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TD ATG 1981 I vol.

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Academic year: 2019

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(1)

...

COLON IZACAO,

...,.

-PENETRACAO DO CAPITAL

""'

A

E

DEPENDENCIA (ANGOLA)

PARTE

TESE PARA 0 DOUTORAMENTO

APRESENTAOA POR

AOELINO A. TORRES GU!MARAES

!\10

INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA LISBOA

(2)
(3)

( .,, ? 1:1 "'t "rl d ~ •:• ;,. "'] ·rx) \ rl.::.... .._ m ;:.~ r;\.' e ~.1 . ..1 , , ( ... 1-~o. •• 0 I\. '

\unda

mexico

(1) Zaire e Uii;~ formavam ate 1961 tL1l so distrito: o DISTRITO DO

CONGO. De :11c~smo modo os d:i.stri tos do Bie e do Cubango

(4)

i--.:

,/J. GRADE G I M !!1 N 2l 0 ;.;,

Que me seja permi·tido ag.r-adecer a todo('J os que rne a.couselhara.m

e ajuda.rarn ao longo des·ta investiga9ao, e em pri.mttdro l'u.g·a·r ao P:rofe~:.sor

F. Pereira de Moura que, da:ndo-me a honra de a.ceitar r-1 od.onta.9f.~o deste

trabalho, me permit:l.u benef'ioiar do seu saber, e.:x:peri~ncia e avisados oonselhos, deixa.ndo-me todavia, com exemplar generosi.dacie, inteira

.l:i.-berdade na esoolha de criterios.

Dos erros e insufioi@ncia.s eventua.is sou o unico responsaveL

Ao Professor E.. de Sousa Ferreira devo pessoa.lmente e no qua.d.ro do Centro de Estudos da Depend@ncia (CEDEP) de que e funda.dor, urn acolhi-mento cordial e franco que muito facilitou a minha tarefa dure~te os ultimos a.nos .. Junto do Professor Armando Antunes de Castro enoontrei um espirito atento e sempre d.isponi-~rel, cujas crHicas fora.m urn incentivo e uma refer@ncia. 0 meu reconhecimento vai igualmente para o Professor Alfredo Margarid.o, da Universidade de Paris, de quem recebi, desde meados da decada de 60, cons"E_ante e desinteressado apoio, e pq.ra Jose Leal d:e Loureiro sem o qual nao me teria sido possivel obter certos livros fun-damentals e raros.

Estou grato ao Coneelho Cientifico do Instituto Superior de Eco-nomia que fez tudo o que eatava. ao seu alcance para me proporoiona.r a.s

melhores_condigoes de trabalho possiveis e ao Institute Naoional de In-vestigagao Cientifica. que, tomando a seu cargo a responsabilidade finan-oeira inerente ao estatuto de "Equiparado a Bolseiro" que me f'oi atribui-do durante atribui-dois anos, permitiu que esta investigagao fosse levada a bom fim.

Gumpre-me deixar uma palavra de agradecimento a muitos dos co-legas ~ estudantes do !•S.E. de quem reoebi palavras de estimulo, in-f'ormagoes e d.ocumenta.yao, em especial aos colegas do CEDEP, cujo espi-rito de equipa quero sublinhar, Dr. Antonio Couceiro Machado, Dra. Joana Pereira Lei·te, Dr. Luis Pereira. Faria e meus antigos alunos e amigos Dr. Carlos Alberto da Costa Martins e Dr. Aristides Menezes Fernandes.

Tambem nao posso esqueoer OS meus mestres e oompanheiros da

revista ESPRIT, nomead.amente Jean f·Tarie Domenach, Paul Thibaud e Ca.sa.-ma.yor, pela. solidariedade e ensina.mentos desde 1968 ate hoje.

Uma pala.vra de a.prego ainda para os competentes servi9os da Biblioteca do I~S.E. dirigida pela Dra_ Dulce Cabrita.

m

enfim um grato dever manifestar o meu reconhecimento aos fun-cionarios deste Insti tuto, senhores Joa.quim Cardoso Esteves e Jorge

:lilo-reira, que, sempre a.mavelmente, por vezes com a.lgum sacrificio peasoal, me resolvera.m urgentes problema.s de fo·toc6pi.a.s.

Teria. uma mui·to especial satisfac;ao se pudesse agra.decer a alguem a pesadissima execuc;ao dactilografica do texto, mas, infelizmente, foi sobre mim que recaiu essa tarefa.

A mi:nha mulher que releu com paci@ncia o ma.nuscrito e cujas

opinioes fora.m profissionalmen·te mui to valiosa.s.

. I

(5)

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,..,,,,

'·'

. . ~. : ...

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9

A

0

Nesta disserta9ao utilizamos e tentamos articular

5

dis-ciplinas principais: Economia, EStatistica, Sooiologia, Hist6ria

e Direito. Mas trata.-se, a nosso v@r, menos de um trabalho

"plu-rid.isciplinar" (no sentido em que a e:x:pressao implicaria urn

domi-nic dos cinco ramos do conhecimento) do que de um trabalho de

Economia que utiliza a pluridisciplinaridade.

Como

e

de regra em trabalhos universitarios, mas tambern

por intima convic9ao, esforgamo-nos por observar, tao

rigorosamen-te quanto possivel, uma objectividade que julgamos cientifioa,

entendendo esta como a comprovagao sistematica das hipoteses e da

argumentagao apresentadas.

Ainda nessa ordem de ideias, nao

e

inutil sublinhar que

certos conceitos, empregues por vezes noutros escritos com

senti-do ma.is ou menos polemioo, t@m aqui uma utilizagao puramente

se-m~tica. Por exemplo, o termo colonialismo significa que a acgao

colonizadora introduziu nas sociedades africanas distorgoes e

destruturagoes irreversiveis, sem que dai tiremos, a priori,

implicitos juizos de valor •

• "

.

0 objecto central do nosso estudo

e,

fund.arnentalmente,

o primeiro quartel do seculo XX que abordaremos na 2§ parte deste

(6)

seculo XIX, constitui apen.a..s uma. a·bordci.gem introdu'toria que tenta

clarif'icar alguns anteced.e:nte:s e fornecer chaves para u.ma melhor

compreensao d.as problema.ticas analisadas posteriormente.

Inter-relacionando capitais, pautas a.duaneiraa, mercadorias e

transpor-tea, esforgamo-nos por p8r em relevo alguns aspectos da din~.mioa

da coloniza9ao por-tuguesa em Angola. e das pri.meiras formas de

integra9ao/subordinagao desta colonia ~ economht metropolitana .•

Este enquad.ramento prelimina.r pareceu-nos :i.mprescindivel para uma

melhor compreensao do processo sul:)sequente.

-

-Na secgao 1.1. relembramos que a ooupagao colonial

por-tuguesa foi tardia e

so

a partir dos fins do seculo

XIX

COIDEly01l a

ter alguma expressao~ Os famosos "cinco seculos de colonizagaon,

que durante tanto tempo foram um leitmotiv no discurso do Poder,

sao uma deformayao algo abusiva da realidade: em Angola a

ocupa-gao colonial limi·tava-se, ainda no primeiro qua.rtel do seoulo XX,

~ zona literal e lts poucas zonas rasgadas pelos caminhos de fe!rro

de Luanda e de Benguela.

Na secgao 1.2. veremos contudo que a insufici@ncia da

obra colonizadora ate aos :fins do seculo XIX ( e mesmo nas deca,das

seguintes) nao pode ser imputada apenas El. 9'falta de capiiiais

por-tugueses" ou ao tao frequentemente invocado "subdesenvolvimento••

de Porlugal .. Os capitais (ou pelo menos o essencial) existiam como

veremos e o conceito de nsubdesenvolvimento" esconde uma

realida-de mais comple:x:a do que o atrazo tecnologico ou a d.icotomia

sim-plista de "muitos pobre.s/algttns rend.eiros ricos'? parecem su.gerir.

(7)

') .I

hipotese operatoria de uma. c~~r'ta "r:i.va1:i.dade" ~mtre o (;apital

me-tropolita.no e os ca.pitais locais (de Angola) que teremos de

encon-trar pontos de partida para uma analise rigorosa da colonizac;ao ern

Angola.

-Na secc;ao 1.3. veremos urn pouco mais em detalhe as

im-plicac;oes dessa distingao entre "capital mctropolitanon e "capital,

colonial" e o contexte socio-econ6mico em que ela se insere.

A secc;ao 1.4. estuda as Pautas Aduaneiras coloniais a

par-tir de 1837 e oferece uma observagao empirica que permite testa.r as

hipoteses precedentes.

A secc;ao 1.5. prossegue a analise dessa

converg@ncia/di-Verg@ncia ( 0 fenomeno

e

ambivalente) entre OS diferentes interesses:

economioos, abordando a questao atraves de algumas mercadorias

ooloniais (aloool e agucar principalmente) e metropolitanas (vinho

em particular) e da respeotiva tributagao fiscal.

Na secc;ao 1.6. estuda-se um sector nevralgico que

e

con-digao sine qua non de qualquer politica. colonizado:ra: os

transpor-tes .. Veremos OS tr@s principais no seculo XIX: 0 transporte por

carregadores, o caminho de ferro e a marinha mercante~ A sua

ana-lise

e

igualmente reveladora das problema:ticas evocadas nas sec9ot:;s

anteriores.

Enfim, na seogao 1. 7. que termina esta prime).ra parte

examinaremos o ncapital financeiro" por intermadio da acgao

desen-volvida pelo Banco Nacional Ultramarine (B~N~U.) no espago econ6~

mice Angola/S. Tome f acgao que

e,

a va.rios t itulos, s ig"nificat iva.

Nao so ela confirma, ainda que parcelarmente, hip6teses anteriores,

(8)

~~~~ 4 ~~~~

-portuguesa em Angola: o B .. N.U~ compm:tou-se meno~1 como 1.1.ma

ins-tituigao fina.nceira ''norma.P' (cujo pa.pel seria o de motor do

d.e·-senvolvimento economico) do que como uma oliga.rquia especula.dora.

ao servigo de uma economia de explorac;ao, nao contribuindo para

uma acumulagao local nem sequer de maneira decisive. para a

moneta-rizagao da economia d.a colonia.

Deste conjunto de questoes parece-nos resultar um

comple-xo integrado susceptive! ~e introduzir as problematica.s que

abor-daremos na 2§ parte, corpo central desta diasertagao.

0 fio condutor refere--se ~s e·tapas de penetrac;~o da.

''eco-nomia de mercadoA em Angola. Pa.rece-nos altamente discutivel

assi-milar, indiscriminadarnente e em todas as fases historicas do

con-tacto entre a Metropole e a Colonia, capitalismo e colonizac;ao. 0

capitalismo propriamente dito, como sistema econ6mioo e social

glo-bal, implicando a generalizac;ao do trabalho assalariado livre e a

exist@ncia de um mercado interne, esta praticamente ausente de

An-gola durante todo o periodo que estudamos, ou seja, pelo menos,

ate aos fins do primeiro quartel do seculo XX. Importa saber

por-qu@. A Ci@ncia Economica oferece-nos instrumentos de ref'lexao para

interrogarmos, com a.lgum rigor epistemol6gico e te6rico, essa

rea-lidade complexa e tentarmos compreender talvez aspectos de uma

co-lonizac;ao pa.ssada que ainda condiciona o presente. }Tao se trata

-de 11julgar" - 0 que nao esta de modo algum no nosso prop6sito

(9)

~- -

---~---·---·- 5

N.A SEGUJIIDA METADE DO SOOULO XIX

-1.1. IJ.ma ocupaQao colonial tardia.

A improdutividade da.s ca.pitaliza.yoes efeotua.da.s na Europa

das riquezas coloniais, transformara-se, em Portugal, em igrejas,

t t 1 , . l t " C . R

monumen os, conven os, pa ac2os , presen es ~ ur2a omana,

comen-das., titulos, prazos e outras benesses que pouco aproveitaram ~

comunidade portuguesa propriamente dita. 0 despovoamento das

co-16nias africa.nas (devido ao trafico de escra.vos e ~s elevada.s

ta.-xas de mortalidade), o desfavoravel tratado de 1810 com a

Inglater-ra, que abre a este pais as portas do Brasil nao apenas em

con-corr@ncia mas em detrimento de Portugal, a decad@ncia da marinha

2

meroante e a consequente perda da grande industria dos transportes

maritimes em beneficia de pa:lses com carvao, ferro (que se supunha ...

nao existir em Portuga15) e indU8trias metalUI'gicas capazes de dar

~ navegayaO a Vapor 0 incremento necessario, oontribuem para que

Portugal dei:x:e finalmente de ocupar o lugar que detivera. nos

secu-1os XVI e XVII na esfera de circu1a9ao de mercadorias. Conheoendo

(1)

Vd. por e.xemplo: Jose Augusto

FRANQA. A

reconstrugao de Lisboa e a arquitectur~P8mbalina, Lisboa,

1978.

(2) Cf. MARTINS (Oliveira). P£.l.ftica~nomia Nacional (1885),

Lisboa,

1954 ..

(3) Cf~ ACKERMANN 1907. E tambem GUERREIRO (Amaro), Q ...

Jropr2,

(10)

-

6

uma longa decad@ncia. ma.n.ufactureira, a .. cumula.ndo o atrazo em

rela-<;ao a paises como a Inglaterra., a Fra.n9a. e mesmo a Alemanha., s6

pratica.mente a partir d.a segunda. rneta.de do seoulo XIX Portugal

esboga. uma entrada de oerto modo significative. na esfera. da

pro-dugao, industrializando-se a pouco e pouco. 0 regime fiscal, por

intermedio das pautas aduaneiras' as varia<;oes cambiahl e 0 agio

do ouro, as medidas toma.da.s em rela9ao a produtos como o aloool,

o agucar, os tecidos e o vinho, por exemplo, cuja articulagao e

reveladora. de urn processo de tra.nsforma<;ao da. eoonomia. e da

socie-dade portuguesa, as modifica<;oes formais e estruturais que tiveram

lugar no campo do trabalho e dos transportee, dei:x:am antever em

filigrana uma complexa rede de fenomenos, sabre a qual, para alem

das contradigoes reais ou supostas, se pode desoortinar um

dis-curse comum a todas as pot@ncias da EU:ropa, discurso que, em

Portu-gal, apresenta.ra uma continuidade de fttndo por detras das

diferen-gas de forma, da. !l~onarquia ~ 1 t1 Republica e desta. a.o "Estado Novo 1~:

o discurso colonialista.~

0 enquadramento d.e alguns dos problemas levantados no

se-culo XIX permitir-nos-a ·talvez oompreender melhor, no nosso seculo,

certas questoes relacionadas com a penetragao e a consolida9ao

posterior da economia de mercado em .qngola .. Esta "digressaon

ne-cessa.riamente rapida sobre alguns antecedentes, parece-nos contudo

importante para melhor fixa:rmos os con:tornos de uma problematica

mais complexa do que as simplificagoes polemicas ou apologeticas

tendem por vezes em fazer crer ..

(11)

·- 7 •.

0 seculo XIX

e

um seculo de muta.gao estrutura.l -

~~condrni·-ca, politi~~condrni·-ca, sociol6gica - profunda e, logica.mente, urn periodo

conturbado. A sua ultima decada

"vai dar inicio a um prooesso de luta. entre as g.rand~s

pot@ncias capita.listas que proouram na. dominagao colonial uma esoapatoria para a cresoente pressao que sobre elas faz pesar, nas metr6poles, urn movimento operario cujas direcgoes reformistas vao oonseguindo oontrolar mere~ de uma satisfagao minima das reivindicagoes ma.is prernentes"4g

0 agravamento dos salarios na Europa, nomeadamente na

in·-d'listria. te:x:til, a sobreprodugao que provocava a (relativa)

dimi-nuigao das taxas de 1ucro e as disponibi1idades orescentes de

ca-pital A procura de novos investimentos, incitam o caca-pitalismo a

e:x:pandir-se em busca de novas mercados e de novas fontes de

mate-rias primas. Co1onizar representava tambem, como notou

recentemen-te Catherine COQUERY-VIDROVITCH5 uma compensagao As frustragoes

individuais e co1ectivas: derrcta da F'ranga. frente A Alemanha. em

1870; crise de 1876 em Portugal e, posteriormente, ca.pitulagao

pe-rante o Ultimate ing1@s de 1890.

As atengoes vol tam-se para as oolonias a.frica.nas

a:te

entao

praticamente abandonada.s6• 1!1 o seculo dos e.x:p1oradores: Monteiro

(4) (5) (6)

CABRAL (Manuel Villaverde) 1976, p. 323. VIDROVITCH 1971.

-'9De 1882 a 1885 desenvolvia-se na Europa uma febre de expansa.o

colonial e diversas na.goes maritimas disputavam os pontos onde havia.m de implantar a. sua. bandeirar'. Cf., VASCONCELLffi 1901,

(12)

,,,,.., ':) ...

cha.do em 18.47; Silva Porto e seus pombeiros, •::·I; c. Mas as tc;;rc.md(~S

ex:pedigoes npoli·t;ico-cornerciaisn p·or .assim dizer, comer;.am em

Por-tugal com Capelo e Ivens em

1877,

aos quais se seguem imedia.tamente

Serpa Pinto, Henrique de Carvalho (cuja obra

e

de grand.e interesse

cientifico) e outros., As campanha.s integradas na grande "corridan

internacional para a ocupagao do continente afrioano iniciam-se

realmente no ultimo qua.rtel d.o seoulo passado. Ao servi9o de

ou-tras nagoes ma.s com a mesma finalidade, Stanley e Brazza percorrem

a bacia do Congo e Livingstone atravessa o continente chamando

sobre si as aten9oes mundiais.

Ja

a Ing1aterra encontrava nao s6 na India, mas em !frioa,

uma mao-de-obra barata que comegava a justifioar OS investimentos

de infraestrutura e as pesadas despesas de enquadramento

adminis-trative e militar desses territ6rios. A ocupagao tardia da lfrica,

cujo ponto de partida simbolico sera a Confer@ncia de Berlim em

1884-1885,

justifica-se nao

so

por razoes politicas {sobre as

quais insiste

c ..

COQUER.Y VIDROVITC!H:7 com fortes argu.mentos), mas

tambem, a nosso v@r, por motives economicos imperiosos. 0 progresso

tecnico, o melhoramento dos transportes e comunicagoes, a carestia

da vida na Europa, as lutas sociais que se avoluma.m, tornavam mais

necessaria a expansao em Africa e interessantes os investimentos

nesse continente. Sem duvida que outros factores, ideol6gicos,

(13)

,,

...

, ...

excessive ignorar, por eXt:~rnpl.o, c prosel:.i:ti::;mo 6.:·.·" '''f6

,,:;~;:o-::>imoni.·-8

ana" tanto qua.nto nos parece ho je desnecessario f>.1.n.r.lamenta.r a

analise do colonialismo e:x:clusiva.merlte em criteri.os e

,julgamen-tos de valor un:ivocos. A verdad.e

e

que

"nao se e conscientemente hipocri·ta.. Nao se vive dtl.ran·!;e

trinta anos no desprezo de si proprio. Seria. nada.

com·-preender sobre o imperialismo colonial apresenta-lo

so-mente como a corrida de ca.pita.listas avidos de ricos

territ6rios e de popula.9oes sern defesa. 0 irnperialismo

colonial, como o nacionalismo donde ele provem, foi uma virtude. Os seus protagonistas servira.rn os gTandes ideais

da. epoca., o ideal naciona.l e o ideal huma.nitario. Eles

tiveram boa. consci~ncia. Nunca se insistira dema.siado sobre esse ponto'; 9

~

~ certo que temos que ter essa questao presente se

quere-mos abordar sam preconceitos uma problematica que, pela sua

con-temporaneidade (part icularmente em Portugal), nao

e

ainda mate-·

ria pacifica para muitos, como e compreens:ivel. Contudo, o campo

delimitado do nosso trabalho obriga-nos a negligenciar essa

ques-tao para alem das men9oes pontuais que nos parecerem oportunas~

No ultimo quartel do seculo XIX as pot@ncias europeias

comegaram a ocupagao de territories cujas ~ronteiras foram tragadas

A regua e esquadro ~ mesa da Con~er€!ncia de Berlim. 0 que

e

nota-vel

e

que Portugal, apesa.r da sua evidente fraqueza militar e

:fi-nanceira, tivesse consegtlido guarda.:r para si uma tao grande fatia,

beneficia.ndo,

e

'l.rerd.ade 1 da rivalidade entre a Inglaterra e as

(8)

BRUNSCHWIG

1972,

pag.

22.

(9) BRUNSCHIHG 1960, p. 173.

(14)

-· :~.(I

·-outras nagoes.

A Confer@:ncia de Berlim :foi urn marco politico decisivo*

Logo em

1885,

a Belgica come<;ou sem mais delongas o caminho de

ferro de Matadi a Stanley-Pool a par d.e uma ocupa<(ao militar e

comercial acelerada. Para Portugal a situa9ao a.presentava-se m<ds

dif'icil.

Tornava-se vi·tal reunir rapidamente oapi tais para

cons-truir vias f'erreas, condi9ao para uma ooupa9ao efeotiva.,

mobili-zar tropas para abrir caminho A penetra9ao comercial, agricola e

mineira para alem das f'aixas do literal e dos corredores estreitos

e precarios que partia.m de Luanda, de Benguela e de Mo<;~medes e

que iam pouco alem no interior, bloqueados pela resist8ncia

ar-mada dos africanos (que

so

cessou entre

1920

e

1961),

pela f'alta

de homens e de capitais. A tradicional "atrao9ao comercial" que

se limitava a chamar os africanos ao literal, estava politioa e

economicamente ultrapassada por motives a que nos referiremos mais

~ frente. Para ocupar de facto, era precise nao

so

inverter o

pro-cesso e levar a mercadoria ao in·terior ( o que de certo modo ja se

fazia

ha

muito, mas por meios onerosos e len·i;os): era sobretudo

necessaria consolidar a articula9ao agricultura/comercio,

insta-lando fazendas e pla.nta9oes de ·1:; ipo empresariaL Por outras

pa.la.-vras, con:trolar a produ9;:o (que na prat ica sempre est ivera. nas

maos dos af'ricanos, embora de maneira inorganizada do ponto de

vista mercantil) e, com o acesso directo ~ materias primas e a

possibilidades de escoamento para a costa (transpor·tes por caminho

de ferro) 1 dominar todo o circ1J.ito economico de montante a

(15)

11

-os a.frica.n-os que no fim de con"t<o.s d.orninam ou ~ pe lo m•::.!no::'l, in-~

fluencic:,m cleci~d.va.mente a vid.:.!. economica. colonial, a nivel da.

produ .. ;:<w' dos transportes e do comercio ( fala-se ;':l,qU.i' bern

en-de ou:tros ti.pos submetidos a qualquer controlfJ juridico ou

mi-l.itar ).

J~ssa i.nfJ.u~ncia.

e/

01.1. predomin:lncia rnanifesta-se:

Na ..2!~-2_~: fazendo ou recusando fazer colheitaa,

se-gundo que 8, permuta lhes paJ.~ece ou

nao

favora.vel;

Q,?.,2 __ tra~fl-~~.:tes .. (em pa.rticular :nos fins do secnlo XIX):

dificultan(io a. pas~;a.g·em dos carrE~ga.dorer> que transportam

rnerca-dorias, qu .. -=.mclo nao sao os pr6prioE: carregado:r.es a recusarern ef.lse

recta sabre o cornfrcio do literal que deles depende quase

comple-consumidor~s doo produtos manufacturados.

Assl:n, n''" esteir~-t das colunt:<.s m.iJ.:i.tc.tres, o caminho do

ferro

e

a Condi<;:;:;:O neces~:;ax•i::t para a normalidade e durabilida.de

de qualquer projecto de expansao com base numa estrutl.tra

comerei-a.l e agricola. coordenada por um a.pa:rel.ho administ:r.at ivo eficaz. Mas

progrediu-se afina.l mais lentarn~~nte do que se pretendia ou que a

a.bu.ndaneia da legislagao podia fazer crer 10• nest a inope:rancia

( 10) :B::m lC\99 Jose Den to GOMES e~;c:Hwia com certo humor: "0 ext'".H"H3SO

de leis e reg-u.lamentos

e

ta.l q1..1.e n:i.Hguem se entende COm eles.

Nao h~ homem em Portugal, por mais ilustrado que seja, que saiba a

decirna mi1:i.onesima parte da l~~gislagao portuguesa.. 'l'arnbem ~ao

ha.

parvo em Portugal que, ::;ub:indo as culminiAncia.s do poder-, nao se

jul-gue legisladortt. Cf. CiO'MF~::; 1899, pag. 60. C~u<9..tro deeadas ma.is

tar·-de Hen.ri~ue CJ/\.LV

;\c

d.

ira

pr.:d; icamente a mesma. co is a (in GAINAO 1937,

(16)

'I .. ,

.l • .:::. ...

com os resultaclos que S(~ cor:.hecem. Em 1690 Portugal I!.!XJ.tra., po:r·

consequSncio.\.7 numa clas me..iores

o:r.i~H!lS

da sua. hist6r:i.a 11• 0

Ul-t ima:to ingl@s o a reacqao na.c io:na.lista qm~ se lh.e se&;ue dao ~.s

co16:.nias l.t."lla nova dimensao nas preocupao;:oes o:f:Lc:La:ts. Os

terri-torios d.a Al"'rica ocidental, mais proximos da Me .. lir6pole, cons

ide-rados mais ricos (Angola em particular), es·tavam natu.ra.lmeute

in·-dicados pa..ra desempenh.ar um pap-el de pri.meiro plano na. pol:H:i.ca

colonial portuguesa e 110 desenvolvimento do capi·talismo em

Por-tugal..

~

Essas preocupa9oes eram tanto maiores quanto o domf.n:i.o de

Por·liugal sob:re a sua maio:r colonia podia consid.erar-s.e limit;a.o"o e

prece.rio.

A permuta. fazi~-se, como dissemos~ n.o litoral. A ocupayao

do interior de Angola. foi, repita-se, pre,t:icamen·te inexistente

ate :fins do secu.J.o XIX e mu.:i.to restr:i:ta du.rante o primeiro qua:rtel

iQ

do seculo ~C'C .... ~.:.. Ba .. sta lembrar q_ue nos U.ltimos anos do seculo1

,J, Pereira cto Nascimento, medico nava.l e e:x:plorador, fez uma

·~ria-gem upelo :norte do eo:ncelho do D'..:tquli!' e pelo a.ni;igo reino da Gil1ga,

tros de luanda~$·

---·-{'. 11) Yd \! 'iln'L~ ... -~ ~ (,,~ \ .£)ct.O...., ... , -f 1 ...l.. . --1 , .... ') w' , 'I

Lisboa.1

1968c

(12) Uro eleme:nto prepond.e:rante f'oi a opos:igao armada dos Ai':rica:clOS

as tropas colcnliais, tal como foi d.emonstrado por Rene

(17)

·-·

u->i"" 'l8Q, '7 •O'·' • ' d I . l i ,_

.es~.. _ ., ,Jornr:..J.s !:l ,J_s ')Of.!. escrev am so~.~r~) a ocupr.t.ya(.>

da. Lunda 14 :

~

'"A ocupa.gao da Lunda tem ainda um obstaoulo a veneer,

e so pelas armas poda ser remov:i.do. 0 gentio de Cassange,

que ate hoje tem qua.se monopoliza.do o comercio d.o sertao,

-na.o aceita. pelos meios suas6rios o reoonhecimento da

au-toridade portuguesa, recusando-se tarnbem a paga.r qualq·uer

tributo que legalmente seja estabelecido"1

5.

Ainda em 1932, as Associa9oes Eoon6mioas de Angola. re-·

conheciam, referindo-se ao seculo XIX:

"Como podia.m entao os colones fixar-se em Angola se foi

nos dias de ho je que se aoabou a ocupa9ao mili tar e a

paoificayao de toda eata vasta. col6nia?"16•

Os a£rioanos vinham ~s feitorias e aos mercados urbanos

do literal e

ai

trocavam os seus produtos por fazendas, polvora,

armas e a.guardente. Os poucos negooiantes17 que se aventura.vam

(14)

(15)

(16)

(17)

Na antiga divisao administrativa~ a

LUNDA

abrangia parte dos

territories do actual distrito de Malange .. Quando dizernos

nactual" re:ferimo-nos, para simplif'icar, ao periodo

imediata.-mente anterior ~- independ@ncia na decada de 1970.. No qu<?.dro

deste trabalho nao tem qualquer interesse tentar seguir as

su-cessivas e complicadas divisoes e st1.bdiv:lsoes

adminis·trati-vas de Angola.,

Cf. rev. Portugal em Afric~, 18, Fev. 1897, pag. 324.

Associa.goes Econ6micas de Angola" gonsideragoes sobre o_~­ blema. das tra.nsf'er~nciaso Luanda, 1932, pag.,

26 .. ·

(18)

t "' . . . . d £' t 'b . 18

<:1 ·,~ .ao J.niierJ.or - avJ.a. os ~' unar..t es e pom e::Lros

·-por conta d.a.a casas co mere iais de r~ua.nda ou de Beng;u.e la, ou mesrno

em COll.COr:t•@noia. COli'! ela.s, as sum indo de qualquer formH. nao pOU()OS

riscos nessa.s viagens.

Os prod.utos que desembarcava.m em Luanda ou no .Ambriz eram

em grande parte de produgio estrangeira. Apesar dos esforgos da

Administragao Pombalina, pouco subsistia (segundo a Sociedade de

Geografia. de Lisboa.) d.a industria nacional no principia do seculo

XIX: os riscados de Damao, os lengos de Alcobaga, os produtos

agri-colas e pouco mais

19•

Deste modo, e pelo menos ate ao terceiro

quartel de Oitooentos, o comercio portugu8s na.s col6nias afrioanas

era "consignatario e f'eudatario" do comeroio estrangeiro,

sobretu-do ingl8s.

(18) 0 aviado

e

um comerciante sem capital proprio~ "Para tentar o neg6cio do mato, o aviado faz um acordo com uma casa comercial importante, geralmente do literal, mediante o qual esta lhe abre uma oonta oorrente. 0 aviado recebe, a credito, um sortimen·l;o de a:r-tigos de comeroio para venda ou permuta com os nativos; e compro-.. me·!;e-se a. ir enviando para amortizagao desse debito ao estabelecd-mento credor os generos que for obtendo p·ela. permuta. ou pela. compra no sertao ( .... ). Mas os aviados podem estar esta.belecidos em lojas~

onde esperam a af'lu@noia da clientela nativa., ou fazer comeroio am-~

bulante, originando neste oaso o ti2o que em Angola tem o nome de f'unante. 0 funante peroorre o sertao com o seu carro (antigrunente

com~ oomitiva. de oarregadores) e p~a aqui ~ ali, junto das

po-voa.goes indigenas, a f'a.zer permuta ou venda. Nao se confundam estes f'una.ntes com os antigos pombeiros;. 0 pombeiro era um preto ou

mula-to, assimilado, de que o comerciante sertanejo se servia d,:antes para penetrar mais profundamente no sertao ainda mal co~~eoido e n~o

ooupado ( ... ). Eram uma especl.e d.e caixeiros-viajantes ou de mensa-geiros diplomaticos dos aviados brancosn. Cf. CAETAl~O 1954, pp.95-97o

(19)

·· 1.5

-De Angola. part:i.a. a ceray a ur~:.ela 20 , o m.a:d'1m e os

cou-res~ Pa.:r·a

la

se manda.~tTa.m fazendas de a.lgodao, em geral

estran,gei-ras, sendo as naoionais ma.is de fabrioo a1'tesana.l do que produto

de grandes manufaot~~as~

wEm Portugal, so a partb· de 1789, com a monta.gem da.

primeira fabrioa de fia9ao se come9a a deaenvolver a industria. Ate

ai

ela limitava-se ao fabrico oaseiro em teares primitives que trabalhavam com fios de

algo-- 21

dao importado sobretudo da Inglaterra" •

0 contexte internacional, nomeadamente a partir de

1850,

oaracteriza-se por um forte desenvolvimento industrial da Europa

e dos EStados Unidos, entrecortado,

e

certo, por crises ciclicas.

0 incremento da produ9ao de algodao e de oereais (so

interrompi-do pela guerra de secessao) da aos Estainterrompi-dos Uniinterrompi-dos um lugar

prepon-derante nas rela9oes econ6mioas j.nternaoionais.

Seria contudo excessive pretender que a economia

portugue-sa fica completamente imobilizada ao longo do seculo. Embora a uma

escala diferente e seguindo o que poderiamos chamar uma 1•linha

s~-nuosa", a acumulayao de capital

e

sensivel como tenta.remos

demons-tra.r na seo9ao seguinte ..

(20) Musgo destinado A tinturaria. Come9ou a exportar-se em 1835 para a Europa e .America. 0 seu comeroio, que foi muito importan-te, diminuiu depois da descoberta das anilinas quimicas.

(20)

---·--

..

~

-A principal causa da insufici~ncia., senao mesmo

"insigni-fic§.ncia,n da obra colonizadora portuguesa ate ao seculo XIX e

fre-quentemente atribuida ~ fal ta de ca.pi tais e ao

nsubd.esenvolvimen-to" da Metr6pole. Sem negar a est a tese alguma validad.e,

parece--nos que, de certa mane ira, o julgamento de valor se sobrepoe a.o

julgamento de realidade.

De facto, as tentativas de coloniza9ao de Angola foram ate

muito tarde infrutiferas. Os ensaios de povoamento com degredados:

revelaram-se globalmente negatives e mesmo catastroficos, e o

po-voamento com colonos vindos do Brasil para Mo9§.medes e para o Pla-·

nalto da Huila no fim do seculo XIX nao deu resultados apreciaveis.

0 que caracteriza a coloniza9ao portuguesa, pelo menos ate ~

ul-tima decada do seculo pass ado' e 0 des interesse' a aus~ncia. de

or-ganizagao coerente (com exoep9ao de alguns esfor9os isolados de

curta dura9ao), de continuidade nos empreendimentos e a 1tfal ta .£,~

capitais" .. Este ultimo ponto merece uma refer@ncia particular

por-que e discutivel e ainda

da

hoje lugar a equivocos que nem sempre

t@m, parece-nos, ficado convenientemente esclarecidos.

Na verdade a ttfal ta de capitais" nao signif'ica de modo

al-gum ~ue esses oapitais necessaries (ou pelo menos parte deles) nao

existissem na 11!etr6-pole1 como por vezes se or@. Eles existiam1 mas

encontra.vam em Portugal "larga e remunera.dora compensagao"~

(21)

des 17 des

-·a

b ·b'lJd d d ·- ·t ·•22

1839 A. •

~-conhec~ a pro a :t. .•• a e e oc:XJ. ·o • , r:J. ern . . , a ~s.:3soc:LlaQaO

Meroa.ntil Lisbonense, primitiva denominagao da Associa.9ao

Co·-mercial

Cabral1

cremento

de Lis boa, num

reconhecia que

desejavel era

"per :fal ta de mas porque se

relat6rio que lhe fora pedido por Co,gta

se a indus·tria. nao ·tinha ainda ·tido 0

in--~

capitais, nao porque inteiramente :faltem,

-acham desvia.dos para as opera.<;oes :f'ina.n-· ceiras e usura.s com que se tem feito fortu.nas imen·-sas ( ••• ). A falta de sossego tambem contribui para se conservar fora do reino os fundos que nos seriam muito uteis no pais' e nao poucos valores se acham escond.idos

com medo de se arriscar na epoca actual" 23 •

Por outro lado, a multiplicidade dos sectores de

aplica-<;aa de capitais a partir da segunda meta.de do seculo (estradas,

caminhos de ferro, comunicagoes, etc.) permitia obter rendimentos

imediatos certamente menos aleat6rios do que os investimentos numa

Africa considerada "terra de degredados e negros ind6mitos"24 •

Quer dizer que

"os oapitais que tinham na. for<;ada regeneragao do pais

metropolitano lucros quase iguais aos da. usu:t-a. que es·ta.Ya inveterada nos costumes naoionais como formula legitima-mente luorativa de colocayao,

nao

podiam ouvir falar em

negooia.r para as colonias, que considerawa.m nao um

legi-time emprego de oapitais ( ••• ) rnas uma tenta.tiva por demais

(22) AMARAL 1913, pag. 12 (23) FONSECA 1936.

(22)

.~ .. ~ ld .. _

a.lea.tc5ria1 urn jogo de a~~a.r de riscos inca.l.cul;-iveis, u.m<t

aventura impr6pria de gent;e sensatCJ, e qtw

so

aprove:i.taria

aos a.busos dos que a tal se a.rriscava.m, e que por comple-to se desq.ua.lifica.va.m no ponto de vista da. seriada.de e do senso comum"2

5.

Entreta.nto na. Metr6pole, o cresoimento, a.s despesa.s de

infraestrutura e a. eapeculagao financeira. a.gra.varam

consideravel-mente a divida. publica, mas deram, ao mesmo tempo, urn impulso eco-·

:n6mico ao pais. Em

1854

a d.ivida publica (interna. e exte:rna) era

26

de

89 824

oontos~ Em

1875

elevava-se a

351 500

contos enqua.nto

que os juros passavam de 2

695

cantos a 10

545

contos. P~·a os

pagar, amortizar a divida e realizar ao mesmo tempo uma

acumula-gao de capital imprescind:ivel, era preciso obter rendimentos

ele-vados, o que, na a.usencia de inovagoes tecnol6gicas a curto

pra-zo, obrigava a dispor de uma forga de tra.balho o menos

dispendio-sa possf.vel. As primeiras organizadas que tiveram lugar em

Portu-gal em 1872 27 traduzia.m ja a contrad.i9ao a.gu.da entre a

rtacumu1a.·-gao

primitiva" do capital e as dificuldades de reprodugao de um nl1mero crescenta de assalariados da industria. ~n ~8]2 os ~api~

tais portugueses ~rocuravam colocayao.e i~estimentos ate mesmo

em Espa.nha:

'90 capital

e

abundante em Portugal e continua a oferecer

fundos para a oonstituigao de novos bancos Guimaraes, Regua, Lamego, "Lisboa

&

Aogores" - e aflui a.o pais

vi-(25) AMARAL

1913,

ibd.

(26) PERY

1875,

pag.

218.

(27) OLIVEIRA (Cesar)~ 0 S~.O.i~].j._;'>mo. ~.:!'LJ:E.!:1.~.J:.8So-.~90Q. Porto9

(23)

1q ... _,

zinho onde a.s difiouldades de momento o :rarefa.zem e

~

28

forga.m a. oferta. de a.tra.entes oompensas;oea" •

Contudo, a fa.lta. de disponibilidades para investimentoa

na.s ool<Snias ( o que nao signifioava neoessa.ria.mente, oomo se viu,

uma. verda.deira ~~@nc~~fte oa£!i~~s ~etropolitanos), teve

pro-fundas e duradoiras oonsequ8noias: por exemplo no povoamemto de

Angola.

m

que para OS possfveis oandidatos a oolonos realmente

desprovidos de capital (pol' inte:i.ro na.s maos das olase®s

posse-dentes metropolita.nas, em particular a burguesia meroantil,

'ban-oaria e gra.nd.es proprietarios agrioolas) nao bastava. reo.eber

oon-oessoes de terrae. Alem de um minimo de q_ualifica.yao ada.ptada. As

oondi9oe~ !'n:d generi~ dos tr6pioos, eram necessaries credi tos, sem

os quais os pequenos empresarios oaiam rapidamente na depend@noia

dos fornecedores e dos usurarios. 0 que explica que 0 pequeno co-mercio tenha constituido o principal elo de ligagao entre a

eco-nomia tradicional africana e as casas de im£~~~o~. de Luanda,

foi a a.ownula.gao realizada por est as 1il t ima.s durante o trafico de

esoravos e, para os pequenos comerciantes, a utilizagao da

permu-ta, a fabrica.yao au.tonoma de alcool e a. pratioa do sistema de

con-ta corrente, o nnico possfvel para aqueles que, sem capital

pro-prio, pretendiam ''fa.zer fortuna." no neg6cio do sertao ..

Com:preende--se igu.a.lmente que, com um "mercado internon reduzide ~ sua mais

simples expressao no seculo XIX (apenas nos enclaves urbanos ~os­

teiros e abrangendo apena.s a populagao branoa e uma minoria de

A£ri-oondigoes, praticamente impossfvel. Os brancos e mestigos que se

<.;!si;abeleoera.m na. agr:i.oultura. nu.m raio de 200 a. 300 qu.i16metros ~

(24)

Angola) eram em geral a.bastados come:t"ciantes da eapital que

tinham prosperado gragar;1 ao traf'ioo d.e escravoa. Os menot'l

fa.vo-reoidos, ou qua oonheoiam dif'iculdades ma.is ou menos passa.geir.a.s,

se reoorria..m ao oredito pa.rticn.llar I:>li~gavarn juros q_u.e nunoa eram

inf'eriorea a. 20 ou 25

%..

Por isso se pensou que a funda9a(> do

Banco Na.ciona.l Ultramar.ino, em 1864, traria. oonsigo a solu9~ de

grande parte dos problemas financeiz•oe e cfi:mtribu.i.ria pa:ra.

favo-reoer, ta.lvez de maneira deoiaiva., a oolonizac;ao de Angola e a.

total oobertura deste territ6rio.

Vel'emos mais a.diante de que manei.ra. os resul tado:s corres-·

ponderam a. eszas expeotativa.s optim:i.stas de alguns. Note-se d.esde

ja,

todavia, que a fund.a9ao do B.N.U .. e a abertura da sua

sueur-sal em Luanda provocaram 91desde o inicio reacgoes desfavoraveis

em Angola, onde com razao era visto como 0 instrumeuto da

primei-ra tentativa de penetragao de capital financeiro metropolitano

n.a. colonia em preju:Lzo do capital localw29.

0 oaso espeoifico do B.N~U~ sera arialisado ma.is adiante

(sec9ao L 7 .. ) .. De imed.ia.to importa determo-nos sobre esta

rivali-da.de ninesperada" entre ,<?.!,Eit.a.±. met,rg,l?olita:n.g, e oa;eital l_?g§'lol (de

Angola) que nos pa.reoe levantar alguns problemas novos no di:f'!oil·

prooesso de penetra9ao da economia de meroado em Angola e nas

eta-pas de integ.ra.9ao da colonia num modele de depend@noia subordinado

~ formagao social metropolitanA.

--·---·

(25)

- ?1 ··~

1, 3.. Capi'tal metropol ita.no e capital colonial

Na.o queremos entrar de imediato numa. analise exigente da

estrutura. social de Angola e ail'lda menos embrenha.rmo-nos na

tenta.-tiva de ela.bora<;ao de um mod.elo teorico sobre as ·~classes", o qu.e,

d.a.da.s as oa.renoias da es·tatistica dispon:!vel, toma.ria um oaraoter

demasiado especulativo que pretendemos evita.r. Pa.rece-nos toda.vla.

util a.van<;ar provisoriamente com uma preoisao de ·l;erminologia. que~

sem pretender a um rigor epistemo16gico absolutamente seguro, tera

talvez a vantagem de, pelo menos, clarifica.r empirica.mente o

discur-so. T.rata.-se de Wlta primeira. distinc;ao entre purguesia.

metropoli·-~ e burgg!~ia. colonial.

De facto, julgamos que a aplicagao algo mecanicista. do

concei'to de "burgu.esia"' como tota.lidade, ou seja, como fen6meno

so-cial total reduzido a

Um

rigido rnodelo formalista, uniformemente

aplioado ao conjunto

nao

diferenciado do ~ Portugal-Gol6nias~

nao permite dar conta dos diferentes planos da aCyaO historic~ 0

economica, nem compreender os mecanismos de um processo complexo

que, nos seus cambiantes,

e

frequentemente oontraditorio e

ambi-Entendemos por burguesia metropolitana do seoulo XIX o

conjunto das classes dominantes nos varios seotores da economia

(agricultura., industria, finan9a e grande comeroio) cujos bens

"de raiz~ se encontram ou ·t;~m a sua origem na Metropole, possuem

propriedades, empregam mao-de-obra assalariada e/ou movimentam

ca.pitais. :Mesmo quando certas :fracgoes das ca.madas sociais

superio-res dessa bu.rguesia metropolitana mantem nrami:ficagoes~' ou

(26)

- 22 ••w

produto (ou o "subpr.odu·to") complementar da ~~ua a.ctivid.ade pril'A···

cipal (na Metropole)_

Aasim por exemplo, os g.randes produtores de vinho do

cen-tro do pais que exportam para Angola e tt!m na.tura.lmente inter'll9sse

direoto na "pa.cifioagao" d.a. Co16nia, na. p:romulga.9ao de pautas

a.d.ua-neira.s que lhes sej~Mt fa.voraveis' etc.' sao considera.clos como per·M

tencendo A pur~esia me~ropolita.~~' porque

e

na Metropole que se

definem econ6mica e sociologioamente como componentes dessa classe,

e

e

ai

que estao prioritariamente inseridos num sistema

referen-oial de poderes e prestigios.

Chamaremos kur~e~~a. colonial ~ classes possedentes

ins-·ta.la.das em Angola., emprega.ndo mao-de-obra. esora.va, servil e/ou

assalariada, com resid8ncia em geral em Luanda., Benguela ou

Mo9l-medes, possuindo na colonia os seus principa.is bens, oapitais,

prestigio e influ8ncia, independentemente de interesses e haveres

que possam ter em Portugal (ou no Brasil) e do grupo etnioo a que

pertencem

(sao

geralmente branoos e mestigos, mas

ha

no seculo XIK

·l;ambem a.lgttmas importantes familiae negra.s ) ..

No oimo da pirll.mide sooio-eoonomioa. da Al'lgol:a.

Oitooentis-ta, temos os oomeroiantes, em parte ex-degredados ou mesmo ainda

degredados, enriqueoidos com o trafioo e a permuta oom o sertio,

instalados nos sobrados de Luanda, dominando o oomercio do

import-expor~, frequentando o poder politico e interferindo

(27)

- 23 ·~·

Em 1845 existiam ern Lilan.d.a as segt1iutes a.ctividades30:

Casas oomeroiais que vendem por ataoado •••••••••••••••• 33 Lojas de fa.zendas e de ·tod.a a especie • • • • • • • • • • • • • • • • • • 35 Casas de mercearia e molhados

···tJ···-···

...

107

Qnitandas com fazendas nas quitandas e pe1as ruas •••••• 113

Casas que vendem agua ao povo •••••••••••••••••••••••••• 16 Casas que fabrioam pao ~ ••••••••••••••••••••• ., • • • • • • • • • • 7

Bot ioas •••••• o • • • • • • • ~ • • • • • • • • • • • • • • , • • • • • • • • • • • • • • • • • • 5

A9·0llgll.es . . . o , • • • • • •

5

Fabricas de oharutos •••••••••••••••••••••·••••••••••••• l

~ oerto que a populagao branoa propriamente dita era pouoo

nu-merosa., e isso levanta algtunas duvidas qua.nto

a.

inf1u8ncia e

extensao dos seus poderes. Com efeito, segundo os dados mais

seguros de que

e

possivel dispor31 , em 1846 a popula9So branoa

era estimada apenas em 1 830 pessoas. Mea

e

preoiso nao

esque-oer a populE1.9ao mestj.ga (5 770 pessoas) que, £Osso modo, se

lhe identifica ideo16gioa, politioa e eoonomioamente e com ela

forma esse.~ a que oonvenoionamos cha.mar "burguesia colonial".

A burguesia mestiga

e,

de facto, no seoulo XII1 um elemento

pre-ponderante da sooiedade urbana de Angola:

•o

seoulo

XIX

na parte portuguesa de Angola

e

bem o seoulo doe mestigos que det@m OS postos importantes

na alta Administragao, na Igreja, no Exercito, na

Jus-(30) LOBO 1967,

pag.

155.

(28)

- - -

"~""-~"-- 24 "~""-~"--·

tic;a, na.s Cl1ma.:ras Mun.ioi:pais cle I,uanda e Benguela, ao mesmo tempo que eram proprietaries de plantagoes nos cursos inf'eriores do Bengo, d.o Dande, do Cuanza e do

Lu-oala a·te aos a.nos 1890 (, .... ) • .MJ g.ra.ndes fam:!U.as

mes-ti9aa enriqueoidas no trafioo de esoravos asseguram a.inda uma perma.n8noia poli"tioa. que os branoos looais

32 teriam dif'iouldade em assumir" •

A oonjuga9ao destes dois seotores da popula9ao~ em

parti--oular por intermedio das suas oamadas mais favoreoidas

naturalmen-te, permite compreender melhor a possibilidade de exist~noia da

uma "burguesia colonial" radioada em Angola, distinta da da

Me-tr6pole, e cujos lagos economicos aao muitas vezes mais fort~s com

o Bl~asil do que oom Portugal. ~ interessante notar, por exemplo,

que

~~ta partir de 1859-1860 agi·ta-se em Luanda nos :filhos do pais (neste C&SO OS oivilizados nao branoos) mais exal-tados a ideia de emancipa9ao

da"mae

patria" angolana, sem oontudo saber se

e

preferivel criar uma Republica, jun-ta.r-se ao Brasil ou oferecer-se aos Est ados Unidos, o que traduz bern a preooupa~ao de nio se oortar eoonomioamente dos oompradores de esoravos"

33.

Franz-Wilhelm Heimer nota igualmente que o "racionalismo

econ6mico" dos branooa de Angola em relagao ~ Metr6pole (e em

oho-que com ela)

e

evidente desde OS dias da ConfederB.9ao Brazilioa, movimento separatista de Benguela em 1823

34•

(32) PELISSIER

1978b, pags, 215-216

(29)

15 .importante sublinl:.ta.r ta.mbem qtle, sen11o ~J.ma pa:c'te da.

pOpllla.yaO branca dessa epoca. fo:rme..d.,l. po:r degred.adClS ~~

~.l::<:-deg:reda·-des q,ue pros:pera:t>a.m, estes oons·tituiram familia (gera.lmente

mes-tiga..35), criaram raizes (-9 consolida.ram i.nteresses especi:fioos nao

raro em oontradigao com a politica de Lisboa.~ Veja-se a forte

opo-sic:;:ao que as medidas liberais d.a a.boligao do tra.±'ico de esoravos,

p:romulgadas por

Sa

da Bandeira, encontraram em Angola. e em ~~.

To·-me

(vd. a. analise desta questao na 2fl P<:trte, capitulo I, secc:;:ac L 3 .. ):

Nao e

inutil o'bservar oomplementarmente urn a.speoto

socio-logico (e mesmo psioosocio16gico) que nos pa.:rece de assinala.r:

la:.r-gos erlra.otos da.s ca.ma.da.s popula(o;ionais economicamente

preponde-rantes em Angola, sao forma.dos por individuos cultural e

social-mente "rejeita.dos" pela sociedade de refer8noia. (a Metr6pole)~ o

que nio pode deixa.r de introduzir, senao um corte, palo menos

ten

-soes pr&:fu.nda.s:

Os degred~~~: que sao, quase por definigao, urn

exem-plo t:Lpico;

Os oolo:nos .:Q.~b~.§.: Frequentemente

so

.na col6nia

obtive·-ram a sua ttoportu.nid.ade"' a que por vezes pode nao ser

-~

-estranha. uma neoessidade de oompensa9ao, para nao

di-zer um certo sentimento de "desforra.", em rela.yao ~.

-

36

exolusa.o sofrida. ;

(35)

Segundo Lopes de Lima, em meados do seculo XIX as mulheres

bra.noas represen·ta.vam mEmos de 10

%

da popult:u;,ao branca. de

Angola..

So

a pa.r·tir de 1930 o seu nUm.ero comegou a aumentar

si-gnifioativamenteQ Vd. M~ARAL 1960, pag. 22.

( 36) Este fa.otor

nao e

certa.mente es·tre.nho' palo me nos nalguns

aspec!os, a uma cer·ba descon:fianga. mutua. que sempre regeu as

(30)

tude com. a chegada de :naves :i.migrantes, o:3

dll!lsfa.vorl!!·-cia oada. vez ma.is (espeoia..lmente a partir d.o seculo XX).

1: indu.vj,tavel que muii;os el~.~mentos das cama.das sociais

dominantes tinh;,'Ull, pelos mais di.versos mot ivos de algu.m modo

li-gados a esse i~en6meno de "re jei<;aon sociol6gica, sentimentos de

relacio:namento com a. Mei:r6pole que tomara.m variac.~ formas mais ou

menos c:onf'usas 1 que :i.am do relpublica.nismo ao >wsepa:ra·t ismo" dos

brancos e a.o "proto-·nacionalistno" (a expressao

e

de Rene Pelis~:d­

er) dos mestipos

37.

Referindo-se ao per:lodo de 1845-1864, Jose d.e Almeida

Santos da-nos uma imagem colorida, mas exaota., de uma fracgao

des-sa b'!lrg?lesia colonial luandense - os comeroiantes brancos:

"Eram estes os verda.deiros senhorea da terra, os capitais

do grande comercio com o Brasil, os Esta.dos Unidos, a

....

Europa - do comercio q.ue, desde o in:f.cio da ocupa.gao

havia sido e continua..ria. a ser a. ac·tivj.da.de principal

a:x:eroida na Provincia. Nao obstante o singelo mister d.e

donos de loja.s dle secos e molhados na Capond.a, de

arma-zens mistos na. Salvador Correia, de agougues na

B:ressa-ne Leite e noutros locais, e de 'boteoos onde :pGdiam ser

(37) ExemplQ celebre :foi o do jorna.lista. mestigo Jose de Fontes Pereira que, num a.rtigo publica.do no .Arauto A:frica.no de

Luanda, em 20 de Janeiro de 1890~ em pleno-Ultir~to~ tom~u o

par-tido dos .ingleses: 19

§ o ~ l'Jao temos :uada a •::Jspera.r de Portugal a

nao ser mentiras e OS ferros da escr&.ITatura. (., •,.) • Rua ft~'. 0 que

lhe valeu. ser den1mci;.:uio a L:i.sboa. palo govern.adoz• Guilherme d.e

Brito Capelo como ":republica.::a.o e traidor», faoto qu.e lhe acal"re·-tou dissabores ..

C:f. Douglas \llheeler: nAn early Angola.n protes·t: the radical

jour-nalism of Jose de F·ontes Pereir<>. ( 1823-1891 )" 9 citad.o por

(31)

2'7

-vistos na. c~avaqueira ou v·ig·ia1.1.rio os caixeiroa, palravam

m·u.ito alto, mu:tto ac:.ima. das outra.s classes - a.saa.z perto

do senhor Governador Gera.l a da.s a.utorid.a.des oivis e

militares - e

tao

~ vonta.de nos bailes do Palacio, nas

oerimcSnias o:f'ioia:i.s e na.s ca.de ira.s do poder

representa-tive, como por detras do baloao dos respeotivos

esttlbe-leolment<&s. Bichanassem embora, in.imigos e despeita.dos,

a.o v@-los oiroula.r no Palacio, a oriE,"EEm re.les da.queles

oavalheiroa: ex-degreda.dos al~tns, o tamanoo minhoto e

a. jaqueta. rota. de outros 1 la.brostes saidos das :f\m.duras

da lura beiroa., que a tenta9ao da. riqueza espica.ga.ra a

abalar num dia de caldo ma.is ralo e broa mais esoassa;

escandaliza.sse, sobrei;udo, a. meia. duzia de suje.itos em

comissao, de venta. muito sensivel, a fortuna de pasmar

desses e:r:-la.bregos e oondena.dos, a.castelada, segundo

oonstava, pelos lucros do trafioo da esoravaria

oonti-nuada a pra.ticar furtivamente1 pela calada da noite,nos

reoessos da costa. do Ambriz, que bam desdenharia.m na.

ver-dade, de todos os agravos e de todos os labeus, tais

he-mens que o destine baldeara tao longe do bergo na.tivo e

que o sol da !.frica curt ira ( ••• ). E, ao longo dos a.nos,

polida e desba.s-tad.a a li:ngua.gem e a. prosa., era.m ja

ca-valheiros que oomegavem a sua propria estirpe (~$.).

Nes-ta nova vestia. social, e11vereda.va.m :fa.Nes-ta.lmente pela.

po-litica. - havia.m sido a.rras·l;ados pela. poesia huma.nitaria

do libera.lismo, deixava.m.-se empolga.J. .. pela. ora.t6ria. e

pe-la ambi-gao do cargo pol:ti•ico e, n.egrei:r:'os 11 cap•J.oh.a..,

po-d.iam ser vistos e ouvid.os ne. C~..ma.ra. Mu.n.icipa.l e noutras

assembleia.s representa.ti1ras, batendo-se pelos direi tos

dos .f:ra.oos e dos pobres, fulmiua.ndo os e:x:plo:ra.d.ores e

os tiranos, propondo medidas de altruismo e de amor a.o

pr6:r:imo"38 •

(32)

28

-Nao admil•a porta.nto que diversas medidas tomadas pelo

governo da Metr6pole (por e:x:emplo: a aboli9ao do trafioo de

es-e1•a.voa) que prejudioavam direotamente os oapita.is looais, ou

fa.voreoia.m muito ma.is d.ireotamente a burgu.esia metropolitan& do

que a burguesia colonial de .Angola. (as pautas proteooionistas,

por exemplo), tenham encontra.do frequentes resist@noias que

difi-oultaram a aplioa9ao na co16nia de decretos ali oonsiderados

"lesivos dos interesses de Angola" ... .,

Em resumo, nao ha apenas e somente complementaridade

entre a burguesia metropolitans. e a burguesia colonial, e ainda

menos identifioagao absoluta e constante entre ambas. Ha tambem

- sobretudo em determinados casos - profundae diverg@ncias,

lu-tas surdas que por veze~ tomam foros de guerra aberta. A

inde-pend@noia do Brasil ·teve refle:x:os em Angola, provocando ate

aeon-teoimentos que, em 1822-23, atingiram oerta gravidade:

"Os interesses eoon6micos achavam-se concentrados na.

outra margem do Atlbtico, com quase exclusao to·tal da

Metr6pole. Assim surgiu, em Angola, uma. fao9ao a favo-reoer a uniao da Provincia com o Brasil, com maior re-presenta.gao em Benguela do que em Luandan39.

Em 1878, quando ei•a governa.dor de Mo9&mede:s Fernando

Augusto da Costa Cabral, os colones daquela reg-lao chegaram

mes-mo a fa.zer uma. representa9ao ao governo ingl~s pedindo a

a.nexa

-9ao pura e simples da. colonia de Mog§.medes 111. Inglaterra, o que

foi classificado por autores da epoca. como um "crime de alta

trai9ac"40 mas

nao

motivou qualquer :t'eacgao

aas

a.utoridades de

Luanda ou de Lisboa •••

(39)

Cf. REBELO

1970,

pp.

221

e sgs.

(33)

29

-Esta diverg@ncia entre os interesses da burgu.esia

metro-politana e da burguesia colonia141 , tal como tentamos defini-las

mais atras, vai manifestar-se igualmente no terreno de aplioa9ao

das pautas aduaneiras protecoionistas promulgadas pelas

autori-dades de Lisboa a partir de

1837,

queatao que veremos na seo9ao

a segu.ir.

(41) 0 que nao exclui divisoes e oposi9oes no seio de cada uma

de las, oomo por e:x:emplo a concorr@noia entre a 'btll:"gu.esia

meroantil de Lisboa e a burguesia meroantil do Porto, do mesmo modo que a oomplementaridade inioial entre os oomer-ciantes do literal de Angola e os funantes e aviados do interior, deu lugar, ma.is tarde, a frequen:tea lutes, na

medida em que estes ultimos faziam por vezes (e por conta propria) o trafico de escravos~ oontribuind~ par~ despe-voar regioes ou provocar revoltas, o que preju.dicava os

interesses politicos do governo e os interesses econ6micos

(34)

-

30-1..4. As pau-taa a,duaneira.s na colonizagao

A primeira pauta aduaneira da Metr6pole aplioada ~s

co16nias foi a pauta de

10

de Janeiro de

1837.

Ela protegia

oer-tas produgoes portuguesae como o azeite por e:x:emplo- Em

1840

in-trodu.ziu-se nela um "bonus" de

50

%

para os generos transporta.des

em navies nacionais42•

0 alheamento ja referido dos problemas pr6prios dos

ter-rit6rios a:f'rioanos explioa que se tenha, durante muito tempo,

adoptado nas co16nias a pauta da Metr6pole sem adapta9ao As

con-digoes partioulares desses territories. Longe de se enquadrarem

numa pol:!tica global de mais longo aloa.nce, as medidas aduaneiras

limitaram-se, em geral, a obter rendimentos fisoais. Por exemplo,

a Portaria de

13

de Agosto de

1838

mandando arrematar as reoeitas

das Alf~ndegas de Cabo Verde e Guine, supondo que assim se

aufe-ririam maiores lucros, e a adjudicagao em

1845

doa rendimentos

al:faudegarios de Bissau e Cacheu a um comerciante de Bissau pela. 43

soma de 20 000 franoos n

Contudo certas alteragoes sao introduzidas mais em

oon-formidade com uma nova, ainda que timida, orientagao.da politics.

(42) kte ao seculo X!X nredominara nas Pautas a tributa9a0 ad va~

Jor~2!

e

nao

a

trib~tagao

~~~cifica.

(43) Cf. Cl;.RV'ALHO 1900~ pig$

51.

A adjuclica.gao d.os rendim~:mtos

ai-f'a.udegario·s das colorda.s

e

uma pratioa muito a.ntiga da

(35)

31

-econ6mica colonial. Em 1 de Margo de 1840 as Cortes deoretaram

a isengao fiscal para o "Ultramar", pelo espago de 10 anos, de

todas as ferramentas, maquinas e utensilios para uso na

agricul-tura. Pensava-se ja entao na possibilidade de aproveitar a

oultu-r•a da cana. de agucar e de algodao e poupar assim o ouro que se

gastava com as importa9oes do Brasil e dos Estados Unidos.

Desde a pauta de 1837 ate 1844 nao se permitiu a

reex-portagao de generos estrangeiros sem o previo pagamento de

di-reitos, pagamento que na Metr6pole se fazia em moeda forte

enquan-to que nas col6nias ele tinha lugar em reis fraoos: 30

%

a menos,

segundo OS oalculos de Francisco Trancoso44 • 0 porto de Lisboa deixou imediatamente de ser o entreposto comercial do trafego,

enquanto a navegagao estrangeira foi prejudicada pelas marinhas

estrangeiras. Com efeito, os exportadores preferiam ca.rregar

di-reotamente nos portos estrangeiros os generos com destino ~s

co-16nias portuguesas, pagando ali os direitos aduaneiros em moeda

fraca.

Em 1844 tomaram-se algumas provid~ncias que a pratica

mostrou, alias, serem pouco eficazes e que provocaram os

violen-tos protesviolen-tos da burguesia colonial de Angola: muitas mercadcrias

s6 poderiam ser importadas por Angola desde que proviessem da

Me-tr6pole e fossem transportadas em navios naoianais. Era o caso da

p6lvora, sal, sabao, rape, ohitas, aguardente de vinho, vinag.re e

(44) TRANCOSO 1920, :pag. 10.

l

(36)

-

32-vinho. Como escrevia ~rancisco Ant6nio Correia:

".A$ ca.racteris·t;icas dessa.s pautas bem como de toda a

legislagao contemporanea

e

a proteogao aos produtos coloniais e aos da Metr6pole cujo consume nas

oo16ni-as se pretende fomentar, estimnlando-se ao mesmo

tem-po a ma.rinha meroan·te"45.

Tambem uma pauta Unioa para todas as oo16nias estava

longe de conciliar as diversas for9aa sooiais em prese~9a.

De-oretou-se entao uma pauta para oada oo16nia: em

1849

a pauta de

Angola, em 1851 a pauta de Cabo Verde, em 1853 a de Mo9ambique,

em 1854 a de

s.

Tome e Principe e em 1862 a da Guine.

A partir de 1851 a legislagao aduaneira colonial

come-9a a tomar um oaraoter mais definido, mas sempre em

oonformida-de oom a neoessidaoonformida-de oonformida-de oonformida-desenvolvimento da M!~ropole e

sobretu-do sobretu-dos interesses das oamadas sociais sobretu-dominantes em Portugal, o

-que nao exclui, como ja foi notado, diverg@ncias importantes no

proprio seio da b-urguesia metropoH.tana: enquanto a Associa<;ao

Comeroial de Lisboa (que oontava com representantes do sector

ma-nufaotureiro, diga-se de pa.asagem) ma.nteve ligagoes estrei tas com

as oolonias e colaborou mesmo na elaborS9ao das pautas

proteooio-nistas, a Assooiagao Comeroial do Porto bateu-se muito mais

tem-po pelo livre-oambismc, preooupada oomo estava exo1usivamente oom

os meroados de vinho do Porto no Brasil e na Inglaterra4

6

*

(45) CORREIA 1922, pag~ 113~

(46) Vd .. SILBERT (Alber-t;)e J22...fortu&a±. de,_Ant:i.,g£ Regime ao

(37)

para a costa ooiclental de Africa. 0 trafioo <le eaoravos sofrera

um golpe 1 al:l.as mais p:r.·opriamen:t;e norl locais de des·tino do que

como result ado de medidas toma.cla.s pelo governo portuguas.

"li'oi a proibigao da (mt:l:"ada de esora.vos no Brasil em

1850 (lei de Eusebio Queiroz publioada ern 4 de

Se·tem-bro de 1850) que veio inte:r•romper quase :i..nteiramente

este

oom~rcio"

48

"'

.As pautas de 1867 tentavam nao ::.~6 r;onciliar os

interes·-ses fiscais com os interesses comerciais e favorecer a industria

nacional existen:te,. mas tambem remediar ~ crise de"reconversao"

per que passava grande parte do comeroio do trafico e com ele

muita.s da.s actividades em Angola, a quem :t'altava este

tradicio-nal rendimento, motor do circuito eoon6mico. Com a pauta de

1867

ig"ualara.m-se os direitos de exportagao, qua.lqu.er que fossa o

des-tino ou a Bandeira transportadora, reduzira.m-se os impostos de

ancoragem para inoentivar a utiliza9ao dos portos de Angola

pe-los navios estrange ires, mas pro·tegeram-se a.o mesmo tempo, numa

especie de polftica de com.pensagao paz·a os e:x:porta.dores da

Metro-pole, os generos mais importantes da produgao portugu.esa.~ A

nin-dustria vinhateiran(d.o su.l em particular, ligada

a

Assooiagao

Comercial de Lisboa e produzindo vinhos comuns) foi largamente

sa1vagu.ardada.. Os ".rinhos naciona.is (em casco) pa.gavam ass im 8

reis por litre, enqua:nto OS estrangeiros paga.va.m 100 reis ..

Pre-servou-se a nacionalizagao d.o comerc:io da Metropole com An.gola.

(38)

-

34-gra9as ao artificio da "grande cabotagem"

49

combina.do OQm o

bo-nus de importa9ao de algodoes ( ou seja tecidos segundo a

termi-nologia da epoca) quando reexportados por Portugal.

As pautas de

1867

foram proteccionistas5° em todos os

-campos em que havia actividades nacionais a proteger - que nao

eram muito alias - e vigorou oom pequenas altera9oes ate

1880.

De

1880

a

1892

decretou-se para Angola uma nova pauta (a pauta

de

1

de Julho de

1880)

simplificando certas formalidades de

des-pacho, reduzindo o numero de artigos de modo a facilitar as

tran-sacyoes e o movimen·&o comercial. Esta pauta foi alias proposta

pela propria Associa9ao Comercial de Lisboa que estava

evidente-mente interessada na multiplica9ao e no desen~olvimento das

re-layoes comerciais entre Portugal e as suas col6nias, o que poe

mais uma vez em relevo, em particular, o estreito

relacionamen-to entre esta Associa9ao e os produrelacionamen-tores de vinho comum,

prin-cipal produto de exporta9ao que encontrava nas colonias urn

mer-cado seguro e facil. Mas nao era apenas o comercio (no sentido

amplo do termo) que encontrava na Associa9ao urn porta voz junto

do governo e um representante no mercado externo. Certos

secto-res manufactureiros tambem a! estavam repsecto-resentados (linho, por

exemplo).

Esta observa9ao parece-nos ·ter cabimento na medida em

que 0 termo ncomercion nos leva a pensar exclusivamente em

~"~bur-guesia comercial". Ora, como assinalou Miriam Halpern Pereira,

(39)

· 35

-na pa.lavra cmnerciante tinha, na prime ira metade d.o seoulo, s :i·~

gnificado diferente do actual, podendo estar assooiada A

activi-dade industrial115l. Mesmo na segunda metada do seoulo

e

por vezea

ainda dificil distillguir perfeita.mente OS interesses do OOmeroio

dos da industria, sem falar, evidentemente, do capital banoario

que se enoontra ligado a ambos os seotores.

A burguesia metropolitana iniciava assim o periodo de uma

acgao mais organizada e mais eficaz d.o que ate entao.

Fundamental-mente a pauta de

1867

era uma pauta proteccionista para os vitilioa

comuns, as aguardentes de produgao europeia, os teoidos de linho

que oonstituiam em Portugal uma. actividade relativamen·te

desenvol-vida e ocupavam, no Norte sobretudo, uma mao-de-obra impo:I'tante

(parte da qual em regime de "indUstria domestica" traba.lhando

pa-ra as encomendas das manufaotupa-ras). A relativamente alta

tributa-gao que incidia sobre os algodoes, quer dizer, os teoidos de

al-godao, tinha mais intuitos fiscais do que propriamente

"proteooio-nistas" e explica-se peJ,a relativamente pequena import~noia qut'

eles apresent.avam ainda no panorama industrial portugu@s.

No jogo de"oompensagoes" ja referido entre a bu.rguesia

metropolitana e a burguesia colonial, protegiam-se igualmente

al-guns produtos de exportagao angolana (de que a Metr6pole

necessi-tava) como 0 oleo de peixe, oleos vegetais, bois, borracha, cera,

sementes olea.ginosas, taba.co e urzela.

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