. Utilizar-se do erro do consumidor para provocar uma confusão entre os estabelecimentos e desviar a clientela, através da prática de typosquatting, tem sido conside-. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89.

(13) Guilherme Machado Casali, Edmilson Wessling. rado como concorrência desleal, acarretando em indenizações às vítimas de typosquatting. Para evitar inconvenientes recomenda-se a realização do registro do Nome de Domínio da empresa tão logo ocorra o início das atividades. Entretanto isto não basta, recomenda-se inclusive o registro de derivações do endereço a ser utilizado, pois do contrário pode-se ter a infelicidade de ter de enfrentar a desagradável situação de exigir a suspensão e conseqüente cancelamento do registro que induza o consumidor a erro.. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 maio 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/LEIS/L9279.htm>. Acesso em: 22 maio 2008. BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 22 maio 2008. BRASIL. Decreto nº. 4.829, de 3 de setembro de 2003. Dispõe sobre a criação do Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGIbr, sobre o modelo de governança da Internet no Brasil, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 set. 2003. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4829.htm>. Acesso em: 22 maio 2008. BRASIL. Conselho Gestor da Internet no Brasil. Resolução nº. 1, de 21 de outubro de 2005. Dispõe sobre a execução do registro de Nomes de Domínio, a alocação de Endereços IP (Internet Protocol) e a administração relativa ao Domínio de Primeiro Nível, atribuídas ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR - NIC .br e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 fev. 2006. Disponível em: <http://www.cgi.br/regulamentacao/resolucao2005-01.htm>. Acesso em: 22 maio 2008. BRASIL. Conselho Gestor da Internet no Brasil. Resolução nº. 2, de 3 de setembro de 2005. Dispõe sobre os procedimentos a serem adotados na execução das atribuições conferidas ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR – NIC.br através da Resolução nº. 001/2005. Disponível em: <http://www.cgi.br/regulamentacao/resolucao2005-02.htm>. Acesso em: 22 maio 2008. CARVALHO, Luíza de. Judiciário retira sites da internet. Valor econômico. Legislação & Tributos. 14 abr. 2008. Disponível em: <http://www.nic.br/imprensa/noticiasrelacionadas/2008/midia-add225.htm>. Acesso em: 22 maio 2008. COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2003. LEONARDI, Marcel. Sentença - SP - 583.00.2006.153214-4 (867/06). Disponível em: <http://www.leonardi.adv.br/blog/sentenca-sp-583002006153214-4-86706/>. Acesso em: 22 maio 2008. MARCONDES, Marco Antônio Pereira. Concorrência desleal por meio da publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001. MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2003.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 16, Ano 2008 • p. 77-89. 89.

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