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Associação entre o consumo de chocolate e a gravidade do primeiro infarto

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Academic year: 2021

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Artigo Original

ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE CHOCOLATE E A GRAVIDADE DO PRIMEIRO INFARTO

Association between the consumption of chocolate and the severity of the first infarction

Consumo de chocolate e infarto

Heloyse Martins Duarte¹; Milena Christy Rocha de Oliveira¹; Roberto Léo da Silva², MD; Tammuz Fatah², MD, Daniel Medeiros Moreira¹,² MSc, PhD. ¹- Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) - Unidade Pedra Branca, Palhoça-SC

²- Instituto de Cardiologia de Santa Catarina (ICSC) - São José-SC

Autor correspondente: Heloyse Martins Duarte

Rua das Cerejeiras, 235, Pedra Branca – Palhoça/SC. E-mail: heloysem@hotmail.com

Palavras-chaves: Pó de cacau. Bioflavonoides. Infarto Agudo do Miocárdio. Polifenol. Theobroma cacao.

Keywords: Cocoa powder. Bioflavonoids. Acute Myocardial Infarction. Polyphenol. Theobroma cacao.

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RESUMO

Fundamentos: As doenças cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio, são as principais responsáveis pelos óbitos mundiais. Os flavonoides presentes no chocolate podem originar benefícios para pessoas que possuem fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e apresentar efeito coadjuvante a terapias conhecidas. Objetivos: Analisar a associação entre o consumo de chocolate, a complexidade das lesões coronarianas e a gravidade do primeiro infarto em pacientes atendidos no Instituto de Cardiologia de Santa Catarina e em outros hospitais do Estado de Santa Catarina. Métodos: Subanálise do estudo de coorte Catarina Heart Study, avaliou 350 pacientes com primeiro infarto, com seguimento de um mês. Os pacientes responderam um questionário que engloba variáveis clínicas, laboratoriais, eletrocardiográficas, ecocardiográficas e angiográficas. Análise no SPSS 13.0, considerado significativo p<0,05. Resultados: Houve menor prevalência de hipertensão (43,2% vs 62,3%, p=0,003), diabetes mellitus (13,5% vs 25,7%, p=0,027) e tabagismo (24,3% vs 37,7%, p=0,032) entre os que consomem chocolate. Maior uso de álcool (40,5% vs 26,4%, p=0,018) e drogas (9,5% vs 3,3%, p=0,023) entre os que consomem chocolate. Entre os pacientes que consumiam chocolate, houve correlação negativa entre a quantidade consumida e o Syntax (r= -0,296, p=0,019). Conclusão: Houve associação entre consumo de chocolate e menor prevalência de hipertensão, diabetes e tabagismo. Não houve associação entre quantidade de chocolate consumida e a função ventricular pós-infarto e o TIMI frame count. Maior prevalência do uso de álcool e drogas entre os que consomem chocolate. Correlação negativa entre o Syntax e quantidade de chocolate consumida.

ABSTRACT

Background: Cardiovascular diseases, such as acute myocardial infarction, are the main causes of death in the world. The flavonoids present in chocolate can have benefits for people who have risk factors to the development of cardiovascular diseases and have a coadjuvant effect on known therapies. Aim: To analyze the association between the consumption of chocolate and the severity of the first infarction in patients attended at the

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Cardiology Institute of Santa Catarina and other hospitals in the State of Santa Catarina. Methods: Subanalysis of the Catarina Heart Study cohort, evaluated 350 patients with first infarction, with 1 month follow-up. The patients answered a questionnaire that included clinical, laboratorial, electrocardiographics, echocardiographics and angiographics variables. Analysis in SPSS 13.0, considered significant p<0,05. Results: There was lower prevalence of hypertension (43,2% % vs 62,3% p=0,003), diabetes mellitus (13,5% vs 25,7%, p=0,027) and smoking (24,3% vs 37,7%, p=0,032) among those who consume chocolate. Higher use of alcohol (40,5% vs 26,4%, p=0,018) and drugs (9,5% vs 3,3%, p=0,023) among those who consumed chocolate. Among the patients who consumed chocolate, there was a negative correlation between amount consumed and Syntax (r= -0,296, p= 0,019). Conclusion: There was association between chocolate consumption and lower prevalence of hypertension, diabetes and smoking. There was no association between amount of chocolate consumed and post-infarction ventricular function and TIMI frame count. Higher prevalence of alcohol and drug use among those who consume chocolate. Negative correlation between Syntax and the amount of chocolate consumed.

INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares (DCV) correspondem a maior causa de óbitos no mundo1. Dentre elas, merece destaque o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) que, entre 2008 e 2017, foi responsável por 813.982 internações hospitalares no Brasil2.

Há evidências da ligação entre a redução dos riscos de eventos cardiovasculares com o consumo de chocolate em maiores quantidades, já que esse alimento contém flavonoides3,4. Estudos indicam que flavonoides presentes no cacau ou em derivados têm capacidade de originar benefícios para as pessoas que possuem fatores de risco para o desenvolvimento de DCV, por meio de diversos mecanismos, como o de ação anti-inflamatória5-8. Fato esse de grande importância, já que o IAM também se caracteriza por ser uma doença inflamatória9.

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Contudo, a aspirina e as estatinas são as únicas medicações que combatem a inflamação, usadas no IAM9. Assim, a inserção de uma relativa quantidade de cacau com alto teor de flavonoides na dieta cotidiana, pode ser um método empregado para favorecer desfechos cardiovasculares, tornando-os de menor gravidade, e melhorando o prognóstico de pacientes após um episódio de IAM.

O chocolate, cuja composição é rica em flavonoides, pode apresentar efeito coadjuvante a terapias conhecidas para a doença isquêmica, principalmente pela ação anti-inflamatória5-7. Contudo, apesar de existirem indícios de que o chocolate poderia diminuir a ocorrência de eventos como o IAM, não existem evidências de que o mesmo possa estar associado a uma menor complexidade das lesões coronarianas em pacientes com IAM ou que o IAM possa apresentar menor gravidade. Dessa forma, esse trabalho tem por objetivo analisar a associação entre o consumo de chocolate e a complexidade de lesões coronarianas, assim como a gravidade do primeiro infarto.

MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma subanálise do Catarina Heart Study10 – um estudo de coorte prospectivo que teve início em julho de 2016 e que pretende avaliar 1426 pacientes até o ano 2020 e propõe um seguimento de trinta dias e um ano. Os pacientes selecionados tinham o diagnóstico de primeiro IAM e foram atendidos no Instituto de Cardiologia de Santa Catarina e em outros hospitais do Estado de Santa Catarina. Após o consentimento dos pacientes, os mesmos responderam um questionário que englobava diferentes variáveis clínicas, laboratoriais, eletrocardiográficas, ecocardiográficas e angiográficas, no período de julho de 2016 a julho de 2018. Após 30 dias, todos os pacientes foram reavaliados quanto ao status vital, mortalidade, incidência clínica de trombose ou reestenose de stent. Também foram reavaliados quanto à incidência de Eventos Cardiovasculares Maiores (MACE), que incluem morte cardiovascular, infarto não fatal, angina instável ou acidente vascular cerebral.

Os critérios de inclusão foram idade superior a 18 anos, presença de dor precordial sugestiva de IAM associada a eletrocardiograma com nova elevação

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do segmento ST no ponto J em duas derivações contíguas com os limites ≥0,1 mv em todas as derivações para além das derivações V2-V3 em que se aplicam os limites de ≥0,2 mv nos homens ≥40 anos; ≥0,25 mv nos homens <40 anos, ou ≥0,15 mV nas mulheres ou presença de dor precordial sugestiva de IAM associada a elevação de troponina I ou CK-MB acima do percentil 99 do limite superior de referência. Já o critério de exclusão foi a presença de IAM prévio.

O presente estudo tem como desfecho primário avaliar a associação entre o consumo de chocolate com gravidade, complexidade e complicações do IAM, além dos fatores de risco que desencadeiam um evento cardiovascular. A mensuração do consumo de chocolate foi realizada a partir do questionamento aos pacientes a respeito do consumo ou não de chocolate e da quantidade de tabletes ingerida por semana. Foram utilizadas como padrão 43 gramas para cada tablete ingerido, sendo que o total de consumo na semana foi dividido pelos dias, a fim de avaliar a média consumida em gramas por dia.

Os desfechos secundários corresponderam à descrição das características demográficas, clínicas e hábitos de vida da população em estudo; associação entre o consumo de chocolate e fatores de risco, além da associação entre o consumo e dados da reavaliação em trinta dias quanto a incidência de novos eventos cardiovasculares. Os desfechos secundários englobam também a correlação entre o consumo de chocolate e variáveis associadas a complexidade coronariana e gravidade do infarto, em pacientes que ingerem chocolate.

A fim de avaliar a gravidade e complexidade do IAM foram utilizadas três variáveis: Syntax, Thrombolysis in Myocardial Infarction (TIMI) frame count e Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE). A primeira variável é um escore que considera a localização, a quantidade, e a respectiva repercussão das lesões no funcionamento das artérias coronárias, sendo que, quanto maior o índice do Syntax, maior a complexidade das lesões coronarianas11. Já o TIMI frame count avalia o número de quadros do filme, desde o início da injeção do contraste até o alcance do final da coronária, sendo uma estimativa da perfusão arterial efetuada após a realização do manejo terapêutico12. Esta

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variável foi aplicada apenas nos pacientes com IAM com supra de ST. A FEVE foi estimada pelo ecocardiograma transtorácico em até 72 horas após o IAM.

A hipertensão, diabetes mellitus e dislipidemia foram autorreferidos no momento da pesquisa. O consumo de chocolate foi considerado positivo naqueles que o ingeriam regularmente, ao menos uma vez na semana. Foram considerados pacientes com história familiar positiva aqueles que tinham parentes de primeiro grau com doença arterial coronariana, mulheres ≤ 65 anos e homens ≤ 55 anos. Quanto ao uso de drogas e de álcool foi considerado positivo qualquer consumo dessas substâncias. No quesito tabagismo relevante o consumo de qualquer carga tabágica no momento da entrevista.

O cálculo da amostra da atual pesquisa foi de 158 pacientes com um poder de 90% e alfa=0,05 para uma correlação de 0,35 entre o consumo de chocolate por dia em gramas. Os dados foram tabulados e analisados pelo software SPSS 13.0. As variáveis qualitativas foram expressas através de números absolutos e percentuais e avaliadas através do teste de qui-quadrado. Sendo que as variáveis quantitativas com distribuição normal foram apresentadas como média ± desvio-padrão e avaliadas através do teste t de Student para amostras independentes, enquanto que as variáveis quantitativas com distribuição não-normal foram apresentadas como mediana e amplitude interquartil e avaliadas através do teste U de Mann-Whitney. A normalidade foi avaliada através do teste de Kolmogorov-Smirnov. Entre os pacientes que consumiam chocolate, a quantidade em gramas por dia foi correlacionada com as variáveis da gravidade do IAM através da correlação de Spearman. Foram considerados significativos valores de p<0,05.

O Catarina Heart Study foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina nos termos da Resolução 466/12, sob o protocolo 55450816.0.1001.0113. Os pacientes foram informados a respeito do sigilo das informações coletadas no questionário, e assinaram um termo de consentimento para aplicação do mesmo.

RESULTADOS

Entre julho de 2016 a julho de 2018 foram avaliados 350 pacientes, com idade média de 59,0 ± 11,0. A maioria dos pacientes era do sexo

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masculino (64,0%) e eram hipertensos (58,3%). Em relação ao chocolate, 21,1% dos pacientes consumiam o alimento regularmente, já o Syntax apresentou um valor mediano de 12,0 (6,0 – 19,0). A prevalência de diabetes mellitus na população entrevistada foi de 23,1% e o diagnóstico de infarto com supra de st foi feito em 169 pacientes (48,0%). A mediana do consumo de chocolate entre aqueles que ingeriam o mesmo foi de 21,5 gramas por dia. As demais variáveis são apresentadas na tabela 1.

Tabela 1 - Características demográficas, clínicas e hábitos de vida da população em

estudo. Variáveis n % Sexo masculino 224 64,0 Hipertensão 204 58,3 Diabetes mellitus 81 23,1 Dislipidemia 120 34,4 História familiar 153 43,7 Tabagismo 122 34,9 Álcool 103 29,4 Consumo de chocolate 74 21,1

Infarto com supra de ST 39 50,6

Variáveis Média Desvio padrão

Idade 59,0 ±11,0

IMC* 27,6 ±5,0

Cintura 95,5 ±13,8

Variáveis Mediana Amplitude interquartil

Peso 74,0 65,0 – 83,0

Chocolate† 21,5 6,1 – 56,8

Syntax 12,0 6,0 – 19,0

TIMI frame 22,0 14,0 – 34,0

* = Índice de massa corporal, † = Chocolate em gramas por dia, apenas entre os que consomem chocolate.

O estudo mostrou uma associação entre o consumo de chocolate e a ausência de hipertensão arterial sistêmica: 43,2% dos pacientes que consumiam chocolate eram hipertensos, enquanto 62,3% dos que não ingeriam o alimento tinham hipertensão (p=0,003). Da mesma forma, há associação significativa entre ausência de diabetes mellitus e o consumo de chocolate: 13,5% dos pacientes que consomem chocolate tem a doença, enquanto 25,7% dos que não ingerem chocolate tem diabetes, com p=0,027. Verificou-se maior prevalência de tabagistas nos pacientes que não consomem chocolate (37,7%) comparado aos que consomem chocolate (24,3%), com p= 0,032.

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Além disso, houve maior consumo de bebida alcoólica entre os que consomem chocolate (40,5%), em relação aos que não consomem (26,4%), com p=0,018. O grupo que utilizava drogas foi maior entre os que consomem chocolate (9,5%), quando comparado aos que não consomem (3,3%), com p=0,023. Dislipidemia e história familiar de doenças cardiovasculares não apresentaram associação com o consumo de chocolate. (Tabela 2).

Tabela 2 – Associação entre o consumo de chocolate e fatores de risco.

Variáveis Consumo de chocolate RP (IC 95%)* Valor de p

Sim Não n (%) n (%) Hipertensão 32 (43,2) 172 (62,3) 0,69 (0,53 – 0,91) 0,003 Diabetes mellitus 10 (13,5) 71 (25,7) 0,52 (0,28 – 0,97) 0,027 Dislipidemia 23 (31,1) 97 (35,3) 0,88 (0,61 – 1,28) 0,500 História familiar 39 (52,7) 114 (41,3) 1,28 (0,99 – 1,65) 0,079 Tabagismo 18 (24,3) 104 (37,7) 0,65 (0,42 – 0,99) 0,032 Álcool 30 (40,5) 73 (26,4) 1,53 (1,09 – 2,15) 0,018 Drogas 7 (9,5) 9 (3,3) 2,90 (1,12 – 7,53) 0,023

* = Razão de prevalência, com intervalo de confiança de 95%.

No seguimento após 30 dias do infarto não houve associação significativa entre o consumo de chocolate e novo infarto, angina instável, acidente vascular encefálico ou evento combinado (tabela 3). Nenhum paciente apresentou reestenose de stent.

Tabela 3 – Associação entre o consumo de chocolate e eventos 30 dias após o Infarto

Agudo do Miocárdio. Variáveis Consumo de chocolate RR (IC 95%)* Valor de p Sim Não n (%) n (%) Trombose em 30 dias 2 (3,6) 4 (1,7) 2,125 (0,40 – 11,31) 0,379 Infarto em 30 dias 1 (1,7) 7 (3,0) 0,586 (0,07 – 4,67) 0,597 AI† em 30 dias 1 (1,7) 7 (3,0) 0,586 (0,07 – 4,67) 0,597 AVC‡ em 30 dias 0 (0,0) 1 (0,4) 1,00 (0,99 – 1,01) 0,618 Evento combinado em 30 dias 6 (10,3) 14 (6,1) 1,28 (0,58 – 2,86) 0,254

* = Risco relativo, com intervalo de confiança de 95%, † = Angina instável, ‡ = Acidente vascular encefálico.

A média da FEVE entre os que consumiam chocolate (48,7±15,3) não apresentou diferença significativa entre os que não consumiam (51,2±13,0), com p=0,228. As demais variáveis estão representadas na tabela 4.

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Tabela 4 – Associação entre o consumo de chocolate e variáveis quantitativas.

Variáveis Consumo de chocolate

(média/DP*) Valor de p Sim Não Idade 58,5±11,6 59,2±10,9 0,639 IMC† 27,9±4,7 27,6±5,1 0,624 Cintura 97,4±14,8 95,0±13,5 0,202 FEVE‡ 48,7±15,3 51,2±13,0 0,228

Variáveis Consumo de chocolate

(mediana/AIQ§) Valor de p Sim Não Peso 74(64,0–86,0) 74(65,0–82,0) 0,386 Syntax 14 (6,8–18,6) 11(6,0–19,0) 0,778 TIMI frame 28(12,0–48,0) 20(14,0–32,5) 0,360

* = Desvio padrão, † = Índice de massa corporal, ‡ = Fração de ejeção do ventrículo esquerdo, § = Amplitude interquartil.

Entre os pacientes que consumiam chocolate, houve correlação negativa entre a quantidade consumida e o Syntax (r= -0,296, p=0,019), caracterizando menor complexidade das lesões coronarianas em pacientes que consomem maior quantidade de chocolate. (Tabela 5).

Tabela 5 – Correlação entre o consumo de chocolate e variáveis associadas a

complexidade coronariana e gravidade do infarto, em pacientes que ingeriam chocolate.

Variáveis Correlação de Spearman Valor de p

FEVE* -0,070 0,613

TIMI frame 0,131 0,499

Syntax -0,296 0,019

* = Fração de ejeção do ventrículo esquerdo.

DISCUSSÃO

Este estudo analisou a complexidade das lesões coronarianas e a gravidade do primeiro infarto com o consumo de chocolate. Os dados demonstraram que, entre pacientes que consomem chocolate, há correlação negativa entre o Syntax e a quantidade consumida, caracterizando menor gravidade da lesão coronariana nos pacientes que ingeriam chocolate em maiores quantidades. Além disso, houve menor prevalência de hipertensão, diabetes e tabagismo entre os que consumiam chocolate.

Foram encontradas semelhanças na literatura em relação ao perfil da população entrevistada, sendo comum a maior prevalência do sexo masculino

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em pacientes acometidos pelo IAM13-17. Além disso, notou-se que grande parte desses pacientes possuía hipertensão como fator de risco para o evento cardiovascular13-16. Em relação ao tabagismo, menos da metade da população entrevistada possuía esse vício, assim como em outras publicações14,15,17.

O presente estudo encontrou menor prevalência de hipertensão entre os que consomem chocolate. Essa relação também foi encontrada em diversos outros estudos, que demonstraram uma redução da pressão arterial com o consumo de flavonoides, que estão presentes em alimentos como o chocolate4,8,18,19. Essa associação pode ser justificada pelo fato de que os flavonoides melhorariam a função endotelial, já que a disfunção do endotélio está ligada à hipertrofia e enrijecimento da parede arterial18,20,21. Um dos mecanismos de melhora da função endotelial é o aumento da biodisponibilidade do óxido nítrico a partir do consumo de flavonoides, que resulta em um efeito vasodilatador e favorece o aumento do fluxo sanguíneo nos vasos, com consequente redução nos níveis da pressão arterial22,23. Outra via importante dos benefícios dos flavonoides na redução da pressão arterial é a inibição da atividade da enzima conversora de angiotensina, pois a formação da angiotensina II resulta em vasoconstrição e aumento da pressão arterial, o que eleva o risco de desfechos cardiovasculares23,24.

Foi encontrada também associação entre o uso de álcool e drogas com o consumo chocolate, tendo maior prevalência do consumo dessas substâncias entre os pacientes que ingerem chocolate semanalmente. Alguns estudos justificam essa relação pelas características aditivas do chocolate, que possui compostos que podem causar dependências, semelhante ao que ocorre com outras substâncias, como o álcool e outras drogas25,26. Além disso, a dependência do consumo de chocolate também passa pelas fases típicas do alcoolismo e outras drogas, como, por exemplo, a fase de recaída. Nesta fase o indivíduo volta a ingerir o doce compulsivamente, sem pensar nos efeitos adversos desse consumo exagerado, o que corrobora ainda mais o efeito aditivo do chocolate, o qual pode prevalecer em pessoas que já são propensas a ter um comportamento de adição27. Outro ponto relevante é que drogas, como a maconha, são estimuladoras do apetite, por isso podem aumentar o consumo de alimentos, incluindo o chocolate28,29.

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Houve também associação entre o consumo de chocolate e menor prevalência de tabagismo, porém este achado parece ser apenas fruto do acaso.

Foi também encontrada associação entre o consumo de chocolate e diabetes mellitus. Estudos sugerem uma relação inversa entre a prevalência de diabetes mellitus e a ingestão de chocolate8,30-33. Pesquisas defendem que um dos mecanismos dessa relação inversa entre chocolate e diabetes mellitus é o aumento da sensibilidade à insulina ocasionada pelos flavonoides, que auxilia na redução da glicose na corrente sanguínea e pode retardar o início da doença34,35. Um ponto importante, relatado em um dos estudos analisados, é que a recomendação do consumo de flavonoides como efeito protetor do diabetes mellitus deve ser realizada com cautela. Esta ponderação é relevante, pois o estudo defende que podem ser encontradas grandes quantidades de açúcares e calorias em inúmeros produtos com cacau, ao invés de um alto teor de flavonoides, o que pode gerar um efeito rebote, com piora do controle glicêmico dos pacientes que possuem diabetes mellitus tipo 236. Alguns autores acreditam que o efeito benéfico dos flavonoides também ocorre em pacientes que já apresentam diabetes mellitus estabelecida, com a redução dos riscos de desfechos cardiovasculares nesses indivíduos, como o IAM19,20. Contudo, é relevante expressar que pacientes que já possuem diabetes mellitus são orientados a não consumirem açúcares e que, no presente estudo, os pacientes entrevistados já possuíam a doença e, portanto, deveriam ingerir menos chocolate.

Entre os pacientes que consumiam chocolate, houve uma correlação negativa entre o Syntax e a quantidade consumida de chocolate. A mediana do consumo de chocolate entre os pacientes que ingeriam o mesmo foi de 21,5 gramas por dia. Existem evidências de que uma dose diária de 80mg já poderia promover resultados vasculares benéficos18. Também existem dados que comprovam melhora imediata no fluxo coronariano após o consumo de 45 gramas de chocolate com alto teor de cacau37. A correlação entre maior quantidade de consumo de chocolate e menor complexidade das lesões coronarianas pode ser justificada pelas propriedades anti-inflamatórias dos flavonoides presentes no chocolate5-7. Outro mecanismo importante é a ação antioxidante dos flavonoides, que auxilia na redução dos radicais livres e pode

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resultar em lesões coronarianas de menor gravidade7,38,39. Além disso, os efeitos benéficos do consumo de chocolate são associados a menor mortalidade por desfechos cardiovasculares, o que sugere menor gravidade do IAM naqueles que consomem chocolate em maiores quantidades8,40. Contudo, não foi possível estabelecer qual a quantidade exata de consumo recomendada a fim de reduzir a gravidade do desfecho cardiovascular. Vale ressaltar que, apesar de existir uma correlação negativa entre a complexidade de lesões coronarianas e a quantidade de chocolate consumida, não houve qualquer associação entre a quantidade consumida e outras variáveis associadas com a gravidade, como a função ventricular pós-infarto (FEVE) e o fluxo coronariano após angioplastia primária (TIMI frame count).

Entre as limitações desse estudo, pode-se citar que as comorbidades dos pacientes e os fatores de risco para desfechos cardiovasculares foram avaliados em um único momento, o que pode comprometer a relação causa-efeito. Pode ter ocorrido o erro tipo I em alguns achados, como na associação entre o consumo de chocolate e menor prevalência do tabagismo. Além disso, a maioria dos pacientes entrevistados era de um único hospital e a amostra não possuía poder para avaliar alguns desfechos como a mortalidade. Porém, estes vieses não invalidam os dados encontrados, e como as pesquisas da literatura não avaliaram o consumo de chocolate com a gravidade do IAM, os achados encontrados no presente estudo podem justificar a realização de outras pesquisas sobre o tema.

CONCLUSÃO

O presente estudo mostrou associação inversa entre o consumo de chocolate e hipertensão, diabetes mellitus e tabagismo. Verificou-se também associação entre o consumo de chocolate e a maior prevalência do uso de drogas e álcool. Não foi encontrada associação entre a quantidade de chocolate consumida e a função ventricular pós-infarto (FEVE) e o fluxo coronariano após angioplastia primária (TIMI frame count). Observou-se ainda correlação negativa entre o Syntax e a quantidade consumida de chocolate, o que sugere menor gravidade da lesão coronariana nos pacientes que ingeriam chocolate em maiores quantidades.

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Referências

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