JAFA
GERUSA MELLO
PRoFEssoRAs
E
|NovAçAo
PEDAGÓG|cA
ou.E|v|AsDAS
PRÁncAs
Esco|.AREs
F|.oR|ANÓPo|.|s 2oo1
PRo|=EssoRAs
E
|NovAçÃo
PEDAGÓG|cAz
DmEMAsDAsPRÁflcAsEscoLAREs
Dissertação apresentada
como
exigência parcial paraobtenção do título de Mestre
em
Educação daUniversidade Federal de Santa Catarina.
Orientadora:ProF Dra Vânia Beatriz Monteiro da Silva.
(Quiz
(gàzw-.'\¬9U%1‹Í«/'wpw
i<õ.Lí2,ozL |=|.oR|ANÓPo|.|s“fr
uN|vERsiDADE
FEDERAL
DE
SANTA
cATAR|NA
CENTRO
DE
ci.ÊNciAsDA
EDUCAÇÃQ
P'R0GRAivi_ADE
PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO
DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
'*Pr‹›_ƒèss1›ras e inovação pedagógica: dilemas das práticas escolares "_
Dissertação submetida ao Colegiado do Curso de Mestrado
em
Educação do Centro de Ciências da Educaçãoem
cumprimentoparcial para a obtenção do título de Mestre
em
Educação.APROVADO
PELA
COMIÍSSÃO
EXAMINADORA
em
28/02/2001
-4
J
-1}UíÁ«lz/ Dra. Vânia Beatriz Monteiro da Silva -
UFSC
(Orientadora)am”
KDra. Leda Scheibe -
UFSC
(Examinadora)¢,L'l.K
Dra. Olga Celestina Durand-
UFSC
(Examinadora)~-WV`¢¿~
Dra. Diana Carvalho de Carvalho -
UFSC
(Suplente)Prof”. Dr. Lucídio Bian hetti
Coordenador APPGE/CEI)/UAFSC
afa Gerusa Mello
À
ESCOLA
PÚBLICA
que abriu suas portas, possibilitando-me a oportunidadede
realizar esta pesquisa e de forma especial, às profissionais
que deram
vida aeste estudo
de
caso.À
professora,LEDA
porme
conduzir nos primeirosmomentos
desta pesquisa.À
professoraVÂNIA
pelos conhecimentos oferecidoscom
paciência eempenho
à minha construção.À
UFSC-UNIPLAC
pela oportunidade deme
qualificar atravésde
um
Curso de Mestrado lnterinstitucional.Agâ
meus
colegas de curso;DARCY,
cH|co,
TÂNIA, i=|_Áv|A eMAR|A
CANDIDA
pelo apoio logístico durante nossas viagens.À
professoraDIANA
pela acolhidaem
sua casa e salade
serviço nosmomentos
de
intenso trabalho.A
todos osmeus
ALUNOS
eALUNAS
pelas trocas entrequem
ensina e aprende e dosaprendem
ensinando.Aos
AMIGOS
pelo incentivo e torcida.À
MARIA
pelo apoio e carinhocom
que
cuidoude
nossa casa enquanto,me
dedicava aos estudos.À
VERA
MÁRc|A,
LEIDA
eRosA
MARIA
pelo singular apoio.À
minha FAMÍLIA, quesoube
compreender aminha
ausênciaem
tantos momentos.À
minha
mãe
ALMERINDA,
emeu
paiVESPASIANO
(in memorian) porme
incentivarem e vibrarem
com
minhas conquistas. ~Ao
VICTOR
que
soube ouvir minhas angústias e queixas, incentivando-me sempre.Ao
PAULO
e LUIZmeus amados
filhos, motivo maior de minha vida e continuidade damesma,
pelas tantas lições de informática, especialmente, pela paciência' ecompreensão
em
todos osmomentos
desta caminhada.LISTA
DE
ABREVIATURAS
ACTs
= Admitidosem
Caráter TemporárioAPAE
= Associação de Pais eAmigos
dos ExcepcionaisAPAS
= Associação de Pais eAmigos
dos SurdosCEJA
= Centro deEducação de
Jovens e AdultosCEUB
= Centro Universitáriode
BrasíliaCRE
= Coordenadoria Regional deEducação
LDB
= Leide
Diretrizes eBases
MEC
= Ministério daEducaçäo
e CulturaNAES
= NúcleoAvançado
de Ensino SupletivoPC-SC
= Proposta Curricularde
Santa CatarinaPCNs
= Parâmetros Curriculares NacionaisPPPE
= Projeto Politico Pedagógico EscolarSED
(SE/SEE)
-
Secretaria deEducação
e DesportoSMEC
(SME)
= Secretaria Municipal deEducação
UFSC
= Universidade Federalde
Santa Catarina UNlPLAC=Universidade do Planalto Catarinense.O
presente trabalho é resultado da pesquisa Professoras e inovação pedagógica: dilemas das práticas escolares, cujo foco foi apreender elementos da relaçãodas professoras de séries iniciais do ensino» fundamental,
com demandas
de inovação pedagógica.O
alvo da pesquisa empírica, foram as falas das docentesde
uma
escola pública estadual, na cidade de Lages/SC.Na
perspectiva metodológica, a pesquisa foi desenvolvida por meio deum
“estudo de caso”,envolvendo,
como
procedimentos centrais, a aplicação de questionários e entrevistas individuais. Para subsidiar a análise dos dados, utilizou-se,como
suporte teórico, diferentes estudos sobre políticas de formação dos professores,
bem
como, processos relativos ao desenvolvimento profissional, nos quaispesquisadores refletem sobre os desafios da formação, a natureza do trabalho docente, as aprendizagens docentes e as politicas atuais de formação inicial e
continuada.
A
pesquisapôde
apreender que as professoras das séries iniciaisdo ensino fundamental, indicam dilemas na sua relaçäo cotidiana,
com
demandas
por inovações pedagógicas , expressas porum
processoque
seconstitui a partir das condições e modalidades vigentes
que
se revelam naspráticas pedagógicas.
Palavras-chave: docência - aprendizagens docentes - práticas pedagógicas
ABSTRACT
The
present work is the result of “Teachers and pedagogical innovation: dilemma of school practices”, a studywhose
objectivewas
to identify the elementsinfluencing the relationship between
some
teachers from the first years of anelementary school, with the
demands
of pedagogical innovations.The
aim of the emplrical researchwas
the speech of the teachers from a state public school, inLages, Santa Catarina.
The
methodology adoptedwas
a “case study' involving,mainly, questionnaries and individual interviews.
The
data were analysed on thelight of theoretical principles of studies about the policies for teachers' formation,
as well as the processes related to their professional development,
where
researchers consider the challenges of teachers formation, the nature of their
work, their apprenticeship and, the present policies for their initial formation and
the in-service-training of these teachers.
The
data resulting from this investigationsuggest that these teachers, from the first years of these elementary schools,
face a dilemma in their daily relationship with the
demands
for pedagogicalinnovation, that are expressed by a process which as esteblishid from the present
conditions a process that is established in, and by, the conditions and modalities
present revealed in the pedagogical practices.
Keywords: teaching - teaching apprenticeship - pedagogical innovation -
LISTA
DE ABREVIATURAS
... ._RESUMO
... ._ABSTRACT
... ..|NTRoDuÇÃo
... ..cAPiTu|_o
|1
REFLEXÕES
TEÓRicAs
soBRE A
DocENciA
-
UMA
PoNTE
PARA
coMPREENDER A
RELAçÃo
com
A
|NovAçÃo
... .. 1.1As
condiçõesda
prática docente ... ..1.2 Aprendizagens docentes - os professores podem, sim,
mudar
suaspráticas ... ._
1.3
A
formação continuada e o exercício da docência-
articulandodimensões ... ._
cAPíTuLo
u2
CONTEXTO
O=RGAN|ZATlVO
ATUAL
DA ESCOLA
E
DA REDE
... ..2.1 Primeiras aproximações
com
a escola campo: at Escola da Serra eseu contexto
de
atendimento ... ..2.2
Um
olhar voltado para a Escola da Serra no sentido decompreender sua realidade ... _.
2.3 Aproximações
ao
trabalho pedagógico da Escola da Serra ... ..CAPÍTULO
III3
EM
BUSCA DA
COMPREENSÃO
DOS
DILEMAS
DA
PRÁTICA
PEDAGÓGICA
... ..69
3.1Formação
pedagógica das professoras a produção decondições para o trabalho docente ... ..
69
3.2
A
organização das tarefas dos docentes-
significaçõesdo trabalho docente pelas professoras da Escola da Serra ... .. 76
3.3 Indicadores de
uma
política de implementação da PropostaCurricular de Santa Catarina na Escola da Serra ... _. 88
CONSIDERAÇÕES
FINAIS ... .. 97REFERÊNCIAS
... ..1OOANEXOS
... .. 104Anexo
1 - Roteirodo
questionário ... .. 105Anexo
2 - Roteiro das entrevistas ..._. 109
Anexo
3 - Calendário Escolar/2000 - Escola da Serra ...Apresentando
uma
pesquisasobre
práticasdocentes
Esta pesquisa configura-se
como
um
estudo de caso, nocampo
educacional das práticas docentes, nas séries iniciais do ensino fundamental
da
educação
básica brasileira. Guarda, pois, especial significado, já que é por elasque
a maioria das crianças brasileiras recebe a educação escolar.De
outro lado,é para este nível
da
escolaridade que o Estadovem
reivindicando a necessidade deuma
formação docente mais qualificada e as imensas filas de pais,que
anualmente se postam às portas das escolas públicas, na expectativa
de
vagas para suas crianças, indicam a altademanda
pelo atendimento nesse nível daeducação
formal.Nesse
contexto de expectativas sociais pelaeducação
escolar, a rede pública estadual de Santa Catarinavem
sendo
palco deuma
mobilizaçãopolítico-administrativa, iniciada
em
1988,que
ficou conhecidacomo
PropostaCurricular de Santa Catarina'. Tal mobilização foi direcionada, especialmente,
para
um
conjuntode
ações nocampo
do
trabalho pedagógico das escolas, envolvendo as funções doschamados
especialistas-
supervisores, orientadores e administradores-
a direção das escolas e os professores.Pode-se afirmar que a referida proposta apresentou
uma
amplademanda
por inovação pedagógica, incluindo-se a crítica às concepções de educação,
homem,
sociedade e escola vigentes e alcançouuma
proposiçãode
reformacurricular
em
todos os níveis daeducação
básica. Inúmeras açõesvêm
sendo
utilizadas para implementá-la: publicações de materiais impressos, cursos
de
formação pedagógica, palestras avulsas, estudos
em
grupos (agrupando escolas'
11
circunvizinhas
chamados
pólos na região da 73 CRE), estudos nas unidades escolares - calcadas na idéiada
disseminação de concepções teórico-metodológicas para o trabalho
da
rede escolar.'
Este trabalho resulta da disposição de observar, no cenário da referida
proposta, por meio
de
metodologia científica,um
processo extremamenteimportante no terreno do exercício da docência, qual seja, a relação
de
professoras de séries iniciaisdo
ensino fundamentalcom
asdemandas
porinovação pedagógica,
numa
perspectiva de modificaçáo de sua prática.Em
relação à PC-SC, argumentou-se sobre a necessidade de transformações substantivas na didática escolar
-
em
seu sentido amplo, incluindo a capacidade de observar, interpretar e conceber intervenções para/e no espaço escolar,buscando
compor
novas oportunidades de aprendizagem das criançasque
freqüentam as escolas.
É
certo que o propósito da pesquisa definiu-secom
baseem
pressupostos, os quaismerecem
realce neste momento:em
primeiro lugar os professores realizam tarefas complexasque
não são passíveis de serem submetidas a modelos pré-definidos e estruturadosem
curriculos, seja na formação inicial ounas ações de formação continuada.
Um
segundo aspecto remete à convicção deque
é possível modificar-se padrões de trabalho pedagógico,desde
que
se considerem as condições efetivas do trabalho docente,onde
se incluem osmodos
de os professores racionalizarem sua prática.Este trabalho, resultante da investigação, procurará expor elementos essenciais do trabalho desenvolvido “e, para isto, está organizada
em
trêscapítulos,
com
um
primeiro .focalizando as reflexões teóricas sobre a docência erealçando as condições e natureza
do
trabalho, aprendizagens docentes e aspolíticas atuais de formação. l:lu_r_i_1 segundo capítulo, enfoca-se o contexto
organizativo atual da escola e
da
rede, oportunidade de contato e aproximaçõestrabalho pedagógico e
ao
mundo
das professoras; e,um
terceiro capítulo no qualbusca-se
compreender
os dilemas da prática pedagógica, destaca-se a formação docente, a organização do trabalho docente e os indicadores deuma
política de implementação da Proposta Curricular de Santa Catarina na Escola da
Serra.
A
configuração
da
pesquisa:uma
propostade
investigaçãosobre
práticasdocentes
Na
minha prática pedagógica, tive a oportunidade de atuarem
sala de aula nos diversos níveis de ensino, na funçãode
especialistaem
educação,dirigente de escola e coordenadora local de educação. Por meio das diferentes
experiências profissionais,
pude
constatar e sentir que o professor convivecom
uma
série de dificuldadesde ordem
pessoal e profissional.Muitos desafios vividos hoje pelos docentes,
como
se referemPARENTONI
eMORAES
(2000, p. 10) relacionam-secom
o fatode
ser complexo o processode
aprendizagem para as pessoas-
incluindo-se aí, os docentes -pois cada
um
tem seu jeito próprio de aprender, além disso, aprender seconstitui
num
“processo dinâmico e infindável”.Nesta pesquisa, as idéias acima referidas iluminaram a caminhada
que
percorri; é preciso ter essa clareza para emitir crítica e analisar a prática
docente, considerando
que
são, principalmente, os professoresque
constroem o conhecimento,como
ferramenta, no complexo processo de ensinar paraque
outros aprendam. Vale realçar ainda, conforme
PARENTONI
eMORAES
(2000,p. 10)
que
os“modismos
científicos, os apoios diferenciados para as áreasdo
conhecimento e as influências políticas”, afetam a vida profissional do professor,
dando
contornos diferenciados a cadaum
nomodo
de conceber e fazer o seu13
No
universo da pesquisa, foi se destacando, entre as dificuldadesde
ordem
profissional, a`de empreender inovações pedagógicas propostas pelossistemas de ensino. Pesquisas e estudos indicaram que essa dificuldade traz
sérias repercussões para o ensino, pois, tanto
pode
inc,i.tar_.à..criatividade e auxiliar a promover a transformação, quanto produzir processospermeados
porincertezas, interrogações e questionamentos à prática pedagógica.
Nas
últimas décadas, pode-se afirmarque
inúmeras propostas oficiais de“reformulaçãolreestruturação curricular” estiveram presentes no cenário educacional brasileiro e fizeram parte de medidas dirigidas às escolas, trazendo
como
uma
demanda
central a inovação pedagógica nas salas de aulas e nosdemais espaços da escola. Entretanto, as pesquisas acadêmicas e outras fontes diversas indicam que as práticas pedagógicas escolares
mantêm-se
solidamente vinculadas aos padrões de trabalho e de relações pedagógicas convencionais: ensino Iivresco, precariedade nas proposições didáticas quanto aos recursos etipos
de
tarefas intelectuais propostas aos alunos.Entendo que muito deve ser feito no
que
se refere às políticas públicas e dentroda
própria escola, para superar tal situação, principalmente, nos dias dehoje
em
que
se dispõe deum
leque de saberes pedagógicos para subsidiar a melhoria da prática pedagógica escolar.Um
exemplo é oque
ocorre, entreoutros,
com
materiais curricularescomo
a própriaPC-SC
ecom
os ParâmetrosCurriculares Nacionais (PCNs),
documentos
esses,que
na maioria das escolas, sequer são examinados no sentido de seu conhecimento, sendo conservadosem
estantes, armários ou, até,como
decoração dos gabinetes de direção e secretarias das escolas.Cabe
lançar algumas perguntas norteadoras: por que o professornão
osutiliza,
não
os critica e até os desconhece? Será que a escola está organizada ou tem a preocupação de oferecer espaço etempo que
possibilite ao professor conhecimento e a possibilidade de discutir sobre os conteúdos pedagógicos?Se
isso não ocorre,como
pode
acontecer a inovação/ transformação no ensino?O
processo de formação dos professores precisa, de fato, se estender ao longoda sua vida profissional, de forma continuada?
Mas
como
possibilitar essaformação?
Vejo nos documentos acima referidos,
uma
riqueza/imensade
significados:novas concepções de aprendizagem, sugestões
de
conteúdo, metodologias ebibliografias
que
o professorpode
lançarmão
para melhorar, sensivelmente, aqualidade da sua prática pedagógica, a partir do conhecimento, entendimento e
reelaboração dos
mesmos.
Por entender
que
a problemática da dificuldade dos docentes,em
empreenderem
inovações pedagógicas, éum
fenómeno
crucial, tanto para seu próprio desenvolvimento enquanto profissional da educação, quanto para o públicoque
eles atendem, centralizei minha atenção nesse âmbito das práticaspedagógicas ao longo dos
meus
estudos neste curso de Mestradoem
Educação.Daí, pois, resultou a formulação de
um
problema a ser investigado:como
osprofessores se relacionam
com
as proposições de inovação pedagógica?Os
estudos realizados durante o curso de Mestrado permitiramcompreender que
a inovação pedagógica implica lidarcom
condições objetivas:infraestrutura, regulações profissionais, valorações salariais, entre outras. E,
valores e tradições de práticas docentes
que
dificultam o entendimento demudanças
das práticas pedagógicas, por meiode
uma
relação linear entre as propostas teórico-metodológicas e aplicação didático-metodológica pelo professor.Assim, a pesquisa foi proposta tendo
como
objetivo geral percebercomo
as professoras de séries iniciais se relacionam
com
as proposiçõesde
inovação15
a) conhecer
quem
são os professoresque
atuam: nas séries iniciaisdo
ensinofundamental, no
que
se refere a sua formação pessoal, situação, atuação e atualização profissional;b) explicitar as principais preocupações/ interferências
que perpassam
àprática pedagógica cotidiana das professoras, desde o planejar até o
modo
de
ensinar seus alunos;
c) evidenciar a
concepção
de educação/escolaque
perpassa pela práticacotidiana das professoras;
d) perceber as vivências de ensino das professoras no contexto escolar;
e) identificar aspectos
que
constituem a relação das professorascom
proposições de inovação pedagógica.Como
hipótese inicial, propôs-seque
as professoras, tendencialmente, nãorespondem
positivamente àsdemandas
por inovações noquantum
almejado pelos propositores de. reformas educacionais. Tal hipótese guardou atenção parao fato
de
que o processode
inovação precisa ser captadocomo
um
movimento
enão
como
um
estadoque
se implanta nas ações dos profissionais.Para concretizar a presente pesquisa, realizei-
um
estudo de casonuma
escola da rede pública estadual de ensino, da periferia do município
de Lages
-
SC,
nomeada
por Escolada
Serraz, tendocomo
sujeitos, os professores deséries iniciais 'do ensino fundamental.
Das
onze professorasem
exercício,apenas
uma
não participouda
coletade
dados.Para proceder a coleta de dados, elaborei»
um
questionário estruturadoem
questões fechadas e abertas (anexo 1); e entrevistas individuais,com
questõesabertas (anexo 2). Instrumentos estes aplicados às professoras, questionando sobre seu processo
de
formação e dificuldades encontradas na práticapedagógica. .
2
Para o desenvolvimento
da
investigação utilizei-me, especialmente, da tese deCARVALHO
(2000), no sentido de desenhar os referidos instrumentospara coleta de dados. lsto se deveu à percepção de
que
muitas questõescontidas
em
sua pesquisaeram
similares às minhas intenções iniciais, haja vista,estarem intimamente ligadas
ao desempenho
profissional do professor, a sua atuaçãoem
sala de aula, enfim, às relações pedagógicas e suas implicações travadas no seio da escola.ç
.
As
questões de pesquisaque
compõem
o presente trabalho foram geradas a partir de categorias de análise, investigadas, por meio de questionários, taiscomo: a)
dados
pessoais; b) formação pessoal; c) situação funcional; d) atuação profissional; e) atualização profissional e f) planejamento das aulas.E, após, as seguintes questões, investigadas através de entrevistas:
a)
concepção
de educação/escola;b) a execução do trabalho
em
sala de aula;c) o contexto escolar e
d) a
PC-SC
e as vivências de ensino dos professores.Para obter melhor
compreensão
da problemática, colhi depoimentos dasupervisora escolar e da orientadora educacional,
que
fazem parte da equipetécnica,
com
sua atuação no espaço escolar fora da salade
aula, a fimde
incluirdados
complementares sobre o trabalho pedagógico na escola.Para subsidiar, teoricamente, as distintas tarefas envolvidas no trabalho
cg
investigação, busquei fundamentos, principalmente, nos autores:SAVIANI
17
›\
f l
(2000). FREiTAs/(1999),
LUDKE
(1999) escHE|BE
eAGuiAR
(1999)que
discutem anformação atual
de
professoresem
função dos desafios àeducação
brasileira;
GIMENO
(1998)'que trata sobre a natureza do trabalho docente;SAMPAIO
(1995)que
discute sobre políticas públicas da educação brasileira;HERNÁNDEZ
(1998),GIMENO
(1995) eBARCELOS
(2000)que defendem
aprendizagens docentes;CANDAU
(1998),NÓVOA
(1995) eBARCELOS
(2000) que tratam sobre a formação dos professores na perspectiva da formação continuada eNÓVOA
(1995) eGIMENO
(1998)que
discutem sobre proposições de inovações pedagógicas.Fez-se necessário, ainda,
uma
observação e análise documental, no sentido de detectarem
que
contexto socioeconômico e cultural se inseria a escola,quem
são seus alunos e seus professores,como
se organiza esta escola,como
se configura seu projeto político pedagógico, oque
está previsto nocalendário escolar, se existia
um
processo de formação continuada e qual o seulocus, enfim,
como
seus profissionaisbuscam
construir as condiçõescom
asquais enfrentam as tarefas
do
atendimento escolar.A
presente pesquisa ocorreuem
dois momentos, considerando-se a coleta dedados
especificamente: o primeiro ocorrido entre osmeses
de abril emaio/2000, oportunidade
em
que
realizei os contatos iniciaiscom
a escola a fimde explicitar os motivos
da
investigação, observeicomo
estava organizada ecomo
funcionava a unidade escolar,quando
fiztambém
uma
análise documentalcom
finalidade de colher informações sobre o Projeto Político Pedagógico daEscola (PPPE), calendário escolar (anexo 3) e outros aspectos. Nesta
oportunidade, entrevistei a supervisora escolar e a orientadora educacional, cuja
finalidade já mencionei acima.
Num
segundo
momento,em
outubro enovembro/2000 retornei à escola para então, aplicar os questionários individualmente e entrevistar, também, de forma individual,
com
a utilizaçãodo
minha pesquisa, haja vista,
que apenas
uma
não se mostrou interessada acontribuir
com
amesma.
Após
realizar a coletade
dados, iniciei as transcrições das entrevistas,assim como, o agrupamento dos dados colhidos pelos questionários; posteriormente, teci a análise e parti para escrita do trabalho, organizando-a por
meio
de
temas significativos perante a problemática da pesquisa.O
trabalho da investigação partiu e foi se desenvolvendo firmando certospressupostos, os quais estão
amparados
em
referências teórico-críticas sobre o fazer docente.O
professorpode
assumirum
papel ativo no seu.prÓprio processo de formação, os conhecimentos são construídos por meio da ação eda
interaçãoe, portanto, através da formação continuada, ele pode desenvolver e transformar
CAPÍTULO
iREFLEXÕES TEÓRICAS
SOBREA
DOCÊNCIA
-
UMA
PÇNTE PARA
COMPREENDER
A RELAÇÃO
COM
A
INOVAÇAO
Em
uma
pesquisaque
se preocupecom
a questão da relação de professorescom
a inovação pedagógica, certamente é necessário instrumentalizar o olharcom
referências teóricas que, de algum modo, confiramsignificado ao próprio exercício da docência, já
que
é nele e por eleque
talrelação é construída.
É
com
esse propósitoque
o presente capítulo expõe,inicialmente, aspectos relacionados ao contexto da docência na sociedade
moderna
para,em
seguida, põrem
destaque duas dimensõesque
se considerou relevantes para orientar o processo investigativo.A
educação está vivendo sérios desafios, nesta entradado
século XXI, agravada pelo contexto das sociedades modernas.No
caso da sociedadebrasileira, ocorre
uma
concentração hoje, nas regiões urbanas,onde
a 'cidade e a indústria'ocupam
cada vez mais o espaço do 'campo e da agricultura”, o quetem
como
conseqüência a organização por “expressões escritas”,como
se refereSAVlANl
(2000, p. 1), na forma de legislações e constituições formalizadas por'contratos'
que
se incorporam à vida social.A
cultura letrada se impõe, então,como
uma
necessidade a esse novo tipode
sociedade,cabendo ao
'a sistematização dessa nova processo educativo
cultura,
em
lugar do espontaneísmo e de formas assistemáticas da educação.Assim, torna-se imprescindível acessar à escola
como
garantia deum
direito de cidadão eum
deverde
Estado. Neste contextoSAVIANI
(2000, p. 2), define a organização dos sistemas nacionaiscomo “amplas redes de escolas articuladasrespectivos países o acesso à cultura Ietrada traduzida na erradicação
do
analfabetismo através da universalização da escola primária considerada, por
isso
mesmo,
de freqüência obrigatória”.Muitos países, da Europa e América Latina, universalizaram o ensino e erradicaram o analfabetismo no final do século XIX.
No
entanto, para o Brasil o início desse processo ocorreu de fato, por volta de 1930, após avanços revolucionários no ensino secundário e no superior, sendo que somenteem
1946, passa a existir
uma
lei referenteao
ensino primário.O
atendimento escolarbrasileiro, entretanto, ocorreu de forma dual,
com
um
ensino secundárioparticular, para os filhos dos ricos, ou seja, para as elites condutoras e o
secundário público profissionalizante, para os filhos de pobres.
Essa distinção foi minimizada por meio de
mecanismos
legaisde
equivalência, entre os vários
ramos
do ensino médio, incorporados à primeira Leide
Diretrizes eBases
de 1961. Porém,com
a Lei 5692/71, na tentativa dejustificar a universalização compulsória
da
profissionalização para osegundo
grau (atual ensino médio), coloca-se
em
evidência o slogan “ensino secundário para os nossos filhos e ensino profissional para os filhos dos outros”,ficando
reservado às elites a preparação ao ingresso no curso superior e à maioria
da
população o ensino profissional para o exercício de funções subalternasda
sociedade.
Vale ressaltar
que
o referido “dualismo se faz presentetambém
na politicaeducacional atual” (SAVIANI, 2000, p. 3), ensino médio
-
técnico e cursosdestinados à elite,
como
no ensino superioronde
se destacam as instituições nasquais ocorrem ensino e pesquisa e aquelas instituições
com
ensinosem
pesquisa, oque
vale dizerque
as oportunidades acadêmicas distinguem-sede
maneira muito intensa. Mais, ainda, o
mesmo
autor é incisivo ao defender que:esse dualismo se manifesta também no ensino fundamental ao se propor para a rede pública
um
ensino aligelrado avaliado pelo mecanismo de promoção21
automática e conduzido por professores formados
em
cursos de curta duração organizados nas escolasnomais
superiorescom
ênfase maior no aspectoprático-técnico
em
detrimento da formação do professor culto, dotado deuma
fundamentação teórica consistente que dê densidade à sua prática docente.
(SAVIANI, 2000, p. 3)
Como
parte desse processo, as escolas de elite,com
certeza irão buscarseus professores, entre os formados
em
cursosde
licenciatura longa,dando
preferência aos docentes habilitados naquelas instituiçõescom
maior estrutura acadêmica; enquantoque
as escolas públicas, vão receber amassa
deprofessores formados nas escolas normais superiores3 já que estão
sendo
preparados de forma mais barata, devendo, também, ganhar menos4.
Como
expressão de continuidade da politica educacional anteriormente referida, atualmente o Ministério daEducação
e Cultura (MEC), atendendodispositivo legal, estabelecido peIa,Lei 9394/96, está avaliando todo sistema de
ensino da
educação
infantil ao pós-graduação, por meio deum
“sistema nacionalde avaliação”; ao
mesmo
tempo que promove mecanismos
de administraçãopública das redes,
que
se caracterizam pela “flexibilização, pela descentralizaçãodas responsabilidades de
manutenção
das escolas através demecanismos que
forcem os municípios a assumirem os encargos do ensino fundamental” (SAVIANI, 2000, p. 3). Percebe-se, assim,que
enquanto há estímulo àdescentralização
em
forma de flexibilização, diferenciação e diversificação,existe
um
dispositivo de controle dos resultados por meio do “sistema nacionalde
avaliação”.Ainda mais, via mídia, o
MEC
estimula o envolvimento deempresas
naadoção
de escolas, por meio de cooperação e pela via do voluntarísmo e3
Desde a atual LDB(9394/96) está previsto como
um
local deformação docente às professoras de sériesiniciais do ensino fimdamental em Institutos de Educação Superior.
4
A
pesquisa de Sampaio (l997:164) analisa a composição do público escolar de escolas estaduais de São Paulo e conclui que, nos anos 1970, tanto os alunos quanto os professores das escolas públicas foram paulatinamente sendo “recrutados” entre os setores mais empobrecidos e socialmente desorganizados da população.
filantropia,
como
por exemplo, acampanha
“amigos da escola”, cuidandodesde
a
manutenção
física do prédio até o funcionamento pedagógico.O
autor supracitado,chama
atenção, ainda,de que
estas “características (...) permitemperceber
que
a política educacional que estásendo
implantada acentua, pelavia
da
diferenciação apontada, as desigualdades educacionais, aprofundando o dualismo antes referido” _ (SAVIANl, 2000, p. 3)A
formação e a valorização político-social dos professores, certamente,merecem
ser inseridas nesse quadrode
análiseda
política educacional brasileirana atualidade.
FREITAS
(1999, p. 18-9) éuma
das pesquisadoras brasileirasque
vem
discutindo esses doiscomponentes
do atendimento escolar,chamando
atenção para as definições
que
lhesvêm
sendo atribuídas no cenário das reformas educativas no contexto das políticas neoliberais. Essa autora qualificaas diretrizes das políticas de formação docente atuais
como
apresentandoum
“caráter tecnicista e conteudista” e argumenta,
com
base na “produção teórica eprática da área educacional e do movimento dos educadores”
em
defesa deuma
“
política nacional global de formação dos profissionais da educação e valorização do magistério”.
A
autora, assimcomo
SAVIANI
(2000), critica,especialmente, os modelos institucionais e curriculares
que
aligeiram a formação docente, destituindo-a deuma
fundamentação sólidaem
termos educacionais e técnico-pedagógica.Assim, aos desafios inerentes
ao momento
atual do desenvolvimento da sociedade, encontramosum
quadrode
orientações e medidas político-administrativas
que
indiciam perspectivas preocupantesem
relação ao atendimento escolar noque
se refere às condições para o exercício da docência-
entre as quais a própria formação e os demais aspectosque
dão suporte à profissionalização docente.23
1.1-
As
condições
da
prática docente:uma
questão complexa
Seguindo a orientação deste capítulo, abordar-se-á duas dimensões no
campo
do exercícioda
docência,uma
primeira relativa às condições da práticadocente e,
uma
segunda, focalizando aspectosdas aprendizagens docentes.Como
um
primeiro aspecto desse tópico, pode-se defenderque
as condições decomo
ocorre a prática docente são condicionadas pelascaracterísticas do grupo ou indivíduos (profissionais)
que
as executam.Em
outraspalavras, .ras _representações, crenças, expectativas, desejos, preferências,
receios dos professores, entre outros aspectos, têm
um
lugar decisivo na configuração de seumodo
de atuar;Entretanto, longe de considerar-se que tais características são obra e
“mérito” individuais, defende-se
com
GIMENO
(1995, p. 66)que
o Êensino éuma
prática social, não só porque se concretiza na interação entre professores ealunos,
mas também
porque estes atores refletem a cultura e contextos sociais aque
pertencem”.Como
um
aspecto produtor das características dos professores, pode-se destacar o status profissional adquiridoem
contextos e sociedades determinados.HOYLE
apud (GIMENO,
1995:66-7) trata essa questão pela óticado
prestígio da profissão docente, considerandoque
ele é determinado por seis fatores, secomparado
a outras profissões1) a origem social do grupo, que provém das classes média e baixa. 2) tamanho
do grupo profissional , que por ser numeroso, dificulta a melhoria substancial do
salário. 3) a proporção de mulheres, manifestação de
uma
seleção indireta, namedida
em
que as mulheres sãoum
grupo socialmente discriminado. 4) aqualificação acadêmica de acesso, que é de nivel médio para professores dos
ensinos infantil e primário. 5) o status dos clientes. 6) a relação
com
os clientesque não é voluntária,
mas
sim baseada na obrigatoriedade de consumo deensino. '
. _
Apesar da importância - efetiva e a atribuída - ao trabalho executado pelo
professor, percebe-se
que
elenão
usufrui deuma
posição privilegiadasocialmente, muito pelo contrário, além das referências acima citadas tal situação
é agravada pelos baixos salários
que
recebem.A
profissãocaminha
paraum
processo de proletarização dos professores, conformedefendem
ORTEGA
eAPPEL
apud (GlMENO,1995,
p. 67) eSOUZA
apud (FRANCHl,1995, p. 25)quando
discutem que “à desvalorização da profissão que se manifesta
com
mais evidência no que se refere à' baixa remuneração, acrescenta-se a insegurançaprofissional”. E, ainda, pondera
FRANCHI,
que esses aspectosameaçam
o cotidiano do professorflforçando-o a viver na defensiva,num
esforço contínuode
autovalorização na busca
do
equilíbrio pessoal.Some-se
a tudo isso, o fato deque
hoje, os docentes sofrem, também, a pressão do “sistema nacional deavaliação”, processo instituído.pelo
MEC,
no sentido de controlar a qualidadedo
ensino.
Nessa
perspectiva, é possível entendercom
mais clareza aprofissionalidade, na
medida
em
que
a atividade docente ocorre,determinantemente, de acordo
com
as características dos professores,amalgamadas
em
suas condições psicológicas e culturais.lUm
outro aspectoque
constitui as condições da prática docente são as funções sociais atribuídas aos professores, queembora
justificadas e mediatizadas pela linguagem técnica e pedagógica, sofrem modificações, àmedida
em
que a sociedade evolui e que crescem as exigênciasao
professor, levando-oa
.uma indefinição de funções, principalmente, -na escolaridadef¿nd_a¿mental obrigatória.
Sob
a ótica deGIMENO
(1995, p. 71) “a profissãodocente é
uma
semiprofissão”. Isto porque está condicionada às “coordenadaspolítico-administrativas
que
regulam o sistema educativo” por meioda
organização burocrática e pelas próprias condições de trabalho na escola, ou
25
Nessa
perspectiva, LORTIE, citado porGIMENO
(1995, pz. 71),considera que “apesar do baixo nível de organização colegial nas escolas, estes aspectos são decisivos para a definição de percepções e das condutas dos professores”. Portanto, critica-se o individualismo profissional, porém, esta
atitude
pode
ser resultante das exigências profissionais, haja vista que aprestação de contas “se faz mais perante as autoridades escolares do
que
perante os clientes; caso contrário, é provável
que
as pressões no sentido da elaboração de projetos coletivos fossem mais fortes”.(GIMENO,
1995, p. 71)O
professor, principalmente o da escola pública, convivecom
um
quadroconfigurado por variáveis institucionais, sociais, politicas e históricas de poucas
possibilidades e muitas impossibilidades,
onde
os limitesnem
sempre
são visíveis; alguns profissionais até osconhecem
e forçam modificá-los, enquantooutros,
chegam
a conviverbem
com
osmesmos
porque os interiorizam. Assim,GIMENO
(1998, p. 168)põe
em
cena a “visão do professor
como
funcionário,servidor público dependente, cuja atuação está administrativamente controlada,
alguém que
cumprecom
uma
tarefa estabelecidade
fora, éuma
configuração políticade
seu papel profissional”.O
controle exercido pelo sistema burocrático gera, assim, dependênciadas diretrizes externas, tendo os docentes, fortes e contínuas pressões para se
adequarem
às condições legais, curriculares e organizativas preestabelecidas.E
essa dependência,
segundo
aquele autor, pode gerar conflitos manifestos e Iatentes nos professores, porquenem
sempre
coincidemcom
suas interpretações pessoais, e “é neste terrenoque
se detecta o vazio mais preocupante para odesenvolvimento profissional dos docentes,
quando
se esquece a necessidadede
transformar as situações de trabalhocomo
condição paramudar
a prática-de
ensino”.
(GlMENO,1995,
p. 72) .Nesse
cenário,GIMENO
(1995, p. 72-3) contesta a propalada autonomiaescola e a função docente são anteriores a cada professor e as condições
de
seutrabalho, ou seja, da prática docente, portanto precisam ser iluminadas por
uma
compreensão que
combine distintos aspectos, para além dos processosburocráticos
da
escola. Revelando o cenário complexo da prática docente, omesmo
autor defendeque
as instituições escolares são palcos de muitosconflitos e muitas práticas altemativas, resultantes
de
diferentes interpretaçõese comportamentos face às expectativas históricas dos sistemas estatais de
atendimento ao uniformizar as práticas pedagógicas.
Tais reflexões levam a concordar
com
SCHÓN,
citado porNÓVOA
(1995,p. 25), o qual lembra
que
os problemas da prática profissional docentenão
sãomeramente
instrumentais, eles “obrigam tomar decisõesnum
terreno de grandes complexidades, incertezas, singularidades e conflitode
valores, portanto são situaçõescom
características únicas eque
o profissional competente possuicapacidades
de
autodesenvolvimento reflexivo”.Nesse
contexto, precisa-se entenderque
asmudanças
educativas,que
visam às transformações de práticas e idéias,não
ocorremnum
passo demágica e
nem
de
forma linear.Como
esclareceGIMENO
(1995, p. 77), “a práticaeducativa
não
começa
do zero:quem
quiser modificá-la tem de apanhar oprocesso
em
andamento”.Essas análises teóricas sobre as condições
da
prática docente trazem à tonauma
questão central para este trabalho, qual seja, a concepção de inovaçãopedagógica.
Todas
as reflexões anteriores subsidiamum
argumentoque
'semostra vigoroso e legítimo face ao contexto do exercício da docência: “a inovação
não
é mais doque
uma
correção de trajetória”.(GlMENO,1995,
p. 77)Em
outras palavras, a transformação de concepções e demodos
de atuar dos docentespode
ocorrer, no entanto, éum
processoque
se insere no percurso27
compreensão merece
ser articuladacom
a críticade
PERRENOUD
(1993, p. 21) sobre a concepção racionalistada
prática pedagógica, explicada recorrentementecomo
sendo
essa mais consciente e racionaldo que
realmente o é, nas situaçõesreais das práticas escolares.
Um
terceiro aspecto a mereceruma
reflexãoem
tomo
das condições daprática docente envolve questões relativas à condução e ao desenvolvimento do
trabalho pedagógico.
No
Brasil, as escolas da rede pública vèm, historicamente, apresentando grandes dificuldades de ordens diversas, desde aquelas fisico-administrativas,principalmente, as pedagógicas
onde
a desarticulação do trabalho docente se faz presente, impossibilitando avanços para refletir e discutir sobre o processoensino-aprendizagem.
Debatendo
essa realidade,SAMPAIO
(1995, p. 143),ressalta,
com
propriedade que, “à falta de condições objetivas para a realizaçãode
atividades de estudo e reflexãocom
o conjunto de professores, acrescente- seum
modo
há muitotempo
instaladode
fazer escola, pelo qual cada um,como
dono de
um
pedaço, vai fazendo a sua parte,sem
grandes acertos e conversas.A
mesma
autora, asseguraque
“nessa tradição que separa-›.__e isola
professores
em
suas classes eem
suas disciplinas, torna-se difícil estabelecercritérios
comuns
de decisão sobre oque
ensinar”.(SAMPAIO,
1995, p. 143)Essa afirmativa faz sentido à
medida
em
que os professores reclamam a falta detempo
para articular o processo pedagógico,uma
vezque
o calendário escolar,privilegia somente a sala
de
aula, para dar conta das horasde
trabalho,especialmente
com
os alunos, conforme determina a lei. Situaçõescomo
essa,permitem aos professores
uma
'autonomia'que
pode levá-los a criar seuspróprios critérios de atuação como, por exemplo, basear-se
apenas
em
livrosdidáticos, utilizar planos
de
aulade
outros colegas, ou seusmesmos
e metodológica do ensino, até de questões aparentemente tão simples como: o
que
ensinar,como
ensinar,onde
pesquisar, entre outras.Esses aspectos são,
de
fato, obstáculos muito difíceisde
contornar, hajavista que,
mesmo
as orientações oficiais,que
poderiam ser transformadasem
instrumento de reflexão e organização pedagógica,
em
sua maiorianem
chegam
às
mãos
dos professores, pois “muitas vezes, propostaschegam
à escola e nãosaem
dos armários ouficam
protegidas à chave na sala do diretor”.(SAMPAIO,
1995, p. 144)
De
outro lado, essamesma
autora critica o fato deque
muitas propostasoficiais são organizadas de forma compartimentalizada, por técnicos e assessores, contratados para esse trabalho e por isso se tornam, muitas vezes
inviáveis na sua aplicação por problemas de interpretação, e
também
pornão
conseguirem esclarecer questões mais amplas
que
permeiam o processo de ensino.Compõem
esse quadro, as modalidades dos treinamentos e cursos para implementar propostas curriculares e outros programas do gênero, oferecidos aos professores da rede pública.É
aindacom
SAMPAIO
(1995, p. 144)que
sepode
questionar as características dosmesmos,
já que,costumam limitar-se ao tratamento de alguns conteúdos e procedimentos,
relativos a certos aspectos dos componentes curriculares específicos. (...) cuida-
se do melhor repasse de determinadas infonnações ou da atualização do professor
em
teorias fundamentais para a sua disciplina,sem
que se atinjauma
perspectiva de conjunto para o ensino.5Nesse
contexto do trabalho pedagógico, resultam distintas práticas: alguns professores se utilizamde
velhas práticas para transmitirem seus conteúdos,5
29
tornando-os, absolutamente, alheios e inexpressivos aos alunos; enquanto muitos
buscam
com
esforçouma
melhor significaçãode
seus conteúdos e existem,também
“aqueles que ficam sujeitos às invencionices dasmodas
pedagógicas, novidades
que
mandam
jogar fora oque
se sabe fazer,como
coisa superada, e anunciam soluções mágicas para as dificuldades cotidianas da aprendizagemem
sala de aula”.(SAMPAIO,
1995, p. 146)Nessa
perspectiva, muitas pesquisasapontam
a existência dessa diversidade de práticasnuma
mesma
escola, oque
permite concluir quenão
seconsegue
formular, na escola,uma
proposta geral articulada e norteadorado
desenvolvimento curricular.
Assim, a instituição social que se oferece à maioria da população recebe avaliações severas por parte de seus analistas:
FRANCHI
(1995, p. 32)afirma
que
“a escola de primeiro grau não é mais a escola pública do passado: aquelaestritamente seletiva que preparava os alunos das classes dominantes para o ingresso nos graus superiores de ensino”. Hoje, a escola está aberta para o ingresso de alunos das periferias sociais, na perspectiva
de
uma
“escola paratodos”. Porém, está longe de se realizar esse ideal democrático, pois ainda é
utopia a escola absorver a totalidade
da
população. Diz a autora,que
“a escolanão
aprendeu a lidarcom
a diferença econômica, cultural e lingüística que influino
desempenho de
uma
clientelaque
não tem asmesmas
chances paraacompanhar
conteúdos estabelecidos”.Como
decorrência,uma
grandemassa
de estudantesque
ingressa hoje,na escola, é excluída já no início da vida escolar para trabalhar e auxiliar no
sustento da família. Por encontrar dificuldades culturais e lingüísticas, e
principalmente, porque a escola exige
uma
culturaque não
é aquela que o alunoVale registrar a defesa político-educacional
de
SAMPAIO
(1995, p. 152) a partirde
sua análise sobre as condiçõesdo
atendimento escolar que remete às condições para a prática docente. Considera essa autora,que
é dever do poder público proporcionarum
politica educacional clara,com
objetivosbem
traçados, no sentido de oferecerum
atendimento escolar de boa qualidade a todos,sem
deixar de respeitar as diferenças sócioculturaisz “é preciso investir
continuamente nessa politica, garantindo infra-estrutura de funcionamento às escolas, condições dignas de trabalho e salário para os educadores e programas
de
capacitação constantes” e enfatiza ainda,que
para implantar essas medidas “torna-se necessáriauma
revisão das estruturas burocrático-administrativas do sistema educacional,que
muitas vezes inviabilizam a elaboração de projetospelas escolas”. Assim, as reformas não se definem pela perspectiva de cada escola definir seu projeto, já que sua implementação não se pauta nas questões a ele afeitas.
O
modo
de organização do trabalho das práticas pedagógicas resultaem
um
formato burocratizado.A
estrutura burocráticada
escola controla o trabalho conforme as regras e leis fixadas,com
isso impedindo que ocorra a inovação.Um
de
seusmodos
típicos de expressão está na idéiade
que dirigiruma
escola é seenvolver, prioritariamente,
com
o funcionamento administrativoem
detrimento dos processos pedagógicos.Ao
resgatar a questão da inovação e relacionando-a às condições daprática docente, pode-se defender a partir das reflexões precedentes, sobre a
importância da atenção
ao
universo do trabalho pedagógico escolarcomo
o ambiente - por excelência - da criação de alternativas de transformação daprática.
l
31
durante muito tempo a inovação educacional oscilou entre o nível macro do
sistema educativo e o nível micro da sala de aula. Produzir era conceber e implementar reformas estruturais do sistema educativo ou desenvolver e aplicar
novos métodos e técnicas pedagógicas da sala de aula.
Também
aqui não haviaentre-dois, não se considera a organização escolar
como
um
nível essencialpara a abordagem dos fenômenos educativos.
Em
se tratando de inovação, nostempos
atuais,NÓVOA
(1995, p. 41)pondera que
hoje, parece evidente que é justamente no contexto da organização escolar que as inovações
podem
implantar-se e desenvolver-se.Num
certo sentido, não tantode inovar,
mas
de criar condições organizacionais para que a inovação aconteça, para que as experiências pedagógicas não sejam sistemicamentedestruídas
com
argumentos burocráticos para que os profissionais do ensino sesintam motivados e gratificados por participarem
em
dinâmicas de mudança”.Por certo, tais ponderações são legítimas e necessárias à teoria
pedagógica,
mas
no caso brasileiro ainda há muitoque
trilharem
direção a estaconcepção
de implementação de proposições pedagógicas que impliquemem
inovações das práticas pedagógicas escolares.1.2-
Aprendizagens docentes
-
os
professorespodem,
sim,mudar
suas
práticasTratar de aprendizagens docentes é, também, trilhar
um
terrenode
grande complexidade educacional e pedagógica, visto que estão envolvidos aí, aspectosrelativos a condições “externas”,
como
suporte infraestrutura!de
diferentesordens, por exemplo,
tempo
previstoem
calendário escolar e recursosque
lhes ofereçamtempo
e acolhimentoao
seu aprender e, ainda, de disposiçãodo
professorado no sentido de querer aprender.
No
contexto desta pesquisa essa éuma
problemática importante, porquanto, faz emergir os sujeitos-alvo,privilegiados
de
todas as proposições de inovação pedagógica, ou seja, osA
questãoque
envolve o aprender torna-se tão complexa, porque,num
primeiro plano,quem
vai (re)aprender é o professor, ou seja, alguémque
já trazuma
históriaque
combina desde sua formação inicial, vivências pedagógicas (coletivas), situação esta quepode
provocarum
sentimento, de certo modo, desconfortável e ameaçador,como
revelam pesquisas realizadas porHERNÁNDEZ
(1998, p. 9), ao relatarque
o fato de reconhecer que não se sabe algo não desperta
um
desejo de aprender,mas
simum
bloqueio diante do que é novo. Alega-se que aprender exige muitoesforço, provoca desconforto e que somos tratados
como
se fossemos criança,muitas vezes pelo simples fato de que o que está sendo colocado é a
possibilidade de aprender.
E, de fato, lembrando as discussões de
SAMPAIO
(1995), incluídas noitem anterior, as modalidades de implementação de propostas de reformas nas
redes públicas não
reconhecem
os dilemas acima assinalados.Num
outro movimento das aprendizagens docentes, o professor considera interessante ebom
o que é proposto,mas
daí a colocá-loem
prática,emerge
uma
lacunaem
nome
dos obstáculosque
elemesmo
elenca como:não
dispõede
tempo, onúmero
de alunosem
sala de aula é grande, as circunstânciascomo
trabalha não lhe permite fazer,que
ébom
mas
é utópico, entre outros.HERNÁNDEZ
(1998, p. 9)denomina
essa atitudecomo
“refúgio no impossível”, argumentaçãoque
mostrauma
faceta complexa, pois aomesmo
tempo
que
sãoreais os obstáculos
que
os docentesfazem
ver, istonão
significauma
condiçãoque
inviabilize qualquer iniciativade
modificação da prática.GIMENO
(1998) situa-secomo
um
outro pesquisadorque
reflete sobre aproblemática das aprendizagens docentes no contexto das iniciativas
de
inovação pedagógica ao colocar
em
tela os significados que os professores constroem ecom
os quaisoperam
sobre o que lhes é apresentado, seja no cotidiano escolar ou nas proposições político-administrativas dirigidas aoBiblioteca Universitária
Wi
~/
blÔ
É
urso
0
*W
33
Por meio de
um
debate minucioso epermeado de
ricas ilustrações, o autor argumentaque
o professor adquire significados durante sua formação inicial eno exercício
da
docência: “O professor possui significados adquiridos explicitamente durante sua formação etambém
outrosque
são resultadosde
experiências continuadas e difusas sobre os mais variados aspectos que
possam
distinguir
num
currículo: conteúdos, habilidades, orientações metodológicas,pautas de avaliação, etc”.
(GIMENO,
1998, p. 178)Para ilustrar tal realidade, tome-se
BUCHMAN
eSHMIDT
apud (GIMENO,
1998, p. 177),
que observam
a relação positiva entre a valorização de “área de conteúdo” e otempo
destinado ao seu desenvolvimento junto aos alunos no ensinode
alguns professores, o que revelaria, para tais autores,uma
significação de destaque daquela áreaem
detrimento de outras.Assim pois,
um
movimento nada linear ocorrequando
os professores são colocados face ademandas
pedagógicas:a interação entre os significados e usos práticos do professor (condicionados por
sua formação e experiência, que são as que guiam a percepção da realidade),
as condições da prática na qual exerce e as novas idéias configuram
um
campo-problema do qual surgem soluções ou ações do professor, que são resultados
dos compromissos a favor de
um
extremo ou outro desse triângulo-
é otriângulo de forças da práxis pedagógica.(
GIMENO,
1998, p. 177)lsto implica que, “qualquer inovação que se lhe proponha alterará suas bases conceituais, os
mecanismos de
segurança pessoal e o próprio autoconceito dos professores (...) é evidente que na assimilação do novo existeum
processo de adaptação interna cujo resultado não é cópia mimética da idéia,mas
uma
transação entre os significadosdo
professor e osque
a nova propostalhe sugere”.
(GIMENO,
1998, p. 178)Observe-se, pois, a radicalidade dessa concepção e suas conseqüências para quaisquer interesses
em
relação as idéiasque
se queiram colocarem
prática: é inevitável
que
tudo passe pela 'seja,
algum
modo
de introjetarem
seusesquemas
depensamento
ecomportamento.
Certamente, essas reflexões levam a admitir os desafios
que
se apresentam aos setores, grupos profissionais, entidades organizativasque
secoloquem
em
defesa de inovações das práticas pedagógicas.É
interessante ilustrar essa questãocom
a pesquisa deBARCELOS
(2000), realizada
numa
escola básica da rede pública municipal de Florianópolis,que
trata sobre o processo de formação continuada,desencadeado
a partir de1994, sob a direção
da
equipe pedagógica mediante “a constataçãode que
oseducadores sentiam necessidade de
uma
melhor formação", eque
tevecomo
elemento mobilizador nuclear a constatação e a insatisfaçãocom
altos índices de reprovação de36,99%
nas primeiras séries do ensino fundamental. Entretanto, a pesquisadora alerta para o fatode que
essa mobilização ocorreunum
cenário de forças distintasque
se combinaram; deum
lado as professoras sentiam-se "pouco qualificadas por não possuírem curso superior”, de outro a equipe pedagógica mostrava-se preocupadacom
o retrato da organização e dodesempenho
da
escola no atendimento dos alunos.A
autora interpreta a experiência, realçando as significações vivenciadas pelos professores:Alguns educadores foram contagiados pelo 'clima de possibilidades' e por
uma
espécie de ousadia estimulada pela confiança
em
simesmos
eem
seus pares.Os
professores viam-secomo
sujeitos portadores deum
saber docente aperfeiçoado a partir da reflexão de suas práticas. Afinnavam-secomo
sujeitospensantes e críticos. Eles sentiam-se autorizados a fazerem
uma
ação pedagógica diferente e melhor. Estavam motivados a abrir as portas da escola àinovação.