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A ética profissional do advogado

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JULIO CESAR MAFRA

A ÉTICA PROFISSIONAL DO ADVOGADO: UMA REFLEXÃO DOS LIMITES DA PUBLICIDADE NA ADVOCACIA

Palhoça (SC) 2010

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A ÉTICA PROFISSIONAL DO ADVOGADO: UMA REFLEXÃO DOS LIMITES DA PUBLICIDADE NA ADVOCACIA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Denis de Souza Luiz, Esp.

Palhoça(SC) 2010

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JULIO CESAR MAFRA

A ÉTICA PROFISSIONAL DO ADVOGADO: UMA REFLEXÃO DOS LIMITES DA PUBLICIDADE NA ADVOCACIA

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pela Comissão do Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça (SC), 14 de junho de 2010.

Prof. e orientador Denis de Souza Luiz, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

Profª.

Priscila de Azambuja Tagliari Universidade do Sul de Santa Catarina

Prof.

João Batista da Silva

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

A ÉTICA PROFISSIONAL DO ADVOGADO: UMA REFLEXÃO DOS LIMITES DA PUBLICIDADE NA ADVOCACIA

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido à presente monografia, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo surtido em decorrência desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativamente, civilmente e criminalmente em caso de plágio devidamente comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis (SC), 14 de junho de 2010.

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Dedico esta pesquisa aos meus familiares, em especial a meus pais Adélcio e Lígia, minha esposa Aline e meus filhos Pedro e Joaquim,

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por todo o carinho e estímulo recebidos durante essa jornada.

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais pela parcela de contribuição na formação do meu caráter e pela força doada sempre na medida do possível.

Agradeço a Aline, minha esposa, e a Pedro e Joaquim, meus filhos, por serem a fonte do meu estímulo e perseverança durante o trabalho.

Agradeço ao professor orientador Denis de Souza Luiz pela ajuda na escolha do tema e por todo o ensinamento e conselhos prestados para tornar realidade a presente pesquisa monográfica.

Por fim, agradeço aos amigos e colegas do cotidiano, pelos momentos de incentivo gratuito.

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RESUMO

O presente estudo monográfico tem por escopo descrever as ações publicitárias no âmbito da advocacia, com ênfase nos limites de sua utilização e nos aspectos éticos. Aborda as questões que envolvem o marketing jurídico, com o desígnio de examinar sua abrangência. Para demonstrar da melhor forma a matéria em tese, foi utilizado na produção do trabalho o método dedutivo, que se faz com a técnica de pesquisa bibliográfica com base na doutrina, legislação vigente e jurisprudência relacionada. No atual mercado de trabalho do advogado, a concorrência encontra-se cada vez mais acirrada, evidenciada pelo enorme contingente de bacharéis recém formados aliado às facilidades que os modernos meios de comunicação oferecem, além dos grandes escritórios de advocacia já existentes. Nesse cenário se encontra uma parcela de profissionais que se utilizam de forma exagerada e imoderada dos meios de publicidade disponíveis no mercado, valendo-se de atitudes que ferem os princípios deontológicos básicos. A Ordem dos Advogados do Brasil preocupada com a inobservância da ética profissional determina limites para o uso da publicidade na advocacia, visando à preservação das virtudes e do status que a atividade adquiriu ao longo dos tempos no país. Dessa forma este estudo verifica os limites impostos pelo Estatuto da OAB, pelo Código de Ética e Disciplina, pelo Provimento 94/2000, além de julgados pelos Tribunais de Ética, na tentativa de evitar que o marketing jurídico transforme a advocacia em prática mercantilista.

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ABSTRACT

The scope of this monographic study is to describe the advertising actions in the field of law, emphasizing the limit of its use and the ethical aspects involved. It deals with matters having to do with marketing in the legal field and to examine its comprisement. To better show the issues at hand, the deductive method will be used in the production of this paper. This is done through the bibliographic research based on the doctrine, the legislation and the related jurisprudence. It should be observed that the actual lawyer’s work market is more and more fierce. This is observed by the huge amount of recently graduated law students and the ductility of the modern means of communications offer. All of this apart from the great number of huge law firms already existent. In this scenario we can find a certain amount of professionals that use the available means of advertisement in the market in an exaggerated and immoderate way, taking hold of attitudes that hurt the basic principles of ethics. Notwithstanding the “Ordem dos Advogados do Brasil”, worried with the nonobservance of professional ethics lay down limits for the use of advertisement in the legal profession to preserve the virtues and the status that the activity has acquired through time in our country. Due to this, this study is important to verify the limits laid down by the by-laws of the OAB, by the Code of Ethics and Discipline, by the norm 94/2000, besides the judgments of the Courts of Ethics spread around Brazilin the attempt to avoid that the marketing of law becomes a mercantilist practice.

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LISTA DE ABREVIATURAS

CED - Código de Ética e Disciplina EOA - Estatuto da Ordem dos Advogados OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 A ÉTICA E O ADVOGADO ... 13

2.1 A ÉTICA E O SEU CONCEITO ... 13

2.2 A MORAL E A ÉTICA ... 14

2.3 A ÉTICA PROFISSIONAL ... 15

2.4 A ADVOCACIA E A ÉTICA PROFISSIONAL ... 16

2.4.1 A advocacia e suas origens ... 16

2.4.2 A evolução da advocacia no Brasil... 17

2.4.3 O advogado... 18

2.4.3.1 O exercício da advocacia ... 19

2.4.3.2 As características da advocacia ... 20

2.4.4 A Ordem dos Advogados do Brasil – OAB ... 21

2.4.4.1 A sua criação e a natureza jurídica ... 22

2.4.4.2 A finalidade e os órgãos da OAB ... 22

2.4.4.3 O surgimento do Estatuto e do Código de Ética e Disciplina da OAB ... 24

2.4.5 A Ética do advogado... 25

2.4.6 A missão do advogado ... 26

2.4.7 Os direitos do advogado ... 27

3 A CONDUTA ÉTICA DO ADVOGADO E AS INFRAÇÕES DISCIPLINARES ... 28

3.1 O DEVER DE RETIDÃO ÉTICA DO ADVOGADO ... 29

3.1.1 Em relação aos clientes e os demais operadores do direito... 29

3.1.2 Em relação ao sigilo profissional... 30

3.1.3 Em relação à publicidade... 31

3.1.4 Em relação aos honorários advocatícios... 32

3.1.5 Em relação ao dever de urbanidade ... 33

3.1.6 Em relação às lides temerárias... 35

3.1.7 Em relação à litigância de má-fé ... 35

3.2 AS INFRAÇÕES E AS SANÇÕES DISCIPLINARES ... 36

3.2.1 Os desvios éticos do advogado ... 37

3.2.2 As infrações disciplinares... 38

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3.2.2.2 Relacionadas à atividade forense... 40

3.2.2.3 Em razão da captação de clientes ... 41

3.2.2.4 Em virtude do relacionamento com os clientes ... 41

3.2.2.5 As infrações perante a OAB ... 42

3.2.2.6 As relativas à conduta pessoal ... 43

3.2.3 As sanções disciplinares ... 43 3.2.3.1 A censura ... 44 3.2.3.2 A suspensão ... 44 3.2.3.3 A exclusão... 45 3.2.3.4 A multa... 45 3.2.3.5 A reabilitação ... 45

4 A QUESTÃO DA NECESSIDADE E DOS LIMITES DA PUBLICIDADE NO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA ... 47

4.1 A PUBLICIDADE E A PROPAGANDA ... 48

4.1.1 A diferença entre a publicidade e a propaganda ... 48

4.1.2 O conceito de publicidade ... 49

4.1.3 O conceito de propaganda ... 50

4.2 A REALIDADE ATUAL DA ADVOCACIA E A NECESSIDADE DO “MARKETING JURÍDICO” ... 51

4.2.1 O advogado e o atual mercado de trabalho... 52

4.2.2 O conceito de “marketing jurídico... 53

4.3 A DISCIPLINA DA PUBLICIDADE NO ESTATUTO E NO CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA OAB ... 54

4.4 A QUESTÃO DA PUBLICIDADE DO ADVOGADO NA INTERNET ... 56

4.4.1 O Provimento 94/2000 do Conselho Federal da OAB ... 59

4.5 A ANÁLISE DA COMPATIBILIZAÇÃO DAS EXIGÊNCIAS ATUAIS DO MERCADO DE TRABALHO COM OS LIMITES DA PUBLICIDADE NA ADVOCACIA ... 62

5 CONCLUSÃO... 65

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1 INTRODUÇÃO

A atividade advocatícia vem se tornando cada vez mais massificada, vez que a concorrência aumenta de forma acelerada. Os meios de comunicação no mundo globalizado agilizam a interação entre as pessoas, e devido à vultosa demanda de serviços oferecidos, modificam a todo o momento os aspectos competitivos no mercado de trabalho.

Além da competitividade motivada pelo crescente número de bacharéis recém formados e também por profissionais vindos de outras áreas, as facilidades oferecidas pelos meios de comunicação atuam diretamente na classe advocatícia.

Observam-se os reflexos dessas mudanças nos escritórios de advocacia, que agora agregam aos seus serviços jurídicos a tarefa de captar clientes nesse disputado mercado. Existe a necessidade por parte dos escritórios de buscar na publicidade uma forma de aumentarem sua carteira de clientes, ou simplesmente fidelizar os já conquistados.

Nesse contexto surge o “marketing jurídico”, um serviço que a princípio deve assumir na área jurídica a função de organização eficaz dos recursos dos escritórios voltada para a ampliação do prestígio profissional com intuito de conquistar potenciais clientes.

A questão é até que ponto faz-se necessária a utilização dessa ferramenta? Estão sendo respeitando-se os limites impostos pela lei? Por que a lei determina limites para a publicidade?

Desta forma o objetivo principal deste trabalho monográfico é tentar de forma sucinta confrontar idéias divergentes na tentativa de verificar-se a eficácia da publicidade no mundo do direito e principalmente a observância dos limites impostos à publicidade na advocacia.

Para alcançar o objetivo proposto, o presente trabalho está organizado em três capítulos, além da conclusão e da presente introdução que se faz necessária a fim de proporcionar a contextualização do tema, o objetivo, o método utilizado e a estruturação do trabalho.

Na sequência, tem-se o segundo capítulo que aborda a questão da ética do advogado, e abrange os conceitos e as diferenças entre ética e moral. Estuda-se também a origem da advocacia, bem como a evolução da carreira no Brasil, além de suas características. Aborda-se ainda a origem do Estatuto da Ordem dos Advogados (EOA) e o Código de Ética e Disciplina (CED), e por fim trata-se da missão e dos direitos do advogado.

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No terceiro capítulo discorre-se sobre a conduta ética dos advogados e as infrações disciplinares. É focalizado o dever ético do advogado, relacionando-o com seus clientes, com o sigilo profissional, com o dever de urbanidade além de sua relação com a publicidade. Descrevem-se as infrações disciplinares encontradas no Estatuto da OAB, bem como o que se encontra no Código de Ética e Disciplina relativamente aos desvios éticos do advogado. Fazem parte deste capítulo as sanções disciplinares aplicáveis aos desvios de conduta dos profissionais.

Finalizando, encontra-se no quarto capítulo a questão da necessidade e dos limites da publicidade na advocacia, tema que é objeto desse trabalho monográfico. Inicia-se este capítulo pela diferenciação e semelhanças entre publicidade e propaganda. Aborda-se a atual realidade da advocacia no Brasil e a necessidade do “marketing jurídico”, bem como sua definição. Por conseguinte a disciplina da publicidade no ordenamento jurídico, passando pelo Estatuto da OAB, o Código de Ética e o Provimento 94/2000 do Conselho Federal da OAB. É abordada, aqui, a questão da publicidade do advogado na internet. Finaliza-se com uma análise da compatibilidade entre as exigências do mercado de trabalho e os limites da publicidade na advocacia.

Para a realização deste trabalho, foi utilizado o método dedutivo, através de pesquisa bibliográfica, baseada na doutrina e na legislação constitucional e infraconstitucional pertinente, bem como na jurisprudência.

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2 A ÉTICA E O ADVOGADO

Neste primeiro capítulo, apresenta-se uma breve análise dos termos ética e moral, relacionando-os com a prática advocatícia e com o mundo do Direito. Nesse sentido, cabe ressaltar a importância do estudo deontológico pelos profissionais do Direito, na tentativa de manter o status da profissão.

O conhecimento acumulado durante os cinco anos de currículo jurídico, a compreensão de todos os institutos que formam o Direito Civil, Penal, Tributário, dentre outros, de nada valeria e de nada significaria se, durante a atividade advocatícia, o advogado não soubesse aplicar o Direito devidamente, com escrúpulo e dignidade, orientando-se pela moral e pela ética. (LANGARO, 1992, p. 11).

Freqüentemente no exercício de sua atividade, o advogado depara-se com inúmeras situações que lhe invocam dúvidas quanto às possibilidades e os limites de sua atuação. O advogado, ciente de suas responsabilidades, dos seus deveres quanto à preservação da dignidade e a honra da profissão, depara-se com uma relação íntima entre o labor diário e os preceitos éticos a que se submete. (CORTÊS; FERRAZ E MACHADO, 2004, p. 83).

No trato complexo das várias questões cotidianas com que se depara no enfrentamento dos litígios decorridos da vida forense, o profissional do Direito deverá ter o domínio da técnica jurídica, mas necessariamente, deverá ter consigo o estudo primordial da ética e da moral. O advogado, no seu labor, deve ter um comportamento compatível com a nobreza e a dignidade da advocacia. O conceito de bom ou mau advogado adquirido perante os colegas, perante a magistratura ou perante os clientes, não deriva apenas de sua bagagem cultural ou de seu notório saber jurídico, mas também de aprofundado estudo deontológico. (LANGARO, 1992, p. 12).

2.1 A ÉTICA E O SEU CONCEITO

O termo tem sua origem etimológica no grego “etos”, ou “ethikos”, que significa costume. Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda (1999, p. 848), ética é "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade seja de modo absoluto".

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Nesta linha de raciocínio, extrai-se da doutrina:

O termo ética deriva do grego “ethos” caráter, modo de ser de uma pessoa. Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social. (BITTAR, 2005, p.7).

Vários pensadores, em diferentes épocas, abordaram especificamente assuntos sobre a ética, e até hoje em dia a sua relação com o Direito é objeto de reflexões na filosofia jurídica. (LOBO, 2002, p. 164).

O que se pretende demonstrar é que ética não possui caráter legal, porquanto está relacionada ao respeito a regras e condutas intrínsecas aos valores humanos e ao seu comportamento. Desta forma pode-se concluir que ética, tendo por escopo o estudo dos costumes, dos valores e da ação moral do homem, encontra-se entre os saberes de maior importância na sociedade. (BITTAR, 2005, p.7).

2.2 A MORAL E A ÉTICA

No prosseguir do tema, cabe após uma definição de ética, ter um conceito de moral, a fim de verificar a distinção entre uma e outra.

O termo moral tem sua origem etimológica no latim “mores”, que significa costume, conduta, comportamento, ou modo de agir. Moral é o conjunto das normas que orientam o homem para a realização de seu fim. (ALMEIDA; FERRAZ E MACHADO, 2004, p. 317)

Oportuno é o seguinte ensinamento:

Moral é nada mais do que o exercício pleno da liberdade e suas leis são desdobramentos da liberdade, mas o direito positivo não tem nas suas normas o fluir natural da liberdade, pois elas não são constituídas necessariamente por princípios racionais puros, mas se deixam elaborar por motivos contingentes, externos, porque atendem também a certas condições da realidade que devem regular. (SALGADO, 1995, p.193)

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Ética é a manifestação do sujeito, tradução dos seus valores, afirmação das suas exigências pessoais, já a moral nos leva à concepção de norma preceitos convencionalmente aceitos em sociedade como forma de controle. (SOUZA, 1980, p. 54).

Neste sentido é cediço dizer que o advogado, na prática jurídica cotidiana, deve estar vinculado à ética e à moral, que são guias de conduta aceitas pela sociedade, para que não caia em descrédito, o que afetará sua reputação. (ALMEIDA; FERRAZ E MACHADO 2004, p. 318).

2.3 A ÉTICA PROFISSIONAL

Ética profissional é parte integrante da ética geral, relacionada às regras de orientações laborais. Demonstra-se vinculada à idéia de utilidade, prestatividade, responsabilidade, a que cada profissão demanda. Assim o que define o estatuto ético de cada profissão é a responsabilidade que dele decorre. (BITTAR, 2005, p. 429).

Cabe nesse item ressaltar a importância da necessidade de existirem códigos de ética profissionais, com vistas a exigir de cada profissional condutas condizentes à realidade em sua área, limitando as ações com base nas responsabilidades existentes, obstando a ação de cada um conforme seu livre arbítrio subjetivo. (BITTAR, 2005, p. 436).

Entendida como ciência da conduta, a ética profissional é parte da ética geral. Neste sentido ensina a doutrina:

Ética profissional é o conjunto de princípios que regem a conduta funcional de determinada profissão. Assim, a ética profissional aplicada à advocacia é a parte da moral que trata das regras de conduta do advogado. Inúmeras são as definições propostas. Entendemos que a ética profissional é o conjunto de regras do comportamento do advogado no exercício de suas atividades profissionais, tanto no seu ministério privado, como na sua atuação pública. Ao se portar conforme aos padrões de conduta aceitáveis para o causídico, o reflexo benéfico não recai somente sobre o profissional, mas também para o prestígio de toda a classe. (AZEVEDO; apud GAMA, 2009, p. 39).

Em sintonia com o anteriormente disposto, destaca-se a doutrina de Figueiredo (2005, p. 12):

A ética profissional representa a parte da ética que cuida da conduta do advogado, não apenas no que diz respeito ao relacionamento com o cliente, mas também a

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correta aplicação da técnica profissional, ao relacionamento com colegas, juízes e funcionários do Poder Judiciário e sua postura na comunidade social, impondo-se, portanto, em todas as situações de sua vida profissional e pessoal, exigindo, a todo tempo, a preservação da dignidade da advocacia.

Ética profissional é fazer valer as garantias mínimas de publicidade, igualdade e oficialidade. Serve como norte para a conduta dos profissionais, posto que lhes impõe exigências relacionadas às suas responsabilidades. (BITTAR, 2005, p. 436).

2.4 A ADVOCACIA E A ÉTICA PROFISSIONAL

A advocacia, como atividade essencial à administração da Justiça, de acordo com o preceito do artigo 133 da Constituição Federal, não pode sobreviver sem Ética. Demonstram relevância todas as questões que se relacionem direta ou indiretamente com o comportamento ético-disciplinar dos advogados. Ética profissional, ou aqui denominada deontolologia jurídica, são os estudos dos deveres dos profissionais do Direito, mais especificamente dos advogados (LÔBO, 2002, p. 164)

Na advocacia brasileira, a ética profissional foi objeto de detalhada normatização, destinada aos deveres dos advogados, tanto no antigo Estatuto quanto no atual Código de Ética profissional (LÔBO, 2002, p.165).

O profissional do Direito deve encontrar na Ética as lições necessárias para exercer com independência sua profissão, que permite ao advogado defender seu semelhante e contribuir para a busca incessante de justiça. No código de Ética, o advogado encontra os imperativos de sua conduta, com a finalidade de agir com probidade, moralidade, dignidade e independência, visando garantir o prestígio que a profissão adquiriu com o passar dos tempos. (GAMA, 2009, p. 193).

2.4.1 A advocacia e suas origens

Tema muito controverso é a tentativa de datar uma origem exata de quando efetivamente ocorreu o surgimento da advocacia, havendo grandes adeptos de que ela remonta

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ao período do Império Romano. Entretanto, encontram-se autores que defendem que a origem da advocacia vem de tempos antes de Cristo, na Suméria. Para outra parte de estudiosos do Direito, a advocacia nasce na Grécia Antiga. Contudo, tais hipóteses não configuram a existência de uma profissão, ou melhor, de uma atividade profissional e reconhecida. (LÔBO, 2002, p. 03).

Advocacia vem do latim “advocatio”, que quer dizer assistência, consulta. Já advogado vem do termo latim “advocatus” que diz respeito a patrono ou assistente, também podendo ter o significado de ajudante em juízo. Ressalta-se que tanto “advocatus” como “advocatio” estão ligados à noção de chamar para si, invocar assistência. (AGUIAR, 1999, p. 23).

Advocacia é o ato do advogado, profissional liberal, que, habilitado para tanto, chama para si a causa de outrem, patrocinando direitos e deveres em causa de terceiro, podendo estender essa prerrogativa em juízo ou fora dele. (BENASSE, 2000, p. 26).

Com a utilização de critério de parte da doutrina, destaca-se que na Roma Antiga foram encontrados registros históricos da presença do advogado, onde a profissão assume lineamentos definitivos. A presença do patrono, sujeito com notável saber jurídico e com o dom da oratória, foi determinante para conquistar, iludindo ou cativando, os magistrados da época. Naquele período, os magistrados davam andamento aos processos, todavia, com o aumento da complexidade das causas e dos processos, verificou-se a necessidade de atuação desses sujeitos, os patronos. (SILVA; FERRAZ E MACHADO, 2004, p. 311).

2.4.2 A evolução da advocacia no Brasil

Durante o período colonial brasileiro, o título de bacharel em Direito era quase nobiliárquico, tendo em vista a determinação que dava O Livro I, Título XLVIII, das Ordenações Filipinas, que obrigava todos os Letrados que advogavam no Brasil, a estudarem por oito anos em Portugal, mais especificamente na Universidade de Coimbra. Essa determinação surge em favor do controle da atuação dos rábulas, presentes na época. (LÔBO, 2002, p. 07).

No período colonial do Brasil, havia a presença de grandes profissionais do Direito, tais como Cláudio Manoel da Costa e Tomaz Antônio Gonzaga, ambos atuantes na Inconfidência Mineira. (CHAVES; FERRAZ E MACHADO, 2004, p. 155).

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Na época do Império, o caráter dos cursos jurídicos aqui criados, era o de formação de dirigentes, ou apenas para conquistar postos de comando da alta burocracia. As disciplinas ministradas contribuíam apenas para revelação de vocações políticas ou literárias, fugindo da real função de formação de profissionais para a advocacia. (LÔBO, 2002, p. 07).

Durante a República Velha, é notório o crescimento da advocacia como profissão autônoma e independente do Poder Público. Em 1930, com a criação da OAB, é que iniciou no Brasil a regulamentação profissional do advogado, exigindo para tal função a formação universitária. Somente com a elaboração do novo Estatuto de 1994, a advocacia passou efetivamente a ser entendida como exercício profissional que abrange postulação a órgãos do Poder Judiciário, consultoria e assessoria. (LÔBO, 2002, p. 08).

2.4.3 O advogado

O termo advogado, como anteriormente destacado, tem origem no latim, e significado de assistente, ou aquele que é patrono de quem necessita justiça. É um profissional liberal, pois atua com seu próprio dom de exposição e persuasão, e quando chamado para assistir seu cliente, não significa que exerça a atividade em detrimento do interesse privado exclusivamente, pois acima de tudo está sempre o direito de justiça, que é de interesse social. (RAMOS, 2003, p.60).

Para corroborar com o exposto tem-se o esclarecimento que segue:

A advocacia é uma profissão vicária e monopolista. Em verdade, hoje, o advogado exerce poder por delegação de outrem e é indispensável para a concretização de um conjunto de atos jurídicos, Ele, obrigatoriamente, faz às vezes de outrem. A advocacia é uma prática dependente, pois seus resultados contenciosos não são dados pelo advogado, mas pelo judiciário, isto é, o advogado age, mas o resultado de seu trabalho é concretizado por terceiros, no âmbito do contraditório. Essas características profissionais engendram um imaginário peculiar e condutas e etiquetas que destacam os advogados de outros profissionais. (AGUIAR, 1999, p. 23).

Os cursos jurídicos não formam os advogados, assim como não formam magistrados, promotores, defensores públicos ou delegados de carreira. Para o Estatuto da OAB, é advogado o bacharel em Direito que está regularmente inscrito no seu quadro, exercendo atividade postulatória ao Poder Judiciário, representando seu cliente ou no

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exercício de atividade de consultoria e assessoria em matéria jurídica, deixando de sê-lo aquele que por algum motivo tenha sua inscrição na OAB cancelada. (LÔBO, 2002, p.19).

2.4.3.1 O exercício da advocacia

O exercício da advocacia é atividade privativa aos advogados regularmente inscritos nos quadros da OAB. Aliás, o advogado deve estar em plena atividade, pois aquele com registro suspenso ou excluído por processo disciplinar fica impedido de exercer a profissão. Além disso, deve estar com as anuidades devidas à Ordem em estado regular. (FIGUEIREDO, 2005, p. 07).

O Estatuto da Advocacia preceitua em seu artigo 1°:

Art. 1° São atividades privativas de advocacia:

I – a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais; II – as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.

Desta forma denota-se que o exercício da advocacia é atividade que só pode ser realizada por advogado regularmente inscrito na OAB, sendo importante ressaltar que a Constituição Federal, no seu art. 133, não traz exceções à indispensabilidade do advogado para tais atividades.

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

No exercício da advocacia, tem-se a atividade postulatória ou de representação em juízo, por meio da qual o advogado solicita ao Poder Judiciário prestação de serviço para solucionar demanda de seu cliente. Extrajudicialmente, o advogado desenvolve outras atividades, como consultoria e assessoria e de direção. Nesse momento, o advogado oferece orientação para que seja evitada demanda judicial custosa e morosa, na tentativa de resolver amigavelmente o conflito. (RAMOS, 2003, p. 41).

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2.4.3.2 As características da advocacia

Com o advento da Ordem dos Advogados do Brasil, houve uma mudança radical no panorama brasileiro, no que tange à atividade advocatícia. No período anterior à criação da Ordem, não existiam postulados de ética, tampouco disciplina para a profissão. A partir do momento da criação da Ordem, a atividade tornou-se regulamentada, fiscalizada e disciplinada. (RAMOS, 2003, p. 59).

O Estatuto da Advocacia em seu art. 2° traz que:

Art. 2° O advogado é indispensável à administração da Justiça.

§ 1° No seu ministério privado, o advogado contribui na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem munus público.

§ 2° No exercício da profissão o advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limite da lei.

Este artigo do Estatuto, apesar de não definir, vem ressaltar as principais características da advocacia, quais sejam: indispensabilidade, inviolabilidade, função social e independência (LÔBO, 2002, p. 28).

Do ensinamento de Lôbo, (2002, p. 29), extrai-se o seguinte:

O princípio da indispensabilidade não foi posto na constituição como favor corporativo aos advogados ou para reserva de mercado profissional. Sua ratio é de evidente ordem pública e de relevante interesse social, como instrumento de garantia de efetivação da cidadania. È garantia da parte e não do profissional. São advogados todos os que patrocinam os interesses das partes, sejam elas quais forem, mesmo quando remunerados pelos cofres públicos. Ou seja, são os representantes necessários, que agem em nome das partes, mas no interesse da administração da justiça.

A inviolabilidade do advogado, assim como estabelecida no Estatuto, dá resguardo à sua liberdade de expressão, garantia indispensável ao exercício pleno de suas funções. Garante o sigilo profissional e protege os seus meios de trabalho. (RAMOS, 2003, p. 62).

O munus literalmente significa encargo, emprego ou função. Desta forma quando se fala que advogado exerce um munus público, significa dizer que ele exerce uma função pública. A advocacia, apesar de ser profissão liberal, não implica que deve ser exercida somente em favor do interesse privado, posto que, acima dele, sempre existirá um interesse maior de serviço à justiça, que é de ordem social e pública. (RAMOS, 2003, p.60).

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A última característica se refere à independência do advogado, que é absoluta, pois o advogado, profissional liberal, trabalha na defesa de sua causa utilizando todo o seu aprendizado jurídico, valendo-se do seu dom de escrever e expor suas idéias para alcançar sua pretensão. (RAMOS, 2003, p. 60).

2.4.4 A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

Nasce no dia 18 de novembro de 1930 a Ordem dos Advogados do Brasil, em virtude do disposto no art. 17, incluído no Decreto n. 19.408, do Governo Provisório, que teve força de lei. Assim dispunha o art. 17:

Fica criada a Ordem dos Advogados Brasileiros, órgão de disciplina e seleção dos advogados, que se regerá pelos estatutos que forem votados pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, com a colaboração dos Institutos da Ordem dos Estados e aprovados pelo Governo.

Inicialmente sua função era a de ser o órgão de disciplina e seleção dos advogados. Somente em 14 de dezembro de 1931, foi aprovado o Regulamento da Ordem dos Advogados do Brasil, adotando-se este nome pelo Decreto n. 20.784, com redação de Levi Fernandes Carneiro, que foi justamente o primeiro Presidente da entidade. (LÔBO, 2002, p. 226).

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é a entidade máxima de representação dos advogados brasileiros e responsável pela regulamentação da advocacia no Brasil.

Considera-se que não possui característica autárquica nem de entidade genuinamente privada, mas sim, de serviço público independente, submetida ao Direito Público, no que diz respeito às atividades administrativas, e ao Direito Privado no desenvolvimento de suas atividades e proteção da profissão. É entidade que milita em defesa da classe dos advogados, dos direitos humanos, da justiça social e do Estado Democrático de Direito. (LÔBO, 2002, p. 232).

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2.4.4.1 A sua criação e a natureza jurídica

Conforme discorrido no item anterior, a Ordem dos Advogados do Brasil nasceu em 1930, pelo Decreto 19.408, com força de Lei. Daquela época até hoje em dia engrandeceu-se, adquirindo confiabilidade e prestígio perante a população. Desempenha com grande vivacidade a tarefa de valorizar a advocacia e policiar administrativamente a profissão (LÔBO, 2002, p. 236).

Conforme o próprio Estatuto, a Ordem dos advogados do Brasil é um serviço público independente, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, e não mantém qualquer vínculo funcional ou hierárquico com órgãos da administração pública. (LÔBO, 2002, p. 231).

Em igual sentido, é o ensinamento de Gama (2009, p. 117):

A natureza jurídica da OAB tem sido objeto de calorosos debates em diferentes épocas e ainda incita controvérsias que podem ser aclaradas com alguns elementos trazidos pelo próprio Estatuto. Antes de analisar o texto legal, é preciso atentar para o fato de a OAB não estar vinculada a qualquer poder estatal; assim, a OAB não faz parte do Legislativo, do Executivo ou do Judiciário. Também não está vinculada a qualquer outro órgão do estado, como o Ministério Público ou o Tribunal de Contas da União. A OAB pode ser definida como pessoa jurídica sui generis por prestar serviço público e ser dotada de personalidade jurídica e forma federativa, com finalidades específicas, como defesa da Constituição Federal, da ordem jurídica do Estado democrático de direito, dos direitos humanos, da justiça social, e pugnar pela aplicação plena da legislação, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas, além de promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em todo território nacional.

Acerca do assunto, pode-se verificar que um ponto comum se destaca, ou seja, que a determinação da natureza jurídica da OAB possui estreita relação com as funções que o Estatuto lhe confere. (RAMOS, 2003, p. 707).

2.4.4.2 A finalidade e os órgãos da OAB

O Estatuto da Ordem, em seu art. 44, define quais são as finalidades da instituição, conforme segue:

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Art. 44 A Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, serviço público, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, tem por finalidade:

I – defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de Direito, os direitos humanos, a justiça social e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas;

II – promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Federativa do Brasil.

§1° A OAB não mantém com órgão da Administração Pública qualquer vínculo funcional ou hierárquico.

§2° O uso da sigla “OAB” é privativo da Ordem dos Advogados do Brasil.

Destacam-se explicitamente duas finalidades distintas nesse artigo, mas que se relacionam de forma harmônica, sem supremacia de uma sobre a outra. São as finalidades institucionais e as finalidades corporativas. Por finalidades institucionais denominam-se as relacionadas às ações da Ordem em nível político, colocadas no inciso I do art. 44 do Estatuto. Concernente às finalidades corporativas, são aquelas do inciso II do mesmo artigo, que tratam da representação, defesa, seleção e disciplina dos advogados. (RAMOS, 2003, p. 708).

No art. 45 do Estatuto, estão discriminados os órgãos da OAB:

Art. 45. São órgãos da OAB: I - o Conselho Federal; II - os Conselhos Seccionais; III - as Subseções;

IV - as Caixas de Assistência dos Advogados.

§ 1º O Conselho Federal, dotado de personalidade jurídica própria, com sede na capital da República, é o órgão supremo da OAB.

§ 2º Os Conselhos Seccionais, dotados de personalidade jurídica própria, têm jurisdição sobre os respectivos territórios dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Territórios.

§ 3º As Subseções são partes autônomas do Conselho Seccional, na forma desta lei e de seu ato constitutivo.

§ 4º As Caixas de Assistência dos Advogados, dotadas de personalidade jurídica própria, são criadas pelos Conselhos Seccionais, quando estes contarem com mais de mil e quinhentos inscritos.

§ 5º A OAB, por constituir serviço público, goza de imunidade tributária total em relação a seus bens, rendas e serviços.

§ 6º Os atos conclusivos dos órgãos da OAB, salvo quando reservados ou de administração interna, devem ser publicados na imprensa oficial ou afixados no fórum, na íntegra ou em resumo.

Conselho Federal é o órgão supremo da instituição, com personalidade jurídica própria, com sua sede em Brasília. Compete-lhe dar cumprimento às finalidades da Ordem em nível nacional. (GAMA, 2009, p. 119).

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Conselho Seccional são órgãos dotados de personalidade jurídica própria, com jurisdição sobre os respectivos Estados, Distrito Federal e Territórios, com sede nas capitais dos Estados e em Brasília no caso do Distrito Federal. (GAMA, 2009, p. 119).

Subseções são partes autônomas do Conselho Seccional, com base territorial correspondente a um ou mais municípios. Subseção é a unidade básica da Ordem, possui autonomia conferida pelo Estatuto, porém não são se trata de pessoa jurídica autônima, uma vez que faz parte do Conselho Seccional. (GAMA, 2009, p. 119).

As Caixas de Assistência dos Advogados são pessoas jurídicas criadas pelos Conselhos Seccionais, ao qual ficam vinculadas; têm finalidade assistencial. (GAMA, 2009, p. 119).

2.4.4.3 O surgimento do Estatuto e do Código de Ética e Disciplina da OAB

Em 14 de dezembro de 1931, foi aprovado o Regulamento da Ordem dos Advogados do Brasil, nome conferido pelo Decreto n. 20.784. Adotou-se o modelo francês, tanto para a organização quanto para o paradigma liberal da profissão de advogado. Após várias reformas incorporadas ao Regulamento da Ordem, provenientes de leis e decretos, o então Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, no ano de 1956, encaminhou ao Congresso Nacional aquele que seria o projeto do segundo Estatuto. Mas no dia 27 de abril de 1963, sancionada a Lei nº 4.215 pelo Presidente João Goulart, é que nasce o segundo Estatuto. Somente em 04 de julho de 1994, o Presidente Itamar Franco sancionou o projeto que tramitava no Congresso desde 1988, convertendo-o na Lei nº 8.906, dando origem ao atual Estatuto. (LÔBO, 2002, p. 227).

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelos artigos 33 e 54, V, da Lei nº8.906, de julho 1994, aprova e edita o Código de Ética da OAB. Esses são os termos da publicação do Diário da Justiça, Seção I, do dia 1º de março de 1995, p. 4000 a 4004, e que de igual forma dá diretrizes ao Código:

O Conselho Federal da ordem dos Advogados do Brasil, ao instituir o Código de Ética e Disciplina, norteou-se por princípios que formam a consciência profissional do advogado e representam imperativos de sua conduta, tais como: os de lutar sem receio pelo primado da Justiça; pugnar pelo cumprimento da Constituição e pelo respeito à Lei, fazendo com que esta seja interpretada com retidão, em perfeita sintonia com os fins sociais a que se dirige e as exigências do bem comum; ser fiel à

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verdade para poder servir à Justiça como um de seus elementos essenciais; proceder com lealdade com boa-fé em suas relações profissionais e em todos os atos de seu ofício; empenhar-se na defesa das causas confiadas ao seu patrocínio, dando ao constituinte o amparo do Direito, e proporcionando-lhe a realização prática de seus legítimos interesses; comporta-se nesse mister, com independência e altivez, defendendo com o mesmo denodo humildes e poderosos; exercer a advocacia com o indispensável senso profissional, mas também com desprendimento, jamais permitido que o anseio de ganho material sobreleve à finalidade social do seu trabalho; aprimorar-se no culto dos princípios éticos e no domínio da ciência jurídica, de modo a tornar-se merecedor da confiança do cliente e da sociedade como um todo, pelos atributos intelectuais e pela probidade pessoal; agir, em suma, com a dignidade das pessoa de bem e a correção dos profissionais que honram e agradecem a sua classe.

O Código de Ética não é uma lei, mas sim, um regramento especial. É dotado, entretanto, de força normativa que advém da própria Lei 8.9065/94, que em seu art. 33 determina a obrigatoriedade quanto às regras nele contidas. (FIGUEIREDO, 2005, p. 13).

Ao finalizar esse item, é importante destacar que um dos avanços do Código de Ética é relativo à publicidade, que vem definida nos artigos 28 a 34 da referida carta. O Código admite a publicidade, resguardada a não adoção de práticas empresariais, consideradas inadequadas. (LÔBO, 2002, p. 180).

Essa matéria será abordada mais à frente, no 4º capítulo desse trabalho, onde merece especial destaque.

2.4.5 A Ética do advogado

A ética profissional do advogado representa a matéria que cuida da conduta desse profissional, tanto nas relações com seus clientes quanto na exata aplicação da técnica jurídica. Representa também o bom relacionamento com os colegas de trabalho, com os funcionários do Poder Judiciário, além de sua conduta perante a sociedade. (FIGUEIREDO, 2005, p. 12).

Essa regra está contida no Estatuto da Advocacia, que assim determina:

Art.31 – O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor de respeito e que contribua para o prestígio da classe e da advocacia.

§1°. – O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência em qualquer circunstância.

§2º. – Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da profissão. Art.32 – O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional praticar com dolo ou culpa.

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Parágrafo único – Em caso de lide temerária, o advogado será solidariamente responsável com seu cliente, desde que coligado com este para lesar a parte contrária, o que será apurado em ação própria.

Art.33 – O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no Código de Ética e Disciplina.

Parágrafo único – O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do advogado para com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa do patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos procedimentos disciplinares.

O advogado, na atividade profissional, não é ser isolado, seus atos refletem tanto positiva quanto negativamente na classe. Ele tem o dever de agir com retidão e honestidade, sendo fiel ao Código de Ética no intuito de garantir o prestígio que tem a atividade advocatícia. (LÔBO, 2002, p. 165).

A ética do advogado não reside em valores absolutos, mas deriva do senso comum profissional, com o escopo de manter a correta conduta da classe. (LÔBO, 2002, p. 164).

2.4.6 A missão do advogado

Com o crescimento da sociedade e o seu desenvolvimento, cresce também em complexidade as relações entre as pessoas. A quantidade de leis e normas jurídicas cresce na mesma proporção da variedade e quantidade de relações de Direito entre as pessoas da sociedade, fato que torna a solução dos litígios mais difíceis e complexos. Nesse cenário, vê-se a importante tarefa do advogado, sujeito que detém o estudo, o conhecimento da lei e a prerrogativa de pedir ao judiciário a solução das demandas (LANGARO, 1992, p. 38).

Esse profissional, ao exercer suas atividades na busca da solução para os conflitos entre as pessoas, provoca do judiciário uma resposta, visto que somente ele tem essa prerrogativa. Em sua atuação na defesa de direitos de outrem, observa-se primeiramente uma relação de interesse privado, todavia, como está relacionada à realização de justiça, o advogado atende ao interesse social. (RAMOS, 2003, p.60).

Do ensinamento de Pasold (1996, p.128) extrai-se que “a missão principal do advogado é exercer a sua função social”.

Corrobora com o exposto ensinamento:

A função social do advogado é o conjunto dos direitos, obrigações e atribuições do profissional que, inscrito na OAB, patrocina os interesses de outrem, aconselha, responde de direito e lhe defende os mesmos interesses, quando, discutidos, judicial

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ou extrajudicialmente, resultam em bem-estar social abrangente: público, coletivo, mais especificamente das massas menos favorecidas. (BONATTO; FERRAZ E MACHADO, 2004, p. 96)

Verifica-se, portanto, que a missão do advogado é exercer a sua função de defensor na sociedade, buscando garantir justiça, lutando sem receio por isso. Quando concretiza a aplicação do Direito, quando obtém resposta do Poder Judiciário, quando participa da construção da justiça social, por intermédio de seu conhecimento jurídico, o advogado tem a sua missão cumprida. (LÔBO, 2002, p. 31).

2.4.7 Os direitos do advogado

Ao advogado, para que seja possibilitado o exercício pleno da atividade, lhe são reservados direitos e prerrogativas. O Estatuto trata de forma indistinta os direitos e prerrogativas do advogado, não devendo essas ser confundidas com regalias. Ao contrário, as prerrogativas é que permitem ao advogado atuar em ambiente igualitário. (GAMA, 2009, p. 24).

Os direitos conferidos ao advogado são relativos à função do profissional, na condição de agente público, não se confundindo com a pessoa física. (RAMOS, 2003, p. 134).

Em igual linha de raciocínio, é o ensinamento de Ramos (2003, p. 134):

São características fundamentais da advocacia a independência e a inviolabilidade, garantias básicas da sua indispensabilidade à realização da justiça. Para que estas características ultrapassem os limites da intenção constitucional, e se transformem em realidade prática, o Estatuto relaciona os direitos dos advogados e as prerrogativas profissionais.

Na intenção de garantir o pleno exercício profissional e na busca de que seja atendido o interesse público na realização de justiça, o Estatuto da Advocacia especifica nos arts. 6º e 7º os direitos e prerrogativas do advogado. (GAMA, 2009, p. 24).

Mister destacar que os direitos do advogado não existem para dar importância pessoal a este profissional, mas sim, porque esses direitos dizem respeito à proteção da cidadania. Quando violado um desses direitos, por qualquer autoridade, o prejuízo tão- somente será do cidadão defendido, pois o advogado apenas está na linha de frente na tentativa de garantir justiça. (GAMA, 2009, p. 23).

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3 A CONDUTA ÉTICA DO ADVOGADO E AS INFRAÇÕES DISCIPLINARES

Nesta etapa do trabalho, apresenta-se uma análise acerca da conduta ética do advogado e, conseqüentemente, penalidades às infrações cometidas. Procura-se demonstrar os deveres éticos do advogado, não apenas no que diz respeito ao relacionamento com seu cliente, mas também em razão da técnica profissional, ao relacionamento com outros operadores do direito e a sua postura na vida social. Para tanto, o advogado impõe-se em todas as situações em que lhe é exigido seu esforço, com vistas a lutar sempre pela preservação da dignidade da advocacia. (FIGUEIREDO, 2008, p. 12).

Do profissional da advocacia é esperado um comportamento ético, balizado na exaustiva letra do Código de Ética e Disciplina. (GAMA, 2009, p. 96).

O Art. 33 do Estatuto da Advocacia determina:

Art. 33 – o advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no Código de Ética e disciplina.

A letra da lei é ratificada pela doutrina:

Os relacionamentos do advogado são inúmeros e ao Código de Ética e Disciplina coube regular os deveres para com a comunidade, o cliente, o outro profissional. Para afastar alguns riscos à profissão e tendências indesejáveis, o citado código impõe limitações à publicidade da atividade advocatícia, reforça a impossibilidade de recusa ao patrocínio da causa, exalta o dever de prestar serviços de assistência jurídica, a prática constante do dever geral de urbanidade. Em caso de ofensa à condutas formatadas pelo citado Código, o profissional vai responder administrativamente e o trâmite seguirá o procedimento disciplinar.(GAMA, 2009,p. 96).

Nessa esteira de raciocínio, diferentemente dos deveres éticos do advogado, que configuram condutas positivas ou comportamentos esperados, as infrações disciplinares demonstram atitudes negativas, ou comportamentos indesejados, os quais devem ser rechaçados pelo Código de Ética. (LÔBO, 2002, p. 188).

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3.1 O DEVER DE RETIDÃO ÉTICA DO ADVOGADO

Dentre as qualidades esperadas do profissional da advocacia, destacam-se a competência, mais especificamente a cultural e a técnica, e a atitude ética. O absoluto compromisso com a ética torna o advogado merecedor de respeito, o que conseqüentemente contribuirá para o prestígio da classe. (PASOLD, 1996, p. 124).

A ética profissional impõe-se ao advogado em todos os momentos de sua vida, tanto no profissional quanto no pessoal, repercutindo no conceito público e na dignidade da advocacia. (LÔBO, 2002, p.165).

Sobre o assunto, acrescenta Ramos (2003, p. 533):

[...] ao liame que se estabelece entre o advogado e seu cliente denomina-se relação de patrocínio. Esta se sustenta primordialmente na confiança que o profissional conquiste junto ao seu cliente, que por sua vez, repercutirá num ambiente mais amplo, a sociedade. Assim, cada gesto, cada ação do advogado, em cada caso particular no qual atue, é elemento a mais que se unirá a outros para fins de formar o conceito geral da sociedade sobre a advocacia. Aqui, percebe-se claramente a responsabilidade de cada um de nós, no dia-a-dia de nossa atuação profissional.

Nesta linha de raciocínio, entende-se que o advogado, na atividade profissional e na sua vida social, deve agir de forma a garantir uma relação saudável perante seus clientes, perante os membros do Judiciário e perante a sociedade, observando sempre os princípios deontológicos. (FIGUEIREDO, 2005, p. 12).

Dessa forma o advogado envidará seus esforços no sentido de respeitar o contido no Código de Ética, visto que não é um ser isolado, mas um membro integrante de uma categoria, visto que suas atitudes refletem em todos os demais. (FIGUEIREDO, 2005, p. 12).

3.1.1 Em relação aos clientes e aos demais operadores do Direito

Conforme consignado anteriormente, percebe-se de maneira evidente a relevância da ética profissional do advogado, porquanto desempenha uma atividade ligada ao judiciário, intimamente coadunada aos mais importantes valores éticos: justiça e moralidade. Vale salientar que a conduta ética do advogado direciona-se não somente ao seu cliente, mas, sobretudo aos seus colegas de profissão, aos membros do Ministério Público, aos servidores

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públicos e aos magistrados. Verifica-se que é de suma importância o respeito aos demais profissionais do universo jurídico, porquanto é essencial que este sentimento seja mútuo entre os cidadãos citados. (CORTÊS; FERRAZ E MACHADO, 2004, p. 83).

O advogado, no trato com o cliente, deve manter cordialidade e sinceridade, informando-o, de forma clara e inequívoca, quanto a eventuais riscos da sua pretensão e conseqüentemente dos seus efeitos. Deve o profissional estabelecer comunicação formal e respeitosa com seu cliente, com todo o cuidado necessário na condução da demanda, visto que o advogado está em primeiro lugar a serviço da justiça, mas direta e secundariamente a serviço de quem o patrocina. (HAMMERSCHMITT, 2006, p. 41).

Por fim, deve o advogado tratar os outros operadores do direito, quais sejam os juízes, os membros do Ministério Público, os serventuários da justiça além dos colegas e as partes envolvidas no processo, com urbanidade e respeito, mesmo que a decisão proferida não esteja de acordo com o almejado. Esse relacionamento deve acontecer de forma harmônica, de tal forma que os obstáculos a percorrer durante o processo sejam superados com respeito e responsabilidade pelas partes envolvidas. (HAMMERSCHMITT, 2006, p. 41).

3.1.2 Em relação ao sigilo profissional

O sigilo profissional é inerente à atividade advocatícia, e está intimamente ligado à confiabilidade. Quando um cliente confia ao advogado informações confidenciais, ele acredita que estas sejam guardadas no mais absoluto sigilo. É dever do advogado manter sigilo dessas informações, posto que se trata de um princípio de ordem pública, porém não absoluto, sujeito a sanções conforme preceitua o Código de Ética. (FIGUEIREDO, 2008, p. 24).

O Código de Ética elenca as situações nas quais não se exige o dever ao sigilo profissional. Convém registrar, entretanto, que essas hipóteses são exceções. São os casos de grave ameaça ao direito à vida, à honra e ainda quando o advogado se veja afrontado pelo próprio cliente e nos limites e nas necessidades de defesa própria, tenha de revelar segredo. Essas hipóteses constituem exceções à regra e devem ser tomadas com absoluta necessidade. (FIGUEIREDO, 2008, p. 24).

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O sigilo profissional é, ao mesmo tempo, direito e dever. Direito ao silêncio e dever de se calar. Tem natureza de ofício privado (múnus), estabelecido no interesse geral, como pressuposto indispensável ao direito de defesa. Não resulta de contrato entre o advogado e o cliente. O dever de sigilo profissional existe seja o serviço solicitado ou contratado, remunerado ou não remunerado, haja ou não representação judicial ou extrajudicial, tenha havido aceitação ou recusa do advogado.

O dever ético do sigilo é dever perpétuo, não podendo o advogado violá-lo por sua livre vontade. Quando imposto ética e legalmente ao advogado, deve ser garantido. Nesse sentido, é importante ressaltar que estão protegidos pelo sigilo não só as confidências do cliente ao advogado, como também dados de computadores, telefonemas e cartas entre cliente e patrocinado. (FIGUEIREDO, 2008, p. 27).

Cumpre acrescentar que o patrocínio de causas contra cliente ou ex-empregador segue a mesma regra, e fica proibida a utilização de informações sigilosas recebidas em tempo anterior a dois anos, lapso temporal exigido pela lei. (FIGUEIREDO, 2008, p. 27).

3.1.3 Em relação à publicidade

Este assunto é abordado com maior ênfase no último capítulo, porque, como foco desse trabalho, o dever ético em relação à publicidade é questão que desperta debates e conflitos de idéias entre a classe, além de inúmeras consultas e pareceres dos Tribunais de Ética. (BARONI; FERRAZ E MACHADO, 2004, p. 72).

O que se pode adiantar é que o Código de Ética avançou, ao admitir a publicidade como direito do advogado, contudo tendo-se em vista a obediência ao Código de Ética. Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos da América, o modelo brasileiro de publicidade voltada à atividade advocatícia não deve utilizar-se de práticas empresariais. No ordenamento pátrio, ou mais abrangente ainda, na cultura jurídica brasileira, são adotados contornos próprios mais adequados a uma profissão que exige dignidade e respeito à sociedade. (LÔBO, 2002, p. 181).

Os limites da publicidade na advocacia encontram-se disciplinados no Código de Ética e Disciplina, nos arts. 28 a 34, na Resolução 2/92 do tribunal de Ética e no Provimento 94/00 do Conselho Federal. (FIGUEIREDO, 2005, p. 73).

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A publicidade deve ter, necessária e exclusivamente, caráter informativo, sem proporcionar a captação e clientes ou causas nem caracterizar a concorrência desleal. Entende-se como caráter informativo a inserção de elementos suficientes capazes e identificar a pessoa do advogado, os serviços que executa e a localização de seu escritório.

Por tais aspectos tem-se que a advocacia, por ser um múnus público, ou seja, cargo emprego ou função pública, pauta-se em princípios éticos norteadores, e a publicidade não poderia restar de fora. (RAMOS, 2003, p.59).

Assim, como é dever do advogado praticar a advocacia com zelo, probidade e espírito cívico, são deveres também deste profissional praticar a publicidade de forma limpa e discreta, em obediência ao contido no Código de Ética, no intuito de preservar a dignidade e o prestígio da profissão. (FIGUEIREDO, 2005, p. 74)

3.1.4 Em relação aos honorários advocatícios

Os honorários advocatícios são remunerações obtidas de serviços especializados, prestado por pessoas que detêm capacidade técnica e postulatória, razão por que não representam ganho de capital ou lucros advindos de atividade mercantil. (FIGUEIREDO, 2005, p. 83).

Importa ressaltar dois aspectos: primeiramente, quanto à importância da advocacia, constitucionalmente destacada, para garantir o regular acesso à justiça na busca da solução de conflitos. Dessa forma o advogado presta um serviço essencial, traduzido em trabalho intelectual, dirigido e indispensável à administração da justiça, diferentemente da atividade mercantil que sugere o ganho sobre lucro comercial. O segundo aspecto diz respeito ao objeto do trabalho, que exige do profissional capacidade e técnica jurídica, com o objetivo de patrocinar seu cliente na proteção de bens como vida, patrimônio e liberdade. (FIGUEIREDO, 2005, p. 83).

Dessa forma, denota-se que o pagamento dos serviços prestados pelo advogado são efetuados por meio de honorários. No entanto, não existem critérios que possam delimitar a fixação desses, pois variam de acordo com critérios objetivos, como a tabela de honorários da OAB, ou critérios subjetivos, como o prestígio do profissional ou mesmo a qualificação e a reputação do profissional perante a sociedade. Na verdade, apenas é possível afirmar que o

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Código de Ética e Disciplina determina, em seu art. 36, que os honorários sejam fixados com moderação, atendendo certos requisistos. (LÔBO, 2002, p. 129).

É oportuno ressaltar que os honorários devem ser estipulados de forma a não ficarem na exorbitância nem muito abaixo do estipulado pela Tabela de Honorários da OAB. Na esteira desse raciocínio extrai-se da doutrina o seguinte:

Destacam-se duas infrações relativas à cobrança de honorários por desrespeito aos parâmetros ético-profissionais: Caso os honorários sejam fixados em valor irrisório, abaixo do mínimo estabelecido na Tabela de Honorários da OAB, ocorrerão os chamados honorários vis, cuja infração denominada aviltamento de honorários, é punível com censura. São considerados desprestigiosos para a advocacia. Se os honorários se apresentarem com valores desproporcionais, injustificáveis em face do serviço prestado, também haverá infração disciplinar, expressamente prevista no art. 34, XX, do Estatuto da Advocacia, passível de suspensão, em razão da inobservância do critério de moderação. (FIGUEIREDO, 2005, p. 84).

O Estatuto da Advocacia cuida da matéria em seus arts. 22 ao 26, cabendo ao Código de Ética nortear o que diz respeito a honorários profissionais no seu capítulo V, para garantir a estipulação moderada dos mesmos. (AQUAVIVA, 1995, p. 34).

Assim, ao tratar dos honorários profissionais, o advogado deve pautar-se pela moderação, em respeito ao contido na regra legal pertinente, demonstrando um procedimento ético respeitável, com vistas a evitar, dessa maneira, os procedimentos disciplinares. (ANDRADE; FERRAZ E MACHADO, 2004, p. 369).

3.1.5 Em relação ao dever de urbanidade

Inserido no Código de Ética, precisamente no Capítulo VI do Título I, o dever de urbanidade refere-se ao tratamento respeitoso do profissional, que não é apenas vinculado à prática profissional, posto que também envolve sua conduta perante a sociedade, uma vez que deve atuar com empenho na sua tarefa e, portanto, utilizar-se de linguagem clara e polida para tanto. O dever de urbanidade compreende, de um modo geral, o dever de agir de maneira cortês, expressando-se com respeito pessoal e recíproco. (AQUAVIVA, 1994, p. 110).

O art. 44 do Código de Ética e Disciplina exige do advogado um comportamento respeitoso, com descrição e independência, permitindo assim que a sociedade possa percebê-lo como agente defensor do Estado Democrático de Direito. A atuação do advogado deve ser pautada pelo respeito, uma vez que ele possui prerrogativas, daí por que lhe é vedado agir de

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modo a excedê-las, tanto em relação ao seu comportamento perante os outros membros do Poder Judiciário, quanto aos seus clientes e colegas. (CORTEZ; FERRAZ E MACHADO, 2004, p.224).

Esta interpretação é pacífica na doutrina:

Todo advogado deve tratar o cliente com fineza, ser cordial e compreensivo, pois, mais do que em qualquer outra profissão, a advocacia exige a urbanidade no trato. Embora não haja afeto, o advogado deve ser modelo de correção e cortesia para com seus colegas, magistrados, clientes, testemunhas e auxiliares de justiça. (CORTEZ; FERRAZ E MACHADO, 2004, p.224).

O Código de Ética, no seu art. 45, trata especificamente da utilização da linguagem do advogado nos seus trabalhos e sua prática adequada e cuidadosa na execução dos serviços profissionais. (AQUAVIVA, 1994, p. 110).

Ensina a doutrina:

O advogado deve conhecer o vernáculo. Deve dominar a língua materna, sendo capaz de utilizá-la de maneira devida, o que se torna um pressuposto para a boa atuação profissional. Logo, deve o mesmo utilizar de uma linguagem de forma limpa, cortês, clara, sem excessos e sem ofensas. Contudo isso não quer dizer que o profissional deva deixar de falar algo com veemência, mas saber falar de modo a não causar um desrespeito a outrem. (GONÇALVES-CHAVES, 2008).

Por fim, o Código de Ética exige do advogado empenho e zelo na sua atuação, fundamentos essenciais para a condução da causa. Porquanto, o dever de urbanidade vincula-se à atuação do advogado em face da demanda do cliente, compreendidos aqui o zelo, a transparência, o cuidado, o preparo profissional, atitudes que devem se estender desde a consulta inicial até o fim do processo. (GONÇALVES-CHAVES, 2008).

Por tais aspectos, o dever de urbanidade impõe ao profissional um comportamento condizente com a nobreza e a dignidade da profissão, atentando-se o advogado a tratar todos que convivem ao seu lado, diariamente, com respeito, discrição e independência, seja nas atitudes relacionadas à profissão ou no âmbito social, exigindo para si mesmo tratamento direcionado ao zelo por suas prerrogativas. (FIGUEIREDO, 2005, p.13).

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3.1.6 Em relação às lides temerárias

Apesar de o advogado estar protegido pela inviolabilidade, garantia dada pela Constituição Federal, em seu art. 133, nos limites da lei, ele é alcançado por ação cível ou criminal nos casos de dolo ou culpa. O exemplo disso é o caso da lide temerária. (NETO, 1994, p. 61).

Da lição de Lôbo (2007, p. 192), consigna-se:

Ocorre a lide temerária quando o advogado coligar-se com o cliente para lesar a parte contrária, sendo solidariamente responsável pelos danos que causar. A lide temerária funciona com o meio indevido de pressão e intimidação, estando destituída de qualquer fundamentação legal, consistindo em instrumentalização abusiva do acesso à justiça, para fins impróprios ou ilícitos.

A lide temerária não se presume, tampouco pode ser a condenação realizada na mesma ação. Deve-se provar o dolo do advogado, haja vista a hipótese de ser resultado de inexperiência do profissional ou, mesmo, simples culpa. (LÔBO, 2007, p. 192).

Verificada a lide temerária, a parte que se viu prejudicada pode ingressar em juízo com ação própria de responsabilidade civil contra o advogado que, coligado com seu cliente, causou-lhe danos, tanto materiais quanto morais. (LÔBO, 2007, p. 192).

Existem casos em que o advogado não analisa com a profunda necessidade o direito do seu cliente, que por razões desconhecidas pelo profissional, somente quer prejudicar o demandado. (NETO, 1994, p. 61).

O dever ético do advogado em relação à lide temerária se encontra na acuidade profissional adquirida pela experiência, que deve ser suficiente para detectar situações que venham a caracterizar a lide temerária. É dever do profissional verificar se o seu cliente está intencionado a agir de má-fé e desonestidade, para que possa inibir a atuação. (NETO, 1994, p. 61).

3.1.7 Em relação à litigância de má-fé

A litigância de má-fé, por envolver a participação direta do advogado, que pratica atos em detrimento dos direitos de terceiros, constitui-se no pior exemplo de mau

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profissionalismo. O advogado que se utiliza desse meio ardiloso, além de agir de forma a prejudicar direito de terceiro, ainda contribui para o descrédito da classe profissional, que deve primar pelo pleno exercício da justiça. (SALES, 2005).

A doutrina ratifica este entendimento:

Aquele que, mediante ardil ou artifício, de forma intencional e de modo a causar prejuízos a terceiros, pratica uma das condutas contrárias ao correto exercício da advocacia, considerar-se-á litigante de má fé. Contudo, este profissional que se desvirtua dos princípios inerentes ao bom e fiel desempenho da sua arte, estará sujeito a reprimendas de ordem jurídica. (SALES, 2005).

Para que possa almejar um processo satisfatório é necessária a correta atuação dos sujeitos envolvidos na demanda de acordo com a ética, a lealdade e a boa-fé. É imperioso que os envolvidos, principalmente os patrocinadores, tenham consciência de que a função maior do advogado é com a Justiça e com o Direito e nunca com interesses particulares. (SALES, 2005).

Dessa forma existe dever ético a ser exigido do advogado no tocante à litigância de má-fé, pois é pressuposto necessário para que se alcance justiça de forma razoável e honesta. (MATTOS, 2009).

3.2 AS INFRAÇÕES E AS SANÇÕES DISCIPLINARES

Nesta etapa do trabalho aborda-se o estudo acerca das infrações disciplinares e as respectivas sanções a serem adotadas em caso de descumprimento do preceituado em lei. No Capítulo IX do Estatuto da Advocacia, estão previstas as infrações disciplinares, mais especificamente no art. 34, enquanto do art. 35 ao 43 são previstas as sanções disciplinares. (LÔBO, 2007, p. 204).

No art. 34 do referido Estatuto, encontram-se relacionadas condutas que não devem ser adotadas pelo advogado, sob pena de ser-lhe imputada infração disciplinar. No artigo em destaque tem-se o agrupamento de vinte e nove formas de infrações disciplinares, podendo ser classificadas em três partes, dependendo da gravidade que ostentem e de acordo com as sanções a que estão sujeitas, quais sejam censura, suspensão e exclusão. (LÔBO, 2007, p. 205).

Referências

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